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Fichamento etnoconservação

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Rafaela Vianna Waisman
DIEGUES, Antonio Carlos – “Etnoconservação da natureza: Enfoques Alternativos” IN Antonio Carlos Diegues (org.) Etnoconservação. Novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo, Hucitec, 2000.
Antonio Carlos Sant’Ana Diegues: Graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1969), mestrado em Ciências Sociais (Sociologia) pela Universidade de São Paulo (1973) e doutorado e livre-docência em Ciências Sociais (Sociologia) pela Universidade de São Paulo (1979). Diploma do Institute of Social Studies, Haia, Holanda (1974), Diploma da École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris (1976).
É Co-ganhador do Prêmio Nobel da Paz, concedido ao UNHCR, Genebra em 1981. É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP. Atualmente exerce a função de Diretor Científico do NUPAUB - Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de planejamento ambiental e conservação da natureza, com ênfase em Ciências Humanas, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, planejamento costeiro, áreas protegidas marinhas, cultura caiçara, conhecimento tradicional e comunidades tradicionais. (IEA/USP, 2015)
Etnoconservação da natureza: enfoques alternativos - p.1
Concepção ambientalista generalizada, tecnocrática e neoliberal, que considera as questões ambientais como solucionáveis pelas técnicas modernas e pelo mercado.
-> Conservação definida frequentemente em seus aspectos técnicos e científicos, sem inserção nas teorias mais amplas relativas aos estudos das relações entre os humanos e a natureza. Há tantas definições quanto pressupostos teóricos e correntes de pensamento e ação que constroem a chamada conservação.
-> Definição proposta pela WWF/IUCN na Estratégia Mundial para a Conservação, 1980: “Conservação é o manejo do uso humano de organismos e ecossistemas, com o fim de garantir a sustentabilidade desse uso. Além do uso sustentável, a conservação inclui proteção, manutenção, reabilitação, restauração e melhoramento de populações (naturais) e ecossistemas.” -> trata do uso humano dos organismos e ecossistemas, e não do mundo natural como tal, sendo importante o aporte das ciências sociais para a questão.
-> Brasil: SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), 1992: inclui definição mais abrangente sobre conservação, considerando que deve ser feita em benefício das gerações atuais e futuras, inserindo o conceito de desenvolvimento sustentável. - p.2
-> Sunkel (1986): “a conservação, na prática, se limita às atividades de proteção, manutenção e restauração do mundo natural, com medidas como a implantação de áreas protegidas”; ”[...]sobretudo a implantação de áreas protegidas, corredores ecológicos, etc, desconectadas das aspirações e necessidades das populações locais”. -> o conservacionismo na América Latina é tido como uma teoria cujo objetivo é tornar o meio ambiente o menos tocado possível.
-> Redclift & Woodgate (1994): “a noção de conservação do mundo natural, entendida como o manejo científico de ambientes naturais e de seus recursos, cujo objetivo se pauta na maximização dos benefícios estéticos, educacionais, recreacionais e econômicos para a sociedade como um todo é a mais corrente entre os conservacionistas/preservacionistas do Norte.” -> pautam-se pelo princípio de universalização das soluções, considerando que as relações entre as diversas sociedades e o mundo natural são as mesmas em todo o mundo (globalização). Atribuem o fracasso em sua aplicação em outras sociedades às modalidades de execução (falta de financiamento, de pessoal técnico, de fiscalização adequada...). – p.3
- Conflitos gerados pela criação de parques ou reservas naturais desabitadas nos diversos continentes; impactos negativos do ambientalismo colonial inglês sobre o subcontinente indiano; ideias de proteção da natureza por intermédio dos colonizadores sobre o continente africano. – p.3
-> Guha (1994): analisa o impacto da transferência da ideologia norte-americana do mundo selvagem sobre a India, onde os camponeses têm uma relação equilibrada com a natureza, e conclui que a implantação de áreas naturais resultou numa transferência direta de recursos dos mais pobres para os mais ricos, bem como escassez de agua, pasto e combustíveis.
“Necessidade de se construir modelos de proteção da natureza viáveis nos países do Sul, baseados nas especificidades ambientais e culturais de suas necessidades.” – p.4
“Os processos geradores dos desequilíbrios ambientais que afetam toda a biosfera têm origem no interior de diversas sociedades, nas formas como estas constroem, representam e manipulam a natureza.”
->Conservacionismo e neocolonialismo: ”o conservacionismo importado dos países do Norte tem ideias com um forte desvio urbano-industrial, de alta tecnologia, masculino e quantificador, servindo aos interesses dos países e classes sociais abastadas.”
Guha (1997): cinco maiores grupos que alimentam a conservação da vida selvagem no Terceiro Mundo
1- Moradores das cidades e turistas estrangeiros que visitam o mundo selvagem nas férias, com objetivos de prazer, estética e recreação;
2- Elites governantes que vêm na proteção de um animal um símbolo de prestígio nacional;
3- Organizações ambientalistas internacionais, como IUCN e WWF;
4- Funcionários dos serviços de parques;
5- Biólogos que querem conservar a natureza por causa da ciência.
Os cinco grupos têm em comum a hostilidade contra as populações tradicionais que habitavam o território do parque antes de sua criação. Percebem as comunidades humanas como nocivas ao meio ambiente. Tal preconceito alimentou diversos projetos de conservação no Terceiro Mundo. – p.5
· Raymond Bonner – At the Hand of Man: “os colonialistas do século XIX promoviam os três “c”: Cristianismo, Comércio e Civilização, aos quais os preservacionistas acrescentaram um quarto: a Conservação.” – p.5
O modelo dominante de conservação: princípios julgados universais
· As características do modelo conservacionista dominante
“A natureza, para ser conservada, deve estar separada das sociedades humanas”
Concepção de separação entre humanidade e natureza, enraizada na civilização ocidental. Tradição judaico-cristã: Deus teria dado ao homem o domínio sobre a natureza. Tradição suméria: a luta entre o homem e a floresta. Antiga Grécia: natureza associada ao selvagem, ao irracional, às forças femininas que contrastam com a cultura racional organizada pelos homens. – p.6
· K. Thomas (1983): “até o século XVIII, a sobre civilização ocidental era uma expressão da conquista da natureza, fonte de alimentos, combustível, etc.”
· O animal domesticado era o símbolo da civilização ocidental, e se olhava com menosprezo para as filosofias orientais que pregavam uma relação harmoniosa com o mundo natural.
· Thomas afirma que tal padrão de dominação e domesticação dos animais serviu como base ideológica para a dominação dos seres humanos que se “comportavam como animais”, como os pobres, as mulheres, os negros, etc.
· Noção norte-americana de natureza selvagem – wilderness – do século XIX marcada pelo romantismo e pela valorização do belo e do estético que surge com a ideia de paisagem na Europa do séc. XVIII.
· Ralph Emerson e Henry Thoureau, fundadores da escola transcendentalista norte-americana, se dedicaram a descobrir e fazer venerar a verdade da natureza e sua beleza transformada em parque nacional, como o de Yellowstone.(Conan, 1993)
“A noção de mundo selvagem (wilderness) estabelece que a natureza selvagem somente pode ser protegida quando separada do convívio humano”.
· A natureza selvagem era tida como uma ameaça à civilização, nas sociedades primitivas, e passa a ser valorizada como “a salvação da humanidade” quando grande parte dessa natureza foi destruída.
· Essa transposição de modelos conservacionistas é criticada por cientistas dos países do Sul, bem como por outras correntes conservacionistas, também nos países do Norte.
· Larrére (1997): Aideia de uma natureza selvagem onde o ser humano é apenas um visitante é uma representação urbana de uma natureza longínqua. A política da preservação “wilderness” é um luxo dos países ricos e desenvolvidos. Conjuga etnocentrismo e imperialismo, e é muito prejudicial quando aplicada aos países pobres.
As relações entre o conservacionismo preservacionista, a ecologia profunda e a biologia da conservação
Desaparecimento do “mundo selvagem” e o crescimento populacional humano como causa principal da degradação ambiental. Divisão dos movimentos e dos vários enfoques conservacionistas. Ecocentrismo VS antropocentrismo. 
· Ecologia profunda: Arne Naess, 1972. “A vida humana e não humana tem valores intrínsecos independentes do utilitarismo; os humanos não têm o direito de reduzir abiodiversidade, exceto para satisfazer suas necessidades vitais; o florescimento da vida exige um decréscimo substancial da população humana. O florescimento da vida não humana requer tal decréscimo; ainterferência humana na natureza é demasiada; as políticas públicas devem, portanto, ser mudadas, afetando as estruturas econômicas, tecnológicas e ideológicas.” – p.9 
· Ecologistas sociais: críticas à ecologia profunda. – p.10/13
- Bookchin: “a posição dos ecologistas profundos é neomalthusiana, pois ignora o fato de que os problemas ecológicos de hoje têm raízes nas questões sociais.” Alerta para o perigo do “ecofascismo”.
- Simonnet: ressalta o biologicismo das posições preservacionistas. “A história demonstrou que toda justificação da ordem social pelas leis da natureza serviu ao totalitarismo”.
· Biologia da conservação: ciência prescritiva (orientada por objetivos). Oposta às interações entre comunidades tradicionais e seus hábitats. – p.11
· Ecologia Social: Índia, anos 80. “As sociedades tradicionais requerem alta diversidade de recursos naturais e ainda existem porque desenvolveram práticas culturais de utilização dos recursos que mantêm a biodiversidade.
· Brasil: ecólogos e biólogos relacionam os aspectos científicos da biologia da conservação com a promoção de políticas públicas referentes à conservação da biodiversidade, e ao mesmo tempo alertam para os conflitos entre as propostas de conservação e as populações locais. “A integração de perspectivas sociais, econômicas e políticas nas abordagens clássicas da biologia da conservação se torna um aspecto crucial e indispensável.” (Fonseca & Aguiar, p.71) – p.12
- Necessidade de diálogo entre cientistas sociais e naturais para promover a identificação de prioridades de conservação no Brasil. Dominância de pressupostos teóricos e científicos provenientes da biologia da conservação. – p.13
A ciência reducionista e a conservação – p.14/16
Modelos de ciência para a conservação marcados pelo paradigma cartesiano ou pelo positivismo/ racionalismo. Meio ambiente considerado por muitos como uma dimensão exclusivamente biológica/ natural. Tendência dos cientistas sociais a identificar tudo o que se refere a “meio ambiente” com o campo das ciências naturais.
- Reducionismo sociológico: “Todas as visões da natureza são construções simbólicas de uma ou outra cultura.”
- Reducionismo biológico: “Todos os aspectos da vida humana podem ser explicados por fatores biológicos.” Sociedade humana como parte da natureza mais ampla.
- Cargos de direção das entidades governamentais e não-governamentais são ocupados, em grande maioria, por cientistas naturais (engenheiros florestais, botânicos, biólogos) -> visão “naturalizadora” e nenhuma habilidade de resolução de conflitos.
Práticas conservacionistas autoritárias – p.16/18
-Muitas das práticas conservacionistas desrespeitam os direitos civis das populações locais.
-Influências ideológicas sobre a conservação promovidas por entidades como o U.S. National Park Service e não-governamentais nacionais e internacionais com visão exclusivamente preservacionistas.
Neocolonialismo – p.18/19
-> Biólogos reivindicam a autoridade absoluta sobre a conservação. 
“Uma batalha sobre o controle das interações, e por definição, a pessoa competente para reconhecer, entender e manipular essas interações é o ecólogo”
No Brasil, as novas gerações de cientistas naturais passam cada vez mais a reconhecer o papel do conhecimento das comunidades tradicionais na conservação.
Mudanças de atitudes e enfoques relativos à conservação – p.19/20
-Surgimento de movimentos que se opõem à ecologia profunda
Ecologia social, eco-socialismo e ecoanarquismo: 
-Murray Bookchin, 1964. Ecology and Revolutionary Thought. 
Seres humanos como seres sociais, que compõem diversos grupos. Opõem-se ao Estado e propõem uma sociedade democrática descentralizada e baseada na auto-gestão da terra e da produção. Anarquistas, criticam os marxistas clássicos.
-Ecossocialismo e ecomarxismo: criticam o marxismo clássico por não levar seriamente em conta a questão socioambiental
O ecologismo dos Movimentos Sociais no Brasil – p.21
Anos 80 – “Ambientalismo camponês” (Viola, 1991), uma forma de ecologismo social.
- Conselho Nacional de Seringueiros, o Movimento dos Atingidos pelas Barragens, o Movimento dos Pescadores Artesanais, os Movimentos Indígenas, etc. 
- I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu (Altamira), 1989 
necessidade de se repensar a função dos parques nacionais e reservas, incluindo aí os interesses e os modos de vida de seus moradores tradicionais.
“não destruir as florestas, os rios, que são nossos irmãos, pois esses territórios são sítios sagrados do nosso povo, morada do Criador, que não podem ser violados” (in Waldman, 1992:90)
- Inclusão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável no SNUC, expansão das reservas extrativistas, etc.
O surgimento de um novo naturalismo – p. 21/24
-Culturalismo – ortodoxa VS naturalismo – heterodoxa.
-Moscovici (1974) Hommes Domestiques, Homme Savage
Crítica à oposição entre o culturalismo e o naturalismo.
Novo naturalismo: O humano como parte da natureza e vice-versa.
a) O ser humano produz o meio que o cerca e é, ao mesmo tempo, seu produto.
“o fundamental não é a natureza em si, mas a relação entre o homem e a natureza.
b) A natureza como parte da história. “o problema é o estado da natureza conforme nossa situação histórica.”
c) A coletividade, e não o indivíduo, se relaciona com a natureza. A sociedade é parte e criação da natureza. 
- A natureza é diversidade, criação constante de diversidades, existência complementar de cada força e de cada espécie. A regra é a divergência.
- Dar a palavra a cada cultura, região e coletividade. Deixar a cada um o que produziu.
-“Nova utopia” – separação substituída pela unidade
Mudanças nas ciências relativas à conservação – novos paradigmas nas ciências biológicas
-Richard Norgaard: co-evolução = síntese interativa dos mecanismos de mudança social e natural. – p.25
- Concentração de poder e riqueza material nas sociedades industriais modernas.
- Questões ligadas à propriedade intelectual das comunidades locais que construíram a diversidade biológica natural
-Ecologia da paisagem: paisagem é uma estrutura espacial que resulta da interação entre os processos naturais e atividades humanas. As sociedades humanas modelam seu território. – p.26
-Paisagem cultural. Diferentes olhares na construção das paisagens: populações urbanas/elites, cientistas e populações locais. -> lugar onde vivem – p. 27
-Gow: paisagem como um mosaico de hábitats e de lugares. – p.28
-Etnociência: Lévi-Strauss (1962) parte da linguística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais. Etnobiologia, etnobotânica, etnofarmacologia, etnomatemática, etc.
- O papel do conhecimento e manejo tradicional na conservação. Etnobiodiversidade. Lugar – território como locus em que se produzem as relações sociais e simbólicas.
- Política conservacionista -> criação de não-lugares -> reservas naturais para a privatização.
-Biodiversidade como produto natural e cultural: “a manutenção, e mesmo o aumento, da diversidade biológica nas florestas tropicais estão intimamente relacionadas com as práticas tradicionaisda agricultura itinerante.”. – p.36
Etnoconservação – p. 40/43
- Administrar visões e interesses humanos, mais do que manejar processos naturais.
- Afastar a visão romântica de que as comunidades tradicionais são vistas como conservacionistas natas. – p. 41
- Novo conservacionismo ancorado no ecologismo social e dos movimentos sociais do Terceiro Mundo.
- Conhecimento científico e conhecimento local são igualmente importantes. Integração para o planejamento e execução de ações conservacionistas. – p.42
- Importância de fundamentar o estabelecimento de áreas protegidas na concepção de “paisagem” ou mosaico de ecossistemas e habitats, com a real incorporação das comunidades na conservação. Populações devem dispor de poder deliberativo nos órgãos de decisão. – p. 43

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