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Química Orgânica III Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Marina Garcia Resende Braga Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse • Introdução; • Ácidos Carboxílicos – Breve Revisão; • Enóis e Enolatos; • Reações Aldólicas; • Anexo I. • Introduzir aos ácidos carboxílicos e apresentação de suas principais características e reações; • Defi nir enóis e enolatos; • Introduzir às reações aldólicas e apresentação de outras reações orgânicas de interesse. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Introdução Olá, tudo bem com você? Seja bem-vindo(a) a esta interessante unidade sobre química orgânica. A partir de agora, você aprenderá conceitos importantes sobre um grupo funcional de grande destaque na química orgânica: os ácidos carboxílicos. Especificamente nesta unidade, o foco será nas reações orgânicas que envolvem esses tipos de compostos. Você, provavelmente, já aprendeu um pouco sobre os ácidos carboxílicos em aulas anteriores, porém, para que as reações que aprende- remos sejam bem compreendidas, vamos revisar algumas características e proprie- dades fundamentais desse grupo funcional. Além disso, também conheceremos outros compostos de grande interesse para a química orgânica: os enóis e os enolatos. Veremos também como os enolatos são importantes nas chamadas reações aldólicas, que são fundamentais para a for- mação de compostos do tipo aldol (aldeído + álcool). Então, vamos começar? Bons estudos! Ácidos Carboxílicos – Breve Revisão Bem, a principal característica estrutural dos ácidos carboxílicos é a presença do grupo carboxila (Figura 1) em uma das extremidades da cadeia carbônica. O grupo carboxila é formado pela união dos grupos hidroxila (–OH) e carbonila (C —— O). C O OH Figura 1 – Representação estrutural do grupo carboxila Os ácidos carboxílicos estão constantemente presentes na natureza nos diversos processos biológicos (como a formação de proteínas, por exemplo), medicamentos, alimentos, entre outros. Este grupo está presente em um composto de um medica- mento bastante conhecido e usado por nós, principalmente quando surge aquela dor de cabeça que não passa: o ácido acetilsalicílico. Reconhece este nome? Popularmente, o conhecemos como aspirina (Figura 2). Observe a fórmula es- trutural do ácido acetilsalicílico na Figura 3. Este composto possui propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e antitérmicas. 8 9 Figura 2 – Ácido acetilsalicílico Fonte: Getty Images CH3 C C O C C OH Grupo carboxila Figura 3 – Fórmula estrutural do ácido acetilsalicílico Antes de tomar qualquer remédio, consulte um médico. Caso queira saber mais sobre a ação do ácido acetilsalicílico no organismo, acesse a bula do medicamento aspirina. Disponível em: http://bit.ly/2B5jXhU Ex pl or Alguns outros exemplos de ácidos carboxílicos presentes em nosso cotidiano são: o ácido lático (presente no leite), ácido fórmico, ácido acético (presente no vinagre de maçã, mostrado na Figura 4), entre outros. A nomenclatura oficial da IUPAC para o ácido acético é ácido etanoico. Os ácidos carboxílicos são extremamente importantes para a química e para a bioquímica. Porém, o grupo carboxila tam- bém é a base para formação de vários outros compostos, os chamados derivados de ácidos carboxílicos, que são: clo- retos de acila, anidridos de ácido, ésteres, nitrilas e amidas (SOLOMONS; FRYHLE, 2012). Observe uma representação da estrutura de cada um destes derivados na Figura 5. Figura 4 – Ácido acético Fonte: Getty Images 9 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Cl C O R Cloreto de acila NH2 C O R Amida primária R — C —— — N Nitrila R O C O R’ Éster C O R R’ C O O Anidrido de ácido Figura 5 – Representação estrutural de derivados de ácidos carboxílicos Vejamos, a seguir, algumas das principais propriedades dos ácidos carboxílicos. Propriedades dos ácidos carboxílicos Em primeiro lugar, vamos considerar o ponto de ebulição (P.E.) dos ácidos carbo- xílicos. O P.E. destes compostos, por exemplo, é maior que o de hidrocarbonetos, aldeídos, cetonas e álcoois de peso molecular semelhante. Isso se deve à presença de pontes de hidrogênio na estrutura dos ácidos carboxílicos (MCMURRY, 2016). Tratando-se de solubilidade, os ácidos carboxílicos são mais solúveis em água que hidrocarbonetos, éteres, álcoois, aldeídos e cetonas de peso molecular semelhante. O grupo carboxila confere aos ácidos carboxílicos um caráter polar, no entanto, como já aprendemos anteriormente: quanto maior a cadeia carbônica, menor será o caráter polar do composto orgânico (SOLOMONS; FRYHLE, 2012). Apesar do nome, os ácidos carboxílicos não possuem uma acidez tão alta e levando em consideração essa característica e comparando-os com ácidos inorgâ- nicos, eles podem ser considerados ácidos fracos. Caso queira saber mais ou revisar a nomenclatura de ácidos carboxílicos, basta consultar um dos livros presentes nas referências bibliográficas no final desta unidade, como o livro Química Orgânica (SOLOMONS; FRYHLE, 2012), por exemplo. Ex pl or A partir de agora, conheceremos as principais reações nas quais há a presença de ácidos carboxílicos. Vamos lá? Reações de ácidos carboxílicos: síntese de ácidos carboxílicos Uma reação bastante utilizada para o preparo de ácidos carboxílicos é a oxida- ção de aldeídos, álcoois primários e alcenos. Para que esses tipos de reações de oxidação ocorram, algumas condições devem ser estabelecidas: • Oxidação de aldeídos: para que aldeídos sejam oxidados a ácidos carboxí- licos, não é necessário um agente oxidante tão forte, embora agentes fortes possam ser usados. Nesse caso, no entanto, pode ser utilizado um agente mo- derado, como o reagente de Tollens (Ag(NH3)2OH), por exemplo. Uma mistura de ácido crômico e solução aquosa de acetona também pode ser usada como agente oxidante. Observe um exemplo desta reação na Figura6. 10 11 O H H O H OH metanal ácido metanoico H2CrO4 Figura 6 – Oxidação de um aldeído a ácido carboxílico • Oxidação de álcoois primários: se desejamos oxidar um álcool primário a ácido carboxílico, geralmente é necessário um oxidante mais forte do que al- guns utilizados na oxidação de aldeídos. Neste caso, para que a reação ocorra, podemos usar como agente oxidante o KMnO4 (permanganato de potássio). Esse mesmo agente pode ser utilizado para transformar aldeídos em ácidos carboxílicos. Veja um exemplo deste tipo de oxidação na Figura 7. H3C OH O H3C OH etanol ácido eranoico KMnO4 Figura 7 – Oxidação de um álcool primário a ácido carboxílico • Oxidação de alcenos: para que um alceno seja oxidado a ácido carboxílico, é necessário utilizar, como agente oxidante, uma solução básica de permanga- nato de potássio, a quente (SOLOMONS; FRYHLE, 2012). Outro método usado para a síntese de ácidos carboxílicos é a hidrólise de ni- trilas. Neste caso, para que a nitrila seja convertida em ácido carboxílico, deve ser aquecida em ácido ou base aquosa. Essa reação é utilizada para preparar um medicamento bastante conhecido, o ibuprofeno (MCMURRY, 2016). Veja um es- quema simplificado de uma reação de hidrólise de nitrila para formação de ácido carboxílico na Figura 8. O H3C OH Solução ácida ou básicaH3C — C —— — N O H3C NH2 NH3+ Solução ácida ou básica Figura 8 – Conversão de nitrila em ácido carboxílico Finalmente, ácidos carboxílicos também podem ser produzidos através de carbo- natação de reagentes de Grignard, que consiste na reação deste reagente com CO2. Geralmente, o um fluxo seco de CO2(g) é borbulhado em uma solução de reagente de Grignard. Forma-se, então, um carboxilato metálico e, após uma protonação, é formado o ácido carboxílico (MCMURRY, 2016). Lembre-se de que uma das formas mais comuns de se designar um reagente de Grignard é RMgX. Ex pl or 11 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Redução de ácidos carboxílicos Ácidos carboxílicos e ésteres podem ser reduzidos a álcoois primários. Veja como ocorre a reação de redução de um ácido carboxílico a álcool primário na Figura 9. O H3C OH redução H3C OH Figura 9 – Reação de redução de um ácido carboxílico, gerando um álcool primário Síntese de cloretos de acila Cloretos de acila também são derivados de ácidos carboxílicos. De todos esses derivados, os cloretos de acila são os mais reativos. Geralmente, para obter esses compostos, é necessário que ocorra a reação entre um ácido carboxílico e um cloreto de ácido (derivados de ácidos inorgânicos). Entre estes cloretos, os mais utilizados são (SOLOMONS; FRYHLE, 2012): • SOCl2: cloreto de tionila; • PCl5: pentacloreto de fósforo; • PCl3: tricloreto de fósforo. Observe, por exemplo, a reação que ocorre entre um ácido carboxílico e o clo- reto de tionila para formação de cloreto de acila na Figura 10. O H3C OH O H3C Cl + + +SOCl2 SO2 HCl Figura 10 – Exemplo de reação de síntese de cloreto de acila Esterificação: síntese de ésteres Os ésteres, outros derivados de ácidos carboxílicos, possuem várias aplicações e são encontrados de maneira abundante na natureza. São muito empregados em indústrias farmacêuticas, de alimentos (Figura 11), solventes e polímeros. O butanoato de etila, por exemplo, é utilizado para conferir o aroma de abacaxi a diversos alimentos. 12 13 Figura 11 – Ésteres são muito utilizados em indústrias de alimentos Fonte: Getty Images Os ésteres podem ser formados por uma reação de condensação entre um ácido carboxílico com um álcool. Naturalmente, essa reação é lenta e geralmente é uti- lizado um catalisador. Quando esta reação é catalisada por um ácido, é chamada de esterificação de Fischer (SOLOMONS; FRYHLE, 2012). Observe um exemplo deste tipo de esterificação na Figura 12. O H3C OH O H3C OEt + +EtOH H2O ácido carboxilico álcool éster água HA Figura 12 – Esterifi cação de Fischer: ácido acético reagindo com etanol para produção de acetato de etila e água Os ésteres podem sofrer hidrólise, tanto ácida quanto básica. Porém, quando sofrem hidróli- se na presença de uma base, ocorre a chamada reação de saponificação. Esse nome parece familiar? Isso mesmo? É a reação usada para produzir sabão. Muitas pessoas fabricam o sa- bão, em casa mesmo, usando óleo vegetal de cozinha e hidróxido de sódio (NaOH). A reação geral de saponificação pode ser observada na Figura 13. O R OR’ O R O — Na+ + +NaOH R’OH carboxilato de sódio (sabão) álcooléster base forte H2O Figura 13 – Reação geral de saponifi cação Ex pl or 13 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Síntese de amidas Assim como os ésteres, amidas também são presença constante na natureza. Além disso, os grupos amida estão presentes também em nosso organismo, asso- ciados a proteínas e ácidos nucleicos, por exemplo (MCMURRY, 2016). Amidas podem ser formadas a partir de ácidos carboxílicos. No entanto, exis- tem métodos melhores para síntese de amidas (a partir de cloretos de acila, por exemplo). De forma resumida, primeiramente um ácido carboxílico reage com uma solução aquosa de amônia. O produto formado, um carboxilato de amônio, após sofrer desidratação, forma uma amida. Veja um esquema resumido desta reação na Figura 14. O R OH O R NH2 + +NH3 H2O ácido carboxilico calor O R O — NH4 + amônia carboxilato de amônio (sólido) amida água Figura 14 – Síntese de amidas a partir de ácidos carboxílicos Existem muitas outras reações que envolvem ácidos carboxílicos, ésteres, ami- das, anidridos de ácidos, cloretos de acila e nitrilas. No entanto, infelizmente não conseguiremos ver todas elas nesta unidade. Você pode se aprofundar no assunto consultando o Capítulo 17 do livro de Solomons e Fryhle (2012) e também os Ca- pítulos 20 e 21 de McMurry (2016). Antes de partirmos para outros assuntos, vamos analisar o exemplo a seguir. Exemplo 1. (CESGRANRIO, 2014) No processamento industrial de um ácido carboxílico, obteve-se a molécula cuja fórmula estrutural é apresentada a seguir. O NH2 Figura 15 – Composto obtido no processamento industrial do ácido carboxílico Essa molécula pertence à função orgânica: a) Éster; b) Nitrila; c) Anidrido; d) Amida; e) Nitrocomposto. 14 15 Solução: Neste composto, podemos observar que existe um átomo de nitro- gênio ligado a um grupo carbonila. Já aprendemos que esta é a característica do grupo amida. Portanto, a função orgânica presente no composto é a amida. É importante não confundir aminas e amidas com nitrocompostos. Estes são compostos químicos que contém grupos nitro (NO2) em suas moléculas. Agora, vamos praticar um pouco o que aprendemos até o momento. Observe o exercício a seguir. Exercício 1. (CESGRANRIO, 2012) A Figura a seguir é a representação do aspartame, uma substância que possui elevado poder adoçante e é muito utilizada em bebidas como refrigerantes. Figura 16 – Fórmula estrutural do aspartame Fonte: Getty Images De acordo com a estrutura apresentada, a função orgânica que NÃO está pre- sente no aspartame é: a) Amina; b) Amida; c) Cetona; d) Éster; e) Ácido carboxílico. Tente resolver esse exercício e comente sua resposta com seus colegas no fórum de discussão. Caso haja alguma dúvida, entre em contato com seu professor tutor! Estamos sempre aqui para lhe ajudar, OK? A partir deste momento, vamos nos concentrar na química dos enóis e enolatos e nas reações aldólicas. Vamos lá? Enóis e Enolatos Durante nosso curso de química orgânica, aprendemos vários tipos de reações: adição, substituição, eliminação, entre outras. A partir de agora, conheceremos ou- tro tipo de reação muito importante para a química orgânica e muito utilizada em 15 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse rotas bioquímicas e também para síntese de medicamentos. Esta reação é chamada de reação de substituição a. Esse tipo de reação não ocorrediretamente no grupo carbonila, e sim em uma posição próxima. Neste caso, um átomo de hidrogênio a é substituído por um ele- trófilo (substância que possui afinidade por elétrons). Um átomo de hidrogênio a é qualquer átomo de hidrogênio ligado diretamente ao átomo de carbono a de um composto carbonílico. Veja a localização deste átomo de carbono a na Figura 17 (MCMURRY, 2016). O átomo de carbono alfa, neste caso, é vizinho ao carbono que faz parte do grupo carbonila. Não se preocupe, você entenderá como estas reações ocorrem ao longo desta unidade. O C R R’’ R’’’ C α α H carbonila carbono α hidrogênio α Figura 17 – Localização do carbono alfa (α) em um composto carbonílico Mas, você pode estar se perguntando: onde entram os enóis e enolatos nesta história toda? Bem, enóis e enolatos são os intermediários de reações de substitui- ção a. Em primeiro lugar, vamos falar um pouco sobre os enóis. Enóis são compostos orgânicos que possuem um grupo hidroxila (–OH) ligado a um carbono com hibridização sp2, ou seja, um átomo de carbono que possua uma ligação dupla com outro átomo de carbono. Observe a estrutura geral de um enol na Figura 18. C —— C OH R R’ R’’ Figura 18 – Estrutura geral de um enol Existem muitos elétrons envolvidos na ligação dupla presente nos enóis. Isso lhes proporciona um caráter nucleofílico (tendência a doar elétrons), o que faz com que reajam com mais facilidade com substâncias eletrofílicas. Os enóis reagem de maneira semelhante aos alcenos, no entanto, são ainda mais reativos que os alce- nos (MCMURRY, 2016). Para entender melhor o comportamento de enóis, vamos relembrar um pou- quinho do que vimos sobre isomeria plana. Já sabemos que isômeros planos são substâncias químicas que possuem mesma fórmula molecular, mas diferentes fór- mulas estruturais planas, certo? Os enóis possuem papel fundamental em um tipo especial de isomeria: a isomeria dinâmica ou tautomeria (PAVANELLI, 2014). 16 17 A tautomeria é um tipo especial de isomeria que ocorre devido ao equilíbrio dinâmico que acontece na reação de conversão de cetonas em enóis, chamada de tautomeria cetoenólica ou de aldeídos em enóis, chamada de tautomeria aldoenó- lica (GARCIA; LUCAS; BINATTI, 2015). Veja um exemplo desta reação de equilí- brio dinâmico entre uma cetona e um enol na Figura 19. Importante! Segundo Pavanelli (2014, p. 105), “os enóis se transformam em aldeídos quando o carbo- no insaturado é primário e, em cetonas, quando o carbono é secundário”. Trocando ideias... O OH cetona enol Figura 19 – Equilíbrio cetoenólico Os enolatos, por outro lado, são ânions (íons de carga negativa) formados pela remoção de um hidrogênio a de um composto carbonílico. Por ser levemente áci- do, esse hidrogênio pode ser facilmente removido por uma base forte, por exem- plo. Daí surge, então, o íon enolato. Veja a estrutura geral deste íon na Figura 20: C —— C O– R R’ R’’ Figura 20 – Estrutura geral de um íon enolato Quando o hidrogênio em questão é removido, os enolatos são estabilizados por estruturas de ressonância, como é mostrado na Figura 21. C — C R’ R R’’ O– C —— C R’ R R’’ O – Figura 21 – Estruturas de ressonância do íon enolato Considerando as estruturas de ressonância mostradas na Figura 21, suponha que o enolato receba um próton, o que pode acontecer? Bem, levando em conside- ração que o íon enolato possui duas estruturas de ressonância, o próton poderá ser recebido de duas formas (SOLOMONS; FRYHLE, 2012): • No carbono que está com carga negativa: neste caso, o produto será o com- posto original (no caso, uma cetona) antes de reagir com a base forte. Se o 17 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse composto for uma cetona, dizemos que o composto está na forma cetólica. Se for um aldeído, está na forma aldólica; • No oxigênio que está com carga negativa: neste caso, haverá a formação de um enol (alceno álcool). Nesse caso, o composto está na forma enólica. Observe as diversas configurações que o íon enolato pode adquirir ao receber um próton na Figura 22. C — C R O H R’ R’ forma cetólica C — C H O H R’ R’ forma aldólica C —— C R R R’’ OH forma enólica Figura 22 – Formas cetólica, aldólica e enólica do íon enolato Como já foi dito anteriormente, enóis e enolatos são intermediários de reações de substituição a, correto? Logo, supõe-se que sejam compostos instáveis. Isso é realmente verdade, porém, nesse aspecto, os enolatos possuem mais vantagem em relação aos enóis devido às seguintes razões (MCMURRY, 2016): • Enóis podem atuar apenas como intermediários de reações e possuem vida curta. Isolar enóis, em geral, é uma tarefa bastante difícil; • É possível preparar soluções estáveis de ânions enolatos puros; • Ânions enolatos reagem mais facilmente que enóis, além disso, também parti- cipam de várias reações nas quais não é possível a participação de enóis. Con- sequentemente, isso abre um leque maior de aplicações para os íons enolatos. Vejamos, agora, como ocorrem algumas reações de substituição a. Reações de substituição α Qualquer composto que possua o grupo carbonila, com um hidrogênio na posi- ção a, está passível de sofrer uma reação de substituição a. Quando a substituição é feita por um átomo de um halogênio, pode ocorrer tanto na presença de ácido quanto de base e é chamada de halogenação. De forma geral, esse tipo de reação pode ser representado conforme é mostrado na Figura 23. C — C R’’ O R H R’ (o carbono alfa sofre recemização) C — C R’’ O R Cl R’ + Cl2 + HCl H+ ou OH– Figura 23 – Substituição α (halogenação) em compostos carbonílicos na presença de ácido ou base 18 19 Na Figura 23, é possível observar que o carbono alfa do produto sofre um processo de racemização. Para entender a razão deste fenômeno, leia o trecho descrito a seguir: Importante! Segundo Solomons e Fryhle (2012, p.248), “a racemização no carbono α ocorre na pre- sença de ácidos ou bases porque a forma cetólica muda lenta, mas reversivelmente, para a sua forma enólica e o enol é aquiral”. Comente esta afirmação com seus colegas no fórum de discussão. Trocando ideias... A halogenação em compostos carbonílicos (aldeídos e cetonas, no caso), quando catalisada por uma base, envolve a formação lenta de um intermediário (que pode ser um enol ou um enolato) e, em seguida, a reação rápida do intermediário forma- do com o halogênio em questão. Já se for catalisada por ácido, ocorre a formação lenta de um enol e, em seguida, uma reação rápida do enol com o halogênio. Não são formados enolatos quando há catálise ácida (SOLOMONS; FRYHLE, 2012). Agora, aprenderemos como enóis e enolatos participam das chamadas rea- ções aldólicas. Reações Aldólicas As reações aldólicas constituem um grupo de reações de extrema importância para a química orgânica, principalmente no que se refere a reações para forma- ção da ligação carbono-carbono. De forma simplificada, podemos afirmar que, nestas reações, há a união de duas moléculas simples para a formação de uma com mais complexidade. Toda reação aldólica se inicia com a adição nucleofílica de um enol ou enolato ao grupo carbonila de uma cetona ou um aldeído. Como produto da reação, portanto, podem ser formados b-hidroxialdeídos ou b-hidroxicetonas. Caso o produto for- mado seja um b-hidroxialdeído, ele também pode ser chamado de aldol (composto que tem em sua estrutura aldeído + álcool). Daí vem o nome das reações aldólicas. Após sofrer a adição aldólica, o produto desta reação pode sofrer desidratação para formar um aldeído ou uma cetona a,b-insaturados. Quando isto ocorre, dizemos que há uma condensação aldólica. As reações aldólicas são reversíveis (MCMURRY, 2016). Observe um exemplo de reação aldólica na Figura 24. O H O H OH NaOH 2 água aldol Figura 24 – Exemplo de reação aldólica 19 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Anexo I Com base no seu conhecimento sobreo que foi visto durante esta unidade, res- ponda às seguintes perguntas: 1. Qual a estrutura molecular que caracteriza os ácidos carboxílicos? Explique. 2. Cite algumas das principais propriedades físicas dos ácidos carboxílicos. 3. O que são os chamados derivados de ácidos carboxílicos? Cite todos que você conhece. 4. É possível sintetizar ácidos carboxílicos a partir de álcoois secundários? Explique. 5. Explique como ocorrem reações de redução em ácidos carboxílicos. 6. Em que consiste a esterificação? Cite uma aplicação deste tipo de reação. 7. Defina enóis e enolatos. 8. Quais as principais semelhanças entre enóis e enolatos? E as diferenças entre eles? 9. O que são reações aldólicas? 10. Qual o papel dos enóis e dos enolatos nas reações aldólicas? Bem, chegamos ao fim de mais uma unidade, na qual aprendemos bastante so- bre as reações e principais características de ácidos carboxílicos (e seus derivados), enóis e enolatos. Além disso, também discutimos brevemente sobre as reações aldólicas. É importante que você revise o conteúdo, faça os exercícios propostos e consulte o material complementar. Se tiver alguma dúvida, entre em contato com seu professor tutor. Bons estudos e até a próxima! 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Tudo Sobre Química Orgânica – Módulo #13 Ácidos Carboxílicos e seus Derivados Revisão sobre as propriedades de ácidos carboxílicos e seus derivados – vídeo do canal Universidade da Química. https://youtu.be/bwvqx2OvFsI Tudo Sobre Química Orgânica – Módulo #14 Enol e Enolato Principais características de enóis e enolatos – vídeo do canal Universidade da Química. https://youtu.be/lGROqcK8U9A Leitura Odor dos ácidos carboxílicos Artigo interessante sobre o odor de ácidos carboxílicos. http://bit.ly/318VkeT Reações aldólicas MARTINS, D. L. Reações aldólicas. Revista virtual de química, v. 1, n. 3, p. 186-211, 2009. http://bit.ly/2VzMe9H 21 UNIDADE Reações Orgânicas VI: Ácidos Carboxílicos e Outros Compostos de Interesse Referências GARCIA, C. F.; LUCAS, E. M. F.; BINATTI, I. Química orgânica: estrutura e propriedades [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Bookman, 2015. MCMURRY, J. Química orgânica. São Paulo: Cengage Learning, 2016. v. 2. 688 p. PAVANELLI, L. C. Química orgânica: funções e isomeria. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. 45 p. SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. Rio de Janeiro: LTC, 2012. v. 2. (impresso e e-book) 22
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