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Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 1 Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO INTRODUÇÃO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Definida como o deslocamento, sem esforço, do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Afecção crônica decorrente do refluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes a ele, acarretando um espectro variável de sinais e sintomas, tanto esofágicos como extra esofágicos EPIDEMIOLOGIA Enfermidade esofágica mais frequente Afeta todos os grupos etários, mas os idosos procuram o atendimento mais frequentemente Presente em, aproximadamente, 20 a 40% da população mundial Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 2 A prevalência dessa doença, na América do Sul é de 23% e no Brasil é de 12% (aprox. 20 milhões) ETIOLOGIA Multifatorial Refluxo ácido: mais prevalente Refluxo alcalino: refluxo biliar e pancreático Refluxo gasoso Fatores imunológicos FATORES DE RISCO Obesidade Alcoolismo Sedentarismo Tabagismo Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 3 Uso de fármacos: bloqueadores de canal de cálcio, nitratos, antidepressivos tricíclicos, anticolinérgicos Envelhecimento Alterações anatômicas: hérnia de hiato Gestação: mecanismos hormonais + aumento da pressão intra-abdominal pelo útero gravídico Alimentação FISIOPATOLOGIA EVENTO PRINCIPAL Retorno patológico para o esôfago de agentes agressores Agentes agressores: ácido clorídrico, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas MECANISMOS DE DEFESA CONTRA O REFLUXO BARREIRA ANTIRREFLUXO Principal proteção Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 4 Composição: componentes anatômicos, como o esfíncter interno (ou esfíncter inferior do esôfago – EEI – propriamente dito) e o esfíncter externo (formado pela porção crural do diafragma) + componentes fisiológicos Ligamento frenoesofágico: impede que o esfíncter inferior do esôfago seja submetido à pressão torácica negativa MECANISMOS DE DEPURAÇÃO INTRALUMINAL Depuração do material refluxado: lavagem do material refluído presente na luz do esôfago Mecanismos mecânicos: peristaltismo que utiliza da gravidade para retirar boa parte dos fluidos Mecanismos químicos: neutralização do conteúdo residual, o qual o restante será lavado e tamponado pela saliva e pelo bicarbonato esofágico RESISTÊNCIA INTRÍNSECA DO EPITÉLIO Defesa pré-epitelial: composta por muco, bicarbonato e água no lúmen do esôfago, formando uma barreira físico-química que é pouco desenvolvida no esôfago, quando comparada à mucosa gástrica e duodenal Defesa epitelial: junções intracelulares firmes, características do epitélio estratificado pavimentoso, o que dificulta a retrodifusão de íons e substâncias tamponadoras intrínsecas, como proteínas, fosfato e bicarbonato Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 5 Defesa pós-epitelial: suprimento sanguíneo, responsável t anto pelo aporte de oxigênio e nutrientes, quanto pela remoção dos metabólitos MECANISMOS FACILITADORES DO REFLUXO RELAXAMENTO TRANSITÓRIO DO ESFÍNCTER INFERIOR DO ESÔFAGO Principal mecanismo fisiopatológico associado à DRGE Responsável por 36 a 74% dos episódios de RGE O EIE mantém-se fechado em repouso (evitando o refluxo) e relaxa com a deglutição e com a distensão gástrica Resultante da distensão do fundo gástrico por alimentos ou gás, sendo mais comum no período pós-prandial e em decúbito lateral direito Controlado pelo núcleo do trato solitário (NTS), o qual integra as informações sensoriais provenientes do estômago e faringe, desencadeando o relaxamento do EIE HIPOTONIA DO ESFÍNCTER INFERIOR DO ESÔFAGO A diminuição da pressão basal do EIE está mais associada a casos mais graves de DRGE Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 6 HÉRNIA HIATAL A presença da hérnia hiatal propicia o funcionamento inadequado da barr eira antirrefluxo através da dissociação entre o esfíncter externo e o interno e do refluxo sobreposto ou re-refluxo Re-refluxo: fenômeno caracterizado pelo refluxo retrógrado do conteúdo refluxado preso na câmara herniada para o esôfago, após um episódio de refluxo habitual, que também é facilitado pela pressão intratorácica durante a inspiração Parece estar relacionada à forma mais grave da DRGE, pois episódios de refluxo durante relaxamentos transitórios do EIE ocorrem, com maior frequência, em indivíduos portadores de hérnia DISTENSÃO GÁSTRICA Principalmente após as refeições (↓ tônus do EEI), contribui para o RGE , uma vez que favorece o relaxamento do EIE RETARDO DO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO E AUMENTO DA PRESSÃO INTRAGÁSTRICA Gastroparesia: redução da motilidade do estômago Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 7 Ambos presentes quando existe obstrução ou semi-obstrução antropilórica ALTERAÇÃO DA SECREÇÃO GÁSTRICA Afecções que cursam com hiperacidez, como a síndrome de Zollinger-Ellison (síndrome da hipersecreção gástrica), podem levar à DRGE grave QUADRO CLÍNICO SINTOMAS TÍPICOS Pirose: sensação de queimação retroesternal, ascendente em direção ao pescoço, intensifica no pós-prandial e apresenta-se, muitas vezes, com epigastralgia Regurgitação: retorno do conteúdo gástrico, ácido ou amargo, até a faringe SINTOMAS ATÍPICOS Dor torácica: ocorre devido ao estímulo aos nociceptores pelo material refluxado SINTOMAS EXTRAESOFÁGICOS Pulmonares: tosse crônica, asma, bronquite crônica, pneumonia de repetição, fibrose pulmonar, aspiração recorrente, bronquiectasias Otorrinolaringológicas: rouquidão, globus faríngeo, roncos, pigarro, alteração nas cordas vocais, laringite crônica, sinusite, erosões dentárias, aftas e halitose RECURSOS DE ALARME Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 8 Dispepsia de início recente em paciente ≥60 anos Evidência de sangramento gastrointestinal (hematêmese, melena, hematoquezia, sangue oculto nas fezes) Anemia por deficiência de ferro Anorexia Perda de peso inexplicável Disfagia: comum no cenário de pirose de longa data e é frequentemente atribuível à esofagite de refluxo, mas pode ser indicativa de estenose esofágica Odinofagia: sintoma incomum da DRGE, que quando presente, geralmente indica uma úlcera esofágica Vômitos persistentes Câncer gastrintestinal em parente de primeiro grau COMPLICAÇÕES ESOFÁGICAS Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 9 Esofagite erosiva: ocorre quando o refluxo excessivo de ácido e pepsina resulta em necrose das camadas superficiais da mucosa esofágica, causando erosões e úlceras Esôfago de Barret: condição na qual o epitélio colunar metaplásico substitui o epitélio escamoso estratificado que normalmente reveste o esôfago dista, predispondo o desenvolvimento do câncer de esôfago Estenose esofágica: resultado do processo de cicatrização da esofagite ulcerativa EXTRAESOFÁGICAS Asma: o ácido esofágico pode produzir broncoconstrição e exacerbar a obstrução do fluxo aéreo em asmáticos, a partir do aumento do tônus vagal + aumento da reatividade brônquica + microaspiração do conteúdo gástrico para as vias aéreas superiores Laringite crônica: apresentam alteração na qualidade da voz ou rouquidão devido ao RLF Estenose laríngea e traqueal: sintomas apresentados em pacientes com obstrução das vias aéreas centrais são inespecíficos e podem ser subagudos ou agudos Outras: tosse crônica, erosões dentárias, sinusite crônica e pneumonite recorrente DIAGNÓSTICO CLÍNICO Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 10 A presença de PIROSE/REGURGITAÇÃO (≥1x por semana) com frequência ≥ 4 SEMANAS, sugerem o diagnóstico de DRGE O sintoma mais característico é a pirose, tipicamente referida de 30 min a 2h após a refeição, podendo ser aliviada por antiácido A ausência de sintomas típicos (pirose e regurgitação), não exclui a possibilidade de DRGE, umavez que as manifestações podem ser atípicas Erosiva: apresenta erosões visualizadas através da endoscopia Não erosiva: apresenta-se sem erosões, o que dificulta o diagnóstico TESTE COM IBP 1º exame a ser solicitado Duração: 8 semanas Resultado: melhora dos sintomas ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA E BIÓPSIA DE ESÔFAGO Baixa sensibilidade < 50% Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 11 Cerca de 60% dos pacientes têm endoscopia normal, sem evidência de esofagite ou de suas complicações Vantagens: exame acessível e facilmente executável LESÕES EVIDENCIADAS Erosões: solução de continuidade limitada à mucosa, com pelo menos 3cm de diâmetro, depósito de fibrina e permeação neutrofilica do epitélio Úlceras: solução de continuidade que atinge, pelo menos, a camada muscular da mucosa, com presença de tampão e tecido de granulação Estenose péptica: resultado da cicatrização de úlceras esofágicas que culminam no estreitamento segmentar da junção esofagogástrica Esôfago de Barrett: metaplasia em que o epitélio estratificado pavimentoso do esôfago é substituído pelo epitélio simples colunar especializado do tipo intestinal pH-METRIA Tipos: cateter nasoesofágico e o monitoramento com cápsula de radiotelemetria sem fio Radiotelemetria sem fio: monitoramento 48h sem interromper as atividades diárias Resultados: pH < 4 mais de 4% do tempo Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 12 MANOMETRIA ESOFÁGICA Objetivo: avaliar as contrações esofágicas e a função do esfíncter esofágico inferior Resultados: pode sugerir acalasia, espasmo esofágico ou outros distúrbios motores TESTE COMBINADO DE pH-METRIA COM IMPEDÂNCIA Objetivo: detectar o trânsito do bolo anterógrado e retrógrado de líquido e gás Resultados: pode detectar eventos de refluxo ácido ou não-ácido ESOFAGOGRAFIA BARITADA Pode descartar outras causas de disfagia ENDOSCOPIA POR CÁPSULA ESOFÁGICA Pode mostrar esofagite ou esôfago de Barrett CRITÉRIOS MONTREAL SÍNDROMES ESOFÁGICAS 1. Síndromes com sintomas e sem lesão a. Síndrome do refluxo típica Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 13 b. Síndrome da dor torácica por refluxo 2. Síndromes com lesão esofágica a. Esofagite de refluxo b. Estenose por refluxo c. Esôfago de Barrett d. Adenocarcinoma esofágico SÍNDROMES EXTRAESOFÁGICAS 1. Associações estabelecidas a. Síndrome da tosse por refluxo b. Síndrome da laringite por refluxo c. Síndrome da asma por refluxo d. Síndrome da erosão dental por refluxo 2. Associações propostas a. Faringite b. Sinusite c. Fibrose pulmonar idiopática d. Otite média recorrente LOS ANGELES Grau A: quebras ≤5 mm Grau B: quebras >5 mm Grau C: interrupções que se estendem entre os picos ≥2 dobras de mucosa, mas com <75% da circunferência Grau D: interrupções circunferenciais (≥75%) CONDUTA AGUDA Doença do Refluxo Gastroesofágico - BEATRIZ TIANEZE DE CASTRO 14 1. Inibidor da bomba de prótons em dose padrão a. Omeprazol: 20 mg por via oral uma vez ao dia b. Omeprazol/bicarbonato de sódio: 20/1100 mg a 40/1100 mg (cápsula) por via oral uma vez ao dia ou 20/1680 mg a 40/1680 mg (pó) por via oral uma vez ao dia c. Pantoprazol: 40 mg por via oral uma vez ao dia CONTÍNUA 1. Inibidor da bomba de prótons em dose padrão a. Omeprazol: 20 mg por via oral uma vez ao dia b. Omeprazol/bicarbonato de sódio: 20/1100 mg a 40/1100 mg (cápsula) por via oral uma vez ao dia ou 20/1680 mg a 40/1680 mg (pó) por via oral uma vez ao dia c. Pantoprazol: 40 mg por via oral uma vez ao dia 2. Cirurgia a. Fundoplicatura aberta b. Fundoplicatura laparoscópica c. Fundoplicatura transoral sem incisão
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