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Epidemiologia Os sintomas depressivos aumentam de prevalência a depender do estrato da população idosa, sendo de 17,1% para os maiores de 75 anos, 20 a 25% para os maiores de 85 anos e 30 a 50% para os maiores de 90 anos. As depressões apresentam etiologia multifatorial: fatores genéticos, biológicos, epigenéticos e ambientais em proporções variáveis. Acredita-se também que a maior parte dos fatores de risco para transtornos do humor acumule-se na população idosa. A depressão de início tardio que começa após os 60 a 65 anos de idade se relaciona a fatores estressores que podem desencadear e/ou manter o quadro depressivo. Em relação aos fatores genéticos, a possibilidade de ocorrência de depressão entre familiares de primeiro grau de deprimidos é três vezes maior do que de não deprimidos. O impacto negativo na função independe da comorbidade, e a taxa de sintomas depressivos cresce com o aumento do número de comorbidades. A associação com insuficiência cardíaca aumenta a mortalidade em até 80%. Os pacientes com câncer que sentem desamparo e desesperança têm pior prognóstico, e nos asmáticos e diabéticos, o impacto adverso da depressão independe da capacidade funcional do indivíduo. A depressão é a complicação mais comum nas doenças neurológicas e é um fator de risco independente para redução da funcionalidade. Quando ocorre após um trauma cerebral, pode exacerbar dificuldades físicas e cognitivas, apresentando pior resposta à reabilitação. No caso do AVE, a frequência pode aumentar quando a lesão ocorre no córtex cerebral esquerdo, quanto mais próximo ao lobo frontal ou quando apresenta infartos subcorticais no tálamo ou no caudado. Só existe correlação da depressão com a topografia da lesão se essa ocorrer precocemente (menos que 12 meses). Assim como pode prejudicar diretamente a recuperação de uma patologia associada, a depressão pode também interferir na adesão ao tratamento, piorando o prognóstico de ambas. FATORES DE RISCO ▼Doença cerebrovascular. Este é um dos poucos fatores de risco genéticos para depressão em idosos. ▼Idade. A prevalência de transtornos depressivos é maior entre os mais jovens. Por outro lado, um maior número de idosos apresenta sintomas depressivos que não preenchem os critérios propostos. ▼Gênero. As mulheres apresentam mais sintomas depressivos que os homens. A morbidade da depressão é elevada para o sexo feminino. Enquanto a mulher tem maior probabilidade de se tornar incapacitada, o homem tem de morrer. ▼Estado civil. A convivência com companheiro é fator protetor para os transtornos do humor, e o fato de não ser casado está associado à presença de sintomas depressivos, para ambos os sexos. ▼História pessoal ou familiar de doença psiquiátrica é forte preditor de risco para novos episódios de depressão. ▼Outros eventos de saúde: uso de álcool; a privação sensorial visual ou auditiva; os transtornos do sono e a presença de dor em pacientes com doença crônica; a incapacidade. ▼Uso de medicamentos que causam sintomas depressivos: Dentre essas substâncias, encontram-se alguns anti-hipertensivos, diuréticos, digitálicos, analgésicos, corticosteroides, antipsicóticos benzodiazepínicos, antiparkinsonianos, tuberculostáticos e o álcool. ▼Escolaridade. A pouca instrução está associada a sintomas depressivos e a maior escolaridade é fator protetor. ▼Fatores socioeconômicos. Tem relação com a depressão, a pobreza e os baixos salários. No entanto, a riqueza não é fator protetor. ▼Viuvez. Em 10 a 20% está associada a sintomas depressivos no primeiro ano e 14% no segundo ano, e esses sintomas persistem caso não sejam tratados. A mortalidade aumenta no primeiro ano, especialmente por DCV independentemente da existência de doença prévia. ▼Institucionalização. A presença de sintomas depressivos na admissão em instituição de longa permanência é fator preditor de depressão, assim como a falta de visitas ao idoso institucionalizado. ▼Traumas psicológicos. Os mais importantes como fatores de risco: guerras, campos de concentração e terrorismo. O baixo suporte emocional na infância também é fator de risco para depressão em idosos. ▼Suporte social. Se a condição de saúde é precária e o suporte social é pobre, o idoso está particularmente sob risco para depressão, pois o suporte social, além de ter um efeito direto nos sintomas depressivos, tem a capacidade de modelar os efeitos das perdas materiais e interpessoais. Baixa aculturação, morar só, perda de contatos e falta de um confidente. FISIOPATOLOGIA Em relação à fisiopatologia, existem dados sugestivos de que as alterações do sistema de neurotransmissores podem ocorrer como consequência de mudanças no número, assim como na sensibilidade dos neurorreceptores pré e pós-sinápticos no sistema nervoso central, sem que haja, obrigatoriamente, uma alteração na quantidade do próprio neurotransmissor. As hipóteses baseadas na deficiência de neurotransmissores têm sido, pois, substituídas por hipóteses mais focadas nos neurorreceptores. As hipóteses atuais orbitam em torno dos neurorreceptores, os quais, em vez de estruturas rígidas, apresentam neuroplasticidade, adaptando-se e respondendo às alterações dos neurotransmissores. QUADRO CLÍNICO De modo geral a depressão em idosos apresenta menos humor depressivo e mais anedonia, mais sintomas somáticos do que “psicológicos”, maior frequência de associação com doença física e/ou cerebral e presença maior de déficit cognitivo e disfunção executiva. Os subtipos de depressão mais frequentes em idosos são: ■Depressão vascular: caracterizada por redução do interesse, retardo psicomotor, prejuízo na percepção e pouca agitação ou sentimento de culpa, além de uma possível piora na incapacidade. Dentre os sintomas cognitivos mais presentes estão o déficit de fluência verbal e a anomia. Deve ser suspeitada quando o primeiro episódio ocorre em idade mais avançada (mais de 85 anos) e não tem relação com história de depressão na família. ■Síndrome depressão – disfunção executiva: causada por uma proeminente disfunção frontoestriatal e caracterizada por retardo psicomotor, redução de interesse, dano nas atividades instrumentais da vida diária (AIVD), insight limitado e sinais vegetativos. Essa síndrome apresenta resposta pobre, lenta e instável aos antidepressivos e requer um cuidadoso plano de acompanhamento. ■Depressão psicótica: mais frequentes em idosos que nos adultos jovens, associa-se a alucinações e/ou delírios (culpa, hipocondria, niilismo, persecutório e de ciúmes, apodrecimento ou ausência de órgãos internos), com maior risco de comportamento de autolesão. Alucinações auditivas e, menos frequentemente, visuais podem estar presentes. ■Depressão melancólica: caracterizada por incapacidade de reagir a estímulos positivos, piora do humor pela manhã, sentimento de culpa excessivo, despertar precoce, marcante retardo ou agitação psicomotora, perda de apetite ou peso. Esse elenco de sintomas é conhecido como depressão subsindrômica e definido como a presença de dois ou mais sintomas depressivos na maior parte do tempo, durante, pelo menos, 2 semanas, em indivíduos que não preenchem critérios para depressão maior, distimia ou outros transtornos depressivos. Observa-se que, no curso da depressão maior, os pacientes passam mais tempo apenas com sintomas depressivos do que com o quadro clínico completo exigido pelos critérios diagnósticos (CID-10 e DSM-V). Por outro lado, a depressão maior pode ser a exacerbação de problemas crônicos de humor cujas raízes estão em fatores de vulnerabilidade de longa data. Torna-se necessária, muitas vezes, a diferenciação entre o luto habitual ou mesmo traumático e a depressão associada à perda de alguém próximo. Neste último caso, existe uma tendência à cronificação de sintomas, como redução do autocuidado, perda de peso, insônia, queixas físicas, distanciamento de familiares e amigos, perda de interesse em atividades anteriormente interessantes,perda de prazer, sentimento de inutilidade ou indiferença e de monotonia. No cônjuge viúvo com o luto traumático estão presentes comportamentos como introspecção, enternecimento (saudade), preocupação com os pensamentos do falecido, choro, descrença a respeito da morte, sentimento de atordoamento devido à morte e não aceitação da morte DIAGNÓSTICO é essencialmente clínico, devendo ser dada ênfase à história clínica atual e pregressa, incluindo a história psiquiátrica do próprio paciente e de seus familiares e ideação suicida; uso de medicamentos; funcionalidade; avaliação psicológica (eventos estressores), cognitiva e social, incluindo inserções laborativas, de lazer, suporte social/familiar, rede de relacionamentos e estrutura econômica. Um instrumento utilizado para triagem diagnóstica da depressão nos idosos é a Escala de depressão geriátrica (Geriatric Depression Scale – GDS). Escala de depressão geriátrica É o instrumento mais popular para avaliação de sintomas depressivos em idosos, tendo sido a única desenvolvida para esse grupo etário. Seu entendimento é simples, com respostas dicotômicas do tipo sim/não e de rápida e fácil aplicação. Apresenta acurácia para os muito idosos (mais que 80 anos)e a vantagem de não incluir sintomas somáticos, reduzindo a interferência de sintomas confundidores em uma população em que a comorbidade é uma realidade. A desvantagem é a limitação do uso na presença de déficit cognitivo, especialmente após estágio moderado. A versão original do GDS possui 30 itens, porém existem versões mais curtas, sendo a principal composta por 15 itens selecionados. O escore do GDS 30 sugere depressão a partir de 11 pontos e do GDS 15, a partir de 05 pontos. Mesmo sem avaliar objetivamente a gravidade dos sintomas, indica depressão moderada de 11 a 20 e 8 a 9, e grave acima de 21 e 10 pontos para o GDS 30 e GDS 15, respectivamente. Nos indivíduos com mais de 80 anos antes do estabelecimento da depressão, pode existir uma fase subsindrômica de até 3 anos. Uma vez estabelecido o quadro sindrômico, com base nos critérios diagnósticos dos organismos internacionais de referência: Critérios diagnósticos do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Doença Mental (DSM-V) para depressão maior. A) Cinco ou mais dos sintomas seguintes presentes por pelo menos 2 semanas e que representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo; pelo menos um dos sintomas é: (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer*: ● Humor deprimido na maioria dos dias, quase todos os dias por observação subjetiva ou realizada por terceiros ● Acentuada diminuição do prazer ou desinteresse em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicados por relato subjetivo ou observação feita por terceiros) ● Perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta (p. ex., alteração de mais de 5% do peso corporal em 1 mês) ou aumento ou diminuição de apetite quase todos os dias. ● Insônia ou hipersonia quase todos os dias ● Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outros, não apenas sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento) ● Fadiga e perda de energia quase todos os dias ● Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente) ● Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se; indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros) ● Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou tentativa de suicídio ou plano específico de cometer suicídio B) Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo C) Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., droga) ou outra condição médica (Notas: 1. Os critérios de A-C representam um episódio depressivo maior; 2. Respostas a uma perda significativa (luto, perda financeira, perda por um desastre natural, uma grave doença médica ou invalidez) podem incluir sentimentos de tristeza intensa, reflexão excessiva sobre a perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no critério A, que podem assemelhar-se a um episódio depressivo. Embora estes sintomas possam ser compreensíveis ou considerados apropriados para a perda, a presença de um episódio depressivo maior em adição a uma resposta normal a uma perda significativa deve também ser considerada cuidadosamente. Esta decisão, inevitavelmente, requer o exercício de julgamento clínico baseado na história do indivíduo e as normas culturais para a expressão de angústia no contexto de perda) D) A ocorrência de episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno delirante ou outro transtorno especificado ou não do espectro esquizofrênico e outros transtornos psicóticos E) Não houve nenhum episódio de mania ou hipomania anterior (Nota: esta exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo maníaco ou hipomaníaco forem induzidos por substância ou atribuíveis aos efeitos fisiológicos de outra condição médica. Deve-se investigar a presença de doenças clínicas que possam estar colaborando para o quadro, com seus exames específicos. O eletrocardiograma deve ser realizado nos pacientes com indicação de uso de antidepressivo tricíclico. Quando houver déficit cognitivo associado ou suspeita de depressão vascular, está indicada a realização de ressonância magnética de encéfalo. Curso O processo de desenvolvimento da depressão no idoso pode durar anos, sendo, portanto, mais crônico do que agudo. Para o entendimento do curso da depressão, é importante que alguns conceitos sejam conhecidos: ■Resposta: melhora de 50% dos sintomas inicialmente presentes ■Remissão: desaparecimento dos sintomas ■Recuperação: manutenção da remissão dos sintomas por pelo menos 6 a 12 meses ■Recaída: piora dos sintomas antes da sua remissão completa ou quando já houve remissão, porém ainda não a recuperação da doença. Os pacientes que apresentam mais recaídas são os que demoram a responder, os que têm ansiedade associada, mantêm escore depressivo alto no início da fase de manutenção e os que cursam com algum evento médico ou social desfavorável ■Recorrência: refere-se a um novo episódio de depressão, pois acontece após a recuperação da doença. Após instituição de adequada terapêutica, 1/3 melhora e permanece bem, 1/3 apresenta recaída e 1/3 não melhora, cronifica. Eventos vitais negativos que ocorrem no curso do tratamento podem desviar o curso da curva de melhora sintomatológica. Fatores relacionados com a possibilidade de cronificação dos sintomas depressivos. ● Intrínsecos: Doença física, Luto, Déficit cognitivo, Episódios graves, Presença de hipersinal na substância branca à ressonância magnética ● Extrínsecos: Falta de informação sobre a doença, seu tratamento e possíveis efeitos colaterais, Uso de subdoses, Interrupção precoce do tratamento,Automedicação (vitaminas, ansiolíticos) TRATAMENTO O tratamento da depressão visa à eliminação dos sintomas, à prevenção de recorrências ou recaídas, à prevenção da piora de outras patologias presentes e de mortalidade por suicídio ou por outras causas associadas, à melhora cognitiva e funcional e ao apoio para que os pacientes possam lidar com suas dificuldades. A associação entre essas opções eleva o potencial de resposta do paciente. Em idosos sabidamente sob maior risco, o tratamento deve ser iniciado precocemente, como em viúvos (especialmente os homens) e em pacientes com AVE. Em situações em que a atribuição dos sintomas é difícil de ser estabelecida entre doenças clínicas e a própria depressão, deve ser instituído teste terapêutico. ❖ FARMACOTERAPIA A escolha do fármaco para o tratamentodeve estar baseada no perfil dos efeitos colaterais na interação com outras substâncias. Concomitantemente, avalia-se a qualidade dos sintomas e a presença de comorbidades. O início da terapêutica no idoso deve começar com doses baixas e aumentá-las aos poucos, porém alcançando a dose terapêutica. Para todos antidepressivos existe uma fase de latência de 4 a 8 semanas para o início da ação terapêutica, apesar de os efeitos colaterais poderem surgir precocemente, o que muitas vezes provoca o abandono do tratamento nos pacientes que não estão esclarecidos sobre essa possibilidade. O tratamento é de longa duração e pode ser necessário por toda a vida. Para que a escolha do antidepressivo seja adequada, deve-se observar três fatores: sintomas clínicos associados à redução da disponibilidade de cada um dos neurotransmissores, perfil de inibição destes pelos antidepressivos e mecanismo de desenvolvimento dos efeitos colaterais. CLASSES DE ANTIDEPRESSIVOS Os antidepressivos são divididos em classes, segundo seus respectivos mecanismos de ação, como a seguir. 1) Antidepressivos tricíclicos Os efeitos terapêuticos ocorrem devido ao bloqueio da bomba de recaptação da serotonina, norepinefrina e dopamina (em menor grau). No entanto, o potencial de bloqueio para cada neurotransmissor varia para cada fármaco da classe dos antidepressivos tricíclicos (ADT). ADT disponíveis no Brasil: amitriptilina, clomipramina, imipramina, maproptilina e nortriptilina. Em idosos, o antidepressivo tricíclico mais indicado é a nortriptilina (janela terapêutica entre 50 ng/mℓ e 150 ng/mℓ), por apresentar o melhor perfil de efeitos colaterais,sendo importante o acompanhamento da sua dosagem sérica. Os demais devem ser evitados. 2) Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) É a classe de fármacos mais utilizada para o tratamento da depressão em idosos, devido à menor possibilidade de efeitos colaterais. Esses, quando surgem, estão relacionados com o efeito da serotonina em outros locais que não as vias relacionadas com o processo de desenvolvimento da depressão, na qual estão agindo terapeuticamente.Ação: Age através do potente bloqueio da recaptação da serotonina, o que o torna seletivo, pois os demais neurotransmissores são muito pouco ou nada bloqueados. De modo similar, nenhum dos três mecanismos responsáveis pelos principais efeitos colaterais dos ADT está presente. Estão disponíveis no Brasil: citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina. É importante reconhecer que diferentes vias medeiam ações terapêuticas distintas, assim como os efeitos colaterais dos ISRS envolvem subtipos específicos de receptores de serotonina (5-HT2A, 5-HT2C, 5-HT3 e 5-HT4) e inibições enzimáticas. Alguns deles (fluoxetina, fluvoxamina e paroxetina) utilizam como via metabólica o citocromo P-450, ocorrendo em diferentes graus inibição dos citocromos 1A2, 3A4 e 2D6, o que torna ainda mais necessário o cuidado com as possíveis interações medicamentosas no idoso. A fluoxetina deve ser evitada em idosos, pois tem meia-vida longa (15 dias) e inibe ação de enzimas hepáticas, resultando em elevação sérica de vários medicamentos, além de estar associada à hiponatremia e à síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético, que podem ocorrer até 120 dias após o início do uso em idosos. Pode elevar significativamente a dose sérica de diversas medicações como antipsicóticos, anticonvulsivante, antiarrítmicos, digoxina etc A paroxetina não possui metabólitos ativos e tem meia-vida curta. Apresenta também importante inibição nas enzimas hepáticas. Segundo o critério de Beers (2015), a paroxetina deve ser evitada em idosos com nível de evidencia alto, devido a maior potencial de efeitos adversos como efeitos anticolinérgicos, sedativos e hipotensão ortostática. A sertralina apresenta meia-vida curta, alta seletividade pela serotonina e baixo potencial de inibição de enzimas hepáticas. O citalopram é o mais seletivo para a recaptação de serotonina. Praticamente não inibe enzimas hepáticas. Por suas características tem sido utilizado em pacientes com depressão associada a doenças físicas e/ou cerebrais, como nos sintomas ansiosos e depressivos nas doenças do tipo Alzheimer. A forma racêmica do citalopram é o escitalopram. A fluvoxamina demonstrou boa eficácia em estudos comparativos com outros antidepressivos em idosos. Possui efeito inibidor nas enzimas hepáticas, o que eleva o risco de interações medicamentosas. Sua ação em receptores sigma-1 pode ter um efeito maior em relação a neuroproteção, ainda sem evidência clínica. Além da fluoxetina, também paroxetina, sertralina, fluvoxamina e citalopram, usados cronicamente, podem desenvolver hiponatremia. Este distúrbio é mais prevalente em idosos, pacientes com baixo peso corporal e em mulheres, ocorrendo principalmente nas primeiras semanas de tratamento e no verão. Obs: Para sua prevenção, o sódio sérico deve ser dosado antes do início do tratamento e 2 semanas após. Os antidepressivos tricíclicos são uma opção para estes pacientes. Interações medicamentosas com ISRS: ● O uso de diuréticos contribui para o desenvolvimento da hiponatremia. ● O uso conjunto com anti-inflamatórios não esteroides pode aumentar o risco de hemorragia digestiva. Por vezes os ISRS podem apresentar uma resposta apática, que significa a melhora do humor, mas com a permanência de sintomas residuais como anedonia, redução da motivação, interesse, energia, concentração, libido e alentecimento cognitivo; sintomas esses relacionados com a norepinefrina que não é bloqueada pelos ISRS. 3) Inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina (ISRN) Os ISRN, além de melhorarem o humor, também agem sobre a apatia, fadiga e alentecimento psicomotor, melhorando o funcionamento social. Esta não é uma terapêutica de primeira escolha para a depressão, porém pode ser utilizada quando outros antidepressivos já foram tentados sem sucesso e nos casos mais graves. A substância padrão dessa classe é a reboxetina. 4) Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e norepinefrina A duloxetina, a milnaciprana, a venlafaxina e a desvenlafaxina são os representantes dessa classe que se caracteriza pela existência, em uma mesma molécula, de seletividade para a serotonina e norepinefrina, com ação pouco expressiva na recaptação da dopamina e sem os bloqueios de receptores responsáveis pelos efeitos colaterais dos ADT. A duloxetina apresenta um início de ação mais lento no idoso, é bem tolerada por esses e tem ação diferencial no controle dos sintomas somáticos da depressão. Seus principais efeitos colaterais são náuseas, boca seca, fadiga, insônia e obstipação. A milnaciprana inibe de maneira similar a serotonina e a norepinefrina e não apresenta qualquer efeito sobre a dopamina. Também não interfere nos receptores colinérgicos, adrenérgicos e histaminérgicos. Possui a vantagem de ter baixa ligação proteica e de a eliminação ser hepática e renal, porém, a dose recomendada deve ser dividida em 2 tomadas diárias. Para a venlafaxina, a inibição da recaptação da serotonina é a mais potente, presente mesmo nas doses baixas, enquanto a da norepinefrina só acontece em doses mais altas e a da dopamina só está presente em doses elevadas. Na sua dose inicial habitual (75 mg/dia) age apenas como bloqueador seletivo de recaptação da serotonina, necessitando de aumento da dose para obtenção do efeito dual (150 mg/dia). Porém, as dosagens maiores aumentam a possibilidade de hipertensão arterial e efeitos anticolinérgicos. A desvenlafaxina é composta pelo principal metabólito ativo da venlafaxina. A dose inicial (50 mg/dia) já é considerada terapêutica, e seu aumento está associado ao surgimento de efeitos colaterais como hipertensão e hipercolesterolemia. A descontinuação deve ser gradual. 5) Inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina e dopamina A bupropiona é o protótipodos inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina e dopamina (IRND), no entanto, ela age como profármaco, sendo seu metabólito ativo o verdadeiro responsável pelas ações terapêuticas. É útil nos pacientes que não toleram os efeitos serotoninérgicos ou não respondem ao aumento da dose dos ISRS e nos portadores de doença de Parkinson. Apresenta a vantagem de não interferir no desempenho sexual. No entanto, existe risco de hipertensão arterial diastólica em idosos 6) Dupla ação serotoninérgica e noradrenérgica por meio de antagonismo alfa-2. Apesar da dupla ação final semelhante aos inibidores seletivos de recaptação de serotonina e norepinefrina (IRSN), o mecanismo de ocorrência do efeito antidepressivo deve-se às ações antagônicas sobre os receptores alfa-2 pré-sinápticos dos neurônios serotoninérgicos e noradrenérgicos, principalmente, mas também sobre os receptores serotoninérgicos 2A, 2C e 3, além do receptor H1. Outro mecanismo adicional é a estimulação noradrenérgica dos receptores alfa-1 pós-sinápticos, permitindo maior liberação de serotonina. Os principais efeitos colaterais são a sedação (bloqueio de 5-HT2A e de H1) e o ganho ponderal (bloqueio de 5-HT2C e de H1). Este é um típico caso em que a escolha do antidepressivo pode também ser guiada pelo benefício secundário dos efeitos colaterais, como, por exemplo, depressão com ansiedade em indivíduos com insônia e história de emagrecimento. Como os receptores 2A, 2C e 3 estão bloqueados, não haverá ansiedade, náuseas ou disfunção sexual. A mirtazapina e a mianserina representam essa classe de fármacos, porém, a mianserina aumenta principalmente a neurotransmissão noradrenérgica. A mirtazapina não apresenta efeitos adversos anticolinérgicos, portanto tem pouco potencial para causar déficits cognitivos. Estudos e relatos de caso demostram que pode ser útil nos quadros depressivos associados à demência e à doença de Parkinson, sem impactos sobre sintomas cognitivos e extrapiramidais. 7) Antagonistas de dupla ação sobre receptores de serotonina 2A e inibição da recaptação de serotonina A nefazodona e a trazodona apresentam, como principal ação, o bloqueio dos receptores 5-HT2A, de maneira seletiva, pois não apresentam as demais ações e efeitos colaterais dos ADT. O bloqueio da recaptação de serotonina é inferior ao dos ISRS. A nefazodona bloqueia de maneira secundária e em menor escala a recaptação de norepinefrina e os receptores alfa-1. Já a trazodona(donaren) tem efeito limitado como antidepressivo, mas um potente efeito sedativo, que se dá pelo bloqueio do receptor H1, tendo indicação, portanto, para uso como hipnótico, em doses mais baixas que as utilizadas como antidepressivo. Seu efeito colateral mais temido é o priapismo. 8) Inibidores da monoamina oxidase Apesar de satisfatória ação terapêutica, os inibidores da monoamina oxidase (IMAO) não são medicamentos de primeira linha para o tratamento da depressão, especialmente no idoso, devido aos seus efeitos colaterais, especialmente a possibilidade de hipertensão arterial grave. A síndrome serotoninérgica é uma condição causada pelo aumento da estimulação de receptores serotoninérgicos centrais e periféricos. Resulta de interações farmacológicas de medicamentos que aumentam os neurotransmissores serotoninérgicos. Seus sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, tremores, diarreia, inquietude, hiper-reflexia, mioclonia, rigidez muscular e instabilidade autonômica. Ocorrem mais frequentemente com a utilização de IMAO, porém podem também ocorrer com o uso de outros antidepressivos. O tratamento algumas vezes requer cuidados intensivos em virtude do seu potencial letal e envolve a descontinuação de todos os medicamentos serotoninérgicos. 9) Agonista de receptores melatonérgicos MT1 e MT2 e antagonista dos receptores serotoninérgicos 2 A agomelatina age em sintomas como humor deprimido, ansiedade, alentecimento psicomotor, transtorno do sono e fadiga. Seu metabolismo é hepático e a dose inicial é de 25 mg à noite. Ainda são necessários estudos mais específicos para a população idosa. Antidepressivos e comorbidades Alguns medicamentos foram testados na presença de comorbidades: → Uso da bupropiona na doença de Parkinson, evitando-se os ISRS pela possibilidade de piora dos sintomas motores (especialmente a fluoxetina). → Os ISRS que não alteram a função cardíaca devem ser preferidos para cardiopatas. → No caso de depressão pós-AVE, deve-se utilizar ADT (nortriptilina) ou ISRS selecionados. → ISRS selecionados são escolhidos para o tratamento da depressão no curso da demência, devendo ser preferidos os que apresentam reduzido efeito anticolinérgico. A possibilidade de recaída ou mesmo de não obtenção de melhora é expressiva, especialmente nos pacientes com história de mais de 1 ano de doença antes do início do tratamento, naqueles com déficit cognitivo e nos que apresentam atrofia cortical. Alguns pacientes são candidatos a tratamento por toda a vida: os que apresentaram o primeiro episódio após os 50 anos, os que têm história de mais que 3 episódios ao longo da vida e os com quadro clínico grave. Nos pacientes com depressão psicótica, o antipsicótico deve ser mantido por 6 meses. As recaídas podem ser prevenidas quando o paciente apresenta um suporte social efetivo ou pode contar com um amigo íntimo, do tipo confidente. Novos antidepressivos aprovados para o tratamento da depressão pela FDA: ■Vilazodona: inibidor seletivo de recaptação de serotonina e agonista parcial dos receptores 5-HT1A ■Vortioxetina: ação inibidora seletiva de recaptação da serotonina, bem como agonista dos receptores 5-HT1A, agonista parcial dos receptores 5-HT1B e antagonista dos receptores 5-HT1, 5-HT3 e 5-HT7 ■Levomilnaciprano: inibidor de recaptação de serotonina e norepinefrina, com maior seletividade para a norepinefrina. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, cefaleia, boca seca, hiperidrose e obstipação. OUTRAS MODALIDADES : Fitoterapia O extrato de Hypericum perforatum, popularmente conhecido como erva-de-são-joão, tem efeito superior ao placebo, mas está indicado apenas para os casos de depressão leve a moderada. Apesar de ser uma medicação relativamente segura, a possibilidade de interação medicamentosa não deve ser esquecida. Eletroconvulsoterapia A eletroconvulsoterapia (ECT), apesar de eficaz e segura, é terapêutica reservada para casos mais graves (risco de suicídio ou depressão recorrente), sendo considerada padrão-ouro nestes casos. Pode ser de primeira escolha quando o paciente apresenta contraindicação ao uso de antidepressivos, quando não responde a esses, na presença de risco de suicídio ou homicídio ou quando assim desejar. A principal vantagem é a rapidez da resposta, e sua eficácia é a mesma que em indivíduos jovens. A quantidade de aplicações deve ser definida individualmente, porém, em geral, varia entre 6 e 12 sessões. No entanto, pode haver necessidade da utilização crônica desse procedimento, como terapêutica de manutenção para a depressão. Os idosos apresentam melhor resposta. O procedimento deve ser realizado em unidades fechadas, sob anestesia. Os principais efeitos colaterais a curto prazo são sonolência, agitação e confusão mental, que podem desaparecer em 30 min, e, a médio prazo, amnésia anterógrada. Antes da aplicação do procedimento, deve ser compensada a hipertensão arterial e afastada a possibilidade de hipertensão intracraniana. A presença de história recente de AVE (6 meses) ou IAM (3 meses) é contraindicação relativa. Estimulação magnética transcraniana É uma técnica não invasiva que modula a excitabilidade cerebral, levando a inibição ou excitação de diferentes áreas corticais, melhorando assim os sintomas depressivos. Os idosos com depressão vascular têm pior resposta, assim como indivíduos com redução do volume do lobo frontal. Os efeitos colaterais mais comuns são dor e desconforto durante a estimulação, além de cefaleia.Fototerapia Baseia-se na exposição à luz brilhante por curtos períodos durante o dia com o objetivo de restabelecer os níveis normais de serotonina e melatonina. É especialmente indicada para a depressão sazonal, apesar de já ter demonstrado efeito em depressões não sazonais e outras doenças. Os pacientes que melhor respondem são os que apresentam excesso de sono e apetite, que têm ingesta compulsiva de carboidratos e aumento ponderal. Os principais efeitos colaterais são leves e desaparecem com o tempo, com a redução da duração da exposição e da intensidade: cefaleia, sensação de vista cansada, alteração da acuidade visual, náuseas, insônia, tontura, fadiga, hipomania, sensação de ficar ligado, irritação na pele, precordialgia e palpitações. Excitação elétrica cerebral profunda Seu mecanismo baseia-se na estimulação elétrica através de eletrodos implantados em região cerebral profunda. Psicoterapia As abordagens psicoterapêuticas de intervenção na depressão funcionam como auxílio terapêutico, ajudando o indivíduo a desenvolver recursos internos para lidar com suas disfunções. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem como foco de ação as distorções de pensamento do paciente e os comportamentos disfuncionais. O principal objetivo é detectar e ajudar a modificar as reações condicionadas (pensamentos automáticos), melhorando assim as atitudes que restringem as atividades sociais e profissionais. É uma terapia de curta duração e baseada no aqui e agora. A terapia interpessoal, por outro lado, enfoca a maneira como uma perda afeta o paciente. A base da psicoterapia dinâmica é ajudar o paciente a compreender as estruturas e padrões inconscientes que podem estar criando sintomas e dificuldades de relacionamento.
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