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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 1 Geriatria SP 3.1 – JÁ POSSO IR À FEIRA? 1) DIFERENCIAR SENESCÊNCIA DE SENILIDADE; Há uma grande diferença entre os termos senilidade e senescência no âmbito teórico e também na vivência. Ambos são ligados ao envelhecimento, no entanto, são quadros com impactos muito diferentes sobre a saúde. “A senescência abrange todas as alterações produzidas no organismo de um ser vivo – seja do reino animal ou vegetal – e que são diretamente relacionadas a sua evolução no tempo, sem nenhum mecanismo de doença reconhecido”, explica o geriatra Wilson Jacob Filho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São, portanto, as alterações pelas quais o corpo passa e que são decorrentes de processos fisiológicos, que não caracterizam doenças e são comuns a todos os elementos da mesma espécie, com variações biológicas. São exemplos de senescência a queda ou o embranquecimento dos cabelos, a perda de flexibilidade da pele e o aparecimento de rugas. “São fatores que podem incomodar algumas pessoas, mas nenhum deles provoca encurtamento da vida ou alteração funcional”, explica o médico. Já a senilidade é um complemento da senescência no fenômeno do envelhecimento. O geriatra define como “condições que acometem o indivíduo no decorrer da vida baseadas em mecanismos fisiopatológicos”. São, dessa forma, doenças que comprometem a qualidade de vida das pessoas, mas não são comuns a todas elas em uma mesma faixa etária. “Assim são a perda hormonal no homem que impede a fertilidade, a osteoartrose, a depressão e o diabetes, entre outros comprometimentos”, explica Jacob Filho. Todas essas circunstâncias não são normais da idade e nem comuns a todos os idosos, por isso são caracterizadas como quadro de senilidade. Nem sempre a diferenciação entre um quadro e outro é tão clara, diz o geriatra. “A alteração de memória, quando se esquece dos fatos mais recentes e lembra- se bem dos antigos, por exemplo, é frequente com o avançar da idade para todos os idosos, por isso é parte da senescência”, afirma. “No entanto, há alterações de memória que caracterizam doenças, como o Alzheimer, por exemplo”. Nesse caso, seria um quadro de senilidade. Obviamente, todos os seres humanos gostariam de chegar à idade avançada apenas com quadros de senescência. “Teoricamente isso é possível, mas é bastante incomum”, explica o geriatra. O que se observa mais é um quadro prevalecer sobre o outro. “Se tudo o que um idoso tem como características são cabelos brancos, rugas, mas vitalidade, autonomia e independência, a senescência está prevalecendo”. Ao contrário, se um indivíduo de 60 anos tem um evento como um AVC (acidente vascular cerebral) com sequelas e já não se move sozinho, apesar da idade pouco avançada, há um predomínio da senilidade. Para prevalecer a senescência, Wilson Jacob Filho diz que não é assim tão difícil. Ele aponta quatro atitudes a serem tomadas ao longo de toda a vida. São elas: • Nutrição adequada a cada fase da vida • Atividade física constante • Relacionamento social presente • Controle de doenças crônicas – ainda que não seja possível evitá-las. “Uma pessoa que se alimenta adequadamente, faz atividade física, desenvolve papeis sociais e afetivos ao longo de toda a vida e está atenta à prevenção de doenças, com vacinação em dia, controle de hipertensão, diabetes e outros problemas crônicos, a chance de evitar a senilidade e promover uma senescência saudável é bastante alta”, conclui o geriatra. 2) ESTUDAR AS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS SENESCENTES DOS SISTEMAS RESPIRATÓRIO E IMUNE; SISTEMA RESPIRATÓRIO Sabe-se que a maturação pulmonar plena ocorre entre 20 e 25 anos de idade, seguindo-se progressivo declínio funcional respiratório. Como há vários métodos de avaliação dessas alterações etárias, o quadro geral do envelhecimento pulmonar normal ainda não está completo, mas os dados atuais possibilitam ampla visão de análise, utilizável no cotidiano da assistência ao idoso. → Mecânica do sistema respiratório A parede torácica, os pulmões e o diafragma compõem a principal e essencial parte do sistema respiratório. Relacionam-se também com a noção de complacência (a qualidade de resistir a pressões sem rupturas). Por essa qualidade, expressa-se a distensibilidade de um órgão preenchido por gás ou líquido (unidade de alteração de volume por unidade de alteração de pressão). A complacência do sistema respiratório inclui a complacência pulmonar e a da parede torácica. A primeira determina a velocidade e a capacidade expiratória, e a segunda define o potencial inspiratório. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 2 O envelhecer provoca alterações na parede torácica, diminuindo sua complacência. A osteoporose senil reduz, progressiva ou agudamente, no caso de fraturas, a altura das vértebras torácicas. Estima-se que após os 70 anos de idade perde-se em estatura entre 0,3 a 0,4 cm por ano de vida. Secundariamente à osteoporose senil, observam-se também cifose e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax que, associados à calcificação das articulações condroesternais e condrovertebrais, reduzem a expansibilidade torácica durante a inspiração. Essas modificações osteoarticulares alteram a curvatura diafragmática, interferindo na contração muscular efetiva para uma mecânica respiratória eficaz. → Musculatura respiratória Curiosamente, mesmo sendo de grande importância para o processo inspiratório, há pouca informação sobre o efeito do envelhecimento nas propriedades contráteis do diafragma, excetuando-se o anteriormente comentado. Pode-se, contudo, inferir que ocorram alterações relacionadas com o envelhecimento humano na musculatura respiratória. Estima-se que a perda progressiva de massa muscular com a idade, particularmente nas fibras de contração rápida (tipo II), diminua a capacidade de tensão muscular necessária ao diafragma. Observam-se também alterações nas junções neuromusculares e perda de neurônios motores periféricos com seletiva desnervação para as fibras musculares tipo II. Isso gera maior trabalho muscular e gasto energético relacionado com a respiração; estima-se que um homem com 60 anos de idade consuma 20% de energia a mais que um adulto jovem para a mesma atividade respiratória. Esse declínio idade-dependente da força muscular respiratória contribui para o encontro frequente de insuficiência respiratória quando há a necessidade de incremento ventilatório em pacientes idosos. Descrito regularmente na literatura médica, o enfisema senil ou hiperinsuflação pulmonar da velhice apresenta fisiopatologia com pontos a discutir. Não há relatos de alterações quantitativas ou qualitativas de surfactante pulmonar nem de suas células produtoras (células claras e alveolares tipo II) com o envelhecimento. Notam-se, porém, mudanças de configuração do colágeno e a existência de pseudoelastina no parênquima desse órgão, causando progressiva queda da pressão de retração elástica do pulmão. Isso gera aumento da distensão e rigidez pulmonar com a idade. Após os 50 anos de idade, associa-se, ainda, a degeneração das fibras elásticas ao redor dos ductos alveolares que promove constrição prematura das pequenas vias respiratórias durante a expiração. → Provas de função pulmonar Ao se comparar adultos jovens com idosos, utilizando diversas metodologias nas análises de função pulmonar, notam-se amplas variações nesses dados, o que dificulta a definição de valores normais para os de mais idade. Muitas das equações preditivas originam- se de estudos transversais que subestimaram populações idosas e minorias étnicas. O cálculo dos volumes pulmonares, por exemplo, correlaciona-se com a estatura corporal, que é mutável durante o processo deenvelhecimento. Mesmo assim, alguns dados podem ser considerados: • O volume residual ou espaço morto aumenta em aproximadamente 50% entre os 20 e 70 anos de idade; • Nesse mesmo período etário, nota-se decréscimo de até 75% da capacidade vital (somatória dos volumes: corrente, de reserva inspiratória e de reserva expiratória); • Ocorre ainda aumento da capacidade residual funcional (volume de reserva expiratória mais volume residual), ou seja, os idosos necessitam respirar maiores volumes de ar do que os adultos jovens; • Observa-se queda do volume expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1) de aproximadamente 20 a 29 ml por ano de idade, bem como da capacidade vital forçada (CVF) de 14 a 25 ml por ano de idade; • O fluxo expiratório máximo (ou peak flow) tende a decrescer com a idade devido às mudanças nas pequenas vias respiratórias pelo envelhecimento; • Não se observaram alterações específicas em curvas de fluxo inspiratório, embora o valor do fluxo inspiratório máximo decresça com a idade. Considerando-se o uso cada vez mais frequente de broncodilatadores e de corticoesteroides por via inalatória, recomenda-se a determinação do fluxo inspiratório máximo em idosos para determinar a utilidade da prescrição de fármacos por essa via. Algumas apresentações em cápsulas – contendo pó seco para a inalação do produto – necessitam de fluxos inspiratórios mínimos de mais de 60 l · min–1 , e esses valores podem não ser obtidos nos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 3 idosos frágeis e/ou com idade superior a 80 anos. → Controle da respiração e trocas gasosas Não há diferença do volume corrente (respiração em repouso e sentado) entre idosos e adultos jovens, mas, tendo em vista as alterações na mecânica ventilatória e no parênquima pulmonar com o envelhecimento, nota-se aumento da frequência respiratória para a manutenção de valores respiratórios adequados. Tal aumento reduz a reserva funcional dos pulmões e produz diminuição da resposta ventilatória à hipoxia e à hipercapnia em idosos ao repouso. A associação de perda progressiva de mecanismos compensatórios com o envelhecimento torna o grupo dos idosos extremamente vulnerável clinicamente a situações relacionadas com mudanças súbitas de valores arteriais de oxigênio e de gás carbono. → Receptores Pulmonares A densidade de adrenorreceptores beta nos pulmões não sofre alterações durante o envelhecimento, embora a redução dos receptores de alta afinidade e, por consequência, a queda em atividades mediadas pela adenilciclase, como a fosforilação, sejam relatadas. Dados sobre mudanças idade-dependentes nos receptores muscarínicos pulmonares em humanos são limitados, e a aplicabilidade clínica de variações da resposta anticolinérgica em idosos necessita ainda ser definida. → Alterações imunológicas Os pulmões compõem a maior superfície epitelial em órgãos humanos. Torna-se assim constante a exposição deles a microrganismos inalados do meio ambiente ou aspirados das vias respiratórias superiores. Mecanismos de limpeza não específicos – como a secreção brônquica – e vários componentes de vigilância imune inata – como neutrófilos e macrófagos – encontram-se constantemente ativos nesses órgãos, impedindo dessa forma o desenvolvimento de infecções recorrentes. Comparando-se lavados broncoalveolares de adultos jovens e de idosos saudáveis, verifica-se que há aumento da proporção de neutrófilos e redução do número de macrófagos em faixas etárias mais avançadas. Nota-se também aumento de imunoglobulinas – IgA e IgM – e da relação entre linfócitos CD4+/CD8+ com a idade. A mudança dessa relação entre linfócitos sugere incremento na coordenação das respostas imunes (CD4), possivelmente, pelo volume de estímulos antigênicos repetitivos durante o processo da vida, e perda parcial da capacidade de destruição (CD8) de células infectadas por vírus. Observa-se ainda maior habilidade dos macrófagos alveolares em liberar radicais livres em resposta a estímulos ambientais e/ou a microrganismos no idoso. A combinação dos estímulos antigênicos repetitivos com o declínio idade- dependente da reposta imunomoduladora a eles provoca, no trato respiratório baixo, grau de inflamação persistente e baixo. Essa inflamação causa lesão proteolítica e oxidativa mediada, resultando na perda de unidades alveolares com o envelhecimento. → Conclusões Mesmo com as alterações o sistema respiratório continua, durante o processo de envelhecimento, capacitado a manter adequada oxigenação e ventilação em repouso. Contudo, perde-se progressivamente a reserva respiratória, diminuindo a resposta ventilatória à hipoxia e à hipercapnia e tornando os idosos mais vulneráveis à insuficiência respiratória durante estados de alta demanda como, por exemplo, insuficiência cardíaca e pneumonias. Isso resulta também em maiores demandas de hospitalizações, internações em unidades de terapia intensiva e óbitos. MUDANÇAS ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS Anatômico Espaço morto Aumentado Complacência Parede torácica Diminuída Pulmonar Aumentada ou inalterada Total Diminuída Força muscular Pressão inspiratória máxima Diminuída Pressão transdiafragmática Diminuída Ventilação voluntária máxima Diminuída Função pulmonar Volume expiratório força no 1ºseg Diminuído Capacidade vital forçada Diminuída Capacidade pulmonar total Inalterada Capacidade Vital Diminuída Capacidade residual funcional Aumentada Volume residual Aumentado Capacidade de difusão do CO Diminuída Imunidade – Secreção brônquica Percentual de neutrófilos Aumentado Relação entre linfócitos CD4+/CD8+ Aumentada Substâncias antioxidantes epiteliais Diminuídas Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 4 Os primeiros sinais de piora da respiração pulmonar já podem ser vistos por volta dos 25 anos. Os pulmões se tornam mais volumosos, os ductos e bronquíolos se alargam e os alvéolos se tornam flácidos com perda do tecido septal. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão. Entretanto, não há interferência na capacidade pulmonar total ALTERAÇÕES PULMONARES COM O ENVELHECIMENTO Aumento dos espaços aerados Diminuição da superfície de troca gasosa Perda do tecido de suporte das vias respiratórias periféricas, diminuindo a elasticidade alveolar, antigamente denominado “enfisema senil” Aumento do tecido fibroso Modificações do surfactante pulmonar SINAIS PRECOCES DO ENVELHECIMENTO PULMONAR Diminuição da capacidade máxima respiratória Diminuição progressiva da pressão parcial de O2 Perda da elasticidade pulmonar Enfraquecimento da musculatura respiratória Diminuição da elasticidade da parede torácica Aumento da rigidez da estrutura interna pulmonar Diminuição do volume pulmonar expirado Fadiga fácil Concorrem para o declínio da capacidade respiratória os maus hábitos de vida, a poluição do local de moradia e trabalho e as doenças concomitantes. Respiração: A inspiração e expiração se dão da mesma forma do adulto. Na inspiração, participam os músculos intercostais externos para elevarem as costelas e o diafragma, responsável por 75% do aumento do volume torácico durante a respiração de repouso. A expiração se faz, basicamente de forma passiva. Também estão envolvidos os músculos intercostais internos que, ao se contraírem, puxam as costelas para baixo e para dentro, diminuindo o volume torácico. Caso seja necessário, a musculatura abdominal e dos ombros pode participar como músculos auxiliares dos movimentos respiratórios. Além das alterações descritas, há falha no controle central (medula e ponte) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos com diminuição da sensibilidade a Pco2, Po2 e ao pH, limitandoa adaptação da pessoa idosa ao exercício físico. A maioria dos músculos sofre um certo grau de sarcopenia, daí a capacidade da função pulmonar piorar em algumas pessoas pela diminuição da força e da resistência da musculatura respiratória. Todas as modificações do aparelho respiratório são lentas, mas progressivas. A partir dos 25 anos a Vo2 máxima diminui em 5 ml/kg/min/década. O tórax se torna enrijecido devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões distendidos pela diminuição da capacidade das fibras elásticas retornarem após a distensão na inspiração. Com isso o volume pulmonar e a capacidade ventilatória diminuem. A capacidade vital pode chegar a diminuir 75% entre a 2ª e a 7ª décadas, enquanto o volume residual aumenta em torno de 50%. A consequência é uma inadequada oxigenação do sangue enquanto a Pco2 não se altera. Surfactante: O surfactante é um líquido secretado pelos pneumócitos tipo II, localizado na superfície interna do alvéolo, com a finalidade de manter sua tensão baixa. Sua produção está diminuída nos idosos. Na deficiência do surfactante, os alvéolos poderão colaborar na expiração fazendo atelectasias. O surfactante também tem função protetora impedindo a entrada de partículas e aumenta a capacidade dos macrófagos pulmonares destruírem bactérias. Ainda na deficiência de surfactante, há o aumento da permeabilidade alveolar, podendo levar ao edema pulmonar. Apesar de sua perda progressiva, a maioria dos idosos é capaz de levar uma vida normalmente ativa. SISTEMA IMUNE As alterações imunológicas associadas ao envelhecimento (imunossenescência) relacionam-se a uma redução na capacidade de resposta diante de uma infecção e também se traduzem pelo aumento de mediadores inflamatórios circulantes presentes nas doenças crônico-degenerativas, além do importante papel que desempenham na habilidade do indivíduo velho apresentar resposta imune adequada a um programa de vacinação. Isso implica o aumento da mortalidade e morbidade da população idosa por doenças infecciosas, bem como por autoimunidade e neoplasias. O sistema imune é um processo adaptativo interagindo com vários componentes dele mesmo e com o meio ambiente. Seu papel é garantir a integridade do organismo. Este objetivo é alcançado pela capacidade de distinguir o próprio do não próprio, da alta especificidade e da memória imunológica. Assim, a imunidade depende em última instância do número de células que podem ser ativadas e do número de células filhas que podem ser produzidas por esta ativação no espaço de tempo entre o período de exposição ao agente agressor e a resolução do processo. Com o envelhecimento, todas as etapas deste mecanismo parecem estar modificadas. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 5 A função imune, como a maioria das funções, declina com a idade. A marca do envelhecimento é o progressivo declínio dos três maiores sistemas de comunicação do corpo: o imune, o endócrino e o nervoso. Paralelamente, existe um aumento na suscetibilidade a infecções, tumores e fenômenos autoimunes. Entre as incontáveis variáveis relacionadas com o processo de envelhecimento, uma das mais controversas é o perfil imunológico do indivíduo velho. Há um consenso de que ele se modifica, tornando-se menos eficiente. Embora virtualmente todas as células imunologicamente ativas possam exibir modificações idade-relacionadas, as células T são as que maior vulnerabilidade teriam aos potenciais efeitos do envelhecimento. A mais importante modificação da resposta imune que ocorre com a idade é um declínio na função das células T. Outra característica do envelhecimento do sistema imunológico é um aumento na proporção das células de memória (que já tiveram contato com um antígeno), em relação às virgens (aquelas que ainda não entraram em contato com um antígeno), o que resultará em uma diminuição do potencial de reatividade a novos antígenos. A redução da atividade do timo que ocorre no envelhecimento parece estar relacionada com o aumento de autoanticorpos que observamos no indivíduo velho. Com a involução do timo, diminui o repertório de células T provenientes dele, inclusive aquelas com capacidade supressora que impediriam a quebra do delicado equilíbrio entre estas e as efetoras, aumentando assim a chance de fenômenos autoimunes. Tem sido demonstrado que o envelhecimento é acompanhado por um progressivo aumento na proporção de células que funcionam pobremente. A maioria dos estudos concorda que linfócitos de indivíduos velhos não proliferam com a mesma intensidade de linfócitos de doadores jovens. O declínio da capacidade imune com a idade poderia ser atribuído à prevalência de um linfócito T com fenótipo senescente. Sua maior característica é a irreversibilidade da perda de sua capacidade replicativa. A senescência replicativa é uma consequência da divisão celular e não de um tempo cronológico. O número de divisões celulares, nos quais a senescência é atingida, depende da espécie, da idade e do conjunto genético do indivíduo. Assim, células de origem fetal ou neonatal são capazes de um número maior de divisões do que as células de indivíduos velhos – limite de Hayflick. Com o avanço da idade, há um aumento no número de células que parecem normais, mas falham em responder ao estímulo ativador. Além das células envolvidas em todo o processo de defesa, existem as proteínas mediadoras da resposta imunológica, que afetam desde a proliferação e diferenciação até o estágio final de morte celular (apoptose) – as citocinas. Entre as principais, destacamos as interleucinas (IL-1, IL-2 e IL-6), a interferona-g (IFN-g), o fator de necrose tumoral (TNF- a), e o fator de crescimento tumoral (TGF). Estes mediadores apresentam-se alterados com o envelhecimento. As interleucinas possuem várias funções, mas a maioria delas está envolvida na ativação dos (linfócitos e na indução da divisão de outras células. Cada interleucina atua sobre um grupo limitado e específico de células que expressam receptores adequados para elas. As células do indivíduo velho secretam menos interleucina-2 (IL-2), importante fator de crescimento para linfócito T, do que as células dos jovens. Além disso, células de doadores velhos não expressam receptor para IL-2 na mesma proporção. Estudos da transdução dos sinais mostram que a mobilização do cálcio, a fosforilação de proteínas, a ativação de quinases e a ativação genética para a progressão do ciclo celular estão modificadas nas células de indivíduos velhos, comparados com jovens. Outros estudos têm mostrado que os genes responsáveis pela síntese de fatores de crescimento celular como a IL-2 não são inativados ou mutados em células de indivíduos velhos. Sua expressão, no entanto, parece estar alterada em decorrência de um defeito no caminho de ativação que conecta os eventos de membrana com a ativação nuclear. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 6 FATORES EFEITO Produção de interleucina-2 (IL-2) Diminui Produção de interleucina-6 (IL-6) Aumenta Expressão do receptor para IL-2 Diminui A ativação celular por si só resulta em diferentes padrões de resposta pelas células de doadores velhos. Enquanto algumas células podem não liberar interleucina-2 e interferona-g adequadamente após a ativação, elas liberam outros fatores, como o fator de necrose tumoral (TNF-a), com propriedades inflamatórias, interleucina-1, interleucina-6, mais do que os liberados por células de indivíduos jovens. A interleucina-6 está relacionada com distúrbios inflamatórios crônicos, e seus níveis parecem aumentar com a idade. Assim, existe uma perda da função celular, uma modificação na habilidade em responder aos eventos de ativação e modificações da resposta aos eventosdesta ativação. Que o sistema imune se modifica com a idade parece não haver dúvida, porém, a dimensão e as consequências destas modificações ainda são matéria de intensa controvérsia na literatura. As razões para esta discordância seriam diferenças inerentes à população estudada, já que o processo de envelhecimento não é uniforme dentro de um mesmo grupo de indivíduos, falta de rigor nos critérios de inclusão dos protocolos utilizados e variáveis externas, tais como hábitos de vida, estresse entre outros. A avaliação imunológica começa com a determinação do número de células imunocompetentes no sangue periférico do indivíduo. O número de leucócitos do sangue periférico, incluindo linfócitos, monócitos, células NK e polimorfonucleares, na maioria dos estudos, não mostra alterações importantes com o envelhecimento. As modificações parecem mais marcantes em roedores do que em humanos e alteram muito mais a qualidade da resposta ativadora do que a quantidade de linfócitos no sangue periférico. Outras pesquisas descrevem um declínio no número de linfócitos apenas nos últimos 3 anos de vida, o que poderia explicar a extrema variabilidade destes estudos. A maioria das análises mostra pouca ou nenhuma modificação do número de linfócitos B no sangue periférico em indivíduos velhos. Ocorrem poucas modificações nos níveis de anticorpos, incluindo IgA, IgM e IgG, com o envelhecimento. Enquanto os títulos de anticorpos para partículas estranhas e a resposta imune secundária caem com a idade, os autoanticorpos aumentam. Aumenta a frequência da autorreatividade que parece se originar na diminuição do potencial de regulação imune, ou talvez pelo fato de que o sistema imune também preencha a função de remover material autólogo danificado. MODIFICAÇÕES LINFÓCITO B Fatores Ação Resposta do anticorpo a novos antígenos Diminui Resposta do anticorpo a antígenos próprios Aumenta Produção de anticorpos de alta afinidade Diminui A afinidade do anticorpo é crítica na resposta imune, já que é ela quem determina a força e a especificidade com a qual o anticorpo se ligará ao antígeno. Anticorpos com alta afinidade são capazes de se ligar mais avidamente ao antígeno, formando o chamado (complexo imune, tornando mais eficiente a eliminação do antígeno. Anticorpos de baixa afinidade, por sua vez, são pouco específicos e pouco eficientes na eliminação do antígeno e apresentam, além disso, mais reações cruzadas com outros antígenos. As células NK possuem uma habilidade especial de lisar certos tumores e células infectadas por vírus sem a necessidade de sensibilização prévia. São caracterizadas morfologicamente como grandes linfócitos granulares que expressam em sua superfície moléculas tais como o CD56 e o CD16. As células NK são capazes de sintetizar citocinas, entre elas: interleucina- 1, interleucina-2, interleucina-4, interferona-a, fator de necrose tumoral a e b. A atividade NK esplênica declina com a idade, em camundongos. Em humanos, porém, os dados são bastante conflitantes. A maioria concorda que em indivíduos saudáveis o número absoluto e relativo aumenta progressivamente, enquanto a atividade lítica permanece inalterada. O aumento tem sido associado a alterações na cinética da célula efetora ou ao aumento na proporção de células com comportamento fenotípico de NK. Poucos relatos de diminuição da atividade NK no sangue periférico têm sido publicados. Em contraste, estudos clínicos com baço e linfonodos em roedores mostram clara evidência de declínio idade-relacionada. Assim, é possível que em humanos possa haver um declínio da atividade NK em seus órgãos internos, os quais não são adequadamente avaliados por testes periféricos. Este hipotético Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 7 declínio poderia contribuir para o aumento da vulnerabilidade a doenças neoplásicas, típicas desta faixa etária. Portanto, a resposta imune exige a interação das três principais classes de reação imune específica, as quais frequentemente ocorrem simultaneamente, em resposta a um estímulo antigênico (linfócito T auxiliar, linfócito T citotóxico e linfócito B). Embora cada uma dessas três reações envolva mecanismos efetores distintos, na maioria dos casos são iniciadas e controladas por mecanismos comuns, principalmente envolvendo a atividade do linfócito T auxiliar (T helper). Existem algumas linhas de evidência sugerindo que modificações envolvendo as células T nativas, que diminuem, e as células T de memória, que parecem aumentadas, contribuiriam para a imunodeficiência da idade avançada. Ao diminuir a célula nativa, também ocorre uma diminuição no potencial de reação a novos antígenos. Além disso, o envelhecimento levaria a um declínio na proporção de células T capazes de produzir interleucina-2 (potente estimulador de proliferação). 3) DESCREVER OS PROCESSOS CONSU MPTIVOS PREVALENTES NOS IDOSOS (PATOLOGIAS E SUAS CAUSAS); → Síndrome Consumptiva A síndrome consumptiva pode também ser encontrada como “Emagrecimento Involuntário” em diversas literaturas. Ambos podem ser definidos como o estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia. Portanto, pense em uma balança na qual em um lado se encontra o gasto de energia e do outro o consumo dessa energia. Caso a balança pese mais no gasto de energia, ocorre o emagrecimento. Quando o emagrecimento ocorre de maneira involuntária geralmente está associado a alguma patologia, demandando avaliação e tratamento! Para abordar esse tema, devemos dominar alguns conceitos. A caquexia é a perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura. É o estado mais grave do emagrecimento. A desnutrição, por sua vez, é a deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não à perda de peso. A sarcopenia é usualmente uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando um déficit funcional no idoso. Por fim, a desnutrição energético-proteica (DEP) ocorre por aporte inadequado de energia associado ou não ao déficit de proteínas. Para definição da síndrome consumptiva, devemos ter em mente que tanto o grau de emagrecimento, bem como o tempo em que ele ocorreu, devem ser avaliados sempre de acordo com o seu peso basal anterior ao quadro de emagrecimento involuntário! Considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de > 2% do peso basal em 1 semana, >5% em 1 mês, >7,5% em 3 meses, > 10% em 6 a 12 meses. Algumas situações devem ser avaliadas de forma específicas, como em idosos, nos quais considera-se síndrome consumptiva em perdas maiores que 5% em 6 a 12 meses e em pacientes portadores de anorexia nervosa, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas maiores que 15% em 6 meses. DEFINIÇÃO DE SÍNDROME CONSUMPTIVA TEMPO PERDA DE PESO (DE ACORDO COM O PESO BASAL) 1 semana >2% 1 mês >5% 3 meses >7,5% 6 a 12 meses >10% SITUAÇÕES ESPECIAIS Idosos: Perdas 5% em 6 a 12 meses Anorexia Nervosa: >15% em 6 meses Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 8 → Epidemiologia A síndrome consumptiva possui incidência semelhante entre homens e mulheres. Seus principais fatores de risco são o tabagismo, a idade avançada e um autorrelato de “mal estado de saúde”, ou seja, uma saúde prejudicada basalmente. Esses fatores supracitados também são associados a um pior prognóstico no emagrecimento, assim como o fator idade (pacientes idosos), deficientes físicos e pacientes com doença sistêmica crônica. Deve-se ter em mente que os idosos são uma população em especial, cujas causas comuns de emagrecimento podem ser lembradas de forma mais prática através dos “Dez D’s do Emagrecimento no Idoso”: Dentição (prótesesmal adaptadas, dentes mal cuidados, dor ao mastigar, diminuição do paladar, lesões gengivais), Disgeusia (Perda do paladar associada a perda do olfato, anosmia, com a idade), Disfagia, Diarreia, Doenças Crônicas, Depressão, Demência (perda progressiva dos instintos de fome e sede), Disfunção (perda de entes queridos, condições socioeconômicas precárias, dependência), Drogas, Don’t Know (Não sei – Uma boa parte dos pacientes idosos exibem emagrecimento sem uma causa conhecida). → Doenças Neurológicas As doenças neurológicas mais comumente associadas ao emagrecimento involuntário são o Acidente Vascular Cerebral (AVC), Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Demência e Doença de Parkinson. O mecanismo gerador do emagrecimento depende muito de cada patologia e em qual nível do sistema nervoso ocorre o acometimento. Porém, de uma forma geral, as doenças neurológicas causam muitas sequelas ou déficits neurológicos permanentes, como alteração da cognição, disfunções motoras (tanto periférica como central, como alteração do aparelho muscular mastigatório) ou mais comumente a disfagia. → Diabetes Mellitus (DM) Nessa patologia o mecanismo fisiopatológico é um pouco mais peculiar, pois há um emagrecimento apesar do apetite preservado e muitas vezes exacerbado! Isso ocorre tanto no Diabetes Mellitus quanto no hipertireoidismo. Há um processo de fome celular, estimulando o paciente a se alimentar, que gera uma hiperglicemia associada, pois o paciente continua ingerindo os alimentos mas não há sensibilidade à insulina ou insulina circulante para fazer o transporte da glicose para as células, permanecendo o paciente nesse ciclo, o que justifica as perdas energéticas abundantes. O quadro clínico clássico, portanto, é de polifagia, poliúria e polidpsia. Há perda de glicose e nutrientes na urina (aumento da eliminação de urina), levando a uma perda de água (pelo componente osmolar). Essa perda justifica a polidipsia (ingestão de água aumentada) e a polifagia (ingestão de alimentos aumentada). Além do mecanismo fisiopatológico básico, os pacientes com DM podem vir a emagrecer por um evento secundário, como um AVC ou um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). → Transtornos psiquiátricos Os transtornos psiquiátricos ocupam uma grande porcentagem das causas de perda de peso não intencional, podendo corresponder a 10 a 23% dos casos. Os principais transtornos psiquiátricos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 9 associados à síndrome consumptiva são a depressão e os transtornos alimentares. A depressão possui um emagrecimento multifatorial, onde há uma grande sobreposição de causas. → Hipertireoidismo Em pacientes idosos com apatia e emagrecimento, devemos sempre lembrar do Hipertireoidismo apatético. Essa é uma forma atípica do hipertireoidismo, que acomete pessoas idosas e pode culminar em fibrilação atrial de forma aguda. Pacientes idosos, em particular aqueles com bócio nodular tóxico, podem apresentar sintomas atípicos (hipertireoidismo apático ou mascarado) com sintomas mais parecidos com depressão ou demência. A maioria não apresenta exoftalmo ou tremores. Fibrilação atrial, síncope, alterações sensoriais, insuficiência cardíaca e fraqueza são mais prováveis. Os sinais e sintomas podem envolver apenas um sistema orgânico. → Sarcopenia Sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e força muscular com risco de eventos adversos, como incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte. CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO DE SARCOPENIA Diminuição da massa muscular Diminuição da força muscular Diminuição do desempenho físico Múltiplos fatores de risco e vários mecanismos contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia. Dentre os principais fatores de risco estão a falta de atividade física, a baixa ingesta calórica e proteica, assim como modificações hormonais e alterações nos níveis de citocina que ocorrem a partir do envelhecimento. Alterações no remodelamento do tecido muscular, perda de neurônios motores alfa, além de alterações no recrutamento de células musculares e apoptose são mecanismos que contribuem para a patogênese da sarcopenia. Falta de atividade física: Em qualquer idade, trata-se de fator contribuinte importante na perda de massa e força muscular. Estudos realizados em pacientes que pararam de fazer exercícios por estarem restritos ao leito mostraram que a diminuição da força muscular ocorre antes da diminuição da massa muscular. Exercícios aeróbicos não contribuem para a hipertrofia muscular nem para os exercícios de resistência, mas estimulam a síntese proteica e ativam células satélites. Um aspecto importante dos exercícios aeróbicos é que, ao reduzirem a massa gordurosa, incluindo a gordura intramuscular, melhoram a função muscular. Baixa ingesta calórica e proteica: A taxa de síntese de proteína muscular sofre uma redução de cerca de 30% no idoso. Fatores nutricionais, doenças e inatividade são os principais fatores responsáveis por essa redução. Baixa ingesta calórica e proteica em pessoas idosas está associada ao desenvolvimento de fragilidade. Modificações hormonais: Há evidências de que alterações hormonais relacionadas com o envelhecimento estão ligadas à perda de massa e força muscular. Insulina, estrógeno, testosterona, deidroepiandrosterona (DHEA), hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento insulina símile (IGF-1), vitamina D e paratormônio (PTH) estão envolvidos na etiopatogenia da sarcopenia. Elevados níveis de citocinas: O envelhecimento está associado a aumento gradual e crônico da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-a). A elevação de citocinas constitui um estímulo catabólico e pode estar relacionada com o aumento da quebra das proteínas das fibras musculares. Estudos longitudinais mostram associação entre altos níveis de TNF-a, IL-6 e proteína C reativa (PCR) e risco elevado para diminuição da força muscular. Perda da função neuromuscular: A contribuição neurológica para a sarcopenia ocorre com a perda de neurônios motores alfa. Esse declínio tem início após a sétima década de vida, com uma perda de cerca de 50% dos neurônios motores alfa, o que afeta principalmente os membros inferiores. O aumento do tamanho das unidades motoras e a redução no número de neurônios alfa e de unidades motoras resulta em declínio na ativação da coordenação muscular e diminuição da força muscular. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 10 SARCOPENIA PRIMÁRIA Relaciona-se com idade: nenhuma outra causa identificada além do envelhecimento. SARCOPENIA SECUNDÁRIA Relacionada com atividade física: pode resultar de condições como repouso no leito, estilo de vida sedentário ou descondicionamento físico. Relacionada com doenças: associada a doenças neoplásicas, inflamatórias e endócrinas ou à falência grave de órgãos (coração, pulmão, fígado, rim e cérebro) Relacionada com nutrição: resultado de ingesta inadequada de calorias e/ou proteínas, doenças gastrointestinais ou que levam à má absorção além do uso de medicamentos que causam anorexia O estadiamento dessa enfermidade reflete a gravidade da condição. estágios para essa condição: pré- sarcopenia, sarcopenia e sarcopenia grave. A pré-sarcopenia é caracterizada por diminuição da massa muscular, sem impacto na força muscular ou no desempenho físico. Esse estágio pode ser identificado somente por técnicas de medidas precisas da massa muscular em comparação a uma população padrão. O estágio de sarcopenia é caracterizado por diminuição da massa muscular além de diminuição na força muscular ou no desempenho físico. A sarcopenia grave é identificada quando os três critérios estão presentes. ESTÁGIO MASSA MUSCULAR FORÇA MUSCULAR DESEMPENHOPré-sarcopenia - - Sarcopenia + ou Sarcopenia Grave + + 4) ABORDAR AS DOENÇAS PULMONARES MAIS PREVALENTES NOS IDOSOS; Em alguns momentos da sua carreira, William Osler referiu-se à pneumonia como a maior inimiga do idoso, e, em outros, como sua companheira. A última caracterização explica-se pela frequência com que a enfermidade acomete os idosos, e a primeira, pela frequência com que lhes ceifava as vidas. A pneumonia é a principal causa de morbidade e mortalidade por doença infecciosa nessa população e também a principal razão para transferência para uma unidade de cuidados agudos. Residentes de Instituições de Longa Permanência desenvolvem pneumonia aproximadamente 10 vezes mais frequentemente que idosos da comunidade, e a sua taxa de hospitalização é quase 30 vezes maior. Pneumonite significa inflamação aguda, de natureza infecciosa ou não, localizada no parênquima pulmonar. Quando há infecção, seja ela bacteriana, viral ou fúngica, convencionou-se chamar o quadro de pneumonia. As bactérias são responsáveis pela maioria dos casos de pneumonia nos idosos. Como a pneumonia não é uma doença de notificação compulsória, existem poucos dados sobre sua incidência em adultos e, particularmente, em indivíduos com mais de 60 anos. No Brasil, a maioria das informações sobre sua epidemiologia é obtida por meio de dados do Ministério da Saúde referentes à parcela de pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A incidência de pneumonia em idosos aumenta durante os surtos de gripe (infecção pelo vírus (influenza). Esse fato já foi comprovado em vários países, inclusive no Brasil, por inúmeros estudos epidemiológicos. Os idosos têm maior risco de morte quando são acometidos por pneumonia do que os adultos jovens. As taxas de mortalidade por essa infecção, quando adquirida na comunidade, podem chegar a 30% para indivíduos com mais de 60 anos, e, quando adquirida nas ILP, a 57%. No Brasil, de acordo com dados do DATASUS referentes ao ano de 2007, na população de 60 anos ou mais a pneumonia foi a primeira causa de morte entre as doenças do aparelho respiratório e a segunda entre todas as causas, ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório. A pneumonia é ocasionada por três mecanismos patogênicos diferentes: colonização da orofaringe e subsequente aspiração de microrganismos, inalação de aerossóis infectados e, mais raramente, disseminação hematogênica de outros locais de infecção. A ocorrência de pneumonia vai depender da quantidade de microrganismos, da virulência dos mesmos e das condições de defesa do hospedeiro. Existe um grande número de fatores que predispõem o idoso a ter pneumonia. O fator extrínseco mais importante que predispõe às pneumonias adquiridas na comunidade e nos asilos é a infecção pelo vírus da gripe (influenza). A incidência de pneumonia nos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 11 idosos está diretamente relacionada com as epidemias de gripe. Entretanto, inúmeros estudos têm demonstrado que fatores predisponentes mais importantes são a desnutrição, a fragilidade e as doenças pulmonares e cardiovasculares. Nos idosos com pneumonia, as comorbidades mais comuns são doença cardíaca crônica, DPOC, diabetes melito, hipertensão arterial sistêmica, doenças neurológicas e câncer. A imunossenescência é um processo complexo e dinâmico caracterizado pelo declínio das células imunes mediadas ou adaptativas, que pode tornar o idoso mais vulnerável a novas infecções. A colonização da orofaringe é o primeiro passo para as pneumonias, principalmente para as adquiridas nas ILP e nos hospitais. A colonização por Staphylococcus aureus e gram-negativos (Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli) ocorre mais frequentemente em idosos com doença pulmonar crônica, com diminuição da produção de saliva (síndrome (sicca, xerostomia por medicamentos, principalmente anticolinérgicos), debilitados e residentes em instituições ou internados em hospitais. Inúmeras doenças comuns nos idosos comprometem a resistência do hospedeiro às infecções pulmonares. A DPOC reduz o reflexo da tosse e compromete o funcionamento do sistema mucociliar. O acúmulo de líquido nos alvéolos, que ocorre na insuficiência cardíaca, altera a função dos surfactantes. A insuficiência renal, o diabetes melito, as doenças hepáticas crônicas e os cânceres diminuem a resposta imune dos pacientes. 5) CARACTERIZAR A FISIOPATOLOGIA DA DPOC (RELACIONAR AO MAIOR RISCO ÀS INFECÇÕES PULMONARES E SUA MORBIDADE); FATORES DE RISCO PARA DPOC EXTERNOS INDIVIDUAIS Tabagismo Deficiência de alfa-1 antitripsina Poeira ocupacional Deficiência de glutationa transferase Irritantes químicos Alfa-1-antiquimotripsina Fumaça de lenha Hiper-responsividade brônquica Infecções respiratórias graves na infância Desnutrição Condição socioeconômica Prematuridade A DPOC é a quarta causa de morte nos EUA e a única entre as 10 mais frequentes que está aumentando. Espera-se que atinja o terceiro lugar até 2020. A DPOC é diagnosticada em aproximadamente 4% dos homens e 2% das mulheres com mais de 45 anos. Cerca de 6% das mortes em homens e 4% nas mulheres são devidas à DPOC. É uma importante causa de absenteísmo ao trabalho, responsável por 9% das causas comprovadas de falta ao trabalho. → Causas da DPOC Cigarro: Essa é a etiologia mais comum em todo o mundo. O tabagismo ativo causa tanto hipersecreção mucosa quanto obstrução crônica ao fluxo aéreo. A cessação do tabagismo reduz a hipersecreção mucosa e a taxa de queda da função pulmonar. O tabagismo passivo está associado à DPOC, porém, de modo discreto, basicamente por seu efeito sobre o crescimento pulmonar durante o desenvolvimento fetal. Poluição aérea: Poluição aérea, principalmente com dióxido de enxofre e material particulado (fumaça preta), está associada à bronquite simples crônica e DPOC. Exposição ocupacional: Exposição à fumaça e a pós pode ser um importante fator, podendo interagir com a fumaça do cigarro. A exposição a cádmio está associada ao enfisema. Infecção pulmonar: Infecção pulmonar durante o primeiro ano de vida está associada ao desenvolvimento de DPOC mais tardiamente. Há poucas evidências de que infecções pulmonares subsequentes sejam importantes para a ocorrência da DPOC. Nutrição precoce: Esse fator pode ser importante, uma vez que bebês prematuros aumentam o risco de desenvolver DPOC mais tardiamente. Dieta com baixa quantidade de vitaminas antioxidantes (A, C e E) também pode estar associada a aumento de risco para desenvolvimento de DPOC. Fatores genéticos: Podem ser importantes, pois há várias formas de deficiência de antiprotease que predispõem ao desenvolvimento de enfisema. → Patologia A DPOC é o espectro clínico de doenças pulmonares inflamatórias que incluem: Bronquitecrônica: Caracterizada por tosse crônica de no mínimo 3 meses aos últimos 2 anos. Ocorrem hiperplasia das glândulas submucosas e crescimento do número de células caliciformes no epitélio, Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 12 associados ao estreitamento estrutural das pequenas vias respiratórias (bronquíolos) em decorrência de alterações inflamatórias crônicas. Essas alterações inflamatórias consistem em linfócitos T ativados. Nas vias respiratórias de maior calibre, há evidência de inflamação neutrofílica, a julgar pelo número aumentado de neutrófilos no escarro. Enfisema: Caracterizado por progressiva dispneia causada por perda da retração elástica e destruição enzimática das paredes alveolares. Podem-se observar diferentes padrões de enfisema: o enfisema centroacinar ocorre predominantemente nos bronquíolos terminais, ao passo que o enfisema pan- acinar envolve uma destruiçãogeneralizada. A perda da retração elástica leva à obstrução das vias respiratórias no enfisema, pois as vias respiratórias intrapulmonares fecham-se mais precocemente durante a expiração. Bronquiteasmática: Caracterizada por tosse crônica, episódios de chiado, dificuldade respiratória e hipersecreção de muco. Dados da história e exames que favorecem a asma, no diagnóstico diferencial com DPOC: • Início na infância ou adolescência; • História familiar; • Não tabagista; • Variação acentuada do grau de sintomas e sinais; • Reversibilidade completa da limitação do fluxo aéreo • Boa resposta ao corticosteroide inalado. → Mecanismos da DPOC Hipersecreção mucosa: Ocorre como resultado de tabagismo ou pela exposição à inalação de outros irritantes. O mecanismo provavelmente envolve ativação das terminações nervosas sensoriais nas vias respiratórias, com aumento reflexo (peptidérgico local e colinérgico medular) da secreção mucosa e efeitos estimulantes diretos de enzimas derivadas do neutrófilo, tais como quinase e elastase. Com o passar do tempo, ocorrem hiperplasia das glândulas submucosas e proliferação das células caliciformes sob a influência de fatores de crescimento. Desequilíbrio protease-antiprotease: O enfisema resulta de um desequilíbrio entre proteases (as quais digerem elastina e outras proteínas estruturais da parede alveolar) e antiproteases (as quais protegem contra essa agressão). A mais importante antiprotease pulmonar é a alfa-1- antitripsina (também conhecida como a alfa-1- antiprotease), a qual é proveniente principalmente do plasma. A herança da deficiência homozigota de alfa-1- antitripsina pode levar ao enfisema grave, particularmente em fumantes, mas essa doença genética é responsável por menos de 1% dos casos de DPOC. A alfa-1-antitripsina não é a única antiprotease; alfa-1-antiquimiotripsina também está presente nos pulmões. Indivíduos heterozigotos que têm valores de alfa-1-antitripsina mais baixos que o normal apresentam risco aumentado para DPOC. Fumar cigarro estimula os leucócitos polimorfonucleares dentro do pulmão a criar radicais livres e oxidantes, resultando em estresse oxidativo. O estresse oxidativo inativa as antiproteases de proteção e causa peroxidação lipídica nas vias respiratórias e alvéolos. Os oxidantes depletam os antioxidantes e os mecanismos de defesa antiprotease, causando assim lesão nas vias respiratórias e nos alvéolos via mecanismos inflamatórios. Esses mecanismos inflamatórios são um tanto diferentes dos associados à asma. Na DPOC, os macrófagos e neutrófilos fazem o papel-chave. Mediadores inflamatórios são provavelmente interleucinas derivadas de neutrófilos (IL) como as IL6 e IL-8, o fator de necrose tumoral alfa e a fosfodiesterase-4. Os mecanismos inflamatórios incluem elastase neutrofílica, catepsina e matrix metaloproteinase, que juntas vão criar lesões e destruição das paredes alveolares, inflamação das vias respiratórias e hipersecreção de muco. A bronquite asmática e a bronquite crônica são o resultado da inflamação de vias respiratórias de condução, e o enfisema é o resultado da inflamação alveolar. Produtos do fumo de cigarros provavelmente derrotam genes antioxidantes ou estimulam genes Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 13 suscetíveis, fato que poderia explicar casos de grupos familiares com DPOC. Obstrução das pequenasvias respiratórias: Ela provavelmente decorre de um processo inflamatório crônico induzido por substâncias irritantes e caracteriza-se pela infiltração neutrofílica, devido à liberação de fatores quimiotáticos, tais como interleucina-8 e leucotrieno B4, a partir de macrófagos. Isso pode levar à secreção de mediadores fibrinogênicos e ao desenvolvimento de fibrose das vias respiratórias periféricas, embora isso raramente seja extenso. → Tipos especiais de DPOC Em alguns pacientes, a relação da DPOC com o cigarro é inexistente ou parcial, havendo uma variedade de causas: 1. Deficiência de alfa-1-antitripsina: nesse caso, a DPOC é devida a uma redução intensa de antiprotease nos pulmões como consequência de um defeito genético. Isso torna o tecido pulmonar suscetível aos efeitos lesivos de várias proteínas endógenas, resultando em enfisema grave, especialmente em fumantes. É uma condição rara, e só ocorre em portadores homozigotos do defeito genético. Os heterozigotos geralmente são saudáveis. Indicações para dosagem de alfa-1 antitripsina: • Enfisema pulmonar com início em adulto jovem < 45 anos; • Enfisema pulmonar sem fator de risco conhecido; • Enfisema predominante em região basal; • Doença hepática inexplicada; • Vasculite com positividade para anticorpo antineutrófilo citoplasma (C-ANCA); • História familiar de enfisema, doença hepática, paniculite ou bronquiectasia. 2. Discinesia ciliar primária: essa alteração é devida a um efeito na ultraestrutura dos cílios em todo o corpo, o que geralmente leva a sinusite crônica, otite crônica e DPOC. Os homens são estéreis devido à imobilidade dos espermatozoides. Nas formas mais extremas da doença, pode haver destrocardia e bronquiectasia (síndrome de Kartagener), mas a maioria dos pacientes apresenta uma forma relativamente leve de DPOC. → Sinais e sintomas da DPOC A progressão da DPOC é de pelo menos 30 anos desde o início até desenvolver manifestações clínicas da doença. Nos estágios iniciais da DPOC, os pacientes não apresentam sintomas, ou somente tosse pela manhã, atribuída frequentemente ao fato de fumarem cigarros. Não é comum encontrarmos sinais físicos nos estágios leve a moderado da doença. Na doença avançada, existe evidência clínica de hiperinsuflação, com diafragmas rebaixados, observados por percussão. A maioria dos pacientes com DPOC apresenta-se com dispneia progressiva, tosse com expectoração e, às vezes, com episódios de sibilância respiratória. Infecções respiratórias são comuns nos estágios avançados da doença. Sintomas como tosse e dificuldade respiratória têm baixa especificidade para doenças pulmonares em pacientes idosos com DPOC; eles apresentam mais mobilidade reduzida e fadiga do que a presença dos sinais e sintomas clássicos da bronquite crônica que vemos em fumantes jovens. De especial interesse são novos estudos demonstrando que DPOC, em si, não causa declínio cognitivo, entretanto, depressão é comum nesses pacientes. No exame físico, hiperinsuflação é vista frequentemente, além de mudanças na caixa torácica, principalmente devido à osteoporose. A cifose resultante, devido à deformidade torácica, causa distância dos batimentos cardíacos, perda da movimentação normal das costelas, hiper-ressonância e aumento do abaixamento traqueal durante a inspiração. A ausculta pulmonar revela diminuição do murmúrio vesicular e tempo expiratório mais prolongado quando é feita uma manobra expiratória forçada. Os músculos respiratórios acessórios do pescoço tornam-se proeminentes. Como está rebaixado, o diafragma causa retração costal inferior na inspiração. O fígado é palpável, mas não está aumentado. O estudo do escarro revela níveis altos de neutrófilos, citoquinas inflamatórias e a presença de organismos potencialmente patogênicos, como (Haemophilus influenzae, (Streptococcus pneumoniae, (Moraxella catarrhalis e (Chlamydia pneumoniae, sozinhos ou em combinação. ESTÁGIO SINTOMAS I Leve Assintomático, tosse produtiva II Moderado Dispneia na exacerbação, tosse produtiva III Grave Aumento da dispneia aos esforços, redução na capacidade de exercícios, impacto na qualidade de vida IV Muito grave Insuficiência respiratória crônica ou exacerbações graves, grave impacto na qualidade de vida Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 14 Índice de dispneia modificadodo MRC (Medical Research Council-ERS-ATS COPD Guidelines): 0 – Tenho falta de ar ao realizar exercício intenso. 1 – Tenho falta de ar quando apresso o meu passo ou subo escadas ou ladeiras. 2 – Preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo, ou ando mais devagar que outras pessoas de minha idade. 3 – Preciso parar muitas vezes devido à falta de ar quando ando cerca de 100 metros ou poucos minutos de caminhada no plano. 4 – Sinto tanta falta de ar que não saio de casa, ou preciso de ajuda para me vestir ou tomar banho sozinho. Características típicas da DPOC: • História de intenso tabagismo por muitos anos, mais de 20 cigarros/dia durante 25 anos; • Tosse e secreção por muitos anos; • Geralmente, no início, a tosse ocorre só ao despertar; mais tarde, ela está presente ao longo do dia; • Secreção geralmente mucoide, não em quantidade excessiva, que se torna purulenta durante as exacerbações; • A tosse e a secreção geralmente são piores no inverno, devido à infecção; • Início insidioso de dispneia ao esforço, com sibilo ou sensação de aperto no tórax; • Alguns desenvolvem exacerbações graves da doença, que culminam em insuficiência respiratória crônica e insuficiência cardíaca – o tipo blue bloater (cianótico congesto) da DPOC; • Outros não apresentam secreção, ou somente em pequena quantidade, nem hipoxia em repouso, mas a dispneia e os sibilos são intensos e o enfisema é pronunciado – o tipo pink puf er (soprador róseo) da DPOC. Esses pacientes geralmente têm baixo peso corpóreo; • A maioria dos pacientes com DPOC apresenta um padrão misto, e não os padrões isolados de blue bloater ou pink puf er. 6) ELENCAR OS EXAMES DE IMAGEM (RAIO -X E TOMOGRAFIA) NECESSÁRIOS PARA IDENTIFICAR ALTERAÇÕES PULMONARES (CONSEQUENTES DA DPOC E PNEUMONIA); → Raios X de tórax Na DPOC leve, as radiografias de tórax podem ser normais, mas, com a progressão da doença, ocorrem as seguintes alterações: • Grandes volumes pulmonares; • Diafragma rebaixado e achatado; • Área cardíaca pequena; • Aumento do espaço retroesternal; • Quando o enfisema é proeminente, há perda das imagens dos pequenos vasos e pode haver o aparecimento de bolhas, especialmente nos ápices; • Quando ocorre o (cor pulmonale, a vasculatura hilar pode tornar-se proeminente e o coração pode aumentar, especialmente na direção anteroposterior; • Quando ocorrem infecções, pode haver infiltrados localizados nos pulmões, que devem desaparecer com o tratamento. Na pneumonia, a radiografia do tórax é importante para confimar o diagnóstico, avaliar a extensão da doença, detectar complicações como o derrame pleural e diagnosticar a presença de doença pulmonar prévia. O exame inicial pode ser normal em 10% dos gerontes, principalmente nos pacientes desidratados. Os infiltrados aparecem depois de 24 a 48 h ou depois da hidratação. Imagens de condensação lobar ou segmentar são menos frequentes e o que se observa mais comumente são imagens alveolares heterogêneas, semelhantes ao padrão de broncopneumonia. Isso dificulta a diferenciação entre pneumonia e insuficiência cardíaca ou carcinomatose. Evidência de pneumonia aguda, isto é, a presença de novo infiltrado é encontrada em 75 a 90% das radiografias de tórax realizadas em instituições. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 15 → Tomografia computadorizada dos pulmões As razões para a solicitação de tomografia computadorizada (TC) dos pulmões à medida que a DPOC progride são as seguintes: • A maioria dos pacientes com DPOC é fumante de grande número de cigarros, e um carcinoma pequeno pode ser difícil de diagnosticar em raios X simples do tórax; • Pode ser impossível distinguir uma simples exacerbação infecciosa de DPOC da imagem de um carcinoma nos raios X simples; • A extensão do enfisema é mais bem avaliada com TC de alta resolução; • Complicações pulmonares tais como tromboembolismo e trombose da artéria pulmonar podem ser detectadas pela TC com injeção de contraste, especialmente pela técnica helicoidal. 7) APRESENTAR O CALENDÁRIO VACINAL DOS IDOSOS (PÚBLICO E PRIVADO); 8) ELUCIDAR AS PRINCIPAIS CAUSAS DE ANEMIA NO IDOSO. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS COM O ENVELHECIMENTO hemoglobina hematócrito do número de hemácias da resposta eritropoética à administração de eritropoetina Demora no início da eritropoese após vultuoso sangramento Eritropoese: A vida das hemácias, em torno de 120 dias, exige contínua renovação dessa população celular pela medula óssea, mesmo nos muito idosos, visto que sua principal função é transportar oxigênio por meio da circulação para todas as células e tecidos do corpo, de acordo com suas necessidades. Embora o envelhecimento não seja causa de anemia, observa-se mudança do perfil hematológico sugerindo uma exaustão das células-tronco hematológicas pluripotenciais, tornando os idosos mais suscetíveis a essa doença. Também ocorre aumento da produção de radicais livres, os quais alteram as funções celulares e a integridade de suas membranas. Com isso, as hemácias deformadas são retiradas de circulação e a medula óssea acelera a produção em uma tentativa de reparar o dano. Entretanto, a aceleração desse processo pode alterar a composição das membranas das hemácias, não conseguindo o equilíbrio da renovação dessas células, podendo surgir anemia e agregação dos eritrócitos. Os principais moduladores hormonais da eritropoese são a eritropoetina (EPO), testosterona e IL-3. Os trabalhos mostram não haver diferença significativa nos níveis dessas substâncias nos indivíduos idosos relativas à produção hematopoética. O feedback entre hemoglobina e eritropoetina está mantido, mas a secreção de EPO em resposta à anemia por deficiência de ferro está diminuída. Isso ocorre porque as citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6, aumentam com o avanço da idade reduzindo a resposta das células-tronco. Admite-se que haja maior produção de IL-6 pelos monócitos, pelas células T, pelas células endoteliais e pelas células ósseas. → Anemia no idoso A anemia é um quadro de origem multifatorial, comum no idoso e sua prevalência aumenta com a idade. É definida de acordo com os critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1968) pelos níveis de hemoglobina < 13 g/dl em homens e < 12 g/dl em mulheres. Por conceito, anemia é uma síndrome clínica causada pela redução na massa circulante de hemácias. Na prática, as medidas disponíveis que estimam a massa de hemácias, mais comumente utilizadas, são a concentração de hemoglobina (Hb), hematócrito e contagem das hemácias/amostra de sangue. Os critérios de anemia definidos pela OMS (hemoglobina: < 12 g/dl para mulheres e < 13 g/dl para homens) foram questionados por alguns especialistas, com as seguintes argumentações: primeiro, a não inclusão de pessoas com mais de 65 anos na amostra analisada; segundo, o critério utilizado para corte de hemoglobina foi uma medida puramente estatística, isto é, consideraram-se normais os níveis Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 16 compreendidos entre a média e o desvio-padrão e não em sua influência na mortalidade, morbidade ou em algo de importância vital para o idoso: a situação funcional. Estudos recentes mostraram que mesmo os idosos com valores de hemoglobina em uma faixa de variação “normal” (níveis de Hb abaixo de 14 g/dl, e não só de 12 g/dl) apresentaram risco maior de desfechos adversos, como a síndrome da fragilidade, incapacidade e mortalidade. Associado a esses dados, achados em estudos recentes da relação de eritropoetina e níveis de Hb na mulher idosa revelaram que os níveis de eritropoetina, são muito mais elevados na presença de hemoglobina “baixa/normal”, em comparaçãoa uma hemoglobina medianamente normal. Apesar dessas considerações, um estudo longitudinal, realizado com idosos acima de 85 anos, vivendo na comunidade, por um período de 10 anos, concluiu serem os parâmetros referidos adequados também nesta população. Mas é consenso e as evidências atuais sugerem que os critérios da OMS para anemia constituem uma abordagem válida para definir alterações da saúde em idosos, mas não para a previsão de risco de problemas. Finalmente, a raça também tem sido alvo de discussões no sentido de que seja considerada como parte dos critérios para definição de anemia. Os achados nos estudos na população norte-americana que falam a favor desta afirmação são a prevalência 3 vezes maior de anemia em idosos afrodescendentes (uma média aproximada de hemoglobina 0,8 gr/dl menor em relação aos idosos brancos, embora não seja claro se existam consequências adversas nos mesmos por este fato) e o aumento de risco de 2 a 3 vezes maior de incapacidade funcional e mortalidade nos idosos brancos com anemia, não observado nos afrodescendentes. Embora a causa da maior prevalência de anemia em idosos afrodescendentes não tenha sido estabelecida, há a sugestão de que alguns dos motivos para tal disparidade devam estar relacionados com diferenças biológicas. A anemia é o distúrbio hematológico mais frequente no idoso. Dados da literatura de prevalência dessa afecção variam de 3 a 61%. Os valores tão díspares se devem a vários fatores, como o método diagnóstico, o ponto de corte empregado, a idade dos participantes, o sexo e, sobretudo, a população estudada. → Implicações clínicas da anemia em pessoas idosas Mais de 90% dos idosos residentes na comunidade apresentam anemia leve, com Hb > 10 g/dl. No entanto, como vários estudos epidemiológicos têm documentado, esses achados estão claramente implicados em aumento da mortalidade, piora da morbidade, fragilidade, declínio da capacidade funcional, incapacidade e declínio cognitivo. Além disso, a constatação do aumento da mortalidade e dos eventos citados anteriormente, relacionados com anemia no idoso, ocorrem também devido ao efeito sinérgico das comorbidades prevalentes, muitas vezes causadoras da anemia, e pelos efeitos da anemia. Mortalidade 1. anemia leve, (critérios da OMS), é um fator de risco independente de mortalidade em 5 anos; 2. o risco de mortalidade se correlaciona com a gravidade da anemia e 3. mesmo níveis considerados normais (pelos critérios da OMS) estão associados a aumento de risco de mortalidade, e este se eleva também quando a anemia está relacionada a outras comorbidades. Síndrome da fragilidade A anemia no idoso pode ainda estar relacionada com síndrome de fragilidade. Níveis baixos e “normal/baixo” (critérios da OMS) foram associados de maneira independente a um aumento do risco da síndrome de fragilidade. A presença de doença cardiovascular concomitante à anemia aumentou ainda mais o risco da síndrome de fragilidade, o que pode sugerir que, na ausência de um desses dois fatores, a chance de desenvolvimento da síndrome de fragilidade possa ser menor. Considerar que a anemia no idoso possa, isoladamente (como um fator de risco independente) ou por meio de interações (quando associada a múltiplas comorbidades), aumentar o risco de desfechos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 17 adversos, é de fundamental importância para profissionais que cuidam da saúde do idoso. Função cognitiva A associação da anemia no idoso com declínio cognitivo, sintomas depressivos e diminuição na qualidade de vida foi demonstrada em alguns estudos observacionais. Em um estudo, com mais de 300 idosas, com idade entre 70 e 80 anos, que viviam na comunidade, foi encontrada maior dificuldade para realização dos instrumentos de avaliação naquelas com anemia leve (Hb 10-12 g/dl), em comparação àquelas sem anemia, mesmo com ajustes para idade, educação, doenças, parâmetros fisiológicos e funcionais. Neste mesmo estudo, foi observada uma associação entre anemia leve e comprometimento da função executiva, sem diagnóstico de demência, embora não tenha sido possível esclarecer a verdadeira relação desses achados. A associação de anemia leve e declínio cognitivo em idosos vivendo na comunidade já são descritos em alguns estudos, da mesma maneira como a correlação entre anemia grave/declínio cognitivo a doença renal crônica (DRC) e neoplasia maligna. Outras comorbidades A associação da anemia a complicações de algumas condições clínicas, como a doença renal crônica, a doença cardiovascular (insuficiência cardíaca e a disfunção diastólica em pacientes com doença coronariana, com função sistólica preservada) torna-se cada vez mais evidente. Estudos revelaram que a gravidade da anemia está intimamente relacionada com a maior hospitalização e mortalidade por Insuficiência Cardíaca Congestiva. Configura-se, assim, como um fator de risco independente de complicações clínicas nos pacientes com ICC. Declínio funcional A anemia, além de apresentar correlação com aumento do risco de mortalidade, também tem sido associada a declínio da condição física e capacidade funcional em idosos que vivem na comunidade. Um desses estudos, realizado com idosos, acima de 65 anos e com anemia (critérios OMS), apresentou maior dependência para a realização das atividades básicas de vida diária (ABVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD), menos força em membros superiores e inferiores e menor velocidade de marcha. Em todos os estudos, existe um padrão linear de piora da condição física, com níveis mais baixos de hemoglobina. Além disso, os resultados de estudos publicados até esta data mostram cada vez mais que a anemia no idoso está associada a outros marcadores de declínio da condição física, como a fragilidade, a fraqueza muscular e as quedas. Em síntese, o crescente interesse no estudo da anemia e sua associação a repercussões clínicas adversas no idoso são constatados pelo grande número de pesquisas realizadas na última década. Esses estudos levantam a possibilidade da associação da anemia leve a um fator independente de risco para o declínio funcional, e para os outros desfechos clínicos comentados anteriormente, em idosos que vivem na comunidade, entretanto, não apresentam evidências conclusivas para afirmar tais observações. Futuros e grandes estudos randomizados, controlados (RCT) são esperados para esclarecer tais dúvidas. → Causas da anemia A anemia é classificada pela fisiopatologia (por diminuição na produção de hemácia (Hm), aumento na destruição de Hm ou perda sanguínea) ou pelo tamanho celular (volume corpuscular médio – VCM). TAMANHO CELULAR X PRINCIPAIS CAUSAS NO IDOSO Microcítica (VCM<80fl) Deficiência de ferro Sangramento gastrintestinal, AINE, neoplasia de cólon, angiodisplasia, esofagite, úlcera péptica Anemia de inflamação crônica Má absorção: gastrectomia Talassemia Macrocítica (VCM > 100 fl) Megaloblástica: deficiência de vitamina B12 e ácido fólico Não megaloblástica: doença hepática, mixedema, mielodisplasia Normocrômica (80-100 fl) Infecções crônicas, estados inflamatórios, neoplasias, doença renal crônica, hipofunção endócrina, síndrome mielodisplásica, infiltração neoplásica da medula óssea FISIOPATOLOGIA X PRINCIPAIS CAUSAS NO IDOSO Por diminuição da produção Síntese de hemoglobina: deficiência de ferro, anemia de inflamação crônica, talassemia Síntese de DNA: anemia megaloblástica Célula progenitora (stem cell): infiltração neoplásica, anemia aplástica Por aumento da destruição Hemólise (intrínseca): defeitos de membrana (esferocitose), hemoglobinopatias (anemia falciforme), enzimopatias Hemólise (extrínseca): imunológica (auto-Ac frio e quente), microangiopática (púrpuratrombocitopênica trombótica, síndrome urêmica hemolítica, prótese valvar), infecciosa, hiperesplenismo Por perda de sangue Hemorragia aguda Hemorragia crônica Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 18 Na maior parte das vezes, idosos com anemia apresentam eritrócitos normocrômicos e normocíticos. Sendo assim, um esquema bastante utilizado na literatura geriátrica é classificar as anemias de acordo com sua categoria: (a) deficiência nutricional (deficiência de ferro, vitamina B12 e folato); (b) doença renal crônica; (c) doença crônica ou anemia da inflamação crônica; (d) anemia inexplicada. Essas grandes categorias não são exclusivas, e mais de um tipo de anemia pode estar presente concomitantemente. → Deficiência nutricional (Fe; B9; B12) Deficiência de ferro. É a causa mais comum de anemia no idoso. Embora descrita como microcítica e hipocrômica em fases iniciais ou quando associada a outras comorbidades, pode se apresentar como normo/normo. As manifestações da deficiência de ferro ocorrem em vários estágios que são definidos pela extensão da depleção, primeiro dos estoques de ferro e então do ferro disponível para a síntese de hemoglobina. Caso o balanço negativo continue, segue-se a redução da produção de hemácias. Há várias causas de anemia por deficiência de ferro. Acredita-se, no entanto, que a perda crônica de sangue pelo trato gastrintestinal no idoso seja o mais comum. Embora a redução na absorção, associada ou não, à baixa ingestão de ferro possa causar deficiência, essa é uma causa incomum de anemia. Portanto, é prudente pensar que, em uma condição de anemia por deficiência de ferro, a mesma reflita perda sanguínea, e que lesões do trato gastrintestinal possam ser a causa. Mesmo o uso de bomba de prótons, que reduz a acidez gástrica, não está associado à anemia por deficiência de ferro. PRINCIPAIS CAUSAS DE DEFICIÊNCIA DE Fe EM IDOSOS Aumento da perda de ferro Hemorragia aguda Sangramento crônico oculto Inflamação Neoplasia de cólon Angiodisplasia AINE Déficit de ferro na dieta Dieta vegetariana Desnutrição Demência, doenças psiquiátricas Deficiência na absorção do ferro Terapia antiácida ou aumento do pH gástrico Doença celíaca Doença inflamatória intestinal Gastrectomia parcial Outra causa de deficiência de ferro a ser considerada no idoso é a que ocorre durante o tratamento da anemia da doença renal crônica com eritropoetina. O requerimento provocado pela resposta terapêutica pode ser maior do que os estoques de ferro presente. Deficiência de vitamina B12 e folato. A deficiência de vitamina B12 (cobalamina) é a causa mais comum de anemia megaloblástica, que é frequentemente uma pancitopenia. Deve-se a uma diminuição da síntese do DNA e manifestase por um tipo reconhecido de alterações morfológicas na medula óssea e nas hemácias, que incluem o gigantismo dessas células e daquelas em proliferação, além de várias evidências de retardamento da divisão celular. Na deficiência de vitamina B12 e/ou folato haverá defeito na maturação e proliferação das hemácias, caso não sejam identificadas e corrigidas, o que resultará na anemia macrocítica. A deficiência de vitamina B12 geralmente acontece por causa de uma baixa absorção, anemia secundária perniciosa ou doença gástrica. A anemia perniciosa é comum no idoso, secundária à formação de autoanticorpos contra o fator intrínseco ou a gastrite crônica atrófica, também por produção de autoanticorpos contra as células gástricas parietais, está associada à certos tumores gástricos. Além dessas, outras causas comuns no idoso com má absorção de vitamina B12 são: • Infecção por Helicobacter pylori; • Supercrescimento bacteriano secundário a tratamento com antibiótico; • Alcoolismo crônico; • Cirurgia gástrica/reconstrução para obesidade (cirurgia bariátrica); • Ingestão prolongada de biguanidas, antiácidos, antagonistas dos receptores H2 e inibidores de bomba de prótons; • Falência pancreática exócrina; • Síndrome de Sjogren. Doença Renal Crônica. A diminuição fisiológica da filtração glomerular (FG) e as lesões renais que ocorrem secundárias a doenças crônicas, comuns em pessoas idosas, as torna mais suscetíveis a doença renal crônica. Calcula-se que há uma redução na taxa de FG em torno de 10% por década a partir dos 30 anos. A FG é a melhor medida do funcionamento renal em indivíduos normais ou pacientes com doença renal e, quando menor que 60 ml/min/1,73m2, representa diminuição de cerca de 50% da função renal normal e, Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 19 abaixo deste nível, aumenta a prevalência das complicações da DRC. Principais causas de anemia na doença renal crônica: • Diminuição na produção de eritropoetina; • Deficiência de ferro Perda de sangue; • Diminuição da vida média da hemácia; • Supressão da medula óssea por uremia; • Osteíte fibrosa cística; • Deficiência de vitamina B12 e folatos; • Inflamação Infecção Intoxicação por alumínio. A anemia da DRC é geralmente normocítica/normocrômica e desenvolve-se como resultado da combinação de 1 ou mais dos seguintes fatores: diminuição da eritropoetina (essencial para estimulação da hemácia na medula óssea), deficiência de ferro (por declínio da função plaquetária, perda de sangue pelo trato gastrintestinal), supressão da medula óssea pela uremia (diminui meia vida da hemácia para 30 a 40 dias), perda sanguínea, inflamação (por aumento de citoquinas inflamatórias, que aumentam o bloqueio da liberação de ferro pelo sistema retículo endotelial – SRE) e outros. Os dois primeiros fatores são os que mais contribuem para a anemia na DRC e, entre esses dois, a deficiência de eritropoetina, permanece como principal causa da anemia na DRC. A eritropoetina é produzida primariamente nos rins e é secretada em resposta à hipoxia. Anemia de doenças crônicas ou de inflamação crônica. A anemia de doença crônica foi estabelecida como uma entidade distinta em 1962, e, em mais de 75% dos casos, associada à infecção, inflamação e/ou neoplasia. É o termo tradicionalmente utilizado para o que denomina-se anemia de inflamação crônica. O novo nome reflete o conceito atual na fisiopatologia da doença, que apresenta elevados níveis de citoquinas inflamatórias (interleucina I (IL-I), fator de necrose tumoral (TNF-a), interleucina 6 (IL-6) e interferon a (IFN-a) envolvidas na estimulação da produção de hepcidina, um hormônio que causa redução na absorção de ferro intestinal e diminuição da liberação de ferro pelos macrófagos. Dessa maneira, há uma redução nos níveis séricos de ferro, com limitação na eritropoese, a despeito do seu aumento nos estoques, o que caracteriza a afecção. As citoquinas inflamatórias também podem afetar a eritropoese mediante efeitos sobre a proliferação e diferenciação das células progenitoras na medula óssea (indução da apoptose ou efeito tóxico direto) e pela supressão da produção de eritropoetina. O real impacto desses mecanismos na eritropoese e no metabolismo do ferro permanece por ser determinado. Anemia inexplicada. A anemia inexplicada, ou seja, aquela que não reúne critérios específicos de classificação das anemias (também chamada anemia idiopática do idoso) ocorre em aproximadamente 20 a 30% dos idosos que vivem na comunidade, segundo vários estudos epidemiológicos, em 17% dos hospitalizados, e em mais da metade daqueles que vivem em ILP. As causas ainda são pouco conhecidas e as hipóteses, embora não confirmadas em amostras representativas da população geral, incluem o hipogonadismo (baixos níveis de testosterona), produção inadequada de eritropoetina, resposta inadequada da medula óssea a eritropoetina, defeitos intrínsecos na proliferação de celular na medula ósseae diminuição da meia-vida da hemácia e síndrome mielodisplásica. Embora o estado crônico de inflamação já tenha sido associado a sua fisiopatologia, estudos recentes não confirmam tal ligação. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.1 Página | 20 CALENDÁRIO VACINAL DOS IDOSOS (PÚBLICO E PRIVADO);