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59 5ºAula Arte, Educação e Movimento: a Cultura Folclórica nos Jogos Tradicionais e a Socialização Muitos de nós nos lembramos dos jogos e brincadeiras dos quais participávamos na infância, não é mesmo? Amarelinha, Roda, Esconde- esconde... Provocam-nos, sem dúvida, sentimentos saudosistas, talvez pela ingenuidade e certa autonomia que as caracterizam. Autonomia no sentido de não exigirem condições especiais, de adaptarem-se às diferentes espaços e circunstâncias e, principalmente, por promover a socialização e o espírito de grupo, pois, pode-se dizer, acolhe os participantes, independente de quantos sejam. Atualmente, as opções de brinquedos acompanham os avanços tecnológicos e, de certa forma, individualizam as atividades de lazer, ou as limita a espaços específicos e a números reduzidos de participantes. Daí a importância de procurarmos, na escola, revitalizar os jogos e brincadeiras tradicionais, de permitirmos às crianças esta alternativa de lazer e, assim, estimularmos a socialização e as atividades em grupo. Possibilitar que as crianças percebam seus limites em relação ao outro é tarefa do professor, não é? É do que tratamos nesta aula, do significado da cultura folclórica e dos jogos tradicionais no desenvolvimento da criança em idade escolar e a imperiosa necessidade desta compreensão pelos professores. Vamos, então, verificar como estão organizados, aqui, os conteúdos, certo? Boa aula! 275 Arte-Educação e Movimento 60 Objetivos de aprendizagem 1 - O Movimento, a Arte e a Educação 2 - Os Jogos Tradicionais/Folclóricos 3 - O Jogo e sua Função Pedagógica 4 - O Fazer Artístico: Arte, Brincadeiras e o Movimento Corporal 5 - As Atividades Lúdicas e a Arte Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer as principais teorias que tratam do desenvolvimento da aprendizagem, do jogo, da arte, da recreação e do prazer, para que se construa uma formação teórica que fundamente a prática pedagógica corporal; • refletir acerca da aprendizagem das/nas diferentes linguagens corporais e/ou artísticas como dança, jogos, brincadeiras, experiências lúdicas e atividades artísticas para que se construa pela vivência da experimentação uma formação pela via corporal; • identificar situações de aprendizagem da cultura corporal em movimento, favorecendo a análise de relação entre as práticas da cultura corporal e o desenvolvimento pessoal do ser humano. Seções de estudo 1 O Movimento, a Arte e a Educação As crianças que estão nos anos iniciais do ensino fundamental são, com raríssimas exceções, dotadas de muita alegria, agilidade e, principalmente, ansiosas por novos saberes. Nesta fase, ela usa o seu corpo como instrumento de comunicação, é o movimento a favor do diálogo corporal visto como uma forma de linguagem, é a comunicação não verbal, o gesto e o movimento tomam conta do corpo que precisa se expressar. O uso do corpo/movimento é uma forma de expressão social, a transmissão e o entendimento da mensagem transmitida através do movimento corporal é uma questão de natureza cultural que indica contextos sociais, a criança percebe uma nova realidade e estabelece suas regras. O professor precisa estar atento ao espaço físico no qual vai atuar, o ambiente onde as crianças irão desenvolver as atividades, jogos e brincadeiras deve ser um lugar agradável, atraente, colorido e que torne possível à criança organizar e reorganizá-lo a cada aula. Toda a atividade lúdica expressada através do corpo contribui para a aquisição do conhecimento, auxilia no processo de aprendizagem. É mais fácil a criança compreender novos conceitos, teorias e palavras através do corpo em atividade, do que sentada em frente ao quadro negro. A ação docente é fundamental para dar à criança condições de conhecer e descobrir novos significados, sentimentos e valores sobre o espaço a qual pertence. Sabe-se que cada criança é um ser único com características próprias e individuais. Em uma mesma sala de aula temos inúmeros sujeitos, por isso é preciso trabalhar o processo de conhecimento em cada um de maneira individualizada. De acordo com Mattos e Neira (2006, p. 50-51), Ao apontar a importância da desequilibração e da interação com o meio na sua relação com o professor na ação (dobrando as atividades, proporcionando novos e diferentes interações durante as atividades, reorganizando grupos, lançando questionamentos) que proporcionará a estruturação de novos conhecimentos, isto é, a ascensão a níveis mais elevados de saberes empregadas para solução dos problemas apresentados. Freire (2002) denomina a educação através do movimento como Educação corporal e afirma que ela é de grande importância e imprescindível ao desenvolvimento da inteligência corporal na educação da criança por ser fundamental no processo de adaptação dos seres humanos ao seu meio ambiente. O autor ainda relacionava movimento e educação de três maneiras: a educação do movimento; a educação pelo movimento e a educação para o movimento. 1º) educação do movimento – é quando o enfoque está diretamente ligado ao desenvolvimento de habilidades motoras; 2º) educação pelo movimento – envolve os movimentos corporais de maneira ampla e dinâmica, produzido num certo nível, devendo servir de base para outras aquisições mais elaboradas como as intelectuais e sociais; 276 61 3º) educação para o movimento – é a que ocorre com mais freqüência e o enfoque está nas habilidades motoras perdendo sua identidade como componente de uma educação humanista. Para Freire (2002), a educação motora não é apenas educação do ou pelo movimento, mas, educação do corpo inteiro. Ao professor cabe a missão de considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões, cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e de inserção social, independente de qual seja o conteúdo a ser trabalhado. Em toda e qualquer atividade preparada pelo professor tais como a brincadeira, um jogo recreativo ou até mesmo uma dança ou teatro, as estratégias e ou regras devem ser bem discutidas para que o sujeito saiba apreciá-las e recriá-las, e não apenas aprender as técnicas de execução. Podemos dizer que é através da educação movimento que o aluno aprende a conhecer as diferentes manifestações da cultura do movimento como, por exemplo, a dança, o jogo e a ginástica. Nos anos iniciais do ensino fundamental a dança trabalha o aspecto do movimento/ cognição tendo a ação corporal como mediador na alfabetização entre a intenção de escrever ou desenhar e a escrita e o desenho. A comunicação entre as pessoas acontece através de múltiplos canais e o comportamento gestual e o movimento é um meio. Convém deixar claro que a comunicação não verbal ou a comunicação através dos movimentos é de cunho social e são culturalmente diferenciados tal qual a linguagem articulada. O educador precisa saber unir com eficiência o uso do corpo aos outros processos de ensino e aprendizagem, precisa conhecer seus alunos, o seu desenvolvimento e, principalmente, respeitá-los enquanto sujeitos em processo de desenvolvimento. Podemos perceber até o momento que o movimento corporal e a alfabetização artística/ estética devem se fazer presente nas ações educativas dos conteúdos de anos iniciais do Ensino Fundamental. Atividades lúdicas propiciam o desenvolvimento da percepção da imaginação criativa e dos sentimentos. É necessário reafirmar que a comunicação através do corpo/movimento/gesto, ou mesmo a comunicação verbal, a transmissão e a recepção de sua mensagem, o entendimento e sua decodificação entre as pessoas é uma questão essencialmente de natureza cultural. Insere-se aí, a natureza do folclore, que requer que, antes, seja definido, para assim podermos entendê-lo, desde a sua origem. De acordo com Guimarães (2002), o criador da palavra folklore foi o inglês William John Thomas, que no ano de 1846, endereçou uma cartaà revista The Atheneum, de Londres, solicitando apoio para realizar pesquisas do que pela primeira vez denominou folklore, em português folclore. Etimologicamente, em relação ao modo como é formada, a palavra folclore é constituída por dois vocábulos: folk significando “povo” e “lore” significando “conhecimento”. Não qualquer conhecimento, mas aquele vindo do povo. Daí a assimilação que o define, grosso modo, como cultura popular. E qual a sua relação com os jogos tradicionais? Vamos ver. Ao estudarmos o significado dos termos, jogo, brinquedo e brincadeira, percebemos que eles estão relacionados entre si. O jogo está mais ligado à ideia de disputa e obedece a um sistema de regra, já a brincadeira constitui-se uma ação e o brinquedo, normalmente, apresenta-se como objeto. É com referência nessas conceituações que vamos estudar os jogos tradicionais. Tudo bem até aqui??? Então vamos em frente! A prática artística deve ser vivenciada pela criança como atividade lúdica em que um facilita a compreensão do outro, além de estabelecer o vínculo com diversas formas de linguagem. Vamos ver a seguir o que signi ca folclore e como os traços da cultura folclórica chegam até nós!!! 2 Os Jogos Tradicionais/Folclóricos Acredito que tenham percebido desde o início de nossos estudos o valor do lúdico na aprendizagem, porém, vamos atentar também para a importância de se trabalhar o imaginário, criativo e simbólico do brincar. Sabemos que o desaparecimento parcial deste tipo de atividade nas escolas, como já vimos anteriormente, é fator preocupante. 277 Arte-Educação e Movimento 62 Durante todo o desenvolvimento do ser humano, esteja ele só ou em companhia de outras pessoas, ele está constantemente exercitando a sua capacidade de expressão, seja ela corporal, vocal ou gestual, mas, com certeza, de uma forma ou de outra, o homem está sempre se comunicando. Essa comunicação, na convivência do dia a dia em sociedade, exige uma adaptação que presume a construção de regras e padrões pré-estabelecidos e aceitos por todos. Entendendo as regras para se viver em sociedade, torna-se mais fácil perceber a importância dos jogos, brinquedos e brincadeiras para o desenvolvimento físico, motor e emocional. Estas atividades, se bem trabalhadas dentro das escolas, podem servir como uma espécie de oficina/laboratório que possibilita à criança aprender as regras e conceitos da sociedade na qual está inserida, e a praticar, de maneira lúdica, ações que normalmente não seriam por ela valorizadas. Pesquisas atuais mostram a importância dos jogos tradicionais na educação e socialização da criança, pois brincando e jogando a criança estabelece vínculos sociais, ajusta- se ao grupo e aceita a participação de outras crianças com os mesmos direitos (BERNARDES, 2006, p. 543). Mas, é um equívoco pensar que o jogo, a brincadeira e o brinquedo são atividades praticadas, exclusivamente, pelas crianças. Também os adultos, em qualquer que seja a faixa etária que se encontrem, utilizam-se de formas lúdicas em momentos diversos de suas vidas. Este é um fato que acompanha a história do homem desde sempre. No estudo de Bernardes (2006, p. 543), encontramos a informação de que: [...] os jogos tradicionais infantis fazem parte da cultura popular, expressam a produção espiritual de um povo em uma determinada época histórica, são transmitidos pela oralidade e sempre estão em transformação, incorporando as criações anônimas de geração para geração. Ligados ao folclore, possuem as características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação e mudança. As brincadeiras tradicionais possuem, enquanto manifestações da cultura popular, a função de perpetuar a cultura infantil e desenvolver a convivência social. Amado (2002, p. 11) demonstra que o universo lúdico foi e continua sendo “uma introdução ao mundo... nunca uma lição... mas uma descoberta. [...] um universo de magia, mistério e liberdade sem limites” (apud BERNARDES, 2006, p.543). Esses jogos ou brincadeiras eram normalmente praticados em espaços como nas ruas ou quintais de uma determinada comunidade. Na sociedade contemporânea, grande parte dos jogos tradicionais infantis - ciranda cirandinha, cabra- cega, queimada, jogo de pião, pedrinhas, amarelinha, entre outros - que encantam e fazem parte do cotidiano de várias gerações de crianças, estão desaparecendo devido à influência da televisão, dos jogos eletrônicos e das transformações do ambiente urbano, ou seja, as ruas e as calçadas deixaram de ser os espaços para a criança brincar. Falar na utilização educacional dos jogos faz tanto sentido quanto querer revivê-los, pois representa, no trabalho docente com as crianças, um instrumento metodológico prático. Segundo Santos (2002), os jogos e brinquedos antigos são considerados importantíssimos na preservação da cultura, mas, este tipo de jogo utilizado, atualmente, como ferramenta pedagógica para a construção do conhecimento, tende a ressurgir na educação, não como simples elemento de resgate cultural, mas de forma ressignificada, pela ênfase dada ao brincar no momento atual. Podemos dizer que os jogos e brincadeiras são manifestações de criação regional ou nacional, e o Figura5.1 Jogo de cabra cega. Orlando Teruz, 1930 Fonte: (BERNARDES, 2006, p. 545) Figura 5.2 Riscado que se faz no chão para o jogo de amarelinha. Fonte: <http://educacao. uol.com.br/folclore/ ult1687u12.jhtm>. 278 63 surgimento de muitos destes jogos ou brincadeiras infantis estão vinculados à apropriação pelas crianças e a reprodução a seu modo. Normalmente, a origem dos jogos é desconhecida, seus criadores são, na maioria das vezes, anônimos. Enfim, são práticas populares que provém do cotidiano lúdico dos povos e a transmissão e a continuidade dessas práticas entre as gerações explicam a sua expressão e a sua força, a qual lhes confere o caráter de universalidade. A transmissão feita oralmente nos leva a entender que não se transmite por um ensino, mas pelos sentidos. Os jogos, as brincadeiras, a arte e o artesanato não são ensinados, mas aprendidos pela observação, vendo outros fazerem para, depois, serem feitos por sua conta, o que dá uma grande homogeneidade à arte folclórica, criada sempre através de forma que representam experiências e imitação coletivas. Sabemos que os jogos e as brincadeiras são atividades fundamentais na vida das crianças, e este já é um belo motivo para que este enfoque seja o principal, enquanto meio para se atingir os objetivos de ensino e aprendizagem, nos programas de ensino para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. Portanto, cabe ao professor pensar em atividades lúdicas para serem utilizadas em sua sala de aula, por exemplo, os jogos tradicionais, que se constituem em atividades que dão prazer à criança e, para o professor, se configuram como um recurso metodológico que permite diagnosticar necessidades e interesses de diferentes grupos. E mais, podem também contribuir para o desenvolvimento da inteligência e de aprendizagens especificas, não é? As crianças são mestres em brincar e, como já dissemos, na realização das atividades lúdicas elas desenvolvem e ampliam seus aspectos cognitivos, afetivos e motores. Dessa maneira, o jogo, o brinquedo e a brincadeira são importantes recursos para o desenvolvimento do ser humano, considerando que as experiências e as ações lúdicas são fundamentais para a autoconstrução da infância. A criança, ao brincar, corre, salta, arremessa, imita, faz de conta de forma prazerosa e com alegria, isso faz com que ela vivencie várias funções intelectuais como o cálculo, a posição, a velocidade e o equilíbrio, bem como normas de cooperação social, determinadas pelas regras do jogo, além, é claro, de desenvolverem movimentos corporais amplos e finos. Os jogos de faz de conta e os brinquedos didáticos ou esportivos levam a criança a vivenciarinúmeras funções intelectuais. Dessa forma, [...] por meio do jogo acriança pode aprender uma grande quantidade de coisas, tanto na escola como fora dela, e o jogo não deve ser tratado como uma atividade supér ua, nem deve ser estabelecida uma posição entre trabalho escolar sério e jogo. Já que o jogo desempenha um papel tão necessário no desenvolvimento, a educação deve aproveitá-lo e tirar o máximo de vantagem do mesmo. A criança deve sentir que está jogando na escola e que através desse jogo poderá aprender uma grande quantidade de coisas. O jogo não pode ser relegado aos momentos extra-escolares ou à hora do recreio, mas deve ser incorporado às atividades de sala de aula (DELVAL, 1998, p. 94). Muitos professores dizem acreditar na importância de se resgatar e ressignificar os jogos e as brincadeiras folclóricas nas ações educativas, mas, pouco tem feito para que isto aconteça. Podemos dizer que os jogos e as brincadeiras folclóricas estão ameaçados de desaparecer, e a busca pelo resgate dos brinquedos, jogos e brincadeiras está em nossas mãos. Acredita-se que o ato de brincar precisa ser visto como coisa séria pelos educadores, já que o ato de brincar significa construir ideias e fortalecer o ensino e aprendizagem. Acredito que vocês tenham percebido a importância de trabalhar em nossas salas de aula com jogos, e brincadeiras folclóricas. 3 O Jogo e sua Função Pedagógica Na contemporaneidade, vivemos de forma competitiva, o que impõe que a formação humana deva privilegiar habilidades, tais como, a criatividade e o senso crítico. Nas atividades lúdicas, a dificuldade, o esforço e o desafio devem fazer parte desta formação. Nessa perspectiva, o jogo pode possibilitar que a criança aprenda através de regras, de questionamentos, de competitividade e de cooperação, e cabe ao professor acompanhar e direcionar as atividades previstas no planejamento das suas ações docentes e formatá-las de acordo com este processo/ação. A criança, ao ingressar na escola, traz consigo uma bagagem cultural, que carregam, entre os muitos elementos, os jogos e as brincadeiras. Cabe, 279 Arte-Educação e Movimento 64 então, ao professor, conduzi-la de forma que seus saberes sejam compartilhados com os quais viven- cia o cotidiano escolar. O ato de dividir/ensinar dá ao sujeito autoconfiança e, acima de tudo, faz com que aprenda a dividir e a escutar. Percebe- mos, ao iniciarmos as atividades escolares com as crianças, que durante a realização de jogos e brincadeiras, todas elas conhecem pelo menos uma brincadeira ou um jogo. Isso leva-nos a crer que estes jogos e brincadeiras devem ser compar- tilhados com os novos colegas, lembrando que a criança, ao trazer algo do seu cotidiano que des- perte o interesse de outros, sente-se valorizada. É papel da escola, a partir das experiências vividas pelos alunos, trabalhar o repertório cultural, como também garantir o acesso a experiências que possivelmente não teriam fora da escola. O jogo e a brincadeira são ferramentas que visam levar a criança desde muito cedo a refletir e a descobrir como foi o passado e prepará-las para os desafios do futuro. Dessa forma, a escola e o professor ao inserir o jogo no processo de ensino-aprendizagem da criança estarão simultaneamente trabalhando o diálogo corporal porque, enquanto brinca, a criança experimenta e vivencia novas experiências, as quais contribuem para a formação e construção do eu, do outro, do coletivo. Para que o jogo possa verdadeiramente desempenhar uma função educativa é necessário que ele esteja relacionado com a aprendizagem, construção e estimulação de novos conhecimentos pela criança, e que desempenhe da mesma forma seu caráter lúdico. Brincar para a criança é uma atividade prazerosa e é uma das características da atividade humana, está presente em todo o percurso da vida, independentemente da época, meio social ou cultural. Todos, um dia, já brincaram e, com certeza, não esqueceram. O mundo contemporâneo privilegia, como já mencionamos no início deste tópico, a formação dos indivíduos e o desenvolvimento de habilidade como a criatividade, a iniciativa e o senso crítico. A função pedagógica educativa, a partir do lúdico como processo de aprendizagem, é uma das propostas da escola atual. Através dos jogos e brincadeiras a criança, pensa, cria, simboliza e aprende. Função importante, não acham? Mas não para por aí: as brincadeiras tem relação, também, com o fazer artístico, com outras formas de representação e expressão, que é do que trataremos na próxima seção. Vamos nesta seção conhecer as brincadeiras através das teorias sobre o brincar. Conheceremos, também, alguns artistas brasileiros que trabalhavam com temáticas infantis como Portinari, Milton Dacosta, Tarsila do Amaral e tantos outros que também manifestaram em seus trabalhos esta temática. A obra de Portinari retrata o valor e a importância do brincar para as crianças. Muitos artistas ao redor do mundo representaram e apresentaram ao público obras de arte retratando a maneira e como acontece este brincar. Como estamos falando do fazer artístico na educação, ou mais especificamente na educação lúdica, podemos dizer que esta pode ser um veiculo bastante eficiente para se estimular a consciência cultural do sujeito. Tudo bem até aqui? Vamos em frente... 4 - O Fazer Artístico: Arte, Brincadeiras e o Movimento Corporal Figura 5.3 Crianças Brincando. Cândido Portinari Fonte: <http://goo.gl/jRkKAb>. Figura 5.4 Milton Dacosta. Roda,1942. Óleo sobre tela. Coleção Gilberto Chateaubriand MAM-RJ Fonte: <http://goo.gl/EmBoUo>. 280 65 Figura 5.5 O Morro da favela - Tarsila do Amaral Fonte: <http://goo.gl/22TYAX>. Atualmente, observamos que no Ensino Fundamental, como já dito anteriormente, a alfabetização lúdica e estética, o aprender brincando, são estratégias pouco utilizadas para o desenvolvimento da aprendizagem da criança nessa fase, circunstância que despertou inquietações em estudiosos da área. Brincar é ação inerente à natureza da criança, e até de alguns adultos, não é? Por que não? Vejamos, então, um pouco do que dizem alguns destes estudiosos sobre o brincar: Huizinga – Para este autor, “[...] as crianças e os animais brincam porque gostam de brincar, e é precisamente em tal fato que reside a sua liberdade” (apud MALUF, 2003, p. 17-18). Winnicott – Winnicott “[...] coloca o brincar como uma área intermediária de experimentação para a qual contribuem a realidade interna e externa” (apud MALUF, 2003, p. 17-18). Setúbal – “O brincar para Setúbal, pode ser identificado em dois momentos: primeiro, nas brincadeiras tradicionais, quando o individuo se insere na memória coletiva e, segundo, na história da própria vida do individuo, momento em que recorre as suas experiências no brincar” (apud MALUF, 2003, p. 17-18. Grifos nossos). Benjamin – afirma que a repetição é a lei fundamental na brincadeira, pois a criança quer vivenciar novamente experiências, ouvindo várias vezes a mesma história, o que lhe dá um grande prazer. Entende-se, então, que a criança, ao brincar, cria uma situação imaginária a qual ela pode recriar de várias e diferentes maneiras. As possibilidades são infinitas para o imaginário infantil. E, nesse sentido, as brincadeiras assumem um papel fundamental em seu desenvolvimento como um todo, tendo em vista que a criança reproduz aquilo que já viu outra pessoa fazendo. Na relação com o ensino da arte, observa Santos (2006, p. 31) que, O estímulo aos jogos e às brincadeiras pode acontecer com ou sem o brinquedo (objeto). Inúmeras são as possibilidades de fazer do aprendizado um momento de brincadeira ou de disputa saudável, pelos jogos. É, certamente, uma maneira de manter a criança ativa e participante, pois a criança que brinca vive uma infância feliz e se torna um adulto muito mais equilibrado física e emocionalmente. É pertinente, aqui, uma fala de Kishimoto (1993, p.7), que infere que, Do ponto de vista histórico, a análise do jogo é feita a partir da imagem da criança presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que uma criança ocupa num contexto social especí co, a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que mantém com personagens do seu mundo, tudo isto permite compreender melhor o cotidiano infantil – é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do seu brincar. A experimentação, a criação, a atividade lúdica e a imaginativa que sempre estão presentes nas brincadeiras, no brinquedo e no jogo são também os elementos básicos das aulas de arte. Assim, o jogo e o brinquedo nos programas de artes são importantes. O ato de brincar da criança é dotado de ritmo e harmonia e estes elementos pertencem à percepção estética. Não é difícil, então, compreender os laços teóricos e práticos que unem jogo e beleza e, portanto, jogo e arte. Centra-se aí a necessidade de os professores apreenderem a importância do brincar, inserindo esta estratégia didática na sua prática, elaborando atividades para serem propostas, para além da área de arte, em qualquer que seja a área de conhecimento, promovendo, assim, uma educação prazerosa e significativa. Você acha que estudar é importante, certo? Pois bem, brincar é tão importante quanto! É através da brincadeira, ou brincando, que conseguimos encontrar respostas para várias indagações, sem desprender grandes esforços, bem como sanar dificuldades de aprendizagem e de interação com o grupo. Além do que, “[...] desenvolve os músculos, a mente, a sociabilidade, a coordenação motora e o mais importante, deixa qualquer criança feliz” (MALUF, 2003, p. 19). Vocês percebem a importância do brincar na aprendizagem da criança? 281 Arte-Educação e Movimento 66 Parece-nos que o brincar foi sempre a atividade principal da criança. As crianças sempre brincaram, desde épocas mais remotas da humanidade. As brincadeiras se perpetuam e se renovam a cada nova geração. Por exemplo, a brincadeira de amarelinha, que já passou por várias gerações e ainda hoje é brincada em algumas escolas e parques, mesmo que com variações em suas regras, ou modificações em sua forma e estratégia, próprias das diferenças entre uma e outra cultura. A brincadeira infantil tem, ainda, alterações circunstanciais em sua dinâmica, que dependem de fatores como, quando a criança brinca (o tempo); onde ela brinca (o espaço); com quem ela brinca (os parceiros); os objetos com os quais ela brinca (boneca, carrinho, bola, acessórios para a construção, de plástico, madeira etc.), mas a essência da brincadeira raramente se altera. A criança pelo mundo afora continua a brincar de mamãe; de filhinha; de futebol; de montar castelos; de super-homem, enfim, dentro de cada faixa etária, o jogo de criança, em qualquer lugar do mundo, responde às mesmas características lúdicas. Podemos dizer que, atualmente, o ato de brincar está praticamente ausente do trabalho pedagógico da maioria das escolas brasileiras, não havendo uma proposta que incorpore o lúdico como eixo do trabalho docente com a criança. Sobre isso, Maluf (2003, p. 28) se manifesta afirmando que: É rara a escola que investe neste aprendizado. A escola simplesmente esqueceu a brincadeira. Na sala de aula ou ela é utilizada com um papel didático, ou é considerada uma perda de tempo. Até no recreio a criança convive com um monte de proibições. O mesmo ocorre com condomínios, clubes, etc. A autora, contudo, segue nas observações de modo mais otimista, afirmando que algumas escolas já estão valorizando o brincar, utilizando cada vez mais as brincadeiras, os jogos e os brinquedos na ação didática em sala de aula. Para a autora, os professores estão buscando informações, ainda que timidamente, a fim de enriquecer suas experiências e entender o brincar no intuito de utilizá-lo na construção do aprendizado da criança. Menos mal, não é? Concluímos que o professor deve organizar suas atividades, selecionando as mais significativas para as crianças com as quais trabalha para, posteriormente, criar condições para que possam ser realizadas. É interessante que estas atividades sejam trabalhadas tanto individualmente como em grupo. Cabe ao professor, em sala de aula, ou fora dela, estabelecer metodologias e condições para desenvolver e facilitar a realização das atividades lúdicas propostas (MALUF, 2003). Contudo, trabalhar com brincadeiras exige muita seriedade. Ao professor, cabe mesclar prazer e seriedade nas brincadeiras, para ampliar e despertar na criança a vontade de conhecer mais sobre a atividade da qual está participando para, dessa forma, estabelecer relações com o outro de maneira prazerosa, minimizando possíveis conflitos. Se a criança, ao brincar, age de acordo com a situação na qual está envolvida, ela também cria e recria situações imaginárias ligadas a um fato já acontecido ou, simplesmente, simboliza ou imita um comportamento de alguém no seu dia a dia. Através da abordagem lúdica, é possível ao professor fazer com que esse brincar se transforme em realidade para o mundo maravilhoso da imaginação das crianças, o que confirma, mais uma vez, a importância da ludicidade na ação educativa. Trabalhar atividades lúdicas com as crianças em sala de aula é condição indispensável para a apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilita o desenvolvimento da imaginação, percepção, da fantasia e dos sentimentos. Podemos dizer que o brincar nas aulas de Artes pode ser uma excelente maneira de a criança experimentar novas situações, ajudando-a a compreender e a assimilar com maior facilidade o mundo cultural e estético que a rodeia. A prática artística é vivenciada pela criança pequena como atividade lúdica, na qual o fazer artístico se identifica com o simples brincar, o imaginar com a experiência da linguagem ou da reapresentação. Portanto, o comportamento da criança em situações como esta é socialmente validado conforme sua concepção de vida em sociedade nesta determinada época. Na ação educativa, na arte, no desenvolvimento da criança, na construção/constituição do homem adulto... 5 - As atividades Lúdicas e a Arte 282 67 É preciso que os professores se coloquem como participantes, acompanhando todo o processo da atividade escolar, mediando os conhecimentos através da brincadeira, do jogo e de outras atividades. O educador deve rever sempre a sua postura em relação ao lúdico e à arte, deve também, mostrar aos pais a importância de tais jogos e atividades para o desenvolvimento de inúmeras possibilidades de aprendizagem. O jogo simbólico pressupõe a representação de um objeto ausente. Ele tem características fundamentais, como assimilação do real ao eu, sem quaisquer limites ou sanções. Tudo é possível no faz de conta. A brincadeira permite ao sujeito elaborar sua experiência vivida, fazendo parte do seu esforço de compreensão e adaptação ao mundo no qual esta inserida. A representação vivida pela criança, mais tarde, cede lugar à representação em pensamento, o qual caracteriza o universo do adulto. Entende-se que, para o educador, é importante compreender, entender e principalmente interessar- se pelos jogos do passado. Para os currículos dos anos iniciais do ensino fundamental, seria proveitoso recuperar os jogos e brincadeiras da comunidade, através de conversas com pessoas mais velhas, como as bisavós, avós, pais, tios e tantas outras pessoas de sua comunidade. Podemos dizer que é buscar as brincadeiras espontâneas das crianças nas ruas, observando-as. Friedmann (1996) questiona: quem inventou o pião, a pipa, a bola de gude, o jogo de amarelinha, de damas, de dominó, as brincadeiras de roda, o esconde-esconde? Ela responde que foram as próprias crianças através dos séculos. É importante observá-las para que possamos aprender mais sobre as brincadeiras infantis e dessa forma fazê-las revivere retornar ao espaço educativo para que haja uma sensibilização em relação à aprendizagem da criança e principalmente de forma lúdica. A falta de espaço e a insegurança das nossas ruas nos dias atuais também são fatores que modificaram muito das brincadeiras. Para Friedmann (1996), recuperar os jogos do passado, nossos, de nossos pais e avós, conhecê-los e trazê-los de volta é importante porque eles se constituem como um material muito importante para o conhecimento e a preservação da nossa cultura, do nosso folclore. Dizemos, como já vimos anteriormente, que eles se constituem em uma obra de criação coletiva e, são passados de forma verbal ou gestual de geração em geração, por isto, correm o risco de desaparecerem. Daí a importância de se registrar de forma organizada e séria e de forma escrita (antologias). Para Friedmann (1996, p. 50): Os jogos tradicionais infantis tem qualidades que podem satisfazer de bom grado às necessidades de desenvolvimento das crianças contemporâneas. Seu grande valor está em apresentarem ricas possibilidades para o estimulo de várias atividades nas crianças: físicas, motoras, sensoriais, sociais, afetivas, intelectuais, lingüísticas, etc. tratando de de ciências motoras (jogos com atividade motora); ou da excessiva intelectualização da maior parte das atividades típicas da escola (jogos que envolvem o corpo e os sentidos); ou ajudando a superar o isolamento das nossas crianças de hoje (jogos em grupo). Compreendem-se de maneira clara a natureza dos jogos tradicionais, e que é possível revivê-los, como nos afirma a autora, transformando-os e adaptando-os às condições contemporâneas de espaço e materiais, sob a condição de preservar o seu real significado básico, assim como a propriedade de extrair deles várias atividades para as crianças. Alguns destes jogos permanecem até hoje, como por exemplo, a bolinha de gude, a corda, a amarelinha, as cirandas, mas, muitos outros, se perderam no tempo. Jogos e brincadeiras além de serem atividades essencialmente lúdicas, assumem também grande importância no processo da aprendizagem infantil com a função de promover o desenvolvimento da criança. A brincadeira não pode ser de maneira alguma considerada uma atividade somente pedagógica em conjunto com outras atividades de natureza também pedagógica, como a leitura, a escrita e o desenho. Assim, um professor que não gosta de brincar, nunca irá observar seus alunos vivenciando práticas lúdicas, e também não reconhecerá o valor das brincadeiras na vida da criança. No espaço educativo, as atividades lúdicas como proposta metodológica possibilitam entender que a educação, não trabalha apenas com a racionalidade, e que, a emoção conduz a criança a um encontro consigo mesma, bem como propicia uma melhor adaptação da criança com seu entorno, e a de todos, que de alguma forma ou de outra, fazem parte de seu universo escolar, social e familiar. 283 Arte-Educação e Movimento 68 1 - O Movimento, a Arte e a Educação As crianças que estão nos anos iniciais do ensino fundamental são, com raríssimas exceções, dotadas de muita alegria, agilidade e, principalmente, ansiosas por novos saberes. Nessa fase, ela usa o seu corpo como instrumento de comunicação, é o movimento a favor do diálogo corporal visto como uma forma de linguagem, é a comunicação não verbal, o gesto e o movimento tomam conta do corpo que precisa se expressar. 2 - Os Jogos Tradicionais/Folclóricos A cultura popular possui jogos tradicionais infantis os quais são transmitidos de geração em geração, expressando desta maneira valores que não poderiam ser aprendidos de outra forma. Estes jogos ou brincadeiras são normalmente praticados em espaços como nas ruas ou quintais de uma determinada comunidade. 3 - O Jogo e sua Função Pedagógica Vivemos em um mundo contemporâneo e competitivo. A formação do ser humano deve privilegiar habilidades como a criatividade e o senso crítico. Nas atividades lúdicas, as dificuldades, o esforço e o desafio devem fazer parte desta formação, pois o jogo possibilita que a criança aprenda através das regras, questionamentos, competitividade, cooperação e cabe ao professor acompanhar e direcionar estas atividades a partir do planejamento das suas ações docentes, e formatá- las como parte de todo este processo/ação. 4 - O Fazer Artístico: Arte, Brincadeiras e o Movimento Corporal Observamos que no Ensino Fundamental a alfabetização lúdica e estética é pouco utilizada para o desenvolvimento da aprendizagem da criança nessa fase. Os estudos sobre a formação inicial e continuada do professor que atua nesta fase vêm sendo observada e estudada, existindo inúmeras pesquisas e teóricos que tratam do assunto. 5 – As Atividades Lúdicas e a Arte Trabalhar atividades lúdicas com as crianças em sala de aula é condição indispensável para a apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilita o desenvolvimento da imaginação, percepção, da fantasia e dos sentimentos. Podemos dizer que o brincar nas aulas de Artes pode ser uma excelente maneira de a criança experimentar novas situações, ajudando-a a compreender e a assimilar com maior facilidade o mundo cultural e estético que a rodeia. Retomando a aula Para encerrarmos esta aula vamos recordar alguns aspectos: Vale a pena <www.crmariocovas.sp.gov.br>. <www.portinari.org.br>. <www.wikipedia.org> <www.artenaescola.org.br. <www.casadasartes.com.br>. <www.itaucultural.org.br>. Vale a pena acessar Atividades - AULA 5 Após terem realizado uma boa leitura dos assuntos abordados em nossa aula, na Sala Virtual - Atividades, estão disponíveis os arquivos com as atividades (exercícios) referentes a esta aula. Após responder, envie por meio do Portfólio – ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. OBS: Não esqueçam! Em caso de dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos”. 284
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