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Dor abdominal crônica na infância
LAYANE SILVA
O quadro de dor abdominal é comum na infância e
adolescência, compreende um grande número de
atendimentos ambulatoriais e de emergência. Em crianças
existem várias causas, mas assim como na constipação, a
principal causa é dor abdominal funcional (até 95% dos
casos de dor abdominal em crianças). Assim, na maioria das
vezes há um distúrbio funcional, associado a uma alteração
no eixo cérebro-intestino por algum distúrbio emocional,
embora os pais sempre tenham a expectativa de que a
criança tem um quadro orgânico pelo padrão recorrente do
sintoma, o que gera ansiedade nos pais e na criança.
Dor abdominal orgânica (DAO): associada a causa
anatômica, inflamatória ou dano tecidual (prevalência
de 5-10%).
Dor abdominal funcional (DAF): ausência de causa
anatômica, inflamatória ou dano tecidual (sem
alterações macro ou microscópicas).
Pela baixa prevalência da dor abdominal orgânica, nota-se
que nesse caso o distúrbio funcional não é um diagnóstico
de exclusão, visto que para diagnosticá-lo seria necessário
expor mais de 90% das crianças a exames desnecessários
que geram estresse, piorando o quadro. Portanto, ele não
deve ser colocado como diagnóstico de exclusão se existem
critérios para preencher o distúrbio funcional e nenhum
sinal de alarme para causa orgânica.
EPIDEMIOLOGIA
É uma queixa comum de prevalência desconhecida (varia
entre 0,5-19%) a depender da idade e definição, pois
existem muitos estudos com diferentes parâmetros. Mas,
observa-se que ocorre principalmente na idade escolar e
adolescência, mas tem 2 picos de ocorrência: 4-6 anos e 7-
12 anos. Portanto, a DAC geralmente é funcional sem
doença orgânica associada, ou seja, não há lesão,
inflamação, dano estrutural ou nenhum outro fator
orgânico que justifique a dor.
No contexto de dor abdominal, tanto orgânica quanto
funcional, existe uma grande variedade de patologias,
desde as mais simples, como verminoses, até as mais
complexas, como neoplasias e doenças inflamatórias. Desse
modo, formam um grupo heterogêneo de doenças com
etiologia, fisiopatologia, sintomas e abordagem variadas.
Assim, uma das dificuldades é a difícil compreensão e
recorrência pela ansiedade nos envolvidos que muitas vezes
não conseguem aceitar o diagnóstico e requerem exames
desnecessários em busca de uma causa orgânica. Isto
porque a maioria dos distúrbios são funcionais e tem um
tratamento subjetivo (terapia multidisciplinar), assim,
muitas vezes os pais contribuem para dor abdominal da
criança gerando desgaste emocional.
DEFINIÇÃO
3 ou mais episódios de dor abdominal
Intensidade suficiente para interromper as atividades
habituais
Período superior a 03 meses
O primeiro conceito de DAC (Apley -1958), define que a dor
abdominal crônica é aquela com:
No entanto, na maioria dos distúrbios funcionais, os critérios
de Roma IV já serão avaliados com 2 meses de sintomas.
Esses episódios de dor abdominal precisam ser intensos a
ponto de interferir nas atividades habituais da criança para
ser considerado um episódio doloroso. Em geral, é uma dor
que impede a criança de ir para a escola, pois muitas vezes
a escola é um fator deflagrador da dor - por isso, destaca-se
a importância de uma investigação psicossocial.
SUBGRUPOS
Dor abdominal crônica (DAC): longa duração (> 03
meses) com padrão contínuo ou intermitente;
Dentro da classificação tanto da AAP quanto da
NASPGHAN, existem subgrupos:
DISTÚRBIOS FUNCIONAIS
Dispepsia funcional
Síndrome do intestino irritável
Enxaqueca abdominal (menos comum e mais difícil de
diagnosticar)
Dor abdominal funcional sem outra especificação
(maioria dos casos, ocorre quando não é possível
classificar em nenhuma das outras 3 desordens)
As desordens gastrointestinais funcionais (DGIFs) incluídas
no Roma IV são:
FISIOPATOLOGIA
Após a introdução de cereais e alimentos sólidos;
Geralmente a constipação funcional ocorre em 3 períodos
de estresse para a criança relacionada ao hábito intestinal,
nos quais as crianças são mais susceptíveis a constipação:
A introdução de alimentação complementar muda a
consistência e textura dos alimentos - e os pais comumente
oferecem alimentos que prendem mais as fezes.
I . CAUSA ORGÂNICA
Lesão ou dano tissular (inflamação ou obstrução)
A fisiopatologia da DAC de causa orgânica está relacionada
à lesão ou dano tissular em cada tipo de doença,
frequentemente associada a inflamação ou obstrução.
I I . CAUSA FUNCIONAL
Eixo cérebro-intestino
Mecanismos de forma isolada ou associada
A fisiopatologia dos distúrbios funcionais inclui um
mecanismo complexo, multifatorial, não esclarecido.
Sabe-se da existência do eixo cérebro-intestino que pode
ser modulado por fatores como: alimentos que levam à
distensão abdominal, emocional, microbiota ou até mesmo
por pequenas inflamações na mucosa após infecções. Tais
fatores podem modular o eixo de forma que a criança sinta
dor por aumento da sensibilidade visceral.
Hiperalgesia (ou alodinia) visceral: menor limiar de
percepção dos sinais do TGI enviados ao cérebro.
Em pessoas sem distúrbios funcionais existem alimentos
que causam distensão, mas não há a percepção dolorosa
dessa alteração, já pacientes com distúrbios funcionais
possuem uma hiperalgesia, que leva a uma percepção
maior desse estímulo, provocando dor. Assim, é importante
esclarecer que a criança sente a dor mas muitas vezes não
LAYANE SILVA
Predisposição genética
Alterações na composição da microbiota intestinal/pós
infecções bacterianas ou rotavírus
Distúrbios na motilidade
Inflamação de pouca intensidade
Perfil psicológico da criança e estresse ambiental:
quadro e evolução
sabe lidar com a sensação, e, se tiver algum fator emocional
envolvido, isso pode aumentar a modulação da dor,
gerando maior sensibilidade à palpação.
Algumas infecções virais por alterarem a microbiota ou
gerar níveis de inflamação no intestino pode predispor a
síndrome do intestino irritável pós-infecção viral. Assim, é
comum pacientes que tem virose e ficam um tempo maior
com dor abdominal, porque a inflamação gerou uma
desregulação à nível local, que muitas vezes é temporária,
mas se houverem outros fatores predisponentes pode se
tornar um quadro prolongado.
Nos distúrbios funcionais, além do aumento da
sensibilidade visceral, podem haver distúrbios na
motilidade, tanto constipação quanto diarréia, ou aumento
da produção de muco, assim na SII pode haver eliminação
de muco mesmo na ausência de inflamação.
Acredita-se que nos distúrbios funcionais, exista uma
pequena inflamação local, mas que é insuficiente para
classificar o quadro como um distúrbio orgânico.
Sabe-se que o eixo cérebro-intestino está muito associado a
questões emocionais, então há maior frequência de
ansiedade, depressão e baixa autoestima. Em escolares,
pode haver uma associação com eventos estressantes,
como: desordens familiares, hospitalização, “bullying” e
abuso infantil - em função disso, é necessário colher uma
boa história para identificar quais são os gatilhos da dor.
Dor periumbilical (região mesogástrica) ou epigástrica
(dispepsia funcional)
Dor raramente irradia 
Duração: minutos a horas (prolongada) - intercalados
por períodos de bem-estar
Ocorrem durante o dia
Intensidade variável: choro e interrupção das atividades
habituais
Entre os fatores na história que chamam atenção para
distúrbio funcional estão:
A dor pode ser difusa na enxaqueca abdominal, mas não
migra de uma região para outra, e se ultrapassar a linha
média é importante suspeitar de causa orgânica,
principalmente se for do lado direito, que tem estruturas
mais “perigosas” pelo acometimento agudo e necessidade
de intervenção rápida (apêndice, vesícula, fígado).
Geralmente, a dor funcional ocorre durante o dia associada
ao estado emocional da criança, geralmente no período em
que os pais estão fora de casa - pois um dos gatilhos
emocionais é a ausência dos pais - e não provoca despertar
noturno.
Em geral, pacientes que tem transtorno de humor ou um
distúrbio funcional, quando está exercendo uma atividade
prazerosa,observa-se uma redução dos sintomas e melhora
do quadro por questão emocional.
DIAGNÓSTICO
História clínica detalhada
Exame físico
Exames complementares
O primeiro passo no processo de investigação é o
diagnóstico diferencial dos quadros de etiologia orgânica
(DAO) daqueles funcionais. Como a maioria dos casos são
distúrbios funcionais, o diagnóstico é clínico, que necessita
de uma boa anamnese e um bom exame físico, buscando
sinais e sintomas que afastem distúrbios funcionais ou
sinais e sintomas de alerta para doença orgânica
(diagnóstico diferencial).
A maioria dos sinais de alarme para doença orgânica é
clínico e podem ser identificados na história, mas existem
alguns sinais obtidos em exames complementares, como
por exemplo a anemia.
ANAMNESE
Na avaliação de um paciente com dor abdominal sempre
destrinchar as características da dor (decálogo da dor):
localização, intensidade (usar a escala de graduação da dor
que a criança compreender melhor), frequência,
periodicidade, duração dos episódios, relação com
alimentação (pode ser gatilho da distensão abdominal), dor
noturna (despertar noturno é um sinal de alarme
importante - ou seja, questionar se a criança acorda por
conta da dor) e interferência com as atividades habituais.
SINTOMAS DE DISTÚRBIO FUNCIONAL
Importante! Se dor noturna ou que interrompe atividades
prazerosas (atividade que a criança mais gosta de fazer),
suspeitar de causa orgânica pois são sinais de alarme.
Sintomas neurovegetativos: palidez, sudorese, náuseas
e vômitos (mal-estar)
Sintomas associados: pirose, saciedade precoce, náusea,
empachamento pós-prandial, vômitos, diarreia,
constipação, tenesmo, sangramentos de TGI, icterícia.
Na anamnese é importante questionar sinais e sintomas
associados ao quadro para buscar um diagnóstico
diferencial, a partir de um interrogatório sintomatológico
da parte gastrointestinal. Isto porque a maioria das doenças
gastrointestinais se manifestam com dor, então os sintomas
associados podem direcionar o diagnóstico. 
OUTROS DADOS RELEVANTES
Sinais/sintomas de outros sistemas: sintomas urinários,
cefaleia, sonolência após as crises de dor, artralgias,
artrites, tosse crônica, asma, respiração bucal.
Medicações em uso ou utilizadas: antibióticos, AINES e
corticosteróides.
História alimentar: leite e produtos lácteos, sucos
naturais e artificiais, bebidas gaseificadas, balas e
chicletes, irritantes gástricos (alimentos industrializados,
condimentos picantes) e conteúdo de fibra na dieta.
História familiar: doenças do TGI ou de outro sistemas
que evoluem com dor abdominal, enxaqueca, alergias,
tuberculose, quadros depressivos
Vale questionar sobre sintomas associados de outros
sistemas, particularmente olho, articulação, cavidade oral,
sintomas urinários e cefaléia.
Sabe-se que algumas medicações podem causar dor
abdominal, por isso devem ser questionadas na história.
Na história alimentar, vale questionar sobre alimentos que
deflagram ou melhoram a dor.
Sempre buscar a história familiar de outras doenças do TGI,
principalmente história de síndrome do intestino irritável.
LAYANE SILVA
Antecedentes pessoais: virose recente (SII pós-viral),
trauma abdominal (questionar prática de esportes ou
lutas), intervenção cirúrgica prévia
Perfil psicológico e comportamental: ansiedade
SINAIS DE ALARME DE CAUSA ORGÂNICA
Após investigar a história, deve-se questionar
individualmente os sinais de alarme para a causa orgânica.
História familiar de DII, doença celíaca ou péptica
Dor persistente em QS ou QI direito (distante da região
mesogástrica)
Disfagia/odinofagia
Vômitos persistentes
Exame abdominal detalhado: localização da dor,
massas, fígado, baço, loja renal e cicatrizes
Avaliação perianal e toque retal
O exame físico deve ser detalhado, avaliando não só
abdome, mas também investigando acometimento de
outros órgãos e segmentos - como por exemplo: cavidade
oral (aftas) e olhos.
Importante! Pode haver vômito no momento da dor como
sintoma neurovegetativo, mas considera-se sinal de alarme
se a criança tem vômito mesmo fora do período de dor.
Sangramento de TGI (melena, hematoquezia)
Anemia
Suspeitar de anemias ferroprivas refratárias, que apesar do
uso de medicamento não há aumento da ferritina.
Curiosidade! No caso de anemia, pode-se solicitar a
calprotectina fecal, que é uma proteína de neutrófilo, então
qualquer inflamação que leve à migração de neutrófilo
aumenta esse marcador, cujo ponto de corte é 200 - assim,
se calprotectina fecal aumentada, solicitar colonoscopia
para investigar doenças inflamatórias intestinais.
Doença perianal (fístula, fissura de repetição, abscesso)
Perda ponderal involuntária (ausência de dieta ou
transtorno alimentar)
Desaceleração do crescimento linear
Atraso da puberdade
Febre sem explicação
Diarreia de repetição/dor noturna
Artrites/artralgia
Deve-se investigar também o ganho ponderal inadequado,
isto porque muitas vezes uma das únicas manifestações em
crianças é não ganhar peso, sem sintomas associados.
Existem outros sinais de alarme que podem ser
investigados, mas esses são os principais que devem ser
buscados na história.
EXAME FÍSICO
Importante! Sempre encaminhar a criança para o
oftalmologista pois o olho está associado a manifestações
de várias doenças gastrointestinais.
Sempre realizar a avaliação antropométrica a partir de:
peso, estatura e velocidade de crescimento; e registrar
estágio puberal (estadiamento de Tanner).
EXAMES COMPLEMENTARES
Avaliar solicitação de VHS, PCR, função tireoidiana,
amilase e lipase a depender da história.
No Roma IV, há indicação de sorologia para doença
celíaca, mesmo diante de um distúrbio funcional, por
ser uma doença com manifestações difusas.
Se a história clínica sugerir intolerância à lactose, podem
ser solicitados exames para avaliação ou realizar o teste
clínico, se melhora dos sintomas com a exclusão da
lactose, indica má absorção.
Exames de imagem serão feitos somente se evidências
clínicas de causa orgânica.
Como são distúrbios funcionais, se não tiver sinais de
alarme, os exames são desnecessários - no máximo pode
ser feita a avaliação laboratorial básica: hemograma,
sumário de urina e exame parasitológico de fezes para
investigar anemia e parasitoses.
Importante! Pode ser que o paciente tenha doença crônica
associada a outro órgão com repercussão emocional
importante pelo comprometimento da qualidade de vida,
que leva a uma síndrome do intestino irritável.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DOS DITÚRBIOS
FUNCIONAIS
Ausência de alteração ao exame clínico e testes
complementares
Preencher os critérios de Roma IV para cada problema
Sinais e sintomas não atribuídos a outra doença
Distúrbios funcionais devem ser vistos como primeira
hipótese e não diagnóstico de exclusão (Roma IV), e para
confirmar o diagnóstico deve ter os seguintes pontos:
DISPEPSIA FUNCIONAL
A dispepsia funcional é uma das principais classes de
distúrbio funcional, há uma maior dificuldade de classificar
em um primeiro momento, pois em geral a principal
suspeita é uma doença péptica, por isso acaba sendo um
diagnóstico de exclusão (após endoscopia e pHmetria).
I . CRITÉRIOS
Plenitude pós-prandial
Saciedade precoce
Dor epigástrica que não se associa à defecação
Os sintomas não podem ser plenamente explicados por
outra doença
Um ou mais dos sintomas ao menos 4 dias por mês:
1.
2.
3.
4.
Ocorrer por pelo menos 2 meses antes do diagnóstico.
I I . SUBTIPOS
Existem 02 formas de apresentação da dispepsia, uma em
que o paciente sente mais desconforto após comer
LAYANE SILVA
Dor não generalizada e sem localização em outra parte
do abdômen ou tórax
Dor não é aliviada pela evacuação ou eliminação de
flatos
(dificuldade pós-prandial) e outra que está mais associado a
dor epigástrica que não melhora com evacuação ou
eliminação de flatos.
1. Síndrome de dificuldade pós-prandial: desconforto da
plenitude pós-prandial ou saciedade precoce que impede o
término da refeição regular.
Critérios de suporte: distensão abdominal superior, náusea
pós-prandial ou eructações excessivas2. Síndrome de dor epigástrica: dor ou queimação
epigástrica (pode interferir com as atividades)
Critérios de suporte: (a) dor tipo queimação não
retroesternal (b) dor induzida ou aliviada pela ingesta mas
pode ser em jejum - ou seja, não tem relação direta com
alimentação.
I I I . DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Doença péptica (DRGE, gastrite erosiva, úlcera gástrica
ou duodenal)
Efeito colateral de medicamentos
Doença de Crohn
Tuberculose
Infecções parasitárias
Doença celíaca
Colecistite crônica
Pancreatite crônica
Inclui a maioria das doenças gastrointestinais, que podem
causar dor e saciedade precoce, principalmente doença
péptica.
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL
O quadro de dor abdominal associada à alteração do hábito
intestinal pode corresponder à síndrome do intestino
irritável (SII).
I . CRITÉRIOS
Relação com a evacuação
Alteração na frequência das fezes
Alteração na aparência das fezes
1. Dor abdominal ao menos 4 dias por mês associada com
um ou mais dos seguintes sintomas:
Observação! Podem ocorrer esforço ou urgência para
defecar, sensação de evacuação incompleta, passagem de
muco e distensão abdominal - em geral a dor melhora após
a evacuação.
2. Constipação: dor pode não resolver com a resolução da
constipação 
3. Sintomas não podem ser plenamente explicados por
outra condição médica
Ocorrer por pelo menos 2 meses antes do diagnóstico
I I . SUBTIPOS
SII com constipação (dor abdominal e constipação)
SII com diarreia (diarreia intermitente)
SII com constipação e diarréia (alternando)
SII não especificada
A síndrome do intestino irritável pode ter diferentes formas
de apresentação, como:
I I I . CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL X SI I
A constipação intestinal crônica funcional está
frequentemente relacionada à dieta pobre em fibras, que
pode acarretar dor abdominal do tipo cólica, que melhora
após a evacuação. Ao exame, consegue-se palpar massas
fecais no abdome ou, ao toque retal, constata-se a ampola
retal cheia de fezes endurecidas.
A diferenciação pode ser difícil entre constipação e SII, em
geral sabe-se que se o paciente tem dor abdominal e
constipação, deve-se iniciar tratamento para constipação
funcional - se a dor desaparece: constipação funcional. Isto
porque na SII existem vários outros fatores
desencadeadores da dor além da constipação.
IV . DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Retocolite ulcerativa
Doença de Crohn
Doença celíaca
Doenças infecciosas
Infecções parasitárias
Infecções bacterianas
Intolerância à lactose
V. FISIOPATOLOGIA
Fluxo sanguíneo, motilidade, secreção e imunidade,
regulada por agentes hormonais, neurais e
imunológicos.
Alteração na hipersensibilidade visceral relacionada a
eventos psicológicos (estresse, depressão).
Aumento de atividade inflamatória na mucosa (SII pós-
infecciosa)
Alterações do microbioma intestinal
Entre os distúrbios, a SII é a classe que há mais estudos,
consequentemente maior conhecimento da sua
fisiopatologia. Tal qual os outros distúrbios, a SII é resultante
da modulação bidirecional: cérebro-intestino, que pode
afetar outros fatores como:
ENXAQUECA ABDOMINAL
Aumento na frequência: 4%
Sintomas prodrômicos: mudanças de comportamento
e humor, fotofobia e sintomas vasomotores
A enxaqueca abdominal é a classe de menor prevalência
por ser mais difícil de diagnosticar, pois, ao contrário dos
demais distúrbios, este necessita de 6 meses de ocorrência
dos episódios para diagnóstico pois os episódios são muito
intercalados.
O padrão da dor é estereotipado e individualizado para
cada paciente, normalmente consiste em uma dor
abdominal de forte intensidade em crises e incapacitante,
assim como os pródromos e os fatores desencadeantes.
Importante! Alívio dos sintomas com o uso de
medicamentos para prevenção de enxaqueca reforça
diagnóstico.
Fatores desencadeantes: estresse, fadiga e obesidade; e
alimentos, como: chocolate (75%), queijo (48%), frutas
cítricas (30%) e bebidas alcoólicas (25%).
I . CRITÉRIOS
Todos os seguintes sintomas ocorrendo ao menos duas
vezes:
1. Episódios paroxísticos de dor abdominal intensa, aguda e
periumbilical, na linha média ou difusa, durando 1 hora ou
mais (deve ser o sintoma mais grave e aflitivo)
2. Episódios intercalados por semanas ou meses
3. Dor é incapacitante e interfere com as atividades normais
LAYANE SILVA
Anorexia
Náusea
Vômito
Cefaleia
Fotofobia
Palidez
4. Padrões estereotipados e sintomas individualizados para
cada paciente
5. Dor associada a dois ou mais dos seguintes sintomas
secundários (predomínio da dor):
6. Os sintomas não podem ser plenamente explicados por
outra condição médica.
Ocorrer por pelo menos 6 meses antes do diagnóstico.
Frutose, lactose, sorbitol, frutooligossacarídeos, gluco
oligossacarídeos e manitol
aumentam distensão abdominal e sinalização dolorosa,
causando piora dos sintomas, nesse contexto, observa-se o
papel dos carboidratos fermentáveis não absorvíveis
(FODMAPs - oligossacarídeos, dissacarídeos,
monossacarídeos fermentáveis e polióis) principalmente
em SII. Visto que o consumo desses alimentos, que ao
serem fermentados, levam a uma distensão abdominal que
é percebida como dor.
DOR ABDOMINAL FUNCIONAL SEM
OUTRA ESPECIFICAÇÃO
Caso a dor abdominal não seja associada a nenhum dos
outros 3 subtipos, é classificada como uma dor abdominal
não especificada.
I . CRITÉRIOS
Todos os seguintes sintomas ao menos 4 vezes por mês:
1. Dor abdominal episódica ou contínua que não ocorre
exclusivamente durante eventos fisiológicos (ex:
alimentação, menstruação)
2. Critérios insuficientes para outros distúrbios funcionais
3. A dor abdominal não pode ser plenamente explicada por
outra condição médica
Ocorrer por pelo menos 2 meses antes do diagnóstico
I I . DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Doença de Crohn
Má rotação com ou sem volvo
Invaginação intestinal de repetição
Aderências pós-cirúrgicas
Linfoma de intestino delgado
Tuberculose intestinal
Parasitoses intestinais
Desordens do trato urinário
Dismenorreia
Importante! Ficar atento à causas infecciosas de órgãos
como ITU e colecistite, como possibilidades diagnósticas.
TRATAMENTO
Abordagens dietéticas
Terapia farmacológica
Suporte psicológico
Terapias suplementares
Assegurar aos pais a benignidade do quadro
A abordagem da criança com DAC dependerá da hipótese
diagnóstica e será específico para cada doença, se suspeita
de causa orgânica.
Causa orgânica: terapêutica específica
Funcionais: como é um distúrbio multicausal, o tratamento
é multidisciplinar, incluindo:
Uma boa relação médico-paciente pode ser útil na
abordagem de crianças, sendo necessário estimular a
aquisição de habilidades verbais para relato da algia.
ABORDAGEM DIETÉTICA
DAC com distensão abdominal, diarreia e relato de
associação com leite: retirar temporariamente a lactose ou
realizar teste.
Dispepsia funcional: evitar alimentos que agravam
sintomas (cafeína, picantes, gordurosos)
Sensibilidade ao glúten não celíaca: algumas pessoas tem
uma sensibilidade ao glúten não celíaca, ou seja, ao
consumir glúten manifestam distensão abdominal, dor,
diarréia ou cefaléia - nesses casos, se a história trouxer essa
suspeita, deve-se suspender o glúten da dieta.
Reação aos aditivos alimentares (corantes e conservantes).
No entanto, as evidências para uso da dieta restrita de
FODMAPs na infância ainda são restritas.
De forma geral, é necessário melhorar a alimentação
habitual da criança, se identificado os erros alimentares, ou
trocar alimentos que pioram o quadro de dor por causar
distensão (FODMAPs). Sabe-se que alguns alimentos
TERAPIA FARMACOLÓGICA
Probióticos (pp na SII): Lactobacillus rhamnosus GG,
Lactobacillus reuteri DSM 17938 e o VSL#3 (não
disponível no Brasil). 
Manipulação do microbioma intestinal: potencial alvo
terapêutico, visto que há muitos estudos a respeito da
microbiota intestinal buscando identificar formas de
manipular o microbioma para combater patologias
específicas pelo uso de probióticos.
Sabe-se que o uso de probióticos diminuem a intensidade
da dor, mas tem uso controverso - além disso, muitos dos
probióticos que são comercializados possuem prebióticosna sua composição, que são oligossacarídeos e
monossacarídeos, que podem levar a piora do quadro.
Anticolinérgicos: sem evidência para controle da dor nas
causas funcionais
O uso de analgésicos não tem benefício na modulação da
doença à longo prazo, mas pode ter um benefício pontual,
visto que há uma atenção maior à criança no momento de
medicar, principalmente no caso de pais ausentes.
Antidepressivos: benéficos na DAF 
Podem ser utilizados em pacientes selecionados,
particularmente em crianças que já tem algum transtorno
do humor associado, em conjunto com
psiquiatra/psicólogo. Esses medicamentos atuam
diminuindo o trânsito intestinal, além de tratar depressão
(enquanto comorbidade), melhorar o sono e induzir
analgesia, mas devem ser usado com cautela pelos efeitos
colaterais.
Enxaqueca abdominal: tratamento medicamentoso
profilático (ciproheptadina, amitriptilina, propranolol,
pizotifeno e flunarizina).
TERAPIAS ESPECÍFICAS
LAYANE SILVA
Dispepsia funcional: antagonistas (H2) ou IBP: por quatro
semanas em crianças maiores e adolescente 
Baixas doses de antidepressivo tricíclico e ciproeptadina em
casos difíceis. 
Náuseas, distensão e saciedade precoce são sintomas
mais difíceis de tratar: procinéticos podem ser prescritos
para aumentar a motilidade.
SUPORTE PSICOLÓGICO
Terapias psicológicas efetivas: suporte familiar, terapia
cognitivo comportamental (TCC) e psicoterapia
Práticas comportamentais: amenizam tensão muscular
e/ou comportamentos restritivos - impulsos sensoriais
inadequados e aumento da percepção dolorosa
É a principal terapia e a mais negligenciada pelos pais,
depende do estabelecimento de uma boa relação médico-
paciente-família, visto que os fatores psicológicos podem
contribuir para a gravidade do problema.
TCC é mais efetiva, pois focar em outro pensamento ou
imagem, em geral, bloqueia ou diminui percepção da dor -
ativação do sistema opióide e não-opioide da supressão
dolorosa.
Em geral, modificam comportamentos no paciente e nos
cuidadores, que iniciam, mantêm e/ou exacerbam a dor
Exemplos: exercício físico, relaxamento e condicionamento
operante.
PROGNÓSTICO
Em 30% DAC persiste: fator de risco para a SII em
adultos
O prognóstico da dor abdominal funcional, de forma geral,
é bom, se forem tratados os gatilhos da dor, mas é
necessário intervir de forma precoce e adequada, pois
muitas dessas crianças se tornam adultos com dor
abdominal funcional.

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