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IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período APG 15 VIAS URINARIAS Anatomia - Sistema urinário é dividido didaticamente em órgãos uropoiéticos (os rins) e a via urinária - A via urinária é composta pelos órgãos ureter, bexiga e uretra Ureter: são tubos musculares que tem a função de conduzir a urina produzida pelos rins até o órgão que irá armazena-la, a bexiga - A medida que a urina passa pelo ureter, ele realiza movimentos peristálticos para conduzir e levar a urina adiante - Por isso, mesmo se virar alguém de cabeça para baixo, a urina chegará a bexiga - O ureter se inicia ainda no interior do rim, como pelve renal e segue num sentido inferior atravessando toda a cavidade abdominal e invadindo a pelve óssea, onde vai desembocar na parte posterior e inferior da bexiga - O ureter é dividido em três partes: Pelve renal: formada pela junção dos cálices renais maiores com o início (parte mais dilatada do ureter) Parte abdominal: maior parte do ureter, vem da pelve renal até a parte onde o ureter deixa a cavidade abdominal e entra na pelve Parte pélvica: última parte do ureter, se estende desde o início da cavidade pélvica até a bexiga - Ao longo do ureter existem três pontos no quais o ureter sofre uma constrição, um estrangulamento - Esses pontos são de grande importância clínica, porque é comum verificar nesses locais a presença de cálculos renais As constrições são: - Pieloureteral: região de transição entre pelve renal e o restante do ureter IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - Transpélvica: parte de transição do ureter quando ele deixa a cavidade abdominal e “dobra-se” para entrar na pelve - Intramural: ponto do ureter onde o órgão penetra o interior da bexiga - São irrigados pelos ramos das artérias renais, gonadais, ilíacas, vesicais e ramificações ascendentes e descendentes - Drenado venosa pelas veias que acompanham as artérias - Drenagem linfática pelos linfonodos lombares, ilíacos externo e interno - Inervação dos ureteres é feita pelo plexo renal, gonadal (testicular ou ovárico) e hipogástrico, incluindo fibras aferentes para a sensibilidade dolorosa - Bexiga: órgão oco - É uma vesícula de musculatura lisa cuja função é de armazenar a urina produzida nos rins e transportadas pelos ureteres até este órgão IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - A bexiga é um órgão com grande capacidade de distensão, no homem ela é um pouco maior, tem a capacidade aproximada de 500ml a 700ml - Na mulher, 350-500ml - No adulto, a bexiga se localiza totalmente na cavidade pélvica, podendo invadir um pouco a cavidade abdominal quando se encontra totalmente cheia - A bexiga é dividida em: ▪ Úraco ou ligamento umbilical mediano ▪ Ápice ▪ Corpo ▪ Trígono ▪ Colo ▪ Fundo - No interior da bexiga existem três orifícios independentes que formam o trígono da bexiga: - Dois óstios ureterais: orifícios são formados pela entrada do ureter na bexiga - Óstio interno da uretra: início da uretra, é a abertura pela qual a urina deixa a bexiga para ser eliminada Uretra: é o único componente que é diferente no sexo masculino e feminino IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - A uretra masculina participa dos sistemas urinário e genital (serve para a eliminação da urina e para a ejaculação) - Se inicia no interior da bexiga, atravessa a próstata, o músculo esfíncter e todo o corpo esponjoso do pênis - Abri no óstio externo da uretra localizado na glande do pênis, pode chegar a medir 25cm - Dividida em três partes: - Parte prostática: uretra passa no interior da próstata, nesse ponto ela recebe a maior parte do sêmen - Parte membranosa / membranácea: atravessa o m. esfíncter, é a parte da uretra do homem que é estrangulada para “segurar” a micção - Parte esponjosa: maior parte da uretra, atravessa todo o corpo esponjoso do pênis e se abre na sua glande através do óstio interno da uretra - A uretra feminina tem função exclusiva de eliminar a urina - A uretra se inicia no interior da bexiga, atravessa o músculo esfíncter (controla a micção) e se abre no pudendo através do óstio externo da uretra, mede cerca de 5cm IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) Definição: pode ser definida como colonização bacteriana da urina, que resulta em infecção das estruturas do aparelho urinário – do rim ao meato uretral - As ISTs e tuberculose urinária não fazem parte, elas têm suas próprias particularidades Epidemiologia - Pode ocorrer em ambos os sexos e tem prevalência variada, de acordo com a faixa etária e as situações individuais em relação a idade e ao sexo - Variações epidemiológicas acontecem em decorrência de vários fatores: ▪ Flora bacterina habitual de áreas específicas ▪ Fatores antibacterianos e iatrogênicos (sondagens) ▪ Doenças associadas congênitas e adquiridas (diabetes) – 20% - Na infância, estabelece relação com: ▪ malformações obstrutivas, em 2-10% ▪ refluxo vesicureteral, em 20-30% - Na idade adulta, em mulheres o aumento de ITU se associa com: ▪ início da atividade sexual ▪ pH vaginal ▪ ausência de lactobacilos vaginais ▪ vaginites bacterianas ▪ gravidez (por conta das modificações anatomofuncionais do aparelho urinário), 4-7%, com maior gravidade e risco de pielonefrite (mais frequente no terceiro trimestre da gravidez) - A maior prevalência de pielonefrite pode estar relacionada à inadequada mobilização dos leucócitos em direção à área infectada, como também à isquemia secundária à doença microvascular Fatores de virulência microbiana - Qualquer invasão de um agente agressor, como bactérias, fungos, vírus e agentes específicos, pode causar uma ITU - Existe uma prevalência acentuada em relação as bactérias gram-negativas, dentre elas, especificamente, a Escherichia coli - Alguns agentes tem maior virulência (capacidade de produzir uma infecção) do que outros IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período Escherichia coli: expressão e especificidade por meio das adesinas fimbriais, hemolisina e aerobactina - Adesinas fimbriais: graduam a aderência aos receptores moleculares das células uroepiteliais *Essa aderência é fundamental para a invasão e para colonização bacteriana - Existem dois tipos de adesinas fimbriais (Pili): Pili tipo1 (manose sensitivo): que se liga a glicoproteínas que contenham manose na superfície uropitelial Pili tipo P (manose resistente): que adere às células uroepiteliais que contenham globosséricos de glicolídes - A expressão do Pili está sob controle genético da bactéria, algumas cepas da E. coli pode produzir um ou outro Pili e outras pode produzir os dois - A grande importância na diferenciação do tipo de Pili está na virulência provocada por cada um - Porque a ação do leucócito bem sucedida ou não, depende do tipo de Pili - No geral, Pili tipo 1 são menos resistentes a ação dos leucócitos, eles se ligam a elas com mais facilidade, facilitando a fagocitose bacteriana - Pili tipo P, não permite que o leucócito se ligue a ela, então ela faz a festa, induzindo o aumento da virulência das bactérias, por dificultarem a fagocitose - A cepas da E. coli que produzem mais Pili tipo P provocam infecções urinárias de maior gravidade, como pielonefrites Patogênese - ITU se desenvolve fundamentalmente por via ascendente, sempre em decorrência do desequilíbrio entre virulência bacteriana e as defesas naturais do organismo - Defesas naturais do organismo: existentes no aparelhourinário destinadas a prevenir infecções ▪ pH ▪ mucosa vesical rica em mucina (o que dificulta a aderência bacteriana - Nessa patogênese os fatores de risco (intrínseco ou extrínseco) são responsáveis por mudar as condições dessas defesas naturais, facilitando assim uma infecção: - Algumas mulheres podem ter aumento na receptividade das células do epitélio periuretral e da vaginal para bactérias do grupo coliforme IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - O que aumentara a população bacteriana e, consequentemente, o risco de infecção urinária - Principais fatores de risco: ▪ Inicio da atividade sexual no sexo feminino ▪ Instrumentação urológica terapêutica ou propedêutica Classificação - ITU pode se manifestar clinicamente de várias formas, depende do setor comprometido do aparelho urinário e da intensidade - Desde bacteriúria assintomática até septicemias graves - ITU mais simples costumam ser chamadas de não complicadas (cistite aguda) - ITU mais complicadas, que comprometem o estado geral ou associam-se a outros fatores clínicos - Mesmo grave, a sintomatologia não corresponde ao real quadro clínico em gestantes, crianças e idosos - Prostatites – infecção da próstata por via ascendente, hematogênica ou extensão por agentes bacterianos inespecíficos e específicos – aguda ou crônica – 5° década de vida Infecção por fungos - 8% das infecções hospitalares - Ocorre devido a imunossupressão, alimentação parenteral prolongada e estadia mais longa de paciente em unidade de terapia intensiva, uso de cateteres intravenosos, cateteres uretrais e terapia antibiótica prévia - Atividade virulenta dos fungos decorre de protease, de fosfolipase, de dismorfimo e de formação de cápsula - Divididas em dois grupos: - Primárias: aquelas que atingem indivíduos teoricamente normais e sem fatores de risco prévios, ex, blastomicose - Secundárias: oportunistas, destaque para candidíase, 90% das infecções por fungos IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - Oportunista porque se desenvolve em pacientes com função fagocitária deprimida, decorrente de várias causas que incluem: ▪ Disfunções metabólicas ▪ Doenças crônicas ▪ Terapia imunodepressora ▪ Esteroide - A cândida pode afetar o trato alto ou baixo ou ambos Cistites agudas - Grupo mais frequente de ITU - Tratamento de 7-10 dias - é uma infecção e/ou inflamação da bexiga. Em geral, é causada pela bactéria Escherichia coli, presente no intestino e importante para a digestão - Pode ser classificada como complicada ou não complicada com base na presença de características do paciente que indiquem uma possível resposta desfavorável a um ciclo curto de terapia - Sintomas: ▪ Vontade frequente para urinar, porém pouco volume de urina; ▪ Dor ou ardência ao urinar; ▪ Presença de sangue na urina; ▪ Urina escura (colúria), turva e com cheiro muito intenso; ▪ Dor no fundo da barriga ou sensação de peso; ▪ Mal-estar geral ou fraqueza Pielonefrites agudas - Grupo infeccioso de maior gravidade, algumas circunstâncias exigem internação hospitalar - É uma inflamação renal provocada pela ação de bactérias nos rins e nos ureteres, os ductos pelos quais a urina chega até a bexiga IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - A condição pode se manifestar de repente, de forma aguda, ou se tornar crônica após um episódio repentino Existem algumas condições que aumentam o risco de desenvolver pielonefrite. São elas: ➔ Anatomia feminina – mais do que os homens, as mulheres estão sujeitas a desenvolver infecções do trato urinário que podem afetar os rins. Para tanto, influi o tamanho da uretra feminina (3 cm), que é muito mais curta do que a masculina (mede por volta de 12 cm) e está localizada entre a vagina e o ânus, posição que favorece a entrada de micróbios especialmente durante o ato sexual ➔ Obstrução no trato urinário – pedra nos rins, gravidez, malformações anatômicas, uso prolongado de cateteres urinários, aumento benigno da próstata são condições que, além de retardar o fluxo da urina e o esvaziamento completo da bexiga, favorecem a proliferação de bactérias que podem alojar-se nos rins ➔ Sistema imunológico debilitado – portadores de HIV, hepatite, diabetes, ou que fazem uso de medicamentos imunossupressores podem ter diminuída a capacidade de reagir contra a infecção ➔ Refluxo vesicuretral – retorno de pequenas quantidades de urina da bexiga urinária para os ureteres e para os rins durante a micção por mau funcionamento das válvulas existentes no trato urinário. Embora esse refluxo seja mais frequente na infância, pode ocorrer na vida adulta também ➔ Diabetes, bexiga neurogênica, rins policísticos, cistites de repetição são doenças que atuam como importantes fatores de risco para as infecções do trato urinário - Sintomas: da pielonefrite são semelhantes nas formas aguda e crônica da doença. - Vale, porém, registrar algumas diferenças: - Na doença aguda, eles não tardam a aparecer - Na crônica, fases assintomáticas se alternam com outras em que as manifestações clínicas surgem somente nos períodos em que a infecção está ativa. Por causa dessa característica da doença, a infecção bacteriana crônica pode provocar lesões irreversíveis nos rins, que evoluem para insuficiência renal grave Nos dois casos, porém, os sintomas mais característicos são: ▪ Febre ▪ Calafrios ▪ Sudorese ▪ Náuseas ▪ Vômitos ▪ mal-estar ▪ dor lombar e pélvica, no abdômen e nas costas ▪ urgência e dor (disúria) para urinar ▪ sinal de pus (piúria) e de sangue (hematúria) na urina, que fica turva e com odor desagradável IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período Manifestações clínicas ▪ Necessidade frequente de urinar; ▪ Queimação ao urinar; ▪ Perda de urina, em alguns casos; ▪ Febre; ▪ Dor na parte inferior das costas; ▪ Aumento da vontade de urinar a noite ▪ Urina com aparência turva Diagnóstico - ITU é diagnosticada laboratorialmente por meio de cultura quantitativa de urina - 100 colônias/ml – associados ao quadro clínico exuberante Tratamento - Finalidade do tratamento é eliminar bactérias da urina - Fundamental conhecer a epidemiologia e os fatores de risco - Tratado principalmente por fluorquinolonas (que atuam inibindo uma enzima bacteriana – DNA girasse) associada à replicação bacteriana - Atualmente, as quinolonas destacam-se como agentes de primeira escolha para tratamento de ITU e existem sete derivados quinolônicos: ▪ ciprofloxacina ▪ norfloxacina ▪ enoxacina ▪ gatifloxacina ▪ levofloxacina ▪ lomefloxacina ▪ ofloxacina - Indicação terapêutica baseia-se na interação hospedeiro-bactéria, traduzida pelas inúmeras formas de manifestações da ITU - Em relação ao agente antimicrobiano, algumas características são importantes: absorção, metabolismo e mecanismo de excreção renal, taxa de fluxo urinário, cinética de micção e distribuição medicamentosa Profilaxia antimicrobiana - Em inúmeras situações, a ITU passa a apresentar incidência de caráter repetitivo por eventual manutenção de determinados fatores predisponentes, associada à exposição constante de contaminação - Nessas condições, podemos utilizar agentes antimicrobianos com doses e períodos de manutenção variáveis, como também agentes IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período variados que atuem na prevenção do episódio infeccioso - Antimicrobianos são utilizados para anomalias geniturinárias congênitas ou adquiridas associadas à infecção e para procedimentos urológicos para diagnóstico e tratamento - Como:biópsia transretal de próstata, próteses urinárias, procedimentos endoscópicos do trato urinário inferior, litotripsia, período gestacional com histórico infeccioso, ITU de repetição na mulher (três ou mais episódios ao ano), bacteriúria assintomática no período de gestação e procedimentos urológicos Prevenção de ITU recorrente - Profilaxia antimicrobiana: maneiras diferentes de como prescrever e qual antibiótico escolher na profilaxia da ITU recorrente. A decisão sobre como utilizar depende da relação da infecção com atividade sexual - As três estratégias antibióticas utilizadas são: ▪ profilaxia pós-coito ▪ profilaxia contínua ▪ autotratamento intermitente pela paciente Profilaxia contínua: profilaxia contínua pode ser administrada diariamente ao deitar ou com fosfomicina cada 10 dias.A maioria dos estudos recomenda por 6 a 12 meses Profilaxia pós-coito: a relação causal entre infecções e relações sexuais pode ser suspeitada quando o intervalo é entre 24 e 48 horas. Em mulheres com ITU relacionada à relação sexual, o uso pós-coito poderia ser uma opção melhor. Uma grande vantagem da profilaxia pós-coito, nos estudos, foi que ela produziu menos efeitos colaterais Autotratamento: essa estratégia deve ser restrita às mulheres que têm infecções recorrentes bem-documentadas e que estão motivadas e bem orientadas pelo médico. A paciente identifica o episódio de infecção com base nos sintomas e inicia o tratamento empírico. Essas mulheres devem ser instruídas a entrar em contato com seu médico se os sintomas não forem completamente resolvidos dentro de 48 horas Terapia estrogênica em mulheres na pós- menopausa: a queda estrogênica na pós- menopausa favorece o desenvolvimento de bacteriúria. O uso de estrógenos estimula a proliferação de lactobacilos no epitélio vaginal, reduz o pH e evita a colonização vaginal por uropatógenos. A estrogenioterapia vaginal reduz a recorrência de ITUs em 36% a 75% e tem mínima absorção sistêmica Imunoterapia: em razão da alta resistência antimicrobiana e às poucas alternativas de drogas para uso profilático, abre-se a perspectiva de outras estratégias de profilaxia IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período
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