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Trabalho de Legislaçao 2

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A função social da propriedade
A função social da propriedade é um instrumento que visa evitar as desigualdades sociais provocadas por essa desigual distribuição das terras rurais e urbanas. O princípio da função social parte do entendimento de que não é benéfico para a sociedade ter propriedades de terra sem utilidade alguma.
Deste modo, a função social da propriedade rural está vinculada à tutela do meio-ambiente, prevista também no artigo 225 da Constituição. Caso a propriedade seja explorada em detrimento da preservação do meio-ambiente, estará sendo utilizada em prejuízo de toda a sociedade, o que é constitucionalmente inadmissível.
O imóvel rural é aquele localizado fora da zona urbana, que se destine à exploração agrícola, pecuária ou extrativista vegetal, florestal ou agroindustrial.
Propriedades rurais devem ser classificadas como pequenas, médias ou grandes, na desapropriação para reforma agrária, a partir do tamanho de sua área aproveitável, e não de toda a extensão do imóvel.
Aplica-se o critério da predominância da finalidade da destinação: se para fins empresariais ou residenciais, será considerado imóvel urbano. Já quando o imóvel seja, ou possa ser destinado para a exploração agrícola, pecuária, extrativista vegetal, florestal ou agroindustrial, ele será considerado imóvel rural.
A matrícula do imóvel, devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. A escritura, o contrato ou mesmo um compromisso de compra e venda do imóvel rural. O Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
No artigo 4º da Lei de Desapropriação Rural nº 8.629 de 25 de fevereiro de 1993, consta a definição de imóvel rural: “prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa vir a se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial”.
“Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.
Segundo ensina Araújo (1999), na doutrina jurídico-agrária, a função social da propriedade consiste na correta utilização econômica da terra e na sua justa distribuição, de modo a atender ao bem-estar da coletividade, mediante o aumento da produtividade e da promoção da justiça social.
Conforme o artigo 185, parágrafo único da CF/88, a análise jurídica da função social está intrinsecamente ligada ao conceito de propriedade produtiva. Isto porque, se uma propriedade atende à sua função social, produtiva ela é. Em resumo, essa é a interpretação que os tribunais vêm adotando. É o que se depreende, dessa forma, do seguinte entendimento jurisprudencial:
“ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. DISCUSSÃO ACERCA DA PRODUTIVIDADE DO IMÓVEL EXPROPRIADO. ACÓRDÃO A QUO QUE RECONHECEU SER O IMÓVEL PRODUTIVO COM BASE NO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA TERRA E DO APROVEITAMENTO RACIONAL DO MEIO-AMBIENTE. REVISÃO DO JULGADO. NECESSIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA AFETA À SUPREMA CORTE.
1. Cinge-se a controvérsia à ação de desapropriação por interesse social, na qual se discute se o imóvel expropriado pode ser considerado produtivo ou não, tendo em vista ter apresentado Grau de Utilização da Terra de 61%, inferior ao patamar exigido no Decreto n. 84.685/80, que é de 80%.
2. O Tribunal de origem reconheceu que o imóvel expropriado não se enquadra no conceito de terra improdutiva para fins de reforma agrária, já que, consoante perícia técnica, alcançou os índices GUT de 61% e GEE de 100,21%, e desse modo, cumpriu a função social da terra, prevista no art. 186 da CF/88. […]
(STJ, 1.ª Turma, AgRg no REsp 1004060 PR 2007/0259850-6, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 06/05/2010, publicado em 14/05/2010).
Princípio da função social na jurisprudência
A par da Constituição prever um conjunto de critérios concomitantes para configurar a função social da propriedade, o que os entendimentos jurisprudenciais vêm julgando, todavia, vai de encontro ao texto constitucional. Assim, o critério da exploração econômica é fundamental para decidir se é cumprida ou não a função social da propriedade, do ponto de vista jurisprudencial.
Por outro lado, na visão de Carlos Frederico Marés, a função social é da terra. Ele analisa o tema, então, sob a ótica da restrição dos direitos individuais em detrimento dos coletivos. O direito à terra, para o autor, é sinônimo de direito à vida, fonte de sustento do homem, portanto, deve ser analisado sob o aspecto de propriedade individual.
Além disso, o autor ainda revela que a função social é relativa ao bem e ao seu uso, e não ao direito. Assim, quem cumpre a função social não é a propriedade e sim à terra, aliada à intervenção do homem nela. Essa visão, um tanto quanto crítica, é a que melhor minimizaria os conflitos no campo.
Princípio da manutenção da propriedade
Como corolário do Princípio da Função Social da Terra, tem-se o princípio da manutenção da propriedade. Ou seja, o direito à titularidade pelos cumprimentos dos requisitos cumulativos estipulados pela Constituição, com critérios objetivos estipulados em norma infralegal. O que a jurisprudência faz, então, é aplicar a lei de forma tendenciosa. Isto porque, a Constituição não é cumprida em sua totalidade. Avalia-se, assim, apenas o aspecto produtivo, que nem sequer também é cumprido. É o que se extrai, por exemplo, do julgado acima, em que a terra foi considerada produtiva com Grau de Utilização da Terra de 61%, inferior ao patamar exigido no Decreto n. 84.685/80, que é de 80%.
Por fim, não são realmente estabelecidas as consequências de quem não cumpre a função social. De fato, há um grande problema de hermenêutica jurídica e social no tocante à interpretação do Princípio da Função Social da Terra. A Constituição entrega os fatores para se cumprir a função social; o STF observa o critério produtividade e a propriedade, sob premissas meramente econômicas; e o detentor não cumpre a Lei, mas a usa para se resguardar daquele que a invoca para cumpri-la.
O intuito deste artigo, então, é levar-nos a uma reflexão acerca dos problemas de interpretação e aplicação da norma e de seus impactos nos conflitos agrários existentes. Pelo contrário, ignorar os critérios constitucionais e aplicar a lei sob uma ótica individualista e exclusivista é perder de vista o objetivo maior do princípio, que é corrigir as injustiças que ocorrem no campo.

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