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27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=NbC7Eh9EwyMXRPHi%2flp8jQ%3d%3d&l=lnsn%2fOA0xTez%2fDOHDqhhyQ%3d%3d&cd… 1/24
TRABALHO	E	SUBJETIVIDADE
UNIDADE	1	–	MUNDO	DO	TRABALHO	E	SEUS
SIGNIFICADOS
Autoria: Patricia Kinast de Camillis – Revisão técnica: Sandra Regina Santana
Costa
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=NbC7Eh9EwyMXRPHi%2flp8jQ%3d%3d&l=lnsn%2fOA0xTez%2fDOHDqhhyQ%3d%3d&cd… 2/24
Introdução
Olá, caro estudante! Seja bem-vindo à disciplina Trabalho e subjetividade.
Se para você o trabalho pudesse ser uma escolha, você escolheria trabalhar ou não? A resposta para alguns
pode ser simples e direta; para outros, nem tanto, pois re�letiriam acerca de vários aspectos da sua vida. Isso
nos mostra a complexidade que envolve a temática do trabalho nos dias de hoje.
A compreensão a respeito do que é trabalho, sua utilidade, seu signi�icado e sua importância aos indivı́duos
mudou bastante ao longo da história, assim como as apropriações da Psicologia a respeito do tema. Nesta
unidade, conheceremos as visões acerca de trabalho e sua centralidade em uma perspectiva histórica. Além
disso, veremos como a Psicologia, em diferentes vertentes, analisa o signi�icado do trabalho. Ao �inal,
discutiremos o trabalho no século XX e como a modernidade lı́quida altera os conceitos acerca dessa temática.
Bons estudos!
1.1 Significado do trabalho 
Os sentimentos e as disposições subjetivas que atribuı́mos ao trabalho se alteraram ao longo do tempo,
conforme as mudanças em nossa sociedade. Bendassolli (2010), Borges e Yamamoto (2014) lembram que o
trabalho passa a ser tema para discussão, análise e crı́ticas quando o capitalismo cria necessidades de
integração do trabalho e o coloca como categoria-chave para de�inir o que é o humano.
O signi�icado do trabalho está relacionado ao que chamamos de “centralidade do trabalho”, que diz respeito à
sua importância na descrição de nossa identidade. Entretanto, para compreendermos a centralidade do
trabalho nos dias de hoje, precisamos entender seu percurso histórico. Vamos lá?
1.1.1 Tradições da centralidade do trabalho 
Em se tratando do mundo ocidental, começamos pelas tradições grega arcaica e clássica (século VIII a.C. ao
século IV a.C) e greco-romana (século III a.C. ao século V d.C.), de acordo com as quais o trabalho era
constituı́do por um conjunto de atividades ligadas à sobrevivência. Embora alguns pensadores gregos
a�irmassem que o trabalho degradava o corpo roubando tempo de re�lexão (atividade de ordem mais elevada),
a maioria da sociedade grega era formada por pequenos produtores rurais, com a visão depreciativa do
trabalho restrita a poucos. Entretanto, cabe pontuar que, para o pensamento grego, o trabalho não era em si um
fato degradante, mas sim a dependência formada entre o trabalhador e uma outra pessoa a quem se dirigia o
fruto da atividade laboral. O trabalho tinha valor somente quando era realizado para satisfazer às
necessidades do próprio trabalhador, e “[...] trabalhar para outro homem em troca de salário era inconcebı́vel
para os gregos” (BENDASSOLLI, 2010, p. 12). O artesão autossu�iciente era liberto, enquanto o camponês que
dependia de outro, não.
O lazer era um momento de tempo livre, algo que o indivı́duo usava para si mesmo. Assim, o problema com o
trabalho seria a sua incompatibilidade com a fruição dada ao ócio. O perı́odo de descanso entre perı́odos de
trabalho não era considerado lazer, mas diversão. Lazer não era descanso; estava relacionado ao cultivo da
mente por meio de atividades que tinham intenso valor em si mesmas. Dessa forma, segundo a tradição grega,
existia uma divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual – este sim tido como nobre.
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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Comparando o pensamento grego antigo com os dias atuais, vale uma re�lexão: o que temos em nosso tempo
de lazer? O perı́odo que passamos fora do trabalho é absorvido pelo consumo de bens ou serviços
dependentes do ciclo de trabalho, ou seja, só conseguimos consumir se trabalharmos. 
#PraCegoVer: trata-se da estátua de gesso de um homem sentado, com a mão esquerda no queixo,
simbolizando um momento de re�lexão do indivı́duo. Ele tem cabelos e barba encaracolados, está com o peito
nu e com um tecido atrás de suas costas que desce cobrindo suas pernas. A estátua está virada de lado em
campo aberto. Atrás dela, aparece o céu, com tons de azul, lilás e amarelo, e várias nuvens brancas.
 
De acordo com a tradição judaico-cristã, com ênfase nos séculos V ao XIII, o trabalho era, ao mesmo tempo,
castigo e salvação. E� interessante destacar que existem duas leituras ambı́guas acerca do signi�icado do
trabalho na Bı́blia: o pecado de Adão causou sua expulsão do paraı́so, obrigando-o a trabalhar. Assim, o
trabalho seria fonte de sofrimento, algo imposto. Porém, antes desse episódio, o trabalho não tinha nenhuma
conotação de pena ou di�iculdade. Para o teólogo Santo Agostinho (354-430), segundo Bendassolli (2010), por
exemplo, o trabalho do homem sobre a natureza tinha uma parcela de contemplação: o homem recebe de Deus
o material sobre o qual pode trabalhar e, assim, pode assumir um lugar também de criação. Entretanto, a ideia
que predominava para o Cristianismo era a de que havia uma natureza penitencial no trabalho. Bendassolli
(2010), Borges e Yamamoto (2014) lembram que o trabalho possuı́a uma forte conotação moral de obrigação
e culpa.
Ainda para a tradição judaico-cristã, no modelo de vida monástica, o trabalho era alvo de grande controle
disciplinar com uma rı́gida sequência de atividades para evitar o ócio e os vı́cios, relacionando o trabalho à
penitência. Porém, com o crescimento das cidades e do comércio, os trabalhadores precisavam de uma
justi�icativa religiosa que não visse o trabalho como castigo para que pudessem exercer suas atividades e
vocações. Conforme Bendassolli (2010), Borges e Yamamoto (2014), isso gerou uma mudança que viu o
trabalho como fonte de salvação. 
Por �im, temos a tradição renascentista (século XIV ao século XVI), de acordo com a qual o trabalho tinha
valor em si mesmo; era fonte de autorrealização: o próprio trabalho dava sentido à atividade. O trabalhador e
sua obra eram partes do mesmo conjunto, do qual o humano era o criador. Nessa tradição presente nas
Figura 1 - Estátua de Sócrates, importante �ilósofo grego
Fonte: Anastasios71, Shutterstock, 2020.
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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sociedades pré-capitalistas, o ser humano era visto como o homo	faber – construtor do seu próprio destino,
próprio mundo e de si mesmo, de forma livre e autônoma (BENDASSOLLI, 2010; BORGES; YAMAMOTO,
2014). Assim, o trabalho não estava dissociado da diversão ou do lazer, entendidos como a capacidade de
usufruir das coisas. Quando compreendemos o trabalho como criação, o prazer está ligado ao fato de que o
trabalhador “consome/desfruta” sua própria obra quando a realiza (BENDASSOLLI, 2010).
E atualmente, como se dá a relação entre o trabalhador e a obra produzida? Imagine alguém submetido a um
trabalho repetitivo, monótono e �isicamente desgastante, ou mesmo uma pessoa que trabalhe em um
escritório com ar-condicionado, mas sem autonomia ou liberdade para “consumir” sua própria obra.
Infelizmente, essa é a realidade de muitas pessoas. 
1.1.2 Centralidade do trabalho
A centralidade do trabalho trata do sentido e do valor das atividades laborais na vida humana e é uma das
premissas da discussão acerca do signi�icado do trabalho. Os demais princı́pios são: as atitudes e crenças em
relação ao trabalho, os resultados valorizados no trabalhoe os valores do trabalho (BENDASSOLLI, 2010).
CASO
Em uma grande indústria automobilıśtica, os trabalhadores descreveram algumas
táticas que visavam alterar as regras impostas pela empresa de modo a tirar proveito
delas. Em um dado momento, os gestores decidiram oferecer prêmios em dinheiro
para os trabalhadores que identi�icassem falhas cometidas pelo setor anterior ao seu
(considerando que o trabalho seguia um processo contıńuo de departamento para
departamento). Era uma medida de controle que se apoiava na vigilância de um setor
sobre o outro (de um grupo de trabalhadores sobre outros). O resultado foi
completamente diferente do que aquele que a instituição esperava: os funcionários
começaram a fazer acordos entre si para que um setor deixasse “passar um erro
pequeno” propositalmente. Assim, o colega de um departamento indicava o erro para
a supervisão, recebia a recompensa monetária e dividia o dinheiro com o colega que
havia errado. O caso mostra uma tentativa de controle esbarrando em uma estratégia
que, em um primeiro momento, poderıámos chamar de “malandragem”, mas que, no
entanto, mostra que os signi�icados e interpretações relacionadas ao trabalho estão
em jogo em ambos os lados – para patrões e empregados. 
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#PraCegoVer: uma mulher negra de cabelos presos vestindo uma camiseta cinza claro está segurando no colo
um bebê de cerca de um ano, também negro, vestindo uma camiseta verde claro. Apoiado sobre uma mesa
verde, ele está brincando com cubos de madeira em que aparecem letras. 
 
A pergunta que queremos responder é: qual a importância do trabalho no conjunto total da vida de uma
pessoa? A resposta sofre a in�luência de grandes transformações econômicas e culturais: o trabalho, que antes
fazia parte da vida social dos grupos e comunidades, agora é visto como mercadoria. Vivemos ainda as
transformações nos costumes: o trabalho deixou de ser desempenhado em casa, como subsistência, para
tornar-se um emprego regido pelas leis da divisão de tarefas e do gerencialismo. Surgem as categorias do
público e do privado: o trabalho é associado ao público, enquanto a vida familiar ou o lazer são vistos como
privados. E� claro que, com o advento das redes sociais em meio digital, isso muda bastante. 
Figura 2 - Qual é a importância do trabalho na sua vida?
Fonte: kate_sept2005, iStock, 2020.
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#PraCegoVer: trata-se de uma foto em preto e branco que mostra jovens meninos e meninas trabalhando na
sala de �iação do Cornell Mill em Fall River, Massachusetts. A foto foi tirada por Lewis Hine. Em uma sala
grande e com pé direito alto, há três �ileiras com máquinas de �iar, nas quais aparecem rolos de linhas. Há
alguns meninos sentados trabalhando e outros em pé, posando para a foto. 
 
A partir da Revolução Industrial (1760-1840), o tempo de trabalho tornou-se o tempo do relógio e o espaço de
trabalho passou a ser a fábrica. Atualmente, essas fronteiras �icam cada vez mais diluı́das.
A centralidade do trabalho é de�inida como a importância geral do trabalho na vida do indivı́duo se
comparado com outras atividades, como lazer, tempo com amigos e famı́lia. Entretanto, essa relevância
depende do passado cultural da pessoa e de sua socialização. Existe ainda uma diferença entre envolvimento
com o emprego (em uma organização) e envolvimento com o trabalho (mais geral). Por isso, para que
compreendêssemos as consequências da alta ou da baixa centralidade do trabalho para o indivı́duo com
relação ao comprometimento, considerando parâmetros organizacionais, foi elaborada uma escala composta
por seis itens. Clique nos ı́cones para conhecê-los:
O interesse pelo trabalho.
A importância de ser bem-sucedido no trabalho.
A presença de preocupações não ligadas ao
trabalho durante o expediente.
Figura 3 - Fábrica no inı́cio da Revolução Industrial
Fonte: Everett Collection, Shutterstock, 2020.
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A importância de estar a par do que ocorre no
ambiente de trabalho.
Repartição equitativa entre trabalho e não
trabalho.
Interiorização de papéis associados ao trabalho.
O resultado dessa escala, segundo Bendassolli (2010), é que a centralidade do trabalho varia em função das
percepções dos indivı́duos sobre o seu próprio emprego e das caracterı́sticas das funções laborais. Assim,
conforme Borges e Yamamoto (2014), se o trabalho não possuir um propósito, ou se não permitir autonomia,
uso da criatividade e controle dos próprios resultados, provavelmente não será central na vida do
trabalhador.
#PraCegoVer: trata-se uma montagem em que aparecem várias pessoas em frente a um grá�ico de barras
branco. Da esquerda para a direita, aparecem: um homem em pé vestindo terno e gravata segurando um
notebook preto; um homem sentado em uma das barras do grá�ico vestindo camisa social branca, gravata e
calça escuros com um notebook branco sobre as pernas; uma mulher em pé, de cabelos presos e usando um
conjunto branco; sentada na última barra do grá�ico, uma mulher vestindo calça preta, camisa social cor de
rosa e com um notebook branco sobre as pernas; em pé e de lado, com a mão direita na última barra do
grá�ico, uma mulher vestindo calça preta, uma camisa social de mangas compridas e um colar volumoso. 
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Figura 4 - Qual a importância de ser bem-sucedido no trabalho?
Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2020.
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Ao tratarmos da temática do signi�icado do trabalho e sua centralidade para os indivı́duos, é preciso
considerarmos as premissas relacionadas às atitudes e crenças com relação às atividades laborais. As
atitudes ajudam a predizer o comportamento de uma pessoa, uma vez que são consideradas pressuposições
de natureza cognitiva e afetiva e agem como estruturas normativas. A dimensão cognitiva envolve
representações, imagens e informações cristalizadas de conhecimentos acerca do mundo em que vive o
indivı́duo. A dimensão afetiva, por sua vez, compreende sentimentos ou emoções provocados pela interação
com o conhecimento a respeito de um dado aspecto da realidade, ou pela falta dele, ou por estados afetivos
associados à história de cada pessoa. O comportamento é resultado das dimensões cognitiva e afetiva quando
o indivı́duo se confronta com a realidade. Segundo Bendassolli (2010), o signi�icado do trabalho é também
uma representação, ou seja, um conjunto de imagens, informações e conceitos detidos pela pessoa em sua
experiência com o trabalho. 
As atitudes mais comuns são emprego, tarefa, ocupação e carreira. O trabalho percebido como emprego é um
meio para a obtenção de recursos �inanceiros necessários à sobrevivência, e é uma parte distinta do restante
da vida das pessoas. Quando o trabalhador alcança estabilidade e con�iança em seu trabalho, passa a
interpretá-lo como um conjunto de tarefas cuja realização ou desempenho depende de treinamento e
formação especı́�ica, associando o trabalho ao domı́nio de uma técnica e ao controle de certos resultados.
Conceber o trabalho como ocupação indica que o trabalhador já desenvolve um conjunto de
responsabilidades e uma identidade com relação ao objetivo global do trabalho. Assim, temos o
desenvolvimento de uma pro�issão, que é fundamental para o signi�icado da própria vida do indivı́duo-
trabalhador. Por �im, pode-se visualizar o trabalho como carreira, tendouma identi�icação com sua
realização pessoal e até mesmo sua personalidade, sendo uma forma de autoexpressão e de individuação. A
vida de muitas pessoas tem signi�icado pelo fato de possuı́rem e avançarem com maestria em uma carreira
que permite organizar suas experiências no campo do trabalho. Atualmente, para os autores Bendassolli
(2010) e Borges e Yamamoto (2014), sabe-se que nem todas as pessoas têm condições e oportunidade para
acessarem uma carreira, e a maioria permanece com uma atitude de trabalho-emprego.
Outra forma de abordar as atitudes e crenças com relação ao trabalho é relacioná-lo com a questão de
satisfação e insatisfação. Se o trabalho for compatı́vel com as crenças da pessoa, ela poderá ter mais ou menos
satisfação ou insatisfação. Nessa perspectiva, as crenças são um sistema que representa todas as expectativas
ou hipóteses, conscientes ou não, que um indivı́duo aceita como verdade sobre o mundo que vive, em um
dado momento.
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Existem cinco sistemas de crenças relacionados ao trabalho. O primeiro indica que o trabalho é algo bom em
si, porque dá dignidade às pessoas – acredita-se que todos deveriam trabalhar. O sucesso é ligado diretamente
ao esforço, enquanto a riqueza atesta o investimento pessoal no trabalho. O segundo sistema de crenças diz
respeito ao sistema organizacional, no qual o trabalho ganha signi�icado apenas quando in�luencia uma
organização (ou grupo) e contribui para a progressão na hierarquia organizacional, levando ao sucesso na
carreira organizacional. O terceiro sistema indica o trabalho como a principal forma de realização humana,
pelo qual o homem cria o mundo e a si mesmo. Para o sistema de crenças humanistas – o quarto sistema, o
trabalho também é uma fonte de autorrealização e de satisfação de necessidades de desenvolvimento pessoal,
ou seja, o foco do trabalho deve ser o desenvolvimento pessoal, e não a produtividade e seus resultados. Por
isso, as empresas deveriam enriquecer a experiência laboral de seus trabalhadores para descobrir e
desenvolver seus potenciais. Por �im, temos o sistema de crenças ligado à ética do lazer, de acordo com o qual
a realização humana ocorre no lazer, quando o indivı́duo escolhe como usar seu tempo e fazer o que lhe
interessa exercendo sua criatividade de maneira livre. De acordo com essa hipótese, o trabalho não tem
signi�icado em si mesmo, sendo apenas uma necessidade humana para a produção de bens e serviços e a
obtenção de renda.
Conforme Bendassolli (2010), compreender os principais sistemas de crenças possibilita à área de Recursos
Humanos ou de Gestão de Pessoas de uma organização (incluindo o pro�issional de Psicologia) desenvolver
uma gestão de pessoal compatı́vel com as ideias da maioria de seus membros.
Os valores do trabalho são de�inidos, conforme Bendassolli (2010, p. 91), “[...] como a importância que os
indivı́duos atribuem a certos resultados obtidos no contexto de trabalho”. Nesse sentido, precisamos
compreender a origem e a estabilidade desses valores, ou seja, por quais processos eles são adquiridos –
famı́lia, cultura, amigos etc. –, embora haja uma instabilidade no que se refere a valores, na medida em que
possuem importância relativa ao longo do tempo e das situações (culturas). 
VOCÊ QUER LER?
Algumas correntes defendem que, em vez de buscarmos felicidade no trabalho,
deverıámos ter como foco um propósito. A justi�icativa é a de que a felicidade é
passageira, enquanto o propósito, embora mais trabalhoso, é mais duradouro. Leia a
respeito dessa ideia em uma matéria da revista E� poca Negócios:
https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2019/07/por-que-voce-deve-
parar-de-buscar-felicidade-no-trabalho.html
(https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2019/07/por-que-voce-deve-
parar-de-buscar-felicidade-no-trabalho.html).
https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2019/07/por-que-voce-deve-parar-de-buscar-felicidade-no-trabalho.html
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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1.1.3 Função psicológica do trabalho
Na Psicologia, os estudos a respeito do signi�icado do trabalho e sua função psicológica possuem um marco
importante, que é o projeto Meaning of Work (MOW). O MOW foi realizado no ano de 1987 por uma equipe
internacional de oito paı́ses, que coletou dados de uma amostra de 8.749 pessoas. A pesquisa demonstrou que
o signi�icado do trabalho é um constructo multideterminado, ou seja, não se desenvolve apenas quando o
indivı́duo possui experiência pessoal com o trabalho e com as condições na qual ele é realizado; o signi�icado
do trabalho também é construı́do pelas in�luências sociais, polı́ticas, culturais, psicológicas, econômicas e
tecnológicas de uma determinada época (BENDASSOLLI, 2010).
O modelo proposto pelo MOW, de acordo com Bendassolli (2010), envolve três dimensões: variáveis
condicionais, variáveis centrais e consequências. As dimensões condicionais do signi�icado do trabalho
incluem: a situação familiar e a pessoal; a história laboral e o trabalho atual do indivı́duo; e o ambiente
macroeconômico. As variáveis centrais do signi�icado do trabalho são: centralidade do trabalho como um
papel de vida, normas sociais sobre trabalho, resultados valorizados no trabalho, importância dos objetivos
de trabalho e, também, a identi�icação com o trabalho como um papel. Na dimensão das consequências do
signi�icado do trabalho, estão as expectativas subjetivas no que tange às condições futuras de trabalho e os
resultados objetivos das atividades laborais.
A centralidade do trabalho foi de�inida pela equipe do projeto MOW como “[...] a importância do trabalho na
vida do indivı́duo em um dado momento de sua história pessoal” (BENDASSOLLI, 2010, p. 94). O valor do
trabalho envolve a identi�icação e o compromisso com as tarefas, bem como a decisão ao que diz respeito às
esferas preferidas de vida. Busca-se entender qual o peso do trabalho em relação a outros domı́nios da
existência (lazer, comunidade, religião, famı́lia).
A respeito das normas	sociais, existe uma orientação do trabalho como obrigação e como direito, envolvendo
a�irmações acerca de justiça no mundo laboral relacionadas ao indivı́duo e à sociedade. No que se refere aos
valores	do	trabalho, destacam-se: oportunidade de aprender, boas relações interpessoais, oportunidades de
promoções, carga horária de trabalho satisfatória, variedade, trabalho interessante, segurança no emprego,
ajuste entre requisitos do cargo e habilidades pessoais, pagamento, condições fı́sicas de trabalho e autonomia
(BENDASSOLLI, 2010).
Com relação aos padrões gerais de de�inições, o trabalho é de�inido como uma atividade que adiciona valor
por meio do seu desempenho e pelo qual se é responsável; uma atividade que provê afetos e identidade
positiva; algo que bene�icia os outros, mas que não precisa estar restrito a um local determinado. Existem
indivı́duos que de�inem o trabalho como uma atividade (geralmente fı́sica) que é preciso executar, dirigida
pelos outros e com local de desempenho que não lhe é próprio; há ainda de�inições que veem o trabalho como
uma atividade fı́sica e mentalmente extenuante. Por �im, existem indivı́duos que de�inem o trabalho como uma
atividade que ocorre em perı́odos determinados e que não permite a obtenção de afetos positivos
(BENDASSOLLI, 2010). Você se identi�icou com alguma de�inição?
Em resumo, Bendassolli (2010) explica que as de�inições do trabalho circundam eixos de valorização versus
desvalorização; conceito amplo versus conceito reduzido; produtivismo versus antiprodutivismo e
centralidade versus não centralidade. Esse é um campo bastante subjetivo.
27/11/2022 19:04 Trabalho esubjetividade
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=NbC7Eh9EwyMXRPHi%2flp8jQ%3d%3d&l=lnsn%2fOA0xTez%2fDOHDqhhyQ%3d%3d&c… 11/24
Agora, pense: o trabalho é um interesse central na sua vida? Para quem vive em um paı́s industrializado, a
resposta provavelmente será “sim”, embora nos últimos anos tenhamos vivido uma alteração para uma ênfase
maior no lazer. Entretanto, como as sociedades contemporâneas ainda não possuem outras formas de
distribuir bens e benefı́cios que não sejam pelo trabalho, este segue tendo um papel signi�icativo na
identidade pessoal. 
VOCÊ QUER VER?
A revista Exame listou 11 �ilmes que mostram o universo sombrio do trabalho.
Selecione alguns de seu interesse, assista e re�lita: podemos mudar essa realidade?
https://exame.com/carreira/11-�ilmes-que-mostram-o-lado-sombrio-do-mundo-do-
trabalho/ (https://exame.com/carreira/11-�ilmes-que-mostram-o-lado-sombrio-do-
mundo-do-trabalho/)
1.2 Representações sociais sobre o trabalho 
A representação social é um conjunto organizado de condições relativas a um objeto, isto é, um grupo de
informações, opiniões e crenças partilhadas pelos membros de uma população homogênea (BENDASSOLLI,
2010). Esse conjunto representativo é formado a partir de experiências individuais e de trocas interpessoais
que se tornam normatizadas e são usadas para explicar e lidar com a realidade. Segundo Bendassolli (2010),
uma representação social pode ser estudada em termos de sua origem, evolução, transformação e
estabilidade. 
1.2.1 O sujeito do trabalho
Em uma população de desempregados, a representação social do trabalho está relacionada à remuneração
recebida (benefı́cios materiais) e é vista como um meio de ser socialmente útil enquanto fonte de integração
pessoal, como obrigação e necessidade de adaptação. Por outro lado, quando tratamos de indivı́duos
empregados, o tipo de atividade que uma pessoa exerce determina a sua representação em relação ao trabalho.
Por exemplo, pro�issionais liberais tendem a de�inir o trabalho com mais caracterı́sticas, enquanto operários
de�inem o trabalho de forma mais próxima às atividades realizadas.
Além da diferença que existe entre representações sociais de acordo com o exercı́cio de uma determinada
atividade, a percepção de uma remuneração correspondente é ponto central para o indivı́duo considerar algo
como trabalho. Existe uma mistura entre fatores pessoais e sociais quando se trata do signi�icado do trabalho
https://exame.com/carreira/11-filmes-que-mostram-o-lado-sombrio-do-mundo-do-trabalho/
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em um determinado momento sócio-histórico.
Acerca de desemprego, discute-se, também, a sua relação com saúde mental e o impacto sobre o bem-estar
psicológico. O desemprego desorganiza a experiência temporal de rotinas e quebra a regularidade de vivências
sociais compartilhadas no trabalho como, por exemplo, relações com outras pessoas fora do núcleo familiar;
ele desconecta os indivı́duos de objetivos e propósitos sociais. Além disso, afeta a identidade e o status	social
do indivı́duo, pois perde-se a referência de posicionamento em uma estrutura interdependente de papéis e de
poder. O desemprego de longa duração pode levar a uma perda dos processos identitários, tanto pro�issionais
quanto sociais, e ainda provocar quadros de depressão (BENDASSOLLI, 2010).
E� necessário pontuar que o desemprego afeta também a representação que cada indivı́duo tem de si mesmo
(autoconceito), o que gera menos satisfação com a vida e um menor nı́vel percebido de competência. Há a
redução dos ganhos �inanceiros, das metas e objetivos de vida, a diminuição da capacidade de tomada de
decisões, o menor desenvolvimento de conhecimentos e habilidades pessoais, o aumento da insegurança
sobre o futuro, a restrição de contatos interpessoais, entre outros. Tudo isso mostra, mais uma vez, a riqueza
do trabalho como categoria psı́quica fundamental.
Vale dizer que a Psicologia pode aproveitar esse momento para fazer o indivı́duo pensar a respeito do
signi�icado do trabalho em sua vida, encarando o desemprego como uma etapa de transição, e assim
confrontar o sujeito com suas próprias escolhas, valores, possibilidades e desejos. Dessa forma, estimular a
re�lexão acerca de outras identidades do indivı́duo para além do trabalho (relacionadas a sua comunidade, por
exemplo).
Temos ainda a relação entre trabalho e identidade, com a distinção entre identidade pessoal e social. A
identidade	 pessoal se refere à imagem que o indivı́duo tem de si mesmo, valorizando aquilo que lhe é
singular e próprio; é uma perspectiva essencialista, que considera a primazia de um self interior, autônomo e
relativamente estável. A identidade	social, por sua vez, é a representação que o indivı́duo dá a si mesmo
quando pertencente a um grupo; é uma perspectiva relativista, para a qual “[...] a identidade depende das
normas e objetivações sociais e valoriza noções como papel, posição social ou classe social” (BENDASSOLLI,
2010, p. 54). A identidade social também depende de comparações intra e intergrupos, ou seja, as pessoas se
sentem diferentes membros de outros grupos, mas semelhantes aos membros de seu grupo.
O que a Psicologia tem a dizer a respeito de trabalho e identidade? Nesse sentido, a área pode contribuir com a
re�lexão dos indivı́duos acerca de suas experiências com o trabalho, o papel deste em suas biogra�ias e sobre a
própria existência pessoal.
1.2.2 Fundamentos modernos do significado do trabalho
Há quatro fundamentos da moderna centralidade do trabalho. Clique nos ı́cones para conhecê-los: 
 
 
valor-trabalho;
trabalho-dever;
trabalho e subjetividade;
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trabalho e moral.
A teoria do	valor-trabalho, introduzida pelo vocabulário econômico, entende o trabalho como o principal
responsável pela criação de valor, e assim o separa de uma fonte espiritual ou criativa. A criação de valor via
trabalho se dá em função da divisão do trabalho, em que o ofı́cio é simpli�icado, especializado e associado à
máquina, aumentando sua potência produtiva. Isso inicia toda uma trajetória de centralidade do trabalho, pois
ele deixa de ser fonte de sofrimento (BENDASSOLLI, 2010; BORGES; YAMAMOTO, 2014). Assim, o trabalho
ganha uma centralidade como manifestação da identidade do homem, não mais ligada a Deus e nem à
comunidade, mas na otimização dos interesses e da riqueza pessoal. O ser humano é um indivı́duo
autointeressado, e não mais ligado à cultura coletivista judaico-cristã. Em resumo, o trabalho se torna uma
propriedade individual e, assim, cada indivı́duo pode perseguir seus próprios interesses, satisfazer seus
gostos e preferências individuais, em um mercado livre, longe das amarras da moral religiosa. 
Outro fundamento da moderna centralidade do trabalho diz respeito à atividade laboral enquanto dever
(trabalho-dever). Aqui, aparece o éthos	protestante com relação ao trabalho, relacionando-o com o “dever”,
cuja prestação de contas não se dá mais com Deus, mas com o próprio indivı́duo e sua consciência. A vocação
se transforma em pro�issão, mantendo as conotações de dever, método e disciplina, coerentes com o
vocabulário econômico-capitalista (BORGES; YAMAMOTO, 2014). Nesse contexto, o trabalho é fonte de
reconhecimento social, pessoal, mas uma realização também divina, a qual digni�ica o homem.
Na relação entre trabalho	e	subjetividade, “[...] o sujeito do trabalho é uma instância que abarca todas as
experiências humanas” (BENDASSOLLI, 2010, p. 23) e é o principal eixo de externalização de uma pessoa. Para
descrevermos quem somos, utilizamos a ideia de indivı́duo que trabalha,cujo sentido da existência é extraı́do,
em grande parte, do trabalho. Assim, constrói-se uma subjetividade a partir de uma nova valorização do
trabalho e a seu sentido de de�inição da existência humana.
Por �im, o trabalho liga-se ao caráter moral dos indivı́duos (trabalho	 e	 moral), sendo uma forma de
disciplina. Bendassolli (2010) lembra que, nas sociedades industriais – ou mesmo pós-industriais –, tornou-
se natural medir seu próprio valor pelo trabalho. Nesse contexto, a solidariedade e a coesão social não
estariam mais na religião, mas no trabalho, que possibilitaria a formação de uma consciência de
interdependência entre as pessoas. Dessa forma, o trabalho tem a possibilidade de fundar um novo regime
moral, permitindo ao indivı́duo se realizar e se vincular aos outros (BENDASSOLLI, 2010; BORGES;
YAMAMOTO, 2014).
1.3 Dimensões e estrutura organizacional
Para que possamos compreender a dinâmica dos processos empresariais, precisamos caracterizar e entender
a estrutura organizacional. De acordo com Srour (2012, p. 69), “[...] as organizações podem ser de�inidas
como coletividades especializadas na produção de um determinado bem ou serviço. Elas combinam agentes
sociais e recursos, de forma a economizar esforços e tornar seu uso e�iciente”. As organizações são
coletividades que surgem para o alcance de um objetivo com um arranjo próprio para �ins especı́�icos. São
unidades de ação e decisão que possuem necessidades e interesses. As relações que estruturam as
organizações são coletivas, embora existam vı́nculos entre indivı́duos que envolvem subjetividades dos
agentes individuais. Em seu cerne, as organizações operam pela lógica das relações coletivas, razão pela qual
a Psicologia precisa de outros referenciais teóricos – de áreas como Sociologia, Antropologia e Administração
– para abordar o campo das organizações. 
1.3.1 Organizações como produto do trabalho humano coletivo
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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O sujeito do trabalho é construı́do a partir de uma visão moderna de trabalho com a introdução de um
vocabulário econômico (antes da Revolução Industrial, por exemplo, não existia a palavra “salário”). Assim, o
trabalho ganha uma nova organização conforme sua divisão e racionalização. O resultado disso é que os
meios de sobrevivência de todos são alterados.
A empresa e a indústria passam a ser os locais do trabalho e começam a ser organizadas para tal. Para Srour
(2012), as organizações formam um espaço em que agentes	sociais (trabalhadores e donos), munidos de
instrumentos	 de	 trabalho, processam matérias-primas (realizam o trabalho) e as transformam em
produtos ou serviços	�inais. Dentro desse espaço, as relações de�inem, então, o modo como os agentes se
relacionam entre si em decorrência de sua atuação no processo de trabalho. Dessa forma, temos o aspecto
operacional ou operativo da produção, no qual os agentes	da	gestão (donos e gestores) e os agentes	 da
execução (trabalhadores) se situam frente a frente (SROUR, 2012).
Por sua vez, as relações de propriedade de�inem o modo como os agentes se relacionam em função da
capacidade que uns têm de apropriar-se dos excedentes econômicos que o trabalho gera. Essas relações
subordinam os relacionamentos de trabalho, mas são indissociáveis. Em ambas as relações, segundo Srour
(2012), os agentes podem ocupar, de forma isolada ou de maneira conjugada, posições de proprietário, gestor
e trabalhador. Vale destacar que todo agente individual porta um conjunto de relações coletivas. Embora seja
um indivı́duo singular, no dia a dia das práticas sociais, encarna ou dá vida a vários agentes coletivos. Por
isso, é importante entendermos os conceitos de relações	sociais e de agentes	coletivos, uma vez que ambos
servem de ferramentas indispensáveis para compreendermos as articulações que perpassam o espaço social
da organização.
Além disso, os conceitos de relações sociais e agentes coletivos contribuem, de acordo com Srour (2012),
para a percepção da enorme complexidade da realidade social, pois fornecem elementos importantes para
entendermos os con�litos intra e interorganizacionais quando captam a diversidade dos interesses em jogo.
Ajudam a não confundir vontades individuais e coletivas, embora os próprios agentes individuais suportem e
atualizem os interesses das coletividades. Ao analisarmos uma estrutura organizacional qualquer, iremos nos
deparar com diferentes tipos de relações. Ou seja, relacionamentos coletivos que articulam classes sociais e
categorias sociais (relações estruturais); vı́nculos coletivos que vinculam organizações e seus públicos
(relações de consumo); e uniões interindividuais que conectam agentes individuais entre si (relações
interpessoais).
De modo geral, toda organização possui uma infraestrutura material (instalações e equipamentos), que opera
segundo uma determinada divisão do trabalho, e dispõe de algum mecanismo de substituição do pessoal. Ela
possui um universo simbólico composto pelos saberes (patrimônio intelectual) e por padrões	 culturais
que são aprendidos e praticados pelos agentes sociais que fazem parte dela. Tudo isso é perpassado, segundo
Srour (2012), por um sistema	de	poder, que se traduz em mecanismos especı́�icos por meio dos quais o
controle é exercido. 
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#PraCegoVer: um homem vestindo calças jeans e camisa de mangas compridas azul claro está de costas, com
as mãos na cintura, olhando para uma parede em que está desenhado um organograma com campos circulares
vazios. 
 
Assim, toda organização funciona como unidade	produtiva, entidade	política e agência	cultural, segundo
Srour (2014). Em termos econômicos, as relações de produção demarcam o processo de produção e a troca
de bens e serviços para satisfazer a diferentes necessidades. Em termos políticos, as relações de poder
marcam o processo de enfrentamento de diferentes forças sociais para satisfazer interesses. E por �im, em
termos simbólicos, as relações culturais têm em seu bojo o processo de elaboração e difusão de
representações imaginárias (discursos ou mensagens) para satisfazer expectativas.
As organizações, sendo espaços sociais, constituem terreno de contradições em que agentes coletivos se
defrontam com base em interesses divergentes e em crenças ou éthos	dissonantes. A colaboração dos agentes
com os objetivos organizacionais depende de processos de negociação, de cooptação ou de submissão em
função do medo que eles têm de perder vantagens, posições ou emprego e também está condicionada por
mecanismos de persuasão. Permeando tudo isso, os indivı́duos ainda possuem seus valores, orientações,
crenças e atitudes com relação ao trabalho, que se expressam de diversas formas no ambiente organizacional,
re�letindo de maneira positiva ou negativa em seu desempenho no trabalho – por sua vez, isso re�letirá no
desempenho organizacional.
1.3.2 Psicologia e trabalho
Primeiramente, é preciso lembrar que a Psicologia surge da valorização do indivı́duo e de sua subjetividade
(ou vida interior), reconhecendo um espaço legı́timo para a individualidade. De acordo com Bendassolli
(2010), é uma caracterı́stica tipicamente ocidental o fato de nos concebermos como seres independentes, com
desejos, sonhos e necessidades próprias. Temos, assim, o pressuposto geral da individualidade, que pode se
associar a outras ideias para gerar diferentes signi�icados para o trabalho. 
Figura 5 - Relações de poder
Fonte: Song_about_summer, Shutterstock, 2020.
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Inicialmente,a Psicologia Organizacional foi conhecida como Psicologia Industrial e tinha como foco o
desenvolvimento de técnicas para a seleção e treinamento de pessoal. O nome Psicologia Organizacional
surgiu a partir de teorias a respeito do desenvolvimento e comportamento organizacional quando, por volta
dos anos de 1980, surge a preocupação com as condições de trabalho, com a saúde e com as doenças
relacionadas ao desempenho de alguma tarefa laboral. Segundo Bendassolli (2010), existem três abordagens
no campo da Psicologia Organizacional: o desenvolvimento pro�issional, o desempenho pro�issional e a
satisfação no trabalho.
Na perspectiva do desenvolvimento	pro�issional, o trabalho é algo que se aprende e uma forma de transição
da infância para a vida adulta. Quando dominamos um conjunto de tarefas, esse domı́nio contribui para o
nosso senso de identidade. E� importante destacar que existe uma associação entre trabalho e desenvolvimento
pessoal. Podemos encontrar distintas linhas de subjetivação, porém, o trabalho ainda é a linha mais
dominante.
O trabalho preenche três funções essenciais de desenvolvimento: permite a sobrevivência do indivı́duo, sua
reprodução, senso de independência e autonomia �inanceira; permite ao indivı́duo criar-se e criar a sociedade
em que vive “humanizando”; permite haver o vı́nculo e o contato com outros seres humanos. Dessa forma,
conforme Bendassolli (2010), para o indivı́duo, o trabalho é meio de desenvolvimento e organização psı́quica
e, do ponto de vista social, é um tipo de processo civilizador que integra aspectos de sua própria
personalidade com demandas provenientes de estruturas sociais.
Por muito tempo, a responsabilidade pelo desenvolvimento pro�issional era atributo da área de Recursos
Humanos ou da Gestão de Pessoas. Ainda hoje, muitos trabalhadores consideram que um bom lugar para
trabalhar é onde existem oportunidades de crescimento pessoal e pro�issional, com treinamentos,
experiências diversi�icadas e desa�iadoras.
Na abordagem do desempenho	pro�issional, existem duas orientações: uma descritiva e a outra normativa.
A descritiva apresenta um conjunto de comportamentos ou caracterı́sticas que gera algum resultado no
ambiente, ou seja, alguma ação é realizada. De acordo com Bendassolli (2010), para que essa ação ocorra, são
necessários processos psicológicos fundamentais de categorias afetivas (vontade, disposição) e categorias
cognitivas (possuir conhecimentos, competências e habilidades). Na orientação normativa, o foco está no
desempenho como ação geradora de resultados no ambiente, ou seja, transformações no mundo. Por isso,
utiliza critérios de valor para avaliar se um desempenho atinge ou não determinados padrões estipulados
previamente ou aceitos pelo grupo (organização).
Aqui, existem três grandes questões: 
 
Considerando a mesma tarefa, a resposta recai sobre a personalidade, os valores e os fatores
cognitivos individuais. 
O foco está nos fatores do ambiente: condições de trabalho e recursos disponı́veis. 
•
•
•
Por	que	há	variações	de	desempenho?
Em	quais	situações	os	indivíduos	se	desempenham	melhor?
O	que	ocorre	quando	alguém	está	se	desempenhando?
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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De acordo com Bendassolli (2010), a perspectiva do desempenho entende o trabalho como atividade geradora
de valor (econômico, social ou outro). Se for valor econômico, estamos tratando de emprego. Nesse caso, as
discussões giram em torno do que o indivı́duo teria que fazer, do desempenho esperado, do desempenho real,
como se dá a motivação e a satisfação (que geram desempenho superior), além de fatores ligados a
organização e controle do trabalho. O desempenho no trabalho também pode estar ligado a ajustamento
social; assim, observa-se que existem instruções normativas e padrões que conduzem a ações que são fatores
socioculturais para “medir” um bom ou mau desempenho. Na perspectiva do desempenho, o trabalho é visto
como uma atividade, uma tarefa a partir da qual se alcançam determinados resultados para o indivı́duo e para
a organização em que trabalha. Na perspectiva do indivı́duo, pode existir uma correlação positiva entre
desempenho, autoestima e satisfação. Atualmente, segundo Bendassolli (2010), a mentalidade de
desempenho pro�issional se disseminou para além do campo do trabalho e virou sinônimo de e�iciência no
amor, na famı́lia, no trato com as coisas públicas – tudo é medido com a mesma régua do trabalho.
De acordo com Bendassolli (2010), uma vez que exista uma estreita relação entre o valor, a importância e o
signi�icado do trabalho para o indivı́duo e suas expectativas de satisfação, é comum confundirmos a
centralidade do trabalho com o relacionamento que a pessoa tem com o emprego. Assim como se confunde
satisfação com implicação afetiva ou comprometimento no trabalho, é comum confundir satisfação com
motivação no trabalho. Dessa forma, o ponto central é a ideia de necessidade. Todo ser humano possui
carências, cuja satisfação impulsiona a ação. No caso da não satisfação de alguma necessidade, o resultado é a
tensão, a ansiedade ou o mal-estar. De qualquer forma, existe uma preocupação com o contentamento no
trabalho, pois há uma crença de que a satisfação se relaciona positivamente com o desempenho, de modo a
resultar em boa produtividade: se o indivı́duo está bem, tendo boas condições de trabalho, logo o trabalho em
si não será fonte de sofrimento.
A satisfação também pode estar relacionada com o fato de o trabalho ter propósito e coerência para as
pessoas. Mesmo assim, segundo Bendassolli (2010, p. 48), “[...] o trabalho pode ser organizado de tal forma
que estimule a adesão dos trabalhadores e de fazê-lo corresponder aos fatores intrı́nsecos da motivação
(aquilo que é do próprio individuo), sendo mais do que uma relação salarial”. Nesse contexto, a Psicologia
pode tratar da organização real do trabalho como responsável pelos quadros de sofrimento, apatia,
desinteresse e alienação do trabalhador. 
O objetivo é compreender o processo de desempenhar-se enquanto ocorre, considerando
desempenho e resultado como dimensões distintas. 
1.4 Trabalho e subjetividade no mundo contemporâneo  
Expressamos nossa subjetividade em pensamentos, condutas, emoções e ações. No pensamento �ilosó�ico
grego, de acordo com Davel e Vergara (2010, p. 14), “[...] subjetividade é aquilo que é fundamental ao ser
humano e que permanece subjacente”; é tudo que constitui a individualidade humana e lhe é singular.
Entretanto, a subjetividade é um fenômeno posicional e contingente, ou seja, decorre das relações que a
pessoa estabelece; ela permite compreender a experiência humana em sua forma mais complexa, rica e
profunda.
1.4.1 Trabalho no século XX 
O século XX foi o século do trabalho, institucionalizado nos âmbitos social, polı́tico e econômico. As
discussões relacionadas ao tema envolvem questões como cidadania, inserção social, liberdade e autonomia,
qualidade de vida e, em especial para a Psicologia, a de�inição da identidade dos indivı́duos. Entretanto, de
acordo com Bendassolli (2010, p. 27):
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[...] o mesmo século XX que viu surgir a civilização do trabalho, formada pela produção industrial,
pela ética protestante e pelos trabalhadores operários como �iguras extremamente importantes,
viu também transformações severas, em especial no campo do emprego. 
Vale lembrar que o emprego é o formato institucionalizado do trabalho no ocidente industrial.
#PraCegoVer: uma mulher de cabelos loiros e cacheados está em pé dentro de uma indústria sorrindo para a
foto. Ela veste uma camisa xadrez azul e vermelha, calça jeans e coturnosde cor marrom claro. Está usando
um relógio no pulso esquerdo e tem as unhas pintadas de branco. Está usando um capacete laranja, carrega
Figura 6 - Trabalho industrial
Fonte: aydinmutlu, iStock, 2020.
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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protetores de ouvido apoiados no pescoço, luvas amarelas penduradas na cinta da calça e segura com as duas
mãos um tablet cinza claro. O chão é vermelho, com linhas amarelas e desenhos de pegadas amarelos. Atrás,
há várias caixas de papelão e máquinas. 
 
Temos visto cada vez mais a redução de postos de trabalho em função de inovações tecnológicas, além da
conversão da “sociedade de produção” para a sociedade de serviço. Em termos subjetivos, a Psicologia tem
mostrado que as pessoas estão criando cada vez menos expectativas com relação ao trabalho, como se a
con�iança idealizada em seu papel de realização pessoal e de produtor de identidade fosse cada vez menor
(BENDASSOLLI, 2010; BORGES, YAMAMOTO, 2014).
Hoje, as diversas tradições apontadas anteriormente convivem sem haver a prevalência de uma delas. E� uma
verdadeira colcha de retalhos acerca do papel do trabalho na constituição da subjetividade, ora central, ora
periférico. Entretanto, podemos identi�icar cinco crenças (ou éthos)	com relação ao signi�icado do trabalho: o
moral-disciplinar, o romântico-expressivo, o instrumental, o consumista e o gerencialista. Cada um carrega
um pouco das tradições históricas do trabalho (BENDASSOLLI, 2010; BORGES; YAMAMOTO, 2014). 
 
Éthos moral-disciplinar
Enfatiza o dever de trabalhar e os aspectos
normativos dessa atividade, realçando o caráter
reprodutivo e coletivo do trabalho.
Éthos romântico-expressivo
Realça a natureza expressiva do trabalho, seu
potencial de concretizar a verdadeira essência
humana por meio de sua obra, a qual o indivıd́uo
domina e executa com maestria.
Éthos instrumental
Enfatiza a dimensão liberal do trabalho, ou seja, é
uma troca submetida à lógica capitalista da
e�iciência, resumido no emprego.
Éthos consumista
Entende o trabalho como meio de acesso a um
prestıǵio social que vem por meio da aquisição de
bens de consumo que geram prazer e satisfação.
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Éthos gerencialista
Apresenta o trabalho como sinônimo de carreira
e “marca própria”, integrando qualidade de vida,
sobrevivência, expressão de si e consumo em
uma única forma de gestão na qual somente o
indivıd́uo é responsável.
Assim, há repertórios de signi�icados do trabalho que, geralmente, contribuem para os processos de
subjetivação, de maneira cruzada, com in�luências simultâneas, via instituições, via grupos de pertencimento.
Ao longo da vida, o indivı́duo pode deslocar-se de um éthos para outro, o que inevitavelmente causa con�litos.
Quando a�irmamos que a centralidade do trabalho está sendo desmontada, na verdade, estamos indicando que
seu signi�icado é plural, o que di�iculta a sua de�inição na atualidade e torna mais difı́cil explicar a
participação do trabalho em processos subjetivos, como os que são investigados pela Psicologia
(BENDASSOLLI, 2010; BORGES; YAMAMOTO, 2014).
1.4.2 Trabalho na modernidade líquida 
Hoje, vivemos em um mundo conectado virtualmente, globalizado, dinâmico e competitivo, no qual o
conhecimento possui grande valor e onde cada vez mais se trabalha dentro de uma lógica de serviços e menos
de produção.
Pense na quantidade de apps que você tem no seu celular e no número de serviços que esses mecanismos
oferecem. Essa lógica de serviços exacerba a sociedade do consumo, que, embora indique que o mundo não é
uma mercadoria, apresenta a caracterı́stica da instantaneidade. Essa �luidez, o instantâneo, o ágil, o rápido é o
que Bauman (2001) chama de modernidade	 líquida, na qual as relações são instantâneas e devem
proporcionar prazer imediato, com agilidade para que sejam valorizadas. O duradouro deixa de ter valor; o
momentâneo ocupa o lugar.
Isso se re�lete nas relações de trabalho e no trabalho em si – e, paradoxalmente, é re�lexo dessas mudanças. O
trabalho agora é, na maioria dos casos, “descorpori�icado”, e o capital viaja rápido e leve. Tudo pode ser
facilmente fragmentado, uma vez que os laços econômicos não são mais duradouros. Pense em alguns
exemplos: uma rede de hospedagem que não é proprietária de nenhum imóvel (Airbnb), uma empresa de
transporte privado que não possui veı́culos próprios (Uber), uma organização de comércio eletrônico sem
estoques (Ebay), entre outros. Sem fazer julgamento de valor quanto à importância e às utilidades desses
negócios, a intensão é mostrar sua virtualidade, agilidade e a falta de noção de território e de quem são os
trabalhadores dessas empresas. O capital não está preso a máquinas pesadas, mas viaja facilmente em
notebooks e celulares.
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Nesse cenário, as relações de trabalho são facilmente feitas e desfeitas e possuem como caracterı́sticas a
�lexibilidade e o curto prazo. De acordo com Bauman (2001 p. 160), “[...] o trabalho adquiriu – ao lado de
outras atividades da vida – uma signi�icação principalmente estética [...]. Raramente espera-se que o trabalho
‘enobreça’ os que o fazem, fazendo deles ‘seres humanos melhores’[...]”, sendo mais um estı́mulo e uma
condição para o consumo. Segundo Bauman (2001), quando passamos a tratar o trabalho com esse enfoque de
e�iciência (devido ao excesso de competição global) e curto prazo, o resultado é um processo de precarização,
uma vez que o trabalho já não possui mais garantias e perspectivas sólidas e assume um panorama episódico,
no qual existem poucas chances de lealdade e compromisso mútuos. A nova identidade do trabalho é marcada
pela fugacidade e, assim como a maioria das relações na modernidade lı́quida, as pessoas estabelecem laços
(mesmo que frágeis) por alguns dias e sentem-se à vontade para irem embora a qualquer momento. Quando
não percebem vantagens su�icientemente satisfatórias, existe notadamente um desengajamento e um
enfraquecimento dos vı́nculos entre capital e trabalho.
O trabalhador moderno deve ter uma postura �lexı́vel, subordinável, ágil, aberta a mudança em curto prazo e
boa adaptabilidade para conviver com um ambiente de incertezas; precisa saber lidar constantemente com
crises e caos. Conforme Bauman (2001), a consequência dessas exigências são trabalhadores cada vez mais
desmotivados e descomprometidos com suas funções, descon�iados sobre suas próprias potencialidades e
desvinculados de suas tarefas. 
VOCÊ QUER LER?
Você sabe o que é a “uberização do trabalho”? Para conhecer esse termo e descobrir as
consequências por trás das inovações no trabalho, leia o artigo "Uberização: do
empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado". Clique no link e
aproveite:
https://www.psicoperspectivas.cl/index.php/psicoperspectivas/article/viewFile/1674
/1079
(https://www.psicoperspectivas.cl/index.php/psicoperspectivas/article/viewFile/167
4/1079).
https://www.psicoperspectivas.cl/index.php/psicoperspectivas/article/viewFile/1674/1079
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=NbC7Eh9EwyMXRPHi%2flp8jQ%3d%3d&l=lnsn%2fOA0xTez%2fDOHDqhhyQ%3d%3d&c… 22/24
As organizações modernas lı́quidas também possuem caracterı́sticas mais “soltas”. Utilizando muito pouco
vocabulário ligado a controle centralizador e hierárquico, elas valorizam o autogerenciamento e a
individualidade. Muito recentemente, surgiu o termo “uberização do trabalho” (ABILIO, 2017) se referindo a
uma nova forma degestão e organização do trabalho, a qual é dispersa sem se perder o controle e cujo
gerenciamento se dá com base em algoritmos que reúnem diversas informações a respeito do trabalho. O
trabalhador �ica à disposição da empresa, porém, sem clareza e controle acerca de como o seu trabalho é
disponibilizado e remunerado. Existe, assim, um misto confuso entre a �igura de trabalhador e empresário no
discurso de “seja seu próprio chefe”.
Nesse contexto, ainda temos muitas incertezas e imprecisões quanto ao papel do trabalho nos processos de
subjetivação dos indivı́duos. Qual será a função psicológica do trabalho? Como será o sujeito desse trabalho?
E qual o signi�icado do trabalho nos padrões descritos anteriormente?
O assunto é bastante amplo. Por isso, continuaremos nossa discussão na próxima unidade.
Até logo!
VOCÊ O CONHECE?
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês que nasceu em 1925 e faleceu em 2017, foi
professor da London School of Economics. Ele cunhou o conceito de “modernidade
lıq́uida”, tão importante para entendermos a atualidade. Para conhecer um pouco
melhor as ideias de Bauman, leia uma entrevista em que ele esclarece alguns pontos
de sua análise:
https://www.fronteiras.com/entrevistas/a-�luidez-do-mundo-liquido-de-zygmunt-
bauman (https://www.fronteiras.com/entrevistas/a-�luidez-do-mundo-liquido-de-
zygmunt-bauman).
Conclusão
Embora tenhamos elementos sociais e culturais relacionados ao trabalho, a Psicologia tem seu papel na
compreensão do fenômeno e nas discussões contemporâneas a respeito do tema, uma vez que o indivı́duo e
suas relações são elementos-chave para a subjetividade. Conforme estudamos, o trabalho assume diferentes
perspectivas, a depender da individualidade de cada pessoa. 
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
compreender o conceito de centralidade do trabalho; •
https://www.fronteiras.com/entrevistas/a-fluidez-do-mundo-liquido-de-zygmunt-bauman
27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=NbC7Eh9EwyMXRPHi%2flp8jQ%3d%3d&l=lnsn%2fOA0xTez%2fDOHDqhhyQ%3d%3d&c… 23/24
conhecer as tradições e os fundamentos modernos do significado
do trabalho;
compreender o papel da Psicologia na relação entre sujeito e
trabalho.
•
•
Bibliografia
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Disponı́vel em (https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/22/uberizacao-do-trabalho-subsuncao-real-da-
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27/11/2022 19:04 Trabalho e subjetividade
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