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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Insuficiência Cardíaca É a condição na qual o coração é incapaz de garantir um débito cardíaco adequado à demanda tecidual ou quando só o faz à custa do aumento de suas pressões de enchimento (intracavitário). Causada por anormalidades cardíaca estrutural e/ou funcional, que diminui a habilidade do ventrículo de se encher de sangue ou ejetá-lo. Existem dois tipos principais de sobrecarga hemodinâmica que aumentam o estresse sistólico ventricular: SOBRECARGA DE PRESSÃO: O ventrículo esquerdo trabalha contra uma pós-carga excessiva, como na hipertensão arterial e na estenose aórtica. A hipertrofia dos miócitos irá gerar uma HVE concêntrica (aumento da espessura da parede do VE > 11mm no ECO e redução da cavidade ventricular); com isso, haverá aumento do consumo miocárdico de O2, levando a isquemia subendocárdica (fator de risco independente para evento cardiovascular e morte). SOBRECARGA DE VOLUME: O ventrículo esquerdo trabalha contra uma pré-carga excessiva, como nas regurgitações valvares (considerada grave quando mais de 50% do débito sistólico é regurgitado). Nessa situação, ocorre uma HVE excêntrica, isto é, um aumento da espessura ventricular proporcional ao aumento da cavidade (raio). Como acontece o remodelamento cardíaco? Lesão cardíaca Baixo DC Hipoperfusão do aparelho justa glomerular Ativação do SRAA Retenção de sódio e água Aumento da volemia Aumenta o retorno venoso Aumenta a pressão de enchimento ventricular (aumento de pré-carga) Segundo a Lei de Frank-Starling: quanto maior a pré-carga, maior o DC; porém há um limite até o qual o ventrículo pode aumentar o seu débito sistólico Descompensação Ciclo de agressão ao coração. Por ação da angiotensina II, noradrenalina e ADH, ocorre também um aumento da resistência vascular periférica, ocasionando aumento da pós-carga. IMPLICAÇÃO TERAPÊTICA: Para melhorar os sintomas do paciente com IC, devemos reduzir a pré-carga (diuréticos) e a pós-carga (vasodilatadores). Para aumentar a sobrevida, devemos utilizar drogas que inibam os mediadores neuro-humorais e o remodelamento cardíaco. O ventrículo não consegue bombear o sangue adequadamente para atender a demanda dos tecidos (débito cardíaco insuficiente), ocorrendo acúmulo de sangue na porção do aparelho circulatório que prece o ventrículo insuficiente (síndrome congestiva com ingurgitamento venoso e extravasamento de fluido para o interstício). A manifestação depende, em grande parte, de qual foi o ventrículo predominantemente acometido: INSUFICIÊNCIA VENTRICULAR ESQUERDA (IVE): Congestão pulmonar INSUFICIÊNCIA VENTRICULAR DIREITA (IVD): Congestão sistêmica - Cansaço aos esforços e confusão mental (pela falta de DC adequado); - Dispneia aos esforços, ortopneia (paciente refere usar vários travesseiros para dormir) e DPN (pela congestão pulmonar); - Estertoração pulmonar; - Derrame pleural. - Cansaço aos esforço; - Turgência jugular patológica; - Refluxo hepatojugular; - Sinal de Kussmaul (aumento da jugular na inspiração); - Hepatomegalia; - Ascite, derrame pleural; - Edema gravidade dependente em MMII, bolsa escrotal, etc (pela congestão sistêmica, uma vez que o VD não consegue “empurrar” o sangue para frente, fazendo com que haja acúmulo nos vasos periféricos). Quando a IVE associa-se a IVD, instala-se o quadro clássico chamado de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), caracterizada por congestão pulmonar e sistêmica (IVE + IVD). A principal causa de IVD é a evolução da própria IVE. Assim, a maioria dos pacientes com IVD apresenta também IVE. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C CLASSIFICAÇÃO DA IC Pelo acometimento ventricular predominante Insuficiência Ventricular Esquerda Mais comum. Causas mais comuns: HAS e doença coronariana. Sinais de baixo DC e de congestão pulmonar. Insuficiência Ventricular Direita Causas: doença de Chagas, infarto do VD, cor pulmonale. Sinais de congestão sistêmica (hepatomegalia congestiva, ascite, edema). Pela fração de ejeção IC com FE Reduzida (< 40%) Mais comum. Causas: IAM, miocardite aguda, endocardite infecciosa, ruptura espontânea de cordoalha, HAS, doença coronariana aterosclerótica, valvopatias. Redução da força contrátil global do miocárdio = baixa FE = acúmulo de sangue no ventrículo = dilatação ventricular. IC com FE Preservada (≥ 50%) Ocorre uma resistência ao enchimento ventricular (déficit de relaxamento), sem haver comprometimento da função contrátil. Causas: HAS, doença coronariana aterosclerótica, miocardiopatia hipertrófica, miocardiopatia restritiva, pericardite constritiva. Pelo débito cardíaco IC de baixo débito Paciente exibe sinais e sintomas de má perfusão periférica (cansaço aos esforços, extremidades frias). IC de alto débito Situações nas quais o DC está acima do esperado e, mesmo assim, o indivíduo apresenta quadro clínico compatível com IC, já que o DC encontra-se abaixo do necessário para suprir sua demanda metabólica. Estados hipercinéticos, como tireotoxicose. Pela cronologia IC Crônica Pacientes do ambulatório e da enfermaria com os sintomas clássicos de IC. IC Aguda Instalação abrupta dos sintomas. Causas: infarto agudo do miocárdio extenso, endocardite infecciosa aguda com destruição valvar, crise hipertensiva grave. Os pacientes com IC aguda podem se apresentar com: edema agudo de pulmão (síndrome de congestão pulmonar de maior gravidade) ou choque cardiogênico (síndrome de baixo débito cardíaco de maior gravidade). A IC é a causa mais comum de derrame pleural transudativo (proteína e LDH baixos). A estertoração pulmonar é mais comum na congestão pulmonar aguda ou crônica agudizada. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C IC com FE reduzida aguda IC com FE reduzida crônica IC com FE preservada (crônica) Síndrome coronariana aguda; Miocardite aguda; Endocardite infecciosa; Rotura espontânea de cordoalha; Anemia aguda grave. Doença coronariana; HAS; Cardiomiopatia dilatada; Valvopatias; Taquicardiomiopatia. HAS; Doença coronariana; Cardiomiopatia hipertrófica; Cardiomiopatia restritiva; Pericardite constritiva. Diagnóstico O diagnóstico da IC é eminentemente clínico. Na abordagem inicial do paciente, recomenda-se solicitar: Hemograma completo; Eletrólitos (incluindo cálcio e magnésio); Ureia e creatinina; Glicemia; Perfil lipídico; Testes para avaliar a função hepática; TSH; Dosagem de BNP (promove vasodilatação e natriurese; encontra-se elevado com pacientes com IC); ECG; Radiografia de tórax (inversão do padrão vascular pulmonar, cardiomegalia, infiltrado intersticial, derrame pleural, linhas B de Kerley); Ecocardiograma transtorácico (avalia a função sistólica ventricular esquerda ao medir os diâmetros cavitários do VE e estimar a fração de ejeção). Critérios de Framingham (critérios clinicorradiológicos) 1 critério maior + 2 critérios menores OU 2 critérios maiores + 1 critério menor. CRITÉRIOS MAIORES (alta especificidade) CRITÉRIOS MENORES - DPN; - Turgência jugular patológica; - Estertoração pulmonar; - Cardiomegalia no RX; - Edema agudo de pulmão; - B3; - Aumento da altura do pulso jugular (PVC > 16 cm). - Refluxo hepatojugular. - Perda > 4,5 kg em 5 dias de diureticoterapia. - Edema maleolar bilateral; - Tosse noturna; - Dispneia aos esforços; - Hepatomegalia; - Derrame pleural; - Diminuição da capacidade vital; - FC > 120 bpm. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Estadiamento Classe funcional NYHA A sintomatologia da IC (estágios C e D) pode ser semiquantificada através da classe funcional da NYHA. NYHA I - SEM LIMITAÇÃO FÍSICA. - As atividadesdo cotidiano NÃO causam sintomas. - O paciente só refere cansaço ou dispneia aos grandes esforços. - Sobrevida em 5 anos de 85%. NYHA II - LIMITAÇÃO FÍSICA LEVE. - As atividades do cotidiano causam sintomas, ou seja, dispneia e cansaço aos MÉDIOS esforços. NYHA III - LIMITAÇÃO FÍSICA MODERADA. - Atividades mais brandas do que as do cotidiano causam sintomas, ou seja, dispneia aos PEQUENOS esforços. NYHA IV - LIMITAÇÃO FÍSICA GRAVE. - Sintomas em repouso ou aos MÍNIMOS esforços. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Tratamento não farmacológico Controle rígido das comorbidades; dieta com 2 a 3 g de sódio/dia; para de fumar; manutenção do peso adequado por dieta saudável; limitar o consumo de álcool; praticar exercícios físicos leves; imunização contra influenza e pneumococo. Tratamento da IC com FE Reduzida DROGAS QUE APENAS ALIVIAM OS SINTOMAS: Diuréticos: - Reduzem pré e pós-carga, com o intuito de aliviar a sobrecarrega ventricular. - Devem ser prescritos para todos os pacientes com IC. - Furosemia (diurético de alça), na dose inicial de 20 a 40 mg/dia via oral (ou IV nos francamente descompensados). - Em paciente renais crônicos com creatinina > 2,5 mg/dl e/ou clearance de creatinina < 40 ml/min, apenas os diuréticos de alça têm efeito satisfatório. - Os diuréticos devem ser ministrados em associação com a restrição de sódio na dieta, para em torno de 4g de NaCl por dia. - Avaliar melhora dos sintomas, redução da congestão e perda de peso. Espera-se uma perda de peso de 0,5 a 1 kg por dia na primeira semana de tratamento. - Cuidado com HIPOCALEMIA, HIPOMAGNESEMIA, ALCALOSE METABÓLICA, HIPOVOLEMIA. Digitálicos: - Aumentam a contratilidade miocárdica. - São indicados nos pacientes com IC que PERSISTEM sintomáticos, apesar do uso da terapia medicamentosa otimizada e diuréticos. - São as únicas drogas inotrópicas positivas que podem ser utilizadas em longo prazo na IC com FE reduzida. - Digoxina na dose de 0,25 mg/dia via oral. - Em pacientes com > 70 anos de idade, com disfunção renal ou com pouca massa muscular, devemos utilizar a dose de 0,125 mg/dia. - Cuidado com a intoxicação digitálica: náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, escotomas visuais, vertigem, confusão mental, insônia. - NÃO utilizar o fármaco em caso de bloqueios sinusais e BAV avançados. DROGAS QUE AUMENTAM A SOBREVIDA (inibem o remodelamento cardíaco): IECA: - Alívio dos sintomas (vasodilatação com redução das pós-carga) e também aumento da sobrevida. - Indicado para todos os pacientes portadores de IC com FE reduzida. - Captopril, Enalapril, Lisinopril, Ramipril, Trandolapril. - A dose pode ser aumentada paulatinamente a cada 3-5 dias até o máximo de 150 mg/dia de Captopril ou 40 mg/dia de Enalapril. - Monitorar função renal e potássio sérico (é esperado um aumento de até 15% da creatinina sérica no início do tratamento, aceitando-se um aumento de até 50% da creatinina basal – valor absoluto de até 3 mg/dl). - Contraindicações: Hipercalemia (K > 5,5 mEq/l); estenose bilateral de artéria renal ou unilateral em caso de rim único; creatinina > 3 mg/dl; hipotensão arterial < 80 mmHg; hipovolemia; gestação. - O uso concomitante de AINE pode potencializar os efeitos adversos dos IECA. BRA: - Indicado para pacientes portadores de IC com FE reduzida que NÃO TOLERAM IECA por tosse ou angioedema. - Ou seja, os BRA tem efeitos similares aos IECA (inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona), porém com menor incidência de tosse e angioedema. - Losartana (25 a 100 mg/dia), Valsartana (160 mg 2x/dia), Candesartana (32 mg/dia). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - De uma forma geral, a adição dos BRA a pacientes usuários de IECA não deve ser indicada. - Os pacientes que não puderem usar nem IECA nem BRA podem se beneficiar do uso de hidralazina + nitrato. Betabloqueadores: - Inibem o efeito crônico direto da noradrenalina sobre o miocárdio e reduzem o consumo miocárdico de oxigênio. - Indicado em todos os paciente com IC a partir do estágio B. - Carvedilol (α1, β1 e β2), succinato de metoprolol (β1 seletivo) e bisoprolol (β1 seletivo). - Podem piorar os sintomas nos 3 primeiros meses de uso (estratégia escalonada – começar com doses baixas e aumentar aos poucos). - Contra-indicações: IC descompensada grave, asma ou broncoespasmo, bradicardia, bradiarritmia. Antagonista da aldosterona: - Indicado nos pacientes com IC sintomática, FE reduzida e classe funcional II a IV da NYHA. - Espironolactona. - A dose deve ser baixa para evitar hipercalemia (25 a 50 mg/dia). - Efeito adverso: ginecomastia. - Contraindicação: K > 5 mEq/L; creatinina >2 a 2,5; - Evitar uso concomitante com AINE e inibidores da COX2. Estágio B com disfunção sistólica e Estágio C Estágio C – Classes Funcionais da NYHA II a IV Betabloqueador IECA ou BRA Antagonista da aldosterona (poupador de potássio) Ex: Carvedilol, Metoprolol EX: Captopril, Enalapril Ex: Espironolactona Hidralazina + Nitrato: - Eventualmente utilizada no tratamento da IC sistólica. - Indicação: Pacientes com IC FE reduzida sintomática que não podem fazer uso de IECA ou BRA (devido a hipercalemia ou insuficiência renal) ou pacientes classes III – IV que ainda permanecem sintomáticos apesar de diuréticos + IECA (ou BRA) + betabloqueador. Inibidores da Neprilisina e dos Receptores da Angiotensina: - Combinação de Valsartana (bloqueador do receptor de angiotensina II) com Sacubitril (inibidor da neprilisina – gera aumento de peptídeos natriuréticos, bradicinina e adrenomedulina). - Sua principal recomendação é para substituir o IECA naqueles portadores de IC sintomáticos classes II e III e que o toleram em altas doses, com níveis elevados de BNP. Tratamento da IC com FE Preservada Devemos tratar os fatores que contribuem para a IC, bem como as comorbidades que influenciam na evolução da doença. Manejo dos sinais e sintomas da síndrome congestiva com diuréticos. Fibrilação atrial é a arritmia mais frequente do indivíduo com IC. Os betabloqueadores são as drogas mais eficazes nessa situação. Pacientes com IC têm um risco aumentado de eventos tromboembólicos venosos e arteriais devido à estase sanguínea nas câmaras cardíacas dilatadas e em vasos periféricos. Não existe qualquer recomendação para o uso rotineiros de AAS nos pacientes com insuficiência cardíaca. Não deve ser prescrita a associação IECA + BRA + Antagonista da aldosterona, pelo altíssimo risco de hipercalemia e insuficiência renal. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C A FC elevada traz alguns efeitos deletérios para esses pacientes, como aumento da demanda miocárdica de oxigênio e uma redução do tempo diastólico, diminuindo a perfusão miocárdica. A fibrilação atrial deve ser tratada agressivamente. Antagonistas da aldosterona podem reduzir hospitalização em pacientes com BNP elevado ou admissão por IC no último ano. ATENÇÃO: Não utilizamos agente inotrópicos na IC com FE preservada, já que o déficit não é na contração, e sim no relaxamento ventricular. IC DESCOMPENSADA (AGUDA) Mesmo com as drogas prescritas de forma adequada, o paciente pode apresentar descompensações no curso da doença. As causas mais importantes são: má aderência ao tratamento farmacológico; má aderência à dieta com restrição de sal; HAS; IAM, TEP, arritmias; anemia; gestação; infecções (principalmente as pulmonares); uso de drogas/ álcool/ AINE/ medicações com efeitos cardiodepressor. Exames a serem solicitados: RX de tórax, ECG, ecocardiograma, marcadores de necrose para excluir IAM. Existe uma classificação desses pacientes de acordo com a presença de congestão e perfusão periférica (Perfis clínico- hemodinâmicos da IC descompensada): Perfil A: quente e seco Boa perfusão e sem congestão (esse é considerado o perfil normal,ou seja, é o objetivo do nosso tratamento). Perfil B: quente e úmido Boa perfusão e presença de congestão (é o mais comum); paciente com edema agudo de pulmão estão incluídos nesse grupo. O tratamento deve ser feito com diuréticos (furosemida IV) e vasodilatadores (nitroglicerina ou nitroprussiato). Perfil C: frio e úmido Má perfusão, vasoconstrição, DC reduzido e congestão. O tratamento deve ser feito usando inotrópicos com ação vasodilatadora (dobutamina, dopamina e milrinona), além de diuréticos para corrigir a congestão. Perfil L: frio e seco Má perfusão e sem congestão. Geralmente necessitam de hidratação venosa cautelosa com solução cristaloide e sob monitorização hemodinâmica. Nos pacientes que já faziam uso de betabloqueadores, este deve ser mantido sempre que possível, pois está associado a uma menor mortalidade.
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