Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Derrame Pleural ↠ O termo derrame pleural é usado para descrever acumulação anormal de líquido ou exsudato na cavidade pleural (PORTH, 10ª ed.). ↠ Ocasiona-se um derrame pleural quando a taxa de formação de líquido excede a taxa de remoção (PORTH, 10ª ed.). ↠ O derrame pleural é uma manifestação comum de doenças pleurais primárias e secundárias, que podem ser inflamatórias ou não inflamatórias. Normalmente, não mais do que 15 mL de um líquido seroso, relativamente acelular e claro, lubrificam a superfície pleural (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). CLASSIFICAÇÃO ➢ Derrame pleural tipo transudato; ➢ Derrame pleural tipo exsudato. ↠ São utilizados os critérios de Light para se determinar quando o derrame é transudativo ou exsudativo (PORTO & PORTO). Manifestações Clínicas ↠ Os sintomas comuns dos pacientes com derrames são a dor torácica pleurítica, tosse e dispneia. Parece que os três sintomas se devem a diferentes causas (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A dor torácica pleurítica deriva de inflamação da pleura parietal e possivelmente da pleura visceral. Ocasionalmente, esse sintoma é acompanhado por fricção pleural audível ou palpável, refletindo o movimento dos tecidos pleurais anormais (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A tosse pode ser induzida por distorção do pulmão, da mesma maneira que a tosse segue-se ao colapso pulmonar decorrente de um pneumotórax (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A dispneia mais provavelmente é causada pela ineficiência mecânica dos músculos respiratórios que são estirados pelo deslocamento em direção externa da parede torácica e pelo deslocamento para baixo do diafragma. Após a remoção de grandes quantidades de líquido pleural, a dispneia geralmente é aliviada de imediato, embora a redução do volume do líquido pleural esteja associada a pequenos aumentos somente no volume pulmonar e pouca melhora, ou uma real diminuição na PO2 (BROADDUS, 6ª ed.). Outra explicação relacionada é que a dispneia se deve à inversão do diafragma causada pelo peso do derrame pleural, e a dispneia é imediatamente aliviada quando a toracocentese permite a restauração de um diafragma em formato de domo. Parece que os efeitos mecânicos de um derrame pleural são responsáveis pela dispneia e pelo rápido alívio da dispneia após a remoção do líquido pleural (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ As manifestações de derrames parapneumônicos variam de acordo com a causa. O empiema pode ser acompanhado de febre, aumento da contagem de leucócitos e outros sinais de inflamação. O líquido na cavidade pleural age como massa ocupando espaço; causa uma diminuição na expansão do pulmão no lado afetado que é proporcional ao volume de líquido acumulado (PORTH, 10ª ed.). Diagnóstico ↠ A anamnese e o exame físico são fundamentais para uma avaliação de derrame pleural. Dados da vida profissional, do uso de medicamentos, da histórica médica clínica e cirúrgica podem ajudar na elaboração de uma suspeita etiológica (DANTAS; REIS., 2018). MEDICAMENTOS ASSOCIADOS A DERRAME PLEURAL: metotrexato, amiodarona, fenitoína e beta-bloqueadores (DANTAS; REIS., 2018). ↠ O exame de tórax revela percussão maciça, frêmito ausente e diminuição ou ausência de murmúrio vesicular (DANTAS; REIS., 2018). EXAMES COMPLEMENTARES ↠ O diagnóstico de derrame pleural deve se basear no resultado de radiografias, ultrassonografia e tomografia computadorizada (TC) de tórax. Pode ser realizada HAM III 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck toracentese (aspiração de líquido do espaço pleural) para obter uma amostra de líquido pleural para o diagnóstico (PORTH, 10ª ed.). AVALIAÇÃO INICIAL POR IMAGEM OBS.: Os líquidos pleurais se acumulam na parte inferior da cavidade torácica devido aos pulmões, que apresentam menor densidade que o líquido (DANTAS; REIS., 2018). ↠ Na radiografia de tórax póstero-anterior (PA) é necessária uma quantidade de líquido maior que 200 ml para obliterar o recesso costofrênico lateral, enquanto na radiografia de perfil, basta 50 ml para alterar o recesso costofrênico posterior (DANTAS; REIS., 2018). ↠ Uma radiografia em decúbito lateral pode ser realizada para estimar a quantidade de líquido e na suspeita de derrame loculado (DANTAS; REIS., 2018). ↠ A ultrassonografia está indicada nos casos de dúvida e para ajudar na localização da punção nos derrames pleurais pequenos ou loculados. Muitos trabalhos mostram sucesso na punção guiada por USG em até 88% dos pacientes que falharam na primeira tentativa (DANTAS; REIS., 2018). INDICAÇÃO DE TORACONCETESE ↠ A indicação de toracocentese diagnóstica ocorre na presença de derrame pleural maior que 10mm na radiografia de decúbito lateral ou na USG, sem causa conhecida (DANTAS; REIS., 2018). ↠ A toracocentese inicial é geralmente realizada com propósito diagnóstico, a menos que o paciente apresente dispneia ao repouso, onde a forma terapêutica é realizada com retirada de até 1500 ml (DANTAS; REIS., 2018). ANÁLISE DO LÍQUIDO PLEURAL ↠ Aparência do líquido: pode promover dicas diagnósticas, tais como: (DANTAS; REIS., 2018). ➢ Aspecto sanguinolento sugere malignidade, TEP ou trauma; ➢ Líquido leitoso pode indicar quilotórax ou pseudoquilotórax; 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ Aspecto purulento define empiema; ➢ Odor pútrido pode indicar infecção anaeróbios; ↠ Diferenciação entre exsudato e transudato: o método mais difundido e aceito é o critério de Light. Este possui sensibilidade de 98% para diagnóstico de exsudato e consegue diferenciar exsudato de transudato em 93 a 96% dos casos. Consiste em três parâmetros, bastando um positivo para caracterizar como exsudato: (DANTAS; REIS., 2018). ➢ Proteína pleural/sérica > 0,5; ➢ LDH pleural/sérico > 0,6; ➢ LDH > 2/3 do limite superior da normalidade para nível sérico. ↠ Na suspeita de transudato, pode-se coletar uma amostra de soro e líquido pleural somente para LDH e proteína. Se o paciente utiliza diurético, é necessário acrescentar a dosagem pleural e sérica de albumina (DANTAS; REIS., 2018). ↠ Na suspeita de exsudato, a dosagem de outros parâmetros é fundamental para avaliação diagnóstica. Os principais são: (DANTAS; REIS., 2018). ➢ pH: o líquido pleural possui aproximadamente pH de 7,60; ➢ Glicose; ➢ Esfregaço e culturas de organismos; ➢ Adenosina deaminase: enzima que tem função importante na proliferação e na diferenciação dos linfócitos e na maturação dos monócitos. ➢ Contagem celular total e diferencial: predomínio de neutrófilos no líquido pleural indica processo agudo. Se a celularidade evidenciar predomínio de linfócitos (> 50% das células), as principais causas são malignidade e TB. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA ↠ Detecta uma pequena quantidade de líquido pleural (menor que 10 ml) (DANTAS; REIS., 2018). Pneumotórax ↠ O termo “pneumonotórax” se refere à existência de ar no espaço pleural. O pneumotórax provoca o colapso parcial ou completo do pulmão afetado (PORTH, 10ª ed.). CLASSIFICAÇÃO ↠ O pneumotórax pode suceder sem uma causa óbvia ou lesão (i. e., pneumotórax espontâneo) ou como resultado de uma lesão direta ao tórax ou às grandes vias respiratórias (i. e., pneumotórax traumático) (PORTH, 10ª ed.). ↠ O pneumotórax espontâneo primário (PEP) se apresenta sem um evento externo precipitante na ausência de doença pulmonar clínica (UPTODATE, 2022). ↠ O pneumotórax espontâneo secundário (PES) apresenta como complicação da doença pulmonar subjacente (UPTODATE, 2022). ↠ O pneumotórax traumático pode ser categorizado em: (UPTODATE, 2022). ➢ Iatrogênico: induzido por um procedimento médico (p. ex.: biópsia, cateterismo venoso central). ➢ Não iatrogênico: por trauma externo, podendo ser chamado também de “pneumotórax aberto”. ↠ Quando o defeito atua como válvula, permitindo a entrada dear durante a inspiração, mas não a sua saída durante a expiração, ele funciona efetivamente como uma bomba de ar, criando pressões progressivamente crescentes no pneumotórax hipertensivo, que podem ser suficientes para comprimir as estruturas mediastinais vitais e o pulmão contralateral (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck Manifestações clínicas ↠ As manifestações de pneumotórax dependem do tamanho e da integridade do pulmão subjacente (PORTH, 10ª ed.). ↠ Nos casos de pneumotórax espontâneo, as manifestações da doença por vezes incluem o desenvolvimento de dor torácica ipsilateral. Ocorre aumento quase imediato da frequência respiratória, muitas vezes acompanhado por dispneia, que se manifesta como resultado da ativação de receptores que monitoram o volume pulmonar (PORTH, 10ª ed.). ↠ Pode haver assimetria do tórax por causa do ar que estiver aprisionado na cavidade pleural no lado afetado. Essa assimetria pode se manifestar durante a inspiração como atraso no movimento do lado afetado, com retardo da inspiração até que o pulmão preservado atinge o mesmo nível de pressão que o pulmão com ar retido no espaço pleural. A percussão do tórax produz um som hiper-ressonante e os sons respiratórios se apresentam mais baixos ou inexistentes sobre a área do pneumotórax (PORTH, 10ª ed.). ↠ Nos casos de pneumotórax de tensão, as estruturas no espaço do mediastino se deslocam para o lado oposto da caixa torácica. Quando isto ocorre, a posição da traqueia, que normalmente se localiza na linha média do pescoço, se desvia junto com o mediastino. A posição da traqueia pode ser utilizada como um meio de avaliar o desvio do mediastino. Devido ao aumento na pressão intratorácica, ocorre uma redução do volume sistólico de tal ponto que o débito cardíaco é diminuído, apesar de um aumento na frequência cardíaca. Pode haver distensão da veia jugular no pescoço, enfisema subcutâneo (i. e., ar nos tecidos subcutâneos do tórax e pescoço) e sinais clínicos de choque devido ao comprometimento da função cardíaca (PORTH, 10ª ed.). ↠ Geralmente se desenvolve hipoxemia logo depois de um grande pneumotórax, seguida por vasoconstrição de vasos sanguíneos no pulmão afetado, fazendo o fluxo sanguíneo se deslocar para o pulmão não afetado. Em pessoas com pneumotórax espontâneo primário, esse mecanismo muitas vezes retorna a saturação de oxigênio ao normal no intervalo de 24 h (PORTH, 10ª ed.). ↠ A hipoxemia tende a ser mais grave em pessoas com doença pulmonar subjacente, nas quais se desenvolve pneumotórax espontâneo secundário ou em pessoas com doença cardíaca subjacente, que são incapazes de fazer a compensação por meio de um aumento na frequência cardíaca e no volume sistólico. Independentemente da etiologia, a hipoxemia causada pela perda parcial ou total da função pulmonar pode ser fatal (PORTH, 10ª ed.). ↠ Sem uma intervenção imediata, o aumento da pressão torácica prejudicará ainda mais tanto a função cardíaca quanto a função pulmonar, resultando em hipoxemia e hipotensão graves, que muitas vezes levam à parada respiratória e cardíaca (PORTH, 10ª ed.). Diagnóstico ↠ A suspeita do diagnóstico é feita pela história e pelo exame físico. Já́ a confirmação do diagnóstico é feita sempre por exames de imagem. A exceção a essa regra é a ocorrência de pneumotórax hipertensivo, situação que o diagnóstico presuntivo (sem a confirmação por exames de imagem) obriga ao imediato tratamento, tendo em vista a emergência médica e o risco de óbito. Nesse caso, a saída de ar sob pressão através da agulha/abocath ou do dreno de tórax confirma o pneumotórax (BARRETO, 2008). ↠ O exame de imagem habitualmente utilizado é a radiografia convencional de tórax de boa qualidade em incidência póstero-anterior e de perfil. A imagem característica é uma faixa de ar sem marcas vasculares entre a parede torácica e/ou diafragma e a pleura visceral. São necessários pelo menos 50 mL de ar para que o pneumotórax seja visível na radiografia em posição ereta (BARRETO, 2008). ↠ O consenso brasileiro de doenças pleurais adotou a medida da distância entre o ápice do pulmão e o ápice 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck do estreito superior da cavidade pleural. Caso essa distância seja maior que 3 cm, define-se o pneumotórax como de grande volume (BARRETO, 2008). Referências KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul; ASTER, Jon. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças, 9ª edição. Grupo GEN, 2016. NORRIS, Tommie L. Porth – Fisiopatologia, 10ª edição. Grupo GEN, 2021. BROADDUS, V. Courtney. Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória, 6ª edição. Grupo GEN, 2017. DANTAS; REIS. Protocolo de abordagem de derrame pleural. Revista Médica UFC, 2018. BARRETO, Sérgio S M. Pneumologia. (Série no Consultório). Grupo A, 2008. UPTODATE. Gary Lee. Pneumotórax em adultos: epidemiologia e etiologia, 2022.
Compartilhar