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Gustavo Moreno T19 AULA 16.1: Sífilis gestacional, toxoplasmose, rubéola e herpes: Sífilis Gestacional: É uma doença infectocontagiosa crônica Contágio: Transfusão sanguínea Material perfurante contaminado Transmissão sexual (genital, oral e anal) Transmissão vertical (da gestante para o feto) Etiologia: É causada pelo treponema – pertence à subespécie pallidum É uma bactéria espiroqueta e é patógeno exclusivo do ser humano Epidemiologia: Notificação compulsória OMS estima 12 milhões de novos casos de sífilis anuais do mundo, sendo mais de 90% destes em países em desenvolvimento As mulheres grávidas infectadas pela sífilis podem transmitir a infecção ao feto, causando sífilis congênita, com consequência graves para gravidez em 80% dos casos não tratados: Em torno de 25% desses casos resultam em natimortos ou abortos espontâneos 25% de recém nascidos têm baixo peso ou infecção grave Diagnóstico clínico: Sífilis adquirida: Recente: lesões infectantes transitórias ricas em bactérias com menos de 1 ano de evolução após o contágio Latente: ausência de manifestações clínicas, mantendo-se as sorologias reatoras Precoce: até 1 ano de evolução Tardia: após 1 ano do contágio Tardia: lesões destrutivas com poucos ou sem treponemas após o primeiro ano de infecção Na presença de cancro duro, o risco de infecção após um intercurso sexual é de 60% A sífilis, apesar de todo seu polimorfismo, apresenta etapas bem definidas Sífilis primária: Incubação de 9 a 90 dias – média 21 dias Os treponemas, após sua inoculação alcançam os linfonodos regionais e disseminam-se por todo o organismo por via hematogênica, o que acontece antes do aparecimento da lesão inicial, que se chama cancro duro. Características da lesão: geralmente é lesão única, indolor, ulcerada de fundo liso e cicatriza em cerca de 21 dias. Sífilis secundária: Após a cicatrização, os fenômenos do secundarismo poderão ocorrer dentro de 4 a 8 semanas. Caracterizam-se por lesões (não ulceradas) disseminadas pelo corpo que podem aparecer disseminadas pelo corpo que podem aparecer como: máculas, pápulas, formas papulomaculares e, excepcionalmente, pustulares que regridem em 1 a 6 semanas. Na gestação, a placenta e os anezos evidenciam o comprometimento desse processo infeccioso por meio de aumento de volume, edema, coloração mais pálida e friável dos cotilédones que formam a placenta O concepto, quando infectado, poderá apresentar sífilis congênita precoce ou tardia. Sífilis congênita precoce: As manifestações ocorrem até o segundo ano de vida Podemos ter comprometimento cutâneo mucoso → pênfigos palmoplantares / descamação Hepatoesplenomegalia Hemólise → hiperbilirrubinemia Alterações ósseas Diagnóstico clínico: Precoce: Quando se manifesta até o 2º ano de vida Tardia: Quando se manifesta após o 2º ano de vida Inicia-se no 2 ano de vida Pode provocar as seguintes alterações: Ósseas e articulares Surdez Alterações dentárias Lesões oculares Nariz em cela Perfuração do palato duro Podem ocorrer comprometimento neurológico, como tabes dorsalis, meningite, paralisia geral, nefrite subaguda, etc.. Diagnóstico: Pesquisa direta do treponema: Microscopia de campo escuro Imunofluorescência direta Coloração de Giemsa Quantos aos exames sorológicos: Usa-se para a triagem o VDRL, que é um teste não treponêmico ou não específico, que possui alta sensibilidade e possibilidade o diagnóstico de praticamente todos os casos O VDRL é o exame de escolha para o rastreamento e acompanhamento do tratamento e das recidivas ou reinfeções do sífilis Positiva em 1 a 2 semanas após o aparecimento do cancro duro Os títulos diminuem após o tratamento Pode haver falso positivo em pacientes com algumas doenças auto-imunes, malária, hanseníase, etc. O teste treponêmico mais usado no Brasil é o FTA-Abs Teste de imunofluorescência indireta que usa treponema pallidum como antígeno para avaliar a reação de anticorpos anti treponêmicono soro do paciente Reativo a partir do 15º dia de infecção Esse teste é útil para exclusão de falso positivo, não devendo ser utilizado para o seguimento, pois pode permanecer positivo por toda a vida, independente do tratamento realizado Os testes rápidos para sífilis fornecem o resultado em 10 a 15 minutos e podem ser úteis no parto ou em locais em que não se dispõe do VDRL Teste rápido é um teste treponêmico O diagnóstico deve ser feito um teste treponêmico + um teste não treponemico Tratamento: Deve ser tratada qualquer paciente com VDRL +, independente da titulação** A não ser que ela já tenha tratado antes e que esse tratamento esteja documentado Gestantes não tratadas: 70 a 100% dos bebês nasceram infectados contra 1 a 2% das que receberam tratamento A droga de escolha para o tratamento da sífilis na gestação é a Penicilina Benzatina, única capaz de prevenir a transmissão vertical Gestantes com alergia à penicilina devem ser submetidas à dessensibilização antes de iniciar o tratamento Droga alternativa no caso de alergia a penicilina fora da gestação → eritromicina Tratamento do parceiro: Os parceiros devem receber tratamento concomitante à gestante com penicilina ou drogas alternativas, como: Eritromicina 500mg VO 6/6h OU Doxiciclina 100mg VO 12/12h por 15 dias na sífilis recente e 30 dias na sífilis tardia Sugerimos o tratamento com penicilina em virtude de maior adesão e rapidez do tratamento. Esquema de tratamento: Sífilis primária Sífilis recente secundária e latente Sífilis tardia – latente e terciária Penicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, em dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo) Penicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, repetida após 1 semana. Dose total de 4,8 milhões UI Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM, semanal, por 3 semanas. Dose total de 7,2 milhões UI Conduta: Depende da quantidade de sangue, IG, tipo de placentação, apresentação fetal e da presença ou não de trabalho de parto Parto normal ? → se for total e parcial, mas se for marginal dai pode ser que consiga fazer Conduta expectante: Gestação < 36 semanas, a paciente deve ser hospitalizada, instituída uma via parenteral com infusão de fluidos e mantido repouso no leito até que a hemorragia seja estabilizada Avaliação do bem estar fetal é obrigatória devido ao riscos e hipóxia fetal Conduta ativa: > 36 semanas de gestação, indica-se a interrupção da gravidez A incisão pode ser segmentar transversa, mesmo nas placentas anteriores O tratamento é considerado inadequado em algumas situações: Realizado com qualquer medicamento que não a penicilina Incompleto, mesmo tendo sido feito com penicilina Não adequado para a fase clínica da doença Tratamento com menos de 30 dias antes do parto Elevação dos títulos após o tratamento no seguimento Parceiro ou parceiros não tratados ou tratados inadequadamente ou ausência de informação sobre o tratamento do parceiro Ausência de documentação ou da queda dos títulos do parceiro após o tratamento Controle após o tratamento: Controle mensal com VDR até o final da gestação Títulos devem cair de forma progressiva, permanecendo negativos ou inferiores a 1/8 Ao término da gestação e em não gestantes, recomenda-se a repetição do VDRL quantitativo de 3 em 3 meses, durante o primeiro ano e, se ainda houver reatividade em titulações decrescentes, deve-se manter o acompanhamento de 6 em 6 meses até estabilizar. Reinfecção: Suspeita de reinfecção quando ocorrer elevação de 2 diluições no título Se tiver reinfecção devemos fazer um novo tratamento completo Sempre lembrar de revisão e os parceiros fazerem o tratamento Toxoplasmose: Causada por um protozoário – toxoplasma gondii Infecta seres humanos na forma de oocisto – excretados nas fezes dos gatos – ou de cistos – presentes em músculos e vísceras de animais. Transmissão: Contato com gatos Ingestão de verduras mal lavadas Ingestão de carnes mal cozidas Ciclo: Quando a infecção é adquirida pela primeira vez durante a gravidez, os parasitas podem ser transmitidos da mãe para o feto, resultando na toxoplasmose congênita A infecção materna é assintomática na maioria dasvezes e muitas crianças infectadas, cerca de 90%, não apresentam sintomas ao nascimento A toxoplasmose pode provocar aborto, prematuridade e infecção congênita com ou sem malformações Manifestações congênitas: Variam → desde anemia, trombocitopenia, pneumonia, icterícia, coriorretinite, cegueira, encefalite, retardo mental, até malformações do sistema nervoso central, como microcefalia, hidrocefalia ou calcificações intracranianas A contaminação fetal só ocorrerá se a primo- infecção pelo toxoplasma ocorrer durante a gestação A maioria dos recém-nascidos infectados é assintomática ao nascimento, e os efeitos da doença podem levar meses ou anos para se manifestarem Aproximadamente 80% das crianças até 1 ano de idade não apresentam sinais da infecção Se a toxoplasmose ocorrer em idade gestacional avançada, o risco de contaminação fetal será maior, mas a gravidade da doença será menor e vice-versa Risco de transmissão: 15% quando ocorre no 1º trimestre 44% quando ocorre com 26 semanas 71% quando ocorre com 36 semanas Diagnóstico: Rastreamento pré-natal Ministério da Saúde triagem pré-natal trimestral em pacientes susceptíveis, como estratégia para controlar a toxoplasmose congênita Diagnóstico sorológico: Gestantes imunes (IgG reagente e IgM não reagente) – tem imunidade Gestantes susceptíveis (IgG e IgM não reagentes) – não tem a doença e não tem imunidade → orientação quanto aos cuidados com dieta e contato com locais que podem haver fezes de felinos Gestantes com IgG não reagente e IgM reagente pode ser falso-positivo ou pode ser infecção inicial Começar com Espiramicina 3g/dia** Repetir sorologia em 2 a 3 semanas IgG negativo = era falso- positivo IgG positivo = era infecção recente, então mantém a espiramicina e faz investigação fetal após 18 semanas Gestantes com IgG reagente e IgM reagente Pedir avidez de IgG e iniciar espiramicina Se tiver alta avidez até 16 semanas = infecção antiga → suspende espiramicina Se tiver baixa avidez infecção recente pesquisar infecção fetal após 18 semanas Após 16 semanas, na presença de IgG e IgM reagentes mantém espiramicina e faz avaliação fetal IgG Positivo: O paciente já pegou a doença faz um tempo, caso tenha IgM negativo. Tem imunidade IgM positivo: doença ativa** Pesquisa de infecção fetal: Contaminação fetal pode ser determinada pela pesquisa de IgM específica no sangue do cordão umbilical obtido por cordocentese ou pela reação em cadeia da polimerase – PCR – do líquido amniótico para o DNA do toxoplasma. Esse último permanece o melhor método diagnóstico, mas a acurácia varia entre laboratórios e técnicas Amniocentese ⇒ entrar com agulha guiada por USG e pegar amostra do líquido amniótico Cordocentese ⇒ é também guiada pela USG e pega amostra do sangue do cordão umbilical A USG pode ser útil como diagnóstico (calcificação intracraniana e dilatação ventricular) e prognóstico da infecção fetal Tratamento: Deve ser iniciado mais rapidamente, antes da amniocentese, para a confirmação da infecção fetal Nesses casos, está indicada espiramicina** 3g/dia Se confirmada infecção fetal, muda-se o tratamento para o esquema tríplice, até o parto com: Sulfadiazina 3g/dia Pirimetamina 50 mg/dia Ácido fólico 15mg/ia Se a pesquisa resultar negativa, recomenda-se manutenção da espiramicina até o final da gestação e realização de US mensal Rubéola: Infecção viral exantematosa que não traz qualquer tipo de complicação quando acomete não grávidas. Mas durante a gestação, pode causar anomalias congênitas. 25 - 50% dos quadros são subclínicos. Quadro clínico: Transmissão do vírus: inalação de partículas contaminadas Incubação: 10 a 14 dias Indivíduo contaminado é infectante, desde 4 a 6 dias após o contagio até 10 dias após o desaparecimento do exantema Viremia leva a infecção placentária e fetal, causando lise celular e infecção crônica Quadro clínico típico: Rash maculopapular – inicia no tórax e na face e se alastra para as extremidades, durando cerca de 3 dias e desaparecendo no sentido inverso Linfadenopatia pós-auricular antecede o rash em vários dias. Febrícula e artralgia recorrente em 20% dos casos Complicações: Artrite crônica, trombocitopenia, encefalite, miocardite, pericardite, hepatite, anemia hemolítica, síndrome hemolítico-urêmico ⇒ raro Infecção fetal: Maior e mais grave quanto mais precoce for IG em que a rubéola ocorrer Quando infecção ocorre após 20 semanas de IG, o risco de síndrome da rubéola congênita é muito baixa Quando ocorre no 3 trimestre, o crescimento intrauterino restrito – CIUR – pode ser a única sequela No RN a infecção pode variar de assintomática à síndrome da rubéola congênita, que se caracteriza por CIUR e infecção viral crônica, podendo acometer diversos sistemas orgânica – microftalmia, cardiopatia, alterações auditivas e retardo mental. Síndrome da rubéola congênita ampliada – miocardite, hepatite púrpura, alterações óssea e óbito Os danos causados pela infecção – ocular, auditiva ou no sistema nervoso central –, aparecem tardiamente no desenvolvimento da criança. Diagnóstico: Pesquisa de anticorpos específicos Dx clínico normalmente é confundida com outras patologias virais A presença de IgM específica para rubéola sela o diagnóstico, mas somente na fase aguda A pesquisa no feto pode ser feita por meio de: Biópsia de vilo coriônico (PCR – não é a melhor técnica) Amniocentese (PCR – 12ª a 14ª semana) Cordocentese (IgM fetal e PCR – a partir da 16ª semana) Prevenção: Vacinação com vírus atenuado → melhor forma para a prevenção Indicações – crianças e mulheres que nao estao gravidas Evitar gestação nos 30 dias após vacinação Herpes: Causada por 2 tipos de vírus e suas múltiplas cepas: o HAS-1 e o HSV-2 A taxa de recorrência pela reativação do vírus latente chega a 50 a 90% para o HSV-1 e HSV-2 Transmissão ocorre pelo contato com lesões abertas e pode ser oral-oral, oral-genital e genital-genital Quadro clínico: O período de incubação é de 3 a 9 dias A fase prodrômica é típica e manifesta-se com queimação, prurido e parestesia; segue-se o aparecimento de vesículas que ulceram e coalescem Todo quadro dura em média de 7 a 10 dias Infecção primária durante a gestação está associada a maior incidência de recorrências no trato geniturinário até o nascimento Repercussões no feto: A infecção congênita prévia à ruptura prematura de membranas (RUPREME) é incomum, sendo exclusivamente uma consequência da primo-infecção herpética Quando a infecção fetal ocorre no inicio da gestação, é geralmente fatal, resultando em aborto Quando é mais tardia, está associada a mortalidade fetal aumentada, TP pré-termo, CIUR e malformações Mais comumente encontradas são as infecções adquiridas no período perinatal Transmissão para o bebe pode ser: Intraútero ascendente – RUPREME Pela passagem no canal de parto infectado Pelo contato com lesões ativa ou secreções infectadas após parto A doença no neonato geralmente se apresenta disseminada, com predominância de alterações neurológicas: 70% morrem em 6 a 10 dias se não forem tratados e o restante sobrevive com sequelas. O risco de transmissão durante o TP é influenciado pela: quantidade de vírus presente na cérvice ao nascimento e pelo tempo que o feto fica em contato. Infelizmente, os sintomas maternos não se relacionam proporcionalmente à extensão da doença neonatal: 50 a 75% das mulheres cujos filhos apresentaram herpes neonatal eram assintomáticas Diagnóstico: Anamnese, Exame físico, Exame laboratorial Tratamento: A maioria dos casos não necessita de intervenção Situações como febre alta, dor intensa, retenção urinária, TP prematuro ou suspeita de RUPREME e alteração da função renal devem ter manejo hospitalar Nos casos mais graves podemos usar o Aciclovir: Dose de 200mg VO 5x/dia durante 7 a 10 dias e 400mg 3x/dia por 7 a 14 dias, na primo-infecção Outra opção é Valaciclovir, que tem a vantagem de alcançar níveis séricos mais altos e com maior intervalo entre as doses (500mg, 2x/dia durante 5 dias) Via de Parto: Nas pacientes com história de herpes, mas sem lesões, deve-seestimular o parto vaginal Nas pacientes com lesão em trabalho de parto, a cesariana reduz o risco de infecção neonatal Nas pacientes com lesão a termo, fora de trabalho de parto e com membranas integras, deve-se iniciar tratamento supressivo
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