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FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO CONCEITOS ANATÔMICOS E FUNÇÕES O sistema digestório - também conhecido como trato gastrointestinal (TGI) - é constituído por diferentes órgãos, onde cada um destes possui um papel importante e juntos permitem o funcionamento do sistema como um todo (SILVERTON, 2017). Anatomicamente, o sistema digestório inicia-se na cavidade oral, que é constituída pela boca e pela faringe. Em seguida, há um longo tubo conhecido como esôfago, seguido pelo estômago, pelo intestino delgado e intestino grosso, e terminando na região do reto e do ânus. O sistema digestório conta ainda com a participação de órgãos glandulares acessórios para a realização completa de suas funções, incluindo: as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas (MARTINI, et al. 2015; ORIÁ, et al. 2016;). As funções básicas do sistema digestório são: motilidade, secreção, digestão, absorção e defecação. A motilidade é o movimento do bolo alimentar no trato gastrointestinal (TGI), resultante da contração muscular. A secreção, por sua vez, é a liberação das substâncias necessárias para completar a digestão. Já a digestão, é a quebra dos alimentos em moléculas menores para então serem absorvidas pelo organismo, e a absorção, é o movimento das substâncias presentes no lúmen do trato gastrointestinal (TGI) em direção ao líquido extracelular (LEC). Por fim, temos a defecação, que consiste na eliminação dos resíduos não absorvidos. Todas essas funções são exercidas pelo trato gastrointestinal (TGI) com a finalidade de suprir as necessidades do organismo humano e realizar a manutenção completa do mesmo (MARTINI, et al. 2015; ORIÁ, et al. 2016; WIDMAIER, et al. 2013). CONSTITUINTES DO SISTEMA DIGESTÓRIO A cavidade oral é responsável pelas primeiras etapas da digestão. Essa etapa ocorre por meio da trituração do alimento através dos dentes, pela umidificação e lubrificação do alimento por intermédio da saliva, e pela formação do bolo alimentar com o auxílio da língua, que propicia a deglutição realizada pela faringe. Além disso, ressalta-se a digestão do amido pela saliva, processo no qual também ocorre na boca. (ORIÁ, et al. 2016; WIDMAIER, et al. 2013). O esôfago é órgão responsável pelo transporte do alimento e pela produção do muco, que auxilia esse processo, facilitando o transporte do bolo alimentar deglutido da faringe para o estômago. O muco existente nesta região é imprescindível para a proteção do órgão contra os efeitos corrosivos de um possível refluxo do suco gástrico (ORIÁ, et al. 2016). O estômago possui três funções importantes, sendo elas: o armazenamento do alimento a ser digerido, a mistura do alimento com o suco gástrico - contendo principalmente ácido clorídrico (HCl) - e a regulação da passagem do quimo (alimento em contato com as secreções gástricas) para o intestino delgado (ORIÁ, et al. 2016). Além dessas funções, o estômago é um órgão responsável pela secreção de diversas substâncias, sendo elas: muco, ácido clorídrico (HCl), pepsinogênio, gastrina e grelina. (SILVERTON, 2017). O intestino delgado consiste em três regiões chamadas de duodeno, jejuno e íleo. Neste órgão, com o auxílio das secreções exócrinas do fígado e do pâncreas, ocorre a maior parte do processo de digestão. Além disso, no intestino delgado, ocorre a absorção de nutrientes, água e eletrólitos (SILVERTON, 2017). As principais secreções hormonais que ocorrem no intestino delgado, devido à passagem dos alimentos pelo órgão, são a colecistocinina e a secretina (ORIÁ, et al. 2016). O intestino grosso é subdividido em ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente, cólon sigmoide, reto e ânus. A função do intestino grosso consiste em realizar a absorção de água do bolo fecal e o processo de defecação. No cólon, o quimo se transforma em fezes semissólidas, que ao chegarem no reto causam o enchimento da região e provocam um processo chamado de reflexo de defecação. O ânus possui dois esfíncteres anais - interno e externo - que controlam o diâmetro do canal anal. O esfíncter externo está sob o controle voluntário do indivíduo devido à presença de músculo esquelético em sua constituição. Já o esfíncter interno é constituído de músculo liso e involuntário, sendo que sua contração é controlada pelo sistema nervoso autônomo (SNA) e ele fica contraído a maior parte do tempo para manter as fezes no local até o momento da evacuação (SILVERTON, 2017). As glândulas salivares são compostas principalmente por três pares responsáveis pela produção e secreção da saliva, sendo subdivididas em: glândulas sublinguais, glândulas submandibulares e glândulas parótidas. A saliva é composta principalmente por água e bicarbonato, que é responsável por manter o pH da cavidade oral; mucinas; amilase, sendo essa a enzima responsável por digerir o amido; imunoglobulina A (IgA), sendo um tipo de célula do sistema imune; e fatores de crescimento, que são substâncias responsáveis pelo crescimento e cicatrização dos tecidos localizados na região da boca (MARTINI, et al. 2015; ORIÁ, et al. 2016). O pâncreas é um órgão misto com epitélio secretor chamado de endócrino e exócrino. O epitélio que atua no processo de digestão é o exócrino, responsável pela liberação da maior parte das enzimas digestivas e pela secreção do bicarbonato de sódio (ANTUNES, 2011; MARTINI, et al. 2015). O fígado é considerado o maior dos órgãos internos do corpo humano e sua função mais importante no sistema digestório é a secreção da bile. A bile é produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar. Ela possui a função de agir como um “detergente químico”, que serve para absorção de gorduras, isto é, durante a ingestão de alimentos ricos em lipídios, a vesícula biliar efetua uma contração que envia a bile para o duodeno (por meio do ducto colédoco), onde será realizado o processo de absorção dos lipídios ingeridos (MARTINI, et al. 2015; ORIÁ, et al. 2016). O sistema digestório conta ainda com um sistema de defesa próprio, chamado de gut- associated lymphoid tissue (GALT), em português, tecido linfático associado ao intestino. Este sistema é constituído de tecido linfóide denso e está localizado na mucosa do TGI, possuindo um papel imunológico importante na proteção do sistema digestório, e ao contrário dos outros órgãos linfóides, os antígenos do lúmen intestinal são direcionados para o GALT por meio do epitélio, e não através do sistema linfático ou sanguíneo. Células epiteliais chamadas de células M, que compreendem as placas de Peyer, fornecem toda a informação necessária para as células imunes do GALT referente àquilo que se encontra dentro do lúmen (GONÇALVES, et al. 2016; DELGOBO, et al. 2019). Nesse sentido, as respostas de defesa se iniciam a partir das enzimas e imunoglobulinas da saliva, além do ambiente extremamente ácido do estômago que também auxilia na proteção. (ORIÁ, et al. 2016;). Por fim, o sistema digestório contém um sistema nervoso próprio, denominado sistema nervoso entérico (SNE), sendo encontrado ao longo de todo o TGI. Suas funções consistem no controle da motilidade, da secreção, crescimento do TGI, da absorção de nutrientes, do fluxo sanguíneo e dos processos inflamatórios. Este sistema é organizado e composto por plexos, sendo os dois principais localizados no intestino e chamados de: plexo submucoso e plexo mioentérico (ORIÁ, et al. 2016). REFERÊNCIAS ANTUNES, T. Pâncreas: Avaliação funcional. Jornal Português de Gastrenterologia. v. 18, n. 4, p. 168-169, 2011. DELGOBO M.; PALUDO, K. S.; FERNANDES, D.; OLIVEIRA, J. G.; ORTOLAN, G. L.; FAVERO, G. M. Gut: Key Element on Immune System Regulation. Brazilian Archives Of Biology and Technology. v. 62, p. 1-14, 2019. GONÇALVES, J. L.; YAOCHITE, J. N. U.; QUEIROZ, C. A. A.; CÂMARA, C. C.; ORIÁ, R. B. “Bases do Sistema Imunológico Associado à Mucosa Intestinal”, p. 369-388. SistemaDigestório: Integração Básico-Clínica. São Paulo: Blucher, 2016. MARTINI, F. H.; OBER, W. C.; BARTHOLOMEW, E. F.; NATH, J. L. Anatomia & Fisiologia Humana: Uma abordagem visual. 1 ed. São Paulo: Pearson, 2015. ORIÁ, R. B.; BRITO, G. A. C. Sistema Digestório: Integração básico-clínica. 1 ed. Blucher Open Access, 2016. SILVERTON, D. U. Fisiologia Humana: Uma abordagem integrada. 7 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2017. WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, K. T. Vander Fisiologia Humana: Os mecanismos das funções corporais. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.