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Semiótica: Estudo das Linguagens e Produção de Sentido

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Semiótica 
Disciplina: Comunicação e 
Expressão/Leitura e Produção de Textos 
Prof. Danilo L.C. Micali 
O que é Semiótica? 
• É a ciência que estuda a produção de 
sentido nas diversas linguagens que 
possibilitam a comunicação. É uma ciência 
geral, estruturada numa lógica abstrata, que 
explica o funcionamento da mente humana, 
possuindo epistemologia própria. 
• Do grego “semeion” = signo, sinal. 
• A produção de sentido é um fenômeno que se 
dá na mente e na natureza. Não é exclusiva do 
homem que dá sentido às coisas. O sentido não 
está nas coisas tomadas isoladamente, mas 
surge na relação entre existentes singulares e 
depende de alguém que o interprete ou o pense 
como tal. Toda relação que produz sentido é 
uma relação comunicativa porque supõe 
estímulo e resposta. Portanto, o sentido surge 
da interação comunicativa. É por isso que se 
entende a Semiótica como a ciência que estuda 
em profundidade a comunicação humana e não 
humana. 
• O objeto de estudo da Semiótica são as 
linguagens (ou códigos). Por linguagem, 
entende-se um conjunto ou sistema 
estruturado de signos. As linguagens são 
instrumentos que possibilitam a expressão 
e a impressão, sendo imprescindíveis no 
processo de comunicação. Portanto, não 
existe comunicação sem linguagem. 
• Exemplos de linguagem: código de trânsito (os 
sinais utilizados no trânsito), a gestualidade 
(código LIBRAS), as coreografias, as palavras 
lidas, escritas, ouvidas e faladas, a música, a 
culinária, as trocas biológicas (como a da 
fotossíntese), os sons emitidos pelos animais, as 
convenções sociais, as artes (literatura, cinema, 
teatro, pintura, escultura, arquitetura, grafite), as 
diversas linguas nacionais (germânicas, 
neolatinas, orientais, tais como: alemão, inglês, 
português, espanhol, mandarim, japonês, entre 
outras), os códigos cibernéticos (linguagens da 
computação), o internetês, entre outras. 
Vertentes 
 Vertente norte-americana, inaugurada 
pelo filósofo, matemático e psicólogo 
experimental Charles Sanders Peirce 
(1839 -1914). Peirce, um dos fundadores 
da Semiótica, considera-a uma ciência do 
signo, que só adquire existência por um 
processo mental de interpretação, que 
investiga a ação do signo na mente e na 
natureza. 
• Outra vertente, de origem centro-européia, provém dos 
estudos de fonética e linguística de Ferdinand de 
Sausurre (1857-1913) seu inaugurador. 
 
• Louis Hjmeslv desenvolveu as sementes lançadas por 
ele e as organizou de tal forma que pode ser 
desenvolvido posteriormente por outros estudiosos 
como, por exemplo, Algirdas Greimas, que desenvolveu 
uma linha chamada de Semiótica discursiva. 
 
• Há ainda uma vertente que vem do Leste europeu. 
Originalmente dedicada aos estudos culturais literários, 
é hoje denominada pelos seus apreciadores como 
‘Semiótica da cultura’“, cujo representante maior é o 
escritor Umberto Eco. 
Fundamentação teórica da 
Semiótica Peirceana 
• Charles Sanders Peirce era um lógico. 
Seu desejo era explicar como as 
linguagens eram produzidas. A ideia dele 
era que todo e qualquer tipo de linguagem 
é vivenciado, elaborado e exposto ao 
mundo por um mesmo processo lógico, já 
que a experimentação da realidade segue 
um mesmo ritual em todo movimento de 
organização de mensagens. 
Vejamos o que Lúcia Santaella diz 
sobre Peirce: 
 “Seu interesse em Lógica era, primariamente, um 
interesse na Lógica das ciências. Ora, entender a Lógica 
das ciências era, em primeiro lugar, entender seus 
métodos de raciocínio. Os métodos diferem muito de 
uma ciência para outra e, de tempos em tempos, dentro 
de uma mesma ciência. Os pontos em comum entre 
esses métodos só podem ser estabelecidos, desse 
modo, por um estudioso que conheça as diferenças, e 
que as conheça através da prática das diferentes 
ciências. Desde o começo do despertar do interesse de 
Peirce pela Lógica, ele a concebeu como nascendo, na 
sua completude, dentro do campo de uma teoria Geral 
dos Signos ou Semiótica.” 
• A interpretação e produção de signos, 
para Peirce, é que nos proporcionam 
vivenciar o mundo e a natureza. Para 
sistematizar essa sua proposição, Peirce 
diz que toda e qualquer experiência de 
interação com os fenômenos do mundo 
(outros indivíduos e natureza) se dá em 
três categorias fenomenológicas: 
Vejamos estas categorias: 
• primeiridade – categoria do "desprevenido", da primeira 
impressão ou sentimento (feeling) que recebemos das 
coisas; uma consciência imediata tal qual é. Nenhuma 
outra coisa senão pura qualidade de ser e de sentir. 
• secundidade – categoria do relacionamento direto, do 
embate (struggle) de um fenômeno de primeiridade com 
outro; ação de um sentimento sobre nós, a nossa 
reação específica, comoção do eu para com o estímulo. 
• terceiridade – categoria de inter-relação; aproxima o 
sentimento do raciocínio, numa síntese intelectual, 
corresponde à camada de inteligibilidade, ou 
pensamento em signos, através da qual representamos 
e interpretamos o mundo. 
 
• Estes níveis de percepção do mundo, que 
Peirce propõe, são vivenciados por meio 
de um só processo, que ele chama de 
semiose: a partir da relação de 
representação que o signo mantém com 
seu objeto, produz-se na mente 
interpretadora um outro signo que traduz o 
significado do primeiro (é o interpretante 
do primeiro). 
Vejam o esquema a seguir: 
Signo 
 
Representamen 
 
Objeto 
 
Interpretante 
• Neste mesmo raciocínio, Peirce diz que 
apreendemos as experiências do mundo por 
meio dos signos que interpretamos e nos 
expomos ao mundo por intermédio de signos 
que nós criamos, num processo semiósico que 
é infinito, e que funciona como uma espiral, pois 
“lemos” os signos com os quais nos deparamos, 
nossa interpretação gera novos signos em 
nossa mente que são recolocados no mundo a 
partir do momento em que fazemos a 
representação deles e criamos novos signos. 
• A semiose é, então, o processo, também 
triádico, por meio do qual se tem um 
objeto, sobre o qual se quer “falar” e, para 
isso, “cria-se” um signo (representamen), 
que irá gerar uma nova ideia, um novo 
signo, uma interpretação (interpretante). 
 Devemos atentar para o fato de que 
existem diferentes tipos de signos. De 
maneira simplificada, no intuito de traduzir 
as ideias de Peirce, pode-se dizer que ele 
os classifica levando em consideração a 
natureza representativa de cada um, a 
relação destes signos com o objeto e a 
relação de cada um com seu 
interpretante. No nível mais elementar da 
categorização dos signos, Peirce diz que 
existem: 
• Ícones (Quali-signos) – são quase-signos em si 
mesmo, porque representam as qualidades de um 
objeto; eles são ícones destes objetos, uma simples 
impressão que excita nossos sentidos. 
• Índices (Sin-signos) – são em si algo material, real e 
concreto a representar um objeto por se apropriar 
de uma parte dele; são índices dos objetos que 
representam, porque indicam por similaridade o 
universo do qual este (objeto) faz parte, possuindo 
uma relação física com o objeto. 
• Símbolos (Legi-signos) – são por natureza leis, 
convenções, pactos coletivos (culturais); são 
chamados símbolos quando se pensa na relação 
deles com o objeto, porque trazem em si 
informações que lhe são atribuídas nas convenções 
sociais. 
• Por que falar disso tudo? Porque, nos 
textos (no sentido semiótico) encontrados 
no mundo empresarial (publicidade, 
propaganda, informática, entre outros) são 
utilizados diferentes tipos de signos para 
gerar sensações (atração, excitação) ao 
nos falar de algo (coisa em si) que existe 
no nosso universo concreto, nos inserindo 
em proposições culturais e convenções 
sociais. 
 Definição semiótica de texto 
 A semiótica tem por objetivo o texto, procurando 
descrever e explicar o que o texto diz e como 
ele faz para dizer o que diz, e, assim, privilegia o 
seu plano de conteúdo.Um texto pode ser 
definido de duas formas que se complementam: 
• Pela organização ou estruturação que faz dele 
um “todo de sentido”, e 
• Como objeto da comunicação que se 
estabelece entre um destinador (emissor) e um 
destinatário (receptor). 
• Nesses sentidos, o texto pode ser tanto um 
texto linguístico (oral ou escrito) como por 
exemplo, uma poesia, um romance, uma 
matéria de jornal, uma oração, um discurso 
político, uma aula, uma conversa de crianças, 
quanto um texto visual ou gestual – uma 
aquarela, uma gravura, uma dança – ou, 
também um texto sincrético – uma história em 
quadrinhos, um filme, uma canção popular. As 
diferentes manifestações textuais dificultam o 
trabalho de qualquer estudioso do texto e as 
teorias textuais tendem a se especializar como, 
por ex., “teoria do texto literário”, “semiologia da 
imagem”, e assim por diante. 
Gramática especulativa 
 Da teoria semiótica de Peirce surgiu o que 
se chamou de gramática especulativa. É a teoria 
geral de todas as espécies possíveis de signos 
(das suas propriedades e seus 
comportamentos, dos seus modos de 
significação, de denotação, de informação, e de 
interpretação). 
 Seus conceitos são abstratos e gerais, pois 
contém os elementos que nos permitem 
descrever, analisar e avaliar todo e qualquer 
processo existente de signos verbais, não-
verbais e naturais: fala, escrita, gestos, sons, 
comunicação dos animais, imagens fixas e em 
movimento, audiovisuais, hipermídia etc. 
Objetivos da prática semiótica de Peirce 
 A gramática especulativa de Peirce fornece definições 
e classificações para a análise de todos os tipos de 
linguagem, sinais, signos, códigos, etc, de qualquer 
espécie e de tudo que está neles implicado; a 
representação e os três aspectos que ela engloba, a 
significação, a objetivação e a interpretação. Ela apresenta 
facetas diversas que nos permitem compreender, qual a 
natureza e quais os poderes de referência dos signos, que 
informação transmitem, como eles se estruturam em 
sistemas, como funcionam, como são emitidos, 
produzidos, utilizados e que tipos de efeitos são capazes 
de provocar no receptor. 
 Na prática, esse tipo de análise semiótica 
nos permite penetrar no movimento interno das 
mensagens, no modo como elas são 
engendradas, nos procedimentos e recursos 
nelas utilizados, permitindo que captemos seus 
vetores de referencialidade, não apenas no 
contexto mais imediato, mas também no 
contexto estendido, pois em todo processo de 
signos ficam marcas deixadas pela história, 
pelas forcas econômicas produtivas, pela 
técnica, e pelo sujeito que as produz. 
• Em suma, trata-se de um percurso 
metodológico-analítico que promete dar conta 
das questões relativas às diferentes naturezas 
que as mensagens podem ter: verbal, 
imagética, sonora, incluindo suas misturas, 
palavra e imagem, ou imagem e som, etc., 
observando também como, no papel de 
receptores, percebemos, sentimos e 
entendemos as mensagens e como reagimos a 
elas. Abrange um corpus de análise bem 
diversificado, como, por exemplo, poemas, 
músicas, pinturas, fotos, filmes, matérias de 
jornal, dança,material publicitário, etc. 
Observação: 
• Convém lembrar que a análise semiótica 
peirceana, pelo que tem de abstrata – nos 
permitindo mapear o campo das 
linguagens nos vários aspectos gerais que 
as constituem – é uma teoria que 
pressupõe (e exige) um diálogo com 
outras disciplinas, i.e., com teorias mais 
específicas em relação aos signos que 
estão sendo examinados. 
• Isto quer dizer que, para analisar pinturas é 
necessário um certo conhecimento de teoria e 
história da arte, o mesmo se dando com a 
literatura, a música, e assim por diante. Por isso, 
a semiótica não é uma chave que abre para nós 
milagrosamente as portas do conhecimento de 
sistemas de signos cuja teoria e prática 
desconhecemos. Ela funciona como um mapa 
lógico que considera os diferentes aspectos 
através dos quais uma análise deve ser 
conduzida, mas não nos traz conhecimento 
específico da história, teoria e prática de um 
determinado processo de signos. 
Conclusão 
• A atenta observação do pensamento 
filosófico de Peirce, das relações de 
interdependência e de sistematização de 
sua lógica, possibilita o uso da semiótica 
peirceana e de toda a sua fundamentação 
teórica. Isto proporciona novas 
perspectivas para o entendimento de 
diversos fenômenos de mediação, 
processos de significação, representação 
e interpretação; portanto, na observação 
de todo e qualquer fenômeno de 
linguagem. 
BIBLIOGRAFIA 
• BLIKSTEIN I. Técnicas de Comunicação Escrita. S.Paulo: Ática, 
2006. 
• ECO, Umberto. Tratado geral de Semiótica. São Paulo: 
Perspectiva, 2007. 
• GARCIA, O.M. Comunicação em Prosa Moderna. 23. ed. FGV, 
2003. 
• LOPES, Edward. Fundamentos da Línguística Contemporânea. 
São Paulo: Cultrix, 2005. 
• SILVEIRA, Lauro F. Barbosa da. Semiótica Geral. São Paulo: 
Quartier Latin, 2007. 
• VANOYE, Francis. Usos da Linguagem. São Paulo: Martins 
Fontes, 2003. 
• SANTAELLA, Lucia. O que é Semiótica. 3.ed. S. Paulo: 
Brasiliense. s.d. 
 
Atividade 1 (p/nota): Seminário/Relatório 
• Seminário individual ou em grupo (dupla ou trio, no máximo). 
• Primeiramente, depois de estudar e pesquisar, cada grupo vai explicar 
o que entendeu da teoria semiótica (com suas palavras). 
• Cada grupo irá selecionar (escolher) uma página da web do mundo 
empresarial (comercial, industrial, educacional, cultural, esportes, 
serviços, entre outras). 
• Depois, deve procurar na homepage escolhida os principais aspectos 
da teoria semiótica de Peirce, Saussure, e Eco, de acordo com o que 
foi exposto em sala de aula e pesquisado pelos alunos. 
• Cada grupo apresentará seu seminário utilizando os recursos 
disponíveis (power-point ou gravando um vídeo de, no mínimo, 10 
minutos), podendo também ilustrar sua apresentação com outros 
vídeos, propiciando debates em sala de aula. 
• Após os debates, sob mediação do professor, os grupos redigirão um 
trabalho escrito, no formato de relatório técnico-científico. 
• O relatório, com o nome e assinatura dos integrantes do grupo, deverá 
ser entregue até o dia da prova (P1).

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