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DESIGN DE SERVIÇOS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Ana Cristina Munaro CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Joice Carneiro Werlang Marcelo Bucci Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M963d Munaro, Ana Cristina Design de serviços. / Ana Cristina Munaro. – Indaial: UNIAS- SELVI, 2019. 162 p.; il. ISBN 978-85-7141-306-1 1. Administração da produção - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 658.5 Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Design de Serviços........................................................................7 CAPÍTULO 2 O Planejamento do Design de Serviços ..................................51 CAPÍTULO 3 Ferramentas Do Design De Serviços .....................................105 APRESENTAÇÃO O livro foi planejado pensando exclusivamente no seu aprendizado e percurso de estudo e seguirá a seguinte ordem: conhecer, planejar e implementar. Conforme você pode ver no esquema a seguir, cada capítulo corresponde a um desses objetivos de aprendizagem, mas é importante lembrar que todo o conteúdo está organizado de modo integrado e complementar. Dessa forma, no primeiro capítulo, você será introduzido aos principais conceitos e definições sobre design de serviços, com o intuito de compreender o que constitui o design de serviços e seus princípios, a importância para as organizações da implementação do design de serviços e obter uma visão de como criar serviços relevantes, desejosos e valiosos para os clientes e demais stakeholders. No segundo capítulo, você entenderá como integrar os conceitos aprendidos do design de serviços na organização e conhecerá quais são os primeiros passos para adotar essa abordagem. O foco desta parte será estudar os conceitos da gestão estratégica das organizações e a integração com o design de serviços, apresentando a perspectiva do usuário e o desempenho do serviço para obter qualidade e promover a satisfação e a experiência do consumidor. Além disso, você terá uma noção dos processos e metodologias do design de serviços na organização. No terceiro e último capítulo, você terá condições de “pôr a mão na massa”, isto é, unir todo o seu aprendizado sobre design de serviços e implementar na empresa. Nesse sentido, o foco está na apresentação de algumas das principais ferramentas utilizadas nas etapas de implementação do design de serviços e na análise da metodologia de design thinking associada com os serviços. Para compreender todo o processo na prática, alguns estudos de casos serão apresentados para orientar quanto à criação, ao desenvolvimento e à implementação de projetos de serviços, tendo o design centrado no usuário como referência fundamental. CAPÍTULO 1 Design de Serviços A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: � Compreender o que constitui o design de serviços e seus princípios. � Introduzir a importância para as organizações na atualidade da implementação do design de serviços. � Obter uma visão de como criar serviços relevantes, desejosos e valiosos para os clientes e demais stakeholders. Fazer: � Diferenciar serviço de produto. � Identificar as características do design de serviços e seus princípios. � Conhecer os atributos de serviço pela abordagem do marketing. � Entender a relevância do design de serviços para a vantagem competitiva das organizações no cenário atual. 8 Design de Serviços 9 Design de Serviços Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Nesta semana você se estressou com a sua empresa de telefonia? Teve que esperar muito para ser atendido por seu médico? A comida que pediu para ser entregue chegou rápido e estava uma delícia? Você tem se surpreendido positivamente com o transporte que usa? Foi para a academia de musculação e estava superlotada? Independente da sua resposta para essas questões, todas têm em comum um aspecto: são serviços! Nossa vida está intrinsicamente ligada a eles, tanto que nosso humor, tempo e dinheiro são afetados diariamente pelos serviços presentes no cotidiano. O setor de serviços cresce constantemente em nosso país, uma vez que é um ambiente de negócios que muda rapidamente e apresenta uma crescente concorrência, demonstrando que a especialização em serviços nunca fica parada. A crescente demanda por inovação de serviços tem enormes implicações para as competências e a base de conhecimento que as sustenta. São necessárias pessoas que possam entender o valor do serviço e tenham a sensibilidade para antecipar mudanças no comportamento, necessidades e expectativas dos clientes (OJASALO; OJASALO, 2009). É aí que o design de serviços tem papel preponderante. O design de serviços contempla uma nova forma de pensar, sendo uma abordagem multidisciplinar e em constante evolução, que integra diferentes áreas, além das diversas expertises do design, como marketing, estratégia e tecnologia e stakeholders em modo holístico, com o intuito de atender às necessidades dos usuários e ir além, despertar experiências agradáveis ou, quem sabe, encantar o consumidor. Neste capítulo, você será introduzido aos conceitos do design de serviço e serviço, identificando suas características inerentes e os princípios associados ao seu desenvolvimento. Também aprenderá um pouco da história do design de serviços e a revolução do setor de serviços na sociedade. Além disso, ao contextualizar o serviço na perspectiva do marketing, verá os elementos que compõem um serviço e o papel da paisagem de serviço na percepção de qualidade e satisfação do consumidor. Por fim, será reforçada a importância do design de serviço para as organizações e usuários. Vamos começar? 10 Design de Serviços 2 O QUE É DESIGN DE SERVIÇOS? O design de serviço não é uma nova disciplina de design especializado. É um campo que permite e encoraja o trabalho conjunto de competências de diferentes áreas. Integra vários campos de especialização, focado em criar experiências para o usuário final. No entanto, ao mesmo tempo, no centro da empresa, há uma oferta específica projetada para abordar os vários desafios de projeto na economia de serviços em expansão (MORITZ, 2009). Como integrador, o design de serviço examina todas as atividades, a infraestrutura, a comunicação, as pessoas e os componentes materiais envolvidos no serviço para melhorar a qualidade do serviço e as interações entre o provedor do serviço e seus clientes (THE INTERACTION DESIGN FOUNDATION, 2018). Portanto, é uma atividade fundamentalmente interdisciplinar e multifuncional (MORITZ, 2009; SACO; GONÇALVES, 2010). Baseando-se na sensibilidade do designer, ele incorpora elementos e ferramentas de vários domínios para atingir vários objetivos: satisfação ou apreciação do cliente, satisfação do designer ou senso de realização, resolução de problemas, sustentabilidade econômica e ambiental e beleza prática (“beleza que funciona”) (SACO; GONÇALVES, 2010). O design de serviço aborda a funcionalidade e a forma dos serviços a partir da perspectiva do usuário. O objetivo é garantir que as interfaces de serviço sejam úteis, utilizáveis e desejáveis do ponto de vista do cliente e sejam eficazes, eficientes e distintas do ponto de vista do fornecedor (MAGER,2009). O design de serviço é o design da experiência geral de um serviço, bem como o design do processo e da estratégia para fornecer esse ser- viço. Trata-se de entender o cliente, a organização e o mercado, desen- volver ideias, traduzi-las em soluções viáveis e ajudar a implementá-las (MORITZ, 2009). Contudo, mantém a tradição de métodos de concep- ção analíticas e criativas comprovadas pelo design de produto e design de interface para o mundo da prestação de serviços (MAGER, 2009). Uma vez que os serviços são intangíveis, difíceis de padronizar e são coproduzidos ao mesmo tempo em que são entregues/ consumidos, o ponto de partida central da abordagem de design de serviços precisa estar focado no ser humano. É preciso envolver os corações e mentes das pessoas para projetar design de serviços que sejam populares e bem-sucedidos (VAN DIJK, 2014). O design de serviço aborda a funcionalidade e a forma dos serviços a partir da perspectiva do usuário. O objetivo é garantir que as interfaces de serviço sejam úteis, utilizáveis e desejáveis do ponto de vista do cliente e sejam eficazes, eficientes e distintas do ponto de vista do fornecedor (MAGER, 2009). 11 Design de Serviços Capítulo 1 Designers de serviços mergulham profundamente nas ecologias de serviços, no mundo de necessidades e experiências de usuários e fornecedores. Eles visualizam, formulam e coreografam soluções para problemas que não existem necessariamente hoje; eles observam e interpretam os requisitos e os padrões de comportamento e os transformam em possíveis serviços futuros. Ao fazê-lo, eles unem perspectivas de negócios, tecnologia e design (MAGER, 2009). O objetivo do design de serviços é formular estratégias de front office e back office que atendam às necessidades dos clientes da maneira mais relevante, enquanto permanecem econômicas (ou sustentáveis) para o provedor de serviços, sendo usado tanto para criar novos serviços e melhorar o desempenho dos serviços existentes (THE INTERACTION DESIGN FOUNDATION, 2018). Front office ou linha de frente é um termo que designa as atividades de uma empresa que tem contato direto com os clientes. Por exemplo, as operações de gestão externa. Back office ou “bastidores” é o que denomina as operações de gestão interna de uma loja virtual, as quais requerem pouco ou nenhum contato com os clientes. É importante enfatizar que o envolvimento do design de serviços atua de forma contínua e oferece evolução contínua, uma vez que os serviços mudam constantemente (MORITZ, 2009). As diretrizes básicas do design de serviço (MAGER, 2009): • Um bom design está ligado a uma boa estratégia. • Concentre-se no benefício do cliente. • Aprofunde-se no mundo dos clientes. • Veja a figura como um todo. • Projete uma experiência. • Crie evidências perceptíveis. • Prepare-se para dar um show (e seja aplaudido de pé). • Defina padrões flexíveis. • Tenha um produto vivo. • Seja entusiasta. 12 Design de Serviços Algumas diretrizes básicas sobre design de serviço devem criar uma primeira estrutura simples e compreensível para esse campo de design inovador, sendo úteis como primeiro acesso a este campo (MAGER, 2009): • Um bom design está ligado a uma boa estratégia. Se o projeto de serviço deve ser usado de maneira substancial e não decorativa, ele deve estar conectado às estratégias de negócios, coerente com as decisões fundamentais de posicionamento e gerenciamento de portfólio. • Concentre-se no benefício do cliente. Repensar a organização pode fazer parte dos processos de design de serviços, a fim de criar estruturas e processos focados na entrega de benefícios a um cliente. É uma mudança radical de perspectiva: os provedores de serviço precisam encarar os ‘bastidores’ da execução do serviço e adotar uma nova forma de se pensar e fazer as atividades. • Aprofunde-se no mundo dos clientes. Muitas vezes, o conhecimento sobre o cliente está muito enraizado em dados passados e guardado em planilhas do Excel. O design de serviço explora em profundidade o mundo vívido de emoções e experiências, lê em observações e ajuda as pessoas a visualizarem e descreverem mais sobre seus próprios desejos. • Veja a figura como um todo. A experiência de serviço pode começar muito antes do cliente entrar em contato com o fornecedor, e a experiência não termina com o “tchau”. Os serviços estão incorporados em sistemas maiores de relacionamentos e interações. É preciso investigar as mudanças que os usuários passam ao longo da duração do relacionamento. • Projete uma experiência. As condições que permitem certas experiências são um grande desafio no processo de design de serviço. Conheça bem seu cliente e use técnicas que tenham suas raízes nas artes cênicas, por exemplo. Tenha em mente o desafio de não simplesmente entregar o serviço, mas de encantar o usuário. • Crie evidências perceptíveis. Tornar o invisível visível e o ainda não existente perceptível é uma contribuição do design de serviço. O serviço invisível precisa ser transformado em evidência perceptível ao longo dos pontos de contato da experiência de serviço. • Prepare-se para dar um show. Em grande parte dos serviços, o sucesso depende das pessoas. Então, o desempenho do serviço precisa ser apoiado por uma configuração projetada que atenda às necessidades dos “atores”. Isso pode exigir um grande esforço nas etapas de recrutamento, desenvolvimento, capacitação e avaliação de pessoas. • Defina padrões flexíveis. Uma padronização de 100% não é aplicável a serviços, não podemos tornar a equipe provedora dos serviços em robôs. O equilíbrio certo de padronização e flexibilidade precisa ser definido, considerando o tipo de serviço que está sendo projetado. 13 Design de Serviços Capítulo 1 • Tenha um produto vivo. Os serviços precisam ser projetados para constante aprendizado e desenvolvimento; abertos para clientes, funcionários e ambientes que fazem parte do sistema de serviços. • Seja entusiasta. Qual ambiente de serviços você proporciona para seus colaboradores e demais envolvidos? A cultura corporativa tem um impacto importante na qualidade do serviço prestado. Uma observação atenta da cultura existente e um suporte de mudança cultural é parte do processo de design. Com base nas definições abordadas, algumas características do design de serviço são importantes de endossar: é uma abordagem centrada no ser humano, que enfoca a experiência do cliente e a qualidade do atendimento; é uma prática holística, envolvendo todas as partes interessadas no processo; é um campo multidisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes setores da empresa, é um processo sistemático e iterativo, depende de um planejamento que não apresenta etapas lineares e, sim, que avançam e retrocedem até obter o melhor resultado para cada etapa. Por fim, destaca-se como parte de uma educação de design inovadora e tem credibilidade no ensino, pesquisa e prática em todo o mundo (MAGER, 2009). Tendo em mente esses conceitos, na sequência, conheça um pouco da história do design de serviços. 2.1 COMO SURGIU O DESIGN DE SERVIÇOS Apesar do seu ‘boom’ recente, o design de serviços vem sendo usado desde os anos 1970 para descrever tanto os atributos do sistema de entrega de serviços quanto o processo que determina esses atributos. No entanto, a partir de seu foco em eficiência e tecnologia, a visão do design do serviço proveniente da gestão de operações é consideravelmente diferente da abordagem orientada pelo design que se tornou padrão nos dias de hoje (BLACKMON, 2014). A partir da visão da gestão de operações do serviço, com foco na gestão e melhoria dos processos produtivos de serviços, o foco estava unicamente na eficiência, assim, a abordagem de “linha de produção” usada para produtos, também foi adotada nos serviços. Dessa forma, os princípios que regiam nesse período eram a divisão de trabalho, a padronização deprocessos, os insumos e resultados e a especialização de serviços, com foco máximo em eficiência. 14 Design de Serviços Contudo, em 1978, surgiu na Escola de Administração de Harvard um novo conceito para design de serviços, usado para descrever a elaboração dos detalhes relacionados a pessoas, tecnologias, práticas e processos para obter um certo nível de desempenho de serviços. Nele os fatores humanos dos funcionários e clientes passaram a ser vistos como elementos do serviço que precisam ser controlados, padronizados ou até mesmo eliminados (como no caso dos serviços eletrônicos e outros meios de mediação tecnológica). Diante dessa perspectiva de design, os princípios passaram a considerar o usuário como centro do processo, para garantir variabilidade na oferta do serviço e experiência (BLACKMON, 2014). A partir de então, a preocupação com a oferta e a manutenção de serviços de qualidade para clientes e consumidores é uma constante para os gestores de empresas e todos os demais envolvidos na implementação de um serviço, independente de qual serviço seja, desde um corte de cabelo por um cabeleireiro autônomo, uma abertura de conta em estabelecimento bancário até a escolha de um curso superior em universidade ou o pacote de viagem dos sonhos em uma agência de turismo. Com o nascimento do termo “Design de Serviços”, essa temática ganhou destaque na comunidade acadêmica e no mercado, sendo disseminado em diversos países. Em 1982, o termo Design de Serviço foi criado por Lynn Shostack, com o intuito de que toda empresa deveria desenvolver um planeja- mento de serviço para apresentar e detalhar os processos e como cada parte envolvida interagiria com os demais. No entanto, o documento que é reconhecido por ter primeiro reunido os termos Serviço e Design é o “Designing Services” (Serviços de Design), fornecido por G. Lynn Shostack na Harvard Business Review em 1984. No artigo, Shostack (1984) argumenta que diante de problemas de serviço, tendemos a nos tornar um pouco paranoicos, pois os clientes estão convencidos de que alguém está os tratando mal; os gerentes pensam que os empregados ‘teimosos’ são a fonte do mau funcionamento. Nesse conflito, ameaças veladas por clientes e gerentes são, muitas vezes, as primeiras tenta- tivas de solucionar o problema, porém, mesmo que os serviços falhem por causa da incompetência humana, a abordagem dessa meta obscurece a causa intrínse- ca: a falta de método sistemático para design e controle (SHOSTACK, 1984). Em 1991, o Prof. Dr. Michael Erlhoff (da Köhn International School of Design - KSID) propôs que o design de serviços fosse considerado uma disciplina de design. Ele formaria um conglomerado internacional de universidades que oferecesse educação em design de serviços e uma rede para acadêmicos e profissionais envolvidos na disciplina. Em 1982, o termo Design de Serviço foi criado por Lynn Shostack, com o intuito de que toda empresa deveria desenvolver um planejamento de serviço para apresentar e detalhar os processos e como cada parte envolvida interagiria com os demais. 15 Design de Serviços Capítulo 1 Assim, em 1995, Birgit Mager tornou-se a primeira professora de Design de Serviços e suas palestras, publicações e projetos têm apoiado continuamente o reconhecimento dos aspectos imateriais do design. Em 2001, a Live/Work, de Londres, lançou a primeira consultoria em Service Design, e em 2002 a IDEO (A Design and Innovation Consulting Firm - Consultoria Internacional de Design) também passou a oferecer esse serviço. Em 2004, Birgit Mager estabeleceu o Service Design Network (SDN), uma instituição especialista em Design de Serviços. Saiba mais sobre a SDN em: <https://www.service-design- network.org/>. Uma vez que o design de serviços é crucial para as organizações que querem inovar e melhorar suas estratégias de serviço e as experiências do usuário, a SDN é a plataforma para conectar as pessoas e as empresas a designers de serviço apaixonados, agências e universidades e a curiosos inovadores que adotam e aplicam essa abordagem para o melhor de suas organizações e para as pessoas (SDN, 2018). É importante destacar que o Design de Serviços deve sua ori- gem às consultorias de design americanas e britânicas, especialmen- te a IDEO, e instituições públicas na Inglaterra e na Alemanha, como o Conselho de Design do Reino Unido e Live/Work em Londres, e KISD em Colônia (SACO; GONÇALVES, 2008). IDEO: é uma empresa de design global e consultoria em inova- ção, fundada em Palo Alto, Califórnia, em 1991 <https://www.ideo. com/>. É formada por uma comunidade de designers, empresários, engenheiros, professores, pesquisadores e muito mais. Seus valores e crenças compartilhados influenciam o trabalho que fazem e o im- pacto que esperam alcançar. Como crenças da organização, tem-se: todo mundo é criativo; as organizações criativas são mais ágeis; pro- blemas complexos são melhor resolvidos colaborativamente; a inova- https://pt.wikipedia.org/wiki/Palo_Alto https://www.ideo.com/ https://www.ideo.com/ 16 Design de Serviços ção começa com as pessoas, e; a tecnologia se move rapidamente, as necessidades humanas mudam lentamente. Como pioneira do de- sign centrado no ser humano, a IDEO mantém as pessoas no centro do trabalho. É um princípio fundamental do pensamento de design e, mesmo que os métodos evoluam em resposta a novos e complexos desafios, está sempre projetando soluções primeiro para as pessoas. Conselho de Design (no original, Design Council - <https://www. designcouncil.org.uk>): foi criado pelo governo de Winston Churchill em dezembro de 1944 para apoiar a recuperação econômica da Grã- -Bretanha. O Conselho tem como objetivo inspirar o design thinking, incentivar o debate público e informar a política do governo. Por meio desta atividade, baseia-se nos sucessos do passado para melhorar a vida cotidiana hoje e ajudar a enfrentar os desafios do amanhã. A visão da organização é um mundo onde o papel e o valor do design são reconhecidos como um criador fundamental de valor, permitindo vidas mais felizes, saudáveis e seguras para todos. Por meio do poder do design, os profissionais envolvidos criam melhores condições, melhores produtos, melhores processos e obtêm melhor desempenho. A equipe do Design Council trabalha com a entrega de programas, pesquisa, políticas, comunicações e serviços corporati- vos para atingir o objetivo de fornecer design com propósito para be- nefício público. Live/Work <http://www.liveworkstudio.com.br>: a primeira con- sultoria do mundo a trabalhar com o design de serviços. Já realizou mais de 1.500 projetos nos cinco continentes para organizações de todos os portes e setores da economia. Seus trabalhos possuem um valor em comum: a paixão por ajudar os clientes a encontrarem mo- delos mais humanos, inteligentes e sustentáveis de atuação. No começo de 2010, a Live/Work anunciou sua operação no Brasil a partir de São Paulo, no terceiro estúdio após o de Londres e Oslo. Como escopo, a empresa ajuda organizações a lançarem e melhorarem serviços para que possam proporcionar uma melhor experiência aos seus consumidores e sejam devidamente presta- dos por sua linha de frente. A partir de pesquisas em design, a equipe fornece insights baseados em comportamentos, preferências e expe- riência dos consumidores, para, a partir disso, ser capaz de analisar o mercado, a situação do negócio e o impacto potencial do projeto em andamento. Por fim, desenvolvem-se estratégias de serviço para que sejam testadas com clientes e a linha de frente do negócio antes https://www.designcouncil.org.uk/ https://www.designcouncil.org.uk/ 17 Design de Serviços Capítulo 1 de serem implementadas, minimizando riscos e aumentando o po- tencial de sucesso. Escola Internacional de Design Köln (KISD - <https://kisd.de/ en/>) é um instituto pertencente à TH Köln, uma das maioresuniversi- dades estatais da Europa. Em 1991, essa faculdade adotou uma nova direção no estudo de design, que devido à orientação de projeto e à abolição das estruturas tradicionais, ofereceu aos alunos uma alterna- tiva única ao estudo de design. Em 2002, a área temática do design re- conheceu uma crescente orientação internacional quando foi transfor- mada em um instituto e integrada à Faculdade de Ciências Culturais. Desde então, tem sido um local de aprendizagem e pesquisa integrativo, interdisciplinar, internacional, bem como orientado para projetos e centrado no aluno, onde os alunos recebem uma grande autonomia para projetar seus estudos. Em todos os seus estudos, os alunos do KISD aprendem sobre as perspectivas de disciplinas rela- cionadas ao design. Estas incluem, entre outras: engenharia, mate- riais, economia, semiótica, sociologia, psicologia, cultura, bem como informação, mídia e comunicação. A KISD oferece um ambiente ex- clusivo de aprendizagem e pesquisa orientado para projetos, com o objetivo de fortalecer os interesses individuais dos alunos. Portanto, todos os cursos de estudo do KISD podem ser descritos como inte- grativos, interdisciplinares e internacionais. Observe que o Design de Serviços surgiu quando se percebeu que alguns serviços apresentavam muitos problemas relacionados à qualidade, e como o design era utilizado para auxiliar no desenvolvimento de produtos, passou-se a utilizar a mesma ideia de aplicação para serviços (MORITZ, 2009). Contudo, ainda é um campo do conhecimento que carece de pesquisa e, sobretudo, da atenção das empresas para que estejam dispostas a adotar a perspectiva de gestão com base no cliente/consumidor e, dessa forma, encarar uma nova visão de inovação, melhorias nos processos, comunicação e de relacionamento com os consumidores. No entanto, por que o design de serviços ganhou tanta importância nos últimos anos? Veja no próximo item o papel dessa nova perspectiva no setor de serviços. https://kisd.de/en/ https://kisd.de/en/ 18 Design de Serviços Atividade de Estudos: 1 Como você pôde notar são diversos os atributos necessários para se fazer um design de serviço. O que você entendeu sobre o termo “centrado no usuário”? R.:_________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2 Quais são as diretrizes do design de serviço? Cite e descreva as quatro diretrizes que você considera fundamentais. R.:_________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2.2 A SUPREMACIA DO SERVIÇO Os serviços dominam a economia moderna na maioria das nações. À medida que as economias se desenvolvem, os serviços formam a maior parte de seu Produto Interno Bruto (PIB) (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). Em todo o mundo, empresas bem-sucedidas e inovadoras começam a perceber a necessidade de abordagens, métodos e estruturas específicas de serviços para explorar os potenciais do negócio de serviços e dão início a investimentos no desenvolvimento e design, criando novos departamentos e funções dentro de suas empresas, a fim de inovar continuamente suas ofertas de serviços (MAGER, 2009). Atualmente, os clientes desejam serviços com valor agregado, soluções abrangentes e experiências atraentes. Em um ambiente em rápida mutação, um desafio inevitável é oferecer continuamente serviços aprimorados ou totalmente novos, permanecendo sempre um passo à frente da concorrência e, ao mesmo tempo, atendendo exatamente às necessidades e expectativas dos clientes. É 19 Design de Serviços Capítulo 1 essencial identificar onde, quando e como um serviço pode se tornar mais valioso para provedores e compradores/usuários do serviço. Consequentemente, a maioria das organizações de serviços está se esforçando para desenvolver e projetar suas operações, ofertas, conceitos e marcas (OJASALO; OJASALO, 2009). Moritz (2009) considera que presenciamos uma ‘revolução de serviços’, que é impulsionada por quatro principais fatores: • A economia de serviços está crescendo. • O mercado de produtos está satisfeito, isto é, os produtos estão cada vez mais similares. • A tecnologia favorece o setor de serviços, as mudanças tecnológicas abrem novas possibilidades para as empresas. • Os seres humanos têm necessidades e expectativas individuais que não podem ser padronizadas. O setor de serviços inclui, por exemplo, salões de beleza, imobiliárias, oficinas mecânicas, escritórios de advocacia, restaurantes, agências de turismo, companhias aéreas e hotéis, empresas de transporte coletivo, empresas de consultoria e assessoria, a provisão de conhecimento e educação por professores e especialistas, atividades de reparos e de manutenção de equipamentos, entre outros. Nota-se a amplitude dos serviços. No entanto, apenas algumas empresas prestam atenção especial aos serviços que prestam para torná-los verdadeiramente excepcionais (MORITZ, 2009). No Brasil, o setor de serviços é composto de uma grande variedade de atividades que, com a mudança do comportamento das pessoas, modificam algumas atividades, excluem ou acrescentam novas. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) desenvolve a Pesquisa Anual de Serviços que levanta dados econômicos financeiros para conhecer detalhadamente o setor de serviços. Saiba mais em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/ servicos/9028-pesquisa-anual-de-servicos.html?=&t=o-que-e>. É essencial identificar onde, quando e como um serviço pode se tornar mais valioso para provedores e compradores/ usuários do serviço. Consequentemente, a maioria das organizações de serviços está se esforçando para desenvolver e projetar suas operações, ofertas, conceitos e marcas (OJASALO; OJASALO, 2009). https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/servicos/9028-pesquisa-anual-de-servicos.html?=&t=o-que-e https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/servicos/9028-pesquisa-anual-de-servicos.html?=&t=o-que-e 20 Design de Serviços A pesquisa investiga empresas que atuam nos seguintes setores de serviços empresariais: serviços prestados principalmente às famílias; serviços de informação e comunicação; serviços profissionais, administrativos e complementares; transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio; atividades imobiliárias e serviços de manutenção e reparação, além de outras atividades de serviços (IBGE, 2018). Veja no Quadro 1 as atividades nos sete subsetores de serviços: QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE SERVIÇOS Subsetores Atividades Serviços prestados principalmente às famílias Serviços de alojamento Serviços de alimentação Atividades culturais, recreativas e esportivas Serviços pessoais Atividades de ensino continuado Serviços de informação e comunicação Telecomunicações Tecnologia da informação Serviços audiovisuais Edição e edição integrada à impressão Agências de notícias e outros serviços de informação Serviços profissionais, administrativos e complementares Serviços técnico-profissionais Aluguéis não imobiliários e gestão de ativos intangíveis não financeiros Seleção, agenciamento e locação de mão de obra Agências de viagens, operadores turísticos e outros serviços de turismo Serviços de investigação, vigilância, segurança e transporte de valores Serviços para edifícios e atividades paisagísticas Serviços de escritório e apoio administrativo Outros serviços prestados principalmente às empresas Transportes,serviços auxiliares aos transportes e correio Transporte e serviços auxiliares aos transportes Transporte ferroviário e metroferroviário Transporte rodoviário Transporte rodoviário de passageiros Transporte rodoviário de cargas Transporte dutoviário Transporte aquaviário Transporte aéreo Armazenamento e atividades auxiliares aos transportes Correio e outras atividades de entrega 21 Design de Serviços Capítulo 1 Atividades imobiliárias Compra, venda e aluguel de imóveis próprios Intermediação na compra, venda e aluguel de imóveis Serviços de manutenção e reparação Manutenção e reparação de veículos automotores Manutenção e reparação de equipamentos de informática e comunicação Manutenção e reparação de objetos pessoais e domésticos Outras atividades de serviços Serviços auxiliares da agricultura, pecuária e produção florestal Serviços auxiliares financeiros, dos seguros e da previdência complementar Esgoto, coleta, tratamento e disposição de resíduos e recuperação de materiais FONTE: IBGE - Classificação proposta para a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) (2018) Diante da quantidade de atividades levantadas, torna-se mais claro o papel que o setor desempenha na economia e na rotina da população e, para tornar os serviços mais produtivos, eficientes e eficazes para as organizações e mais satisfatórios, úteis, utilizáveis e desejáveis para os clientes, eles precisam ser projetados. O design de serviços é um campo que faz exatamente isso. Fornece o conhecimento e as ferramentas necessárias para projetar serviços e, além disso, realiza pesquisas para abordar os recursos exclusivos dos serviços (MORITZ, 2009). Como prática complexa e dinâmica, o design de serviços precisa de equipe multidisciplinar, a adoção da arquitetura de design aberto, o uso de protótipos como ferramenta de diálogo e aprendizagem e a integração de benefícios funcionais e emocionais (SACO; GONÇALVES, 2010). A prática emergente de design de serviços é bastante complexa e dinâmica (SACO; GONÇALVES, 2010). Dessa forma, é importante considerar algumas lições para os profissionais de design de serviços: • Trabalho em equipe multidisciplinar: para causar um impacto significati- vo, os profissionais de design de serviços devem olhar para ecossistemas inteiros, e não para problemas isolados. A complexidade de fazer isso re- quer uma visão holística que une os profissionais em todas as disciplinas. • Prototipagem como veículo de diálogo: os protótipos devem ser trans- parentes para todos os atores durante as fases do processo de design. No projeto de serviço, os praticantes devem disponibilizar protótipos para discussão e diálogo, tanto internamente com relação ao trabalho em equi- pe quanto externamente com relação aos clientes, para expor todas as características do serviço e prever falhas e possíveis soluções. Como prática complexa e dinâmica, o design de serviços precisa de equipe multidisciplinar, a adoção da arquitetura de design aberto, o uso de protótipos como ferramenta de diálogo e aprendizagem e a integração de benefícios funcionais e emocionais (SACO; GONÇALVES, 2010). 22 Design de Serviços • Arquitetura de design aberto: o fato de o serviço ser fornecido por meio de pontos de contato com o usuário que evoluem com o tempo torna im- portante que os profissionais desenvolvam soluções abertas que permitam melhorias e mudanças graduais, ou seja, as soluções projetadas precisam ser altamente adaptáveis ao longo do tempo. • Integração entre benefícios funcionais e emocionais: é importante pro- jetar benefícios funcionais e emocionais em diferentes pontos de contato e relacionar o design à marca e ao serviço da empresa. Isso implica que os profissionais precisam entender a estratégia da marca e conhecer a fundo os usuários do serviço, para possibilitar múltiplos benefícios ao longo da entrega do serviço. A oportunidade para o design de serviços é abordar esses direcionadores, entre outros, e apoiar o mercado de serviços com conceitos novos, reinventar padrões de serviços pouco funcionais e que não agregam valor ao usuário. A vantagem competitiva sustentável das organizações está nos bons serviços projetados. Entretanto, antes de você aprofundar seu conhecimento na abordagem do design de serviços, é preciso entender melhor o que é um serviço e quais são as suas principais características, assunto da próxima leitura. Atividade de Estudo: 1 O que você entende por “revolução dos serviços”? R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 2 Reflita sobre o seu dia a dia e cite os serviços presentes na sua rotina. Eles satisfazem suas expectativas? Sim? Não? Por quê? R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 23 Design de Serviços Capítulo 1 3 O QUE É SERVIÇO? Serviços são uma série de interações entre os usuários e o sistema do serviço, por meio de muitos pontos de contato diferentes ao longo da jornada do usuário (CLATWORTHY, 2014). Geralmente baseados no tempo, o desempenho do serviço traz a seus destinatários os resultados desejados, objetivos ou outros ativos pelos quais os compradores têm responsabilidade. Enfatiza-se que os compradores adquirem serviços porque buscam por resultados desejados e, embora os consumidores esperem valor de suas compras de serviços em troca de dinheiro, tempo e esforço, esse valor advém do acesso a uma variedade de elementos geradores de valor em vez da transferência de propriedade (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). Por ser a única maneira em que os usuários se relacionam com os seus serviços, espera-se que as interações tivessem um papel central para todos os provedores de serviços (CLATWORTHY, 2014). Nesse sentido, é necessária a incorporação de diferentes setores da empresa, como é o caso do marketing, que assume maior papel na relação com o consumidor. O marketing lida com organizações criando e construindo relacionamentos com clientes para cocriar valor; já o design se propõe a colocar os stakeholders no centro do design de serviços e, de preferência, cocriar um codesign com eles. Para o marketing de serviços, tem-se primordialmente a preocupação em identificar clientes e, então, iniciar e manter relacionamentos com eles de um modo que agregue valor tanto para os clientes quanto para as organizações. Assim, os estudiosos e os profissionais de marketing desenvolveram ferramentas e conceitos, entre eles blueprints, evidências de serviço e um foco no acontecimento de serviço, com uma visão moldada pela solução de problemas. Os designers utilizam essas ferramentas e desenvolvem outras em um entendimento iterativo do processo, que muitas vezes estão focadas nas experiências individuais dos usuários como um modo de desenvolver o design de serviços e estar aberto ao acaso e aos fatores de surpresa (KIMBELL, 2014). A literatura de marketing, a partir de um levantamento de pesquisas existentes, estabelece quatro características para os serviços: intangibi- lidade, inseparabilidade, heterogeneidade e perecibilidade (ZEITHAML; PARASURAMAN; BERRY, 1985; HOFFMAN; BATESON, 2008). Serviços são uma série de interações entre os usuários e o sistema do serviço, por meio de muitos pontos de contato diferentes ao longo da jornada do usuário (CLATWORTHY, 2014). O marketing lida com organizações criando e construindo relacionamentos com clientes para cocriar valor; já o design se propõe a colocaros stakeholders no centro do design de serviços e, de preferência, cocriar um codesign com eles. 24 Design de Serviços A intangibilidade significa que falta aos serviços a substância física. Eles não podem ser vistos antes da compra ou sido “levados para casa”. O que traz dificuldades em comunicar os serviços a clientes, estabelecer preços e armazenar para uso futuro, contudo, é a intangibilidade, que geralmente domina a criação de valor (HOFFMAN; BATESON, 2008). O desafio é encontrar maneiras para criar manifestações tangíveis e representações que comunicam o valor do serviço (MORITZ, 2009). A inseparabilidade reflete a interconexão entre os usuários e os provedores de serviços, os clientes estão diretamente envolvidos na produção do serviço. O desafio é que o envolvimento dos clientes não pode ser planejado ou preparado nos serviços (MORITZ, 2009). A heterogeneidade diz respeito à variabilidade, característica do processo de entrega de serviço, pois os insumos, os recursos e os produtos operacionais tendem a ter maior variação, o que dificulta a padronização, a consistência, a confiabilidade e o controle de qualidade do serviço ao longo do tempo (HOFFMAN; BATESON, 2008). A perecibilidade enfatiza o fato de que os serviços não podem ser armazenados nem estocados, por exemplo, o assento em um avião perde seu valor uma vez que o avião partiu, ou se houver superlotação, os clientes podem ficar na ‘lista de espera’ ou até serem recusados (HOFFMAN; BATESON, 2008). A maioria dos serviços é usada no local, não é transportada nem exportável. Serviços são usados em vez de propriedade. Desse modo, o grande desafio nessa questão é alcançar o equilíbrio entre oferta e demanda. Enfatiza-se que essas características não são generalizáveis para todos os serviços. Contudo, essas características oferecem grande evidência de que as partes visíveis e não visíveis da organização, o pessoal de atendimento, o ambiente físico e os clientes estão associados em um conjunto complexo de relacionamento. Embora o debate acerca do que constitui um serviço continue, pesquisadores também vêm se concentrando nos aspectos específicos do serviço. Eles começaram a afastar-se da ênfase tradicional do marketing na precificação e nas transações, aproximando-se de um entendimento mais detalhado dos processos pelos quais os clientes individuais interagem com empresas. 25 Design de Serviços Capítulo 1 Um exemplo dessas mudanças foi o acréscimo de três fatores adicionais aos “4 Ps” clássicos do mix de marketing de produto, pre- ço, promoção e praça: pessoas (os atores humanos envolvidos no encontro de serviço), processos (procedimentos, mecanismos e flu- xos de atividades) e evidências físicas (do inglês, physical evidence, as cercanias físicas e pistas tangíveis) (BOOMS; BITNER, 1981). Para aplicar o conceito dos 7 Ps é preciso considerar os serviços como consistindo de um produto principal que atende à necessidade básica dos consumidores e mais um leque de elementos de serviço suplementar que reforce mutuamente as melhorias de valor agregado que ajudarão os clientes a usarem o produto principal de forma mais eficaz (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). De forma resumida, os Ps recebem novas características, como: • Elementos de produto incluem mais do que elementos principais e, sim, elementos suplementares. • Elementos de lugar e hora referem-se à entrega dos elementos de produtos ao cliente, que pode ser eletronicamente e na hora que o cliente solicitar. • Preço inclui custos não monetários ao consumidor. Lembre-se de que é uma experiência, ou seja, possui forte subjetividade. • Promoção, além do aspecto promocional e publicitário, é tida como uma forma de comunicação e educação, orientando os clientes ao longo do processo do serviço. • Processo refere-se ao planejamento e ao gerenciamento dos processos de atendimento ao cliente, incluindo a gestão da demanda e da capacidade produtiva e as possíveis esperas de clientes. • Ambiente físico provê evidências tangíveis da imagem e da qualidade do serviço, reduzindo a percepção de risco e incerteza do usuário e facilitando a entrega final. • Pessoas, como normalmente os serviços são feitos por pessoas, esse elemento abrange o recrutamento, o treinamento e a motivação dos colaboradores envolvidos na oferta do serviço. Além dos quatro atributos intrínsecos dos serviços, outros fatores-chave sumarizam as características únicas dos serviços. Essas características representam parte dos desafios intrínsecos do design de serviços (MORITZ, 2009; LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011): 26 Design de Serviços • Os serviços são experiências complexas: serviços ocorrem ao longo do tempo e por diversos pontos de contatos. Cada serviço é percebido de maneira diferente por diferentes consumidores. A interface geral e a experiência conectada são uma combinação das experiências de todos os pontos de contato. • A qualidade do serviço é difícil de mensurar: é uma medida qualitativa, assim, há ampla variabilidade na avaliação e, por consequência, é mais difícil de controlar a qualidade. • Serviços são normalmente difíceis de visualizar e compreender, os clientes percebem maior risco e incerteza. Imagine que precisa de um tratamento estético ou médico e você precisa decidir qual clínica/ profissional escolher? Essa é uma decisão muito importante, então, normalmente, é necessário fazer pesquisas, consultar opiniões de terceiros, avaliar a reputação do provedor do serviço, entre outras etapas, até finalmente se decidir. • Os clientes podem ser envolvidos na coprodução e, além disso, podem fazer parte da experiência do serviço. De forma que a aparência, a atitude e o comportamento da equipe de atendimento e dos clientes podem afetar na experiência e na satisfação. • O fator tempo geralmente assume grande importância, pois os clientes têm exigências específicas e não gostam de esperar ou perder tempo. • A distribuição pode ocorrer por meio de canais não físicos, por exemplo, um curso EAD que disponibiliza as informações por meios eletrônicos. Essas diferenças não se aplicam a todos os serviços, mas são guias úteis para direcionar a gestão de um serviço. Uma maneira de entender melhor os serviços - e o que os diferencia dos produtos - é examinar o que as pessoas obtêm dos serviços. Polaine, Lovlie e Reason (2013) desenvolveram uma maneira simples de entender os tipos genéricos de valor que os serviços oferecem aos clientes, catalogando todos os serviços que conhecemos e, em seguida, agrupando-os com relação a três valores principais: atendimento, acesso e resposta (Figura 1). A maioria dos serviços fornece aos clientes pelo menos um deles ou, frequentemente, uma mistura dos três. Os serviços são experiências complexas: serviços ocorrem ao longo do tempo e por diversos pontos de contatos. Cada serviço é percebido de maneira diferente por diferentes consumidores. 27 Design de Serviços Capítulo 1 FIGURA 1 – AS TRÊS ESFERAS PRINCIPAIS DA OFERTA DE SERVIÇOS FONTE: Adaptada de Polaine, Lovlie e Reason (2013) Para Polaine, Lovlie e Reason (2013), o elemento cuidado se refere a cuidar de uma pessoa, que é fornecido por uma ampla gama de serviços, desde creches, hospitais, até casas de repouso. Contadores, advogados e terapeutas prestam cuidados por dinheiro, liberdade e felicidade. O segundo elemento explora o fato de que muitos serviços permitem que as pessoas usem algo, ou parte de algo, temporariamente, por exemplo, o cinema fornece acesso a uma tela gigante, um assento confortável e mais de 90 minutos de entretenimento. Geralmente, os serviços para os quais o acesso é o principal valor são serviços que dão às pessoas acesso a coisas grandes, complexas ou caras, que elas não conseguiriam obter sozinhas. Outros tipos de serviços de acesso são aqueles que dão acesso à infraestrutura por muitos anos. Serviços públicos,como água, gás e eletricidade, são exemplos onipresentes no mundo desenvolvido, ou o acesso à informação, como o Google, que fornece acesso a um enorme banco de dados de pesquisas. A terceira categoria para Polaine, Lovlie e Reason (2013), são serviços que respondem às necessidades das pessoas (muitas vezes imprevistas). Esses serviços são geralmente uma mistura de pessoas e coisas que são capazes de ajudar: uma ambulância correndo para um acidente ou um assistente de loja a 28 Design de Serviços encontrar para um cliente a calça no tamanho certo. Às vezes, esses serviços de resposta são antecipados e as pessoas compram-lhes o direito antecipadamente através de apólices de seguro, bem-estar social ou simplesmente pela escolha da experiência de marca. Nesse sentido, os serviços de resposta são criados no momento em reação a uma solicitação. Os três valores principais do serviço se sobrepõem em muitas instâncias. Um serviço de saúde oferece atendimento em nível pessoal, mas também acesso a uma instalação hospitalar, se necessário. Também transportará um paciente em uma ambulância, se necessário. Não é tanto que qualquer serviço se encaixe apenas em uma categoria, mas que o serviço tenha valores centrais diferentes em momentos diferentes (POLAINE; LOVLIE; REASON, 2013). Você notou a quantidade de particularidades de um serviço? Além disso, os novos padrões de consumo demandam serviços inéditos e personalizados? Que setor instigante, não acha? São muitas as variáveis que afetam direta e indiretamente a oferta de um serviço e, nesse intuito, o design de serviços trabalha para integrar todas as partes envolvidas, mapeando, criando, modificando, inovando processos de serviços por meio de métodos e ferramentas diversas. Ainda tem mais, veja no item seguinte a ‘divisão’ do serviço para ter uma visão das etapas e de como agregar valor ao usuário por meio de cada uma. 3.1 FLOR DE SERVIÇO: SERVIÇO PRINCIPAL E SUPLEMENTAR Para entender melhor a natureza dos serviços, vale a pena distinguir entre seu produto principal e os elementos suplementares, que facilitam o uso e realçam seu valor para os clientes. Projetar novos serviços, ou mesmo reinventar os antigos, é uma tarefa complexa que demanda compreender como os serviços principais e os suplementares devem ser combinados, sequenciados, entregues e programados para criar uma proposição de valor que atenda às necessidades do nicho-alvo (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). Como já foi dito, serviços são atos e desempenhos experimentados, e não possuídos. Mesmo quando há elementos físicos que o cliente adquire, como uma refeição que você consumiu, uma costura feita na sua calça, uma peça reposta no seu notebook, uma parte significativa do preço refere-se ao valor agregado pelos elementos de serviço que os acompanham. 29 Design de Serviços Capítulo 1 Pensando nisso, Lovelock, Wirtz e Hemzo (2011) propuseram que os serviços principais costumam compartilhar uma série de elementos suplementares, que podem ser: • Serviços suplementares facilitadores, necessários para a entrega ou para auxílio no uso do serviço principal. • Serviços suplementares realçadores, que agregam valor extra aos clientes. De forma geral, os serviços suplementares podem ser classificados em oito grupos, veja a Figura 2. FIGURA 2 – FLOR DE SERVIÇO: RELAÇÃO DO SERVIÇO PRINCIPAL COM OS SUPLEMENTARES FONTE: Lovelock, Wirtz e Hemzo (2011, p. 31) A leitura das pétalas acontece em sentido horário e estão dispostas em uma sequência previsível, apesar de que não se pode generalizar para todos os tipos de serviços. Entenda melhor cada um dos elementos: 30 Design de Serviços Serviços suplementares facilitadores: • Informação: refere-se às informações disponibilizadas aos clientes, como: endereços, programação/horário de atendimento, preços, instruções de uso, avisos, confirmações, documentação, ingressos, recibos. Clientes novos e potenciais desconhecem o serviço e preci- sam de mais informações para reduzir o risco percebido. Os clientes também apreciam conselhos sobre como obter o máximo valor de um serviço e como evitar problemas. De forma geral, os clientes de- pendem das informações para estabelecer suas expectativas, ava- liar a qualidade e definir seu grau de informação. • Recebimento de pedidos: esse processo inclui preenchimento de cadastros e formulários, entrada do pedido e procedimentos de re- serva ou check-in. Por exemplo, a matrícula ou a inscrição em um curso e a reserva do hotel. Nessa etapa, as empresas também co- letam informações para controle fiscal e legal, endereços de entrega e fatura, bem como outras informações pessoais que possam ser usadas como base de um programa de relacionamento ou para a customização do serviço. • Cobrança: os procedimentos de cobrança ao cliente/consumidor vão desde informação verbal a máquinas que apresentam o preço e de faturas escritas a mão a elaborados extratos mensais de movi- mentação da conta e taxas. Os clientes esperam que as faturas se- jam claras, informativas e discriminativas para que evidencie tudo o que está sendo cobrado e como foi o cálculo total. A cobrança pode ser um dos fatores tangíveis do serviço, então sua apresentação precisa ser impecável. • Pagamento: existem diversas opções de pagamento, mas o que o cliente espera nessa etapa é facilidade e conveniência. Entre as alternativas tem-se o autosserviço (inserir cartão de pagamento/di- nheiro, transferência bancária), direto ao recebedor ou intermediário (manuseio de dinheiro ou cartão, resgate de cupom, fichas, compro- vantes) e dedução automática de depósitos financeiros (sistemas automatizados, como o “Sem parar” ou sistemas humanos, como cobradores de ônibus e de pedágio). Serviços suplementares que realçam o serviço principal: • Consulta: indo além da informação, que sugere uma simples res- posta às perguntas do cliente, a consulta envolve um diálogo para 31 Design de Serviços Capítulo 1 investigar as demandas dos consumidores e então desenvolver uma solução customizada. Pode ser, por exemplo, uma recomen- dação personalizada, um conselho pessoal, um tutorial específico ou técnica de uso. É um jeito próprio de prestação de serviços pela qual o cliente toma melhores decisões e aprende com o provedor da consulta. • Hospitalidade: diz respeito ao acolhimento caloroso ao cliente, receber bem as pessoas! Cortesia e consideração pelas neces- sidades do cliente aplicam-se em todos os momentos de contato pessoal ou não (via telefone, e-mail, chat) durante o processo de entrega do serviço. A hospitalidade inclui: cumprimentos, oferta de lanche e bebidas, transporte (quando aplicável), banheiros, salas de estar ou áreas de espera equipadas e com ambiente agradável, segurança. Esse fator tem grande peso na satisfação do cliente. • Salvaguarda: basicamente são serviços que têm a função de dar garantias ao usuário. Serviços de salvaguarda podem ser dividi- dos em dois grupos: 1) Cuidados com os pertences dos próprios clientes, como estacionamento, serviço de manobrista, chape- laria, cofres de segurança, manuseio de bagagem, assistência a crianças e animais de estimação; 2) Cuidados com mercadorias compradas (ou alugadas) por clientes, como transporte e entrega, embalagem, instalação, inspeção e diagnóstico, limpeza, manu- tenção preventiva, consertos e reformas. • Exceções: são serviços que saem da rotina, são impedimentos à padronização dos serviços. Assim, empresários atentos ante- cipam-se às expectativas e desenvolvem planos e diretrizes de contingência para preparar os funcionários para eventualidades e atender às especificidades dos clientes com eficácia. Exemplos de exceções são: restrições alimentares, necessidades médicas ou de pessoas portadoras de necessidades especiais, gerenciamento de reclamações/sugestões e elogios, resolver dificuldades causa- das por falhas de serviço ou acidentes,reembolsos e compensa- ção. Devido à alta segmentação dos consumidores, os serviços estão sendo direcionados para nichos e, nesse sentido, o que anti- gamente era tido como exceção, hoje não é mais. Por exemplo, as pessoas que têm alguma intolerância à lactose ou glúten, restrição alimentar que já está inclusa na maior parte dos cardápios de res- taurantes e supermercados. 32 Design de Serviços Você pode notar que a maioria dos serviços suplementares representam respostas às necessidades dos clientes, facilitando o uso do serviço com mais eficácia, de forma que qualquer elemento mal desempenhado afeta de forma negativa a percepção do cliente. A Flor de Serviço pode servir como um guia de verificação na busca por novos modos de ampliar serviços principais e projetar novas ofertas. Em setores maduros, em que o serviço principal tende a se tornar uma mercadoria comum, por exemplo academias de musculação, a busca por vantagem competitiva entre empresas geralmente está centrada em criar novos serviços suplementares ou melhorar o desempenho dos existentes (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). O que realmente importa é que, atualmente, um aspecto central do design de serviços é entender o valor e a natureza das relações entre pessoas e pessoas, entre pessoas e coisas, entre pessoas e organizações e entre organizações de diversos tipos. O estudo do marketing de serviços e o design de serviços têm se preocupado com essas questões por décadas e já́ contribuíram com alguns conceitos importantes (KIMBELL, 2014). Entretanto, em virtude das constantes mudanças tecnológicas, sociais, políticas, ambientais e culturais, o setor de serviços continuará a desafiar os profissionais na busca em atender às demandas, agregar valor e satisfação para o usuário. Atividade de Estudo: 1 Descreva o papel do setor de marketing e o de design dentro da organização em um processo de serviço. R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 2 Pela perspectiva do marketing, um serviço precisa de 7 Ps para desenvolver uma estratégia de mercado. Escolha um serviço, por exemplo, um restaurante, cite e descreva cada um dos Ps aplicados ao serviço escolhido. R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 33 Design de Serviços Capítulo 1 __________________________________________________ _________________________________________________. 3 Explique o que se quer dizer com serviço principal e serviços suplementares. R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 3.2 O AMBIENTE DE SERVIÇOS Nos itens anteriores você tomou conhecimento sobre as características dos serviços e os elementos que compõem a entrega de um serviço, mas outro fator que influencia muito a percepção do consumidor diz respeito ao local que acontece a entrega/consumo do serviço. O ambiente físico de serviço desempenha um importante papel na modelagem da experiência de serviço e na percepção da satisfação. Organizações de todos os tipos - hotéis, restaurantes, clínicas, escritórios - reconhecem que o ambiente de serviço é fundamental para a proposição de valor, pois os consumidores percebem os ambientes de serviços de maneira holística e as reações deles a um ambiente físico dependem de um conjunto de efeitos ou configurações (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). Holismo: a palavra holismo vem do grego holos, que significa todo. O holismo é uma corrente filosófica que defende a ideia de que os elementos de um sistema não podem ser compreendidos apenas pelas suas partes isoladas e que o todo é sempre maior do que a soma de suas partes constituintes. O holismo declara que qualquer sistema deve ser abordado como uma visão de totalidade, que busca integrar as partes dentro de um todo harmonioso. os consumidores percebem os ambientes de serviços de maneira holística e as reações deles a um ambiente físico dependem de um conjunto de efeitos ou configurações (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011). 34 Design de Serviços Mary Jo Bitner (1992) foi a primeira a integrar estudos empíricos e teorias da construção do ambiente da loja, criando o modelo denominado servicescape (união das palavras da língua inglesa - service, serviço e scape, a parte visível do ambiente), um conjunto de estímulos que é percebido de forma integral e comumente usado quando se desenvolvem ambientes de serviço. A autora defende que as dimensões da atmosfera criam um ambiente holístico, o qual é moderado pelas reações dos colaboradores e dos clientes, que criam respostas internas, como fatores cognitivos, emocionais e psicológicos. Essas respostas norteiam o comportamento, que pode ser de aproximação à loja/marca ou de rejeição. Além disso, propõe uma área de intersecção de interação social entre eles. Isso porque geralmente os serviços são comprados e consumidos simultaneamente, requerendo contato humano, nesse sentido, os empregados e os clientes interagem dentro do ambiente físico da loja, que deve suportar as necessidades e as preferências de ambos os públicos. Bitner (1992) considera o ambiente de serviço como uma visão geral percebida da empresa com base na evidência física, sendo de difícil precisão. Dessa forma, o modelo proposto tem três dimensões ambientais compondo o ambiente físico do serviço: • Condições do ambiente: considerando-se temperatura, iluminação, qualidade do ar, ruídos, músicas, aromas, entre outros fatores que afetam os sentidos do ser humano. • Espaço/Funcionalidade: ambientes de serviços existem para cumprir necessidades específicas dos consumidores, normalmente, por meio de uma completa e bem-sucedida ação do pessoal de contato da empresa. Assim, o layout do espaço é composto pela disposição dos equipamentos, móveis, artigos de decoração, formas, tamanhos e a organização entre eles. A funcionalidade se refere à habilidade desses itens para facilitar o desempenho e o cumprimento dos objetivos. O desgaste emocional de um cliente em uma loja é maior se a consecução da atividade a que se propôs é dificultada por um design inadequado. • Sinais, símbolos e objetos: são os sinais exibidos tanto interna quanto externamente no ambiente, como a forma de comunicação da empresa, a sinalização, artefatos pessoais, estilos de decoração e outros objetos que compõem o ambiente e que comunicam o estilo e dão certa expectativa para o cliente sobre o ambiente. A Figura 3 mostra as três dimensões da paisagem de serviço. A chave para o projeto efetivo é o ajuste de cada dimensão com as demais. O modelo apresenta moderadores para os clientes e para os funcionários, isso quer dizer que o mesmo ambiente de serviço causa efeitos diferentes em públicos diferentes, dependendo de quem são e das suas preferências pessoais. As respostas internas podem ser 35 Design de Serviços Capítulo 1 classificadas em cognitivas (crenças e a percepção de qualidade), emocionais (estado de humor, sentimentos despertados) e psicológicas (se causa dor ou conforto, por exemplo). As respostas comportamentais devem ser modeladas para do ponto de vista dos funcionários, facilitar o desempenho do trabalho e a produtividade e, pelo lado do cliente, estimular a compra/adesão ao serviço. FIGURA 3 – O MODELO DE PAISAGEM DE SERVIÇO PARA ENTENDER A RELAÇÃO AMBIENTE-USUÁRIO FONTE:Bitner (1992) Os provedores de serviços têm buscado cada vez mais transformar suas lojas e ambientes de oferta do serviço em cenários que conduzem os clientes a compras agradáveis e estimulantes, ou seja, ambientes planejados que criam ou reforçam a indução do consumidor à compra de um produto. Os gestores devem se diferenciar buscando satisfazer as necessidades de seus clientes melhor do que a concorrência. Nesse sentido, a atmosfera de loja pode ser explorada de inúmeras maneiras a fim de melhorar a experiência e a satisfação dos consumidores com o ambiente do varejo (DABHOLKAR; THORPE; RENTZ, 1996). Chamie, Ikeda e Parente (2012) afirmam que o cliente deve ser o centro dos negócios em qualquer empresa e, uma vez que os consumidores buscam constantemente por opções de lojas que lhe proporcionem certo prazer durante a compra e que apresentem boa relação custo/benefício, é preciso que o provedor de serviço esteja preparado para oferecer aos consumidores o que eles buscam. Os provedores de serviços têm buscado cada vez mais transformar suas lojas e ambientes de oferta do serviço em cenários que conduzem os clientes a compras agradáveis e estimulantes, ou seja, ambientes planejados que criam ou reforçam a indução do consumidor à compra de um produto. 36 Design de Serviços Considerando que a atmosfera de loja consiste em propriedades do am- biente de varejo que tem como finalidade criar um efeito durante o ato da compra, ela pode auxiliar na modelagem da direção e na duração da atenção que os clientes dispendem enquanto estão na loja. Pode ainda expressar a persona- lidade e a imagem da marca ao consumidor e causar reações emocionais que in- fluenciam a quantidade de tempo e de dinheiro a serem gastos durante a compra (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). A atmosfera do ambiente de serviço pode expressar a personalida- de e a imagem da marca ao consumidor e causar reações emocionais que influenciam a quantidade de tempo e de dinheiro a serem gastos (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Argumentos como esses demonstram a importância estratégica, para o design do serviço, da criação de uma atmosfera de loja con- dizente com o posicionamento da marca e com as necessidades e as expectativas do seu público, de modo que todos os elementos da loja, como design, música e iluminação, estejam orquestrados para que os clientes tenham a percepção esperada (BAKER; GREWAL; PARASU- RAMAN, 1994). Chamie, Ikeda e Parente (2012) ressaltam que a criação dessa atmosfera pode se tornar um importante elemento estratégico, difícil de ser copiado e um considerável meio para se obter vantagem competitiva. Assim, é preciso que a atmosfera da loja seja estrategicamente planeja- da e desenvolvida para que os consumidores possam, por meio desse am- biente, não apenas ter uma boa experiência durante a compra, mas captar o posicionamento e a essência da loja. Mattila e Wirtz (2001) argumentam que, ao perceber a atmosfera da loja de forma holística, as respostas dos consumidores a um ambiente físico dependem de efeitos em conjunto, fornecendo assim maior suporte empírico para a crença intuitiva de que, quando os estímulos no ambiente atuam em conjunto para pro- porcionar uma atmosfera congruente, o indivíduo reagirá de forma mais positiva, afetando inclusive o humor. Para Lovelock, Wirtz e Hemzo (2011), o ambiente de serviço e a atmosfera que o acompanha causam impacto no comportamento do comprador como um meio de criação de mensagem, usando indícios para comunicar ao público pre- tendido a natureza e a qualidade distintivas da experiência de serviço, reforçando seu posicionamento; como uma forma de despertar a atenção, principalmente, com relação aos concorrentes, e; como um meio de criação de efeito, como os sensoriais com o uso de cores, texturas, sabores, sons e aromas para realçar a experiência de serviço. A atmosfera do ambiente de serviço pode expressar a personalidade e a imagem da marca ao consumidor e causar reações emocionais que influenciam a quantidade de tempo e de dinheiro a serem gastos (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). 37 Design de Serviços Capítulo 1 Por fim, não podemos esquecer de mencionar que as plataformas digitais são essenciais para administrar um negócio, grande ou pequeno. Nesse sentido, a paisagem de serviço não é só no ambiente físico e, sim, no ambiente on-line. O cenário digital da era da informação criou facilitadores radicais para novos tipos de prestação de serviços. A prestação de serviços modernos é totalmente dependente de plataformas digitais. Hospitais e bancos não podem funcionar sem acesso eletrônico imediato a registros detalhados, as companhias aéreas não podem vender ingressos baratos sem algoritmos que equilibram constantemente a oferta e a demanda, e a maioria das pessoas não pode fazer muito sem a internet ou os telefones celulares (POLAINE; LOVLIE; REASON, 2013). A combinação de sistemas corporativos que armazenam e conectam grandes quantidades de dados com o acesso do consumidor em massa aos dados está transformando a maneira como as pessoas vivem o seu dia a dia. Ao mesmo tempo, a qualidade do serviço muitas vezes sofre devido à complexidade de vincular esses sistemas de uma maneira que faça sentido para os clientes. Essa combinação de oportunidades e problemas é a razão pela qual o design de serviços surgiu como uma abordagem de design específica. Atividade de Estudo: 1 Reflita sobre as últimas compras que você fez em ambiente de serviço. Quais foram os fatores do ambiente de serviço que você percebeu? Teve algum em específico que interferiu na sua compra ou não compra? Por quê? R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 2 Dê exemplos de marcas/empresas que você conhece e que se destacam com relação aos elementos que compõem a atmosfera de loja. R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 38 Design de Serviços 3 O que significa a frase “Os ambientes de serviço são percebidos de maneira holística”? R.:________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 4 PRINCÍPIOS DO DESIGN DE SERVIÇOS Como você pode perceber, o design mudou seu escopo e vai muito além de projetar artefatos. O design se estende para a experiência que os clientes têm com produtos, serviços, espaços ou uma mistura destes. O design também é usa- do para projetar os processos e sistemas que estão por trás dessas experiências. Com esse escopo de atuação, o design começa a ser reconhecido como um di- recionador de negócios que deve ser integrado antecipadamente em um projeto. No decorrer de um projeto, o design é envolvido desde a estratégia aos detalhes reais do resultado (MORITZ, 2009). Para cumprir com seu objetivo, o design de serviços precisa preencher cer- tos requisitos, que darão o subsídio necessário ao longo do desenvolvimento do processo. Diferentes autores apresentam diferentes diretrizes ou princípios para essa perspectiva. Birgit Mager, a primeira professora de Design de Serviços, considera como fatores-chave: uma visão holística, in- terdisciplinaridade, trabalho cocriativo, pensamento visual e uma abordagem radical, todos favorecem a criação de um espírito es- pecial que liberta energia e motivaa mudança. Devido ao seu foco, o design de serviços tem como princípio nortea- dor uma abordagem de design centrada no ser humano e geralmente pre- cisa entender ou influenciar o comportamento das pessoas. Então, para isso, faz-se necessário certa especialização psicológica ou antropológica para enriquecer os projetos. O que não é uma regra, porque, dependendo do projeto, pode ser importante um conhecimento ou uma visão específica do ramo sobre tecnologias ou tendências (MAGER, 2009). Birgit Mager, a primeira professora de Design de Serviços, considera como fatores-chave: uma visão holística, interdisciplinaridade, trabalho cocriativo, pensamento visual e uma abordagem radical, todos favorecem a criação de um espírito especial que liberta energia e motiva a mudança. 39 Design de Serviços Capítulo 1 Para facilitar essa abordagem, é preciso trabalhar com a cocriação durante todo o processo do design de serviços. Uma vez que o cliente e o consumidor serão completamente integrados no processo de explo- ração e criação, isso significa que será incluso no processo a expertise externa dos clientes e consumidores. Além disso, a cocriação também diz respeito à oferta de serviços, já que a maioria dos serviços é copro- duzida, de modo que o design integra os clientes como partes ativas no processo de prestação de serviços. Esta característica de coprodução impõe que um serviço seja “con- sumido” no momento em que é gerado. Assim, ou o cliente vai até as dependências da empresa de serviço (ex.: cortar o cabelo em um salão de bele- za), ou o prestador de serviços vai até o cliente (ex.: corte de cabelo para noivas realizado na casa das usuárias) (VEZZOLI et al., 2018). Os designers de serviço pensam e trabalham visualmente. Em to- das as fases do processo de design, a transformação de ideias em di- mensões visíveis ou mesmo tangíveis é praticada. Isso estimula e ajuda a entrar em processos construtivos de modelagem e adaptação. Além disso, para Mager (2009), o designer deve ser radical. O profissional precisa desafiar o existente, reformular o dado e ir além do imaginável. O design do serviço deve assegurar que, no final, o resultado não seja sobre pe- quenos incrementos decorativos nos sistemas de serviços, mas que a oportunida- de seja tomada para (re)pensar e (re)inventar. Complementando essa visão, para Marc Stickdorn (2014), o design de serviços contempla cinco princípios: 1. CENTRADO NO USUÁRIO: os serviços devem ser testados através do olhar do cliente. 2. COCRIATIVO: todos os stakeholders devem ser incluídos no processo de design de serviços. 3. SEQUENCIAL: o serviço deve ser visualizado como uma sequência de ações inter-relacionadas. 4. EVIDENTE: serviços intangíveis devem ser visualizados como artefatos físicos. 5. HOLÍSTICO: todo o ambiente de um serviço deve ser levado em consideração. Uma vez que o cliente e o consumidor serão completamente integrados no processo de exploração e criação, isso significa que será incluso no processo a expertise externa dos clientes e consumidores. O profissional precisa desafiar o existente, reformular o dado e ir além do imaginável. 40 Design de Serviços Na sequência, veremos cada um desses princípios: 1. Centrado no usuário Os serviços não são bens tangíveis ou padronizados que podem ser armazenados em um estoque. Eles são criados por meio da interação entre o provedor e o usuário do serviço. A intenção inerente de um serviço é atender às necessidades do usuário, assim este deve estar no centro do processo. Isso requer um minucioso entendimento do usuário, e não estamos falando em coletar e armazenar em planilhas os dados sociodemográficos e descrições estatísticas de suas necessidades, é preciso ir além, colocar-se no lugar do usuário e entender sua experiência individual do serviço. A capacidade de utilizar esse conhecimento multidisciplinar durante o desenvolvimento de um serviço é essencial para que ele seja bem-sucedido. Além disso, para oferecer serviços também é preciso levar em consideração os diversos stakeholders (partes interessadas), como o pessoal do atendimento, os funcionários do back office, a equipe financeira, de logística e recursos humanos e gestores. Além das interfaces não humanas, como totens, máquinas de venda automática, caixas eletrônicos ou sites. Dessa forma, a abordagem centrada no usuário depende do envolvimento de diferentes atores e grupos de usuários, funcionários e tipos de interface, todos trabalhando em sintonia e com os mesmos objetivos. 2. Cocriativo Durante o processo de design de um serviço, precisamos envolver os usuários, bem como todos os outros stakeholders, na exploração e definição da proposição de serviços. Essa é uma parte fundamental do processo. Quem são os stakeholders envolvidos na criação, prestação e consumo de um serviço? São os usuários, os gestores, a equipe financeira, a equipe de marketing, logística, engenheiros, designers, a equipe de atendimento e vendas, por exemplo. É um desafio envolver todas essas pessoas no processo. No entanto, o uso da criatividade como processo de ouvir e estar preparado para articular as ideias que estão “fluindo” individualmente e em grupo é um meio de desenvolver esse princípio. Além disso, os designers de serviço utilizam ferramentas e metodologias para criar um ambiente que facilita a geração, o desenvolvimento e a avaliação de ideias dentro de grupos com diferentes perspectivas e habilidades. 41 Design de Serviços Capítulo 1 Com a cocriação, os usuários sentem-se participando de algo para eles e por eles, dessa maneira, são capazes de agregar maior valor a um serviço já no início do desenvolvimento do serviço e, quanto mais envolvido um usuário estiver na prestação do serviço, maior é a fidelização de usuários/clientes e o envolvimento a longo prazo. 3. Sequencial Você já desistiu de comprar algo, comer em um determinado restaurante só de ver a enorme fila? Ou já se estressou com a espera no atendimento de um serviço bancário? No processo do design de serviços, é fundamental levar em consideração a linha do tempo do serviço, uma vez que o ritmo de um serviço pode influenciar o estado de humor dos usuários. O design de serviços fragmenta os processos de serviços para notar os pontos de contato e interações individuais que, por sua vez, criam momentos do serviço. As interações de ponto de contato podem ocorrer tanto em nível homem-homem, homem-máquina quanto em nível máquina- máquina, também podem ocorrer envolvendo-se ‘terceiros’ de forma indireta, como por meio de resenhas de outros usuários (boca a boca, on-line/off-line, comentários em sites e redes sociais), ou ainda pelas mídias impressas ou on-line (STICKDORN, 2014). Todo processo de serviços segue uma transição em três etapas: a do pré- serviço (entrar em contato com um serviço), a da prestação do serviço (quando os usuários experimentam o serviço) e a do pós-serviço. A sequência de momentos do serviço deve ser planejada para obter um ritmo agradável, garantindo que o estado de humor do usuário progrida até o máximo e comunicando a mensagem de modo condizente ao conceito de serviço em cada ponto de contato. 4. Evidente Da mesma forma que as fotografias o fazem lembrar da sua última viagem, as evidências físicas ou artefatos, como souvenires ou escovas de dente do seu dentista, podem desencadear na memória os momentos positivos e/ou negativos do serviço. Esses elementos agregam um componente tangível a algo que seria uma experiência intangível, caso eles não existissem. Assim, a associação emocional desencadeada dá continuidade e valoriza a percepção que os usuários/ clientes têm do serviço que receberam. As evidências do serviço podem, portanto, prolongar as experiências de serviço para além do mero período de serviço, estendendo sensivelmente a experiência do serviço para a etapa pós-serviço.
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