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Objetivos: Estudar os tipos de bactérias que causam a tuberculose e suas características morfológicas; Entender a epidemiologia da tuberculose; Compreender a fisiopatologia da tuberculose; Analisar as manifestações clínicas e tratamentos da tuberculose; Debater sobre os riscos da transmissão da tuberculose na população carcerária; Pesquisar sobre o diagnóstico da tuberculose. Referencias: Microbiologia (Tortora Cap -24/ 12º ed), Manifestações clínicas e complicações da tuberculose pulmonar (UpToDate, 2022) Tuberculose: história natural, microbiologia e patogênese (UpToDate,2021). Microbiologia básica A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que pode ser causa por qualquer uma das sete espécies do complexo Mycrobacterium tuberculosis: M. Tuberculosis(Bacilo de Korck), M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedii e M. caprae; As bactérias do gênero Mycrobacterium são classificadas com base: acidoresistencia, presença de ácidos micólicos (protegem o bacilo da agressão exógena) na parede celular (muito rica em lipídeos), alto conteúdo de guanina e citosina no seu DNA; Gram – positivos aeróbios estritos; BAAR (Bacilo Álcool – ácido Resistente) : a explicação está na composição da parede celular com lipídios de alto peso molecular como o ácido micólico, que protegem o bacilo da agressão exógena. APG 16 Parede celular rica em lipídios (responsável por muitas das propriedades características dessas bactérias - acidorresistência; crescimento lento; resistência a detergentes, a antibióticos antibacterianos comuns e a resposta imune do hospedeiro; antigenicidade) As proteínas associadas à parede celular são antígenos biologicamente importantes, estimulando a resposta imune celular do paciente. Preparações extraídas e parcialmente purificadas dessas proteínas (derivados de proteína purificada ou PPDs) são utilizadas como reagentes de testes de pele para medir a exposição a M. tuberculosis. O M. tuberculosis é um agente eminentemente patogênico, que vive do parasitismo; Por ser estritamente aeróbico, o bacilo de Korch procura microambientes com altas tensões de O2, com os ápices pulmonares. Epidemiologia da tuberculose A tuberculose afeta a humanidade desde tempos imemoriais; O Brasil pertence ao grupo de 30 países definido pela OMS como prioritário para o controle de TB (países que detêm cerca de 90% da carga global da doença); Cerca de 10% dos casos novos de tuberculose diagnosticados no Brasil apresentam coinfecção pelo HIV; A TB afeta a sociedade brasileira de forma heterogênea: o grupo mais afetado no brasil é da população negra (pretos e pardos) que responde por mais da metade dos casos novos – as taxas de diagnóstico precoce são constantemente inferiores ao observado para a população não negra. Outro grupo de altíssimo risco são pessoas privadas de liberdade (a incidência aumenta 28 vezes). – Importante lembrar das questões econômicas, sociais, culturais, históricas e políticas. Para que a cadeia de TB seja efetivamente quebrada, a OMS recomenda que o percentual de cura em cada país seja de no mínimo 85%, com taxas de abandono inferiores a 5% - No brasil a taxa média ade cura é 74,6 com 10,8% de abandono. Etiologia A etiologia mais importante é o M. tuberculosis, cuja principal característica é a preferência pelo parênquima pulmonar e a transmissão de pessoa a pessoa através da inalação de partículas de aerossol contaminadas; Geralmente no meio rural, o principal agente etiológico passa a ser o M. bovis, adquirido pela ingestão de leite ou derivados não pasteurizados produzidos a partir do gado bovino contaminado. Transmissão Se dissemina mediante partículas diminutas e invisíveis chamadas de núcleos secos (Núcleos de Wells), que se alojam nas secreções respiratórias de pessoas com tubérculo ativa; Essas gotículas evaporam e deixam os microrganismos, os quais permanecem suspensos no ar e circulam com a corrente; As partículas médias ficam retidas na mucosa do trato respiratório superior e são removidas dos brônquios através do fluxo mucociliar. Os bacilos assim removidos são deglutidos, inativados pelo suco gástrico e eliminado nas fezes. Viver em condições de confinamento incrementa o risco de disseminar a doença (pouca circulação de ar). A chance de uma pessoa se infectar após contato com um paciente com TB depende: da concentração de bacilos que foram expelidos; da intensidade e frequência do contato; das condições ambientais e da resistência natural do indivíduo exposto. 1) Eliminação de bacilos pela fonte: Multibacilíferos são os principais responsáveis pela transmissão da tuberculose (BAAR positivos – baciloscopia positiva no escarro) (Formas pulmonar cavitária e laríngea); os paucibacilíferos (geralmente formas não cavitárias) são definidos pro BAAR negativo mas com cultura molecular positiva (TRM-TB). 2) Intensidade e frequência de contato: Quando maior o inócuo de bacilos e menor a resistência natural do contactante, maior a chance de infeção. Os contatos esporádicos raramente são infectados, enquanto os diários e domiciliares comumente o são. 3) Fatores ambientais: As partículas podem ficar dispersas no ar por algumas horas, mas são rapidamente diluídas se estiverem ao ar livre, onde também costumam ser inativadas pela luz UV. Patogênese Na primo-infecção ocorre também a disseminação linfo – hematogênica (Como a imunidade especifica ainda não se instalou a proliferação bacilar é alta. Os bacilos são drenados para os linfocitos hilares e mediastinais, onde continuam se proliferando no interior de macrófagos e em seguida atingem a corrente sanguínea, sendo semeados para diversos órgãos e sistemas. Classificação da tuberculose Tuberculose primária: pessoa que ainda não estava sensibilizada pela tuberculose (a primo-infecção evolui diretamente para a doença que ocorre dentro dos primeiros três anos da infecção, geralmente no primeiro ano) Mais comum em crianças A primo-infecção geralmente é assintomática, apesar de poder causar febre e derrame pleural Resposta imunológica dos linfonodos hilares e mediastinais exarcebada; O complexo primário costuma ser representado por uma pequena área de pneumonite, associada a uma adenomegalia hilar e/ou mediastinal (Esse aumento linfonodal pode levar a compressão brônquica, cursando com atelectasia) Tuberculose primária progressiva: ocorre em pacientes que se infectam com um grande inócuo de bacilos, ou quando as defesas imunológicas estão deprimidas. Nesse caso o foco primário evolui para uma grande área de inflamação granulomatosa, evoluindo para penmonia tuberculosa; Podem surgir grandes focos caseosos locais que ao se liquefazerem transform-se em “cavernas”. Tuberculose milar: comum em crianças menores de dois anos e não vacinadas com BCG ou então com pacientes com imunodepressão moderada a grave; Nesse caso os focos primários de tuberculose não são contidos e evoluem com progressão da lesão; O foco primário pode progredir e continuar lançando bacilos no sangue. Tuberculose pós – primária: nova inalação de bacilos ou reativação de um foco que estava latente da primo- infecção. (Geralmente ocorre após três anos da primo-infecção) É a forma crônica da tuberculose pulmonar; É a forma responsável pela transmissão da doença ( padrão cavitário) Mais comum em adultos. Os segmentos posteriores dos lobos superiores e o segmento superior dos lobos inferiores são os mais acometidos; Já apresenta memoria imunológica, logo a reação se instala rapidamente, juntamente com as áreas de nocrose; As cavernas são um local rico em O2 onde o báculo se multiplica de forma intensa. Manifestações clínicas Tuberculose primária Febre (38-39); Tosse seca (muitos casos confundidos com gripe prolongada); A síndrome febril pode durar 14-21 dias Pode surgir dor pleurítica (evento comum na tuberculose primária em adultos) Achados: O RX de tórax revela uma adenopatia hilar/ mediastinal que se localiza mais comumente no lobo médio do pulmão direito; Os achados radiológicos da tuberculose pulmonar tendem a desaparecer ao longo de seis meses a um ano, mesmo sem tratamento específico. O foco primário regride deixando uma marca “tuberculoma”. Tuberculose pós – primária Febre de baixo grau e vespertina (atingindo um pico no final da tarde ou noite); Sudorese noturna Tosse ausente ou inicialmente leve, pode ser seca ou com expectoração amarelo – esverdeada com raias de sangue. Tosse persistente por 3 semanas ou mais, febre bespertina, sudorese noturna, perda ponderal, astenia, mialgia, dispneia, Diagnóstico Em adultos e crianças maiores de 5 anos o diagnóstico da TB é baseado na história e no exame físico. Este deve se submeter a uma radiografia de tórax; se as imagens sugerirem TB três amostras de escarro devem ser submetidas a baciloscopia para pesquisa de BAAR e cultura; O diagnóstico da TB pulmonar baseia-se na presença de duas baciloscopias diretas positivas no escarro ou uma cultura positiva do M. tuberculosis, radiografia de tórax compatível e reação de Mantoux positiva. Baciloscopia direta do escarro Pesquisa do bacilo BAAR Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) Principalmente indicado para tuberculose pulmonar e laríngea Cultura para microbactéria Tratamento Os medicamentos antiTB, em geral, interferem no sistema enzimático do bacilo ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial para o seu crescimento; Os fármacos só atuam quando há atividade metabólica, ou seja, bacilos em estado de latência não são atingidos pelos medicamentos; Se o esquema terapêutico é equivocado, realizado de maneira irregular, com doses inadequadas ou interrompido precocemente, cepas resistentes podem ser selecionadas, caracterizando a resistência adquirida; A atuação dos medicamentos antiTB difere conforme o metabolismo bacilar Exames laboratoriais Exames de imagem Raio X de tórax: lesões nos ápices pulmonares, opacidades, infiltrados, nódulos, cavitações, fibroses, retrações, calcificações, adenomegalia, aspecto milar, aspecto árvore em brotamento. TC de tórax: detecta a doença onde o raio x apresenta resultados imprecisos. O esquema terapêutico deve atingir três grandes objetivos: atividade bactericida precoce (capacidade de matar a maior quantidade de bacilos o mais rápido possível), ser capaz de prevenir a emergência de bacilos resistentes e ter atividade esterilizante (capacidade de eliminar todos os bacilos seja nas cavidades pulmonares, no interior dos macrófagos, nas lesões caseosas fechadas). Atividade bactericida precoce: isoniazida, rimpaficina, fluoroquinolonas Atividade esterilizante: rimfapicina, pirazinamida, fluoroquinolonas Prevenção de emergência de bacilos: esquema terapêutico A OMS recomenda a estratégia do TDO (Tratamento diretamente observado); No brasil todos os casos de tuberculose devem ser submetidos ao TDO; Consiste em não apenas observar a deglutição do medicamento, mas também a construção de um vinculo com o paciente; Sempre que necessário outras ações devem ser adotadas como incentivos; O ideal é a observação diária, de segunda a sexta, feita pelo profissional de saúde na própria unidade Esquema básico para adultos e adolescentes: quatro fármacos na fase intensiva e dois na fase manutenção (2 RHZE/ 4 RH) Esquema básico para crianças com menos de 10 anos: três famarcos na fase intensiva e dois na fase de manutenção (2 RHZ/ 4RH)
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