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Nossos músculos têm duas funções em comum: produzir movimento e gerar força. Nossos músculos esqueléticos também geram calor e contribuem de forma significativa para a homeostasia da temperatura corporal. Quando o frio ameaça a homeostasia, nosso sistema nervoso pode promover tremores musculares aumentando a produção de calor. A maioria dos músculos esqueléticos está unida aos ossos do esqueleto, o que capacita esses músculos a controlarem os movimentos corporais. Os músculos esqueléticos, em geral, são descritos como músculos de contração voluntária. Entretanto, essa classificação não é precisa. Os músculos esqueléticos podem contrair-se independentemente do controle consciente e, além disso, pode-se aprender a ter um certo grau de controle consciente influenciando alguns músculos lisos e o músculo cardíaco. Os músculos esqueléticos são singulares, pois contraem apenas em resposta ao sinal proveniente de um neurônio motor somático. Esse tipo de músculo é incapaz de iniciar a sua contração de maneira independente. Além disso, a contração não é influenciada diretamente por hormônios. Eles são responsáveis pelo posicionamento e o movimento do esqueleto, como seu próprio nome sugere. Em geral, os músculos esqueléticos estão ligados aos ossos pelos tendões, estruturas constituídas por colágeno. Quando os ossos fixados a um músculo estão conectados por uma articulação móvel, a contração muscular movimenta o esqueleto. Um músculo é chamado de flexor se a porção central dos ossos conectados se aproximam quando o músculo contrai, e o movimento é chamado de flexão. Se os ossos se afastam quando o músculo contrai, o músculo é chamado de extensor, e o movimento associado é chamado de extensão. A maioria das articulações do corpo necessita de músculos flexores e extensores, pois a contração de um desses músculos pode puxar um osso em uma direção, mas é incapaz de empurrá-lo na direção oposta. Os pares de músculos extensores e flexores são denominados músculos antagonistas, pois exercem efeitos opostos. Quando você flexiona o cotovelo para levantar um haltere, o músculo bíceps braquial contrai, e a mão e o antebraço movem-se em direção ao ombro. Quando você estende o cotovelo para baixar o haltere, o músculo tríceps braquial contrai, e o antebraço se afasta do ombro. Em cada caso, quando um dos músculos contrai e encurta, o músculo antagonista precisa relaxar e alongar. Os músculos antagonistas movem os ossos em direções opostas. A contração muscular é capaz de puxar um osso, mas não é capaz de o empurrar. Os músculos esqueléticos são compostos por fibras musculares Um músculo esquelético é um conjunto de células musculares, ou fibras musculares. Cada fibra muscular esquelética é uma célula longa e cilíndrica, que pode Músculo esquelético possuir até várias centenas de núcleos distribuídos próximos da superfície da fibra. Células-tronco comprometidas, chamadas de células satélites, localizam-se em justaposição à porção externa da membrana da fibra muscular. As células satélites tornam-se ativas e diferenciam-se em músculo quando necessário para o crescimento e para o reparo muscular. As fibras de cada músculo estão organizadas com seus eixos mais longos dispostos em paralelo. Cada fibra muscular esquelética está envolvida por tecido conectivo. O tecido conectivo também envolve grupos de fibras musculares adjacentes, as quais formam conjuntos, chamados de fascículos. Fibras colágenas e elásticas, nervos e vasos sanguíneos dispõem-se entre os fascículos. O músculo como um todo também está envolvido por uma bainha de tecido conectivo, a qual é contínua com o tecido conectivo que envolve as fibras musculares e os fascículos e também com os tendões que ligam os músculos aos ossos associados. A membrana plasmática de uma fibra muscular é chamada de sarcolema, e o citoplasma é chamado de sarcoplasma. As principais estruturas intracelulares dos músculos estriados são as miofibrilas, que são feixes extremamente organizados de proteínas contráteis e elásticas envolvidas no processo de contração. Os músculos esqueléticos também contêm um extenso retículo sarcoplasmático (RS), que é um retículo endoplasmático modificado que envolve cada miofibrila e é formado por túbulos longitudinais com porções terminais alargadas, chamadas de cisternas terminais. O retículo sarcoplasmático concentra e sequestra Ca2 com o auxílio de uma Ca2-ATPase presente na membrana do RS. A liberação de cálcio do RS produz um sinal de cálcio que desempenha um papel-chave na contração de todos os tipos de músculo. As cisternas terminais são adjacentes e intimamente associadas a uma rede ramificada de túbulos transversos, também chamados de túbulos T. O conjunto formado por um túbulo T e pelas duas cisternas terminais associadas a cada um de seus lados, constitui uma tríade. As membranas dos túbulos T são uma extensão da membrana plasmática da fibra muscular, o que torna o lúmen dos túbulos T contínuo com o líquido extracelular. Os túbulos T permitem que os potenciais de ação se movam rapidamente da superfície para o interior da fibra muscular, de forma a alcançar as cisternas terminais quase simultaneamente. Sem os túbulos T, os potenciais de ação alcançariam o centro da fibra somente pela condução do potencial de ação pelo citosol, um processo mais lento e menos direto, que retardaria o tempo de resposta da fibra muscular. O citosol entre as miofibrilas contém muitos grânulos de glicogênio e mitocôndrias. O glicogênio, a forma de armazenamento da glicose encontrada nos animais, é uma reserva energética. A mitocôndria contém as enzimas necessárias para a fosforilação oxidativa da glicose e de outras biomoléculas, sendo a organela responsável pela produção da maior parte de ATP necessário para a contração muscular. As miofibrilas são as estruturas contráteis da fibra muscular Cada miofibrila é composta por diversos tipos de proteínas organizadas em estruturas contráteis repetidas, chamadas de sarcômeros. As proteínas das miofibrilas incluem a proteína motora miosina, que forma os filamentos grossos; os microfilamentos de actina, que formam os filamentos finos; as proteínas reguladoras tropomiosina e troponina; e duas proteínas acessórias gigantes, a titina e a nebulina. A miosina é uma proteína motora com capacidade de produzir movimento. Há várias isoformas de miosina em diferentes tipos de músculo, as quais influenciam a velocidade de contração do músculo. Cada molécula de miosina é composta de cadeias proteicas que se entrelaçam, formando uma longa cauda e um par de cabeças. A cauda do filamento grosso assemelha-se a um bastão de consistência rígida, mas as projeções que formam as cabeças da miosina possuem uma região elástica em dobradiça (móvel), no ponto onde as cabeças se unem à cauda. A região em dobradiça permite o movimento das cabeças em torno do ponto de fixação. Cada cabeça de miosina possui duas cadeias proteicas: uma cadeia pesada e uma cadeia leve, menor. A cadeia pesada é o domínio motor capaz de ligar o ATP e utilizar a energia da ligação fosfato de alta energia do ATP para gerar movimento. Como o domínio motor funciona como uma enzima, ele é considerado uma miosina-ATPase. A cadeia pesada também contém um sítio de ligação para a actina. Cada filamento grosso está organizado de modo que as cabeças da miosina fiquem agrupadas nas extremidades do filamento e a região central seja formada por um feixe de caudas da miosina. A actina é a proteína que forma os filamentos finos da fibra muscular. Uma molécula isolada de actina é uma proteína globular (actina G). Normalmente, várias moléculas de actina G polimerizam para formar cadeias longas ou filamentos, chamados de actina F. No músculo esquelético,dois polímeros de actina F enrolam-se um no outro, como um colar de contas duplo, para formar os filamentos finos da miofibrila. Na maior parte do tempo, os filamentos grossos e finos de cada miofibrila, dispostos em paralelo, estão conectados por ligações cruzadas de miosina, as quais atravessam o espaço entre os filamentos. Cada molécula de actina G tem um único sítio de ligação à miosina. Cada cabeça da miosina tem um sítio de ligação à actina e um sítio de ligação ao ATP. As ligações cruzadas formam-se quando as cabeças de miosina dos filamentos grossos se ligam à actina dos filamentos finos. As ligações cruzadas têm dois estados: um estado de baixa energia (músculos relaxados) e um estado de alta energia (contração muscular). Uma única repetição do padrão forma um sarcômero, a unidade contrátil da miofibrila. Cada sarcômero é constituído pelos seguintes elementos: Discos Z. Um sarcômero é formado por dois discos Z e pelos filamentos encontrados entre eles. Os discos Z são estruturas proteicas em ziguezague que servem como pontos de ancoragem para os filamentos finos. Banda I. É a banda de coloração mais clara do sarcômero e representa uma região ocupada apenas pelos filamentos finos. Um disco Z atravessa o centro de cada banda I, de modo que cada metade de uma banda I pertence a um sarcômero diferente. Banda A. É a banda mais escura do sarcômero e engloba todo o comprimento de um filamento grosso. Nas porções laterais da banda A, os filamentos grossos e finos estão sobrepostos. O centro da banda A é ocupado apenas por filamentos grossos. Zona H. Essa região central da banda A é mais clara do que as porções laterais da banda A, uma vez que a zona H é ocupada apenas por filamentos grossos. Linha M. Essa banda representa as proteínas que formam o sítio de ancoragem dos filamentos grossos (equivalente ao disco Z para os filamentos finos). Cada linha M divide uma banda A ao meio. Em um arranjo tridimensional, as moléculas de actina e de miosina formam uma treliça de filamentos finos e grossos dispostos em paralelo e sobrepostos. Os filamentos são mantidos no lugar por suas ligações às proteínas do disco Z (filamentos finos) e da linha M (filamentos grossos). Em uma secção transversal, observa-se que cada filamento fino está cercado por três filamentos grossos; cada filamento grosso está circundado por seis filamentos finos. O alinhamento adequado dos filamentos dentro de um sarcômero é assegurado por duas proteínas: titina e nebulina. Uma única molécula de titina se estende desde um disco Z até a linha M vizinha. A titina tem duas funções: (1) estabilizar a posição dos filamentos contráteis (2) fazer os músculos estirados retornarem ao seu comprimento de repouso, o que ocorre devido à sua elasticidade. A titina é auxiliada pela nebulina, uma proteína gigante não elástica que acompanha os filamentos finos e se prende ao disco Z. A nebulina auxilia no alinhamento dos filamentos de actina do sarcômero. A contração muscular gera força A força produzida pela contração muscular é chamada de tensão muscular. A carga é o peso ou a força que se opõe à contração. A contração, a geração de tensão pelo músculo, é um processo ativo que necessita de energia fornecida pelo ATP. O relaxamento é a liberação da tensão que foi produzida durante a contração. Principais eventos associados ao início do processo de contração muscular esquelética Os eventos que ocorrem na junção neuromuscular convertem um sinal químico (a acetilcolina liberada pelo neurônio motor somático) em um sinal elétrico na fibra muscular. O acoplamento excitação-contração (E-C) é o processo pelo qual os potenciais de ação musculares produzem um sinal de cálcio, o qual, por sua vez, ativa o ciclo de contração-relaxamento. No nível molecular, o ciclo de contração-relaxamento é explicado pela teoria dos filamentos deslizantes da contração muscular. Nos músculos intactos, um único ciclo de contração-relaxamento é chamado de abalo muscular. A actina e a miosina deslizam uma sobre a outra durante a contração Eventos da contração muscular Teoria dos filamentos deslizantes da contração muscular: Nesse modelo, os filamentos sobrepostos de actina e de miosina, de comprimento fixo, deslizam uns sobre os outros em um processo que requer energia e que produz a contração muscular. No estado de relaxamento, o sarcômero possui uma banda I grande (somente filamentos finos) e uma banda A, cujo comprimento equivale ao comprimento dos filamentos grossos. Quando o músculo contrai, os filamentos grossos e finos deslizam uns sobre os outros. Os discos Z aproximam-se à medida que o sarcômero encurta. A banda I e a zona H – regiões onde não há sobreposição de actina e de miosina no estado de repouso – praticamente desaparecem. Apesar do encurtamento do sarcômero, o comprimento da banda A permanece constante. Essas modificações são consistentes com o deslizamento dos filamentos finos de actina sobre os filamentos grossos de miosina, à medida que os filamentos finos se movem em direção à linha M, no centro do sarcômero. De acordo com a teoria dos filamentos deslizantes, a tensão gerada em uma fibra muscular é diretamente proporcional ao número de ligações cruzadas de alta energia formadas entre os filamentos finos e grossos. As ligações cruzadas da miosina movem os filamentos de actina O movimento das ligações cruzadas da miosina fornece a força que move o filamento de actina durante uma contração. No músculo, as cabeças de miosina ligam-se às moléculas de actina. Um sinal de cálcio inicia o movimento de força, produzido quando as ligações cruzadas da miosina mudam de conformação, movendo-se para a frente e empurrando os filamentos de actina em direção ao centro do sarcômero. Ao final do movimento de força, cada cabeça de miosina solta- se da actina, inclina-se para trás e liga-se a uma nova molécula de actina, ficando pronta para dar início a um novo ciclo. Durante a contração, nem todas as cabeças de miosina se soltam ao mesmo tempo – se isso ocorresse, as proteínas deslizariam de volta para a posição inicial. O movimento de força se repete muitas vezes ao longo de uma contração. As cabeças de miosina ligam-se, empurram e soltam as moléculas de actina várias vezes, à medida que os filamentos finos se movem em direção ao centro do sarcômero. Miosina-ATPase A miosina converte a energia da ligação química do ATP na energia mecânica necessária para o movimento das ligações cruzadas. A miosina é uma ATPase (miosina-ATPase) que hidroliza o ATP, formando ADP e fosfato inorgânico (Pi). A energia liberada nesse processo é capturada pela miosina e armazenada como energia potencial no ângulo formado entre a cabeça da miosina e seu eixo longitudinal. A energia potencial armazenada nas cabeças engatilhadas transforma-se na energia cinética do movimento de força que desloca a actina. O cálcio inicia a contração Como o íon cálcio “liga” e “desliga” a contração muscular? A resposta está na troponina (TN), um complexo ligante de cálcio constituído por três proteínas. A troponina controla o posicionamento de um polímero proteico alongado, a tropomiosina. Em um músculo esquelético no estado de repouso, a tropomiosina enrola-se ao redor dos filamentos de actina e cobre de forma parcial todos os sítios que permitiriam a ligação da miosina na actina. Essa é a posição de bloqueio da tropomiosina, ou posição “desligada”. Ainda podem ocorrer ligações actina-miosina fracas, de pouca força, porém a miosina fica impedida de completar o seu movimento de força. Antes que a contração possa ocorrer, a tropomiosina deve ser deslocada para a posição “ligada”, o que libera a porção restante do sítio de ligação à miosina presente na actina. A mudança entre osestados “ligado” e “desligado” da tropomiosina é regulada pela troponina. Quando a contração é iniciada em resposta ao cálcio, uma das proteínas do complexo – a troponina C – liga-se reversivelmente ao Ca2. O complexo cálcio-troponina C desloca a tropomiosina, afastando-a completamente dos sítios de ligação à miosina na actina. Essa posição “ligada” permite que as cabeças da miosina formem ligações cruzadas fortes, de alta energia, e executem o movimento de força, puxando o filamento de actina. Esses ciclos de contração ficam se repetindo enquanto os sítios de ligação estiverem expostos. Para que o relaxamento muscular possa ocorrer, as concentrações citoplasmáticas de Ca2 precisam diminuir. Pela lei de ação das massas, o Ca2 desliga-se da troponina quando há uma redução do cálcio citosólico. Na ausência de Ca2, a troponina permite que a tropomiosina retorne para o estado “desligado”, recobrindo os sítios de ligação à miosina presentes nas moléculas de actina. Durante um breve período da fase de relaxamento, no qual a actina e a miosina não estão ligadas, os filamentos do sarcômero deslizam de volta às posições originais. Esse processo conta com a ajuda da titina e de outros componentes elásticos do músculo. As cabeças da miosina caminham ao longo dos filamentos de actina Estado de rigor, ou rigidez, no qual as cabeças da miosina estão fortemente ligadas às moléculas de actina G. Nenhum nucleotídeo (ATP ou ADP) está ligado à miosina. No músculo vivo, o estado de rigidez ocorre apenas por um período muito breve de tempo. Então: 1. Ligação do ATP e liberação da miosina. Uma molécula de ATP liga-se à cabeça da miosina. A ligação do ATP diminui a afinidade de ligação da miosina pela actina, e a miosina acaba soltando-se da actina. 2. A hidrólise do ATP fornece a energia necessária para a cabeça da miosina se inclinar e se ligar novamente à actina. O sítio de ligação ao ATP envolve a molécula de ATP e converte a mesma em ADP e em fosfato inorgânico (Pi). O ADP e o Pi permanecem ligados à miosina enquanto a energia liberada pela clivagem do ATP move a cabeça da miosina até que ela forme um ângulo de 90° com o eixo longitudinal dos filamentos. Nesta posição engatilhada, a miosina liga-se a uma nova actina, que está 1 a 3 moléculas distante da sua posição inicial. As ligações cruzadas recém- formadas entre a miosina e a actina são fracas, uma vez que a tropomiosina está bloqueando parcialmente os sítios de ligação na actina. Entretanto, nesse estado engatilhado, a miosina estoca energia potencial, da mesma forma que uma mola esticada. A maioria das fibras musculares em repouso encontram- se nesse estado, engatilhadas e preparadas para disparar (contrair), apenas esperando pelo sinal fornecido pelo cálcio. 3. Movimento de força. O movimento de força (o movimento de inclinação das ligações cruzadas) inicia após o cálcio se ligar à troponina e permite a liberação total do sítio de ligação à miosina. As ligações cruzadas, então, transformam-se em ligações fortes, de alta energia, à medida que a miosina libera o Pi . A liberação do Pi permite que a cabeça da miosina se desloque. As cabeças inclinam-se em direção à linha M, levando junto o filamento de actina. 4. A miosina libera ADP. Ao final do movimento de força, a miosina libera ADP, o segundo produto do processo de clivagem do ATP. Com a saída do ADP, a cabeça da miosina liga-se fortemente à actina novamente, retornando ao estado de rigidez. O ciclo está pronto para recomeçar assim que uma nova molécula de ATP se ligar à miosina. O estado de rigidez Por outro lado, após a morte, quando o metabolismo cessa e o suprimento de ATP se esgota, os músculos são incapazes de ligar mais ATP e, por isso, os músculos permanecem no estado de ligação forte, chamado de estado de rigidez. Na condição conhecida como rigor mortis, os músculos ficam “paralisados” em decorrência das fortes ligações cruzadas que permanecem imóveis. A forte ligação entre a actina e a miosina persiste por um dia ou mais após a morte, até que as enzimas envolvidas no processo de decomposição comecem a degradar as proteínas musculares. A acetilcolina inicia o processo de acoplamento excitação-contração A combinação dos eventos elétricos e mecânicos que ocorrem em uma fibra muscular é chamada de acoplamento excitação-contração (E-C). O acoplamento E-C envolve quatro eventos principais: 1. A acetilcolina (ACh) é liberada pelo neurônio motor somático. 2. A ACh leva à geração de um potencial de ação na fibra muscular. 3. O potencial de ação muscular desencadeia a liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático. 4. O cálcio liga-se à troponina, dando início ao processo de contração. A acetilcolina liberada na fenda sináptica da junção neuromuscular liga-se aos receptores ionotrópicos (canais) de ACh da placa motora terminal da fibra muscular. Quando esses canais dependentes de ACh se abrem, ocorre o fluxo de Na e K através da membrana plasmática. Entretanto, o influxo de Na supera o efluxo de K, pois a força motriz do gradiente eletroquímico é maior para o Na. A adição efetiva de carga positiva despolariza a membrana da fibra muscular, gerando um potencial da placa motora (PPM). Normalmente, os potenciais da placa motora sempre atingem o limiar, levando à geração de um potencial de ação muscular. O potencial de ação desloca-se pela superfície da fibra muscular, e para o interior dos túbulos T, devido à abertura sequencial de canais de Na dependentes de voltagem. O processo é similar à condução dos potenciais de ação nos axônios, embora os potenciais de ação do músculo esquelético sejam conduzidos mais lentamente do que os potenciais de ação dos axônios mielínicos. Quando o potencial de ação penetra nos túbulos T, ocorre a liberação de Ca2 a partir do retículo sarcoplasmático. Em um músculo em repouso, os níveis citosólicos de Ca2 normalmente são muito baixos. Entretanto, esses níveis aumentam cerca de 100 vezes após um potencial de ação. Como discutido anteriormente, quando os níveis citosólicos de Ca2 estão altos, o Ca2 liga-se à troponina, a tropomiosina move-se para a posição “ligada” e a contração ocorre. No nível molecular, a transdução do sinal elétrico em um sinal de cálcio necessita de duas proteínas de membrana. A membrana do túbulo T contém uma proteína sensível à voltagem, um canal de cálcio do tipo L (Cav1.1), chamado de receptor de di-hidropiridina (DHP). No músculo esquelético, exclusivamente, esses receptores de DHP estão acoplados mecanicamente aos canais de Ca2 do retículo sarcoplasmático adjacente. Estes canais de liberação de Ca2 do RS são conhecidos como receptores de rianodina (RyR). Quando a despolarização produzida por um potencial de ação alcança um receptor de DHP, o receptor sofre uma alteração conformacional. Essa alteração conformacional causa a abertura dos canais RyR para a liberação de Ca2 do retículo sarcoplasmático. O Ca2 armazenado flui para o citosol, a favor do seu gradiente eletroquímico, iniciando o processo de contração. À medida que a concentração citosólica de Ca2 livre diminui, o equilíbrio entre o cálcio ligado e o não ligado é alterado, e o cálcio desliga-se da troponina. A remoção do Ca2 permite que a tropomiosina volte à sua posição inicial e bloqueie o sítio de ligação à miosina presente na molécula de actina. Com a liberação das ligações cruzadas, a fibra muscular relaxa, com a ajuda de componentes elásticos do sarcômero e do tecido conectivo do músculo. Sincronização do acoplamento E-C Após o potencial de ação do neurônio motor somático, ocorre um potencial de ação muscular, seguido da contração muscular. Um único ciclo de contração- - relaxamento de uma fibra muscular esquelética é denominado abalo muscular. Observeque há um pequeno retardo – o período de latência – entre o potencial de ação muscular e o início da geração de tensão muscular. Esse retardo representa o tempo necessário para a liberação do cálcio e sua ligação à troponina. Uma vez iniciada a contração, a tensão muscular aumenta continuamente até um valor máximo, à medida que as interações entre as ligações cruzadas também aumentam. A tensão diminui na fase de relaxamento do abalo. Durante o relaxamento, os elementos elásticos do músculo fazem o sarcômero retornar ao seu comprimento de repouso. A contração do músculo esquelético requer um suprimento contínuo de ATP O uso do ATP pela fibra muscular é uma característica essencial da fisiologia muscular. Os músculos necessitam de energia constantemente: durante a contração, para o movimento e a liberação das ligações cruzadas; durante o relaxamento, para bombear o Ca2de volta para o retículo sarcoplasmático; e após o acoplamento E-C, para reconduzir o Na e o K para os compartimentos extracelular e intracelular, respectivamente. A fosfocreatina é uma molécula cujas ligações fosfato de alta energia são geradas entre a creatina e o ATP quando os músculos estão em repouso. Quando os músculos entram em atividade, como durante o exercício, os grupamentos fosfato de alta energia da fosfocreatina são transferidos para o ADP, gerando mais ATP para abastecer os músculos. A enzima que transfere o grupamento fosfato da fosfocreatina para o ADP é a creatina-cinase. A fadiga tem várias causas O termo fisiológico fadiga descreve uma condição reversível na qual um músculo é incapaz de produzir ou sustentar a potência esperada. Os fatores que têm sido propostos como exercendo um papel crucial na fadiga estão associados aos mecanismos de fadiga central, originados no sistema nervoso central, e de fadiga periférica, que se originam em qualquer local entre a junção neuromuscular e os elementos contráteis do músculo. As causas neurais da fadiga podem surgir tanto de falhas de comunicação na junção neuromuscular quanto de falhas dos neurônios de comando do SNC. Por exemplo, se a ACh não for sintetizada no terminal axonal rápido o suficiente para responder à taxa de disparo do neurônio, a liberação do neurotransmissor na sinapse diminuirá. Consequentemente, o potencial da placa motora do músculo não atingirá o limiar necessário para disparar um potencial de ação na fibra muscular, resultando em falha na contração. A classificação atualmente aceita para os tipos de fibras musculares em seres humanos inclui as fibras oxidativas de contração lenta, as fibras oxidativas-glicolíticas de contração rápida e as fibras glicolíticas de contração rápida. A duração da contração também varia de acordo com o tipo de fibra. A duração da contração é determinada, em grande parte, pela velocidade com que o retículo sarcoplasmático remove o Ca2 do citosol. À medida que as concentrações citosólicas de Ca2 caem, o Ca2 desliga-se da troponina, permitindo que a tropomiosina se mova para a posição que causa o bloqueio parcial dos sítios de ligação à miosina. Desse modo, com a inibição do movimento de força, a fibra muscular relaxa. As fibras rápidas bombeiam Ca2 para dentro do retículo sarcoplasmático de forma mais rápida do que as fibras lentas e, por isso, produzem contrações mais rápidas. Uma unidade motora é formada por um neurônio motor e suas fibras musculares A unidade básica de contração em um músculo esquelético íntegro é a unidade motora, formada por um grupo de fibras musculares que trabalham em conjunto e pelo neurônio motor somático que inerva essas fibras. Quando o neurônio motor somático dispara um potencial de ação, todas as fibras musculares daquela unidade motora se contraem. As contrações isotônicas movem cargas; as contrações isométricas geram força sem movimento Pegue os halteres, um em cada mão, e flexione seus cotovelos até que os halteres toquem seus ombros. Você acabou de realizar uma contração isotônica. Qualquer contração que gere força e movimente uma carga é uma contração isotônica. Quando você flexionou os cotovelos e levou os halteres até os ombros, os seus músculos bíceps braquiais encurtaram. Comece agora a estender seus cotovelos lentamente, resistindo às forças gravitacionais que puxam os halteres para baixo. Os músculos bíceps estão novamente ativos, mas agora você está realizando uma contração em alongamento (excêntrica). Se você segurar os halteres, mantendo-os imóveis à sua frente, os músculos dos seus braços estarão gerando tensão (força) para se opor à carga dos halteres, mas não estarão gerando movimento. As contrações que geram força sem mover uma carga são chamadas de contrações isométricas, ou contrações estáticas. Nas contrações isométricas, os músculos geram força, sem encurtamento significativo. Por exemplo, quando seu personal trainer pede para você “contrair os glúteos”, a ação produzirá uma contração isométrica dos músculos glúteos de suas nádegas. Quando os sarcômeros encurtam nos primeiros estágios de uma contração, os elementos elásticos sempre são estirados. Esse estiramento dos elementos elásticos permite que as fibras mantenham um comprimento relativamente constante, mesmo quando os sarcômeros estão encurtando e gerando tensão. Se o músculo não for capaz de produzir força adicional para mover a carga, a contração será isométrica. Após os elementos elásticos terem sido estirados ao máximo, se o sarcômero produzir uma força igual à carga, o músculo encurtará, realizando uma contração isotônica e movendo a carga.
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