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1 Rafaela Pamplona Resumo I - ONCOLOGIA INTRODUÇÃO ONCOLOGIA .................................................................................................................................................................... 1 ONCOLOGIA MOLECULAR ..................................................................................................................................................................... 5 IMUNOLOGIA DE TUMORES ................................................................................................................................................................. 12 ONCOLOGIA BÁSICA ............................................................................................................................................................................. 17 PRINCIPAIS DOENÇAS ONCOLÓGICAS NA INFÂNCIA ...................................................................................................................... 23 INTRODUÇÃO ONCOLOGIA Neoplasia • Proliferação celular anormal, descontrolada e autônoma, na qual as células reduzem ou perdem a capacidade de se diferenciar, em consequência de alterações nos genes que regulam o crescimento e a diferenciação celulares • Classificação Benigna: células semelhantes as de origem, bem delimitadas – diferenciadas Maligna: células indiferenciadas que se separam da massa neoplásica e são carreadas pelo sangue ou linfa para os tecidos - Células indiferenciadas são células jovens, sem função definida, que não maturou Definições • Proto-oncogenes: genes que codificam proteínas que estimulam a proliferação e diferenciação em células normais Podem sofrer injuria por fenômenos químicos, físicos ou biológicos, sendo transformados em oncogenes • Oncogenes: proto-oncogenes alterados presentes em células tumorais • Vírus oncogênicos: são vírus capazes de transformar o proto-oncogenes em oncogene Ex: vírus Epstein-Barr à papiloma vírus humano (HPV) • Genes supressores: são genes que tentam inibir a ativação e ação dos oncogenes Ex.: p53 – papel importante no controle do ciclo celular, reparo do DNA e na indução da apoptose Ciclo celular • Fases do ciclo celular Mitose: câncer - Interfase: fase que a célula se prepara para a divisão celular, possuindo 3 etapas ~ G1: fase de crescimento, com estímulos para a síntese de proteínas e RNA, preparação para a duplicação do DNA ~ S: ocorre a duplicação do DNA ~ G2: síntese de proteínas, como tubulina, que formará os microtúbulos do fuso mitótico, e RNA. É a fase de preparação final para a divisão celular ~ G0: células que não passam pelo processo de divisão celular - Mitose: divisão celular, formando 2 células filhas idênticas a célula parental. Fases ~ Prófase: formação do fuso acromático e condensação dos cromossomos ~ Prometáfase: fragmentação do envelope nuclear ~ Metáfase: ligação dos cromossomos ao fuso ~ Anáfase: separação dos cromossomos ~ Telófase: citocinese (divisão celular) 2 Rafaela Pamplona • Etapas check-point Ocorre durante a fase G1, próximo a G2 e na mitose Estímulos que promovem alteração do material genético, enviam informações para que ocorra a parada do ciclo celular, não havendo divisão e formação de celular cancerígenas Se houver algum erro e ele for detectado, ocorre a tentativa de reparação, caso não corrija a célula entra em apoptose A falha do check point ainda não é fator determinando para formação de célula cancerígena, pois o sistema imune ainda irá atuar Oncogene desativado + Supressor ativo integralmente Oncogene desativado + Supressor ativo parcialmente Oncogene ativado + Supressor ativo integralmente ↓ ↓ ↓ Funções normais Células tumorais não morrem Células tumorais se reproduzem intensamente ↓ ↓ ↓ Não há câncer Há chances de desenvolver o câncer Há chances de desenvolver o câncer Carcinogênese • É o processo de formação do câncer • Injuria por fenômenos químicos, físicos ou biológicos causam danos ao DNA Ex.: Radiações, vírus Se o dano for reparado: a divisão ocorre normalmente Se o dano não for reparado e a célula perceber o erro: pode ocorrer apoptose Se o dano for constante e capaz de induzir mutações somáticas capazes de - Favorecer a formação de oncogenes - Inativar os genes supressores - Interferir nos indutores da apoptose - Inibir o sistema de reparo do DNA Essas mutações somáticas permitem a formação de proteínas alteradas, com aumento da proliferação celular e diminuição da morte de células neoplásicas • Carcinogênese: é um fenômeno lento de sucessivas alterações genéticas onde células normais progressivamente adquirem um fenótipo neoplásico • Teoria dos múltiplos passos - Iniciação ~ Injurias constantes favorecem mutações somáticas, que causam danos irreversíveis nos genes, levando a ativação de oncogenes e/ou inativação de genes supressores de tumor ~ As mutações somáticas permitem a expressão de proteínas alteradas devido a perda de produtos reguladores - Promoção ~ Com a perda de produtos reguladores ocorre um aumento da proliferação celular e a diminuição da morte de células neoplásicas - Progressão ~ Fase em que a célula adquire características cada vez mais agressivas, devido a enorme quantidade de mutações sofridas ~ Há novas mutações com formação de células heterógenas, formando câncer (células indiferenciadas) - Manifestação ~ A progressão levará a manifestação clínica 3 Rafaela Pamplona Características e propriedades • Bioquímicas Síntese de isoformas de enzimas embrionárias Maior captação de aminoácidos Maior resistência a hipóxia Metabolismo aumentado Ex.: BetaHCG positivo no homem = CA testículo PSA aumentando = CA de próstata PETscan = adm de glicose radioativa para identificação de locais com mais atividade Comportamento das células malignas • Imortalidade Há expressão exagerada da telomerase, prolongando a vida celular e induz a divisão celular • Perda da inibição por contato • Alterações da forma • Síntese dos próprios fatores de crescimento, ou seja, a célula passa a ser independente Exemplos de disfunção da apoptose que podem acarretar a célula cancerígena • Crescimento celular anormal por inibição da apoptose HPV inativa o gene promotor do p53 (pró-apoptótica) - p53: pró-apoptótica. É um gene supressor tumoral, que codifica uma fosfoproteína nuclear que desempenha um papel importante no controle do ciclo celular, no reparo do DNA e na indução da apoptose Algumas Leucemias B expressam níveis elevados de BCL2 - BCL2: anti-apoptótica. Proteína encontrada na membrana mitocondrial interna, regula a apoptose, inibindo as células da morte células programada Alguns tipos de tumores expressam níveis elevados de FasL induzindo apoptose dos linfócitos T citotóxicos - FasL: ligante de receptor de morte, faz parte via extrínseca do processo apoptótico - Linfócitos T citotóxicos: é o principal responsável pela destruição das células modificadas (infectadas por vírus ou células tumorais) Características e propriedades • Perda de adesividade Irregularidades na membrana Diminuição ou ausência de estruturas juncionais Redução de moléculas de adesão Diminuição de fibronectina Grande eletronegatividade da face externa da membrana, para ter uma repulsão das células – diminui a adesina Diminuição de cálcio nas células Alteração do glicocálice • Motilidade Menor adesividade Perda da inibição por contato – aumento do crescimento celular Maior desenvolvimento e modificação do citoesqueleto Nomenclatura • Baseada na histogênese e no comportamento biológico HistogêneseComportamento Sufixo Epitelial Benigno Maligno OMA CARCINOMA Mesenquimal Benigno Maligno OMA SARCINOMA • Tumores benignos Designação tecidual + OMA Epiteliais - Arranjo tecidual ~ Revestimento: papiloma ~ Tubular/glandular: adenoma • Tumores malignos Designação tecidual + CARCINOMA Epiteliais - Arranjo tecidual ~ Tubular/glandular: adenocarcinoma 4 Rafaela Pamplona • Nomenclatura: neoplasias mesenquimais Tecido Benignas Malignas Fibroso Fibroma Fibrossarcoma Adiposo Lipoma Lipossarcoma Ósseo Osteoma Osteossarcoma Cartilaginoso Condroma Condrossarcoma Vascular Hemangiomas Angiossarcoma Muscular lisa Leiomioma Leiomiossarcoma Muscular esquelética Rabdomioma Rabdomiossarcoma Exceção à regra! • Nem tudo que acaba em “oma” é neoplasia Ex.: hematoma, granuloma, glaucoma • Algumas neoplasias que acabam em “oma” são malignas Ex.: linfoma, melanoma Caso clínico Homem 21 anos, admitido para investigação de acentuada esplenomegalia. Relatou você sai astenia, adinamia e artralgias há 1 mês - Descreva o hemograma Anemia normocítica e normocrômica, anisocitose, leucocitose, neutrofilia com desvio à esquerda (aumento dos bastões) não escalonado, eosinofilia, linfocitose, monocitose. Plaquetas normais → leucemia Desvio a esquerda não escalonado = grande alteração na medula (anemia perniciosa, leucemia etc) - Diante dos achados da história clínica e do hemograma, em qual grupo de doenças o paciente se enquadra? Suspeita de doença mieloide - Cite 3 alterações cromossômicas ou genéticas associadas a esse grupo de doenças Dosagem dos cromossomo Philadelphia (Ph1): Ph1+ é a alteração citogenética mais comum na leucemia linfoblástica aguda do adulto - Paciente evolui com dispneia, ingurgitamento de vênulas retinianas, priapismo e alterações do nível de consciência. Qual complicação mais provável está associada a este quadro? A presença de muitas células comprometendo o fluxo sanguíneo 5 Rafaela Pamplona ONCOLOGIA MOLECULAR Linha de tempo dos primeiros registros do câncer • A existência desses registros e a relevância desses fatos foram diminuídas pelos registros de epidemias e pandemias de proporções desastrosas causadas por agentes infecciosos, que foram responsáveis pela maioria das mortes numa época em que os antibióticos não existiam • Observar e comparar as principais causas de óbito no século XIX e na atualidade, fica claro o progressivo controle das doenças infecciosas e a associação com as chamadas doenças da modernidade, onde se destacam formas diferentes de câncer • Principais causa de óbito na população entre 1848 e 1854, em homens e mulheres em 2012 • Mudanças na distribuição populacional 1851 e 2012 • Estimativa global de prevalência do câncer Com o aumento do tempo de vida das pessoas junto com os outros fatores, estima-se que a incidência do câncer continue em ascensão, se não forem tomadas medidas de prevenção ativa e mudança do estilo de vida As organizações internacionais de saúde concordam que se a tendência do aparecimento de neoplasias continuar, os casos de câncer no vão se duplicar nas próximas décadas Epigenética • É a capacidade que o corpo humano desenvolveu de ativar ou desativar alguns dos nossos genes de acordo com o ambiente ou o estilo de vida que levamos, mas sem alterar a sequência de nucleotídeos do DNA • São marcadores químicos podem ativar e desativar partes do nosso genoma de acordo com o ambiente em que vivemos, nossos hábitos e até nossas experiências • Para que uma célula normal consiga adquirir as características do câncer, precisará em grande parte da instabilidade genômica e do acúmulo de mutações ao longo do tempo • Esse fato faz com que o câncer seja encontrado com maior frequência na idade adulta • Instabilidade genômica Para a célula normal adquirir as características do câncer é necessário que haja Instabilidade genômica + Acúmulo de mutações ao longo do tempo Esse fato faz com que o câncer seja encontrado com maior frequência na idade adulta A instabilidade genômica e as mutações são o resultado de diferentes tipos de alterações genéticas que podem modificar a sequência do DNA, na forma de - Mutação de nucleotídeo único, deleções, translocações, entre outras transformações que podem até chegar a modificações ao nível cromossômico, como aneuploidia, translocações cromossômicas ou inversões Há alterações que podem modificar a expressão de algum conjunto de genes sem afetar a sequência de nucleotídeos, como no caso das alterações epigenéticas - Produto de fatores físicos, químicos e biológicos externos, como exposição à radiação, gases tóxicos, tabagismo, alcoolismo, infecções virais, entre muitos outros - Fatores internos, como no caso das mutações herdadas Os mecanismos genéticos e epigenéticos envolvidos no câncer interagem muitas vezes através da ativação de oncogenes e do silenciamento de genes supressores de tumor para criar vias que beneficiem o acúmulo de outras características do câncer de forma progressiva 6 Rafaela Pamplona Tipos de mutações pontuais • Silenciosa: envolve a substituição de uma base, mas não afeta o AA produzido, ou seja, o código sofre alteração, mas a proteína codificada é a mesma Silenciosa de sentido trocado Silenciosa sem sentido • Missense: o AA da proteína é alterado, sendo produzido um diferente • Nonsense: é produzido um códon de terminação, impedindo que a proteína seja produzida integralmente Composição dos genes • Éxons são regiões codificadas • Íntrons são regiões não codificadoras, não está relacionada diretamente a síntese de proteína • Durante a síntese proteica, inicialmente ocorre a transcrição, ou seja, parte da molécula de DNA é utilizada como molde para a síntese de pré-RNAm • Splicing: processo em que os íntrons são retirados, ficando apenas os éxons = região codificadora Os éxons unem-se para formar a molécula de RNAm funcional A falta ou o acréscimo de um único nucleotídeo em um éxon pode levar a uma alteração da fase de leitura e a produção de uma proteína completamente diferente da original • Após a retirada dos íntrons, o RNAm é traduzido e codificado formando a proteína • Tirosinas quinases São proteínas responsáveis pela fosforilação de substratos proteicos Desempenham papel importante na transdução de sinais envolvidos com proliferação, diferenciação, sobrevivência e morte celular • Proteínas da família Ras São acopladas na face interna da membrana celular e transmitem informações da membrana celular para o núcleo Ras ativa→ ligada ao GTP Ras inativa→ ligada ao GDP A Ras é convertida ao estado ativo pela troca da GDP pelo GTP, estimulada por guanine nucleotide exchange factor (GEF) Ras ativada pode se ligar há outras proteínas que estimulam a via MAP-quinase e dirigir a proliferação celular A atividade Ras é finalizada pela hidrólise de GTP, que é estimulada por proteínas ativadoras de GTPase (GAPs), retornando ao estado inativo • Principais síndromes de predisposição hereditária ao câncer, associadas, genes envolvidos, posição no cromossomo incidência na população 7 Rafaela Pamplona Mutações cromossômicas • Localização de um gene ou mutação em determinado cromossomo – Ex.: 17qI2.4 q: braço longo I: região 2: banda 4: sub-banda • As mutações podem ser adquiridas enquanto a linhagem de células é fenotipicamente normal, por meio de Processos infecciosos: durante a divisão celular normal Carcinogênicos exógenos: exposição ambientalou estilo de vida • Essas alterações na maioria das vezes são passageiras. Pode ser que em algum momento, uma alteração driver ocorra em um gene importante e inicie o desenvolvimento tumoral Mutação passenger: mutações passageiras Mutação driver: mutações condutoras • O defeito em genes com função em reparo de DNA, por exemplo, pode contribuir para fenótipo mutacional • Recidiva após quimioterapia pode ser associado como está ações que conferem resistência • Frequência de mutação somática em oncogenes e genes supressores em diversos tipos de câncer A ativação ou supressão dos oncogenes vai ser determinada pela epigenética Ciclo celular e mitose • Cada célula deve conter um material genético completo • Antes da divisão celular o DNA precisa ser replicado para então garantir cópias exatas da célula mãe • Após a replicação do DNA os cromossomos se condensam no núcleo celular, através do envolvimento em torno de núcleos de histonas formando o nucleossomos, uma estrutura com formato de ”colar de pérolas” = cromatina • Enquanto as células se preparam para a divisão, a cromatina se enrola ainda mais, encurtando e condensando o cromossomo • Os cromossomos replicados são chamadas de cromátides irmãs A replicação do DNA e a formação de cromátides irmãs é a primeira parte do ciclo celular • Para se preparar para a divisão celular, a célula atravessa a interfase que pode ser dividida em 3 partes distintas G1 ou fase GAP1: todas as organelas e componentes citoplasmáticos são replicados S ou fase de síntese: o DNA é replicado G2 ou GAP2: todas as enzimas necessárias para a execução do processo de divisão celular são produzidas Fase longa: interfase Fase curta: mitose • Mitose Prófase: os cromossomos se condensam e tornam-se visíveis, com as 2 cromátides irmãs unidas por um centrômero. O citoesqueleto se desfaz e o fuso inicia sua formação - Os centríolos migram para polos opostos, estabilizando conjunto de microtúbulos (fuso mitótico) e o envelope nuclear se desfaz - Os cromossomos se unem através de proteínas em seu centrômeros (cinetócoros) aos microtúbulos em ambos os polos, movendo os cromossomos para uma região equatorial da célula Metáfase: todos os cromossomos são alinhados no equador da célula denominada placa metafásica Anáfase: inicio da degradação de proteínas que uniam as cromátides irmãs. Os cromossomos livres são puxados através de seus cinetócoros para polos opostos Telófase: o sulco de clivagem se forma no centro da célula. Estrutura é formada por filamentos de actina que envolve completamente a circunferência no interior da célula. Os cromossomos se descondensam e o envelope nuclear se forma ao seu redor. O fuso mitótico se desfaz e os microtúbulos são dissociados em tubulinas que podem ser utilizadas para formar o citoesqueleto das células filhas 8 Rafaela Pamplona • A citocinese completa a divisão celular através do crescimento do sulco de clivagem que completa a separação das 2 novas células filhas • Pontos de checagem para garantir a execução e finalização de cada etapa do processo, e se não estiver correto, o ciclo para no ponto e é realizada a sua correção, ou a possível inibição da divisão 1º check-point: ocorre na G1 e é considerado o principal ponto de decisão da continuidade do ciclo ou não - Sinais externos e fatores de crescimento podem influenciar o ciclo celular e afetar o progresso ou retrocesso das atividades neste principal ponto de checagem 2º check-point: ocorre na G2 analisa se a célula completou com sucesso todas as 3 fases da interfase para iniciar a mitose 3º check-point: ocorre a verificação do fuso e garante que todos os cromossomos estejam alinhados e preparados para anáfase • Fatores de crescimento, o tamanho da célula e o estado nutricional da célula irão contribuir na regulação do ciclo celular, assegurando que as células somente se dívida no momento apropriado • Uma vez que todos os pontos de checagem na interposição apurados, a mitose pode ocorrer • Da interfase até citocinese, todo o processo de visão celular pode demorar em torno de 10-20h em uma célula comum • Dependendo da natureza e função da célula o processo pode ocorrer em diferentes frequências Na pele as mitoses ocorrem com maior frequência enquanto nos neurônios e nas células musculares raramente se dividem Controle do ciclo • A manutenção do equilíbrio, ou homeostase, é uma das prioridades que se traduz em mecanismos que asseguram que as condições celulares internas permaneçam estáveis e relativamente invariáveis • A célula eucariótica normal mantém a homeostase por meio da programação envolvida no sistema que controla o ciclo celular • Este sistema consiste numa rede de proteínas intra e extracelulares (ciclinas e quinases dependentes de ciclinas) que regulam a progressão da célula através das diferentes fases do ciclo celular • O sistema controlador do ciclo celular funciona como um relógio, que faz com que cada evento do ciclo tenha um tempo determinado e limitado para a sua realização • Mantém a ordem dos eventos e assegura o sucesso da operação através da supervisão do desempenho do ciclo em 3 checkpoints que verificam Qualidade do DNA Condições do meio para a progressão normal do ciclo • Pontos de checagem Entre G1 e S Entre G2 e mitose Entre metáfase e anáfase 9 Rafaela Pamplona 1º PONTO DE CHECAGEM • Entre G1 e S • O ambiente é favorável? • Mitógenos É uma substância que estimula a proliferação celular, desencadeando a mitose Se liga a receptores de membrana, que desencadeiam cascatas de fosforilações, ativando a transcrição de ciclinas As ciclinas são proteínas que se ligam as CKDs, responsáveis por fosforilar outras proteínas para formar o componente central do sistema de controle - 1º proteína: proteína de retinoblastoma (pRb) ~ pRb ligada ao E2F deixa ele inativo, ao sofrer fosforilação pelo complexo ciclina/CDKs, pRb se separa e o E2F se torna ativo ~ E2F ativo é responsável por estimular a síntese de DNA na fase S - 2º proteína: p53 ~ Proteína supressora responsável pelo controle de dano ao DNA ~ Encontrada em pequenas quantidades ~ Sem danos ao DNA: p53 não é ativada, sendo marcada pela ubiquitina (MDM2) e degradada por proteossomos. E o ciclo segue para a fase S ~ Com danos ao DNA: p53 é ativada ↳ Estimula as proteínas ATM e ATE a inativarem a ubiquitina (MDM2) ↳ Ativa a p21, proteína inibidora de complexos ciclinas/CDKs ▪ Com a inativação das ciclinas/CDKs o DNA não é produzido, pois não há genes de transcrição O ciclo é interrompido até que o reparo seja realizado Condições do meio e integridade do DNA determinarão a continuidade do ciclo 2º PONTO DE CHECAGEM • Entre G2 e mitose • DNA foi replicado corretamente na fase S? Sim → ação do complexo ciclina/CDKs fosforilando várias estruturas para preparar a célula para a mitose ~ Fosforilação de histonas e condensinas: condensação dos cromossomos, preparando para a mitose ~ Fosforila proteínas motoras: organização do microtúbulos no fuso mitótico ~ Fosforila as lâminas: para desorganizar o núcleo e iniciar os eventos mitóticos Não - Proteína Wee1 (cinase): inativa o complexo ciclina/CDKs (M-CdK), não havendo fosforilação e o ciclo é interrompido ~ Repara ou induz a apoptose 10 Rafaela Pamplona 3º PONTO DE CHECAGEM • Entre metáfase e anáfase • Como estão os cromossomos? Sim: cromossomos condensados e alinhados no fuso mitótico para sofrer a separação das cromátides irmãs - Os cromossomos estão ligados ao cinetócoro e alinhados no equador da célula - O APC é responsável por separar as cromátides irmãs -Cdc 20 liga e ativa APC - APC inativa (ubiquitina) à securina, liberando a enzima separase - Separase degrada as Coesinas → separação das cromátides irmãs na anáfase - APC inativa (ubiquitina) à ciclina M, inativando o complexo M-CDK ~ Desfosforilação de histonas e condensinas: descondensação dos cromossomos ~ Motores e lâminas: reorganização microtúbulos ~ Restruturação do citoesqueleto interfásico e do núcleo Não: cromossomos desalinhados no fuso - MAD inativam Cdc20, até que estejam corretamente ligados aos microtúbulos - Isso é possível → quando inativa Cdc20 → Inativa APC - Impedindo a inativação da Securina e a ativação da Separasse RESUMO DOS CHECK-POINTS APC ativa após a mitose • APC ativo no ciclo seguinte, para que a célula possa permanecer na fase G0 • Garante as CDKs inativas evitando as sequências de divisão • Quando as CDKs são ativadas por um estimulo externo o APC é desligado, favorecendo o acumulo de ciclinas e a sequência do ciclo 11 Rafaela Pamplona Fases do ciclo e as principais proteínas • Durante a evolução do ciclo celular, ciclina são complexadas com CDKs, que por sua vez fosforilam substratos específicos coordenando a ativação ou repressão da expressão de diferentes proteínas que atuam nas fases do ciclo celular • O fator de transcrição, E2F, quando liberado do complexo com Rb, também atua ativando a expressão de genes alvo, responsáveis por regular o ciclo celular Nível das ciclinas expressas em cada fases do ciclo • Para que o ciclo celular progrida de formar adequada ocorre a expressão de diversas proteínas, chamadas ciclinas, que quando são acumuladas nas células permitem que ela passe para a fase seguinte do ciclo celular Resposta ao dano celular • Danos ao DNA podem ser causados por uma diversidade de agentes que podem ser divididos em agentes endógenos e exógenos • Em resposta aos danos, a célula inicia uma cascata de eventos que resulta na ativação dos pontos de checagem, ativação de vias de reparo ou ativação da apoptose, quando o dano é muito severo 12 Rafaela Pamplona IMUNOLOGIA DE TUMORES Sistema imunológico e o câncer • A relação entre o sistema imunológico e o câncer pode ser ilustrada pela teoria da imunoedição tumoral • Principais células efetoras de resposta imune antitumoral Células natural killers Linfócitos T-helper T citotóxicos • A evasão imune realizada pelos tumores envolve linfócitos T reguladores, células mieloides supressoras e as moléculas e interleucina 10 Fase do equilíbrio, os antígenos tumorais e a resposta adaptativa • Célula natural killer Imunidade inata Age nas células que apresentam expressão diminuída MHC-I Induz a apoptose por meio as perforinas A capacidade tumoricida das células NK é aumentada pelas citocinas, incluindo o IFNᵧ, IL-15 e IL-12, e os efeitos antitumorais destas citocinas são parcialmente atribuídos à estimulação da atividade das células NK As células NK ativadas por IL-2, chamadas de células assassinas ativadas por linfocina (LAK), são as assassinas mais potentes de tumores do que as células NK não ativadas • Linfócito TCD8+ Imunidade adaptativa Age nas células que expressam MHC-I Induz a apoptose por meio as perforinas Respostas imunes adaptativas, mediadas por células T, controlam o desenvolvimento e a progressão de tumores malignos Apresentação antigênica • Célula dendrítica Célula apresentadora de antigeno São as primeiras a reconhecer o vírus, bactérias, protozoários e células tumorais Após o reconhecimento da célula tumoral, começa a expressar na sua superfície o MHCI ou MHCII - Via MCH-I para linfócitos naive TCD8 - Via MHC-II para linfócitos TCD4 ~ TCD4 ativa linfócitos B que se diferencia em plasmócito, que também se diferencia em anticorpos contra a célula tumoral ↳ Os anticorpos ativam o sistema complemento que provocam lise → resposta humoral ~ TCD4 ativa macrófagos que liberam citocinas que potencializam a ação da célula NK ~ TCD4 naive → TCD4 helper que é o linfócito TCD4 ativado, como Th1 ↳ Ativa o linfócito B, que se diferencia em plasmócito e depois em anticorpos que agem contra a célula tumoral ↳ Libera citocinas que ativam macrófagos e células NK contra células tumorais ↳ Libera citocinas que ativam linfócitos TCD8 ▪ Reconhece o MHC-I que junto do TCD4 atuam contra a célula tumoral • Linfócito TCD8 A célula tumoral expressa sua proteína na superfície, sendo reconhecida pelo TCD8 TCD8 liberam perforinas e granzimas que induzem a célula tumoral a lise 13 Rafaela Pamplona • Decorrente do efeito citopático, anticorpos dirigidos contra antígenos presentes na superfície ou matriz celular Antígeno + anticorpo = ativa célula NK → citotoxicidade dependente de anticorpo, induz a célula a apoptose Antigeno + anticorpo = ativa sistema complemento → lise Mecanismo supressor dos linfócitos T reguladores • Quando as células cancerígenas transformam linfócitos Th1 e Th2 em linfócitos T regulador para ela, causando imunossupressão • A imunossupressão favorece a célula cancerígena • T regulador libera CTLA4 que inibe linfócitos T, impedindo a formação do processo inflamatório PDL-1 que inativa o PD1, responsável por ativar os linfócitos TCD8 IL-10 que inativa a resposta celular (Th1 e Th2) TGF-β que diminui o processo inflamatório Teoria da imunidade tumoral – “3Es” • Primeira fase – ELIMINAÇÃO Descreve o processo no qual os componentes da imunidade inata (células NK e macrófagos) e adaptativa (DC, linfócitos TCD8 e TCD4) interagem com as células tumorais altamente imunogênicas presentes no início do desenvolvimento tumoral para eliminá-las impedir o desenvolvimento de tumores • Segunda fase – EQUILÍBRIO Devido à instabilidade genética, variantes tumorais menos susceptíveis ao ataque do sistema imune podem aparecer, mas que se mantém em um estado de dormência proliferativa devido a um constante controle realizado pelo sistema imune • Terceira fase – EVASÃO Essas variantes tumorais podem em algum momento evadir ou subverter o controle do sistema imune Entre os mecanismos utilizados para este fim, o recrutamento de linfócitos t reguladores, células mieloides supressoras (MDSC), secreção de IDO e citocinas como a IL-10 são críticos para o estabelecimento de um ambiente altamente imunossupressor Imunoterapia de tumores • Visa potencializar a fraca resposta imunológica aos tumores (imunidade ativa), ou administrar anticorpos ou células T específicos para o tumor • Imunização com células tumorais e antígenos tumorais 14 Rafaela Pamplona • Vacinas com antígenos tumorais Atua na fase de evasão, capacitando a célula dendrítica para reconhecer a célula tumoral Ativa linfócitos TCD4 e TCD8 Usa antígenos que são exclusivos de um único tumor, como antígenos produzidos por mutações pontuais aleatórias em genes celulares A maioria das vacinas contra tumores são vacinas terapêuticas, que devem ser administradas após o tumor ser encontrado e, para ser eficaz, deve superar a regulação imune que os cânceres estabelecem Tumores induzidos por vírus pode ser reduzido pela vacinação preventiva com antígenos virais ou vírus vivos atenuados Recentemente foram realizadas imunizações de pacientes com câncer utilizando células dendríticas dos pacientes incubando-as com antígenos tumorais ou genes codificadores desses antígenos • Vacinas com células dendríticas Após a coleta e o isolamento de células mononucleares do sangue periférico, faz-sea diferenciação de monócitos para as células de críticas Nesse ponto é possível expor as células dendríticas aos antígenos de interesse, como lisado de células tumorais, proteínas recombinantes, entre outros Após outro estímulo de maturação estas células voltam para os pacientes e continuam apresentação de antígenos e ativação de células T • Outros alvos da ativação antigênica 1º sinal para a ativação dos linfócitos T - É obrigatório ter MHC, proteína e receptor de célula T - A partir do momento em que a DC reconhece e expressa o MHC-I e a proteína, a proteína é reconhecida pelo receptor de célula T - A célula dendrítica tem o CD40 e a célula T tem o CD28 - Com a ligação do 1º sinal, a célula T expressa o ligante CD40 - Ligante CD40 s liga ao CD40 que estimula a célula dendrítica a expressar a proteína B7 - B7 se liga com CD28 2º sinal para a ativação dos linfócitos T - B7 ligado a CD28 ativa o mecanismo que inicia a liberação de citocinas - As citocinas transformam as células T virgens em células T efetoras, como Th1 que age contra infecções Imunoterapia • 1º caso de imunoterapia William Coley (1891) - Misturas de Streptococcus pyogenes vivo e inativado e Serratia marcescens ~ Regressão do tumor em pacientes com sarcoma, Linfoma e câncer testicular 15 Rafaela Pamplona • Vigilância imunológica Hipótese que o sistema imunológico teria a capacidade de reconhecer e eliminar células tumorais geradas durante um processo de transformação celular maligna O sistema imunológico estaria em um estágio de constante alerta para resolver o aparecimento de antígenos tumorais estranhos que pudessem causar algum dano ao organismo A inflamação causa o aumento da proliferação celular • Aumento da Imunidade do hospedeiro contra tumores por meio de citocinas e coestimuladores Várias citocinas têm sido usadas para potencializar a função imunológica do hospedeiro desde a descoberta de que essas citocinas têm efeitos potentes e seletivos em certos componentes do sistema imune IFN alfa e beta aumentam a expressão MHC-I que irá induzir o reconhecimento da célula tumoral, facilitando a ação de TCD8 A imunidade contra tumores mediada por células pode ser aumentada pela expressão de citocinas e coestimuladores em células tumorais e pelo tratamento de indivíduos portadores de tumor com citocinas que estimulam a proliferação de linfócitos T e células NK • Abordagens terapêuticas: fornecer a coestimulação para as células T e fornecer citocinas que possam potencializar a ativação das células CTLsCD8+ • Imunoterapia para tumores Imunoterapia passiva para tumores com células T e anticorpos (imunidade não duradoura) Terapia celular adotiva: transferência de células imunológicas cultivadas que tenham reatividade antitumoral As células a serem transferidas são propagadas de linfócitos de pacientes com tumor (leucócitos do sangue periférico) • Inibidores do ponto de checagem Após a interação do receptor de célula T com complexo MHC, pode haver a interação das moléculas CTLA4 com B7 e PD-1 com PDL1 Essas Inter ações inibem a ação citotóxica das células t contra o câncer A utilização de anticorpos específicos contra CTLA4 e/ou PD1 inibiria essas interações, liberando a ação citotóxica da célula T Descoberto este mecanismo de inibição de células T, foi observado que a utilização de anticorpos monoclonais anti- CTLA-4 poderia reverter esta inibição, “liberando” os linfócitos T para uma ação imune antitumoral 16 Rafaela Pamplona Anos mais tarde, um estudo clínico de fase III mostrou que o Ipilumimab (anticorpo anti-CTLA-4) aumenta a sobrevida mediana global de pacientes com melanoma, de 6 para 10 meses, quando comparados com pacientes que receberam uma vacina antitumoral Logo em seguida, a comercialização de Ipilumimab foi aprovada para o tratamento de pacientes com melanoma A interação PD1/PD-L1 inibe a proliferação, sobrevivência e funções efetoras dos linfócitos T e, em contrapartida, promove a diferenciação de linfócitos T CD4+ em células T reguladoras FoxP3+ Um anticorpo anti-PD1 (Nivolumab), que inibe a interação PD1/PD-L1, mostrou atividade em pacientes com vários tipos de tumores, levando a respostas duráveis e benefícios clínicos em pacientes que falharam em outras terapias • Engenharia de células T Células T são coletadas e manipuladas geneticamente para expressar receptores de interesse, como CAR (receptor de antígeno quimérico) Após a reinfusão das células T modificadas, estas reconheceriam os antígenos tumorais Independente de outro estímulo levaria uma lise da célula tumoral • Interação de anticorpos com o sistema imune Quando os anticorpos monoclonais reconhecem seu antígeno e cobrem a célula tumoral, além de inibir a ação do antígeno deixam sua porção Fc exposta Receptores da porção FC presentes nas células NK reconhecem a célula tumoral recoberta por anticorpos e liberam granzimas e perforinas que levam a célula tumoral à lise • Já macrófagos também podem reconhecer a porção FC livre do anticorpo iniciar o processo de fagocitose da célula tumoral QUESTOES 1. Faz parte das etapas de imunorregulação tumoral, exceto a) não expressão de antígenos tumorais pelas células alteradas. b) recrutamento de moléculas que suprimem respostas imunológicas. c) associação de macrófagos aos tumores. d) ativação de células NK e linfócito T CD8 2. Ponto de checagem é um estágio do ciclo celular eucarionte que regula a continuidade, ou não, da divisão celular. Um desses pontos é chamado de ponto de checagem do fuso, ou ponto M. Caso não haja ligação entre os filamentos do fuso e os cromossomos, a célula interrompe o ciclo. Se os cromossomos estiverem firmemente ligados aos filamentos pelos dois lados, ocorre a próxima fase. Em qual transição de fases ocorre esse ponto de checagem M, ou do fuso? a) Da metáfase para a anáfase da mitose. b) Da prófase I para a metáfase I da meiose I. c) Da metáfase I para a anáfase I da meiose I. d) Da prófase para a metáfase da mitose 3. Os tumores surgem a partir da proliferação e disseminação descontroladas de células transformadas. Em relação à imunologia tumoral, é CORRETO afirmar que: a) As respostas imunes são eficazes na prevenção do crescimento dos tumores 17 Rafaela Pamplona b) O principal mecanismo de imunidade tumoral é a destruição via linfócitos T CD4+ c) As células CD8+ destroem tumores que têm uma expressão reduzida ou ausente do complexo maior de histocompatibilidade (MHC) classe I. d) As células NKs (natural killers) destroem tumores que têm uma expressão reduzida ou ausente do complexo maior de histocompatibilidade (MHC) classe I 4. Duas condições características definem o câncer: proliferação celular descontrolada e invasão dos tecidos (metástases). A correspondência correta entre as características fenotípicas e as alterações moleculares envolvidas é: a) Perda das vias normais de apoptose: diminuição da sobrevivência das células com mutações oncogênicas e instabilidades genéticas. b) Diminuição da angiogênese: atribuído ao aumento da expressão dos genes dos fatores proangiogênicos. c) Invasão: aumento dos contatos intercelulares (junções comunicantes, caderinas) e menor produção de metaloproteinases matriciais. d) Proliferação celular descontrolada: perda dos reguladores negativos (genes supressores de tumor, como p53 e aumento dos reguladores positivos (oncogenes) 5. Sobre as etapas de checkpoints, é incorreto afirmar: a) Se os cromossomos estiverem desalinhados no equador da célula o ciclo celular deve ser interrompido. b) Entre as fases G1 e S é avaliado se o ambienteé favorável a divisão e se há dano no DNA. c) Entre as fases G2 e a mitose é avaliado se o DNA foi replicado corretamente. d) Condições do meio e a integridade no DNA não determinarão a continuidade do ciclo ONCOLOGIA BÁSICA Importância de estudar câncer • É essencial que os profissionais de todos os pontos da Rede de Atenção à Saúde estejam capacitados para contextualizar os achados clínicos com a idade, sexo, associação de sintomas, tempo de evolução e outros dados sugestivos de uma doença neoplásica, para que se possa fazer uma suspeita correta e conduzir o caso de maneira rápida, precoce e eficaz • Utilização de protocolos com sinais e sintomas Autoexame de mama Macha na pele • Câncer pode surgir em qualquer parte do corpo • Existem mais de 100 tipos, cada um com sua característica • A palavra câncer traz ainda muitos mitos • Todos os profissionais devem ter conhecimento sólidos para que possa informar, cuidar e encaminhar corretamente seus pacientes • Gravidade da situação do câncer como problema de saúde que atinge toda a população, os profissionais são responsáveis pelo sucesso das ações de controles a essa doença Definição • Grego Karkinos, significa caranguejo, usado pela primeira vez por Hipócrates, o pai da medicina que viveu entre 460 e 377 a. C • Não é doença nova – detectadas em múmias egípcias há mais de 3000 anos antes de cristo • Caracterizada por um conjunto de mais de 100 doenças, que tem em comum o crescimento desorganizado de células, que invadem tecidos e órgãos vizinhos • O câncer caracteriza-se pela perda de controle da de visão celular e pela capacidade de invadir estruturas orgânicas • a proliferação celular pode ser Controlada: hiperplasia, a metaplasia e a displasia são exemplos desse tipo de crescimento celular Não controlada: tem uma massa normal de tecido autônomo persistindo dessa maneira excessiva após o termo do estímulo. As neoplasias (câncer in situ e câncer invasivo) correspondem a essa forma – tumores 18 Rafaela Pamplona Carcinogênese • Processo de modificações progressivas do perfil biológico da célula, alterando sua capacidade de proliferação, diferenciação, sobrevida e interação com o meio ambiente, provocadas por alterações no genoma • Etiopatogenia Agentes facilitadores - Exógenos (70-80%): cultural, dietético, profissional - Endógenos (20-30): hormonal, imunológico, genético, patologias pré-neoplásicas Agentes carcinogênicos - Agentes químicos - Agentes físicos - Biológicos Carcinogênese química • A maioria dos agentes químicos possuem ação genotóxica (induz lesão no DNA) • Agentes naturais (aflatoxina) micotoxina • Agentes sintéticos (hidrocarbonetos aromáticos) fumo (tabaco) • Agentes alquilantes (drogas terapêuticas, ex: cisplatina) • Fatores endógenos (hormônios) • Tipos de agentes químicos Agentes químicos diretos ou imediatos - Reagem diretamente com o DNA Ex.: ciclofosfamida e clorambucil Agentes químicos indiretos ou pró-cancerígenos - Não reagem diretamente com o DNA - São mais potentes; - Precisam ser metabolizados para exercer sua ação oncogênica Ex.: sistema de ativação do citocromo P450 (compartimento microssômico hepático) Ex: Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos Carcinogênese física • Radiações ionizantes (Raios X, gama) e Ultravioleta (UV) Efeitos dependentes do LET (Linear energy transfer) Carcinogênese biológica • Vírus oncogênicos DNA: HPV, HBV, EBV RNA (retrovírus): HTLV Ex.: HPV – Vírus epiteliotrópico do trato anogenital (>50 subtipos, o HPV-16 e HPV-18 = câncer do colo do útero) HBV – Carcinoma hepatocelular EBV – Carcinoma de nasofaringe e linfoma de Burkitt HTLV – Leucemia/linfoma de LT Estágios da carcinogênese • É composto por 3 estágios Estágio de iniciação no qual os genes sofrem ação dos agentes cancerígenos Estágio de promoção no qual os agentes oncoprotetores atuam na célula já alterada Estágio de progressão caracterizado pela multiplicação descontrolada irreversível da célula • Etapa da iniciação As células sofrem o efeito dos carcinógenos que provocam modificações em alguns de seus genes Nesta fase as células se encontram, geneticamente alteradas, porém ainda não é possível se detectar um tumor clinicamente Encontram-se "preparadas", ou seja, "iniciadas" para a ação de um segundo grupo de agentes que atuará no próximo estágio • Etapa da promoção As células geneticamente alteradas, ou seja, "iniciadas", sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores A célula iniciada é transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o agente cancerígeno promotor A suspensão do contato com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse estágio 19 Rafaela Pamplona • Etapa da progressão É multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas Nesse estágio o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença • Modelo de carcinogênese em vários estágios Nas diferentes fases, ocorrem eventos genéticos epigenéticos A progressão tumoral se faz nos 2 sentidos, embora a predominando no sentido de maior malignidade Câncer in situ X câncer invasivo • Carcinoma in situ: é o primeiro estágio, localizado, curável • Carcinoma invasivo: ganham a corrente sanguínea, linfática e disseminam para outras partes – metástases Evolução dos tumores • A evolução do tumor maligno depende Da velocidade do crescimento tumoral Do órgão em que o tumor está localizado De fatores constitucionais de cada pessoa De fatores ambientais • Frente a estas características, os tumores podem ser detectados em diferentes fases Fase pré-neoplásica: antes da doença se desenvolver Fase pré-clínica ou microscópica: quando ainda não há sintomas Fase clínica: apresentação de sintomas Bases moleculares da oncogênese • O câncer pode ser considerado uma doença do genoma, resultante do acúmulo de mutações • Os genes estão envolvidos no controle de funções como: proliferação, sobrevida e diferenciação (eles são susceptíveis a mutações) • Condições fisiológicas Proto-oncogenes (dominantes): codificam proteínas que participam da transmissão para proliferação celular Anti-oncogenes (recessivos) ou supressores de tumores: controle negativo da proliferação celular 20 Rafaela Pamplona Oncoproteinas: uma alteração na produção de proteínas, pode originar uma proteína “aberrante”, associadas ao desenvolvimento neoplásico Genes anti-oncogenes • Rb: genes infantis hereditários do globo ocular (retinoblastoma) • APC: gene da adenomatose poliplóide do cólon • P53 (guardião do genoma): inibe a proliferação celular e desencadeia a apoptose Neoplasias • Proliferações locais de clones celulares atípicos cuja reprodução foge ao controle normal, e que tendem para um tipo de crescimento autônomo e progressivo, e para a perda de diferenciação • Características Progressividade: crescimento tecidual excessivo, ilimitado, descoordenado e de intensidade progressiva Independência: relação tipicamente parasitária. Ausência da resposta aos mecanismos de controle. Autonomia. Irreversibilidade: persistente mesmo após a cessação dos estímulos. Ausência de dependência da continuidade do estimulo • Modelo geral da patogênese das neoplasias Classificação e nomenclatura • Baseia-se na origem (epitelial, mesenquimal ou embrionária), no comportamento (benigno ou maligno) e na morfologia da neoplasia Neoplasia epitelial ou mesenquimal benigna - Termo designativo do órgão ou tecido afetado acrescido do sufixo "oma” Ex: Adenoma ou Lipoma Exceções: Hepatoma, Linfoma e Melanoma Neoplasia epitelial maligna - Utiliza-se o sufixo "Carcinoma" Ex: carcinoma epidermóide, carcinoma de colo uterino Neoplasia mesenquimal maligna - Utiliza-se o sufixo "Sarcoma" Ex: Sarcoma renal, sarcoma ovariano, etc. • As neoplasias de origem embrionária podem ser classificadas em Teratomas, Mixomas e blastomas (nefroblastoma, retinoblastoma, etc.) Adenoma X adenocarcinoma 21 Rafaela Pamplona Principais diferenças entre tumores benignos e malignos Tumor benigno Tumor maligno Formado por células bem diferenciadas Estrutura típica do tecido de origem Formado por células anaplásicas Atípico Falta diferenciação Crescimento progressivo, pode regredir, mitoses normais e raras Crescimento rápido, mitoses anormais e numerosas Massa bem delimitada, expansiva; não invade nem filtro tecidos adjacentes Massa pouco delimitada, localmente invasivo; infiltra tecidos adjacentes Não ocorre metástase Metástase frequentemente presente Características clínicas/ anatomopatológicas Neoplasia benigna Neoplasia maligna Tipo de crescimento Expansivo/ compressivo Infiltrativo/ destrutivo Velocidade de crescimento Usualmente lento Geralmente rápido Evolução Pode estacionar ou regredir Raramente estaciona, evoluir até o êxito letal Limites Nítidos, às vezes com cápsula Imprecisos e não encapsulados Ulcerações Pouco frequente Quase constante Metástase Ausente Frequente Recidiva Sempre ausente Frequente Anemia/caquexia Sempre ausente Frequente Alterações concomitante Atrofia compressiva Muito frequente Necrose/ hemorragia Escassa ou ausente Geralmente abolida Função orgânica Frequentemente conservada Características histológicas Neoplasia benigna Neoplasia maligna Estrutura de tissular Típica do tecido de origem Atipia celular/ perda de polarização e desestruturação celular Vascularização Quase normal Aumentada e ainda assim deficiente Frequência de mitoses Raras Numerosas Tipo de mitose Normais Tri ou multipolares, e assimétricas Celularidade Normal ou aumentada Pouco aumentada (principalmente em sarcoma) Tamanho e forma Regular isomorfa Pleomorfismo (atipia celular) Citoplasma Semelhante ao da célula de origem Escasso, basófilo (>RNA ou abundante e aquoso) Núcleo Semelhante ao da célula de origem Atípico, hipercromático discariótico, pleomórfico, com maior a qtidade de nucléolos Relação núcleo/ citoplasma Semelhante ao da célula de origem Aumentada Complicações clínicas decorrentes das neoplasias • Ruptura de tumores (trombose, isquemia, embolia • Obstrução do lume de órgãos tubulares (trombose, isquemia, embolia) • Ulcerações, hemorragias, infecções secundárias • Compressão de nervos (Dor crônica e intensa) Metástase tumoral 22 Rafaela Pamplona Estadiamento • Essa classificação permite ao médico especialista em oncologia propor o tratamento mais adequado para cada paciente, uma vez que 2 pacientes com o mesmo tipo de câncer, mais constante amento diferentes, podem ter diferentes propostas de tratamento • Ser clínico ou patológico • Avaliar o grau de disseminação tumoral • Sistema mais utilizado é o TNM que se baseia na extensão anatômica da doença T – característica do tumor primário N – característica dos linfonodos das cadeias de drenagem linfática M – presença ou não de metástase Geralmente variando: T0-T4, N0-N3 e M0-M1 • Classificação das neoplasias Localização Tipo histopatológico Produção de substâncias Manifestações clínicas Sexo, idade e comportamentos Investigação diagnóstica • Modalidades de atenção Prevenção: modificação de fatores de riscos ambientais e de estilo de vida, reduzindo a mortalidade Detecção precoce • Tratamento adequado Diagnóstico preciso História clínica + exame físico Exames complementares Biopsias diagnósticas Epidemiologia • No Brasil O número de novos casos cresce a cada ano, estimativa do inca para o ano de 2020/2022, é a ocorrência de 625.000 novos casos no brasil para cada um dos anos 23 Rafaela Pamplona Recomendações na prevenção 1 Cessar o tabagismo 90% pelo câncer de pulmão 30% de todas a mortes por câncer Toxinas: monóxido de carbono, amônio, acroleína, cetonas... 2 Manter o peso saudável e praticar atividades físicas Obesidade: endométrio, vesícula biliar, fígado, ovário, tireoide ... Sedentarismo 5% das mortes por câncer 3 Limitar a ingesta e consumo de álcool Estima-se 3,6% dos canceres Câncer do trato gastrointestinal, orofaringe, mama 4 Evitar excesso do sol Radiação solar o principal causa de câncer de pele Limitar o tempo de exposição entre 10 e 17 horas Uso de protetor, chapéus, óculos de sol e roupas protetoras 5 Proteger-se contra infecções sexualmente transmissíveis HPV, Hepatites B e C, HIV, EBV 17% de novos casos tem relação com algum desses agentes PRINCIPAIS DOENÇAS ONCOLÓGICAS NA INFÂNCIA Diagnóstico precoce • Muitas crianças e adolescentes com câncer chegam ao centro especializado de tratamento com a doença em estágio avançado por diversos fatores Desinformação dos pais Medo do diagnóstico de câncer Desinformação dos médicos em geral Dificuldade no acesso aos serviços de saúde Apresentação clínica de determinados tipos de tumores podem não diferir muito de doenças comuns na infância • A ênfase atual deve ser dada ao diagnóstico precoce (70% de cura) e orientação terapêutica de qualidade, uma vez que aumenta significativamente a porcentagem de cura nas crianças e aderência ao tratamento específico • Hoje é essencial que os profissionais de todos os pontos da Rede de Atenção à Saúde estejam capacitados para contextualizar os achados clínicos com a idade, sexo, associação de sintomas, tempo de evolução e outros dados sugestivos de uma doença neoplásica, para que se possa fazer uma suspeita correta e conduzir o caso de maneira rápida, precoce e eficaz Epidemiologia 24 Rafaela Pamplona Dificuldade no diagnostico CA infantil • Sintomas inespecíficos • Desinformação dos pais • Medo do diagnóstico de CA • Desinformação dos profissionais da saúde • Características do próprio tumor • Dificuldade no acesso ao sistema de saúde Importância do diagnóstico precoce • Tratamento menos agressivo • Redução de sequelas • Aumento da taxa de cura • Melhoria na qualidade de vida LEUCEMIAS Caso 1 J. C., feminino, 2 anos e 1 mês Queixa principal – tosse e palidez de pele há 1 semana HDA – mãe relata que a menor esteve internada há 3 semana em uso de antibióticos. Realizou hemograma quando hospitalizada, durante o período de internação observado palidez de pele e adinamia importante, machinhas arroxeadas no corpo associada a febre vespertina diária. Medicada entretanto apresentou apenas melhora parcial dos sintomas. Recebeu alta com orientação de procurar um hematologista. Uma semana depois, relatava dor abdominal, piora das manchas roxas pelo corpo e agora dores nas pernas, piora também da palidez cutâneo mucosa, e agora com presença de linfonodomegalia em região cervical Exame Físico BEG, hipocorada +++/4+, microadenopatia cervicais bilaterais, inguinais e axilares, <1,5 cm, elásticos, indolores. (linfonomegalia) Abdome – fígado palpável a 4cm abaixo RCD, e baço a 3cm abaixo RCE. (hepatoesplenomegalia)• Importância Caracterizada por expansão clonal – células blásticas Acomete crianças entre 2 e 5 anos de idade Corresponde a 30% dos cânceres infantis • Fisiopatologia Há alteração na produção natural de células da medula óssea, que faz as células blásticas se desenvolver de forma preocupante e descontrolada Células blásticas = célula cancerígena • Tipos mais comum Eles constituem 97% de todas as leucemias da infância e consistem nos seguintes tipos - Leucemia linfoblástica aguda (LLA) - 75% ~ Melhor prognóstico - Leucemia mieloblástica aguda (LMA), também conhecida como leucemia não linfocítica aguda (LLNA) - 20% ~ Pior prognóstico ~ Tratamento para o resto da vida ou transplante - Leucemia aguda indiferenciada - 0,5% - Leucemias mieloides crônicas - 3% - Leucemia linhagem aguda mista (LMAA) – restante • Características para definir o tipo de leucemia O envolvimento da medula de leucemia aguda como visto por microscopia é definido como se segue - M1: menos de 5% de células blásticas - M2: 5% a 25% de células blásticas - M3: mais de 25% de células blásticas - Maioria dos pacientes com leucemia aguda apresentam uma medula M3 ATRASO NO DIAGÓSTICO 25 Rafaela Pamplona • Quadro clínico Palidez cutâneo mucosa Fadiga e adinamia importante Febre persistente Dor óssea e/ou articular (principalmente quando acorda a criança à noite) → devido intensa produção de células blásticas na medula óssea Hematomas Equimoses Petéquias de aparecimento abrupto Adenomegalias não dolorosas principalmente em cadeias retroauriculares, supraclaviculares, epitrocleares, poplíteas Aumento de volume abdominal → devido infiltração do fígado e baço • Fluxograma – sinais de alerta Sintomas Hemograma – células blásticas, leucocitose Encaminhar ao oncologista pediátrico! Mielograma Hiperleucocitose → encaminhamento imediato! Leucócitos acima de 50.000 até que se prove o contrário é leucemia mieloide! Trata-se se uma urgência oncologia – paciente pode apresentar hemorragia cerebral e evoluir para óbito em poucos dias Sangramento → encaminhamento imediato! A presença elevada de leucócitos aumenta a viscosidade do sangue, ocasionando micro êmbolos, diminuindo a perfusão sanguínea naquela região, causando isquemia ou ruptura do vaso • Diagnóstico diferencial Doenças não neoplásicas: AR juvenil, mononucleose, PTI, aplasia medular, Leishmaniose visceral, arbovírus (dengue) Doenças neoplásicas: linfoma, retinoblastoma, neuroblastoma • Investigação diagnóstica Exames laboratoriais - Hemograma com diferencial - LDH → muito aumentado - Eletrólitos (Na, K, Mg, Ca, P) - Ácido úrico - Função renal (ureia e cr) - Função hepática (TGO, TGP, fosfatase alcalina digamos GT) - Proteínas totais e frações - Contagem de reticulócitos - Ferro sérico - Ferritina sérica - VHS - Coagulograma completo - Sorologias para TORCH´S - Sorologia para CMV, toxoplasmose, Epstein Barr, rubéola e HIV Exames de imagem - US Abdominal total → avaliar hepatoesplenomegalia - US testicular (sexo masculino) - RX de tórax (PA e perfil) → alargamento do mediastino - Ecocardiograma com doppler - Punção lombar (suspeita de infiltração de SNC) 26 Rafaela Pamplona Específico - Mielograma com imunofenotipagem - Biologia molecular - encaminhar ao INCA alguns casos necessários para biópsia de medula óssea • Mielograma Estudo morfológico da medula óssea (mo) - Citoquímica - Imunofenotipagem - Citogenética / biologia molecular • Fatores prognósticos Tratamento de acordo com as particularidades, com a classificação de baixo ou alto risco Fatores no diagnóstico que influenciam se será menos ou mais quimioterapia • Tratamento Quimioterapia age contra as células blásticas - Vincristina - L-asparanginase - Antraciclícos - ARA-C - Metrotexate - Tioguanina - Mercaptopurina - Profilaxia do SNC - MADIT • Conduta terapêutica – Etapas do tratamento Etapa 1 – Indução - Primeiros 28 dias - Iniciar quimioterápicos - Observar a reação frente ao tratamento ~ Espera-se eliminar 99% das células plásticas em restaurar a produção normal os componentes do sangue → Remissão da doença - Fase de maior susceptibilidade: neutropenia febril, infecções, várias transfusões de hemoderivados, efeitos colaterais dos quimioterápicos e falha na indutora Etapa 2 – Intensificação e consolidação tardia - Restauração da hematopoiese, aumentando a sobrevida livre do paciente e destruir as células plásticas - Uso de altas doses de quimioterápicos, dependendo do alto ou baixo risco, ter umas ciclos e doses maiores ~ Metrotexate doses altas + mercaptopurina + L-ASP + VCR + antracíclicos Etapa 3 – Manutenção - Mielograma – remissão total da doença - Impede a reativação de células blásticas - Ciclo de quimioterapia ambulatorial e semanal - A criança volta ao convívio familiar e realiza atividades com menos riscos de complicações - Etapa prolongada importante e necessário LINFOMA Caso 2 J.C. feminino, 7 anos QP: caroço no pescoço há 30 dias HDA: mãe relata aparecimento de caroço no pescoço há 30 dias, com 27 Rafaela Pamplona aumento progressivo, sem dor. Relata ainda presença de febre alta 38,5ºC, por mais de 3 dias, associado a sudorese noturna, perda de peso de 3 kg nos últimos 2 meses, refere ainda tosse seca, sendo medicado com ATB , sem melhoras. Exame físico: adenopatia cervical direita de 3cm, fixo, endurecida, indolor • Conceito São originários do sistema linfático Divididos em - Linfoma de Hodgkin: relacionado com as células binucleadas, caracterizado por linfonodos que vai aumentando progressivamente por continuidade, acometendo toda a cadeia linfonodal - Linfoma não Hodgkin: acomete toda o sistema linfático, relacionado aos linfócitos T e B, podendo ocorrer em todas as cadeias linfonodais, inclusive a medula óssea • Classificação: Hodgkin e Não-Hodgkin Tumor dos gânglios linfáticos (ínguas) - Periférico - Central (abdome e tórax) • Características do gânglio suspeito Nódulo periférico suspeito - Gânglios >2,5cm de diâmetro - Duros, fixo, indolor - Coalescentes com evolução > 4semanas ~ Disseminação na região TODO paciente com tumor na região supraclavicular deve ser investigado! • Quadro clínico Dispneia Disfagia Tosse Sibilos Circulação colateral de veia cava superior O tumor pode se expandir para o pericárdio e pulmões Tumor mediastinal – urgência oncológica! Paciente jovem apresenta dispneia, sibilos – síndrome da veia cava • Sinais e sintomas de alerta 28 Rafaela Pamplona • Sinais e sintomas inespecíficos → pior prognóstico! Febre > 38ºC Perda de peso de 10% ou mais do peso corporal nos últimos 6 meses Sudorese noturna • Exames Hemograma LDH VHS Ferritina sérica Sorologias para descartar doenças infecto contagiosas Rx de tórax: avaliar mediastino Ecocardiograma abdominal na suspeita de massa Evitar biopsia ou punção aspirativa antes da avaliação do oncologista pediátrico! • Fluxograma – Sinais de alerta para os linfomas Linfonodo sugestivo Hemograma, sorologia e VHS Reavalia em 4 semanas Se persistir e progredir → linfoma! TUMORES ABDOMINAIS Caso 3 Criança de 3 anos apresentando febre e aumento do volume abdominal há 3 meses, observado ainda presença de equimose periorbitária, mioclonias, nódulos em couro cabeludo e ptose palpebral Exame físico: EGR, emagrecida, descorada, sem adenomegalias, abdome globoso á palpação nota-semassa endurecida com limites imprecisos que ocupa a loja renal esquerda, hipocôndrio e epigástrio HC, urina tipo I e RX de tórax normal • Fluxograma – sinais de alerta para massas abdominais Massa abdominal US em até 7 dias TODO paciente que apresentar massa de crescimento rápido no abdômen deve ser encaminhado imediatamente, pois pode ocorrer síndrome compartimental, podendo evoluir ao óbito 29 Rafaela Pamplona NEUROBLASTOMA – “anjo mal” • Conceito e epidemiologia Câncer que se inicia em células do sistema nervoso simpático e as glândulas suprarrenais Acomete principalmente lactentes e crianças pequenas Se desenvolve durante o crescimento fetal ou nos primeiros anos de vida É considerado o tumor sólido extracraniano mais comum em crianças Localização - 40% dos neuroblastomas se iniciam-se nas glândulas suprarrenais - 25% se iniciam nos gânglios linfáticos do sistema nervoso simpático do abdome - Os demais surgem nos gânglios simpáticos próximos à coluna cervical, torácica e lombar Apresenta um aumento de incidência no sexo masculino e na raça branca Metástases: MO, óssea, região retroorbital, fígado, linfonodos subcutâneos (nódulos), raramente ocorre para os pulmões • Quadro clínico Massa abdominal palpável que ultrapassa a linha média Lactente com hepatomegalia e nódulos subcutâneos Caquexia Dor óssea, febre, perda de peso, proptose e ptose palpebral, anemia, irritabilidade, taquicardia, sudorese Equimose periorbital e opsomioclonus • Manifestações em fase avançada Presença de massas palpáveis em diversas regiões do corpo Protrusão ocular e olhos de “guaxinim” Volume aumentado do abdômen e dispneia Parestesia em alguma parte do corpo • Diagnóstico Primeiramente é levantada a suspeita clínica pelo exame físico e anamnese - TC e RM: para avaliação de tumores primários - Cintilografia de corpo inteiro: indicado para avaliação de tumores primários e metástase Diagnóstico laboratorial: na suspeita ou confirmação devo solicitar - Hemograma - Ureia e creatinina - TGO TGP e DHL - Dosagem de catecolaminas séricas (mais sensíveis e especificas) - Dosagem de catecolaminas urinarias – ácido vanilmandélico e ácido homovanílico Punção aspirativa ou biópsia - Biópsia de dois territórios ilíacos ou do fêmur e esterno - Biópsia local com anatomopatológico compatível - Exames histopatológico: tumor hipercelular, com células pequenas e arredondadas, agrupadas em formações em “rosetas” - Metaiodobenzilguanidina (MIBG) varredura – detecção de metástases (dada a avidez da neoplasia a esse traçador 30 Rafaela Pamplona NEFROBLASTOMA Caso 4 A.S, feminino, 3 anos QP: “Aumento da barriga” há 2 semanas HDA: mãe relata que notou aumento abdominal ao dar banho na criança. Levou a unidade de saúde, onde foi prescrito remédio para verme, segundo a mãe, mesmo após uso, a barriga da menor continuava crescendo, voltando novamente a UBS, sendo então solicitado US Abdominal total. Exame físico: ABD flácido, indolor, massa palpável em flanco esquerdo • Conceito, epidemiologia e incidência É o tumor renal maligno mais comum na infância Origem embrionária das células blastematosas Metanefréticos Idade mais frequente entre 1 à 5 anos de idade Acomete igualmente ambos os sexos Mais com predileção por etnia negra Associação com anomalias congênitas geniturinárias - Rim em ferradura, displasia renal, aniridia bilateral, síndrome de Warg (Willms, aniridia, anomalias geniturinárias, retardo mental) 7% de todas as neoplasias que ocorrem na infância Metástase pulmonar, fígado e gânglios linfáticos regionais Pode ser bilateral em 5% dos casos Associação com síndromes genéticas - Beckwith-Wiedemann, Dennys-Drash, Sotos, Simpson- Golabi • Quadro clínico Massa abdominal palpável em flanco em crianças com idade inferior à 5 anos, massa não ultrapassa a linha média Bom estado geral Acompanhada ou não de dor, hematúria, hipertensão Sinal ou sintomas Porcentagem Massa Abdominal 75,4% Dor abdominal 28,2% Hipertensão Arterial 26,4% Hematúria 24,4% Febre 22,1% Doença de Von Willebrand adquirida 3,9% Achado ocasional de uma massa palpável ou inchação no abdome ao banhá-lo ou vesti-lo Geralmente é firme e não ultrapassa à linha média Dor abdominal em decorrência do crescimento tumoral Hipertensão devido compressão de artéria renal e produção de renina Dennys-Drash SOTOS SIMPSON-GOLABI 31 Rafaela Pamplona • Diagnóstico Radiografia simples de abdome US abdominal total: indica presença de massa em loja renal TC abdome total e pelve: melhor visualiza e caracteriza a massa renal e tem metástase hepática Complementar com estadiamento - Tc de tórax, pelve - Cintilografia óssea de corpo total – evidenciar metástase • Estadiamento Evidencia metástases hematogênicas (10 à 15%) Raio-x de tórax Tc de tórax Pulmão (85%) Fígado (7%) NEUROBLASTOMA NEFROBLASTOMA SN simpático Sistema renal Lactantes e crianças pequenas 1 a 5 anos Sexo masculino Ambos os sexos Massa ultrapassa a linha média Massa NÃO ultrapassa a linha média Febre, sinal do guaxinim Anomalias geniturinárias Bom estado geral Rara metástase pulmonar Comum metástase pulmonar TC imagem mais grosseira TC imagem menos grosseira RETINOBLASTOMA Caso 5 M.k, sexo feminino Data de nascimento: 01|02|2021 – 11 meses História clínica: Estrabismo desde os 6 meses de vida. Há 1 mês aparecimento abrupto de um reflexo branco e cegueira progressiva (sic) Fazia acompanhamento com oftalmologista desde os 4 meses, e há 1 mês pós exames de fundoscopia e realização de USG local foi encaminhado para o serviço de oncologia pediátrica História familiar positiva para retinoblastoma 32 Rafaela Pamplona • Fluxograma – Sinais de alerta para tumores do SNC e retinoblastoma Leucocoria – ausência do reflexo avermelhado Solicitar avaliação oftalmológica em até 7 dias Fundoscopia TC ou RNM • Quadro clínico Leucocoria (reflexo pupilar branco-amarelado) – observado pelos familiares e muitas vezes observados em fotos tiradas com flash Seguidos por: estrabismo, irritação ocular, hiperemia (olho vermelho), e os que evidenciam progressão de doença com proptose, exoftalmia • Conceito, epidemiologia e incidência É um tumor embrionário raro que se origina na retina neural, sendo o tumor maligno intraocular mais frequente encontrado nas crianças Ocorre entre 1 a 14.000 e 1 a 30.000 nascidos vivos Podem ser uni ou bilateral (relacionado com mutações germinais) Mais de 90% dos casos são diagnosticados antes dos 5 anos de idade, idade mediana de 2 anos Acomete a faixa etária entre 0 a 4 anos Sem diferença de sexo, etnia ou acometimento de olho D ou E • Sinais e sintomas Leucocoria Estrabismo Vermelhão do olho Celulite da órbita Heterocromia Glaucoma secundário Diminuição da acuidade visual Proptose ocular • Sinais e sintomas – Retinoblastoma intraocular 1º sinal – Leucocoria (pupila branca uni ou bilateral) - Representa a perda do reflexo vermelho 2º sinal – Estrabismo - Ocorre quando a lesão afeta a região macular levando a um comprometimento visual e alterações no reflexo de fusão ocular Outras queixas - Vermelhidão - Protrusão ocular (aumento do tamanho devido elevação da pressão intraocular) - Diminuição de acuidade visual Menos comum celulite asséptica por necrose tumoral Heterocromia (mudança de coloração da íris) Hemorragia vítria (sangramentointraocular) Catarata e pseudouveítes • Sinais e sintomas – Retinoblastoma extraocular Doença metastática variados locais de acometimento Locais mais acometidos: órbita, linfonodos pré-auriculares e cervicais, MO, ossos, fígado e SNC • Diagnóstico Exame clínico ocular Precoce - Exame de reflexo vermelho - Exame fundoscópico aos 6/12 e 24 meses - História familiar avaliação fundoscopia desde o nascimento - Exames de imagem (apresentação atípica) ~ US: tamanho da lesão e avalia a presença de calcificações intralesional ~ RNM de órbitra: ajuda na avaliação de comprometimento extraocular, invasão de nervo óptico ~ TC: melhor exame para detectar o cálcio intratumoral ↳ Uso rotineiro aumenta risco de segunda neoplasia
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