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23 Lenocínio e tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração sexual

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LENOCÍNIO E TRÁFICO DE PESSOAS PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
O lenocínio é a atividade de prestar assistência à libidinagem de outrem, prostituição ou degradação moral, ou dela tirar proveito. Caracteriza-se, diferenciando-se dos demais crimes sexuais, por não servir à própria concupiscência do agente, mas objetiva satisfazer a lascívia de outrem, com isto lucrando em algumas hipóteses.
O lenocínio pode ser:
· Principal: quando o sujeito ativo toma a iniciativa de induzir a vítima à prostituição;
· Secundário/acessório: quando a atividade se realiza sobre uma situação precedente de prostituição ou corrupção.
O BJ tutelado é a moralidade pública sexual, objetivando evitar o incremento e desenvolvimento da prostituição. Bitencourt entende que não há sua violação, por exemplo, no crime do art. 228, na modalidade de induzir ou atrair à prostituição pessoa que já e encontra nesta situação, visto que o BJ já se encontrará violado, caso contrário tratando-se de falso moralismo, que devia ser superado, separando-se direito de moral e religião, não havendo sentido em criminalizar a exploração de uma conduta que, sozinha, não é crime.
Mediação para servir a lascívia de outrem (proxenetismo)
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem [a participação tornando-se conduta autônoma]. Pena - reclusão, de um a três anos.
Sujeito passivo
É o maior de 14 anos, caso contrário configurando-se a figura do art. 213.
Tipicidade objetiva
A conduta típica é persuadir, aliciar.
A lascívia a ser satisfeita deve é a de outrem, não própria. Porém, nada impede que o ato seja praticado pelo próprio agente, limitando-se o terceiro a presenciá-lo.
Outrem deve ser pessoa determinada, caso contrário havendo o crime do art. 228. Aquele que se serve da ação criminosa, se aproveita da vítima para satisfazer sua lascívia, não é coautor, pois a finalidade exigida é satisfazer a lascívia de outrem, não a própria.
Consumação e tentativa
Consuma-se com a prática de qualquer ato que importe na satisfação da luxúria alheia, mesmo que praticado pelo próprio agente, limitando-se o terceiro a presenciá-lo. Admite-se a tentativa.
Qualificadoras
§ 1º - “Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, detratamento ou de guarda: Pena - reclusão, de dois a cinco anos”. Difere do constante do art. 218-B que trata de prostituição, voltada a número indeterminado de pessoas, enquanto a presente conduta é voltada a um ou mais sujeitos determinados.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena – “reclusão, de 2 a 8 anos, além da pena correspondente à violência”. Há bis in idem, punindo-se duas vezes a mesma conduta. Apesar de ambos gerarem a cumulação de penas, não se trata de concurso material de crimes, nos qual duas condutas geram mais de um resultado, em decorrência de diferentes desígnios autônomos. Trata-se apenas da adoção do sistema de cominação cumulativa de penas. Assim, quando a violência empregada na prática de crime de lenocínio constituir em si mesma outro crime, havendo unidade de ação e pluralidade de crimes, tratar-se-á de concurso formal de crimes, aplicando-se, porém, o mesmo sistema de cálculo de pena adotado para o concurso material, apesar de não haverem desígnios autônomos, o que caracteriza o concurso formal improprio.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual 
Art. 228 – “Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa”. Para a configuração deste delito não se exige o fim de lucro, mas, independentemente de sua verificação haverá aplicação da pena de multa, que costuma ser prevista apenas diante deste objetivo, como era antes da lei 12.015/2009. Paradoxalmente, assim, quando se tratar de vítima menor vulnerável (art. 218-B), somente será aplicada a pena pecuniária se houver a finalidade de obter vantagem econômica (§ 1º). 
O sujeito passivo precisa ser maior.
Tipicidade objetiva
São as condutas nucleares:
· Induzir (suscitar a ideia) e atrair (incentivar, estimular) à prostituição;
· Facilitar (favorecer, eliminar dificuldades e obstáculos, auxiliar);
· Impedir ou dificultar seu abandono.
Prostituição é o exercício habitual do comércio carnal, para satisfação sexual de indeterminado número de pessoas, diferenciando-se da conduta descrita no art. 227, no qual se busca satisfazer a lascívia de uma só pessoa. É irrelevante que se trate de vítima já desencaminhada, punindo-se não só o induzimento ou aliciamento, mas também a facilitação.
“Outra forma de exploração sexual” é elemento normativo.
A conduta em apreço difere do rufianismo pois aqui o sujeito não participa necessariamente dos lucros obtidos por quem se prostitui.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Trata-se de situação paradoxal, visto que no favorecimento à prostituição de adulto (art. 228) aplica-se a pena de multa em qualquer situação; quando se tratar de vítima menor (art. 218-B), isto ocorre apenas diante de finalidade econômica. 
Qualificadoras
§ 1º - Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância [exigindo-se a interpretação analógica, que difere da norma penal em branco por aqui estarem presentes alguns exemplos a que outras situações se equiparam, enquanto na norma penal em branco eles não estão presentes]: Pena - reclusão, de 3 a 8 anos”. Tratam-se de garantidores, que aqui são punidos por condutas comissivas, diferente do que geralmente ocorre.
O texto não menciona a menoridade entre 14 e 18 anos como qualificadora visto que estas situações já são abrangidas pelo art. 218-B.
§ 2º -“Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência”. Novamente há bis in idem.
Consumação e tentativa
Para a consumação é desnecessário que a vítima se entregue à prostituição com a multiplicidade de relações carnais, bastando sua resolução neste sentido, podendo caracterizar-se, por exemplo, pela frequência a estabelecimento adequado. Ocorre quando a ação do sujeito ativo produz na vítima o efeito por ele pretendido. Admite-se a tentativa.
Casa de prostituição
Art. 229 - Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Trata-se de forma especial de se facilitar a prostituição, que assim se distingue do crime do art. 228.
Sujeitos
Também será sujeito ativo o terceiro em nome de quem o agente, o executor, mantiver a casa de prostituição, se tiver ciência de que tal atividade é exercida em seu nome. Estão excluídos da responsabilidade penal os serviçais desses locais (como camareiras, garçons e cozinheiras).
O passivo pode permanecer sempre no local ou a ele se dirige para fins de prostituição. Ela não é vítima de sua própria ação — exercer a prostituição - mas da exploração de quem mantém o local. Assim, para Bitencourt, o consentimento do ofendido pode excluir a antijuridicidade da conduta, sendo causa supralegal, visto que trata-se de vontade voltada a um BJ disponível. Por fim, não admite a sociedade como sujeito passivo, posto que nem sequer se sente incomodada, ignorando praticamente esse tipo de conduta. 
Tipicidade objetiva
O tipo não abrange a prostituta que mantém o local, para ela, sozinha, explorar o comércio carnal, ao exigir que o sujeito ativo mantenha a casa para a prostituição alheia, e não própria.
No nomem juris da conduta, o legislador utiliza exploraçãosexual com o mesmo significado de prostituição. Porém, outros dispositivos utilizam a locução “prostituição ou outra forma de exploração sexual”, distinguindo-os, dando à prostituição conotação de livre entrega do sujeito à esta situação, enquanto de “exploração sexual”, mais abrangente, se extrai um contexto em que o sujeito é levado, submetido a isto, sendo estas ultimas as condutas que o legislador busca coibir.
São desnecessários o fim de lucro e a mediação direta do proprietário ou gerente, segundo elementar expressa, que representa característica negativa da constituição tipológica.
Para determinar se o local é destinado à prostituição ou exploração sexual é preciso observar se esta é sua finalidade exclusiva ou preponderante. Para Rogério Sanches, ao alterar o termo “prostituição” por “exploração sexual” passou-se a abranger também aquelas realizadas em hotéis, motéis, e restaurantes, ainda que licenciados, desde que destinados habitualmente a esta atividade. Para Bitencurt, porém, falta-lhes esta finalidade especifica, visto que destinados a outras atividades como comércio de hospedagem e alimentação.
Tipicidade subjetiva
É indispensável que o agente tenha conhecimento dessa destinação específica.
Consumação e tentativa
Consuma-se com a manutenção do estabelecimento. Trata-se de crime habitual, que exige a prática reiterada do mesmo comportamento, cuja prática isolada não caracteriza infração penal, não se confundindo com crime permanente, cuja execução de ação única alonga-se no tempo. Para Bitencourt, como crime habitual, não admite tentativa, discordando do entendimento de Paulo José da Costa Jr, segundo o qual um único encontro configura a forma tentada. 
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
É modalidade de lenocínio consistente em viver à custa da prostituição alheia.
Sujeitos
Entende Bitencourt que a sociedade não pode ser sujeito passivo, pelos mesmos motivos do crime anterior. É preciso que se trate de prostituta, e não simplesmente de mulher que vive às expensas de amantes determinados, eventuais ou temporários.
Tipicidade objetiva
A conduta típica é tirar proveito da prostituição, o que pode ocorrer de duas formas:
· Fazendo-se sustentar por quem exerce a prostituição;
· Participando diretamente dos lucros: não o configura, por exemplo, a venda de bebidas ou o recebimento de alugueis.
Ambas as ações precisam ser praticadas com habitualidade.
Para entendimento majoritário, que entende a sociedade como sujeito passivo, em razão de ser a moralidade o BJ tutelado, e não a vitima, seu consentimento seria irrelevante, podendo inclusive ter sido ela a sugerir esta possibilidade ao rufião. Entende, assim, tratar-se de BJ indisponível, além de admitir que a vítima, em regra, encontra-se em situação fragilizada, não dispondo das condições para manifestar e exercer livremente a sua vontade.
Consumação e tentativa
Tratando-se de crime habitual, consuma-se com a prática reiterada de uma das condutas descritas no tipo penal. Como crime habitual, não admite a tentativa. 
Qualificadoras
§ 1º - Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quemassumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa. 
§ 2º - Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade davítima: Pena – reclusão, de 2 a 8 anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência”. O bis in idem se dá apenas em relação à violência, não à fraude e os demais. Novamente, trata-se de cúmulo de penas que não se confunde com o concurso de crimes.
Promoção de migração ilegal
Art. 232-A –“Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa”. Há erro uma vez que se encontra dentro de titulo e capítulo voltados à proteção do BJ dignidade sexual, mas não restringe a ação a sua violação, permitindo que se estenda o raciocínio a outras situações.
§ 1º - “Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro”. O mesmo aqui ocorre, violando-se o principio da legalidade pela ausência de clareza, não sendo possível definir com certeza qual a conduta criminalizada, pois pode se limitar à conduta realizada com finalidade de violação do BJ liberdade sexual em razão da localização do tipo no código, mas também pode ser a conduta voltada à qualquer finalidade, em razão da ausência de menção ao tipo a esta especificidade.
§ 2º - A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se: 
I. O crime é cometido com violência;
II. A vítima é submetida a condição desumana ou degradante. 
§ 3º - “A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas”. Disposição desnecessária em razão da previsão do concurso de crimes na parte geral.

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