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Conteúdo: INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DIETÉTICAS Ivonilce Ventura MÉTODOS E INDICADORES CULINÁRIOS APLICADOS NAS TÉCNICAS DIETÉTICAS 4 INTRODUÇÃO Olá! O processo de produção de alimentos deve ter por objetivo não so- mente a garantia de qualidade nutricional, sensorial e sanitária, mas também de produtividade com controle de custos e redução de perdas. Em especial em serviços de produção em grande escala, o planejamento que não leva em conta as perdas dos alimentos decorrente dos processos de pré-preparo e preparo dos alimentos, pode comprometer toda a produção. Neste capítulo, você aprenderá a realizar uma solicitação de gêneros para compras levando em consideração os indicadores no preparo dos ali- mentos. Bons estudos! OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final desta aula unidade, você deverá ser capaz de: • Reconhecer os conceitos de per capita e porção. • Usar os indicadores culinários. • Realizar previsão de gêneros alimentícios. CONCEITOS DOS INDICADORES CULINÁRIOS Técnica dietética é a disciplina que estuda as operações às quais os alimentos são submetidos, incluindo as operações de pré-preparo e preparo, união e cocção, entre outras. Durante os processos rotineiros da cozinha industrial, você vai utili- zar técnicas que fazem com que o alimento reduza ou aumente de tamanho, como o descasque de uma fruta ou o processo de cocção do arroz. Conside- 5 rando que os alimentos sofrem alterações desde o recebimento até o mo- mento em que serão servidos, é necessário você conhecer alguns cálculos para não permitir o desperdício ou a falta de produtos na unidade, gerando prejuízo e insatisfação do cliente. Antes de estudar os cálculos, veja aqui alguns termos usados na ro- tina do nutricionista! • Divisão: dividir, separar ou repartir. É uma operação simples, em que não há alteração da constituição do alimento, mas ocorre a exposição de partes me- nores do alimento ao oxigênio e à luz, podendo causar alterações de oxidação. • Descascar: perder a casca ou qualquer outro revestimento que envolva algum alimento. • Porção: parte de um todo, pedaço; certa quan- tidade de algo. A porção de determinado alimen- to significa uma quantidade de alimento (prepa- ração) pronta para ser servida para um indivíduo, normalmente mensurada em medidas caseiras com o uso de utensílios (xícara, colher, etc.). A porção fornece valores de calorias, proteínas, carboidratos e lipídios ao indivíduo. • Pré-preparo: consiste nas operações de descascar, retirar partes feias e machucadas dos vegetais, retirar aparas de carnes, cortar. • Per capita: expressão latina que significa “por cabeça”. É usada na cozinha industrial, pois expressa as quantidades de cada alimento que serão compra- das para atender às necessidades de cada cliente, impedindo que faltem ou sobrem alimentos. Os per capitas são diferentes conforme a região, o clima e os costumes alimentares, por isso, é muito importante que cada unidade desenvolva seus per capitas. • Peso bruto (PB): peso total do alimento antes do seu pré-preparo, isto é, o alimento como chega à unidade de produção. Para efeitos de compra de alimentos, utiliza-se sempre o valor do PB. 6 • Peso líquido (PL): peso do alimento após seu pré-preparo, ou seja, limpo, descascado, sem sementes ou outras partes que não serão utilizadas para o preparo. Considera-se o PL para utilização efetiva nas preparações. USO DOS INDICADORES CULINÁRIOS Você sabe o que são indicadores culinários? São cálculos matemá- ticos que vão auxiliar você no momento de realizar o pedido de compras dos alimentos para a produção em uma cozinha industrial. Confira a seguir mais informações sobre os indicadores culinários! • Fator de correção (FC) ou indicador de parte comestível (IPC): trata-se de uma constante matemática para cada alimento e é obtida pela relação entre o PB e o PL. Refere-se, portanto, às perdas que o alimento sofre durante o seu preparo. Este índice é muito utilizado na prática da cozinha industrial, pois, a partir dele, realiza-se o planejamento quantitativo de um cardápio e seus gêneros. Você deve levar em conta o fornecedor e o tipo de produto que está comprando, pois o FC pode variar em função destes fatores, além de variar conforme os equipamentos usados para o pré-preparo. Por exemplo, o FC da batata pode variar se ela for descascada no descascador industrial ou manu- almente por um manipulador de alimentos. Por isso a necessidade de cada unidade desenvolver seus FCs evitando erros no momento do planejamento de compras e custos. Para determinar o fator de correção dos alimentos, use estas fórmu- las: Fator de correção = PB/PL Peso líquido = PB/FC ou Peso bruto = PL x FC • Cocção: processo no qual o alimento, após as operações de pré-preparo, está pronto para os processos de cocção que ocorrem por ação do calor. Os objetivos desse método são: manter ou melhorar o valor nutritivo dos ali- mentos, aumentar a digestibilidade e a palatabilidade e inibir o crescimento 7 de microrganismos patogênicos ou o desenvolvimento de substâncias prejudiciais à saúde do homem. • Índice de conversão (IC): ação externa para passar o ali- mento de um estado para outro, como do cru para o cozido, do congelado para o descongelado. Pode-se também utilizar o termo “fator de rendimento” (FR) ou “fator térmi- co” (FT), em que ocorre a passagem de um alimento no seu estado cru para cozido. IC = peso do alimento processado (kg) / peso do alimento no estado inicial (kg) Geralmente, alimentos de origem vegetal, ricos em amido, têm IC maior que 1. Alimentos de origem animal, ricos em proteínas e fibras muscu- lares, apresentam IC menor que 1. Veja aos exemplos a seguir! Fator de correção A nutricionista fez um planejamento de compras para um jantar no qual será servido bife acebolado como prato principal. Ela solicitou a compra de 45 kg de bife. Ao final da preparação, verificou que tinha 39,5 kg de bife. Qual é o FC? • 1º passo: usar a fórmula: FC = PB/PL • 2º passo: identificar qual o PB e o PL; neste caso, PB é a quantidade de carne comprada (45 kg), e o PL é a quantidade de carne após o preparo (39,5 kg). • 3º passo: aplicar a fórmula: • FC = PB/PL = 45/39,5 • FC = 1,139. Usando a regra de arredondamento, o FC fica 1,14. Ou seja, o fator de correção é 1,14. Índice de conversão (IC) A nutricionista precisa de 25 kg de arroz cozido para servir aos seus clientes. Ela sabe que o IC do arroz é de 2,2. Que quantidade de arroz cru é necessária? • 1º passo: usar a fórmula: IC = peso do alimento processado (kg) / peso do alimento no estado inicial (kg) 8 • 2º passo: identificar quais as variáveis – neste caso, o peso do alimento processado é de 25 kg (arroz cozido), e o índice de conversão é de 2,2. • 3º passo: aplicar a fórmula: • IC = peso do alimento processado (kg) / peso do alimento no estado inicial (kg) = 2,2 = 25/ peso do alimento no estado inicial (kg) • Peso do alimento no estado inicial (kg) = 25/2,2 • Peso do alimento no estado inicial (kg) = 11,36 kg A nutricionista precisa de 11,36 kg de arroz cru para servir 25 kg de arroz cozido. PREVISÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS Você, como nutricionista, tem a função de elaborar cardápios ade- quados ao público, equilibrados do ponto de vista nutricional e adequados às necessidades dos clientes. Além disso, o cardápio também deve ser seguro no aspecto higiênico-sanitário, que não cause problemas de saúde ao consu- midor. Elaborar um cardápio inclui a realização do pedido de compras para que não faltem alimentos no servimento – deixando o cliente insatisfeito com o serviço prestado – ou que não ocorram desperdícios alimentares, gerando prejuízos financeiros à empresa. É por isso que você precisa conhecer seu fornecedor e os produtos com os quais está trabalhando. Além disso, é importante conhecer os indica- dores culinários reais da sua unidade e a disponibilidade financeira da empre- sa, a capacidade de estoque e a qualificação de sua mão de obra.Não basta ter um bom planejamento de cardápio; você, como nutri- cionista, precisa dominar outros aspectos, tais como: - per capita dos alimentos; - número estimado de refeições que serão oferecidas por dia; - frequência de utilização dos gêneros no período da previsão; - espaço para o estoque disponível; - quantidade já existente no estoque; e - características da matéria-prima e sazonalidade. É importante definir as previsões de entrega e a embalagem na qual o produto será comprado (fardo, pacote de 5 kg, etc.). Para a previsão de gêneros, você pode fazer uso do indicador de pre- visão quantitativa de gêneros (IPOG): 9 IPOG = (PB x nº ref. previstas x frequência) + margem de segurança – quan- tidade estocada) A margem de segurança é utilizada, em média, de 5 a 10%, depen- dendo da variação da frequência do número de comensais. A margem de se- gurança e a quantidade estocada dependem diretamente de cada unidade. Para fazer uma previsão de compras de gêneros alimentícios em uma unidade de alimentação e nutrição (UAN), precisamos das seguintes in- formações: - Quais alimentos serão necessários para o cardápio. - O tamanho das porções que serão servidas ao cliente. - Os indicadores culinários – IC, FC, PB – para efetuar os cálculos. - O número de comensais por dia. - O período em que será efetuada a compra (p. ex., uma semana, um mês). Um nutricionista precisar comprar carne, leite, arroz e cenoura para um cardápio X. O número de comensais no restaurante é de 500, e os indicadores culinários estão no Quadro 1. - Após saber o tamanho da porção final a ser servida ao cliente e conhecendo o IC, o profissional aplica o cálculo e obtém o peso cru do alimento. IC = peso do alimento processado (kg) / peso do alimento no estado inicial (kg) - Após descobrir o PL, ele precisa saber o PB utilizando o FC de cada alimento. Peso bruto = PL x FC - Com o PB do alimento, o nutricionista pode fazer o cálculo da quantidade a ser comprada para um mês (20 dias úteis). EXEMPLO 10 IC, índice de conversão; FC, fator de correção; PL, peso líquido; PB, peso bruto. *Cada caixa de frango tem 25 kg. **Cada fardo de arroz tem 30 kg (6 pacotes de 5 kg). Observação: como as compras do serviço de alimentação são feitas com fardos fechados, o que sobrar de um mês será descontado do pedido no mês seguinte Alimento Carne de frango Leite Arroz Cenoura Porção a ser servida ao cliente 120 g 200 mL 90 g 30 g IC 0,61 - 1,94 0,9 Peso do alimento cru (PL) 197 g 200 mL 46,40 g 33,34 g FC 1,15 - - 1,12 PB 226,5 g 200 mL 46,4 g 37,34 g Para 1 dia – 500 refeições (kg) 113,25 kg 100 L 23,20 kg 18,67 kg 1 semana (kg) (5 dias) 566,25 kg 500 L 116 kg 93,35 kg Para 4 semanas (kg) 2.265 kg 2000 L 464 kg 373,4 kg Pedido *91 2.000 L **16 fardos 375 kg 11 REFERÊNCIAS AKUTSU, R. C. et al. A ficha técnica de preparação como instrumento de qualidade na produção de refeições. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 2, mar./abr. 2005, p. 277-279. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/ bitstream/10482/2114/1/ARTIGO_FichaTecnicaPreparacao.pdf>. ANJOS, M. C. R. Relação de fatores de correção e índice de conversão (cocção) de alimentos. Disponível em: <https://docs.ufpr.br/~monica.anjos/Fatores. pdf>. BENETTI, G. B. (Org.). Manual de técnicas dietéticas. 2.ed. rev. Rio de Janeiro: Senac, 2014. BRITO, C. M. P.; MATOS, S. M. A.; SILVA, A. C. N. Critérios adotados para seleção dos indicadores de melhor aproveitamento nutricional na prevenção do desperdício alimentar da comunidade de Santana, Ilha de Maré, Salvador, Bahia. Disponível em: <http://www.convibra.com.br/upload/ paper/2013/54/2013_54_7720.pdf>. DOMENE, S. M. A. Técnica dietética: teoria e aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. GOES, V. F.; VALDUGA, L.; SOARES, B. M. Determinação e avaliação do fator de correção de hortaliças em uma Unidade de Alimentação e Nutrição de Guarapuava – PR. UNOPAR Científica. Ciências Biológicas e de Saúde, v. 15 (esp), 2013, p. 339-342. Disponível em: <http://www.pgsskroton.com.br/ seer/index.php/JHealthSci/article/view/568/536>. PHILIPPI, S. T. Nutrição e técnica dietética. 2.ed. São Paulo: Manole, 2008. RIBEIRO, A. B. D. et al. Investigação dos fatores de correção, fator de cocção e perda em diferentes tipos de carnes em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar. Disponível em: <http://revistarevinter.com.br/index.php/ toxicologia/article/viewFile/219/431>. Conteúdo: 12 Conteúdo:
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