Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AINES ABORDAGEM CLÍNICA AINES = Antinflamatório não esteroides. Nós temos um grupo de fármacos com atividade antiinflamatória que produz esse efeito modulando os receptores de hormônios (esteroides endógenos) Os corticoides. Como nos AINES o efeito analgésico, antiinflamatório e antitérmico deles independe da ação em esteroides Eles são chamados de não esteroidais. Os AINES podem ter 3 propriedades combinadas: Ação antiinflamatória Ação antitérmica (antipirética) Ação analgésica Isso não significa que todos os AINES utilizados nas doses terapêuticas apresentaram essas 3 ações combinadas. EX: Dipirona é uma boa analgésica e antitérmica, mas possui fraca ação antiinflamatória. PROCESSO INFLAMATÓRIO A inflamação é uma resposta do organismo frente a uma lesão tecidual. Todas as vezes que um tecido é lesado, uma resposta inflamatória é montada objetivando: Remover o agente agressor Produzir reparo tecidual As lesões podem ser provocadas por diferentes estímulos agressores: - Térmicos - Químicos - Mecânicos Portanto o processo inflamatório é um processo de defesa do organismo. A inflamação não pode ser suprimida, pode ser limitado/ atenuado. Anti-inflamatórios são fármacos que visam reduzir o grau de inflamação nos tecidos – limitar a extensão das respostas inflamatórias, reduzindo os sinais clínicos da inflamação: Dor Rubor Edema Perda da função A inflamação NÃO pode ser extinguida, visto ao risco de infecção. Dependendo do tempo de duração do processo inflamatório, nós podemos classifica-la em: Aguda Crônica Agudo Caracterizado por um reparo tecidual + retorno a homeostasia abreviado. Crônica Caracterizado por um processo inflamatório anormal, aberrante, com uma prolongação da resposta inflamatória. As doenças crônicas estão associadas, geralmente, a inflamações crônicas. Isso porque a doença crônica possui um estímulo constante, produzindo a inflamação no caráter constante. EX - Alguns doenças autoimunes geram o processo inflamatório crônico: Artrite reumatoide Doenças cardiovasculares Asma – Processo inflamatório crônico das vias respiratórias. Esclerose Múltipla Doenças inflamatórias intestinal Doença de Crohn ou a retocolite. Alzheimer – processo inflamatório estabelecido em neurônios colinérgicos, reduzindo a liberação de acetilcolina. Câncer SINAIS DO PROCESSO INFLAMATÓRIO Os diversos mediadores inflamatórios produzidos durante o processo vão dar origem aos sinais cardinais ou sinais flogísticos da inflamação: Calor Rubor (vermelhidão) Edema Dor Perda da função Isso ocorre devido a não resolução do processo inflamatório. A maioria dos sinais está relacionado direta ou indiretamente com a vasodilatação: A vasodilatação aumenta a chegada de sangue até o tecido Levando ao rubor. A vasodilatação pode alterar a permeabilidade do capilar (o espaço entre as células endoteliais aumenta) Levando ao edema (extravasamento de líquidos). Dor está relacionado a formação de mediadores inflamatórios que estimulam nociceptores – prostaglandina, histamina, bradicinina, serotonina. CASCATA DO ÁCIDO ARAQUIDÔNICO A compreensão da cascata é essencial para entender os mecanismos dos AINES e os efeitos adversos que ele produz. A cascata do Ácido Araquidônico é chamada de cascata da inflamação, porque o Ácido Araquidônico é substrato para a produção de mediadores inflamatórios. O Ácido Araquidônico será degradado pela ação de várias enzimas que dependendo de qual enzima atua sobre ele um diferente mediador inflamatório ele irá formar. O Ácido Araquidônico não encontra- se livre na célula, ele está ligado aos fosfolipídeos de membrana (na membrana plasmática). A ligação que une o Ácido Araquidônico a membrana é do tipo éster Por isso dizemos que ele está esterificado junto aos fosfolipídeos de membrana. Quando ocorre uma injúria tecidual a atividade de uma enzima é ativada A fosfolipase A2. A fosfolipase A2 cliva a ligação que liga o Ácido Araquidônico a membrana. Após a liberação o Ácido Araquidônico estará disponível para sofrer a ação das enzimas. Fosfolipase A2 Torna disponível o substrato para a formação de mediadores. Dependendo da enzima que atua sobre o Ácido Araquidônico, diferentes mediadores são formados. Via das COX: Se as enzimas COX (Ciclo oxigenase) atuar sobre o Ácido Araquidônico irão surgir os mediadores: - Prostaciclina - Prostaglandina - Tromboxano Via da Lipoxigenase: Se as enzimas LIPOX (5-Lipoxigenase) atuar sobre o Ácido Araquidônico irão surgir os mediadores: - Lipoxinas - Leucotrienos Via do citocromo p450: Se as enzimas o citocromo P450 atuar sobre o Ácido Araquidônico irão ser formado os mediadores: - Ácidos epoxieicosatetraenólicos Via não enzimática: Transformará o Ácido Araquidônico em: - Isoprostanos Desta forma podemos analisar que é a enzima envolvida que determinará a classe dos mediadores inflamatórios a serem formados, que determina qual é a classe de eicosanoide formado. Todos os mediadores são eicosanoide, porque o nome do Ácido Araquidônico é chamado de Ácido Eicosanoide. Eicosanoide então são os produtos formados a partir do ácido eicosanoide. VIA DAS COX Nós possuímos pelos menos 2 tipos de enzimas Ciclooxigenases: COX 1 COX 2 A COX-1 é constitutiva, ou seja, ela faz parte da constituição dos tecidos e tem uma atividade basal. Durante o processo inflamatório a atividade da COX-1 pode ser aumentada. Mas sem a inflamação essa enzima também está na ativa, participando de atividades de manutenção (efeitos homeostásicos): Proteção renal Proteção gástrica Função plaquetária Ela estimula a agregação de plaquetas, contribuindo para a formação de trombos. A COX-2 é chamada de induzida, pois a sua atividade é induzida durante o processo inflamatório. Ela é ativada quando necessário porque ela participa de funções especializadas, sendo induzida nas células inflamatórias – ela predomina durante a inflamação crônica. Dependendo de qual COX o AINE atua, diferentes efeitos são gerados: - Tem AINE que é utilizado para prevenir doenças tromboembólicas - Tem AINE que produz doença tromboembólica. COX-3 É existente uma possível terceira variante de COX (COX 3), encontrado no SNC, alguns consideram ela uma variação da COX 1. Ela é encontrada: - No córtex cerebral - Medula espinhal - Coração É sugerido que a sua atividade esteja envolvida na indução da dor e da febre. Isso explica o porque alguns AINES possui uma ação analgésica central melhor do que outras. EX: Dipirona, paracetamol – que são AINES com uma ação boa em cefaleias Possivelmente estes remédios agem em cima da COX-3. MEDIADORES INFLAMATÓRIOS (FORMADO PELA VIA DAS COX) Prostaciclina: produz vasodilatação, inibe a agregação plaquetária. Prostaglandinas: responsáveis por gerar - dor, febre e proteção gástrica. Vasodilatação. Tromboxano: produz vasoconstrição, induz a agregação plaquetária. Nem todos os tecidos do corpo sintetizam esses 3 mediadores. Ex: o endotélio vascular, os vasos são ricos em prostaciclina sintase, por isso temos que nos vasos há uma tendência a formação de Prostaciclina. As plaquetas são ricas em Tromboxano sintase e pobres em prostaciclina sintase Então as plaquetas produzem muito Tromboxano. Então quando há uma inibição de produção de Tromboxano, pelo AAS, por exemplo, as plaquetas não produzem Tromboxano – diminuindo a agregação plaquetária.Esse é um medicamento utilizado no tratamento de prevenção de doenças cardiovasculares. A prostaglandina causa: Sensibilidade exagerada da dor, sendo ela liberada durante o processo inflamatório. Além disso, prostaglandina estimula receptor hipotalâmico levando a febre, com o aumento da temperatura corporal. Inibindo a prostaglandina, são reduzidos os níveis de: - Dor - Temperatura corporal Além disso, a prostaglandina poderá causar vasodilatação. Ela inibe a agregação de plaquetas. Proteção gástrica pela prostaglandina: A gastroproteção gerada pelas prostaglandinas é ocasionada através de 3 mecanismos: - Redução da liberação de Ácido Gástrico - Estimula o aumento da secreção gástrica de muco – este forma uma barreira física, impedindo que o ácido gástrico, pepsina e outros fatores agressores entrem em contato direto. - Estimula a produção do bicarbonato – este neutraliza a acidez gástrica. Desta forma, inibindo a prostaglandina, a gastroproteção é diminuída. FISIOPATOLOGIA DOS EICOISANOIDES A inflamação é uma resposta de defesa capaz de lesar ou destruir um agente agressor + promover o reparo tecidual. Mas a necessidade de fármacos anti-inflamatórios surge quando a resposta inflamatória é inapropriada, aberrante, persistente ou quando ela promove destruição aos tecidos. Os eicosanoides produzem resposta inflamatória. Os AINES aliviam a produção de eicosanoides e reduzem o processo inflamatório. FÁRMACOS ANTI- INFLAMATÓRIOS Nós possuímos 2 grandes classes de fármacos anti-inflamatórios: Anti-inflamatórios não esteroides (AINES) Anti-inflamatórios esteroides (Glicocorticoide, corticosteroide, corticoides) Eles recebem esse nome porque são agonistas de esteroides endógenos. Os AINES por sua vez: São divididos em 2 grupos: AINES não seletivos (inibem COX-1 e COX-2) AINES seletivos (inibem somente COX-2). Isso depende da capacidade que eles possuem de selecionar somente a COX-2 ou inibir a COX-1 + COX- 2. Os seletivos são chamados de Coxibs e possuem uma preferencia cerca de 100 vezes mais pela COX-2 do que pela COX-1. Dentro dos agentes não seletivos, tem alguns agentes que possuem uma preferencia pela COX-2 Eles não são tão seletivos como o Celecoxibe, mas tem uma preferencia pela COX-2. EX: Nimesulida, Piroxicam, Meloxicam. OBS: Os AINES não seletivos causam mais impacto sobre o trato gastrointestinal, pela inibição da prostaglandina. MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTI-INFLAMATÓRIOS Os corticosteroides e os AINES irão interferir na cascata do Ácido Araquidônico. Corticosteroide interfere na ação da fosfolipase A2 Portanto inibem a cascata logo de início, por isso eles possuem um efeito anti- inflamatório muito pronunciado. Os AINES irão inibir a via das COX, inibindo a produção de: - Prostaciclina - Prostaglandina - Tromboxano Portanto eles limitam a produção de eicosanoides, limitando a extensão das respostas inflamatórias. Os Anti-inflamatórios possuem uma ação combinada: Analgésica Anti-inflamatória Antipirética Apesar dos benefícios dos AINES atuais esses fármacos apenas suprimem os sinais da resposta inflamatória subjacente Eles não revertem ou produzem resolução do processo inflamatório. EX: Possuo um processo inflamatório ocasionado pela artrite e está utilizando ibuprofeno A inflamação é reduzida mas o quadro não é revertido, apenas a resposta inflamatória fica limitada. Alguns processos inflamatórios são finalizados após o uso de anti- inflamatórios Mas nem todo o processo inflamatório é solucionado durante o uso do fármaco. MECANISMO DE AÇÃO ANALGÉSICA Para poder entender esse mecanismo, é necessário compreender a fisiologia da nocicepção: A dor pode ser evocada por agentes agressores: Térmicos Mecânicos Químicos Os nossos tecidos são ricos em terminações nervosas Esses são chamados de nociceptores (fibras sensitivas) – esta fibra é capaz de detectar a presença de agentes agressores e transduzir esse sinal. Esse sinal é transduzido em um impulso elétrico que causa dor. A fibra mais periférica é uma fibra sensorial aferente primária. Na terminação nervosa dessa fibra eu tenho receptores que podem genericamente serem chamadas de receptores de dor. Esses receptores de dor podem ser estimulados pela: Bradicinina Serotonina Prostaglandinas O AINE inibe a produção de prostaglandinas – reduzindo a ativação dos nociceptores, diminuindo a produção de impulso elétrico que seria conduzido até o SNC e transduzido em dor. Desta forma, nós possuímos uma diminuição da nocicepção. Os AINES são muito eficazes para tratar dor de origem inflamatória. Os AINES são eficazes nos casos de: Dor de dente Dismenorréia primária Dor artrítica Dor pós-operatória Enxaqueca Na enxaqueca a dipirona e o paracetamol possuem uma ação boa, porém é necessário combiná- los com triptanos ou com algum opioide. Considerações: - São eficazes contra dor de baixa a moderada intensidade. - Particulamente eficazes quando a inflamação causa sensibilização central e/ou periférica. - Ação analgésica muito menos eficaz do que os opioides - Não possuem eficácia contra a dor neuropática. MECANISMO DE AÇÃO ANTIPIRÉTICO O processo inflamatório de uma lesão tecidual produz citocinas inflamatórias: - Interleucinas IL-1 e IL-8 principalmente. Essas interleucinas inflamatórias irão aumentar a produção de prostaglandina no hipotálamo, principalmente a prostaglandina E-2 (PGE2). A prostaglandina ativa o receptor hipotalâmico intracelularmente haverá um aumento de AMPc – e o AMPc está relacionado ao aumento da temperatura corpórea, produzindo a febre. A ação antipirética dos anti- inflamatórios se dá ao inibir a produção de prostaglandinas. A atividade antipirética desses fármacos provavelmente está relacionada com sua capacidade de reduzir os níveis de PGE2, particularmente na região do cérebro que circunda o hipotálamo.
Compartilhar