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Tratamento da diarreia Diarreia em si não se trata, pois é um processo de defesa do organismo. O que se trata são os agravos, ou seja, desidratação e/ou distúrbios metabólicos, desnutrição e infecção. DESIDRATAÇÃO: terapia hidroeletrolítica com soro oral ou endovenoso. A implantação dessa terapêutica foi um dos grandes influenciadores na morbimortalidade dessa doença. INDICAÇÃO: Soro oral: prevenção da desidratação ou tratamento da desidratação leve e moderada. Soro endovenoso: tratamento de desidratação grave ou em contraindicações do soro oral. + Contraindicação de soro oral: choque; íleo paralitico ou invaginação intestinal; vômitos incoercíveis e persistentes; alterações do nível de consciência (pode broncoaspirar); piora clínica (ex. presença de sangue nas fezes). - A presença de vômito no momento da internação não contraindica o uso de soro oral. Se o vômito persistir tentar antiemético e apenas se esse não funcionar usar soro endovenoso. SORO ORAL (REIDRATAÇÃO ORAL): Grau de desidratação: importante para avaliar a necessidade de reposição e respeitar o volume gástrico máximo. Utiliza sinais clínicos para determinar se o grau de desidratação é leve (mais história que sinais), moderado ou grave. * Taquipneia ocorre pela acidose - perda de bicarbonato pela diarreia; rim retém resíduos metabólicos ácidos (diminuição da pressão); hipermetabolismo (produção aumenta de ácido). A acidose pode levar a depressão de sistemas (ex. insuficiência cardíaca, sonolência). LEVE MODERADA GRAVE Perda de peso <1 ano 5% 10% 15% Perda de peso > ano 3% 6% 9% Olho encovado Normal ou discreta Moderado Intenso Lágrima Normal Diminuída Ausente Fontanela deprimida (<1 Normal ou discreta Moderada Intensa ano) Ectosc opia Tugor do subcutaneo Normal ou discreta Moderada Intensa Normal ou discreta Moderado Intenso diminuído (prega) Elasticidade da pele diminuída Língua Húmida Secas Muito seca Extremidades Normal ou quentes Frias Frias e cianóticas Perfusão capilar <2 segundos >2 segundos >2 segundos Psiquismo Ativa ou alerta, irritabilidade Irritabilidade intensa Agitação ou sonolência coma vigil Coma profundo Respiração Normal Taquipneia* e Taquipneia profunda e taquipneia profunda gemencia Urina (ml/100cal/h)** Pouco reduzida Reduzida (1 a 2) Muito reduzida (<1) Volume perdido (ml/kg) 30-50 60-100 90-150 ** Importante para avaliar a recuperação – quando volta a ter urina clara. Opções de soro oral: tem uma grande diversidade opções. + Concentração de sódio e glicose: inicialmente o soro oral tinha baixa concentração de sódio (40 a 50 mEq/L) e 5% de glicose. Depois começou-se a usar altas concentração de sódio (90 mEq/l) e diminuir a glicose para 2%, deixando o soro oral com a eficiência do soro endovenoso. Após um tempo a OMS sugeriu usar uma concentração média de sódio (75 mEq/L) e abaixar ainda mais a glicose (1-1,5%), diminuindo a osmolaridade da solução e reduzindo o número de evacuações mais rápido. A baixa concentração de sódio é para prevenção de diarreia, já o de média e alta concentração servem para prevenção e tratamento. Hoje a média é a concentração de sais de reidratação oral recomendado pela OMS. + Composição: glicose, sódio, potássio, cloro, base (citrato é bom porque ajuda a diminuir o vômito). A osmolaridade deve ser, preferencialmente semelhante a osmolaridade do sangue (300-310 mOsm/kg H2O). - O Redialyte já vem pronto enquanto Rehidrate vem em pó. Esse segundo é mais barato e mais fácil de armazenar, o problema é que precisa ser diluído pela família. As diluições variam muito para cada um, por isso colocar na receita “sais de reposição oral 75 mEq/l, diluir conforme o rótulo”. - Refrigerantes não são recomendados, tanto por não ser um alimento saudável quanto pela composição (alta quantidade de glicose e baixa de sódio em relação ao soro oral). A água de coco tem baixo sódio, ou seja, é bom para manter hidratação não para reidratar. - O leite deve ser usado em crianças menores de 1 ano para evitar jejum, mas deve ser evitado na fase de reidratação, pois atrasa o esvaziamento gástrico. + Soro caseiro: útil quando não tem outra opção. O problema é que não tem potássio, o que prejudica a regulação do intracelular. Esquema de uso: Glicose Cátions Ânions Osmolaridade Sódio Potássi o Cloro Base g/dl (mMol/ l) (mOsm/kg H2O) (mEq/ l) (mEq/l) (mEq/l) (mEq/L) Soro oral 45 2,5% (140) 45 20 35 30 citrato 250 Soro oral 75 1,3% (75) 75 20 65 10 citrato 245 Soro oral 90 2,0% (111) 90 20 80 30 citrato 311 Redialyte 45 2,5% (126) 45 20 35 30 citrato - Redialyte 60 1,2% (60) 60 20 50 30 citrato - Rehidrate 75 2,5% 75 25 65 30 bcNa 305 Coca cola 10,9% 4,3 0,1 - 13,4 bicNa 658 Pepsi cola 12% 6,3 0,8 - 7,3 bina 654 Água de coco 2,6% 36 33 - - - Leite 4,9% 22 36 28 30bicNa 260 Suco de maça 11.9% - 0,4 26 - 700 + Reidratação: é de acordo com o grau de desidratação levando em consideração que a dose individual é de 10ml/kg/dose e deve-se dar uma dose a cada 20 min. A reidratação dura de 4 a 6 horas dependendo do grau de desidratação e resposta clínica. Pode-se usar o soro morno para acelerar o esvaziamento gástrico. + Manutenção: uma dose extra para cada vomito e/ou evacuação. Se já está bem e urina está clara pode usar o soro a vontade intercalado com outros líquidos. SORO ENDOVENOSO: Indicação: +Paciente gravemente desidratado. + Estado geral grave: coma, convulsão, choque, taquipneia intensa, toxemia, hipotonia, íleo paralitico, distensão abdominal intensa. Se melhora par começar soro oral. +Falha no tratamento via oral (mesmo após uso de sonda nasogastrica). Esquema de uso: o volume perdido é reposto metade metade soro fisiológico e metade soro glicosado a 5%. A reidratação é com 50-120ml/kg. ANTIEMÉTICOS: se vômitos persistirem após uso de soro. Pode-se usar ondasentrona (sublingual) que é muito eficiente e dura de 6-8 horas (suficiente para reidratar); ou bromoprida (oral [não usa] ou parenteral). Não usar metoclopramida (plasil), pois faz manifestação extrapiramidal. DESNUTRIÇÃO: alimentação precoce, pois a diarreia aumenta o consumo calórico (nunca fazer jejum) e a desnutrição predispõem a diarreia (imunossupressão). + Após reidratação usar leite materno ou leite em uso; hidratos de carbono complexos (ex. arroz, batata, macarrão, bolachas); carne magra (ex. peito de frango, carne bovina magra); sucos e frutas não laxantes (ex. maça e banana) e chás; gelatina. + Quando a diarreia é osmótica e a criança não está sendo amamentada deve ser indicado leite isento de lactose. +Evitar bebidas gaseificadas, gordura de cadeia longa e doces. + Jejum somente quando o estado geral está grave ou com vômitos incoersíveis e persistentes. Obs: escolher uma dieta de fácil aceitação da crianças, mas que não deixe de ser saudável. INFECÇÃO: apesar da maioria das diarreias em crianças serem de causa viral, é uma opção de tratamento em casos bacteriano. Entretanto, é questionado a relevância do uso de antibióticos nesses casos, pois geralmente não muda a evolução e pode causar complicações (ex. diarreia pseudomembranosa por Clostridium). Outras opções para infecção são os probiótio e o zinco. ANTITÉRMICO: acetoaminofen e dipirona (gosto ruim). Usar quando a temperatura corporal for acima de 38,5°C. ANTIMICROBIANOS: Indicações: infecções graves (fezes sanguinolentas [se estrias pode ser vírus], enterrorraias, toxemia, septicemia); recém-nascido e lactentes de baixa idade (<3 meses); desnutridos; imunodeprimidos (ex. HIV). Tipos: penicilina semissintética (amoxacilina), aminoglicosideo (gentamicina, amicacina), ciprofloxacina (Shiguella sp). PROBIÓTICOS: probiotico é o micro-organismo (bactéria ou fungo) e o parabiótico são substâncias (ex. hidrato de carbono) que direcionam a formação da flora intestinal. Os probióticos que podem ser usados incluem Lactobacilus rhamnosus, Saccharomyces - Exemplo: uma criança de 8 kg pode ter em cada dose 80 ml. Grau de desidrataçãoVolume perdido Se ela está com desidratação moderada (100 ml/kg) ela Leve 30-50 ml/kg precisa de 800 ml de soro. Ou seja, ela vai tomar 80 ml a cada Moderada 60-100 ml/kg Grave 90-150 ml/kg 20 min até ter tomado 800 ml (mínimo 10 doses). Obs: capacidade gástrica 30-50 ml/h. boulardii, L. reuteri, L. acidophilus. Usados principalmente quando do uso de antibióticos. ZINCO: tem se mostrado muito eficiente no tratamento da diarreia (diminui intensidade, tempo e número de evacuações). Tipo: sulfato, acetato, quelato, histidina e gluconato. O sulfato de zinco tem gosto muito ruim, mas estão saíndo formas com gosto melhores. Dose: crianças com menos de 6 meses 10 mg/dia; crianças com mais de 6 meses 20 mg/ dia. Duração: por 10-14 dias. Qual o tratamento básico da diarreia? Não se trata a diarreia e sim os seus agravos. Fazer reidratação (preventiva e terapêutica); orientação alimentar; antitérmicos e antieméticos quando necessário; zinco oral. Quando usar antibiótico na diarreia? infecções graves (fezes sanguinolentas, enterrorraias, toxemia, septicemia); recém-nascido e lactentes de baixa idade (<3 meses); desnutridos; imunodeprimidos. Por que usar zinco na diarreia aguda? Diminui a intensidade da diarreia (volume e frequência da diarreia), diminui tempo de diarreia, previne novos episódios de diarreia.