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1 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA MENINGITE, ENCEFALITE, ABSCESSO CEREBRAL E EMPIEMA As infecções agudas do sistema nervoso estão entre os problemas mais importantes em medicina, porque o reconhecimento precoce, a eficiente tomada de decisões e a rápida instituição do tratamento podem salvar vidas. Essas diferentes síndromes clinicas incluem a meningite bacteriana aguda, a meningite viral, a encefalite, as infecções focais, como o abscesso cerebral e o empiema subdural, e a tromboflebite infecciosa. Abscesso cerebral Empiema subdural Cada uma delas podem apresentar-se como pródromo inespecífico de febre e cefaleia, que pode, no individuo previamente sadio, ser considerado benigno até que surjam (exceto no caso da meningite viral) alterações da consciência, sinais neurológicos focais ou crises convulsivas. Os objetivos essenciais do tratamento precoce são distinguir rapidamente entre essas diferentes situações, identificar o patógeno responsável e instituir o tratamento antimicrobiano apropriado. Infecção que acomete o espaço subaracnóideo meningite Quando o tecido encefálico é diretamente lesionado por infecção bacteriana ou viral Encefalite Infecções focais que envolvem o tecido encefálico cerebrite ou abscesso CEFALEIA, FEBRE + OU – RIGIDEZ DE NUCA A rigidez de nunca é o sinal patognomônico e está presente quando o pescoço resiste à flexão passiva. Os sinais de kerning e brudzinski também são sinais clássicos de irritação meníngea. O sinal de kerning deve ser pesquisado com o paciente em decúbito dorsal. A coxa é fletida sobre o abdome, com o joelho fletido; quando há irritação meníngea, as tentativas de se estender passivamente o joelho suscitam dor. O sinal de brudzinski deve ser pesquisado com o paciente em decúbito dorsal, sendo positivo quando a flexão passiva do pescoço resulta em flexão espontânea dos quadris e joelhos. Ambos podem estar ausentes ou fracos em pacientes muitos jovens ou idosos, indivíduos imunocomprometidos ou pacientes com grave depressão do estado mental. 2 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA A alta prevalência de doenças da coluna cervical em indivíduos de mais idade pode resultar em uma pesquisa falso- positiva da rigidez de nuca. O tratamento inicial: (1) Deverá ser instituído prontamente um tratamento empírico sempre que a meningite bacteriana for uma hipótese diagnostica importante. (2) Todos os pacientes que sofreram traumatismo cranioencefálico recente, que estão imunocomprometidos, que apresentaram lesões malignas conhecidas ou neoplasias do sistema nervoso central (SNC) ou que têm achados neurológicos focais, papiledema ou nível deprimido de consciência devem ser submetidos à tomografia computadorizada (TC) ou à ressonância magnética (RM) do encéfalo antes da realização de punção lombar (PL). Nesses casos, a antibiocoterapia empirica não deve ser adiada enquanto se aguardam os resultados dos exames, porém deve ser administrada antes dos exames de neuroimagem e da PL. (3) Na meningite viral, não ocorrem depressao importante do nivel de consciência (ex: sonolência, coma) nem crises convulsivas ou deficits neurologicos focais; os pacientes com esses sintomas devem ser hospitalizados para avaliação adicional e tratados empiricamente para meningoencefalite bacteriana e viral. (4) Os pacientes imunocompetentes com nível de consciência normal, sem tratamento antimicrobiano prévio e com perfil do líquido cerebrospinal (LCS) compatível com meningite viral (pleocitose linfocitáira e concentração normal de glicose) podem, muitas vezes, ser tratados de modo ambulatorial, se estiverem assegurados o contato e a monitoração apropriados. A ausência de melhora em 48 horas de um paciente sob suspeita de meningite viral indica a necessidade de reavaliação, incluindo exames físico e neurológico de acompanhamento, bem como exames de imagem e laboratoriais, muitas vezes incluindo uma segunda PL. MENINGES Lembrar que: Lepto = Fino, delgado; Paqui = grosso Definição Meningite consiste na inflamação das meninges Doença grave, evolução rápida Clínico x Neurologista x Infectologista tratamento rápido Tratamento Entrar com antibiótico o mais rápido possível, mesmo antes de descobrir a etiologia. Dessa forma, você garante um bom prognostico. Aracnoide Pia-máter Leptomeninge Dura- máter Paquimeninge 3 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA ANAMNESE NAS MENINGITES Idade higiene Condições de moradia (aglomerações) Sazonalidade Sintomas associados Comorbidades (HIV, tuberculose, diabetes, câncer) Calendário vacinal Tabagismo e etilismo História de TCE No inverno, a meningite bacteriana é mais comum. No verão, a meningite viral é mais frequente. FATORES DE RISCO NA MENINGITE BACTERIANA ETIOLOGIAS Infecciosas Vírus Bactéria Fungos Protozoários Helmintos Não infecciosas Autoimune Química (farmacológica) Neoplásica TRANSMISSÃO Contato com portador assintomático Variam de acordo com o agente etiológico Gotículas respiratórias Ex: meningite bacteriana Inalação de esporos Ex: meningite por fungos Internamento hospitalar prolongado Ex: meningite por cândida Sp Picadas de mosquitos Ex: meningite por arbovírus Fecal-oral Ex: meningite por enterovírus EPIDEMIOLOGIA 0.9 para 100.000 (EUA) Brasil (2019): 15.678 casos Brasil: 346 casos África (oriental e central) Para cada 100.000 pessoas QUADRO CLÍNICO Cefaleia (87%) Febre (77%) Rigidez de nuca (meningismo) (83%) 4 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA Disfunção cognitiva (69%) irritação do córtex meningoencefalite Crise epiléptica Sinais de hipertensão intracraniana Quadro clínico Crianças de até 9 meses poderão não apresentar os sinais clássicos de irritação meníngea Outros sinais e sintomas permitem suspeita diagnostica: Febre Irritabilidade ou agitação Choro persistente Grito meníngeo (criança grita ao ser manipulada, principalmente quando se flete as pernas para trocar a fralda) Recusa alimentar, acompanhada ou não de vômitos Convulsões Abaulamento da fontanela Sinais de alarme Hipertensão intracraniana Vômitos Papiledema Cefaleia Comprometimento cognitivo Reflexo de cushing Hipertensão Bradicardia Respiração irregular MENINGITES BACTERIANAS MENINGOCOCO Neisseria meningitidis Diplococo gram negativo Sorogrupos: A, B, C, W135 e Y Principal agente de meningite bacteriana no brasil 30% dos casos em menores de 5 anos A presença de lesões cutâneas petequeias ou purpúricas é um indicio importante para o diagnóstico de infecção meningocócica. Em alguns pacientes, a doença é fulminante, evoluindo para a morte horas após o início dos sintomas. A infecção pode iniciar-se por colonização nasofaringe (Pode ficar incubado de 1-2 dias), que pode determinar um estado de portador assintomático ou doença meningocócica invasiva. O risco de doença invasiva após a colonização nasofaringe depende dos fatores de virulência bacterianos e dos mecanismos de defesa imune do hospedeiro, como a sua capacidade de produzir anticorpos antimeningocócicos e de lisar os meningococos pelas vias clássica e alternativa do complemento. Os indivíduos que têm deficiência de qualquer componente do complemento, como a properdina, são altamente suscetíveis às infecções meningocócicas FISIOPATOLOGIA As bactérias que mais comumente causam meningite, S. pneumoniae e N. meningitidis, colonizam primeiro a nasofaringe por adesão às células epiteliaisnasofaringes. Em seguida, são transportadas por meio das células epiteliais, em vacúolos formados pela membrana, para o espaço intravascular ou 5 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA invadem esse espaço, separando as junções estreitas apicais das células epiteliais colunares. Na corrente sanguínea, as bactérias são capazes de evitar a fagocitose por neutrófilos e a atividade bactericida mediada pelo complemento devido à presença de uma capsula polissacarídica. As bactérias presentes no sangue atingem, em seguida, o plexo coroide intraventricular, onde infectam diretamente as células epiteliais do plexo e ganham acesso ao LCS. Algumas bactérias, como o S. pneumoniae, aderem às células endoteliais dos capilares cerebrais e, em seguida, migram através dessas células ou entre elas para atingir o LCS. As bactérias são capazes de se multiplicarem rapidamente dentro do LCS em virtude da ausência de defesas imunes eficazes por parte do hospedeiro. O LCS normalmente contém poucos leucócitos e quantidades relativamente pequenas de proteínas do complemento e imunoglobulinas. A escassez das duas últimas impede a opsonização eficaz das bactérias, pré-requisito essencial à fagocitose bacteriana por neutrófilos. A fagocitose das bactérias é ainda mais prejudicada pela natureza líquida do LCS, menos favorável à fagocitose que um substrato tecidual sólido. PRINCIPAIS FORMAS CLINICAS Meningite meningococcia Meningococcemia Meningite meningococcia + meningococcemia Haemophilus influenzae Bastonete gram negativo 6 sorotipos: A, B, C, D, E, F Saprófita das vias respiratórias 1999- Vacinação para Hib no PNI Em adultos: Meningite secundaria à sinusite aguda, otite media ou fratura do crânio Associação com imunocomprometimento, diabetes e etilismo Streptococos pneumoniae Diplococos gram positivos Organização em cadeias, mais de 90 sorotipos Comum em idosos Mais de 50% dos pacientes tem menos de 1 ou mais de 50 anos de idade Complicação da otite media, mastoidite, sinusite, fraturas de crânio, infecções respiratórias superiores e infecções pulmonares, alcoolismo, asplenismo e doença falciforme são fatores de risco. Meningites tuberculosa Epidemiologia TB + HIV (1980) tuberculose meningite (0.9%) Extra-pulmonar: 6% Mortalidade 19,3% crianças TB + HIV: 40% DIAGNOSTICO Exame clinico + laboratorial Estudo do líquor Quimiocitologico do líquor Bacterioscopia direta Cultura Aglutinação pelo látex Reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR) O aspecto do líquor é como um indicativo de infecção Normal: límpido e incolor Infecção: turvação Líquor nas meningites 6 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA Diagnóstico Contraindicação absoluta para coleta do líquor Desvio de linha media Perda das cisternas de base Massa na fossa posterior Contraindicação relativa Hipertensão intracraniana Coagulopatia Indicações de realizar CT de crânio antes da punção liquórica: Idade>60 anos Pacientes imunocomprometidos; Doenças do sistema nervoso central; Crises convulsivas na última semana Alteração do nível de consciência Presença de déficits focais como: hemiparesia, afasia, paralisia facial, alterações no campo visual, olhar fixo Papiledema Outros exames: Hemograma Glicemia VHS Hemoculturas Alterações liquóricas sugestivas de meningite bacteriana: Pressão de abertura aumentada Celularidade aumentada (100 a 10 000 células/mm3) Predomínio de polimorfonucleares Proteinorraquia > 50mg/dL Glicose menor que 60% do valor sérico Diagnostico diferencial Dependera da forma de apresentação da doença Meningococcemia Sepse de outras etiologias Febres hemorrágicas Quadros leves Doenças exantemáticas virais Doenças do trato respiratório superior Complicações Perda da audição Distúrbio de linguagem Retardo mental Distúrbio visuais Encefalite Abcessos cerebrais TRATAMENTO Ambiente hospitalar Monitorização Medidas de suporte Tratamento varia de acordo com o agente Corticoterapia Antibioticoterapia Antifúngico Esquema para tuberculose Quimioprofilaxia para contactantes se meningococcica NOTIFICAÇÃO Doença de notificação compulsória É de responsabilidade do serviço de saúde notificar qualquer caso suspeito Todos os profissionais de saúde são responsáveis pela notificação Contato telefônico, fax, e-mail ou outras formas de comunicação PREVENÇÃO Existe prevenção primária para alguns agentes As vacinas disponíveis no calendário de vacinação da criança do Programa Nacional de Imunização são: Vacina meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C. Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo 7 MENINGITE DANIELY ALVES DALLA ZANA FRAZÃO - MEDICINA Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite. Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B. MENINGITE BACTERIANA AGUDA Definição A meningite bacteriana é uma infecção purulenta aguda no interior do espaço subaracnóideo. Está associada a uma reação inflamatória do SNC, que pode resultar em diminuição da consciência, crises convulsivas, aumento da pressão intracraniana (PIC) e acidente vascular encefálico (AVE). As meninges, o espaço subaracnóideo e o parênquima cerebral são frequentemente acometidos pela reação inflamatória (meningoencefalite) EPIDEMIOLOGIA A N. meningitidis é o microrganismo etiológico de epidemias recorrentes de meningite a cada 8-12 anos MENINGITE VIRAL AGUDA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os pacientes adultos imunocompetentes com meningite viral aguda geralmente se apresentam com cefaleia, febre e sinais de irritação meníngea associados a um perfil inflamatório do LCS (ver adiante). A cefaleia quase sempre está presente e, com frequência, caracteriza- se pela sua localização frontal ou retro-orbitária e por estar frequentemente associada a fotofobia e dor aos movimentos oculares. A rigidez de nuca está presente na maioria dos casos, mas pode ser leve e manifestar-se apenas próximo ao limite de anteflexão do pescoço. Os sinais constitucionais podem consistir em mal-estar, mialgia, anorexia, náuseas e vômitos, dor abdominal e/ou diarreia. Os pacientes com frequência têm letargia leve ou sonolência; entretanto alterações mais profundas da consciência, como estupor, coma ou confusão mental acentuada, não ocorrem na meningite viral e sugerem a presença de encefalite ou de outros diagnósticos alternativos. De modo semelhante, crises convulsivas, sinais ou sintomas neurológicos focais ou anormalidades da neuroimagem indicativas de envolvimento do parênquima cerebral não são típicos da meningite viral e sugerem a presença de encefalite ou de outros processos infecciosos ou inflamatórios do SNC.
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