Buscar

Inclusão Social e no trabalho de pessoas com deficiência - Capacitismo 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
Unidade 2 
Aula 1 – Capacitismo 
 
Joelma Cristina Santos 
 
 
 
 
Belo Horizonte, setembro de 2021 
 
2 
 
 Capacitismo ainda não é um termo muito comum, mas tem sido cada vez mais 
frequente usá-lo, para fazer referência ao preconceito em relação às pessoas com 
deficiência. O capacitismo manifesta-se ao se considerar que pessoas com deficiência 
são menos capazes, ou, até mesmo, menos aptas a gerenciarem a própria vida. De 
modo semelhante ao machismo e ao racismo, o capacitismo parte do pressuposto de 
que existem pessoas situadas numa posição de inferioridade entre os seres humanos, 
por apresentarem características corporais diferentes do tipo considerado ideal e 
dominante. Dessa forma, pessoas são tratadas, como se não possuíssem os mesmos 
direitos que o padrão normativo (que ocupa o topo da hierarquia) e são consideradas 
menos capazes, em aspectos físicos, intelectuais e sociais. A base do capacitismo 
parte, portanto, da premissa de que existe um modelo de corpo normal e perfeito e de 
que todo corpo diferente desse referencial é um corpo anormal, imperfeito e 
menos capaz do que esse modelo ideal. No capacitismo, o entendimento é que uma 
vida com deficiência não vale a pena ser vivida e que determinados corpos precisam 
ser controlados. 
Na perspectiva capacitista, a deficiência é algo essencialmente negativo, que 
deve ser curado, superado ou eliminado, desconsiderando formas distintas de corpos, 
a menos que eles sejam subestimados (IVANOVICH; GESSER, 2020). Alguns 
aspectos contribuem para potencializar ou minimizar o capacitismo e, nesse sentido, 
é preciso considerar que, no nosso contexto, mulheres com deficiência ou mulheres 
negras com deficiência, por exemplo, vivenciam uma sobreposição de relações 
discriminatórias, por estarem numa intersecção entre marcadores sociais (diferenças 
construídas socialmente, mas tratadas como se fossem naturais, como deficiência, 
gênero e raça). 
Além disso, a “visibilidade” da deficiência influencia a forma e a intensidade 
com que o preconceito se manifesta. Por exemplo: a tendência é que uma pessoa 
com deficiência física, que utiliza cadeira de rodas, seja mais discriminada do que uma 
pessoa que possui uma das pernas amputadas e utiliza prótese, pois a deficiência 
dela talvez só seja percebida caso ela caminhe. Por outro lado, uma deficiência que 
não seja identificada/visível à primeira vista, como no caso das pessoas com perda 
auditiva, baixa visão, doenças musculares raras etc., são objeto de desconfiança 
social e sofrem com o descrédito em relação à sua demanda por direitos à 
acessibilidade, como se as suas solicitações fossem sinal de oportunismo, preguiça 
conta
Highlight
conta
Highlight
 
3 
 
ou outros desvios morais, o que as leva, muitas vezes, a serem humilhadas e 
rejeitadas socialmente (DAVIS, 2005). 
O capacitismo individual é uma atitude desfavorável (preconceito) em relação 
às pessoas com deficiência. Ao se manifestar publicamente (num tratamento 
desrespeitoso e/ou violento, em relação às pessoas com deficiência), a pessoa 
capacitista pode receber intensa condenação social. Mas, como a sociedade costuma 
repudiar esse tipo de atitude preconceituosa, as pessoas capacitistas apresentam, 
muitas vezes, comportamentos desejáveis socialmente, embora continuem evitando 
conviver com pessoas com deficiência, por associá-las a pessoas menos capazes, 
com as quais não valeria a pena se envolver. 
Além do capacitismo individual, também existe o capacitismo estrutural, que é 
uma ideologia, ou seja, um sistema de ideias que oferece justificativas lógicas, para a 
forma de organização da sociedade. O capacitismo constituiu-se de forma estrutural 
na nossa sociedade, pois as instituições e as relações sociais tendem a se apoiar 
sobre práticas discriminatórias. 
 
Você se lembra de quando discutimos, nas nossas primeiras aulas, como a 
discriminação de pessoas com deficiência ocorreu ao longo de toda a História e como 
as práticas de inclusão se tornaram mais efetivas somente nas últimas décadas? O 
resultado de todo esse processo social e cultural é a valorização da presença de 
pessoas sem deficiência, nos espaços de poder e de tomada de decisão, além da 
criação de barreiras de ordens diversas, que impedem o acesso e a participação das 
pessoas com deficiência. 
 
A “normalização” do preconceito 
 
A estruturação social define aquilo que chamamos de normal em nosso 
cotidiano, de modo que, do ponto de vista político, é normal termos homens brancos 
no poder, por exemplo. Assim, consideramos menos normal ou natural termos uma 
mulher, uma pessoa negra, menos ainda uma pessoa com deficiência em cargos de 
poder na sociedade. Do ponto de vista econômico, é normal ou natural associarmos 
pessoas negras a pessoas com menor poder aquisitivo e como moradores típicos de 
comunidades pobres, com trabalhos de baixa qualificação ou em situação de trabalho 
informal. 
conta
Highlight
conta
Highlight
 
4 
 
Da mesma forma, pessoas com deficiência, nos meios pobres, causam-nos 
menos comoção do que pessoas com deficiência em classes sociais mais abastadas. 
Do ponto de vista da sociedade, a proteção jurídica é vista como mais urgente, para 
classes médias e altas da população. Se uma criança de classe média morre 
assassinada, a notícia é veiculada em todas as mídias durante muito tempo. Se uma 
criança negra e pobre morre baleada, a notícia não gera impacto. Se uma criança com 
deficiência morre, o fato tende a ser visto, até mesmo, com certo alívio... O que esses 
exemplos mostram é que a sociedade segue uma lógica considerada natural de que 
alguns grupos são hierarquicamente superiores a outros. Mães de meninos negros e 
gays, por exemplo, têm um medo enorme de que seus filhos sofram violência na rua, 
por causa dessa hierarquia que elas sabem que existe. Mães de pessoas com 
deficiência têm uma grande preocupação com o futuro de seus filhos, temendo, muitas 
vezes, morrer antes deles, pois se angustiam por seus futuros, já que a sociedade, 
com frequência, nega-lhes a possibilidade de desenvolvimento da independência e da 
autonomia, ou mesmo de construírem relações de interdependência em que possam 
confiar. 
E por que existe essa hierarquização? Por que homens brancos heterossexuais 
são considerados mais capazes? Negros, mulheres, pessoas homoafetivas, pessoas 
com deficiência não seriam igualmente capazes, se tivessem oportunidades concretas 
de desenvolvimento? Você pode até pensar que todos têm acesso igual à educação 
e que esta é, então, uma questão de mérito... Mas a educação oferecida à criança rica 
é a mesma da criança pobre? A educação da criança considerada típica é a mesma 
da criança com deficiência? Seus potenciais de desenvolvimento são igualmente 
estimulados, considerando suas diferenças? 
A hierarquização das possibilidades/capacidades dos grupos faz com que 
percebamos as distinções entre as pessoas como se fossem normais e naturais. Além 
de não refletirmos sobre essa ordenação social, também não identificamos que são 
questões historicamente construídas. 
Numa perspectiva mais ampla, é necessário compreender que o capacitismo 
estrutural oprime as pessoas com deficiência e consiste na maior barreira à inclusão, 
pois dificulta, ou, mesmo, impossibilita o acesso a direitos fundamentais, em igualdade 
de oportunidades com as demais pessoas. 
O capacitismo, tanto individual quanto estrutural, está presente nas barreiras 
atitudinais, que são aquelas erguidas por atitudes ou comportamentos que impedem 
conta
Highlight
conta
Highlight
 
5 
 
ou prejudicam a plena participação das pessoas com deficiência (Lei nº 13.146, 2015). 
Como exemplos de barreiras atitudinais, podemos citar o desrespeito às vagas de 
estacionamento destinadas às pessoas com deficiência, a infantilização de adultos 
com deficiência (tratando-os como se fossem crianças, falando com umavoz mais 
aguda que o habitual), ou a negligência em relação à educação de alunos com 
deficiência, por acreditar que eles frequentam a escola somente para socialização. 
Além disso, todas as barreiras sociais, como as urbanísticas, arquitetônicas, 
comunicacionais e tecnológicas, são originadas nas barreiras atitudinais, pois, se as 
pessoas que projetam ruas, prédios, placas e equipamentos considerassem as várias 
formas humanas de interagir com o mundo, a sociedade seria acessível a todas as 
pessoas. 
 
Entender o capacitismo como estrutural não quer dizer que ele seja algo 
incontornável, mas que, ao contrário, por estar presente em todos os ambientes, é 
que é necessário contribuir para a sua desconstrução em qualquer lugar em que 
estejamos. É por meio do esclarecimento, da formação e da identificação dos padrões 
normativos que mantêm a sociedade tal como é que se torna possível transformá-la. 
 
Um outro exemplo de como o capacitismo está naturalizado no cotidiano são 
as expressões comuns no nosso vocabulário, que, ainda que não sejam, inicialmente, 
entendidas como falas preconceituosas, são vistas como ofensivas pelas pessoas 
com deficiência. Por exemplo: expressões como “o grupo não tem perna pra isso”, 
“que mancada”, “dar uma de João sem braço” e “a desculpa do aleijado é a muleta” 
remetem, respectivamente, à incompetência, a falhas cometidas, a uma pessoa 
desentendida/desinteressada, e à preguiça de quem que quer evitar um trabalho (ou, 
pior, como se as pessoas com deficiência usassem a deficiência para aparentar 
incapacidade). O ditado “em terra de cego quem tem um olho é rei” faz um juízo de 
valor de que cegos são inferiores a quem enxerga com os olhos e a expressão 
“perdido igual cego em tiroteio” passa a ideia de que cegos são incapazes de fazer as 
mesmas atividades que pessoas que enxergam com os olhos, além de equipará-los a 
pessoas atrapalhadas. Metáforas como “você é retardado?”, “está surdo?”, 
“paralisado de medo” ou “cego de raiva” referem-se a características físicas de forma 
negativa e fortalecem a imagem das pessoas com deficiência como imperfeitas ou 
sem valor. Dizer que uma pessoa está “confinada a uma cadeira de rodas” caracteriza 
conta
Highlight
conta
Highlight
 
6 
 
a pessoa que usa a cadeira, como alguém passivo ou aprisionado num equipamento 
de forma indesejada, quando, na verdade, a cadeira de rodas é capaz de proporcionar 
liberdade e autonomia para quem a utiliza. O modo como nos comunicamos está 
sempre evoluindo e a permanência de expressões desse tipo demonstra o quanto o 
capacitismo está presente nas nossas práticas cotidianas, mesmo quando nos 
posicionamos como pessoas sem preconceito. 
 
Desconstruindo o capacitismo 
 
Tendo em vista que as percepções acerca da deficiência são comunicadas 
socialmente e cristalizadas em conversas rotineiras, piadas e histórias que as pessoas 
contam, ações anticapacitistas simples podem ser promovidas, ao mudarmos a 
maneira como nos comunicamos, evitando o uso de expressões que denotam 
preconceito em relação às pessoas com deficiência. Podemos ainda orientar as 
pessoas ao nosso redor sobre como certos termos refletem o capacitismo, mesmo 
que esta não seja a intenção. Conversar com outras pessoas sobre a deficiência, 
visando à redução do capacitismo, contribui para que certos rótulos sejam 
desconstruídos e para que a inclusão social seja um tema tratado sob o ponto de vista 
da equidade, e não da compaixão. Além disso, tão importante quanto compartilhar 
informações, é promover a diversidade na convivência. Quando uma pessoa é 
capacitista, ela fica restrita a opiniões e prejulgamentos negativos, não possibilitando 
a si mesma ter algum contato ou conhecimento sobre o outro (visto como diferente), 
o que poderia propiciar a formação de novos conceitos. Estudos têm demonstrado 
que é exatamente o contato (não superficial) entre grupos socialmente considerados 
diferentes que pode diminuir o preconceito e levar a interações positivas, dependendo 
das condições em que essas relações ocorrem, como na necessidade de cooperação 
entre os grupos e na busca conjunta por objetivos em comum (REZENDE JÚNIOR, 
2019). 
Conhecer mais sobre os diversos aspectos relacionados às pessoas com 
deficiência e debater as formas como o capacitismo opera no cotidiano são aspectos 
essenciais para a redução do preconceito ainda presente na sociedade. Assim, é 
possível concretizar ações de real impacto na vida das pessoas com deficiência e, 
ainda que, às vezes, essas ações pareçam gerar mudanças muito pequenas, a 
articulação das práticas individuais pode contribuir para uma sociedade mais inclusiva. 
conta
Highlight
conta
Highlight
conta
Highlight
 
7 
 
Você pode ajudar de forma individual e pode também auxiliar na mobilização e 
inspiração de outras pessoas, questionando a organização capacitista da sociedade 
e pressionando as estruturas de poder da sociedade a mudar. As dificuldades e a 
premissa de que a sociedade é assim, não são justificativas plausíveis para que 
reproduzamos atitudes e ações capacitistas em nosso cotidiano. A manutenção 
dessas justificativas não nos libera da responsabilidade, pois um crime cometido sem 
intenção continua sendo um crime. Podemos tentar pequenas mudanças todos os 
dias, até o dia em que daremos conta de que uma grande mudança aconteceu. Basta 
olharmos para o passado e vermos quantas mudanças ocorreram ao longo do tempo. 
 
Referências 
 
BRASIL. Lei n. 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da 
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: 
Presidência da República. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso 
em: 09 maio 2021. 
DAVIS, N. Invisible Disability. Ethics, v. 116, n. 1, p. 153-213, out. 2005. Disponível 
em: <https://www.jstor.org/stable/10.1086/453151?seq=1> Acesso em: 24 mai. 2021. 
IVANOVICH, A. C. F.; GESSER, A. F. Deficiência e capacitismo: correção dos corpos 
e produção de sujeitos a(políticos). Quaderns de Psicologia, v. 22, n. 3, p. 1-21, 
2020. Disponível em: <https://www.quadernsdepsicologia.cat/article/view/v22-n3-
friggi-marivete/1618-pdf-pt>. Acesso em: 18 maio 2021. 
 
REZENDE JÚNIOR, A. R. N. Os impactos do contato com pessoas com diferenças 
funcionais nas concepções de deficiência de futuros gestores. 2019. 70 f. Dissertação 
(Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade 
Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, MG, 2019. Disponível em: 
<https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/ppgpsi/DISSERTACAO%20-
%20ARTIGO%20FINAL.pdf>. Acesso em: 18 maio 2021. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm
https://www.jstor.org/stable/10.1086/453151?seq=1
https://www.quadernsdepsicologia.cat/article/view/v22-n3-friggi-marivete/1618-pdf-pt
https://www.quadernsdepsicologia.cat/article/view/v22-n3-friggi-marivete/1618-pdf-pt
https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/ppgpsi/DISSERTACAO%20-%20ARTIGO%20FINAL.pdf
https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/ppgpsi/DISSERTACAO%20-%20ARTIGO%20FINAL.pdf