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Rousseau e Condillac: um debate sobre a razão dos animais 1 Rousseau et Condillac: un débat sur la raison des animaux Gabriel Von Prata Lazaro 2 Resumo : O presente trabalho tem por objetivo analisar a diferença entre os seres humanos e os outros animais segundo o pensamento de Rousseau e o pensamento de Condillac. Para tanto, aborda-se as considerações dos autores a respeito das atividades protagonistas da inteligência dos animais. De acordo com Condillac, comenta-se a importância da utilização dos signos de instituição para a atividade da razão, capaz de comparar e analisar, bem como o que isso diz sobre a inteligência animal. A partir desta perspectiva, analisa-se a posição de Rousseau, a respeito da razão que opera em função da perfectibilidade e da liberdade, a fim de concluir de que forma os autores concordam e discordam sobre a distinção entre os seres humanos e os outros animais. Palavras-Chave : Rousseau; Condillac; Razão. Résumé : Ce travail vise à analyser la différence entre les êtres humains et les autres animaux selon la pensée de Rousseau et celle de Condillac. Par conséquent, les considérations des auteurs à propos des activités protagonistes de l'intelligence des animaux sont abordées. Selon Condillac, on commentait l'importance d'utiliser des signes institutionnels pour l'activité de la raison, capable de comparer et d'analyser, ainsi que ce que cela dit de l'intelligence animale. Dans cette perspective, la position de Rousseau est analysée dans ce qui concerne la raison qui opère en fonction de la perfectibilité et de la liberté. Dans la conclusion, on verra comment les auteurs sont d'accord et en désaccord sur la distinction entre les êtres humains et les autres animaux. Mots-clés : Rousseau ; Condillac; Raison. *** Introdução Os autores iluministas possuem certos objetivos em comum. Basta olhar para os títulos de diversos trabalhos publicados neste período. Locke escreve o Ensaio acerca do entendimento humano (1690), Berkeley escreve o Tratado sobre os Princípios do 2 Graduando em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus Marília. E-mail: von.prata@unesp.br . Agradeço vivamente à FAPESP [Protocolo - 2020/04674-0] por financiar minha pesquisa. 1 O presente subtítulo, mais do que fazer referência aos pensamentos de Rousseau e Condillac, faz referência ao título da seção IX da Investigação Acerca do Entendimento Humano de Hume denominada Da razão dos animais . A analogia estabelece-se a partir do fato de que Hume intitula sua seção com a ideia de que os animais possuem razão, coisa que não se comprova ao longo da leitura desta seção. Os animais para Hume possuem instinto, não razão, tal como os autores aqui analisados. Assim, tal como o texto de Hume, o presente trabalho pretende apresentar o debate sobre a possibilidade da atividade da razão nos animais não humanos, mas não pretende — com esse subtítulo — defender que para Condillac e para Rousseau os animais possuem razão. Cabe analisar, então, quais são os argumentos levantados por Rousseau e Condillac para defender essa ideia. mailto:von.prata@unesp.br Rousseau e Condillac Conhecimento Humano (1710), Condillac publica o Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos (1746) e Hume publica a Investigação Acerca do Entendimento Humano (1748). A questão da origem e os limites do conhecimento humano e da sociedade está à tona. Isso se reflete de forma parecida nos autores contratualistas. Busca-se, entre eles, descrever a origem da sociedade a partir das hipóteses sobre o estado de natureza. E com isso, servem-se também de uma análise da própria natureza humana, protagonista desta criação. Além do encontro de ideias, muitos destes filósofos tiveram contato entre si, seja pessoalmente, seja através de cartas. D’Alembert era primo de Condillac. Hume, deixa sua herança para D'Alembert que foi por certo tempo, amigo íntimo de Rousseau, o qual foge para Inglaterra por intermédio de Hume. O presente artigo pretende explorar essas intersecções, notadamente entre o pensamento de Rousseau e Condillac. Ambos tiveram contato em Paris e é o próprio Rousseau que apresenta Condillac a Diderot, como está relatado em suas Confissões (ROUSSEAU, 2018, p. 328). Mas, mais do que contatos biográficos, o que nos interessa são as intersecções teóricas. Dentre tantos assuntos, o presente trabalho busca explorar a relação acerca de um tema pouco explorado no Brasil: a razão dos animais . De um lado, isso quer dizer 3 tanto o que o ser humano tem em comum com os animais, quanto em que parte ele se distingue do resto dos animais segundo Rousseau e Condillac. Esse debate pode ser iniciado pela consideração em comum que estes autores compartilham a respeito da origem das ideias, bem como seus desenvolvimentos segundo as necessidades de cada indivíduo ou animal. No presente artigo, investiga-se de que forma as operações dos animais não humanos são limitadas se comparadas com as operações humanas. Ver-se-á de que forma as teorias de Rousseau e Condillac interagem, concordando entre si, mas também discordando sobre pontos cruciais. Este trabalho não tem um objetivo historiográfico de defender qual autor influenciou o outro em determinado ponto. Apoia-se apenas nos já consagrados comentadores que consideram que Rousseau foi amplamente influenciado 3 Tema, aliás, que Hume dedica uma seção inteira na Investigação Acerca do Entendimento Humano , mas que não será abordado no presente artigo (HUME, 1999, p. 106-109). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 187 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac por Condillac, como mostra, para citar um exemplo, Jean Morel em seu artigo Recherches sur les sources du Discours de l’Inégalité (1909) . 4 Desta forma, analisar-se-á de que forma Condillac evidencia a diferença entre as atividades do entendimento humano, em função das atividades espontâneas dos animais. Em um segundo momento, o presente artigo analisará a perspectiva de Rousseau a respeito desta diferença. Rousseau admite as considerações de Condillac, mas, para ele, a diferença entre os seres humanos e os outros animais é anterior à própria atividade da razão. A esse respeito, analisar-se-á a perspectiva de Rousseau a respeito da perfectibilidade, da liberdade e o papel da razão atualizada em função da diferença entre os seres humanos e os outros animais. Rousseau e Condillac: a origem das ideias Rousseau escreve no início do Ensaio sobre a origem das línguas : A palavra distingue os homens entre os animais; a linguagem, as nações entre si - não se sabe de onde é um homem antes de ter ele falado. O uso e a necessidade levam cada um a aprender a língua de seu país, mas o que faz ser essa língua a de seu país e não a de um outro? A fim de explicar tal fato, precisamos reportar-nos a algum motivo que se prenda ao lugar e seja anterior aos nossos próprios costumes, pois, sendo a palavra a primeira instituiçãosocial, só a causas naturais deve a sua forma (ROUSSEAU, 1973A, p. 165). É possível relacionar este trecho do Ensaio , com as considerações do Discurso sobre a desigualdade . Rousseau escreve que “todo animal tem idéias, posto que tem sentidos; chega mesmo a combinar suas idéias até certo ponto e o homem, a esse respeito, só se diferencia da besta pela intensidade” (ROUSSEAU, 1973B, 249). Assim, é possível pensar que a palavra é o fenômeno que expressa essa maior profundidade de combinação de ideias por parte dos seres humanos. Isto é, os animais têm ideias, mas não seriam capazes de transformar estas ideias em linguagem. Neste caso, é necessário verificar a relação entre ter uma ideia e a possibilidade da atividade da linguagem a fim de compreender a posição de Rousseau a respeito da atividade “psicológica” dos animais. Para analisar essa relação, é interessante, por sua vez, analisar as considerações 4 Além disso, claro, a partir das próprias palavras de Rousseau: “Mas, de acordo com o modo pelo qual esse filósofo [Condillac] resolve as dificuldades, que apresenta a si mesmo, sobre a origem dos sinais instituídos, mostrando dar por suposto o que coloco como problema — a saber: uma espécie de sociedade já estabelecida entre os inventores da língua —, creio, voltando às suas reflexões, dever juntar-lhes as minhas, para expor as mesmas dificuldades à luz mais conveniente a meu assunto.” (1973B, p. 252). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 188 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac de Condillac, pois ele apresenta justamente uma explicação sobre o vínculo entre as ideias e a linguagem. Para Condillac, no Resumo Selecionado do Tratado das Sensações , “[...] todas as nossas faculdades vêm dos sentidos, ou para falar mais exatamente, das sensações: porque, na verdade, os sentidos não são senão causa ocasional ” (CONDILLAC, 1979A, 5 p. 45). Desta forma, todas as faculdades são resultado dos sentidos. Tais considerações, que evidenciam o sensualismo de Condillac, ficam mais compreensíveis se nos reportarmos a uma outra obra sua: A Lógica ou os primeiros desenvolvimentos da arte de pensar . Nesta obra Condillac escreve que “as sensações consideradas como representando objetos sensíveis, denomina-se idéias , expressão figurada que no sentido próprio significa a mesma coisa que imagens ” (CONDILLAC, 1979B, p. 72). As ideias, para Condillac, nada mais são senão a representação mental daquilo que é captado pelos sentidos. No Traité des Animaux isso também é evidenciado: “A faculdade de sentir é a primeira de todas as faculdades da alma; é mesmo a única origem das outras [...]” 6 (CONDILLAC, 2000, p. 196, tradução nossa). Isto posto, é possível perguntar: todas aquelas criaturas que são capazes de perceber o mundo através de seus sentidos estão aptas, em alguma medida, a ter ideias? A resposta desta questão se faz profícua para explicar as considerações de Rousseau a respeito da capacidade de projetar ideias, seja para os seres humanos, seja para os outros animais. Isso poderia evidenciar um vínculo entre Rousseau e Condillac e dar sentido a afirmação já citada: “todo animal tem ideias, posto que tem sentidos [...]” (ROUSSEAU, 1973B, 249). 6 “La faculté de sentir est la première de toutes les facultés de l’âme ; elle est même la seule origine des autres [...]”. 5 No Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos , Condillac apresenta também essa reflexão; “Sendo a alma distinta do corpo e diferente dele, este não pode ser senão causa ocasional. Do que se conclui que apenas ocasionalmente é que nossos sentidos são a fonte de nossos conhecimentos. Mas o que se faz por ocasião de uma coisa pode ser feito sem ela, pois um efeito só pode depender de sua causa ocasional numa hipótese determinada. Portanto, a alma poderia adquirir conhecimentos sem o auxílio dos sentidos. Antes do pecado, ela encontrava-se num sistema inteiramente diferente daquele em que se encontra hoje” (CONDILLAC, 2018, p. 42). Desta forma, a ocasião que condiciona as sensações serem a causa dos conhecimentos depende da queda do paraíso. Isso se dá porque é a alma que sente, não os sentidos. Condillac continua: “Eles [sentidos] não sentem, só a alma sente ocasionada pelos órgãos; e é das sensações que a modificam que ela tira todos os seus conhecimentos e todas as suas faculdades” (CONDILLAC, 1979A, p. 45). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 189 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac Ora, ambos admitem que a ideia é fruto da percepção sensorial. Os animais não poderiam ser diferenciados dos seres humanos a partir desta concepção . Bem como, se 7 a razão for considerada uma operação sobre ideias, é possível supor que os animais possuem certa atividade racional. Isto é, ser racionalidade significa possuir ideias. Esta possibilidade deve ser melhor analisada. Por outro lado, isso pouco diz sobre o que Rousseau entende por linguagem e porque só os seres humanos a possuem, uma vez que ela, como apresenta o Ensaio, é fonte da diferença entre os seres humanos e animais. De que forma Rousseau entende a a diferença entre os seres humanos e os animais? De que forma Condillac entende a atividade sensorial e o conhecimento dos outros animais não humanos? Em primeiro lugar, vejamos a posição de Condillac, a fim de que se explore, depois, as questões levantadas ao Genebrino. Ideias, reflexão e análise em Condillac Rousseau no Ensaio indica que a palavra distingue o ser humano dos outros animais. Essa distinção, neste ponto, trata-se apenas de uma questão de intensidade. Para Condillac, essa distinção é epistemológica, mas também diz respeito àquela diferença de intensidade levantada por Rousseau. Para Condillac, a comunicação depende de uma organização analítica das ideias. Analisar é uma ato que oferece ao espírito uma ordem tal qual encontrada na natureza. Isto é, “analisar não é portanto outra coisa senão observar numa ordem sucessiva as qualidades de um objeto, a fim de lhes oferecer, no espírito, a mesma ordem simultânea” (CONDILLAC, 1979B, p. 71). 7 Isto é, se para Condillac apenas os seres humanos possuem ideias — posto que têm reflexão —, a composição física dos outros animais não poderia ser a barreira que impediria a reflexão, uma vez que eles possuem sentidos. A impossibilidade de reflexão tem outro fundamento que não a anatomia dos animais não humanos. Segundo Condillac: “[...] sensações não são mais que sensações, e só tornam ideias quando a reflexão faz que sejam consideradas como imagens de alguma coisa.” (CONDILLAC, 2018, p. 135). Isso apresenta uma diferença substancial entre os seres humanos e os animais. Bem como uma diferença entre o conceito de ideia entre Rousseau e Condillac, uma vez que para Rousseau, os animais possuem ideias. No entanto, Rousseau bem nota que há ideias gerais que se diferenciam dasideias diretamente relacionadas aos sentidos: “Aliás, as idéias gerais só podem introduzir-se no espírito com o auxílio das palavras e o entendimento só as aprende por via de proposições. É essa uma das razões pelas quais não poderão os animais formar tais idéias, nem jamais adquirirem a perfectibilidade que depende delas.” (ROUSSEAU, 1973, p. 255). Ou seja, Rousseau percebe o papel da linguagem na atividade das ideias e vice versa e conclui que há uma barreira com a qual os animais não podem ser comparados com os animais. Aí está a diferença da intensidade levantada por Rousseau a respeito da diferença entre ideias dos seres humanos e animais. No entanto, interessa aqui observar a causa comum para o surgimento das ideias e, no tópico seguinte, a proposta de Condillac em relação ao encadeamento das operações do entendimento. Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 190 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac Sem esse método, não há organização das ideias, o que impossibilita a fala, a linguagem verbal. Dessa forma, a comunicação depende da composição e decomposição destas ideias: “Esta ordem [analítica e sucessiva] é a única que consegue manter toda a clareza e toda a precisão de que as idéias são suscetíveis; e, assim como não temos outro meio de nos instruir, não temos outro para comunicar nossos conhecimentos” (CONDILLAC, 1979B, p. 73). Ora, isso pode estar diretamente relacionado com a perspectiva de Rousseau. A diferença de intensidade é uma diferença analítica e sucessiva que, no caso dos seres humanos permite a comunicação, distinguindo-se assim pela fala, como apresenta o Ensaio , bem como pela intensidade das ideias, como é exposto no Segundo Discurso . Esta hipótese poderia ser confirmada pelas palavras de Natalia Maruyama: “Encontramos em Rousseau, notadamente no Discurso sobre a Origem da Desigualdade , um método de análise que seria digno de um dos alunos mais radicais de Condillac” (MARUYAMA, 2005, p. 56). Mas, é necessário continuar a investigação sobre a perspectiva de Condillac, bem como examinar o Segundo Discurso de Rousseau para certificar esta hipótese que indica que os dois autores concordam sobre este tema. No Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos , Condillac é mais enfático. Neste texto, ele apresenta a relação com que a memória, a contemplação e a imaginação se desenvolvem e dependem dos signos para ter plena utilização da razão: Tão logo um homem começa a ligar ideias a signos de sua própria escolha, vemos que se forma nele a memória. Uma vez adquirida a memória, ele começa a dispor por si mesmo de sua imaginação e atribui a ela um novo exercício, pois, com o auxílio dos signos, que ele pode evocar a bel-prazer, ele desperta ou pode despertar outras ideias ligadas a eles. Em seguida, fortalece ainda mais o império sobre sua imaginação, à medida que inventa mais signos, pois obtém assim mais adicionais para exercer esse domínio. Percebe-se já aqui a superioridade da nossa alma sobre a dos animais, pois se de um lado é fato que não depende das feras atrelar suas ideias a signos arbitrários, tudo indica, por outro lado, que essa incapacidade não se deve unicamente à sua conformação. O corpo dos animais é tão apropriado à linguagem de ação quanto o nosso; (CONDILLAC, 2018, p. 75). A superioridade dos seres humanos aos outros animais segundo Condillac é devido à utilização dos signos. Para ele, mais do que defender a superioridade intelectual do ser humano, seu interesse é apresentar as operações do entendimento. Tais operações partem justamente da dependência da utilização de signos por parte dos homens e dos animais. Os signos para Condillac dividem-se em três: signos naturais, Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 191 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac signos acidentais e signos de instituição . O desenvolvimento pleno das operações do 8 entendimento dependem da utilização plena destes três tipos de signos. Os outros animais que não humanos, não fazem uso dos signos de instituição. Assim, não são capazes de desenvolver plenamente suas operações. Isso é evidente por sua incapacidade de constituir uma linguagem que não seja natural. Esta é a característica preponderante da diferença entre os seres humanos e os outros animais (CONDILLAC, 2018, 70-71). O que poderia muito bem se enquadrar enquanto uma descrição do que Rousseau entende por aquela diferença de intensidade . Mais explicitamente, os animais, só conseguem operar com as duas primeiras classes de signos, acidentais, que são os objetos mesmos que o animal tem contato, e os naturais, tais como gritos de dor e prazer. Por não conseguir operar com a terceira classe de signos, os de instituição, que são criados arbitrariamente para o uso do indivíduo, sua memória não pode operar a seu bel prazer. De modo que o animal está fadado às experiências cotidianas. É o constante contato com as experiências imediatas que sua imaginação supõe, por exemplo, que um movimento, ou um som emitido por outro animal, indique a presença de um predador. É devido sua imaginação que, segundo a percepção do ambiente a sua volta, o animal reage. Ao discutir a relação dos signos e os progressos das faculdades humanas, Condillac aponta que os signos são fundamentais para o desenvolvimento completo destas faculdades . Nesta perspectiva ele descreve as operações do entendimento dos 9 animais são limitadas ao que está a sua volta de acordo com suas necessidades: A memória, como vimos, consiste no poder de relembrar signos de nossas ideias ou circunstâncias que as acompanham, esse poder só existe graças à analogia dos signos que escolhemos e à ordem em que dispomos nossas ideias. Objetos que nos interessa retraçar referem-se a necessidades presentes. Só nos lembramos de uma coisa na medida em que ela é ligada, de algum modo, a outras à nossa disposição. Ora, um homem que só tivesse signos acidentais ou naturais não teria signo algum à disposição, suas necessidades não poderiam ocasionar senão o exercício da imaginação, e ele seria desprovido de memória (CONDILLAC, 2018, p. 71-72). 9 Nas palavras de Condillac: “Para desenvolver inteiramente os recursos da imaginação, da contemplação e da memória, é preciso investigar de que modo os signos auxiliam nessas operações” (CONDILLAC, 2018, p. 70). 8 “Distingo três sortes de signos. 1) Signos acidentais, ou objetos que certa circunstância particulares ligaram a algumas de nossas ideias, de modo que são próprios para despertá-las. 2) Signos naturais, ou gritos que a natureza consignou a sentimentos de alegria, medo, dor etc. 3) Signos de instituição, que nós mesmos escolhemos, e cuja relação com nossas ideias é arbitrária.” (CONDILLAC, 2018, p. 70). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 192 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac A memória opera a partir da atividade dos signos institucionais. As operaçõessobre signos seguem uma lógica de necessidades. Isso é evidente no Traité des Animaux: “Sensação, necessidade, conexão de idéias: aqui está o sistema ao qual devemos relacionar todas as operações dos animais.” (CONDILLAC, 2000, p. 199, 10 tradução nossa). A partir das necessidades é possível compor uma cadeia de relações entre as operações do entendimento. Desta forma, a perspectiva de Condillac pode ser evidenciada pela concepção de uma cadeia de operações , protagonizada pela relação 11 entre os signos e as necessidades. Trata-se da relação entre aquilo que está presente à volta do animal, captado pelos sentidos, aquelas necessidades que o corpo exige e suas capacidades de operar pelos signos. Sem a capacidade de operar com determinado tipo de signo, as operações do entendimento são comprometidas como um todo. Sem signos de instituição, apenas a imaginação guiaria o sujeito e ele não poderia se utilizar da memória para supri-las, de modo que suas ações sempre estarão fadadas aos objetos ao seu redor. Essa é a descrição das operações dos animais não humanos para Condillac. Do que se conclui que os animais não têm memória, e, embora, tenham imaginação, esta não está presente ao seu dispor. Só representam uma coisa ausente quando, no cérebro, a imagem está intimamente ligada a um objeto presente. Não é a memória que os conduz a um lugar em que outrora encontraram alimento; o sentimento de fome está tão fortemente ligado a ideias desse lugar, e do caminho que leva a ele, que estas despertam, tão logo sintam fome. Não é a memória que os põe a fugir de predadores que os atacam; outros de sua espécie foram devorados diante de seus olhos, os gritos emitidos nessas cenas terríveis despertam em sua alma sentimentos de dor de que são signos naturais, e eles fogem. Quando os algozes reaparecem, os mesmos sentimentos são retraçados nas vítimas, e como foram produzidas pela primeira vez em ocasião semelhante, a ligação acontece, eles fogem novamente (CONDILLAC, 2018, p. 72). É a ligação entre os signos naturais e acidentais que promovem o comportamento dos animais. Uma vez que eles não operam com signos institucionais, 11 “Os diferentes elos ou cadeias que suponho a partir de cada ideia fundamental estariam interligados pela sequência das ideias fundamentais e por alguns anéis comuns a muitas ideias, pois os mesmos objetos, e por conseguinte as mesmas ideias, estão relacionados a diferentes necessidades. Todos os nossos conhecimentos formariam assim uma única e mesma cadeia, cujos elos reuniram certos anéis e separariam outros (CONDILLAC, 2018, p. 66). Condillac, assim, descreve o entendimento em forma de uma cadeia, na qual os objetos são os signos fundamentais, cujos quais possibilitam o desenvolvimento de outras operações. Assim, a operação sobre signos de instituição acaba por alterar todas as operações do entendimento humano, pois esses signos constituem a base de uma série de outros “elos” dessa corrente que é o entendimento humano. 10 “Sensation, besoin, liaison des idées: voilà donc le système auquel il faut rapporter toutes les opérations des animaux.” Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 193 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac todas suas operações sofrem consequências. Nesse aspecto, Condillac fornece hipóteses para o que seria a razão. Sua definição está relacionada diretamente ao uso dos três tipos de signos. O pleno uso da razão, então, depende da utilização de signos de instituição, os quais fornecem subsídios para a utilização da memória e da imaginação em toda sua funcionalidade. No caso dos outros animais, suas ações são determinadas pela ligação entre os signos naturais e acidentais. Fadados às necessidades e os objetos à sua volta, os animais seguem e agem sem pensar naquilo que no passado aconteceu. A imediatez que guia suas ações. Só a imaginação consegue supor algo baseado no contato imediato de uma situação . É a imediatez das necessidades, a imediatez dos objetos a sua volta, é 12 a imediatez dos signos naturais, além das dores e dos prazeres que configuram suas paixões . É a experiência que os guia em primeira mão. É isso que descreve descreve 13 os animais não humanos: “Se alguém me perguntar quem os teria ensinado a reconhecer os gritos de dor, eu responderei: a experiência. Todo indivíduo sofreu alguma dor e teve, por conseguinte, oportunidade de ligar o grito ao sentimento.” (CONDILLAC, 2018, p. 73). A comparação de signos arbitrários, que fornece subsídios para a formação da memória e o que desenvolve as operações do entendimento como um todo é de suma importância ao conhecimento humano: A reflexão, que nos dá o poder de distinguir nossas ideias, dá-nos ainda o poder de compará-las, e assim de conhecer relações entre elas. Isso é feito voltando-se a atenção alternadamente para diferentes ideias ou fixando-a ao mesmo tempo em muitas. Quando noções pouco compostas realizam uma impressão suficientemente sensível para atrair a nossa atenção sem esforço de nossa parte, a comparação não é difícil. Mas as dificuldades aumentam à medida que as ideias se tornam mais compostas e causam uma impressão mais tênue. As comparações, por exemplo, são em geral mais fáceis em geometria do que metafísica (CONDILLAC, 2018, p. 82). 13 Condillac apresenta uma outra hipótese baseada no aprendizado com seus progenitores ou outros animais: “Quanto aos que não tiveram essa experiência, pode-se supor, não sem fundamento, que suas mães ou outros de sua espécie os tenham ensinado a fugir de agressores comunicando-lhes, por meio de gritos, a ameaça representada, que desperta de novo quando avistam o inimigo. Exceto por essas suposições, não vejo o que poderia levá-los a fugir.” (CONDILLAC, 2018, p. 72). Isto é, suas atitudes ainda estão diretamente relacionadas aos dois primeiros signos, que são os responsáveis por todos comportamentos animais. 12 Em outras palavras, é a relação entre signos que permite a imaginação. Embora sem memória, os signos continuam a se ligar. Por se ligarem, os animais conseguem supor, ao escutarem um som, por exemplo, um um predador à espreita. Dessa forma, ressaltamos, a memória não pode ser entendida no sentido mais amplo do termo. Ao apresentar que o animal não possui memória, Condillac apresenta que o animal está fadado às necessidades atuais e ao imediatismo do ambiente. Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 194 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac As relações são um resultado da operação da comparação, a qual é objeto da reflexão. Essas relações são os primeiros conhecimentos que o sujeito pode ter ao relacionar duas ideias. Seu grau de dificuldade depende do grau de composição de cada ideia. Quanto mais simples, mais fácil é sua comparação, quanto mais complexas, mais difícil. As conexões são responsáveis por fornecer subsídios que fortalecem a memória, a imaginaçãoe a própria reflexão: “Com o auxílio dessa operação, aproximamos as ideias menos familiares das que o são mais, e as relações que encontramos estabelecem entre elas ligações bastante apropriadas para aumentar e fortalecer a memória, a imaginação e, por extensão, a reflexão.” (CONDILLAC, 2018, p. 82). Para Condillac, a comparação está na base da análise, ao qual, permite a comunicação e a operações seguras do entendimento . Em suma, ela está na base da 14 razão humana. Isto é, Para Condillac, o conhecimento matemático é seguro quando é fruto das análises, não da operação sintética, como quer Descartes. Assim, as operações do entendimento dependem da comparação e utilização de signos arbitrários, pois estes fomentam o desenvolvimento de todas as outras operações do entendimento, sobretudo a memória e a reflexão. Isso pode configurar uma possível explicação ao que Rousseau tinha em mente quando escreveu suas considerações sobre o ser humano natural e a razão dos animais. É possível notar uma adequação metafísica desses exemplos propostos por Condillac para descrever o ser humano em estado de natureza em Rousseau. E é dessa forma que Condillac diferencia as operações racionais do ser humano em relação aos outros animais. É de acordo com essas concepções que Condillac diferencia os seres humanos dos outros animais. Diferença evidenciada no Traité des Animaux: “Existe nos animais aquele grau de inteligência que chamamos de instinto; e no homem, este grau superior, que chamamos de razão” (CONDILLAC, 2000, p. 196, tradução nossa). No entanto, 15 15 “Il y a dans les bêtes ce degré d'intelligence, que nous appelons instinct ; et dans l'homme, ce degré supérieur, que nous appelons raison.” 14 Tal afirmação de Condillac se apresenta criticamente contra as correntes cartesianas e seu método sintético: “A inutilidade e o abuso dos princípios aparecem sobretudo na síntese, método em que a verdade é impedida de se apresentar a não ser precedida de um grande número de axiomas, definições e outras proposições supostamente fecundas. A evidência das demonstrações matemáticas e a aprovação concedida pelos doutos a essa maneira de raciocinar seriam motivos suficientes para que o leitor se convença de que o que estou dizendo não passa de puro paradoxo, insustentável. Mas é fácil mostrar que as matemáticas não devem a sua certeza ao método sintético. Com efeito, se essa ciência estivesse tão exposta quanto a metafísica a numerosos erros, obscuridades e equívocos, a síntese tenderia a fomentá-los e multiplicá-los mais e mais. Se as ideias dos matemáticos são exatas, é porque foram construídas pela álgebra e pela análise.” (CONDILLAC, 2018, p. 84-85). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 195 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac essa seria a posição de Rousseau ao determinar a diferença entre os seres humanos e os animais? A perspectiva de Rousseau: a perfectibilidade e a liberdade A afirmação do Ensaio sobre a origem das línguas de que a palavra distingue os homens entre os animais deve ser entendida já de um ponto de vista social, e não inteiramente epistemológico como se poderia supor a partir das considerações de Condillac. É a palavra que faz com que um ser humano saiba que há outro ser humano naquele determinado lugar. É a vocalização das ideias que, já em estado social, faz com que o ser humano perceba que há outro ser humano junto a si. As considerações que Rousseau faz a respeito da diferença entre o ser humano e os outros animais é sutil, uma vez que o ser humano em estado de natureza divide com ele uma posição selvagem. Basta ver as descrições de Rousseau no Segundo Discurso para perceber isso . Ele escreve em diversas partes essa condição: “os machos e as fẽmeas uniam-se fortuitamente segundo o acaso, a ocasião e o desejo, sem que a palavra fosse um intérprete necessário das coisas que tinham a dizer-se, e separavam-se com a mesma facilidade” (ROUSSEAU, 1973B, p. 253); ou mesmo: “[...] logo encontravam-se em situação de nem sequer se reconhecerem uns aos outros” (ROUSSEAU, 1973B, p. 16 253). E mais diretamente ligado às considerações de Condillac “perceber e sentir será seu primeiro estado, que terá em comum com todos os outros animais; querer e não querer, desejar e temer serão as primeiras e quase únicas operações de sua alma, até que novas circunstâncias nela determinem novos desenvolvimentos” (ROUSSEAU, 17 1973B, 250). Para Rousseau, mais do que tratar da diferença entre as operações e as capacidades do entendimento, a diferença está no campo da liberdade e da perfectibilidade. Rousseau escreve: 17 Passagem na qual não deixa de se relacionar profundamente com as passagens apresentadas a respeito de Condillac. Ele ressalta no Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos: “A percepção, ou a impressão ocasionada na alma pela ação dos sentidos, é a primeira operação do entendimento.” (CONDILLAC, 2018, p. 50). 16 Além das passagens do Discurso sobre a desigualdade , é possível identificar essa perspectiva também no Ensaio sobre a origem das línguas . Ao descrever o ser humano em estado de natureza Rousseau escreve: “Nada conhecendo, tudo temiam: atacavam para se defenderem. Deveria ser um animal feroz esse homem abandonado sozinho na superfície da terra, à merce do gênero humano.” (ROUSSEAU, 1973A, p. 181). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 196 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac Em cada animal vejo somente uma máquina engenhosa a que a natureza conferiu sentidos para recompor-se por si mesma e para defender-se, até certo ponto, de tudo quanto tende a destruí-la ou estragá-la. Percebo as mesmas coisas na máquina humana, com a diferença de tudo fazer sozinha a natureza nas operações do animal, enquanto o homem executa as suas como agente livre (ROUSSEAU, 1973B, p. 248). É interessante notar por essa passagem que Rousseau não se coloca simplesmente à mercê das ideias de Condillac. Embora deixe claro o papel das sensações na composição das ideias e como fonte do conhecimento, ele apresenta que os animais são máquinas guiadas pela natureza. As ideias geradas a partir dos sentidos não conferem nada de especial a eles, pois elas ainda correspondem inteiramente à voz da natureza. Assim, compreende-se que a liberdade é de outra categoria diferente da simples relação entre sensações e ideias. Há algo a mais na composição humana. É justamente por ela estar presente nos seres humanos que se pode detectar uma diferença, não epistemológica. Não é, pois, tanto o entendimento quanto a qualidade de agente livre possuída pelo homem que constitui, entre os animais, a distinção específica daquele. A natureza manda em todos os animais, e a besta obedece. O homem sofre a mesma influência, mas considera-se livre para concordar ou resistir, e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostraa espiritualidade de sua alma, pois a física de certo modo explica o mecanismo dos sentidos e a formação das idéias, mas no poder de querer, ou antes, de escolher e no sentimento desse poder só se encontram atos puramente espirituais que de modo algum será explicados pelas leis da mecânica (ROUSSEAU, 1973B, p. 249). Rousseau assim, mostra uma ruptura decisiva. A análise de Condillac nunca poderia explicar definitivamente a singularidade humana, pois opera no âmbito da mecânica e investiga o entendimento. Se os animais e os humanos dividem as mesmas características físicas — são máquinas que aprendem com a experiência —, apenas o ser humano é capaz de ter consciência da liberdade. Isto é, embora se possa explicar a cadeia de desenvolvimento, não é possível explicar a causa dessa liberdade. Essa causa é unicamente suposta pela razão divina de Deus, a qual é apresentada na Carta a Christophe de Beaumont . Não obstante a razão humana chegue a esta aparente aporia 18 18 Rousseau escreve que a razão divina é imediata, “[...] ela é completamente intuitiva, ela vê igualmente tudo o que existe e tudo o que pode existir; para ela, todas as verdades são uma única idéia, assim como todos os lugares são um único ponto e todos os tempos, um só momento. O poder humano age por meio de instrumentos, o poder divino age por si mesmo; Deus pode porque ele quer, sua vontade faz seu poder.” (ROUSSEAU, 2005, p. 70). A razão humana simplesmente não é capaz de explicar essa razão divina. No entanto, é possível concebê-la. É possível compreender a superioridade da razão divina mas Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 197 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac da gênese da liberdade humana, o desenvolvimento da espécie não compartilha do mesmo problema. Talvez aí seja possível encontrar um novo caminho para investigar a liberdade e a diferença entre os seres humanos e os animais além da intervenção divina. Rousseau escreve: [...] uma outra qualidade muito específica que os distinguiria [os seres humanos dos animais] e a respeito da qual não pode haver contestação - é a faculdade de aperfeiçoar-se, faculdade que, com o auxílio das circunstâncias, desenvolve sucessivamente todas as outras e se encontra, entre nós, tanto na espécie quanto no indivíduo (ROUSSEAU, 1973B, 249). A atualização e o transporte das qualidades humanas se dá pela faculdade da perfectibilidade, a qual necessita do auxílio das circunstâncias . Isto é, na esteira de Condillac, o ser humano percebe o ambiente a sua volta e, a partir desta percepção, ele modifica-se, aperfeiçoa-se . Este é o movimento pelo qual o ser humano pode negar o 19 curso da natureza, seguido à risca pelos outros animais . 20 Assim, percebe-se duas capacidades que diferenciam os seres humanos dos animais: a liberdade e a perfectibilidade. A primeira condição indica uma aporia, no 21 21 A liberdade aqui deve ser entendida no contexto do Segundo Discurso , tal como enfatiza Moisés Rodrigues da Silva que há uma diferença deste conceito entre o Segundo Discurso e o Contrato Social : “Sob o ponto de vista metafísico do Discurso sobre a origem da desigualdade , o homem é livre na medida em que dispensa os instintos naturais como promotores de sua ação e se distancia da animalidade. Diferentemente, no Contrato Social , onde o ponto focal é outro, deixando de ser metafísico para ser 20 Para Rousseau a capacidade de aperfeiçoar é de fato o que diferencia os seres humanos dos outros animais. Isso fica latente a partir de seus comentários, em nota, sobre os viajantes: “Seja como for, está bem demonstrado que o macaco não é uma variedade do homem, não somente por não possuir a faculdade de falar, mas, sobretudo, porque se tem a certeza de que sua espécie não é capaz de aperfeiçoar-se, o que constitui o caráter específico da espécie humana;” (ROUSSEAU, 1973B, 305). 19 A percepção não tem só uma importância para o aperfeiçoamento e as transformações do ser humano em estado de natureza. Rolf Kuntz (2019) apresenta que o papel da observação em estado social tem um valor histórico, cujo qual é o único meio de compreender as sociedades e os homens. Seja no sentido educacional que a observação assume no Emílio , seja no sentido histórico no Ensaio sobre a origem das línguas e no Discurso sobre a Desigualdade , segundo Rolf Kuntz, para Rousseau "Somente a variedade pode ensinar-nos a descobrir o que há de verdadeiramente comum entre os homens, e o que lhes é essencial. Somente a visão e a análise da diversidade nos dará o conhecimento necessário para compreender por que os homens se transformam, assumindo feições diferentes em cada tempo, em cada meio e em cada sociedade; somente assim, portanto, podemos entender o porquê da organização de nossa sociedade particular” (KUNTZ, 2019, p. 89). não é possível explicá-la. É isso que Rousseau apresenta a seguir ao Arcebispo de Paris: “‘Se acabo de descobrir sucessivamente esses atributos, dos quais não tenho nenhuma idéia absoluta, foi por meio de deduções inevitáveis, pelo bom uso de minha razão. Mas eu os afirmo sem os compreender, e, no fundo, isso é não afirmar nada. Por mais que diga a mim mesmo: Deus é assim, eu o sinto, eu o demonstro, nem por isso concebo melhor como Deus pode ser assim. [...] O mais digno uso de minha razão é aniquilar-se diante de ti; sentir-me esmagado por ti é o arrebatamento de meu espírito, o encanto da minha fraqueza.’” (ROUSSEAU, 2005, p. 70-71, grifos do autor). Rousseau parece, já no Segundo Discurso, esboçar implicitamente o que ele mais tarde apresentará em sua defesa de forma explícita. É possível chegar a estas conclusões pela dedução racional, mas ela é completamente insignificante para Rousseau quando comparada à razão divina. Isso justificaria esta aparente aporia que Rousseau chega no Segundo Discurso ? Para responder esta questão é necessário se voltar à ideia de perfectibilidade. Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 198 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac qual o grande responsável e o único que pode explicar tal qualidade é Deus. No outro caso, a perfectibilidade apresenta o desenvolvimento antropológico do gênero humano. Como relacionar estas duas capacidades? A primeira vista, Rousseau nos apresenta um paradoxo, uma vez que de um lado ele afirma que o ser humano pode negar a voz da natureza, e de outro, sem as transformações naturais, o ser humano está fadado a ser o que se é, pois são as circunstâncias que determinam essas transformações. Starobinski deixa claro essa normatividade da perfectibilidade: “a perfectibilidade, potência latente, não manifesta seus efeitos a não ser com a ‘ajuda das circunstâncias’, quando o obstáculo e a adversidade obrigam os homens, para sobreviver, a mostrar todas as suas forças e todas as suas faculdades” (STAROBINSKI, 2011, p. 378). Há não apenas um indício necessário paraa modificação do ser humano, mas uma obrigação, a qual é externa e não depende do ser humano. Dessa forma, sua transformação parte da própria natureza. Assim, parece que, de um lado, a voz da natureza permite que o ser humano pretensamente a negue, quando, na realidade, ele apenas a segue por outros caminhos. No entanto, acredita-se que é possível esboçar uma resposta para essa questão na relação entre indivíduo e espécie. Se a perfectibilidade opera no indivíduo e na espécie — a perfectibilidade “[...] que, com o auxílio das circunstâncias , desenvolve 22 sucessivamente todas as outras e se encontra, entre nós, tanto na espécie quanto no indivíduo” (ROUSSEAU, 1973B, 249) —, indica-se que é possível pensar por esse lado específico em relação à perfectibilidade e à liberdade. Nesta perspectiva, é possível pensar a qualidade de agente livre , a qual a física não consegue explicar, enquanto uma capacidade ímpar de simplesmente ir contra os ditames da natureza na perspectiva da ação individual. Ter-se-á, nestes termos, um indivíduo que pode ignorar os ditames naturais, posto que tem vontades. Mas só pode fazer isso se conseguir operar sobre as ideias, as quais têm origem a partir da percepção 22 Starobinski destaca a força da circunstâncias para em função de todo o Segundo Discurso : “[...] o Discurso sobre a origem da desigualdade expõe, na escala da história universal, o perigo e a fecundidade da defrontação das circunstâncias” (STAROBINSKI, 2011, p. 380). As circunstâncias não tem apenas uma função subalterna dentro do escopo da obra de Rousseau, como qualquer outro conceito, mas ela está associada diretamente ao objetivo do Discurso . O Segundo Discurso só é o que pretende ser devido às circunstâncias que formam a sociedade que Rousseau encontra. jurídico, o homem é livre à medida que alcança liberdade moral, se tornando senhor de si mesmo, e liberdade civil, não obedecendo a outro indivíduo, mas somente à sua própria vontade reconhecível na lei.” (2013, p. 72). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 199 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac — isto é, proveniente dos ditames naturais —, uma vez que estas dependem dos sentidos e das necessidades. Mas, essa liberdade, que é capaz de negar o vínculo com a natureza, deve ser consciente. Do contrário, seriam os ditames naturais, diretamente vinculados ao ambiente, fonte direta das ideias primitivas, que governam o indivíduo. Para o ser humano corresponder com essa qualidade de agente livre, ele deve reconhecer a si e ao outro, isto é, ser capaz de operar sobre a reflexão. O que só é possível após a atividade da razão. Isto é, a liberdade, é uma condição da espécie, mas sua ação é individual e depende da racionalidade. De outro lado, as transformações da espécie, por sua vez, necessitam das condições naturais: Depois de ter mostrado que a perfectibilidade , as virtudes sociais e as outras faculdades que o homem natural recebera potencialmente jamais poderão desenvolver-se por si pŕoprias, pois para isso necessitam do concurso fortuito de inúmeras causas estranhas, que nunca poderiam surgir e sem as quais ele teria permanecido eternamente em sua condição primitiva, resta-me considerar a aproximar os vários acasos que puderam aperfeiçoar a razão humana, deteriorando a espécie, tornar mau um ser ao transformá-lo em ser social e, partindo de tão longe, trazer enfim o homem e o mundo ao ponto em que o conhecemos (ROUSSEAU, 1973B, 264). A perfectibilidade opera segundo as necessidades impostas a partir da natureza. Entre a sensação e a ideia, a perfectibilidade opera mudanças no gênero humano. A perfectibilidade opera assim, na capacidade do ser humano se transformar, segundo permite sua liberdade natural, de acordo com suas necessidades naturais. A liberdade e a perfectibilidade, assim são potenciais no estado de natureza. De uma forma ou de outra, só aparecem de acordo com a natureza, mas tendem a permanecer como estão, inativas. O ideal é que as coisas permaneçam como estão, em potência, sem atuar no ser humano. Esse é o caráter anti-histórico que Goldschmidt (1983, p. 233-235) apresenta sobre o estado de natureza rousseauniano. No estado de natureza, o clima que reina é o de permanência. Embora o Ensaio sobre a origem das línguas , apresente o papel climático enquanto fator de ruptura, para Goldschmidt, “[...] a novidade radical do Discurso em relação a esses dois escritos [ Ensaio sobre a origem das línguas e Fragmentos políticos ] consiste em isolar, no estado de natureza, uma duração infinita, subtraída de qualquer ação causal que poderia transformá-la em história.” (1983, p. 23 23 “[...] la nouveauté, radicale, du Discours par rapport à ces deux écrits, consiste à isoler, dans l’état de nature, une durée infinie, soustraite à toute action causale qui pourrait la transformer en histoire.” Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 200 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac 235, tradução nossa). Isto é, a história começa quando o ser humano se transforma. Mas sua liberdade natural está mais relacionada, como descreve Moisés Rodrigues da Silva, “[...] no sentido de independência pessoal com relação ao outro [...]” (2013, p. 72) do que com uma capacidade de negar as ordens da natureza. No estado de natureza, as coisas são constantes e o ser humano também é. Assim, mesmo com sua perfectibilidade e liberdade, sem ocorrências fortuitas externas, o gênero humano teria permanecido eternamente nesta mesma condição. Isso se modifica no momento em que a razão humana se atualiza. Com o advento da razão, novas possibilidades abrem para o ser humano. Isso significa negar diretamente a voz da natureza. É por isso que Rousseau deixa claro que a necessidade da “ consciência dessa liberdade” , como se viu acima. Tal consciência depende da razão atualizada. O que significa operar sobre suas ideias com a maior profundidade — como descrito no Ensaio —, a qual o ser humano natural está a salvo. A liberdade natural, dessa forma, é mediada pela força da voz da natureza no estado primitivo, mas no estado social ela é mediada pela razão. Essa transformação é característica da passagem do estado de natureza para o estado social: Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil? Não será porque volta, assim, ao seu estado primitivo e — enquanto a besta, que nada adquiriu e também nada tem de bom a perder, fica sempre com seu instinto — o homem, tornado a perder, pela velhice ou por outros acidentes, tudo o que sua perfectibilidade lhe fizera adquirir, volta a cair, desse modo, mais baixo do que a própria besta? Seria triste para nós, vermo-nos forçados a convir que seja essa faculdade, distintiva e quase ilimitada, a fonte de todos os males do homem; que seja ela que, com o tempo, o tira dessa condição original na qual passaria dias tranquilos e inocentes;que seja ela que, fazendo com que através dos séculos desabrochem suas luzes e erros, seus vícios e virtudes, o torna com o tempo o tirano de si mesmo e da natureza (ROUSSEAU, 1973B, 249). Como se vê, tudo é adquirido a partir da natureza antes que o ser humano consolide sua atuação racional; antes que a espécie consolide sua transformação. O advento da razão atualizada, que antes poderia ser compreendida com a simples profundidade das ideias que não ultrapassaram as necessidades originais, se veem arrebatadas pela possibilidade de negar a naturalidade do ser humano e transformar sua liberdade natural. Tal liberdade, então, é operada pela razão, pois, segundo Rousseau, “o Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 201 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac homem encontrava unicamente no instinto todo o necessário para viver no estado de 24 natureza; numa razão cultivada só encontra aquilo de que necessita para viver em sociedade” (ROUSSEAU, 1973B, 257). Assim, se a perfectibilidade, guiada pela natureza, não fornece transformações fúteis ou inúteis — pois as transformações de uma forma ou de outra dependem da natureza, porquanto só há mudança se há necessidade para mudar —, as transformações guiadas pela razão cultivada podem ser sim fúteis e inúteis. De um lado, o ser humano só pode se transformar, atualizar-se, porquanto há necessidade externas que o forcem a isso, de outro, é a voz de sua razão cultivada o leva indiscriminadamente a qualquer direção. Ela é a protagonista desta capacidade suis generis de negar a voz da natureza. Dessa forma, a perfectibilidade, tanto quando atua na espécie, quando atua no indivíduo depende das necessidades. Enquanto que, antes guiada pela natureza, a qualidade de agente livre , transforma-se na degeneração do ser humano quando operada pela razão que suscita as paixões sociais. Neste sentido, os seres humanos são capazes de negar a voz da natureza. Sua liberdade natural lhes permite isso enquanto espécie passível de transformações. Suas faculdades — sobretudo a perfectibilidade, a qual possibilita a atuação da razão — são então, para Rousseau, protagonizam a diferença entre os seres humanos dos resto dos animais, mais até do que o grau de intensidade de organização de ideias . Mas é 25 necessário ressaltar que, sem esse grau de profundidade das ideias , o ser humano não poderia negar a voz da razão e seria igual a todos os outros animais. Esse grau de organização das ideias é consequência, é o resultado da diferença entre os seres humanos e os animais, mas não sua causa. A causa é anterior. Ele está tanto no indivíduo quanto na espécie que é a perfectibilidade e a liberdade. Assim como Condillac, Rousseau apresenta, que é justamente a capacidade de comparar que possibilita a atividade da razão. Sobre isso Starobinski escreve: 26 26 A esse respeito, a atividade de comparar é substancial para o conceito de racionalidade dos dois autores. De acordo com Natalia Maruyama a importancia da operação comparativa em Rousseau é um legado de Condillac, que por sua vez também influenciou Helvétius. Ela escreve: “As discussões entre 25 Assim, essa maior profundidade de ligar ideias, característica da racionalidade, é um resultado da perfectibilidade. 24 É interessante ressaltar a definição de Condillac para o instinto. Ele parte das considerações das ligações sobre signos que possibilitam a imaginação dos animais, a qual permite aos animais fugir do perigo e relacionar suas necessidades com o ambiente à sua volta. “Essa explicação [sobre a ligação dos signos] fornece uma ideia nítida do que é o instinto . Trata-se de uma imaginação que, afetada por um objeto, desperta percepções que estão a ele imediatamente ligadas, e que dirige assim, sem o auxílio da reflexão, todas as espécie de animais.” (CONDILLAC, 2018, p. 74, grifo do autor). Vê-se, mais uma vez, a forma com que é possível relacionar os escritos de Rousseau e Condillac Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 202 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac Dessa luta que opõe ativamente o homem ao mundo resultará sua evolução psicológica. A faculdade de comparar o tornará capaz de uma reflexão rudimentar: ele saberá perceber diferenças entre as coisas, se saberá diferente dos animais, se verá em sua superioridade, e já surge um vício: o orgulho (STAROBINSKI, 2011, p. 43). Neste quesito, Rousseau volta a concordar com Condillac. Mas essa concordância se dá em um momento posterior. É já no sintoma da diferença entre os outros animais, não a causa dela que Rousseau admite a filosofia de Condillac. Considerações finais “Já que nossos sentidos são os primeiros instrumentos dos nossos conhecimentos, os seres corporais e sensíveis são os únicos cuja ideia temos imediatamente.” (ROUSSEAU, 2014, p. 357). Essa passagem no Emílio ressalta uma das considerações em comum entre ele e Condillac, como se tentou evidenciar no presente trabalho. Esta perspectiva sensualista faz eco ao comentário de Jean Morel em relação a Condillac de acordo com seu estudo sobre as fontes do Discurso sobre a desigualdade: “Rousseau concretiza as abstrações de Condillac: ele faz história com essa psicologia analítica [...]” (MOREL, 1909, p. 149, tradução nossa). Isto é, 27 Rousseau se utiliza das bases sensualistas de Condillac. Se sua filosofia é necessária à obra de Rousseau, ela não é suficiente. “Ele deve a Condillac a importância dada à sensibilidade no desenvolvimento da inteligência;” (MOREL, 1909, p. 145, tradução 28 nossa). Para Morel, a partir de Condillac, “[...] Rousseau pode testar a história do pensamento humano.” (MOREL, 1909, p. 147, tradução nossa). Mas Rousseau só 29 consegue isso devido à sua originalidade expressa nos conceitos de perfectibilidade e forma com a qual ele insere a liberdade no conjunto da obra. Isso é o que apresenta Jean Morel: Como transportar a progressão válida de um homem para um grupo? Pequenas análises são impossíveis. Então Rousseau inventa uma nova faculdade, que substituirá as análises progressivas de Condillac: "a de se 29 A frase completa de Morel: “Aussi, grâce à Condillac, Rousseau peut tenter l'histoire de la pensée humaine.” 28 “Il doit à Condillac l'importance donnée à la sensibilité dans le développement de l'intelligence;” 27 “Rousseau concrétise les abstractions de Condillac: il fait de l'histoire avec cette psychologie analytique[...]”. Rousseau e Helvétius, a respeito da origem das faculdades morais e intelectuais do homem, fundam-se em alguns pressupostos sensualistas. Os dois filósofos compartilham dos pressupostos com Condillac uma concepção de razão como faculdade de comparação de idéias e sensações [...]” (MARUYAMA, 2005, p. 25). Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 203 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac aperfeiçoar; com a ajuda das circunstâncias, desenvolve sucessivamente todas as outras: éperfectibilidade. É a faculdade do devir (MOREL, 1909, p. 148, 30 tradução nossa). Jean Morel percebe que a base filosófica de Condillac só pode servir para os objetivos de Rousseau se for acompanhada pelo conceito de perfectibilidade. O debate sobre a razão dos seres humanos e animais expressa essa relação. Ambos autores percebem que há uma diferença de profundidade nas operações sobre as ideias. Condillac apresenta isso de forma exemplar ao mostrar que a razão comparativa, que permite a análise, é característica desta diferença. Os animais não operam as ideias comparativamente, pois isso requer a memória, característica para a reflexão. Dessa forma, não se pode falar que os animais possuem razão. Rousseau admite isso. Mas para ele, no caso do ser humano, há uma diferença primeira, que permite com que a razão, como consequência dessa diferença, seja percebida. Essa diferença primeira é a faculdade da perfectibilidade que age em conjunto com a liberdade natural. A ação destes dois princípios humanos é que permitem a depravação do ser humano e o progresso do abismo que se forma entre os seres humanos e o mundo animal, diferenciado-os. Assim, para Rousseau, diferentemente de Condillac, é por meio da perfectibilidade, capacidade que distingue o ser humano dos outros animais, que o ser humano é capaz, já em sociedade, de ativar sua razão. A respeito desta racionalidade, Rousseau concorda com Condillac, e a apresenta como uma faculdade comparativa , que é a diferença de profundidade 31 enunciada no Segundo Discurso e possibilita, como citado no início, a fala que expõe a distinção dos seres humanos entre si e entre os animais no Ensaio . 31 Starobinski é explícito sobre a relação entre razão e comparação em Rousseau: “Nesse encontro ativo em que afronta a inércia das coisas, o homem toma consciência de sua diferença. Compara-se com o outro, e essa comparação é o próprio despertar da razão.” (STAROBINSKI, 2011, p. 398). 30 “Comment transporter à un groupe la progression valable pour un seul homme? Les analyses menues sont impossibles. Aussi Rousseau invente une nouvelle faculté, qui tiendra la place des analyses progressives de Condillac: "celle de se perfectionner; à l'aide des circonstances, elle développe successivement toutes les autres: c'est la perfectibilité. C'est la faculté de devenir.” Vol. 16, 2021 www.marilia.unesp.br/filogenese 204 http://www.marilia.unesp.br/filogenese Rousseau e Condillac Referências CONDILLAC, É, B. A lógica ou os primeiros desenvolvimentos da arte de pensar . IN: Condillac, Helvétius, Degérando. - 2. ed. - Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979B, p. 61-134. CONDILLAC, É, B. Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos. Trad. Pedro Paulo Pimenta. São Paulo: Editora Unesp, 2018. CONDILLAC, É, B. Resumo selecionado do tratado das sensações. 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