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INOVAÇÕES EM ESTÉTICA CORPORAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever os principais recursos utilizados no tratamento de fibroedema geloide. > Identificar as principais indicações e contraindicações em tratamento de fibroedema geloide. > Reconhecer protocolos e associações em prescrições personalizadas contra o fibroedema geloide. Introdução Em uma sociedade que valoriza tanto a aparência, o aparecimento das disfunções estéticas corporais pode ser motivo de grande frustração e insatisfação, podendo resultar, inclusive, em isolamento, baixa autoestima e até depressão. De fato, a beleza hoje é considerada um valor social que pode garantir sucesso ou fracasso nas relações interpessoais e na vida profissional. Atualmente, existem diversas inovações tecnológicas para o tratamento de afecções cutâneas corporais. Entre elas, destacam-se aquelas que visam ao Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) Claudia Stoeglehner Sahd tratamento do fibroedema geloide, mais conhecido como celulite, uma disfunção que é motivo recorrente de busca por tratamento. Cada tratamento tem os seus benefícios e mecanismos de ação específicos, mas todos apresentam resultados promissores, a depender da intensidade da disfunção e dos objetivos do cliente. Nesse contexto, é importante avaliar adequadamente o cliente, de modo a definir a melhor linha terapêutica e os recursos mais indicados para cada caso. Neste capítulo, veremos os recursos mais utilizados no tratamento do fi- broedema geloide. Especificamente, vamos discutir as principais indicações e contraindicações de cada um desses tratamentos. Ainda, vamos analisar os pro- tocolos e as associações que podem ser empregados pelo profissional para um tratamento assertivo e eficaz. Recursos eletroestéticos para o tratamento do fibroedema geloide O emprego da energia elétrica por meio de distintas correntes emitidas por aparelhos elétricos no tratamento de disfunções estéticas é denomi- nado eletroterapia. Basicamente, o tratamento consiste na estimulação de determinados efeitos fisiológicos corporais e é referido como correntes terapêuticas, eletroterapia estética ou eletroestética. O uso desses aparelhos pode fazer parte de uma única modalidade de tratamento ou ser associado a outras modalidades na prevenção ou no tratamento de disfunções estéticas corporais, como edema, gordura localizada, flacidez, fibroedema geloide, etc. Os seus efeitos incluem melhora da oxigenação dos tecidos corporais, aceleração do processo cicatricial, melhora no tônus muscular, redução de espasmos e dores musculares, melhora da circulação sanguínea e linfática, e melhora da produção de colágeno e elastina. Novos equipamentos surgem constantemente, possibilitando que o pro- fissional da área da estética empregue tratamentos com maior efetividade e segurança. Antes de utilizá-los, porém, é essencial que o futuro profissional conheça os princípios da eletroterapia e como essas correntes elétricas agem sobre os tecidos humanos, promovendo os efeitos desejados. A corrente elétrica, ao passar pelos tecidos corporais, altera even- tos fisiológicos, ativando e estimulando sistemas, de maneira a prevenir e tratar disfunções. Para que isso seja possível, é imprescindível que a corrente seja modulada. Ou seja, não é qualquer corrente nem qualquer parâmetro que causará efeitos benéficos aos tecidos corporais. Para isso, os equipamentos de eletroterapia têm diferentes tipos de correntes, com Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)2 parâmetros distintos, dependendo do tecido em que serão aplicados e dos objetivos do tratamento. Energia elétrica A energia elétrica é uma forma de energia fundamentada na geração de diferenças no potencial elétrico entre dois pontos, permitindo gerar uma corrente elétrica entre ambos. Essa energia pode ser modificada para uso em forma de calor ou luz. A energia elétrica está conectada à geração de corrente elétrica, qualifi- cada por uma agitação ou um fluxo de partículas carregadas, como os íons ou elétrons de um local para outro. Essa corrente pode ser conduzida por metais e soluções, sendo transferida para o corpo humano e provocando reações fisiológicas com resultados terapêuticos. Os condutores são materiais ou tecidos que facilitam a passagem dos elétrons, enquanto a condutividade é a capacidade desse tecido ou material de conduzir os elétrons. Os tecidos ou materiais que criam resistência à passagem dos elétrons recebem o nome de isoladores. A oposição que faz surgir uma dificuldade à passagem dos elétrons por tecidos ou matérias é chamada de resistência ou impedância elétrica, e a sua medida é denominada ohm (PRENTICE, 2014). Exemplos de resistência incluem pelos na região tratada, limpeza, etc. Por isso, quanto maior a quantidade de água no tecido, melhor será a sua capacidade de condução elétrica e, por consequência, o resultado do tratamento. A agitação de partículas carregadas ocorre sempre do local de maior concentração para o de menor concentração, de maneira a buscar um ponto de equilíbrio. Os elétrons são partículas de matérias com carga negativa e massas muito pequenas. O movimento desses elétrons é chamado de corrente elétrica. A unidade de medida que regula a velocidade com que os elétrons se movimentam gerando a corrente elétrica é denominado ampere. Na eletro- terapia, normalmente são utilizados equipamentos que têm uma velocidade de corrente elétrica miliamperada (mA), ou seja 1/1000, ou microamperada (μA), isto é, 1/1.000.000 (NELSON; HAYES; CURRIER, 2003). Em repouso, os elétrons não sofrem movimentação, pois não há uma diferença de potencial importante. Contudo, ao se gerar uma força sobre eles, ocorre movimentação. A força aplicada sobre eles, capaz de gerar movimento, é denominada volt e se refere à diferença de potencial. Após a movimentação Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 3 desses elétrons, haverá pontos de maior concentração e menor concentra- ção. Caso esses dois locais se conectem, a força resultante da diferença de potencial é chamada de voltagem (LOW; REED, 2003). Na eletroterapia, existe sempre a presença de um gerador, equipamento elétrico que recebe a energia proveniente da tomada e a transforma em corrente, cujo objetivo é a posterior aplicação nos tecidos corporais. Os geradores geram correntes elétricas terapêuticas e podem ser alimentados por correntes contínuas, alternadas ou pulsadas, dependendo do objetivo. Além disso, cada gerador tem vários parâmetros que podem vir predefinidos no equipamento ou ser programados pelo profissional visando a objetivos específicos (NELSON; HAYES; CURRIER, 2003). O comprimento de onda é definido como a distância entre o pico de uma onda e o pico da onda precedente ou subsequente. Já a frequência é defi- nida como o número de vibrações ou oscilações de onda que ocorrem em determinada unidade de tempo e é comumente expressa em hertz (Hz), que é uma vibração por segundo (Figura 1). Figura 1. Comprimento de onda e frequência. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)4 A frequência das correntes utilizadas na eletroterapia pode ser dividida em alta, média e baixa. � Alta frequência: correntes que utilizam a alta frequência atuam por meio da geração de campos eletromagnéticos que causam aquecimento em tecidos profundos, com aumento do metabolismo, e efeitos em âmbito mecânico. Um exemplo é o ultrassom terapêutico, que apresenta propriedades térmicas e mecânicas. � Média frequência: a corrente russa é um exemplo, pois tem efeitos adequados aos tratamentos de camadas mais profundas dos tecidos, como o tecido muscular, atuando em disfunções como hipotonia mus- cular. Na aplicação dessa frequência, a percepção da corrente é menor, uma vez que, quanto mais alta é a frequência, menor é a interferência sensitiva, pois a frequência tem capacidade de interferir no limiarsensitivo. Isso se deve ao fato de frequências maiores apresentarem resistências menores à passagem da corrente elétrica. � Baixa frequência: podem ser contínuas ou alternadas. Exemplos de correntes contínuas incluem a galvânica e a iontoforese, amplamente utilizadas na estética por produzirem efeitos vasomotores nos tecidos, aumentando a circulação local e auxiliando na penetração de ativos na pele. A corrente galvânica também é utilizada para técnicas de limpeza de pele profunda por meio da desincrustação. Já as correntes alternadas incluem o FES (do inglês functional electrical stimulation), a estimulação elétrica funcional. O pulso se refere à forma de onda, que pode ser entendida por meio de uma representação gráfica de forma, direção, amplitude, duração e frequência de uma corrente, uma forma de onda individual. A largura do pulso é gradu- ada em microssegundos (μs) ou milissegundos (ms), indicando o tempo de duração da fase. Ela exerce um papel fundamental na eletroterapia, uma vez que a corrente elétrica ativa receptores na pele e pode causar desconforto ao cliente, restringindo a estimulação aplicada. Quando são utilizados pulsos estreitos com frequências elevadas, esse desconforto é minimizado. O for- mato de onda pode ser representado de maneiras distintas, como triangular, senoidal, retangular, quadrada, entre outras (NELSON; HAYES; CURRIER, 2003; PRENTICE, 2014). Por sua vez, a modulação se refere a qualquer alteração na magnitude ou variação na corrente original. Pode ocorrer devido a alterações de largura, amplitude ou frequência de pulsos, podendo ser contínua, interrompida, Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 5 rampa ou trens de pulso. A amplitude de pulso elucida a intensidade da corrente e é sinônimo de voltagem e intensidade da corrente. A duração do pulso está relacionada ao período durante o qual a corrente elétrica está fluindo em um ciclo, e a sua unidade é o tempo. Atualmente, muitos recursos eletroestéticos fazem parte da rotina de trabalho do profissional da estética. Para manusear esses recur- sos, os profissionais devem ter conhecimento aprofundado e atualizado; caso contrário, aumenta-se o risco de lesões e queimaduras. As queimaduras elétricas podem ocorrer nos clientes com distúrbios de sensibilidades, havendo lesões pelo fato de o cliente não expor o incômodo durante a aplicação. Também podem resultar do uso de cosméticos inflamáveis, contendo álcool ou éter. Como medida de auxílio, desligue o aparelho e retire o fio da tomada, não tocando de forma alguma no cliente. Energia eletromagnética A energia eletromagnética é transmitida por radiação, por diferentes compri- mentos de ondas. Radiação é um processo pelo qual a energia se desloca da sua fonte para fora através do espaço. A luz solar constitui um tipo visível de energia radiante, produzindo calor (PRENTICE, 2014). A luz é a energia radiante que se manifesta por meio da luz visível, ou seja, da luz que conseguimos per- ceber com o sentido da visão. Trata-se de uma onda eletromagnética, e o seu comprimento varia entre a radiação infravermelha e a radiação ultravioleta. A fototerapia compreende recursos que se baseiam no efeito da luz sobre os tecidos biológicos. Esse recursos envolvem, além de agentes tradicionais como a luz ultravioleta e o infravermelho, também a laserterapia, a emissão de luz por diodo (LED, do inglês light emitter diode) e a luz intensa pulsada (LIP). Outro mecanismo que se baseia na utilização da energia eletromagné- tica está associado ao uso da radiofrequência como técnica de tratamento estético. Segundo Agne (2011), esse recurso atua a partir da conversão da energia eletromagnética em efeito térmico sobre os tecidos. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)6 O mecanismo de ação da fototerapia necessita da absorção da luz por uma molécula fotorreceptora, denominada cromóforo. Os cromó- foros são comumente organelas celulares presentes na derme e na epiderme, como melanina, citocromo, porfirinas, hemoglobina, entre outros, os quais, ao absorverem a luz, têm o seu metabolismo estimulado, induzindo reações químicas e originando uma cascata de respostas celulares. Energia térmica Qualquer objeto aquecido ou resfriado a uma temperatura diferente daquela do ambiente circundante vai dissipar ou absorver calor por meio de condução para/ou de outros materiais com os quais ele entra em contato (PRENTICE, 2014). As modalidades condutoras são classificadas em termoterapia, quando há o aumento na temperatura dos tecidos, e crioterapia, quando há uma diminuição na temperatura dos tecidos. Segundo Agne (2016), a energia térmica é uma forma de energia relacionada à movimentação de moléculas a partir de um determinado corpo. Quanto maior for o movimento e a velocidade dessas partículas, maior será a temperatura e mais intensa será a energia térmica liberada. Existem diferentes modos de transferência de energia térmica entre os corpos, sendo que a temperatura central permanece constante e é mantido um equilíbrio entre a produção de calor interno e a perda ou o ganho de calor no nível da pele. As modalidades de transferência de energia térmica no âmbito dos te- cidos ocorrem principalmente por condução e convecção. A variação da temperatura desse tecido dependerá da quantidade de energia convertida em calor em uma determinada profundidade do tecido e da capacidade de condutividade térmica desse local. Outros elementos importantes na variação dessa temperatura são a vascularização do local e a técnica de aplicação da modalidade térmica. Energia sonora A energia sonora consiste em ondas de pressão devidas à vibração mecânica das partículas. A relação entre velocidade, comprimento de onda e frequência é a mesma para energia sonora e energia eletromagnética, mas as veloci- dades dos dois tipos de ondas são diferentes. As ondas acústicas viajam na velocidade do som (NELSON; HAYES; CURRIER, 2003; PRENTICE, 2014). Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 7 O ultrassom utiliza uma forma de energia sonora não audível, produzindo ondas mecânicas que podem ser emitidas de forma contínua, que causam efeito térmico, ou alternada, com menor elevação de temperatura. Os gera- dores de ultrassom são ajustados em uma frequência padrão de 1 a 3 MHz, e a profundidade de penetração é muito maior do que qualquer uma das radiações eletromagnéticas. Veja, a seguir, alguns exemplos de frequências empregadas na ele- troterapia estética. � Radiofrequência: radiação no espectro eletromagnético com alta frequência, compreendida entre 30 KHz e 300 MHz. � Corrente russa e aussie: média frequência varia de 1.000 Hz a 100 KHz. � Microcorrentes: baixa frequência, não é superior a 1.000 Hz. � Corrente galvânica: baixa frequência, não é superior a 1.000 Hz. � Ultrassom terapêutico: alta frequência de 10.000 a 100.000 Hz. É necessário e de extrema importância ao profissional da área da estética conhecer os princípios físicos envolvidos nos equipamentos da eletroes- tética, visto que, sem o entendimento correto, nenhum resultado positivo poderá ser obtido. Compreender a programação e o potencial que existe no aparelho traz autonomia e personalidade ao atendimento. Além disso, não saber como os equipamentos funcionam pode ter sérias consequências, que acabam prejudicando a saúde do cliente e levando o profissional a responder judicialmente. Recursos eletroestéticos: indicações e contraindicações As inúmeras inovações tecnológicas desenvolvidas nos últimos anos pela indústria da beleza são empregadas em tratamentos de disfunções esté- ticas corporais como fibroedema geloide. Conhecer os efeitos fisiológicos dos recursos eletroestéticos, as suas indicações e contraindicações torna o atendimento do profissional mais seguro para si e para o cliente. Entre as inovações tecnológicas empregadas no tratamento fibroedema geloide estão aradiofrequência, a iontoforese, a vacuoterapia/endermologia, terapias por ondas de choque (TOC), eletrolipólise, ultrassom e lipocavitação (ultracavitação). Veremos cada uma em detalhes a seguir. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)8 Radiofrequência A radiofrequência é considerada um estímulo elétrico e térmico controlado, que age sobre a neoformação de colágeno dérmico e do tecido conjuntivo adjacente. Essa técnica demonstrou ser muito eficaz em tecidos biológicos, por promover microdanos controlados e efeitos fisiológicos conducentes à regeneração tecidual. O seu objetivo principal é atuar na remodelação da proteína de colágeno e gerar calor concentrado na derme. O equipamento de radiofrequência utiliza ondas do espectro eletromag- nético na ordem de kilohertz (kHz) a megahertz (MHz), e os aparelhos dispo- níveis no mercado operam na faixa de 0,5 a 1,5 MHz (TASSINARY; SINIGAGLIA; SINIGAGLIA, 2018). Por se tratar de uma energia transmitida em forma de ondas com alternâncias cíclicas de polaridades e frequência elevada, não produz efeitos neuromusculares intensos nem eletroquímicos significativos. Porém, provoca efeitos de aquecimento pela conversão ou absorção dessa energia pelos tecidos. Esse processo é denominado diatermia e é utilizado há anos como termoterapia profunda (AGNE, 2016). De acordo com Agne (2016), a produção de aquecimento é o principal efeito da transmissão de ondas de alta frequência nos tecidos. Essa conversão de energia elétrica em energia térmica ocorre de três formas. � Íons livres: os tecidos vivos são abundantes em íons positivos e nega- tivos diluídos em meios líquidos, com mobilidade ou liberdade para deslocamentos dentro desse meio. O tecido com altas concentração de íons será o mais aquecido durante a aplicação da técnica. � Moléculas dipolares: as moléculas de água são denominadas dipolos, pois têm assimetria estrutural, ocasionando uma resultante elétrica como um dipolo. Quando submetidas a campos elétricos com alter- nância acelerada de polaridade, geram energia térmica por causa dos movimentos rotacionais, os quais interferem nos movimentos de moléculas adjacentes, acarretando movimentos mais aleatórios e calor. Porém, a produção de calor por esse efeito é significativa apenas a partir de frequências superiores a 10 MHz. � Moléculas não polares: as células adiposas são exemplos de molé- culas não polares. Apesar de terem poucos íons livres ou polaridade molecular pouco significativa, rebatem à influência do campo de radiofrequência, gerando uma quantidade pequena de calor. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 9 Hoje, existem no mercado inúmeros modelos e marcas de equipamentos de radiofrequência, cada um com diferentes tipos de manoplas (BORGES; SCORZA, 2016). Veja a seguir. � Monopolar: a corrente é gerada e penetra na pele por meio de um cabeçote móvel, sendo direcionada até uma placa de retorno, que é alocada em uma região distante da área de tratamento. A profundidade pode chegar até 6 mm. � Bipolar: os eletrodos de saída e retorno da corrente estão no próprio cabeçote, não sendo necessária a placa de retorno. A energia gerada tem um efeito mais superficial, de até 2 mm de profundidade. � Tripolar e multipolar: tem três ou mais eletrodos, e a energia é gerada quando a corrente passa entre os eletrodos. A profundidade da pe- netração é aproximadamente a distância média entre os eletrodos. A radiofrequência está relacionada às características de resistência impostas pelo tecido, não ao fototipo ou biotipo da pele. Se analisarmos os tecidos e as suas diferentes características, notaremos que, embora a radiofrequência abranja o nível de células epidérmicas, dérmicas, subcu- tâneas e até musculares, a sua absorção de onda seria diferente. O tecido adiposo tem alta impedância, o que reduz expressivamente a condução da radiofrequência em comparação ao tecido muscular. A condutividade na derme é maior, por ser um tecido com maior quantidade de água. Assim, há mais conversão de calor. O mecanismo fisiológico desempenhado pela radiofrequência no orga- nismo acontece quando a corrente passa pelos tecidos, proporcionando uma leve resistência dos tecidos; com isso, ocorre uma elevação térmica tissular. O organismo reconhece que a temperatura interna está mais elevada que o nor- mal, e então ocorre uma cascata de efeitos, como o aumento da vasodilatação (com abertura dos capilares, obtendo aumento da circulação), a melhora no trofismo tissular e a reabsorção dos líquidos intercelulares excessivos (AGNE, 2016; BORGES, 2010; TASSINARY; SINIGAGLIA; SINIGAGLIA, 2018). Desse modo, a radiofrequência impacta o ganho nutricional de oxigênio e nutrientes do tecido, melhorando o sistema de drenagem residual celular pela eliminação de toxinas e radicais livres. Esses efeitos no tecido fortalecem a produção de fibras elásticas de melhor qualidade, atuando nos fibroblastos e em outras células, além de proporcionar uma melhor qualidade dos adipócitos, promovendo a lipólise homeostática. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)10 Ainda existe muita controvérsia entre autores sobre o uso ou não da radiofrequência no tratamento do fibroedema geloide. Borges e Scorza (2016) pontuam que, no caso de fibroedema geloide, a radiofrequência é indicada para a diminuição da camada de tecido adiposo, que está normalmente associada ao aspecto popularmente conhecido como “casca de laranja”. A temperatura elevada é empregada para ocasionar um trauma térmico na membrana adipocitária, tornando o adipócito inútil para armazenamento de triglicerídeos e, com isso, diminuindo a quantidade de gordura subcutânea. É recomendado que se use a ponteira monopolar no tratamento do fibroedema geloide, pois é possível atingir camadas mais profundas, principalmente quando se trata de afecções com graus mais avançados. Porém, isso não quer dizer que outras ponteiras não possam ser utilizadas, pois também são capazes de produzir efeitos no tratamento. Durante a aplicação, a temperatura a ser utilizada deve estar entre 37 e 38°C em quadros de fibroedema geloide compacto e edematoso, sendo mantida por cerca de 5 minutos. Para o fibroedema geloide flácido, a temperatura deve ficar entre 41 e 43°C, sendo mantida por cerca de 5 minutos, caso o objetivo seja tratar somente a flacidez cutânea envolvida no quadro. Para tratar o tecido adiposo, buscando a sua diminuição e a consequentemente melhora no quadro da fibroedema geloide, recomenda-se o uso de uma temperatura em torno de 42°C por cerca de 10 a 12 minutos (BORGES; SCORZA, 2016). Como indicação do uso da radiofrequência, temos o tratamento da fibro- edema geloide em associação à diminuição do tecido adiposo e, consequen- temente, ao tratamento de possível flacidez tissular que tenha na região, dependendo do grau da disfunção do cliente. De acordo com Agne (2016) e Borges e Scorza (2016), entre as contraindicações absolutas, estão os casos de portadores de marca-passo, de gestantes e de clientes com neoplasias, febre e/ou infecções sistêmicas. Já contraindicações relativas incluem infecções locais, uso de vasodilatadores, uso de próteses, alteração de sensibilidade, varizes e flebites. Iontoforese A iontoforese é uma técnica não invasiva que usa potência ou corrente elétrica no intuito de aumentar a transferência transdermal de ativos inseridos nas formulações cosméticas. Na iontoforese, a corrente originária do aparelho Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 11 é transferida do eletrodo para a pele por meio da solução contendo agentes ativos. A corrente mais empregada no procedimento é a galvânica (BORGES, 2010; AGNE, 2011). Na iontoforese, o sentido do deslocamento dos elétrons é do polo positivo para o polo negativo. O fluxo iônico provocado pela corrente elétrica está associado a modificações químicas. No eletrodonegativo (cátodo), ocorrerá um movimento de elétrons, os quais são liberados do eletrodo positivo (ânodo), ocorrendo um mecanismo de oxidação no eletrodo positivo (GUIRRO; GUIRRO, 2003). Existem três rotas de introdução de substâncias através da pele em direção ao tecido subcutâneo: 1. através do folículo piloso e das glândulas sebáceas associadas; 2. através dos ductos sudoríparos; 3. através do próprio estrato córneo, entre os seus apêndices e falhas (rota intercelular). A intensidade da corrente varia de acordo com o tamanho do eletrodo que será utilizado. É extremamente importante trabalhar com baixa intensidade e aumentá-la lentamente, de acordo com a sensibilidade do cliente. A intensidade não deve ultrapassar 0,1 mA/cm2 de área de eletrodo ativo. O cálculo da dose total deve ser feito de acordo com o tamanho do eletrodo. Por exemplo, com um eletrodo de 1 cm2, deve-se colocar uma dose de 0,1 mA/ cm2. Outra variável importante relacionada com a intensidade é o tempo de aplicação. Estudos indicam que os efeitos de penetração são maiores durante os 6 primeiros minutos, sendo que, ao duplicarmos esse tempo (12 minutos), ocorrerá um aumento de 25% no índice de penetração. Após esse período, pouco adianta aumentar o tempo de aplicação (GUIRRO; GUIRRO, 2003; BOR- GES, 2010; AGNE, 2011). O tempo de uso da técnica varia conforme o tamanho do eletrodo usado, sendo muito importante realizar movimentos lentos. O tempo de aplicação não deve ser maior do que 30 minutos em áreas grandes. As indicações do uso da iontoforese têm, como objetivo, obter os benefícios de permeação de ativos sobre a pele. Assim, é utilizada para o tratamento da fibroedema geloide, de gordura localizada e de estrias, bem como para a hidratação e nutrição da pele. Segundo Agne (2011), as desvantagens do transporte de substâncias por iontoforese são os riscos de queimaduras e Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)12 choques resultantes da utilização de correntes elétricas elevadas e por longos períodos. Entre as contraindicações absolutas, estão os casos de clientes com marca-passo, gestantes, com neoplasias ou com infecções sistêmicas. Já as contraindicações relativas incluem infecções locais, uso de vasodilatadores, uso de próteses, alteração de sensibilidade, varizes e flebites (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016). Vacuoterapia/endermologia Na vacuoterapia, também denominada endermologia, são empregados apa- relhos que geram pressão negativa, que pode ser pulsátil ou contínua, de modo a obter-se uma sucção localizada do tecido. Os aparelhos produzem mobilização cutânea profunda, que leva ao incremento na circulação sanguínea superficial, promovendo a depressodrenagem linfática e a depressomassa- gem (BORGES; SCORZA, 2016; TASSINARY; SINIGAGLIA; SINIGAGLIA, 2018). No aparelho empregado para a sucção, existe um compressor que promove a pressão negativa, a qual varia de 0 a –600 mmHg. Essa força de sucção é controlada pelo profissional pela válvula de regulagem presente no aparelho, e a adequação da pressão será de acordo com as condições do tecido e o objetivo do tratamento. No mercado, podemos encontrar dois tipos distintos de equipamento eletroestéticos de pressão negativa. Na vacuoterapia, os cabeçotes são pequenos, com menor prega tecidual, e os seus roletes não têm motorização. Já na endermoterapia, o cabeçote do equipamento é de maior dimensão, de forma que a prega tecidual se torna maior. Ainda, os seus rolos são motori- zados, e por isso o seu uso deve ser feito com malha protetora. Com a sucção, ocorre a mobilização profunda da pele e do tecido subcu- tâneo, desencadeando um aumento da circulação sanguínea e linfática. Entre os objetivos da vacuoterapia/endermologia, estão a mobilização profunda cutânea e do tecido subcutâneo (Figura 2) e a melhora da circulação sanguínea e linfática. De fato, o tratamento torna o tecido conjuntivo mais maleável, pois atua nas “traves” fibróticas, atenuando a deformação cutânea que caracteriza o aspecto celulítico, conhecido como “casca de laranja”. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 13 Figura 2. Cabeçote do equipamento de vacuoterapia/endermologia atuando na mobilização cutânea e no tecido subcutâneo. Fonte: Adaptada de Tassinary, Sinigaglia e Sinigaglia (2018). Para a aplicação do equipamento, a pressão inicial deve ser de –200 a –400 mmHg, podendo haver variações em relação ao tamanho do cabeçote e com base na sensibilidade referida pelo cliente. Conforme o quadro do fibroedema geloide vai se atuando, a pressão pode ser aumentada. Para a realização do procedimento, pode ser aplicada uma fina camada de óleo ou hidratante, amenizando o atrito do cabeçote com a pele do cliente e, assim, evitando a formação de lesões cutâneas. O tempo de aplicação varia conforme a região tratada, mas média é em torno de 3 a 5 minutos por área (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016; TASSINARY; SINIGAGLIA; SINIGAGLIA, 2018). A vacuoterapia/endermologia é indicada para o aumento da circulação sanguínea local, a diminuição do tecido fibrosado e a mobilização dos tecidos profundos da pele. É contraindicada para clientes com fragilidade capilar sanguínea, patologias infecciosas, flebites e tromboses, neoplasia e gestantes. Terapias por ondas de choque A terapia por ondas de choque é uma das mais recentes inovações tecnológicas usadas no tratamento da lipodistrofia localizada e do fibroedema geloide. Refere-se a uma energia mecânica com alta potência (onda sonora) emitida Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)14 por um dispositivo específico que, ao penetrar no tecido adiposo, promove um forte efeito de cavitação instável (ruptura de microbolhas), causando efeitos microscópicos no tecido (BORGES; SCORZA, 2016). Na década de 1980, terapias por ondas de choque eram utilizadas no tratamento de cálculos renais. A partir da década de 1990, começaram a ser aplicadas em patologias ortopédicas, com ótimos resultados (AGNE, 2016). A aplicação no campo da beleza está aumentando, e muitos estudos estão sendo realizados para verificar o efeito real na derme e no tecido subcutâneo (BORGES; SCORZA, 2016). O aparelho de ondas de choque emite ondas mecânicas de alta pressão, que apresentam curta duração (5 microssegundos), baixa densidade de ener- gia (0,08 a 0,18 mJ/mm²), média densidade de energia (0,18 a 0,32 mJ/mm²), alta densidade de energia (0,32 a 0,60 mJ/mm2) e baixa frequência (1 a 15 Hz) (BORGES; SCORZA, 2016; AGNE, 2016). De acordo com Tassinary, Sinigaglia e Sinigaglia (2018), os geradores de ondas de choque funcionam baseados nos seguintes quatro sistemas, que variam conforme o fabricante. 1. Sistema eletro-hidráulico: ondas de choque focal. 2. Sistema eletromagnético: ondas de choque focal. 3. Sistema piezoelétrico: ondas de choque focal. 4. Sistema eletropneumático: ondas de choque radial. As ondas de choque radial são superficiais e se propagam radialmente a partir do aplicador. Quando penetram no tecido, perdem energia, ocorrendo cavitação perto do aplicador, que é indicada para o tratamento de flacidez tissular, fibroedema geloide e lipodistrofia localizada. A onda de choque focal é mais profunda e concentra toda a energia gerada em um ponto distante da fonte. O pico de energia desse foco pode variar de baixo a alto. Tassinary, Sinigaglia e Sinigaglia (2018) explicam que a onda desfocada é uma onda ampla, não tem foco e não se propaga radialmente, sendo ideal para tratamentos muito superficiais. O mecanismo de ação fisiológica da terapia de ondas de choque se baseia: � na ação mecânica, que proporciona formação de microbolhas que eclodem, fragmentando a estrutura tecidual local (Figura 3); Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 15 � na ação analgésica, por estímulo intenso local, que libera enzimas locais de atuação na fisiologia da dor; � na ação vascular,decorrente da liberação de mediadores como fator de crescimento endotelial vascular que aumentam a circulação local e a angiogênese. Ocorre, assim, a remodelação do colágeno, proporcionando um realinha- mento das fibras dérmicas e a melhora o aspecto cutâneo. Assim, as ondas de choque agem de maneira a aumentar a circulação sanguínea e linfática, equilibrar os radicais livres, remodelar o colágeno e induzir a lipólise. Figura 3. Representação da propagação da onda de choque radial. Fonte: Adaptada de Borges e Scorza (2016). As ondas de choque radial são indicadas para o tratamento da lipodistrofia localizada e a melhora da qualidade cutânea, pois aumenta a circulação san- guínea e reduz a fibrose. É, porém, absolutamente contraindicada em casos de uso de marca-passo, de gravidez, de neoplasias, de febre e de infecções sistêmicas. Ainda, as contraindicações relativas incluem infecções locais, uso de vasodilatadores ou de próteses metálicas, alteração de sensibilidade, varizes e flebites (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016). Eletrolipólise Também denominada eletrolipoforese, a eletrolipólise utiliza uma corrente elétrica de baixa frequência (frequentemente em torno de 25 Hz), em forma de ondas contínuas (polarizadas) ou alternadas, propagada ao organismo Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)16 por meio de agulhas de acupuntura que são implantadas na hipoderme (BORGES, 2010). A corrente opera diretamente nos adipócitos, promovendo a sua destruição e beneficiando a sua futura eliminação. Existem diversos efeitos fisioló- gicos, mas é destacada a sua estimulação do sistema nervoso simpático, com consecutiva estimulação da lipólise fisiológica, originando o objetivo principal da terapêutica, que é a redução da espessura da tela subcutânea. No fibroedema geloide, os objetivos terapêuticos são atenuar o panículo adiposo subcutâneo, melhorar a microcirculação local, diminuir o acúmulo de metabólitos e potencializar a oxigenação tecidual (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016). No mercado, há equipamentos de eletrolipólise com placas transcu- tâneas. Porém, não existem estudos que corroborem a sua eficácia nos quadros de fibroedema geloide. Assim, recomenda-se que a técnica seja realizada por meio de eletrodos com agulhas de acupuntura. A técnica tem início com a introdução das agulhas na hipoderme e é fina- lizada com o acoplamento do aparelho nas agulhas. Para esse acoplamento, são utilizadas garras jacaré. As agulhas têm tamanhos variados, mas as mais utilizadas estão em torno de 30 a 75 mm de comprimento, com 0,3 mm de diâmetro. O tempo de aplicação varia de 50 a 60 minutos, e a dosimetria depende da sensação subjetiva relatada pelo cliente. Recomenda-se a má- xima intensidade tolerada (BORGES; SCORZA, 2016). Ainda, é recomendado que a eletrolipólise seja associada com a vacuoterapia, para resultados mais efetivos. A eletrolipólise é indicada para o tratamento de lipodistrofia localizada, a melhora da qualidade cutânea, o aumento da circulação sanguínea e a redução de fibrose. É, porém, absolutamente contraindicada em clientes com marca-passo, em gestantes e em clientes com neoplasias, febre e infecções sistêmicas. As contraindicações relativas incluem infecções locais, uso de vasodilatadores ou de próteses metálicas, alteração de sensibilidade, varizes e flebites (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016). Ultrassom O som é toda onda mecânica perceptível ao ouvido humano. As ondas sonoras estão em uma frequência entre 20 e 20.000 Hz, de modo que ondas acima Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 17 de 20.000 Hz (ou 20 kHz) não são perceptíveis ao ouvido humano e levam o nome de ultrassom (BORGES, 2010). Para a geração de uma onda ultrassônica, são usados transdutores ul- trassônicos que apresentam um ou mais cristais de titanato zirconato de chumbo ou de quartzo. Quando aplicada a esses cristais, a corrente elétrica rapidamente os modifica. Essa mudança rápida na forma ou na vibração dos cristais gera ondas sonoras que trafegam e são emitidas para fora. Em contrapartida, as ondas sonoras ou de pressão, quando atingem os cristais, emitem correntes elétricas. Por consequência, esses mesmos cristais podem ser utilizados para enviar e receber ondas sonoras. Esse fenômeno recebe o nome de efeito piezelétrico (PRENTICE, 2014; NELSON; HAYES; CURRIER, 2003). A energia total de um feixe ultrassônico produzido pelo transdutor é denominada potência e é expressa em watts (W). Intensidade é a energia liberada por unidade de área (W/cm²). Uma característica importante das ondas ultrassônicas é o fato de que, uma vez empregadas ao meio, elas se atenuam, ou seja, podem sofrer modificações devido aos fenômenos de reflexão, refração e absorção, resultando na propagação de ondas ultrassônicas na superfície em que foram aplicadas (NELSON; HAYES; CURRIER, 2003). A propagação da onda ultrassônica ocorrerá de maneira diferente, depen- dendo do tecido em que será aplicada. Todos os tecidos oferecem menor ou maior resistência à passagem do ultrassom; quanto maior for a diferença de impedância entre o tecido e o ultrassom, maior será a quantidade de onda refletida (LOW; REED, 2003). Na área de estética, o ultrassom utilizado atua em uma faixa de frequência de 3 a 5 MHz, sendo o uso mais comum o de 3 MHz. Por serem de baixa frequ- ência, as ondas de ultrassom sofrem menores atenuações e, assim, atingem uma maior profundidade nos tecidos. Logo, quanto menor for a frequência, maior será a penetração do ultrassom no tecido (AGNE, 2011). Existem muitos aparelhos de ultrassom com frequências de 1 MHz. Essa faixa de frequência é bastante utilizada dentro da fisioterapia, pois atinge tecidos mais profundos, como músculos e tendões. A profundidade de penetração do ultrassom ocorre pela frequência, não pela intensidade. Portanto, na área da estética, devem ser utilizados equipamentos com frequ- ências de 3 MHz. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)18 O mecanismo fisiológico do ultrassom se baseia nas suas vibrações sonoras ou acústicas de alta frequência que se propagam por tecidos biológicos por meio de efeitos mecânicos e térmicos. O efeito mecânico, ou não térmico, é a cavitação em que ocorrem mudanças de pressão induzidas pelo ultrassom nos fluidos dos tecidos, as quais criam bolhas cheias de gás que se expandem e comprimem. Borges e Scorza (2016) explicam que existem dois tipos de cavitação: a estável, considerada benéfica ao tecido e que acarreta os efeitos biológicos do ultrassom; e a instável, que causa danos ao tecidual. Já o efeito térmico advém de vibração de partículas que sofrem atrito entre si. Os efeitos térmicos têm relação com a absorção de energia ultrassônica nos tecidos, que libera calor (TASSINARY; SINIGAGLIA; SINIGAGLIA, 2018). Os efeitos térmicos e mecânicos acarretam consequências fisiológicas no organismo, como o efeito tixotrópico, o aumento do fluxo sanguíneo, o aumento na permeabilidade de membrana, o aumento da síntese proteica e o estímulo da angiogênese. Segundo Borges e Scorza (2016), a dosimetria indicada no tratamento do fibroedema geloide está em torno de 1,5 a 1,8 W/cm², no modo contínuo, em decorrência do aspecto crônico da celulite. O intuito é promover um grande efeito mecânico e, sobretudo, um aquecimento das estruturas fibróticas, provocando uma ação tixotrópica no meio celulítico. O tempo de aplicação deve ser de 2 minutos para áreas próximas de 10 cm2. O ultrassom é indicado para obter a lipólise e melhorar o aspecto do fibroedema geloide, pois atua de forma positiva na inflamação do tecido e na regeneração tecidual. Entre as contraindicações absolutas, estão casos de portadores de marca-passo, gestantes e clientes com neoplasias, febre e infecções sistêmicas. Já as contraindicações relativas incluem clientes com infecções locais, em uso de vasodilatadores ou de próteses metálicas, com alteraçãode sensibilidade, varizes ou flebites (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016). Lipocavitação (ultracavitação) Existem vários tipos de equipamentos de ultracavitação no mercado, com diferentes padrões técnicos. A tecnologia é baseada em um ultrassom, em que temos a formação de ondas mecânicas por meio do efeito piezoelétrico em frequências muito altas. Essas ondas, em contato com o tecido, não apenas passam pela sua interface, mas geram efeitos mecânicos e térmicos baseados em princípios físicos (força, potência, impedância, absorção), bem como originam efeitos fisiológicos que contribuem para o tratamento estético. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 19 A ultracavitação tem o mesmo princípio do ultrassom terapêutico con- vencional, mas a onda é transmitida de maneira diferente. É gerado um nível muito alto de ultrassom, e a sua frequência pode variar de 27 a 3 MHz (AGNE, 2016). Portanto, podemos definir a ultracavitação como outra forma de ul- trassom terapêutico, que produz energia de alta potência (igual ou superior a 3 w/cm2) e um alto nível de cavitação instável a uma profundidade definida (BORGES; SCORZA, 2016). O termo ultracavitação ainda não é padronizado, de modo que outros termos que caracterizam a sua finalidade podem ser encontrados no mercado. Além disso, as suas características técnicas podem diferir entre si, como frequência (kHz ou MHz), potência (W), foco ou planicidade. O fenômeno da cavitação ocorre em toda aplicação de ultrassom, porque as ondas liberadas pelo gerador de ultrassom fazem as moléculas e as células oscilarem periodicamente e serem proporcionais à intensidade de saída do gerador de ondas (BORGES; SCORZA, 2016). No fenômeno de cavitação estável, as oscilações criam bolhas gasosas no líquido de propagação das ondas. Essas bolhas oscilam de um lado para outro, apenas em um movimento, e o seu volume aumenta e diminui, mas permanece sempre intacto (efeito terapêutico comum do ultrassom convencional). Já no fenômeno de cavitação instável, o volume e a velocidade das bolhas se alteram de maneira violenta, acarretando a sua implosão e, por consequência, um aumento de temperatura e pressão interna, como se pode ver na Figura 4. Figura 4. Fenômeno da cavitação estável e instável gerado pelo ultrassom. Fonte: Adaptada de Ibramed (2019). Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)20 A ultracavitação de alta frequência 3 MHz permite uma menor penetração de onda, abrangendo tecidos em níveis mais superficiais. Porém, com a sua alta potência, é capaz de provocar a cavitação instável, levando à lesão na membrana do adipócito. Na ultracavitação de baixa frequência entre 28 e 80 KHz, a penetração da onda sonora se torna maior, permitindo chegar mais profundamente ao tecido adiposo. É, então, indicada para regiões que apresentam pregas cutâneas acima de 2,5 cm, a fim de que não haja o risco de tecidos mais profundos serem atingidos e danificados. Considerada um recurso de alta tecnologia não invasivo, a ultracavitação atua fisiologicamente de forma a reduzir o tecido adiposo para a redução de gordura por meio do seu mecanismo de ação. O aparelho emite ondas ultrassônicas de alta frequência, cuja vibração atravessa as interfaces do tecido, fazendo com que forme microbolhas que se expandem e se compri- mem (cavitação) em razão de alterações da pressão presente nos fluidos do tecido. Essas microbolhas se rompem devido à alta frequência e acarretam, no tecido subcutâneo, a fragmentação da membrana dos adipócitos, pro- movendo o extravasamento do conteúdo celular. No tecido, alguns efeitos são descritos, como efeito mecânico (ruptura da membrana do adipócito), estímulo da apoptose, efeito químico (formação de radicais livres e aniqui- lamento do adipócito) e efeito térmico (conversão da energia mecânica em energia térmica). A ruptura das células adiposas causada pela cavitação faz as gotí- culas de triglicerídeos se dissiparem no espaço intersticial. Após o dano da membrana das células adiposas, ocorre um aumento na estimulação de adipocinas, citocinas e do fator de necrose tumoral (TNF-α), produzido por adipócitos em resposta ao processo inflamatório transitório causado pela ação. O TNF-α não apenas induz macrófagos para fagocitose no local, mas também induz a chegada de interleucinas, desencadeando a cascata lipolítica para converter triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos serão, então, transportados para o fígado e eliminados na forma de energia após o metabolismo, o que significa que o resíduo é removido de maneira fisiológica, sem causar aumento no perfil lipídico do sangue. A ultracavitação é indicada para obter a lipólise e melhorar o aspecto do fibroedema geloide, principalmente em graus mais elevados, como o III e o IV, quando já existe um maior comprometimento do tecido conjuntivo e adiposo. Devido aos seus efeitos de diminuição do tecido adiposo, ocorre uma melhor circulação local, levando ao tecido conjuntivo maior aporte de oxigênio e nutrição celular. Além disso, com o uso de aparelhos ou massagens logo após Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 21 a sessão, existe a diminuição do edema local, reduzindo a toxicidade presente no tecido e aumentando a excreção de metabolitos nocivos. Entre as contraindicações absolutas ao tratamento, estão os casos de clientes com marca-passo, gestantes e clientes com neoplasias, febre e in- fecções sistêmicas. Já as contraindicações relativas incluem infecções locais, uso de vasodilatadores ou de próteses metálicas, alteração de sensibilidade, varizes e flebites (AGNE, 2016; BORGES; SCORZA, 2016). O profissional da estética deve saber que cada cliente pode reagir de forma distinta aos tratamentos utilizados. Assim, alguns recursos po- dem apresentar resultados muito mais satisfatórios que outros. O conhecimento teórico, específico e prático é de grande importância para que o tratamento não seja empregado de forma errada. Ainda, é importante lembrar que a associação de tratamentos pode ser muito eficaz na busca de um objetivo único. Protocolos e associações para tratamento do fibroedema geloide Qualquer protocolo se inicia com uma boa e detalhada anamnese. Nesse caso, é muito importante que o profissional da estética observe atentamente todos os detalhes do que foi descrito pelo cliente e a sua maior queixa. Durante a avaliação física corporal, atente-se para a forma como se encontra a pele do cliente: se tem manchas, lesões abertas, verrugas e sinais de que algo não está adequado. A associação de protocolos torna o alcance de um resultado satisfatório mais palpável. Se houver a possibilidade de o profissional empregar vários recursos e o cliente não apresentar contraindicações, as chances são de um resultado positivo ser alcançado mais rapidamente. Veja, a seguir, a descrição de alguns protocolos que utilizam recursos eletroestéticos para o tratamento do fibroedema geloide. Protocolo 1 1. Limpar a região a ser tratada, com leve esfoliação. 2. Ajustar a configuração do aparelho de ultrassom, com frequência de 1,5 a 1,8 W/cm², no modo contínuo, com tempo de aplicação de 2 minutos para áreas próximas de 10 cm2. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)22 3. Dividir a região em quadrantes (tamanhos do cabeçote), visando a uma melhor distribuição do tempo de aplicação. 4. Aplicar gel condutor ou gel condutor com ativos como arnica ou fibrinolíticos. 5. Iniciar a aplicação do aparelho com movimentos circulares e lentos em toda a região demarcada. 6. Realizar vacuoterapia/endermologia com programação da pressão negativa do aparelho de –200 a –400 mmHg, conforme sensibilidade do cliente, com tempo médio de 3 a 5 minutos para cada área tratada. Para deslizar o cabeçote sobre a pele, pode-se utilizar óleo ou creme com ativo como a cafeína. 7. Para efeito desfibrosante, pode-se utilizar o cabeçotedo aparelho de vacuoterapia/endermologia para realizar movimentos em forma de “oito”, auxiliando na descontratura e no descongestionamento das zonas com fibroedema geloide. Protocolo 2 1. Limpar a região a ser tratada, com leve esfoliação. 2. Ajustar a configuração do aparelho de lipocavitação, com frequência de 30 a 60 kHz, no modo contínuo, com tempo de aplicação de 10 minutos para cada 15 ou 20 cm2. 3. Dividir a região em quadrantes (tamanhos do cabeçote), visando a uma melhor distribuição do tempo de aplicação. 4. Aplicar gel condutor ou gel condutor com ativos como arnica ou fibrinolíticos. 5. Iniciar a aplicação do aparelho com movimentos circulares e lentos em toda a região demarcada. Para potencializar os resultados, fazer uma prega do tecido com a mão ao mesmo tempo que a outra mão realiza a aplicação do aparelho com movimento pontual. 6. Realizar vacuoterapia/endermologia com programação da pressão negativa do aparelho de –200 a –400 mmHg, conforme sensibilidade do cliente, com tempo médio de 3 a 5 minutos para cada área tratada. Para deslizar o cabeçote sobre a pele, pode-se utilizar óleo ou creme com ativo como extrato de ginkgo biloba. 7. Para efeito desfibrosante, podem ser realizados movimentos em “oito”, auxiliando na descontratura e no descongestionamento das zonas com fibroedema geloide. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 23 Protocolo 3 1. Limpar a região a ser tratada com clorexidina alcoólica a 0,5%. 2. Inserir as agulhas na pele com ângulo de 90° no local desejado, de ma- neira que estejam acomodadas no tecido adiposo. Depois, é necessário que as agulhas sejam levemente inclinadas e fiquem em um ângulo de 45°. A distância entre as agulhas precisa ser de 5 cm. 3. Prender as agulhas ao conector do aparelho pelo eletrodo garra jacaré para fechar o circuito. 4. Ajustar a configuração do aparelho de eletrolipólise, com frequência de 30 a 50 Hz, com tempo de aplicação de 50 a 60 minutos. 5. Realizar a técnica de iontoforese após o tempo de ação. 6. Programar o aparelho de iontoforese para que não ultrapasse 0,1 mA/ cm2 da área de eletrodo ativo. A dose total deve ser calculada de acordo com o tamanho do eletrodo. Por exemplo, com um eletrodo de 1 cm², deve-se usar a dose de 0,1 mA/cm2, sendo o tempo de aplicação de 12 minutos por área, não ultrapassando 30 minutos no total. 7. Programar o equipamento de acordo com a polaridade pedida pelo ativo cosmético. Essa informação está contida na embalagem do produto. 8. Aplicar o ativo cosmético na pele. Entre os ativos utilizados, estão benzidamina CIH (+), indometacina C e Thiomucase (–). 9. Iniciar o equipamento e deixar o tempo de ação. Perguntar ao cliente como está a sensibilidade; caso esteja muito alta, diminuir a intensidade. Protocolo 4 1. Limpar a região a ser tratada, com leve esfoliação. 2. Ajustar a configuração do aparelho de radiofrequência, com frequência de 0,5 a 1,5 MHz, ou medida em kHz. A medida dependerá do equi- pamento. Visando à melhor escolha, deve-se entender que, quanto mais profundo for o tecido atingido, menor será a frequência esco- lhida. O tempo de aplicação varia de 30 a 60 minutos, dependendo da quantidade de áreas tratadas. Existe equipamentos com dosagem de potência, que pode variar entre 10 e 600 watts, e que têm a dosimetria da potência em forma de porcentagem (0 a 100%). 3. Dividir a região em quadrantes, visando a uma melhor distribuição do tempo de aplicação. 4. Aplicar gel condutor ou gel glicerinado. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)24 5. Iniciar aplicação do aparelho com movimentos circulares em toda a região demarcada até atingir determinada temperatura. A temperatura varia com base no grau do fibroedema geloide. Em casos de fibroedema geloide compacto e edematoso, a temperatura ficará entre 37 e 38 °C, mantendo esse tempo por 5 minutos. Já no fibroedema geloide flácido, a temperatura será de 41 a 43°C, mantendo-se por cerca de 5 minutos. No entanto, a temperatura ideal para a ação no tecido adiposo é em torno de 42°C, por cerca de 10 a 12 minutos. 6. Por segurança, aferir sempre a temperatura a fim de evitar queimaduras. 7. Após o término, limpar a região na sequência. 8. Realizar vacuoterapia/endermologia com programação da pressão negativa do aparelho de –200 a –400 mmHg, conforme sensibilidade do cliente, com tempo médio de 3 a 5 minutos para cada área tratada. Para deslizar o cabeçote sobre a pele, utiliza-se óleo ou creme com ativo como a cavalinha. Independentemente do protocolo de tratamento, sempre se deve res- peitar as particularidades de cada cliente. Além disso, deve-se reconhecer os detalhes da disfunção do fibroedema geloide e como funciona a sua fisiopatologia no tecido. Sobretudo, o profissional deve buscar constante atualização a respeito dos recursos empregados no tratamento, a fim de planejar um protocolo seguro e eficaz, envolvendo, inclusive, uma série de recursos a fim de atingir um único objetivo. De forma complementar, o profissional deve solicitar que o cliente continue o tratamento em casa. Para isso, pode ser indicado o uso produtos, como cremes anticelulite, por exemplo, explicando como devem ser utilizados e com qual frequência diária. Ainda, o profissional deve ressaltar, ao cliente, a importância de manter uma dieta equilibrada e de praticar exercícios físicos regularmente. Referências AGNE, J. E. et al. Eletrotermofototerapia. 4. ed. Santa Maria: Pallotti, 2016. AGNE, J. E. Eu sei eletroterapia. 2. ed. Santa Maria: Pallotti, 2011. BORGES, F. S. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2010. BORGES, F. S.; SCORZA, F. A. (org.). Terapêutica em estética: conceitos e técnicas. São Paulo: Phorte, 2016. GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos e pato- -logias. 3. ed. Barueri: Manole, 2003. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite) 25 IBRAMED. Sonofocus. 2019. Disponível em: https://ibramed.com.br/site/wp-content/ uploads/2019/02/SONOFOCUS.pdf. Acesso em: 10 ago. 2021. LOW, J.; REED, A. Eletroterapia explicada: princípios e prática. 3. ed. Barueri: Manole, 2003. NELSON, R. M.; HAYES, K. W.; CURRIER, D. P. Eletroterapia clínica. 3. ed. Barueri: Manole, 2003. PRENTICE, W. E. Modalidades terapêuticas para fisioterapeutas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. TASSINARY, J.; SINIGAGLIA, M.; SINIGAGLIA, G. Raciocínio clínico aplicado à estética corporal. Lajeado: Estética experts, 2018. Leituras recomendadas GERSON, J. et al. Fundamentos de estética 2: ciências gerais. São Paulo: Cengage Le- arning, 2011. HEWITT, P. G. Fundamentos de física conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2010. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Inovações tecnológicas no tratamento do fibroedema geloide (celulite)26