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Direito Econômico Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites A Concentração Empresarial • Introdução; • Infrações à Ordem Econômica; • Concentração Empresarial. • Conhecer como as concentrações empresariais podem ser danosas à concorrência; • Conhecer o controle das concentrações empresariais realizadas pelo Sistema Bra- sileiro de Defesa da Concorrência. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Concentração Empresarial Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Concentração Empresarial Introdução Como vimos na unidade anterior, o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência é atualmente estruturado pela Lei n.º 12.529/11, sendo que ele persegue a finalida- de de prevenir e reprimir as infrações contra a ordem econômica. A atuação desse sistema está orientada pelos seguintes preceitos constitucionais: • livre iniciativa; • livre concorrência; • função social da propriedade; • defesa dos consumidores; e • repressão ao abuso do poder econômico. Lei n.º 12.529/11 Art. 1º Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico. Parágrafo único. A coletividade é a titular dos bens jurídicos protegidos por esta Lei. A Lei Antitruste, em razão da grande repercussão em toda a nossa sociedade das práticas que se caracterizam como infrações contra a ordem econômica, expressa- mente indica que a sua proteção está voltada para toda a coletividade, pois essa é a titular dos bens jurídicos protegidos por essa norma. Esse sistema é composto: • pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE); • pelo Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria de Promoção da Produtivi- dade e Advocacia da Concorrência e da Secretaria de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria, em razão da extinção da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. Sem qualquer dúvida, a atuação mais destacada é a do CADE, sendo que ela se dá em duas frentes: • uma atuação repressiva, na qual são combatidas as condutas que se caracteri- zam como infrações à ordem econômica; • uma atuação preventiva, na qual são examinados os atos de concentra- ção empresarial. Essas duas formas de atuação das empresas nos mercados relevantes podem afetar, de forma bastante sensível, a concorrência, razão pela qual há um destacado interesse público na apuração desses desvios. 8 9 Vamos então conhecer as infrações à ordem econômica e os atos de concentra- ção empresarial! Infrações à Ordem Econômica A caracterização das infrações à ordem econômica exige dois elementos: EFEITOS + CONDUTA Para a caracterização de uma infração da ordem econômica é necessário que o proceder do agente econômico tenha a finalidade ou, ainda que de forma involun- tária, tenha a capacidade de atingir um dos efeitos listados nos incisos do caput do artigo 36 da Lei n.º 12.529/11, ou seja: Lei n.º 12.529/11 Art. 36 [...] I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente os lucros; e IV - exercer de forma abusiva posição dominante. Sobre esses efeitos decorrentes da conduta do agente econômico, temos que des- tacar que: • A dominação do mercado decorrente da maior eficiência do agente eco- nômico em relação a seus concorrentes não caracteriza a infração da ordem econômica do inciso II do caput do artigo 36 dessa lei; • A caracterização da infração da ordem econômica independe de culpa, ou seja, os efeitos acima mencionados podem ocorrer: » por deliberada intenção da empresa em atingi-los; » de forma não intencional. • A infração da ordem econômica estará caracterizada ainda que os efeitos não tenham sido atingidos, ou seja, basta que a conduta tenha potencialidade de alcançá-los. Sempre com o foco de que elas devem causar ou ter potencialidade de causar os efeitos acima apresentados, o § 3º do artigo 36 da Lei n.º 12.529/11 apresenta uma listagem exemplificativa das condutas que se caracterizam como infra- ções à ordem econômica. 9 UNIDADE A Concentração Empresarial Lei n.º 12.529/11 Art. 36 [...] § 3º As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configu- rem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica: I - acordar, combinar, manipular ou ajustar com concorrente, sob qual- quer forma: a) os preços de bens ou serviços ofertados individualmente; b) a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada de bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou limitada de serviços; c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial de bens ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de clientes, fornecedores, regiões ou períodos; d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitação pública; II - promover, obter ou influenciar a adoção de conduta comercial unifor- me ou concertada entre concorrentes; III - limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado; IV - criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvi- mento de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financia- dor de bens ou serviços; V - impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias-pri- mas, equipamentos ou tecnologia, bem como aos canais de distribuição; VI - exigir ou conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios de comunicação de massa; VII - utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de preços de terceiros; VIII - regular mercados de bens ou serviços, estabelecendo acordos para limitar ou controlar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, a pro- dução de bens ou prestação de serviços, ou para dificultar investimentos destinados à produção de bens ou serviços ou à sua distribuição; IX - impor, no comércio de bens ou serviços, a distribuidores, varejistase representantes preços de revenda, descontos, condições de pagamento, quantidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras condições de comercialização relativos a negócios destes com terceiros; X - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou prestação de serviços; XI - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, dentro das condi- ções de pagamento normais aos usos e costumes comerciais; 10 11 XII - dificultar ou romper a continuidade ou desenvolvimento de rela- ções comerciais de prazo indeterminado em razão de recusa da outra parte em submeter-se a cláusulas e condições comerciais injustificáveis ou anticoncorrenciais; XIII - destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-primas, produtos interme- diários ou acabados, assim como destruir, inutilizar ou dificultar a operação de equipamentos destinados a produzi-los, distribuí-los ou transportá-los; XIV - açambarcar ou impedir a exploração de direitos de propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia; XV - vender mercadoria ou prestar serviços injustificadamente abaixo do preço de custo; XVI - reter bens de produção ou de consumo, exceto para garantir a co- bertura dos custos de produção; XVII - cessar parcial ou totalmente as atividades da empresa sem justa causa comprovada; XVIII - subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização de um serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à utilização de outro ou à aquisição de um bem; e XIX - exercer ou explorar abusivamente direitos de propriedade industrial, intelectual, tecnologia ou marca. Importante! Por ser essa listagem exemplifi cativa, podem ocorrer outras condutas que se carac- terizam como infrações da ordem econômica, sendo que, para tanto, faz-se necessário verifi car se a conduta do agente econômico causou ou tinha potencialidade de causar qualquer dos efeitos mencionados nos incisos do caput do art. 36 da Lei n.º 12.529/11. Importante! Vamos exemplificar algumas dessas situações: Combinação de Preços Uma das condutas que podem se caracterizar como infração da ordem econô- mica é a de combinar com concorrentes os preços de bens e serviços ofertados individualmente (art. 36, § 3º, inciso I, alínea “a”). Dessa forma, se um grupo de proprietários de postos de combustíveis de uma região da cidade combinarem seus preços de venda aos consumidores: a) estará caracterizada a infração da ordem econômica se eles aumentarem seus preços além daqueles praticados pelo mercado se essa conduta tiver por objetivo aumentar arbitrariamente os lucros (inciso III do caput do art. 36); b) não estará caracterizada a infração se esse acordo tiver por objetivo a venda abaixo dos preços de mercado, por poucos dias, dentre de uma campanha publicitária elaborada para a divulgação dos estabelecimentos comerciais daquela região da cidade. 11 UNIDADE A Concentração Empresarial Venda de Mercadoria ou Serviço abaixo do preço de custo Outra conduta que pode se caracterizar como infração da ordem econômica é a de vender mercadoria ou prestar serviços injustificadamente abaixo do preço de custo (art. 36, § 3º, inciso XV). Nessa situação, suponhamos que o mercado de cervejas seja explorado em determinada região de nosso país por apenas uma grande empresa (que também atua em diversas outras partes de nosso território). Nessa região, o preço de produção de cada lata de 300 ml é de R$ 1,00, sendo esse produto é vendido para os comerciantes por R$ 1,50. Em dado momento, a empresa, mesmo mantendo o mesmo custo de produção, passa a vender a lata de cerveja por R$ 0,80: a) estará caracterizada a infração da ordem econômica se o objetivo da empresa é o de prejudicar a livre concorrência (inciso I do caput do art. 36), pois na região está sendo instalada uma pequena cervejaria que poderia dividir esse mercado. Para uma empresa que está se instalando, seria inviável conquistar parcela desse mercado (ou mesmo a continuida- de do empreendimento) se o produto da concorrente tem seus preços artificialmente reduzidos; b) não estará caracterizada qualquer conduta ilícita se essa diminuição dos preços praticados se der em razão da empresa constatar que há uma grande quantidade de matéria-prima para a produção de cervejas em estoque, sendo que há o risco de que toda essa mercadoria se estrague se não for rapidamente utilizada. Sintetizando essas informações, podemos indicá-las da seguinte forma: INFRAÇÃO À ORDEM ECONÔMICA CONDUTAS DO ARTIGO 36, § 3º, DA LEI N.º 12.529/11 OU SIMILARES COM A FINALIDADE OU COM A CAPACIDADE DE ATINGIR AINDA QUE OCORRAM DE FORMA NÃO INTENCIONAL OS EFEITOS DOS INCISOS DO CAPUT DO ARTIGO 36 DA LEI N.º 12.529/11 Figura 1 12 13 Penas em Razão da Prática de Infração da Ordem Econômica Caracterizada a prática de infração da ordem econômica o agente econômico está sujeito às seguintes penas: Lei n.º 12.529/11 Art. 37 – [...] 1) para a empresa: a. multa de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do valor do faturamento bruto da empresa, grupo ou conglomerado obtido, no úl- timo exercício anterior à instauração do processo administrativo, no ramo de atividade empresarial em que ocorreu a infração; b. essa multa não pode ser inferior à vantagem auferida, quando for pos- sível sua estimação; 2) para as demais pessoas físicas ou jurídicas em que não for possível a utiliza- ção do valor do faturamento bruto , a multa será fixada entre R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais); 3) para o administrador (pessoa física), direta ou indiretamente responsá- vel pela infração cometida, quando comprovada a sua culpa ou dolo, a multa será fixada de 1% (um por cento) a 20% (vinte por cento) daquela aplicada à empresa ou às demais pessoas jurídicas acima mencionadas. Em caso de reincidência, as multas são aplicadas em dobro (art. 37, § 1º, da Lei n.º 12.529/11). Sem prejuízo das penas acima, estabelece o artigo 38 a possibilidade de serem cumuladas, de forma isolada ou cumulativas, outras sanções, desde que se demonstre: • a gravidade da conduta; ou • o interesse público. Essas outras sanções estão previstas no artigo 38 da Lei n.º 12.529/11, cuja re- dação é a seguinte: Lei n.º 12.529/11 Art. 38. Sem prejuízo das penas cominadas no art. 37 desta Lei, quando assim exigir a gravidade dos fatos ou o interesse público geral, poderão ser impostas as seguintes penas, isolada ou cumulativamente: I - a publicação, em meia página e a expensas do infrator, em jornal in- dicado na decisão, de extrato da decisão condenatória, por 2 (dois) dias seguidos, de 1 (uma) a 3 (três) semanas consecutivas; 13 UNIDADE A Concentração Empresarial II - a proibição de contratar com instituições financeiras oficiais e parti- cipar de licitação tendo por objeto aquisições, alienações, realização de obras e serviços, concessão de serviços públicos, na administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, bem como em entidades da administração indireta, por prazo não inferior a 5 (cinco) anos; III - a inscrição do infrator no Cadastro Nacional de Defesa do Consumidor; IV - a recomendação aos órgãos públicos competentes para que: a) seja concedida licença compulsória de direito de propriedade intelectual de titularidade do infrator, quando a infração estiver relacionada ao uso desse direito; b) não seja concedido ao infrator parcelamento de tributos federais por ele devidos ou para que sejam cancelados, no todo ou em parte, incentivos fiscais ou subsídios públicos; V - a cisão de sociedade, transferência de controle societário, venda de ativos ou cessação parcial de atividade; VI - a proibição de exercer o comércio em nome próprio ou como repre- sentante de pessoa jurídica, pelo prazo de até 5 (cinco) anos; e VII - qualquer outro ato ou providência necessários para a eliminação dos efeitos nocivos àordem econômica. Acordo de Leniência O CADE, por intermédio da Superintendência-Geral, pode celebrar o chamado acordo de leniência, cujo objetivo é o de extinguir a ação punitiva da Administra- ção Pública ou reduzir de um a dois terços as penalidades aplicáveis às pessoas físicas ou jurídicas que forem autoras de infrações à ordem econômica, desde que: • elas colaborem efetivamente com as investigações ou processos administrati- vos instaurados; e • dessa colaboração deve resultar na: » identificação dos outros envolvidos na infração à ordem econômica; » obtenção de informações e documentos que demonstrem a infração à ordem econômica noticiada ou sob investigação. A realização do acordo de leniência está condicionada à presença dos seguintes requisitos (cumulativos): • no caso de envolvimento conjunto de mais de uma empresa nas condutas que se caracterizam como infração à ordem econômica, somente pode ser conce- dido esse benefício à primeira empresa que se apresentar e propor o acordo; » no caso da participação de pessoas físicas, esse requisito não é obrigatório, ou seja, o acordo pode ser realizado com mais de uma pessoa natural; 14 15 • a empresa deve cessar completamente seu envolvimento na infração noticiada ou sob investigação a partir da data de propositura do acordo; • não pode a Superintendência-Geral dispor de provas suficientes para a con- denação da empresa ou pessoa física por ocasião da propositura do acordo; e • a empresa deve confessar sua participação no ilícito e cooperar plena e per- manentemente com as investigações e o processo administrativo, compare- cendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento. O acordo de leniência também é previsto em outras leis, tais como na Lei n.º 12.846/13 – que trata da responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública. Veja o acordo de leniência lavrado pela J&F Investimentos S.A., holding do Grupo JBS, com o Ministério Público Federal, que apresenta vários fundamentos legais, entre eles a Lei n.º 12.529/11 e a Lei n.º 12.846/13. Disponível em: https://goo.gl/2c9A3A Ex pl or Concentração Empresarial A concentração empresarial pode ser extremamente perniciosa para a concorrên- cia, pois reduz o número de agentes econômicos que atuam sobre determinados mer- cados relevantes, razão pela qual o CADE, dentro de sua atuação preventiva, tem especial preocupação com elas. Essa preocupação é tanta que os atos de concentração econômica somente podem ser consumados se houver prévia aprovação pelo CADE, sendo que a desobediência dessa determinação acarreta a imposição de multa diária não inferior a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) nem superior a R$ 60.000.000,00 (sessenta mi- lhões de reais), sem prejuízo da abertura de processo administrativo para a imposição de sanções decorrentes da caracterização de infração à ordem econômica. Formas de Concentração Os atos de concentração econômica podem ocorrer de duas formas básicas: • Concentração Horizontal: são atos de concentração que envolvem agentes econômicos distintos e que ofertam os mesmos produtos ou serviços ou produ- tos semelhantes – que podem ser substituídos uns pelos outros. É o que ocorre, por exemplo, na seguinte situação: 15 UNIDADE A Concentração Empresarial EMPRESA “A” - FABRICANTE DE REFRIGERANTES EMPRESA “C” - FABRICANTE DE SUCOS DE FRUTAS PARA PRONTO CONSUMO EMPRESA “B” - FABRICANTE DE REFRIGERANTES ADQUIRE Figura 2 • Concentração Vertical: são atos de concentração que envolvem agentes eco- nômicos distintos que ofertam produtos ou serviços que pertencem a diferen- tes etapas de uma mesma cadeia produtiva. Observe o exemplo a seguir: EMPRESA “A” ADQUIRE EMPRESA “B” MINERADORA EMPRESA “C” SIDERÚRGICA EMPRESA “D” FABRICANTE DE FERRAGENS PARA CONSTRUÇÃO Figura 3 Atos de Concentração que Devem ser Comunicados ao CADE Estabelece a Lei n.º 12.529/11, em seu artigo 88, as situações em que se torna obrigatória a prévia comunicação ao CADE dos atos de concentração. O caput desse artigo tem a seguinte redação: Lei n.º 12.529/11 Art. 88. Serão submetidos ao CADE pelas partes envolvidas na operação os atos de concentração econômica em que, cumulativamente: I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registra- do, no último balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais); e 16 17 II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registra- do, no último balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais). Observe que aqui deve haver uma somatória dos dois requisitos, os quais podem ser representados graficamente da seguinte forma: ATO DE CONCENTRAÇÃO ENVOLVE EMPRESA “A” EMPRESA “B” POSSÍVEIS OUTRAS EMPRESAS FATURAMENTO NO ANO ANTERIOR DE, PELO MENOS, R$ 400.000.000,00 FATURAMENTO NO ANO ANTERIOR DE, PELO MENOS, R$ 30.000.000,00 EM RELAÇÃO ÀS DEMAIS (POSSÍVEIS) EMPRESAS, NÃO É NECESSÁRIO QUALQUER RESQUISITO ESPECIAL Figura 4 Esclarece o artigo 90 da lei as hipóteses em que os atos de concentração estão caracterizados: Lei n.º 12.529/11 Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concen- tração quando: I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem; II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta de ações, quotas, títulos ou valores mobiliários con- versíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de uma ou outras empresas; III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint venture. Parágrafo único. Não serão considerados atos de concentração, para os efeitos do disposto no art. 88 desta Lei, os descritos no inciso IV do caput, quando destinados às licitações promovidas pela administração pública direta e indireta e aos contratos delas decorrentes. 17 UNIDADE A Concentração Empresarial Importante! Vamos entender esses conceitos? Os conceitos mencionados no artigo 90 da Lei n.º 12.529/11 se referem a formas de reorganização empresarial, ou seja, situações em que empresas modificam sua conformação mediante a compra, venda, junção etc. com outras empresas, podendo gerar, ou não, novas pessoas jurídicas. Importante! • FUSÃO – inciso I Nela duas ou mais pessoas jurídicas se unem para gerar uma nova entidade jurí- dica, sendo que as inicialmente existentes se extinguem. No exemplo a seguir, as Empresas “A” e “B” se fundem, sendo criada a Empresa “C”, sendo que “A” e “B” deixam de existir. EMPRESA “A” EMPRESA “B” EMPRESA “C” Figura 5 • AQUISIÇÃO DO CONTROLE DE OUTRA EMPRESA – inciso II Neste caso, uma ou mais empresas fazem a aquisição de parte do capital social de outra pessoa jurídica, de tal forma que todas elas continuam a existir. É o que ocorre, por exemplo, se a Empresa “D” compra 60% das ações da Empresa “E”. Nesse caso, as duas empresas continuam a existir, contudo, a condução da última fica subordinada às diretrizes fixadas pela primeira. • INCORPORAÇÃO – inciso III Na incorporação, uma pessoa jurídica faz a aquisição de outra, sendo que essa última deixa de existir ao término dessa operação. EMPRESA “F” EMPRESA “F” EMPRESA “G” Figura 6 18 19 • CONTRATO ASSOCIATIVO, CONSÓRCIO ou JOINT VENTURE – inciso IV Nessa forma de reorganização empresarial (que na verdade possui algumas va- riantes), duas ou mais empresas se associam para criar outra(s) empresa(s) (manten- do as empresas anteriores) ou resolvem estabelecer parcerias de atuação em seus setores de atuação. É o que ocorre, por exemplo:» se um fabricante de aviões se associa com outras empresas para a produção de seus motores ou de partes específicas; » se duas empresas de aviões comerciais resolvem se associar e juntas criam uma terceira empresa destinada à fabricação de aviões de uso militar. Concentrações Proibidas Não será autorizada pelo CADE a conclusão de negociações empresariais que: • impliquem eliminação da concorrência em parte substancial de merca- do relevante; • possam criar ou reforçar uma posição dominante; • possam resultar na dominação de mercado relevante de bens ou serviços (§ 5º do artigo 88 da Lei n.º 12.529/11). Muito embora atinjam esses efeitos, esses atos de concentração poderão ser au- torizados se causarem: • o aumento da produtividade ou da competitividade; • melhoraria da qualidade de bens ou serviços; • a eficiência e o desenvolvimento tecnológico ou econômico. Poderá, também, ser autorizada a concentração se parte relevante dos bene- fícios dela decorrentes forem repassados aos consumidores (§ 5º do artigo 88 da Lei n.º 12.529/11). Pode o CADE autorizar o ato de concentração de forma condicionada, ou seja, poderá estabelecer algumas exigências que criem condições de continuidade de um nível satisfatório de concorrência do mercado relevante. Veja o seguinte exemplo: Ato de Concentração nº 08012.005846/1999-12 Esse ato de concentração criou a Companhia de Bebidas da América (AmBev), resultado da reunião acionária das empresas que controlavam a Cia. Antarctica Pau- lista e a Cia. Cervejaria Brahma. É relevante destacar que essas empresas detinham, dentre outras, as marcas de cervejas Antarctica, Brahma, Skol e Bavária. 19 UNIDADE A Concentração Empresarial Muito embora o CADE tenha reconhecido que a operação, em razão da alta concentração, limitava a concorrência no mercado relevante de cervejas, acabou por autorizá-la em razão: • do aumento da produtividade; • da melhoria da qualidade dos bens ofertados; • da geraria de eficiências e desenvolvimento tecnológico. Esses elementos eram capazes de compensar os prejuízos potenciais à concorrên- cia advindos da associação. Entre as condições impostas pelo CADE para autorizar a operação, devem ser destacadas as seguintes: • a venda da marca Bavária; • a alienação de cinco fábricas; • o compartilhamento de sua rede de distribuição em cada um dos cinco merca- dos geográficos relevantes identificados no processo. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Leitura Guia – Programa de Leniência Antitruste do CADE https://goo.gl/CZf5JQ Lei n.º 12.529/11 – Regula o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência https://goo.gl/mbKYq5 Lei n.º 12.846/13 – Trata da responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira https://goo.gl/XytIot 21 UNIDADE A Concentração Empresarial Referências ALMEIDA, Luiz Carlos Barnabé de. Introdução ao direito econômico: direito da economia, economia do direito, direito econômico, law and economics, análise econômica do direito, direito econômico internacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. (e-book) ARAGÃO, A. S. Agências Reguladoras e a Evolução do Direito Administrativo Econômico. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. ARAÚJO, E. R. Direito Econômico. São Paulo: Impetus, 2010. BAGNOLI, Vicente. Direito econômico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2013. (e-book) DOMINGUES; J. O.; GABA, E. M. Direito Antitruste: o combate aos cartéis. São Paulo: Saraiva, 2009. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 40. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Lições de direito econômico. 9. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2016. (e-book). GRAU, E. R. A ordem econômica na Constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33. ed. São Paulo: Ma- lheiros, 2010. 22
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