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0 0 - Direito Internacional Público

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AULA 1 
DIREITO INTERNACIONAL 
PÚBLICO 
Profª Karla Knihs 
 
 
2 
TEMA 1 – COMUNIDADE INTERNACIONAL X SOCIEDADE INTERNACIONAL: 
DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS 
Guerra (2017, p. 53) nos informa que a sociedade internacional já existia 
na mais remota Antiguidade, quando os povos mantinham relações entre si. 
Assim, pode-se afirmar que o direito internacional é tão antigo quanto a civilização 
em geral, posto que seja consequência necessária e inevitável de toda a 
civilização. 
A partir do desenvolvimento dessas relações entre os povos, houve a 
necessidade de promover a busca do equilíbrio de poder entre os diversos 
Estados modernos e a necessária compatibilização do exercício das respectivas 
soberanias de cada um de seus membros. 
Conforme nos informa Mazzuoli (2019, p. 3) “O Direito Internacional Público 
disciplina e rege prioritariamente a sociedade internacional” (grifo no original). 
Assim, é necessário notar que Comunidade Internacional e Sociedade 
Internacional não são a mesma coisa. 
Sidney Guerra (2017, p. 65) assim explica: 
Enquanto a comunidade internacional se trata de um vínculo entre 
pessoas que se unem por um laço moral e não jurídico, a sociedade 
internacional pode ser conceituada como a União de Estados, 
Organizações Internacionais e indivíduos. 
Evidencia-se, pois, que a sociedade internacional surge no momento em 
que a coletividade independente com a organização política se 
relaciona, isto é, no momento em que as relações entre as coletividades 
passam a existir de modo mais ou menos contínuo. A sociedade 
internacional dos atores internacionais. 
Tendo em vista que o Direito é a disciplina que cuida e regula a sociedade 
internacional, precisamos compreender o que é a sociedade internacional e quais 
são as suas características. 
Assim, a sociedade internacional é formada pelos Estados, pelos 
organismos internacionais e pelo homem, apresentando características 
específicas que a diferenciam em relação às sociedades internas: 
• Isonomia: deve haver igualdade entre os sujeitos, especialmente em 
decorrência da noção de soberania. 
• Descentralização: em razão da diversidade de criadores e destinatários das 
normas de direito internacional e a soberania dos Estados. 
Conforme ensina Guerra (2017, p. 59) a sociedade internacional não possui 
uma organização institucional, a exemplo do que ocorre nos Estados. A sociedade 
 
 
3 
internacional não se apresenta, portanto, como um “superestado” e, por isso 
mesmo, não existe poder legislativo, poder executivo e tampouco poder judiciário, 
como é concebido na estrutura de poderes de um Estado-nação 
• Universalidade: deve abranger o máximo possível de integrantes. 
Conforme Guerra (2017, p. 57) a universalização do Direito Internacional 
ocorreu após a Segunda Grande Guerra Mundial, em especial pela 
ocorrência da descolonização, haja vista que somente a metrópole tinha 
acesso à sociedade internacional. 
As relações internacionais eram bastante limitadas tendo em vista o 
número restrito de Estados soberanos existentes no plano global. 
• Abertura: a sociedade internacional é aberta a novos integrantes, embora 
nenhum Estado seja obrigado a se relacionar. 
Para Guerra (2017, p. 58), a sociedade internacional é aberta pelo fato de 
que não existe um número determinado de atores que façam parte das 
relações internacionais. 
• Paritária: uma vez que tem como premissa a igualdade jurídica, conforme 
disposto no art. 2º da Carta das Nações Unidas: 
Artigo 2. A Organização e seus Membros, para a realização dos 
propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes 
Princípios: 
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus 
Membros. 
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os 
direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão 
cumprir de boa-fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a 
presente Carta. 
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias 
internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas 
a paz, a segurança e a justiça internacionais. 
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a 
ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a 
dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação 
incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. 
5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer 
ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se 
absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Unidas 
agirem de modo preventivo ou coercitivo. 
6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das 
Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for 
necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais. 
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a 
intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de 
qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a 
uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não 
prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capítulo 
VII. 
 
 
4 
Segundo Guerra (2017, p. 51) as comunidades ou são compostas pelos 
indivíduos unidos por laços naturais ou são espontâneos ou ainda são compostas 
por objetivos comuns que transcendem os interesses particulares de cada pessoa. 
O que vemos, então, é que não temos ainda uma comunidade internacional, mas 
sim uma sociedade internacional em desenvolvimento. 
TEMA 2 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 
O Direito Internacional se revela cada vez mais necessário no dia a dia do 
profissional do Direito. Conforme nos informa Varella (2018, p. 21) o Direito 
Internacional Público é “um ramo do direito que nasce na Idade Média, com a 
própria formação do Estado, mas que ganha maior importância a partir da 
consolidação dos Estados europeus e a expansão ultramarina”. 
Com a globalização cada vez mais intensa, se desenvolve no século XX e 
ganha ainda mais força a partir dos anos de 1990. Como o próprio mundo 
moderno, o direito internacional é um ramo do direito em constante transformação, 
sendo um dos ramos do direito que mais sofre transformações nos últimos anos. 
(Varella, 2018, p. 21). 
Quando pensamos no Direito Internacional, estamos nos referindo, 
principalmente a um Direito entre Estados, e, também, podemos nos referir a ele 
como Direito das Gentes (ou ius gentium). Assim, nesse primeiro momento, 
precisamos compreender o plano internacional como uma ordem jurídica 
horizontal, em que não há hierarquização ou subordinação. 
Isso significa que no plano internacional não há nenhuma autoridade 
superior, assim como não existe nenhum Tribunal Internacional soberano, capaz 
de obrigar os Estados a cumprirem, de forma cogente, suas decisões. Aqui, 
chegamos a uma reflexão importante: Ora, se não há um “Poder Legislativo” 
mundial, se não há um “Poder Executivo” mundial, de que forma o Direito regula 
as relações entre os países? É o que vamos discutir e compreender na presente 
disciplina de Direito Internacional Público. 
Conseguimos compreender, então, nesse primeiro momento, que as 
relações internacionais são caracterizadas pela inexistência de um poder central 
mundial. 
A partir dessa característica, destaca-se que: 
 
 
5 
• Não há um ente de direito internacional que imponha aos Estados 
Soberanos as suas deliberações. 
• Há igualdade jurídica entre os Estados, em razão da soberania dos 
Estados, que não podem, em razão do princípio da não intervenção, 
interferir nos assuntos internos dos outros países. 
Diante disso, podemos afirmar que o Direito Internacional Público disciplina 
e rege a chamada “sociedade internacional”. Como a vida em sociedade possui a 
característica da existência de conflitos, o Direito Internacional Público procura 
pacificar as relações entre seus diversos atores, tendo em vista a necessidadede 
resolução de inúmeras disputas entre os sujeitos, decorrentes dos interesses 
variados dos sujeitos da sociedade internacional. 
Assim, diante de tais conflitos, criou-se um sistema de normas e princípios 
inerentes ao Direito Internacional. 
Outra questão bastante comum diz respeito à diferença entre Direito 
Internacional Público e Direito Internacional Privado. Embora no presente estudo 
estejamos dedicados ao primeiro, podemos dizer que a diferenciação está 
essencialmente no objeto de estudo. 
Enquanto o Direito Internacional Público regula as relações entre os 
Estados ou entre Estados e outros atores internacionais, o direito internacional 
privado é voltado para as relações entre particulares, tais como: contratos entre 
empresas ou solução de conflitos sem a presença do Estado. Assim, diz-se 
privado porque o Estado não integra sua problemática ou, quando integra, é 
tratado como um ator no mesmo plano dos particulares (Varella, 2018, p. 21-22). 
A partir disso, nesta aula nos concentraremos em estudar os conceitos 
principais acerca do Direito Internacional e da Sociedade internacional, para 
entender a maneira que esta é organizada do ponto de vista jurídico. 
Para compreendermos sua evolução, faremos uma breve contextualização 
histórica. 
O Direito Internacional Público surgiu a partir do final do século XVI e início 
do século XVII, quando se formaram os Estados-nação com as características que 
conhecemos hoje. Assim, na formação do direito internacional temos como 
primeiro e principal elemento o Estado, sendo que até o séc. XX ele era 
considerado o único sujeito absoluto do direito das gentes. 
Com a Segunda Guerra Mundial, essa concepção foi posta de lado, e 
passaram a surgir as chamadas Organizações Internacionais 
 
 
6 
intergovernamentais. Ou seja, os dois tratados de Westfália demarcam a nova era 
do Direito Internacional Público, assim como o fim da Guerra dos Trinta Anos (em 
1648), quando nasce a soberania nacional. Muitos autores consideram que antes 
da Paz de Westfália não existia Direito Internacional. 
Assim, a Paz de Westfália celebrou o fim da guerra dos trinta anos, 
demarcando: 
• Soberania entre os Estados; 
• Obrigação de não intervenção nos assuntos internos 
• Igualdade jurídica. 
A partir disso, temos como um dos fundamentos centrais do Direito 
Internacional Público o consentimento: há necessidade do consentimento dos 
Estados em se submeterem a regras e princípios advindos de toda sociedade 
internacional. 
Além disso, temos a soberania, que se constitui na supremacia do poder 
dentro da ordem interna e no fato de, perante a ordem externa, só encontrar 
Estados de igual poder. 
O Congresso de Viena (1815) foi, depois dos tratados de Westfália, o 
segundo grande marco do Direito Internacional e das relações internacionais. 
Segundo Mazzuoli (2019, p. 10): 
O Congresso marcou o fim das guerras napoleônicas e estabeleceu um 
novo sistema multilateral de cooperação política e econômica na Europa, 
além de ter agregado novos princípios de Direito Internacional, como a 
proibição do tráfico negreiro, a liberdade irrestrita de navegação nos rios 
internacionais da região e as primeiras regras do protocolo diplomático. 
Os aspectos principais desse sistema perduraram até quase o início da 
Primeira Guerra Mundial.35 E, de maneira ainda mais nítida, essas 
novas características do Direito Internacional vieram a intensificar-se 
finda a Segunda Guerra, que ensanguentou a Europa entre 1939 e 1945. 
Destaque-se, por fim, que a partir desse momento o contexto 
internacional passa a conviver com particularidades até então 
desconhecidas, como os avanços científico e tecnológico em escala 
global e o nascimento cada vez mais crescente de organismos 
internacionais especializados. 
Destaca-se, então, os seguintes traços característicos no DIP (Direito 
Internacional Público): 
 
https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788530983383/epub/OEBPS/Text/11_chapter01.xhtml?favre=brett#fna35
 
 
7 
a) inexistência de subordinação dos sujeitos de direito a um Estado; 
b) inexistência de uma norma constitucional acima das demais normas; 
c) inexistência de atos jurídicos unilaterais obrigatórios, oponíveis a toda a 
sociedade internacional. 
Mazzuoli Oliveira (2019, p. 10) afirma que uma das primeiras questões que 
se colocam ao estudar o Direito Internacional Público diz respeito a como seria 
possível falar em ordem jurídica num sistema de normas incapaz de centralizar o 
poder. Assim, quais seriam as condições necessárias para se afirmar existir uma 
ordem jurídica? Para o autor: 
A resposta é, possivelmente, simples: um conjunto de princípios e regras 
destinados a reger as situações que envolvem determinados sujeitos. 
Como se vê, não pertence ao conceito de “ordem jurídica” a ideia de 
centralização de poder, não obstante tal centralização existir (e ser 
nitidamente visualizada) no plano do Direito interno dos Estados. 
Portanto, a inexistência de um poder centralizador, no Direito 
Internacional, faz nascer a ideia de que a ordem jurídica da sociedade 
internacional é descentralizada, uma vez que em tal âmbito jurídico (bem 
ao contrário do sistema jurídico interno) não existe centralização de 
poder, bem como uma autoridade com poder de impor aos Estados as 
suas decisões. Em outras palavras, não existe ainda, na órbita 
internacional, nenhum órgão com jurisdição geral capaz de obrigar os 
Estados a decidirem ali suas contendas (lembre-se que a participação 
de Estados em tribunais internacionais requer o consentimento expresso 
destes, sem o qual o tribunal respectivo não poderá exercer a sua 
jurisdição). Dessa forma, pode-se afirmar que as relações jurídicas 
internacionais se desenvolvem quase que inteiramente em nível 
horizontal, o que evidencia o caráter embrionário das normas de 
organização da sociedade internacional, como destaca a melhor 
doutrina. 
Tem-se, assim, uma ordem jurídica descentralizada, apesar de organizada 
pela cooperação (também denominada de coordenação), em que os sujeitos de 
Direito Internacional atuam como titulares de direito e de obrigações. Conforme 
Varella (2018, p. 26): 
O direito internacional é guiado por milhares de tratados, com diferentes 
graus de normatividade, conforme atribuição pelos Estados. Alguns 
tratados têm caráter mais obrigatório (jus cogens), outros menos (soft 
norms), mas não há uma norma comum, que direcione a evolução do 
direito internacional como um todo. 
Não podemos dizer que essas características da consensualidade, da 
descentralização e da soberania retirem a efetividade do Direito Internacional 
Público. Isso porque, apesar de sua natureza, “com o processo de 
internacionalização econômica, política e cultural, o direito internacional também 
passa por mudanças importantes, aumentando seu poder de sanção, em caso de 
violação” (Varella, 2018, p. 25). 
 
 
8 
Assim, vemos que o Direito Internacional tem caminhado no sentido de criar 
regras internacionais mais rígidas, especialmente no que se refere ao direito 
econômico e ao direito humanitário. Antes de estudarmos com mais detalhes 
essas questões, necessário tratar do conceito, objeto e sujeitos do Direito 
Internacional Público. 
TEMA 3 – CONCEITO, OBJETO, ATORES E SUJEITOS DO DIREITO 
INTERNACIONAL PÚBLICO 
3.1 Conceituação e objeto do Direito Internacional Público 
Para a corrente clássica-positivista, Direito Internacional é “o conjunto de 
regras e princípios que regem as relações jurídicas entre Estados” e “um sistema 
de princípios e normas que regulam as relações de coexistência e de cooperação, 
frequentemente institucionalizadas, além de certas relações comunitárias entre 
Estados, dotados de diferentes graus de desenvolvimentos socioeconômico e de 
poder” (Díez de Velasco). Ainda, vemos a conceituação do Direito Internacional 
como “o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas dos 
Estados e, subsidiariamente,as das demais pessoas internacionais, como 
determinadas Organizações, e dos indivíduos” (Hildebrando Accioly). 
Essa ideia clássica está já defasada, pois, como veremos a seguir, não 
mais corresponde à realidade atual das relações internacionais. Um conceito mais 
adequado seria o de que Direito Internacional “É o Ramo da ciência jurídica que 
visa regular as relações internacionais com o fim precípuo de viabilizar a 
convivência entre os integrantes da sociedade internacional” (Gutier, 2012). 
Podemos conceituar Direito Internacional Público, então, como o ramo do 
direito que tem por finalidade regulamentar as relações jurídicas existentes entre 
os sujeitos de direito internacional dentro da sociedade internacional. Pode-se 
conceituar esse ramo do Direito como o conjunto de regras que regula as relações 
externas dos atores que compõem a sociedade internacional. 
Segundo Mazzuoli (2019, p. 19), a definição do conceito de Direito 
Internacional Público abrange três critérios, a saber: 
 
 
 
9 
a) Critério dos sujeitos intervenientes – o Direito Internacional Público 
disciplina e rege a atuação e a conduta da sociedade internacional 
(formada pelos Estados, pelas organizações internacionais 
intergovernamentais e também pelos indivíduos); 
b) Critério das matérias reguladas – o Direito Internacional Público visa 
alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, 
a segurança e a estabilidade das relações internacionais; e 
c) Critério das fontes normativas – o Direito Internacional Público 
consubstancia-se num conjunto de princípios e regras jurídicas, 
costumeiras e convencionais. 
Assim, o Direito Internacional fixa obrigações aos Estados soberanos, de 
modo que as suas liberdades de atuação são (de)limitadas, bem como rege as 
relações entre as organizações internacionais. 
As fontes, juntamente com o Direito do Tratados, é o objeto fundamental 
de estudo do DIP. Segundo Jorge Americano (citado por Gutier, 2012) “O objeto 
do direito internacional é o estabelecimento de segurança entre as Nações, sobre 
princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz, trabalho, 
liberdade de pensamento e de crença”. 
O Direito Internacional Público tem, também, a função de repartição de 
competência entre os estados soberanos, cada qual com sua delimitação 
territorial, no qual exerce sua jurisdição. 
3.2 Sujeitos e atores do Direito Internacional Público 
O Direito Internacional Público (DIP) é composto pelos sujeitos ou atores 
de direito internacional público, que estão sujeitos às regras, princípios e 
costumes internacionais. Mazzuoli (2019, p. 349), assim define: 
São, portanto, sujeitos do Direito Internacional Público todos aqueles 
entes ou entidades cujas condutas estão diretamente previstas pelo 
direito das gentes (ou, pelo menos, contidas no âmbito de certos direitos 
ou obrigações internacionais) e que têm a possibilidade de atuar (direta 
ou indiretamente) no plano internacional. 
Segundo Varella (2018, p. 25) “atores internacionais são todos aqueles que 
participam de alguma forma das relações jurídicas e políticas internacionais”. A 
expressão “atores internacionais” é mais ampla que “sujeitos de direito 
internacional”. Sujeitos seriam os Estados e as Organizações Internacionais, 
enquanto atores seriam as demais pessoas que participam das relações de Direito 
Internacional. 
Podemos, então, trazer o seguinte esquema sobre atores e sujeito do DIP: 
 
 
 
10 
Figura 1 – Atores e sujeitos do DIP 
Frise-se que nem todo ator internacional é considerado um sujeito de 
Direito Internacional, mas todo sujeito de DIP é ator internacional. 
Segundo Mazzuoli (2019, p. 349), é possível classificar os sujeitos do 
Direito Internacional, de forma mais didática, em quatro grupos: a) os Estados; b) 
as coletividades interestatais; c) as coletividades não estatais; e d) os indivíduos 
(ou particulares). 
Para facilitar o estudo, podemos assim classificar tais sujeitos e atores: 
1) Estados: 
Conforme Mazzuoli (2019, p. 349) “dentre os atores que atualmente a 
compõem, os Estados são aqueles que detêm a maior importância, dado que 
somente com o seu assentimento outras entidades podem ser criadas”. 
Os Estados possuem personalidade jurídica originária e capacidade 
jurídica plena, e seus elementos constitutivos são: povo, território e governo 
soberano (capacidade de auto-organização). 
2) Organizações Internacionais (coletividades interestatais): 
As organizações internacionais têm personalidade internacional recente, e 
surgiram a partir da Liga das Nações, que foi a primeira organização internacional. 
Proliferaram após a Segunda Grande Guerra. Para Mazzuoli (2019, p. 352) 
“Trata-se de entidades criadas por acordos constitutivos entre Estados com 
personalidade jurídica distinta da dos seus membros”. 
Assim, a OIs são “o produto da associação de vários Estados, estabelecida 
em tratado internacional, para gerir as finalidades às quais foram criadas”. 
(Mazzuoli, 2019, p. 352). Rezek (2018, p. 191) afirma que “sua existência não 
encontra apoio senão no tratado constitutivo, cuja principal virtude não consiste, 
assim, em disciplinar-lhe o funcionamento, mas em haver-lhe dado vida, sem que 
nenhum elemento material preexistisse ao ato jurídico criador”. 
ATORES INTERNACIONAIS 
E TRANSNACIONAIS 
 
SUJEITOS DE 
DIP 
 
 
11 
Há autores que as distinguem entre perfeitas, que gozariam de 
personalidade jurídica internacional (por exemplo ONU, OIT), e imperfeitas, que 
não teriam personalidade jurídica internacional (organizações supranacionais, 
como a União Europeia). 
Para o direito internacional público, os seguintes aspectos caracterizam 
uma organização internacional: 
• • Multilateralidade: significa que a organização internacional surge da 
vontade de variados Estados, por meio de tratado constitutivo; apresenta-
se em âmbito universal (como é o caso das Nações Unidas – ONU) ou 
apenas em âmbito regional (como a Organização dos Estados Americanos 
– OEA). 
• • Permanência: significa que a organização internacional não tem data 
definida de duração, ou seja, tem tempo indeterminado. 
• • Institucionalização: significa que a organização internacional conta com 
todo um aparato próprio, incluindo órgão e meios para resolução de 
conflitos. Aqui também é importante ressaltar que a criação e o 
funcionamento da organização internacional dependem do disposto em seu 
respectivo tratado constitutivo. 
São exemplos de organizações internacionais: Organização das Nações 
Unidas (ONU); UNESCO; Organização Mundial do Comércio (OMC); União 
Europeia (UE). 
3) Coletividades não estatais 
A doutrina majoritária classifica as coletividades não estatais como: 
• Beligerantes: movimentos armados, organizados e com viés político. 
Podemos citar como exemplo os confederados da Guerra de Secessão dos 
EUA. 
• Insurgentes: grupo que se revoltou contra o Estado e quer tomar o poder. 
Podemos citar como exemplo as FARC, Forças Armadas Revolucionárias 
da Colômbia – Exército do Povo. 
• Movimentos de libertação nacional: movimentos que visam a 
independência de determinados povos. A luta pela independência da 
Argélia pode ser citada como um exemplo de movimento de libertação 
nacional, bem como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). 
 
 
12 
• Soberana ordem militar de Malta: com origem na Igreja Católica, é uma 
organização humanitária reconhecida como entidade de direito 
internacional privado. A ordem dirige hospitais e centros de reabilitação. 
4) A Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano 
Embora ainda haja discussões sobre o tema na doutrina, utilizaremos o 
pensamento de Mazzuoli (2019, p. 359) para quem “o Estado da Cidade do 
Vaticano (criado pelos Tratados de Latrão de 1929) é de fato um Estado, e, como 
tal, pertence à sociedade internacional e intervém no seu funcionamento”. 
5) Comitê Internacional da Cruz VermelhaCom sede em Genebra, na Suíça, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha 
(CICV) tem objetivos humanitários. Pode ser definida como uma “organização de 
direito privado, independente e neutra, dotada de estatuto próprio, cuja finalidade 
é proporcionar proteção e assistência humanitária às vítimas da guerra e da 
violência armada” (Mazzuoli, 2019, p. 364). 
6) Outros sujeitos: empresas transnacionais e mídia internacional 
As empresas transnacionais podem ser conceituadas como empresas 
constituídas sob as leis de determinado Estado e que têm representações ou filiais 
em dois ou mais países, neles exercendo seu controle, acionário ou contratual, 
ainda que o seu capital provenha de um único Estado ou de uma única 
pessoa (Mazzuoli, 2019, p. 372). 
A mídia global também tem sido apontada pela doutrina no rol de sujeitos 
do DIP, tendo em vista a sua grande influência na cena internacional e nas 
tomadas de decisão da sociedade internacional no que tange a diversos assuntos 
de interesse global apoiados pela opinião pública mundial (Mazzuoli, 2019, 
p. 372). 
7) Indivíduo (conceito contemporâneo) 
Tem-se admitido que indivíduos sejam considerados sujeito de DIP, tendo 
em vista que podem fazer valer seus direitos em Tribunais e Cortes internacionais. 
Por exemplo, a Corte Europeia de Direitos Humanos – CEDH e o Tribunal Penal 
Internacional. Esse reconhecimento decorre, também, da solidificação do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. 
Segundo Varella (2018, p. 24) a personalidade jurídica internacional de 
indivíduos, empresas ou associações apenas pode ser reconhecida a partir de 
alguns pressupostos: 
 
 
13 
a) A possibilidade da construção de personalidade se faz a partir da 
atribuição de direitos e deveres que, em alguns casos, prevê a 
possibilidade de constituir normas, exigir o seu cumprimento, mesmo por 
vias judiciais. São poderes sempre restritos à norma de direito 
internacional que os reconhecem e à forma e aos poderes concedidos; 
b) A personalidade jurídica internacional será reconhecida por regime 
jurídico específico, tendo como característica um caráter derivado, 
funcional e relativo. É derivado, pois decorre da vontade dos Estados 
que os reconhece. É funcional, em razão de ser limitada ao que lhe foi 
autorizado e concedido pela norma. É relativo, porque poderá ser oposta 
a quem a criou e a reconhece. 
Por fim, Mazzuoli (2019, p. 374) argumenta sobre a necessidade de o 
indivíduo ser considerado sujeito de DIP porque ele é “sujeito essencial de todo 
do Direito”. 
TEMA 4 – FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL 
Conforme vimos, o Direito Internacional é o conjunto de fontes que vai 
regular as relações entre os seus sujeitos. Por fontes do DIP entendemos os 
documentos ou pronunciamentos dos quais emanam os direitos e os deveres das 
pessoas internacionais; são os modos formais de constatação do direito 
internacional. As fontes, juntamente com o Direito do Tratados, é o objeto 
fundamental de estudo do DIP. 
Podemos dividir as fontes em formais e materiais. As fontes materiais são 
os elementos sociais, históricos e econômicos. Já as fontes formais são os meios 
e as formas por meio dos quais as fontes materiais se exteriorizam. No Direito 
Internacional Público temos a peculiaridade da inexistência de uma autoridade 
superior que subordine os Estados, e, assim, as fontes formais de Direito 
Internacional Público surgiram ao longo da história e foram consolidadas no antigo 
art. 38, do Estatuto da Corte Permanente da Justiça. A Corte Internacional de 
Justiça é o principal tribunal judiciário de natureza permanente da Sociedade 
Internacional. 
O citado art. 38 não traz exatamente uma relação das fontes, mas sim os 
elementos aplicáveis em suas decisões, ou seja: 
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que 
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como 
sendo de direito; 
c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; 
 
 
14 
d) e, excepcionalmente, as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas 
mais qualificados. 
No parágrafo 2º o Estatuto esclarece que a CJI tem a faculdade de decidir 
uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem. 
Vejamos o que diz a redação do dispositivo, que traz o chamado “rol 
originário” do DIP: 
Art. 38 da CIJ 
• A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as 
controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: 
o a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que 
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados 
litigantes; 
o b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como 
sendo o direito; 
o c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; 
o d. sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a 
doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio 
auxiliar para a determinação das regras de direito. 
• A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma 
questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem (equidade). 
Importante ressaltar que não existe hierarquia entre as fontes principais, ou 
seja, o CIJ pode se utilizar de qualquer delas para a resolução dos conflitos que 
lhes sejam submetidos. Já as fontes auxiliares, que são a jurisprudência e a 
doutrina, servem como parâmetros para a aplicação das fontes principais. 
Temos, então, esquematicamente: 
Fontes principais: 
• Convenções internacionais 
• Costume internacional — não há hierarquia 
• Princípios gerais de direito 
Fontes auxiliares 
• Decisões judiciárias e doutrina — meios auxiliares 
• Analogia e equidade 
o Atos unilaterais dos Estados 
 
 
15 
o Decisões das Organizações Internacionais 
o Soft Law 
É consenso que a partir do fomento ao movimento de normatização do DIP, 
os tratados internacionais são a sua principal fonte, tendo em vista que, por sua 
natureza, trazem segurança e estabilidade. Por meio dos tratados temos a 
internalização da vontade livre dos Estados e das Organizações Internacionais. 
Contudo, não podemos desprezar a importância de todas as demais fontes 
do DIP, razão pela qual estudaremos, detalhadamente, cada uma delas. 
TEMA 5 – FONTES EM ESPÉCIE 
5.1 Tratados 
Veremos com detalhes a matéria relativa aos Tratados e Convenções 
coletivas como fontes do DIP. Podemos conceituar, nesse primeiro momento, 
tratado como sendo todo acordo formal e escrito, celebrado entre Estados ou 
organizações internacionais, e que busca produzir efeitos numa ordem jurídica de 
direito internacional. Assim, tendo em vista a sua característica consensual, 
pressupõe manifestação de vontade bilateral ou multilateral. 
5.2 Costumes 
Podemos conceituar os costumes como uma repetição ao longo do tempo 
de determinado comportamento, de tal forma que, por sua repetição, ele é 
considerado a maneira justa e juridicamente correta de agir. O direito costumeiro 
tem origem principalmente nas trocas comerciais realizadas no âmbito 
internacional, por isso é ainda uma fonte muito utilizada. 
Segundo Mazzuoli (2019, p. 70) “dois são os elementos necessários à 
formação do costume internacional, sem os quais não se pode determinar e provar 
a sua existência: o material e o psicológico” sendo que “o elemento material do 
costume consubstancia-se na repetição generalizada e habitual de certos atos 
praticados pelos Estados ou organizações internacionais, capaz de criar uma 
prática entre eles”. Já o elemento psicológico é, justamente, a aceitação da 
conduta como uma prática geral, bem como, a possibilidade de aplicação de 
sanção pelo seu descumprimento. No âmbito comercial essa é uma realidade fácil 
de ser percebida, uma vez que o descumprimento do costume pode gerar uma 
 
 
16 
sanção de natureza comercial, causandoprejuízos financeiros àquele que não 
observa o costume. 
Por fim, é possível a extinção do costume, por exemplo, por meio de tratado 
mais recente que o codifica ou o revoga, pelo desuso e até mesmo pelo 
surgimento de um novo costume. Vemos atualmente uma crescente codificação 
do direito consuetudinário, sendo que muitos tratados hoje existentes tiveram 
origem em costumes que regiam o Direito Internacional. Isso se dá porque é muito 
difícil provar a existência de costume, mas é simples provar que um tratado está 
em vigor e vincula as partes. 
5.3 Princípios gerais de direito 
Os princípios gerais de direito, conforme citado no art. 38 do CIJ são 
aqueles reconhecidos por diversos sistemas jurídicos nacionais, tais como a 
ampla defesa e contraditório, a boa-fé, o respeito à coisa julgada e o direito 
adquirido, o pacta sunt servanda, a solução pacífica de conflitos, a não agressão. 
5.4 Jurisprudência e doutrina 
Doutrina e jurisprudência são meios auxiliares para a determinação das 
regras do direito, ou seja, elas não criam normas jurídicas, apenas auxiliam a sua 
aplicação, especialmente, para melhor interpretação das fontes principais. 
A doutrina, como produção de juristas, tem como funções principais o 
fornecimento da prova do conteúdo do direito, bem como, a influência no seu 
desenvolvimento. 
Quanto à jurisprudência, ela se refere às decisões judiciárias dos tribunais 
internacionais, ou seja, à jurisprudência internacional. A jurisprudência 
internacional é formada por decisões arbitrárias, decisões judiciárias e pareceres 
consultivos da CIJ. Frise-se que as decisões não vinculam terceiros, sendo 
obrigatórias apenas para as partes envolvidas. 
5.5 Analogia e equidade 
A analogia é muito utilizada quando há lacuna na lei. Utiliza-se a solução 
dada a um caso semelhante para que se resolva a controvérsia. 
Já a equidade é um método de raciocínio jurídico, mecanismo de análise 
amparado pela combinação da noção de igualdade com a ideia de moderação (a 
 
 
17 
equidade não é norma jurídica). Consiste na aplicação de outras normas jurídicas 
ou princípios para dirimir as controvérsias. O julgamento ex aequo et bono 
significa que a corte internacional poderá solucionar uma controvérsia com base 
na equidade, havendo, contudo, a necessidade de concordância das partes, sob 
pena de a sentença ser considerada nula. 
5.6 Atos unilaterais dos Estados 
Entende-se por ato unilateral aquele manifestado por sujeito de direito 
internacional público (Estado ou organização internacional) que se apresenta 
suficiente para a produção de efeitos jurídicos. Podemos citar como exemplos as 
barreiras alfandegárias, a determinação de alíquotas de impostos de importação; 
a política de vistos etc. 
5.7 Decisões das OIS 
Podemos citar as Resoluções, as recomendações, as declarações e as 
diretrizes como espécies de decisões das OIS. Frise-se que nem todas as 
decisões das organizações internacionais são obrigatórias, já que algumas 
possuem caráter facultativo ou apenas enunciam princípios e planos de ação. 
Assim, o significado e seus efeitos variam conforme a entidade. A Declaração 
Universal dos Direitos Humanos é um exemplo de decisão emanada da 
Assembleia Geral da ONU e que é fonte de DIP. 
5.8 Soft law 
O Direito Internacional Público tem no jus cogens seu alicerce, uma vez 
que se tratam de normas peremptórias e imperativas. Contudo, destaca-se 
também a existência do chamado soft law, expressão utilizada no âmbito do 
Direito Internacional Público para descrever os textos do DIP que são desprovidos 
de caráter jurídico em relação aos signatários. Significa dizer que são normas 
facultativas, ao contrário do que ocorre com o jus cogens, que são normas 
cogentes. 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
GUERRA, S. Curso de direito internacional público. 11. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. 
GUTIER, M. Introdução ao direito internacional público. 2012. Disponível em: 
<http://murillogutier.com.br/wp-
content/uploads/2012/02/INTRODU%C3%87%C3%83O-AO-DIREITO-
INTERNACIONAL-MURILLO-SAPIA-GUTIER.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2020. 
MAZZUOLI, V. D. P. Curso de direito internacional público. 12. ed. Grupo GEN, 
2019. 
REZEK, J. F. Direito internacional público: curso elementar. 17. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2018. 
VARELLA, M. D. Direito internacional público. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. 
AULA 2 
DIREITO INTERNACIONAL 
PÚBLICO 
Profª Karla Knihs 
2 
TEMA 1 — O ESTADO COMO SUJEITO DO DIREITO INTERNACIONAL 
A palavra “Estado” foi utilizada pela primeira vez com sentido jurídico e 
político por Maquiavel, em sua obra O príncipe, no século XVI. Conforme nos 
informa Guerra (2017, p. 137): 
Segundo Bedin, a emergência do Estado moderno foi resultado da 
convergência histórica de um conjunto significativo de acontecimentos 
(a crise da sociedade feudal, o florescimento do comércio, o declínio do 
papado, o Renascimento, a reforma protestante etc.). Por isso esse 
processo foi bastante lento e se mostrou um longo e difícil caminho para 
ser concluído. 
Mazzuoli (2019, p. 375), por sua vez, sobre a evolução histórica do conceito 
de Estado, afirma que: 
A entidade política conhecida como Estado aparece, com seus 
contornos modernos, semelhantes aos atuais, entre os séculos XV e 
XVI. Isso não significa, entretanto, que antes desse período não existiam
sociedades politicamente organizadas, com acentuado grau de
desenvolvimento e autonomia, de que eram exemplos as cidades
italianas de Veneza, Pisa, Modena, Milão e Bolonha, que se destacaram
por quebrar o isolamento característico do período medieval, a partir de
quando começaram a intensificar suas atividades de intercâmbio
recíproco (principalmente de mercadorias), inclusive com outros
países.4 Já a partir do final do século XVIII, o Estado moderno e a Nação
moderna fundem-se para formar o chamado Estado-nação, que tem
mostrado sua superioridade em relação tanto às cidades-Estado (ou às
suas federações) quanto aos herdeiros modernos dos antigos impérios
(sendo que o último deles, a China, tem passado por um processo de
profunda transformação).
Conforme ensina Rezek (2018, p. 190), “o Estado, com efeito, não tem 
apenas precedência histórica: ele é antes de tudo uma realidade física, um espaço 
territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos”. De acordo com 
o que já estudamos, os Estados são os primeiros e principais atores do DIP, razão
pela qual iremos formular alguns conceitos sobre eles. 
É importante notar que o Estado, por sua complexidade, é de difícil 
definição e conceituação, então esse será mais um exercício de reflexão acerca 
do nosso objeto de estudo, especialmente porque sequer a doutrina é uníssona 
quanto a essa matéria. Para essa reflexão, vamos trazer as diversas maneiras 
como os principais autores vieram a conceituar “Estado”. 
Rezek (2018, p. 191) afirma que “o Estado é contingente humano a 
conviver, sob alguma forma de regramento, dentro de certa área territorial, sendo 
certo que a constituição não passa do cânon jurídico dessa ordem”. Já Mazzuoli 
(2019, p. 375) traz a seguinte definição: 
 
 
3 
Pode-se definir o Estado (do latim status = estar firme), em sua 
concepção jurídica moderna, como um ente jurídico, dotado de 
personalidade internacional, formado de uma reunião (comunidade) de 
indivíduos estabelecidos de maneira permanente em um território 
determinado, sob a autoridade de um governo independente e com a 
finalidade precípua de zelar pelo bem comum daqueles que o habitam. 
Segundo Azambuja (2002, p. 6), “Estado é uma sociedade natural que se 
constitui essencialmente de um grupo de indivíduos unidos e organizados, 
permanentemente, com o intuito de realizar um objetivo comum”. 
É também obra da inteligência e da vontade dos membros do grupo social, 
ou dos que nele exercem governo e influência. Para esse autor, “o Estado 
moderno é uma sociedade à base territorial, dividida em governantes e 
governados,e que pretende, nos limites do território que lhe é reconhecido, a 
supremacia sobre todas as demais instituições” (Azambuja, 2002, p. 6). Além 
disso, Azambuja afirma que o Estado é a organização político-jurídica de uma 
sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território 
determinado (Azambuja, 2002). 
Assim, desse autor podemos retirar os seguintes elementos 
caracterizadores do Estado: sociedade natural, organização político-jurídica, 
objetivo comum, vontade, governo, território, poder, supremacia ou soberania. 
Dalmo Dallari (2011, p. 119) afirma que o Estado é uma força material 
irresistível, limitada e regulada pelo Direito. O Estado seria, também, uma nação 
politicamente organizada. O conceito que ele coloca como mais abrangente é 
aquele segundo o qual o Estado seria uma “ordem jurídica soberana que tem por 
fim o bem comum de um povo situado em determinado território” (Dallari, 2011, p. 
122). Assim, tal conceito consegue abranger todos os elementos necessários à 
composição de um Estado. 
Por fim, o conceito de Clóvis Beviláqua (citado por Maluf, 1999, p. 50), 
segundo o qual “Estado é um agrupamento humano, estabelecido em 
determinado território e submetido a um poder soberano que lhe dá unidade 
orgânica”. 
Podemos retirar desse conceito os seguintes elementos: ordem, soberania, 
bem comum, povo e território. 
Temos como consenso, então, que o Estado tem os seguintes elementos 
caracterizadores: povo, território, governo soberano. Vejamos, detalhadamente, 
cada um deles. 
 
 
 
4 
Figura 1 – Elementos caracterizadores do Estado 
 
Crédito: Knihs, 2020. 
1.1 Povo 
Em linhas gerais, povo significa o conjunto de nacionais pertencentes ao 
Estado. Segundo Dallari (2011, p. 100), há a necessidade do elemento pessoal 
para a constituição e a existência do Estado, “uma vez que sem ele não é possível 
haver Estado e é para ele que o Estado se forma”. Ainda assim, frise-se que 
“nação” não é sinônimo de Estado, assim como “população” também não. 
A nação seria a ligação de indivíduos pela mesma cultura, enquanto povo 
do Estado possui um vínculo político e jurídico. Já a população seria o conjunto, 
sintetizado em números aritméticos ou não, formado pelo povo mais os 
estrangeiros e apátridas situados no mesmo território e numa mesma autoridade 
(o Estado). 
Sobre isso, Mazzuoli (2019, p. 351) afirma que: 
O Estado não se confunde com a Nação, com o povo ou com 
demais grupos de pessoas. Para o direito das gentes a pessoa 
internacional é o Estado, ainda que em alguns países (e em alguns 
sistemas jurídicos) se lhe atribua outras denominações não técnicas. Em 
verdade, o Estado é a organização jurídico-política da Nação, e que lhe 
dá validade e legitimação para atuar, no plano externo, como sujeito do 
Direito Internacional Público. 
A Constituição Federal de 1988 delega poderes, sendo o povo o sujeito 
ativo de tal delegação. 
1.2 Território 
Dallari (2011) afirma ser o território componente indispensável para a 
caracterização do Estado Moderno, tendo em vista que ele estabelece a 
delimitação da ação soberana do Estado. 
 
 
5 
Segundo Mazzuoli (2019, p. 425), “a competência territorial do Estado é 
exercida, em regra, sobre o seu próprio território (in re sua), local onde o poder 
estatal tem sua incidência”. Assim, pode-se afirmar que “o território, propriamente 
dito, é a base física ou o âmbito espacial do Estado, onde ele se impõe para 
exercer, com exclusividade, a sua soberania” (Mazzuoli, 2019, p. 486). 
Não existe Estado sem território, por menor que seja a extensão, como é o 
caso de alguns Estados com extensão territorial bem pequena, dos quais 
podemos citar Mônaco, Vaticano e Maldivas. E independentemente do tamanho 
do Estado, ele será tratado com igualdade pelo Direito Internacional Público. 
1.3 Governo soberano 
Listado por alguns autores apenas como “soberania”, essa é uma das 
bases da ideia de Estado Moderno, afirmando o poder “absoluto e perpétuo” do 
Estado, sendo essa a sua qualidade essencial (Dallari, 2011). 
Utilizamo-nos aqui da expressão “governo soberano” porque entendemos 
que o governo fornece o elemento político do Estado, sendo o responsável pela 
organização da ordem interna e de seu povo. Da mesma forma, é por meio desse 
poder político que o Estado pode participar das relações internacionais. Não existe 
sociedade sem poder, porque o poder é elemento necessário à organização de 
qualquer forma de sociedade, seja ela familiar, profissional, ou de qualquer outro 
gênero. Daí a necessidade de se delimitar certas regras para que se possa manter 
a ordem e buscar o desenvolvimento. No Estado, costuma-se chamar o poder de 
governo. O governo é, então, soberano. 
Por fim, listamos, com breve explicação, as características da soberania. 
Dizemos que ela é: 
• una: a soberania é una, ou única, por Estado, de tal forma que não pode 
haver duas ordens soberanas no mesmo ente estatal; 
• indivisível: não pode ser dividida pelos entes estatais; 
• inalienável: pois pertence ao povo; 
• imprescritível: não tem prazo de validade. 
TEMA 2 – DIREITOS E DEVERES DOS ESTADOS 
Mazzuoli (2019, p. 437) afirma que todos os Estados, “na condição de 
sujeitos do Direito Internacional Público, gozam de prerrogativas jurídicas 
 
 
6 
(direitos) e, de forma correlata, respondem por obrigações (deveres) no plano 
internacional, quer em tempo de paz quer em tempo de guerra”. Ainda de acordo 
com o mesmo autor (2019, p. 437), “os mesmos direitos e deveres impostos a um 
Estado mais fraco devem também ser impostos àqueles mais poderosos, desde 
que todos eles sejam membros das Nações Unidas”. 
Em primeiro lugar, temos os Direitos Fundamentais dos Estados, que estão 
dispostos na Carta das Nações Unidas, de 1945, e na Carta da OEA, de 1948. 
Destacamos a redação do art. 2º da Carta da OEA: 
Artigo 2 
Para realizar os princípios em que se baseia e para cumprir com suas 
obrigações regionais, de acordo com a Carta das Nações Unidas, a 
Organização dos Estados Americanos estabelece como propósitos 
essenciais os seguintes: 
a) Garantir a paz e a segurança continentais; 
b) Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o 
princípio da não-intervenção; 
c) Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução 
pacífica das controvérsias que surjam entre seus membros; 
d) Organizar a ação solidária destes em caso de agressão; 
e) Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos 
que surgirem entre os Estados membros; 
f) Promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento 
econômico, social e cultural; 
g) Erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno 
desenvolvimento democrático dos povos do Hemisfério; e 
h) Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que 
permita dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimento 
econômico-social dos Estados membros. 
Podemos afirmar que, segundo a doutrina, são considerados Direitos 
Fundamentais dos Estados: o direito à existência, o direito de conservação e 
defesa, o direito de liberdade e soberania, o direito à liberdade e o direito ao 
comércio internacional. Cada um deles será explicado nos próximos tópicos. 
2.1 Direito à existência 
Pressuposto de todos os demais Direitos Fundamentais dos Estados, pode 
ser compreendido a partir do art. 13 da Carta da OEA: 
A existência política do Estado é independente do seu reconhecimento 
pelos outros Estados. Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem o 
direito de defender a sua integridade e independência, de promover a 
sua conservação e prosperidade, e, por conseguinte, de se organizar 
como melhor entender, de legislar sobre os seus interesses, de 
administrar os seus serviços e de determinar a jurisdição e a 
competência dos seus tribunais. O exercício desses direitos não tem 
outros limites senão o do exercício dos direitos de outros Estados, 
conforme odireito internacional. 
 
 
7 
2.2 Direito de conservação e defesa 
Compreende todas as medidas estatais necessárias à conservação e 
defesa do Estado. 
Nos termos do art. 51 da Carta das Nações Unidas: 
Artigo 51. Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de 
legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque 
armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de 
Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção 
da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos 
Membros no exercício desse direito de legítima defesa serão 
comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, 
de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente 
Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação 
que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da 
segurança internacionais. 
Nos termos do art. 29 da Carta das OEA: 
Se a inviolabilidade, ou a integridade do território, ou a soberania, ou a 
independência política de qualquer Estado americano forem atingidas 
por um ataque armado, ou por uma agressão que não seja ataque 
armado, ou por um conflito extracontinental, ou por um conflito entre dois 
ou mais Estados americanos, ou por qualquer outro fato ou situação que 
possa pôr em perigo a paz da América, os Estados americanos, em 
obediência aos princípios de solidariedade continental, ou de legítima 
defesa coletiva, aplicarão as medidas e processos estabelecidos nos 
tratados especiais existentes sobre a matéria. 
2.3 Direito de liberdade e soberania 
Nos termos do art. 19 da Carta da OEA, nenhum Estado ou grupo de 
Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, seja qual for o motivo, 
nos assuntos internos ou externos de qualquer outro. 
Esse princípio exclui não somente a força armada, mas também qualquer 
outra forma de interferência ou de tendência atentatória à personalidade do 
Estado e dos elementos políticos, econômicos e culturais que o constituem. 
Mazzuoli (2019) diferencia soberania interna de soberania externa, como 
veremos 
• Soberania interna estatal: poder supremo do Estado de impor dentro de 
seu território suas decisões. 
1) direito de livremente escolher a sua organização política, sua forma de 
governo, estabelecendo os princípios constitucionais que melhor 
atendam às suas peculiaridades; 
 
 
8 
2) direito de legislar e aplicar suas leis aos nacionais e estrangeiros 
residentes no seu território; 
3) direito de exercer sua jurisdição, por meio dos seus órgãos competentes 
(juízes e tribunais). 
• Soberania externa estatal: projeção internacional da personalidade 
jurídica do Estado: 
1) direito de celebrar tratados com outros Estados ou com Organizações 
Internacionais; 
2) direito de legação ativo e passivo, ou seja, de enviar representantes 
diplomáticos junto a Estados estrangeiros e organismos internacionais, 
bem como, por outro lado, de receber os que lhes forem enviados por 
tais entidades; 
3) direito ao respeito mútuo entre os Estados, tanto em relação às suas 
prerrogativas internacionais, bem como em relação à sua integridade 
territorial, sua honra e sua dignidade; 
4) direito à igualdade jurídica, segundo o qual nenhum Estado pode 
imiscuir-se na esfera de competência de outro etc. 
2.4 Direito à igualdade 
Decorre da Carta das Nações Unidas de 1945 que, no art. 2º, parágrafo 
1º, afirma que “a Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de 
todos os seus membros”. Podemos citar, também, o art. 4º da Convenção Pan-
americana sobre Direitos e Deveres dos Estados, assinada em Montevidéu, em 
1933, que dispõe que “os Estados são juridicamente iguais, gozam dos mesmos 
direitos e têm a mesma capacidade no seu exercício”. 
2.5 Direito ao comércio internacional 
Os Estados devem ter liberdade de comércio internacional, desde que 
obedecidos os princípios de igualdade de tratamento. 
Quanto aos deveres, podemos dividi-los em jurídicos e morais. 
Para Mazzuoli (2019, p. 453), “os deveres morais dos Estados encontram-
se agrupados sob a denominação comum e geral de dever de assistência mútua. 
São deveres que têm por base os preceitos de cortesia internacional (comitas 
 
 
9 
gentium)”. Conforme nos ensina o autor, são exemplos de deveres morais dos 
Estados (Mazzuoli, 2019): 
a. o dever de socorro e a colaboração por ocasião de calamidades naturais, 
bem como nos momentos de inquietação política e social; 
b. os salvamentos marítimos em casos de sinistros, quer ocorridos em águas 
territoriais ou em alto-mar, como naufrágio, incêndio a bordo ou qualquer 
outro acidente do gênero; 
c. o abrigo concedido, em portos nacionais, a navios estrangeiros que aí 
procurem refúgio contra tempestades que lhes causem danos e prejuízos 
à estrutura, ou por necessitarem de reparos, em virtude de avarias por 
algum acidente no mar ou prejuízos físicos já sofridos; 
d. o estabelecimento de medidas sanitárias e providências para a proteção da 
saúde, impedindo a propagação de enfermidades; 
e. a assistência financeira aos Estados subdesenvolvidos ou aos que se 
encontram em situação econômica extremamente crítica; 
f. a assistência e cooperação em matéria judiciária, tanto civil como criminal, 
incluindo-se a adoção de medidas facilitadoras da ação social contra o 
crime; 
g. o apoio em relação a questões de caráter humanitário, em tempo de paz 
ou em tempo de guerra etc. 
Já os deveres jurídicos são sempre fruto de convenções internacionais 
concluídas entre os Estados. Entre esses deveres, podemos destacar 
especialmente o de não intervenção. Nos termos do art. 20 da Carta da OEA, 
nenhum Estado poderá aplicar ou estimular medidas coercivas de caráter 
econômico e político para forçar a vontade soberana de outro Estado e obter deste 
vantagens de qualquer natureza. 
Por fim, quanto à matéria, a Declaração Relativa aos Princípios do Direito 
Internacional Regendo as Relações Amistosas e Cooperação entre os Estados, 
conforme a Carta da ONU, chegou ao consenso com relação aos seguintes 
princípios que regem a ordem jurídica internacional: 
• proibição do uso ameaça da força; 
• solução pacífica de controvérsias; 
• não intervenção nos assuntos internos dos Estados; 
• dever de cooperação internacional; 
 
 
10 
• igualdade de Direitos e Autodeterminação dos Povos; 
• igualdade soberana dos Estados; 
• boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais. 
TEMA 3 – RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS 
Conforme estudamos, as relações entre os Estados estão permeadas de 
diversos princípios que criam obrigações e direitos mútuos, de tal forma que é 
possível se falar, também, na responsabilização do Estado caso haja o 
cometimento de atos ilícitos. Para Mazzuoli (2019, p. 493), a responsabilidade 
internacional traduz-se numa “ideia de justiça, segundo a qual os Estados estão 
vinculados ao cumprimento daquilo que assumiram no cenário internacional”. 
Assim, uma vez assumidos, os compromissos devem ser cumpridos, uma 
vez que “o instituto da responsabilidade internacional do Estado, diferentemente 
da responsabilidade atinente ao Direito interno, visa sempre à reparação a um 
prejuízo causado a determinado Estado em virtude de ato ilícito praticado por 
outro” (Mazzuoli, 2019, p. 493). Isso decorre, inclusive, do princípio da boa-fé. 
Quando falamos em responsabilidade internacional, temos que atentar ao 
fato de que o Estado responsável pela prática de um ato ilícito segundo o Direito 
Internacional deve reparar o Estado a que tenha causado o dano, por meio da 
adequada reparação. 
A primeira forma de reparação é chamada de “restitutio naturalis” ou 
“restitutio in integrum”, ou seja, trata-se do restabelecimento da situação ao que 
era anteriormente ao cometimento do ato ilícito. Assim, sempre que possível de 
forma material ou jurídica, o Estado internacionalmente responsável deve reporas coisas no seu estado primitivo. 
Contudo, se esse restabelecimento não for possível, ou caso seja possível 
apenas parcialmente, temos uma segunda hipótese, em que o prejuízo deve ser 
reparado por meio de indenização ou compensação pecuniária. 
Segundo Mazzuoli (2019, p. 495), a responsabilidade internacional tem 
como característica ser operada sempre de Estado para Estado, mesmo que o 
ato ilícito tenha sido praticado por um indivíduo ou ainda quando a vítima seja um 
particular seu. Trata-se da chamada Proteção Diplomática: 
Tal significa que a pessoa (vítima da violação) não demanda diretamente 
o Estado, apenas dirigindo uma reclamação ao Estado de sua 
nacionalidade para que este a proteja internacionalmente. Quando o 
Estado de nacionalidade oferece proteção, ele endossa a reclamação da 
 
 
11 
vítima e toma como sua a queixa alegada. Será esse endosso o 
instrumento que irá outorgar a chamada proteção diplomática – que 
nada tem a ver com os privilégios e imunidades diplomáticos dos quais 
ainda iremos tratar – de um Estado a um particular: o Estado, 
quando endossa a queixa do particular, “toma as suas dores” e passa a 
tratar com o outro Estado de igual para igual, a fim de ressarcir o 
particular do dano sofrido (daí o entendimento que, mesmo nesse caso 
em que o objeto da reclamação é constituído pelo indivíduo e pelo seu 
patrimônio, a responsabilidade internacional opera-se de Estado para 
Estado). O Estado se substitui ao particular, tornando-se dominus litis e 
assumindo os encargos daí resultantes. (Mazzuoli, 2019, p. 495) 
Assim, é necessário, no plano internacional, que a vítima faça a sua 
reclamação e, havendo endosso da reclamação do Estado nacional da vítima, o 
Estado violador poderá ser responsabilizado. 
Antes da reclamação pela via diplomática, devem ser esgotados todos os 
recursos internos para a reparação do dano sofrido. Por fim, pode-se afirmar que, 
para que haja a responsabilização internacional, devem ser cumpridos três 
requisitos: 
1) Ocorrência de um ato internacionalmente ilícito, ou seja, a violação ou lesão 
de uma norma de Direito Internacional. 
2) Nexo causal que liga o ato danoso violador do Direito Internacional (ou a 
omissão estatal) ao responsável causador do dano (autor direto ou indireto 
do fato). Trata-se do “vínculo jurídico que se forma entre o Estado (ou 
organização internacional) que transgrediu a norma internacional e o 
Estado (ou organização internacional) que sofreu a lesão decorrente de tal 
violação” (Mazzuoli, 2019, p. 498). 
3) Prejuízo ou dano, que pode ser material ou moral. 
A responsabilidade pode ser objetiva ou subjetiva, frisando-se que, para a 
caracterização da responsabilidade subjetiva, é necessário que, além do 
descumprimento de uma norma ou obrigação jurídica internacional, tenha o 
Estado agido com dolo ou culpa. 
Conforme nos informa Miranda (2009, p. 309), classicamente, a 
responsabilidade era só dos Estados uns perante os outros (e principalmente em 
relações bilaterais), mas agora há também responsabilidade dos Estados perante 
organizações internacionais e entidades afins e até perante o indivíduo. 
Admitem-se excludentes de responsabilidade internacional do Estado, a 
saber: 
• consentimento do Estado; 
• legítima defesa; 
 
 
12 
• represálias ou contramedidas; 
• caso fortuito e força maior; 
• perigo extremo; 
• estado de necessidade; 
• renúncia do indivíduo lesado. 
TEMA 4 – AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS COMO SUJEITOS DO 
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
Ao lado dos Estados, as organizações internacionais (OIs) são sujeitos 
clássicos do Direito Internacional Público, sendo os únicos capazes de celebrar 
tratados. Anteriormente, já estudamos as principais características das 
organizações internacionais, mas neste tópico nos dedicaremos de forma mais 
aprofundada ao tema e ainda conheceremos algumas das principais OIs. 
Na maior parte das vezes, são os Estados que criam organizações 
internacionais para cumprir diferentes propósitos, tendo em vista que uma 
organização internacional possibilita o controle institucionalizado de temas 
específicos, sendo um fórum permanente de negociações. Os Estados atribuem 
capacidades às organizações internacionais, que têm como ato constitutivo um 
tratado. Conforme nos informa Varella (2018, p. 294): 
Organizações Internacionais têm natureza de pessoa jurídica de direito 
internacional, de caráter institucional. A criação de Organizações 
Internacionais fundamenta-se no poder soberano dos Estados. A 
natureza jurídica é, portanto, a mesma dos Estados, mas com limites de 
competência predeterminados pelos próprios membros. 
Frise-se que “são os Estados que atribuem capacidades internacionais de 
controle às Organizações Internacionais, ou seja, os Estados permitem que as 
Organizações Internacionais os controlem” (Varella, 2018, p. 294). Além disso, as 
organizações internacionais também podem criar outras organizações 
internacionais. 
Essas organizações têm autonomia jurídica, uma vez que seu ordenamento 
jurídico, apesar de ser aprovado pelos Estados membros, não depende do 
ordenamento jurídico interno dos países que as criaram. 
Conforme nos informa Varella (2018, p. 307), as OIs têm capacidade para: 
a. celebrar tratados com outros sujeitos de Direito Internacional; 
b. enviar e receber representantes diplomáticos; 
 
 
13 
c. promover e participar de conferências internacionais; 
d. apresentar reclamações perante tribunais internacionais; 
e. ser depositárias de tratados; 
f. operar navios e aeronaves com bandeira própria. 
As organizações internacionais podem, inclusive, ser chamadas a 
solucionar controvérsias entre Estados. A solução de controvérsias pode ser 
operada por bons ofícios, conciliação, mediação, arbitragem e por órgãos 
jurisdicionais internacionais (Varella, 2018, p. 309). 
Até perante tribunais internacionais temos a possibilidade de participação 
das OIs: 
As Organizações Internacionais têm capacidade postulatória perante os 
tribunais internacionais, respeitado o princípio da especialidade. Elas 
podem ainda fazer reclamações contra Estados perante as Cortes 
internacionais. Por serem sujeitos de direito internacional, podem 
ingressar contra outros Estados em sistemas pacíficos de solução de 
controvérsias. (Varella, 2018, p. 308) 
Quando uma Organização Internacional é criada, há a celebração de um 
tratado em que os Estados aceitam voluntariamente limitar suas próprias 
competências e capacidades. Contudo, a criação, por parte do Estado, de uma 
norma contrária ao que dispôs a OI é possível, não sendo considerada tal norma 
inválida, podendo ser aplicada no direito interno. 
Sobre a matéria, Varella (2018, p. 317) leciona: 
No ordenamento jurídico brasileiro, por exemplo, se uma lei for contrária 
e posterior à norma da Organização Internacional, fazendo referência 
expressa ao tratado, a lei brasileira será válida perante os tribunais 
brasileiros. Se for na França ou na Holanda, a lei nacional não será 
válida, pois existe uma hierarquia entre os tratados e as normas 
nacionais, em favor dos primeiros. No entanto, mesmo se o direito 
brasileiro determina que a norma nacional posterior é a aplicável, 
somente o será no território nacional. A partir do momento em que o 
Estado brasileiro ou seus nacionais agirem de forma contrária ao 
ordenamento jurídico da Organização Internacional, poderão ser 
responsabilizados internacionalmente, sob a perspectiva de que o país 
continua engajado no plano internacional pelo compromisso aceito 
anteriormente. 
Como é possível perceber, a tendência é que as organizações 
internacionais ganhem cada vez mais espaço no cenário internacional. Por isso, 
vamos estudar algumas das principais OIs. 
 
 
 
14 
4.1 Organização das Nações Unidas – ONU 
Atualmente com 193 membros, foi criada em 1945, na Conferência de São 
Francisco, por iniciativa dos vencedores da Segunda GuerraMundial, e tem como 
principais objetivos assegurar a paz e a segurança mundial, a promoção dos 
Direitos Humanos e a cooperação para o desenvolvimento econômico e social. 
A ONU foi criada com a intenção de funcionar como um sistema 
multinacional de defesa coletiva. A partir dela, surgiram diversas novas 
organizações internacionais dedicadas a temas específicos, com o objetivo de 
promover o desenvolvimento global, combater a fome, preservar a diversidade 
cultural etc. 
4.2 Organização Mundial da Saúde – OMS 
Fundada em 1948, faz parte da ONU e tem como objetivo principal a gestão 
de políticas públicas voltadas para a saúde em nível mundial. 
4.3 Organização Internacional do Trabalho – OIT 
Fundada em 1919 para promover a justiça social, a Organização 
Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência das Nações Unidas que tem como 
missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso 
a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, 
segurança e dignidade. Para tanto, a OIT procura definir e promover normas e 
princípios e direitos fundamentais no trabalho, criar maiores oportunidades de 
emprego e renda decentes. 
4.4 Organização Mundial do Comércio – OMC 
Com o objetivo de promover a expansão do comércio global, a OMC surgiu 
oficialmente em 1º de janeiro de 1995, com o Acordo de Marraquexe. É um 
ambiente permanente de negociações multilaterais comerciais, com especial 
destaque para seu sistema de solução de controvérsias entre os Estados. 
É composta por um grande número de países em desenvolvimento (cerca 
de 160 países membros) e tem as decisões tomadas por consenso, o que contribui 
para estabelecer um comércio internacional livre e transparente. 
 
 
15 
TEMA 5 – RELAÇÕES ENTRE DIREITO INTERNO E DIREITO INTERNACIONAL: 
TEORIAS MONISTA E DUALISTA 
Até este momento do nosso estudo, é possível que você tenha se deparado 
com as seguintes questões: “Ora, como se dá então a relação entre o Direito 
interno e o Direito Internacional?” e “De que forma o Direito Internacional influencia 
o Direito interno dos Estados?”. Para compreender os fenômenos relativos às 
relações do Direito Internacional Público com o Direito interno, é necessário 
compreender duas teorias fundamentais, quais sejam: a teoria monista e a teoria 
dualista. 
Conforme já estudamos, podemos dividir a soberania em interna e externa. 
No Direito interno, a ordem jurídica é sustentada pelo Estado, que é soberano. 
Contudo, no plano internacional, não há uma autoridade superior em relação aos 
Estados, não havendo entidade capaz de tornar obrigatório o cumprimento da 
ordem jurídica internacional e de cominar sanções caso esta não seja cumprida, 
tendo em vista que cada Estado tem soberania e ordenamento jurídico próprio, de 
tal forma que os Estados não se subordinam a outro Direito que não seja aquele 
que eles reconheceram ou criaram. 
A partir dessas características, os doutrinadores passaram a adotar duas 
teorias para explicar as relações do Direito Internacional e do Direito interno: a 
teoria dualista, encabeçada por Carl Heinrich Triepel e Dionísio Anzilotti, e a teoria 
monista, cujo maior expoente é Hans Kelsen. 
Vamos estudar cada uma delas separadamente. 
5.1 Dualismo 
Para a teoria dualista, o Direito Internacional e o Direito interno são 
sistemas independentes e distintos. Uma norma de Direito interno não se 
condiciona à norma internacional (Mazzuoli, 2019). Conforme nos explica Guerra 
(2017, p. 88): 
A norma interna, segundo os dualistas, vale independentemente da 
norma internacional, podendo, quando muito, levar à responsabilização 
do Estado. Todavia, para que isso ocorra, a norma internacional precisa 
ser incorporada ao ordenamento interno do Estado por força de uma lei, 
por exemplo. 
Assim, para os defensores dessa corrente, há uma clara dicotomia entre as 
normas de Direito interno e as normas de Direito Internacional. 
 
 
16 
5.2 Monismo 
Já o monismo apresenta o Direito interno e o Direito Internacional como 
dois ramos do Direito num mesmo sistema jurídico. Para Guerra (2017, p. 88), “o 
Direito Internacional não carece de qualquer ‘transformação’, haja vista que os 
Estados mantêm compromissos que se justificam juridicamente por pertencerem 
a um sistema único”. 
Assim, para o autor, o monismo parte do pressuposto de que existe uma 
unidade no conjunto de normas jurídicas, isto é, um conjunto no qual estariam 
inseridas distintas ordens jurídicas, podendo ser aplicadas as alternativas: o 
Direito Internacional subordinado ao Direito interno (monismo com primazia do 
Direito Interno) e o Direito interno subordinado ao Direito Internacional (monismo 
com primazia do Direito Internacional) (Guerra, 2017). 
Para facilitar a compreensão das duas teorias, veja a figura a seguir: 
Figura 2 – Esquema que diferencia as teorias monista e dualista 
 
Fonte: Knihs, 2020. 
No Brasil, adotamos o sistema monista, uma vez que admitimos conflito 
entre norma de Direito interno e norma de Direito Internacional. 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 42. ed. São Paulo: Globo, 2002. 
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. São Paulo: 
Saraiva, 2011. 
GUERRA, Sidney. Curso de Direito Internacional Público. 11. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. 
MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1999. 
MAZZUOLI, Valerio D. Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 12. ed. 
Grupo GEN, 2019. 
MIRANDA, Jorge. Curso de Direito Internacional Público: uma visão 
sistemática do Direito Internacional dos nossos dias. 4. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2009. 
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 17. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2018. 
VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. 7. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2018. 
AULA 3 
DIREITO INTERNACIONAL 
PÚBLICO 
Profª Karla Knihs 
 
 
2 
TEMA 1 – TRATADOS INTERNACIONAIS 
Vimos nas aulas anteriores que os tratados internacionais são fontes 
principais do direito internacional público. Segundo Mazzuoli (2019, p. 120): 
O desenvolvimento da sociedade internacional e a intensificação das 
relações internacionais fizeram despontar o interesse pelo estudo dos 
tratados internacionais, atualmente considerados a fonte mais segura e 
concreta das relações entre os sujeitos do Direito Internacional Público. 
[...] 
Pode-se então dizer que, nos dias de hoje, a vida internacional funciona 
quase que primordialmente com base em tratados, os quais exercem, no 
plano do Direito Internacional, funções semelhantes às que têm no 
Direito interno as leis (caso em que se fala estar diante dos tratados 
normativos) e os contratos (dizendo-se, nesse caso, tratar-se dos assim 
chamados tratados-contrato), regulamentando uma gama imensa de 
situações jurídicas nos mais variados campos do conhecimento humano, 
o que já justifica o seu estudo mais aprofundado. 
São os tratados internacionais, enfim, o meio que têm os Estados e as 
organizações intergovernamentais de, a um só tempo, acomodar seus 
interesses contrastantes e cooperar entre si para a satisfação de suas 
necessidades comuns. 
Segundo Husek (2010), tratado é o acordo formal concluído entre os 
sujeitos de direito internacional público destinado a produzir efeitos jurídicos na 
órbita internacional. É a manifestação de vontades de tais entes – e um ato jurídico 
formal envolve pelo menos duas vontades. 
Varella (2018, p. 40) afirma que os tratados obedecem aos seguintes 
princípios: 
1. Consensualismo 
Fundamenta-se sobre a autonomia da vontade dos sujeitos de direito 
internacional. Um tratado precisa de, ao menos, dois sujeitos de direito 
internacional (Estados ou Organizações Internacionais) para existir; 
2. Ausência de hierarquia 
Como regra geral, não há hierarquia entre os tratados. 
A exceção à regra é o jus cogens, considerado uma espécie de normaobrigatória a todos os Estados e que, portanto, coloca-se acima dos demais 
tratados, por exemplo, a Carta da ONU; 
3. Ausência de formalismo 
Os tratados devem ser realizados por escrito. No entanto, não existem 
procedimentos específicos, rígidos para a redação dos tratados. 
Os tratados são previstos como fontes do Direito Internacional no art. 38, 
“a” do ECIJ e, embora não sejam hierarquicamente superiores às demais fontes, 
 
 
3 
são de fato os instrumentos mais utilizados, tendo em vista que garantem maior 
segurança jurídica para as relações internacionais. 
Tamanha é a sua importância que temos, inclusive, um ramo próprio no 
direito internacional público para tratar acerca dos tratados, sendo que o direito 
dos tratados possui regulamentação própria, com regras acerca da celebração, 
da entrada em vigor e da extinção dos tratados. 
Quanto à competência, historicamente, os tratados poderiam ser 
celebrados num primeiro momento apenas pelos Estados soberanos. Hoje, 
contudo, outros entes do DIP possuem competência para a sua celebração, tais 
como as OIs. Contudo, ainda não é permitida a celebração de tratados por 
indivíduos, empresas públicas e privadas, mesmo as multinacionais. 
Quanto à natureza jurídica, podemos dizer que os tratados são atos 
jurídicos complexos, na medida em que se trata de acordos celebrados entre as 
partes interessadas, com efeitos jurídicos. 
A Constituição Federal, sobre a formação dos tratados, assim dispõe: “Art. 
21. Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar 
de organizações internacionais;” “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente 
da República: VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos 
a referendo do Congresso Nacional;” e “Art. 49. É da competência exclusiva do 
Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos 
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio 
nacional;” (Brasil, 1988). 
Percebe-se, portanto, que o direito brasileiro prevê que a formação do 
tratado tem duas fases, uma externa e outra interna, na medida em que o 
Congresso Nacional possui papel definido constitucionalmente nesse processo. 
Destacamos, também, a redação do art. 5º, parágrafo 2º da CF/88: “§ 2º - 
Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (Brasil, 1988). 
Assim, os tratados são fontes do direito brasileiro, sendo que cabe ao Estado 
adaptar-se ao disposto nos tratados que tenha ratificado. 
Daí porque podemos afirmar que, em caso de conflito, os tratados devem 
ter força superior à da lei interna. 
 
 
 
4 
TEMA 2 – TERMINOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS 
A Convenção de Viena sobre o direito dos tratados é um manual de como 
criar tratados. Conforme nos informa Mazzuoli (2019, p. 122): 
Chamada Lei dos Tratados, Código dos Tratados ou ainda Tratado dos 
Tratados, a Convenção de Viena de 1969 é um dos mais importantes 
documentos já concluídos na história do Direito Internacional Público. 
Ela não se limitou apenas à codificação do conjunto de regras gerais 
referentes aos tratados concluídos entre Estados, mas também se 
preocupou em regular todo tipo de desenvolvimento progressivo 
daquelas matérias ainda não consolidadas na arena internacional. 
A Convenção regula desde questões pré-negociais (capacidade para 
concluir tratados e plenos poderes), até o processo de formação dos 
tratados (adoção, assinatura, ratificação, adesão, reservas etc.), sua 
entrada em vigor, aplicação provisória, observância e interpretação, bem 
assim a nulidade, extinção e suspensão de sua execução. 
Entre as regras basilares de direito das gentes reconhecidas pela 
Convenção, pode ser citada a norma pacta sunt servanda (art. 26) e o 
seu corolário segundo o qual o Direito interno não pode legitimar a 
inexecução de um tratado (art. 27); recorda-se, ainda, o reconhecimento 
da cláusula rebus sic stantibus, que permite a extinção ou retirada de um 
tratado quando passa a existir uma mudança fundamental nas 
circunstâncias relativamente àquelas existentes ao tempo da estipulação 
do acordo (art. 62), entre outras. 
Em seu art. 2, a Convenção de Viena traz a seguinte terminologia: 
a. “tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre 
Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um 
instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer 
que seja sua denominação específica; 
b. “ratificação”, “aceitação”, “aprovação” e “adesão” significam, conforme 
o caso, o ato internacional assim denominado pelo qual um Estado 
estabelece no plano internacional o seu consentimento em obrigar-se 
por um tratado; 
c. “plenos poderes” significa um documento expedido pela autoridade 
competente de um Estado e pelo qual são designadas uma ou várias 
pessoas para representar o Estado na negociação, adoção ou 
autenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento 
do Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer outro 
ato relativo a um tratado; 
d. “reserva” significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua 
redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, 
aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir 
ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua 
aplicação a esse Estado; 
e. “Estado negociador” significa um Estado que participou na elaboração 
e na adoção do texto do tratado; 
f. “Estado contratante” significa um Estado que consentiu em se obrigar 
pelo tratado, tenha ou não o tratado entrado em vigor; 
g. “parte” significa um Estado que consentiu em se obrigar pelo tratado 
e em relação ao qual este esteja em vigor; 
h. “terceiro Estado” significa um Estado que não é parte no tratado; 
i. “organização internacional” significa uma organização 
intergovernamental. (Brasil, 2009) 
 
 
5 
Os tratados possuem denominações diversas, conforme sua natureza. 
Vejamos a terminologia utilizada, conforme explica Varella (2018, p. 42) e 
Mazzuoli (2019, p. 134): 
2.1 Tratado 
Acordo formal concluído entre sujeitos de direito internacional destinado a 
produzir efeitos jurídicos na órbita internacional. 
2.2 Convenção 
Tem caráter mais amplo e cria normas gerais. As Convenções são 
reguladas por outros tratados mais específicos, como os protocolos, que 
realmente criam obrigações concretas para as partes. As convenções nem 
sempre são obrigatórias, mas refletem um primeiro passo no processo de 
negociação. Exemplo: Agenda 21. 
2.3 Protocolo 
É um tratado que regula outro tratado mais geral, como uma convenção, 
ou que altera determinado ponto de um tratado anterior. 
De modo geral, a expressão protocolo pode aparecer designando acordos 
menos formais que os tratados, acordos complementares, suplementos a acordos 
preexistentes ou já estabelecidos (ex.: Protocolo de Ouro Preto de 1994, 
suplementar ao Tratado de Assunção, de 1990), acordos interpretativos de 
tratados ou convenções anteriores ou acordos de prolongamento de uma situação 
jurídica em trâmite (ex.: protocolo concernente ao prolongamento do Tratado de 
Aliança, de 31 de agosto de 1922, entre a Tchecoslováquia e a Iugoslávia, 
assinado em Genebra em 19 de setembro de 1928) ou, ainda, acordos 
modificativos de tratados anteriores (ex.: Protocolo de Paris, de 25 de julho de 
1928, relativo à revisão da Convenção de 18 de dezembro de 1923 sobre a 
organização do estatuto da zona de Tanger). 
2.4 Carta 
Comumente empregada para estabelecer os instrumentos constitutivos de 
organizações internacionais, pode também ser empregada para tratados solenes 
que estabeleçam direitos e deveres para os Estados-partes (Ex.: Carta das 
 
 
6 
Nações Unidas, de 1945, Carta da Organização dos Estados Americanos,

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