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IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período APG 16 LITÍASE RENAL / NEFROLITÍASE Definição: formação de cálculos renais. A formação de cálculos acontece devido ao desequilíbrio entre a solubilidade e a precipitação de sais na urina - Existem vários tipos de cálculos EPIDEMIOLOGIA - Prevalência de 2-3% - Incidência em países industrializados 0,5%- 1% ao ano - Países em desenvolvimento acomete mais crianças - Risco de desenvolver nefrolitíase sintomática nas mulheres: 13% - Risco de desenvolver nefrolitíase sintomática nos homens: 7% - Probabilidade de 1/8 homens com 70 anos de desenvolver o cálculo - Alta taxa de recidiva, 80% ao longo da vida - 50% dos pacientes assintomáticos evoluem para forma sintomática ETIOLOGIA - 80% dos pacientes com nefrolitíase formam cálculos de cálcio (composto principalmente por oxalato de cálcio, menos frequente fosfato de cálcio) - Existem outros tipos principais PATOGÊNESE - Os rins tem como função conservar a água e excretar elementos de baixa solubilidade, principalmente sais de cálcio, durante condições variáveis de clima, dieta e atividade física - Quando a excreção de sais ou a conservação de água aumenta, cristais se foram, estes cristais podem crescer e se agregar para formar um cálculo - A formação do cálculo depende do balanço entre inibição e promoção, nesse cenário a cristalização será ou não favorecida - A atividade inibitória pode ser definida como a capacidade da urina em impedir a nucleação espontânea de cristais, se isso ocorrer, previne o crescimento e agregação posteriores - O inibidor da cristalização é capaz de ligar-se a superfície de cristais em formação, inibindo seu crescimento ou agregação - Existem inibidores de baixo peso molecular e macromoléculas: TIPOS DE CÁLCULOS - A maioria dos cálculos é de origem renal, - Cálculos vesicais são encontrados apenas em situações especiais, como na presença de obstrução uretral, corpo estranho intravesical ou bexiga neurogênica - São divididos em dois grandes grupos, cálculos com cálcio e cálculos sem cálcio IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - Cálculo de urato: em países em desenvolvimento, é comum a formação de cálculos formados por urato de amônio em crianças, associado a desnutrição - Cálculo de oxalato cálcio: os cálculos formados por deposição de cálcio são os mais comuns70-80% dos casos compostos por oxalato de cálcio (95% dos casos), mono-hidratados – 60% ou Di- hidratados compostos por apatita ou bruchita (5% dos casos) - Os cálculos de cálcio são arredondados, radiodensos e não costumam apresentar aspecto coraliforme - São mais comuns em homens, aparecem na maioria dos casos entre 20-30 anos, mas podem reaparecer depois mesmo com o tratamento sendo realizado com sucesso - Pode ocorrer por alguma disfunção do organismo, ex. a absorção excessiva de cálcio pelo intestino - São formados na presença de urina alcalina - A urina alcalina aumenta a supersaturação do fosfato, comum na acidose tubular renal distal ou no hiperparatireoidismo primário - Alguns medicamentos diuréticos, antiácidos e corticoides também podem causar uma sobrecarga de cálcio na urina - O excesso de vitamina A u D ou hiperatividade da glândula paratireoide podem igualmente causar cálculos renais de cálcio IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - Cálculos de ácido úrico: 10-15% dos casos - Podem ser puros ou abrigar quantidades variáveis de cálcio - São radiotransparentes, não visíveis na radiografia simples de rins, ureter e bexiga (RUB) - São visíveis na urografia excretora, aparecem como falhas de enchimento - São encontrados em pacientes que têm níveis de ácido úrico elevado - Comum em homens - Podem ocorrer em conjunto com dietas ricas em proteína, gota ou em pessoas que realizam quimioterapia - Sobre influência de fatores genéticos também - Os cálculos de ácido úrico chamados “puros” não aparecem na radiografia, mas são diagnosticados com ultrassom - Cálculos de estrutiva: formados por fosfato amoníaco magnésio - Representa 10% dos casos - Comum em mulheres com ITU - Geralmente decorrentes de infecções bacterianas - Crescem rapidamente, podendo causar bloqueio no rim, ureter ou na bexiga - São cálculos pouco radiodensos, grandes e caracteristicamente coraliormes - Cálculos de cistina: 1% dos casos - São pouco radiopacos, com aspecto de vidro moído (ground-glass) à RUB - Decorre de doenças raras e hereditária, onde há muita cistina (um tipo de aminoácido) na urina IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período FATORES DE RISCO - A formação de cálcsulos no trato urinário requer a presença de um ou mais fatores de risco, determinados, em sua maioria, pela análise da bioquímica e do volume urinário - Essas condições causam aumento da saturação urinária, em relação a determinado sal, ou promovem diminuição da atividade inibidora da urina - Ou seja, ou a urina da supersaturada com algo, ou a atividade inibidora da urina foi modificada, ou aumentou a estase urinaria Baixo Volume Urinário - A nefrolitíase é um distúrbio de concentração urinária - O objetivo do tratamento é modificar a concentração dos fatores litogênicos - A concentração urinária de cálcio, por exemplo, pode ser diminuída reduzindo-se a excreção de cálcio ou aumentado o volume urinário - Por isso, a ingestão hídrica aumentada é componente fundamental na prevenção da calculose urinária Hipercalciúria - Primária ou idiopática é conceituada como excreção urinária de cálcio maior que o normal - em homens: > 300mg/dia - em mulheres: > 250mg/dia - Afeta cerca de 5% da população normal e até 50% dos pacientes litiásicos - O paciente pode ou não desenvolver nefrolitíase, mas níveis urinários de cálcio acima da médica podem contribuir para formação de cálculos - O tratamento visa diminuir essa concentração - Apesar de o mecanismo preciso da hipercalciúria não estar ainda definido, existe consenso quanto à presença de algumas anormalidades fisiopatológicas: ➔ Aumento primário na absorção intestinal de cálcio (por aumento dos níveis séricos de vitamina D ou aumento na densidade dos receptores intestinais) ➔ Redução na absorção tubular de cálcio ➔ Perda renal de fosfato ➔ Aumento primário na reabsorção óssea - Pacientes hipercalciúricos, mesmo quando submetidos à restrição dietética de cálcio, excretam maiores quantidades de cálcio que indivíduos normais, o que pode levar a balanço negativo de cálcio no esqueleto - Marcadores ósseos são liberados, também tem maior susceptibilidade a fraturas ósseas Hiperoxalúria - Definida como excreção de oxalato maior que 40mg/dia - Contudo, a maioria dos portadores de nefrolitíase possuem níveis normais de oxalato na urina - O que acontece é o seguinte, a solubilidade do oxalato (quando ligado ao cálcio) em solução aquosa é de apenas 5mg/l , o que torna a urina permanentemente supersaturada com esse íon IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - O oxalato é um ácido orgânico dicarboxílico, cujo interesse biológico é limitado à sua participação na formação de cálculos renais - Provem do metabolismo endógeno da glicina, glicolato, hidroxiprolina e ácido ascórbico - A ingestão diária varia de 50-100mg/dia - As causas de hiperoxalúria de acordo com o nível de excreção são: ➔ Dietética: excesso de consumo de oxalato e baixa ingestão de cálcio ➔ Entérica: pode ocorrer após ressecção intestinal, doença de Crohn ou síndromes disabsortivas - Ocorre ligação do cálcio com a gordura presente na luz intestinal e hiperabsorveção do oxalato livre. O fator de risco principal é a hiperoxalúria, também relacionada à má- absorçãode gorduras ➔ Primária: níveis de oxalato na urina acima de 120mg/dia Ocorre nas hiperoxalúrias hereditárias tipos I = deficiência e/ou localização extraperoxissomo da enzima hepática alanina:glioxilato aminotransferase tipo II = eficiência da desidrogenase d- glicerato/glioxilato redutase, doenças raras, de herança autossômica recessiva Hiperuricosíria - Excreção urinária de ácido úrico maior que 800mg/dia – homens, e 705mg/dia, mulheres - O ácido úrico é o produto final da degradação de purinas em humanos - Em pH urinário ácido, a forma não dissociada do ácido úrico predomina e é pouco solúvel (apenas 96 mg/l), podendo levar à cristalúria e à formação de cálculo renal, mesmo com taxas de excreção normais - Nos últimos anos, têm-se notado aumento na frequência de cálculos de ácido úrico entre portadores de obesidade, síndrome metabólica e diabetes mellitus do tipo 2. Nesses grupos, o fator causal mais importante é o pH urinário persistentemente baixo - Esse achado parece estar relacionado à maior secreção ácida urinária e a defeito na excreção da amônia, que acarretaria diminuição da capacidade tampão da urina - Resistência à ação da insulina e lipotoxicidade renal são citadas como possíveis mecanismos - Por outro lado, o pH urinário constantemente baixo parece ser necessário, mas não suficiente, já que apenas uma fração dos indivíduos com síndrome metabólica e urina ácida desenvolve nefrolitíase - Por isso, a presença de outros fatores promotores ou a deficiência de inibidores da cristalização urinária talvez sejam também necessárias para a formação do cálculo Hipocitratúria - Excreção de citrato menor que 320mg/dia - O citrato é um potente inibidor da cristalização - Ele diminui a supersaturação urinária, ao formar sais solúveis com o cálcio - Ele também inibe diretamente a cristalização do oxalato de cálcio IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período - A citratúria é determinada pelo estado acidobásico das células tubulares renais - Quando predomina acidose, aproximadamente 95% do citrato filtrado são reabsorvidos pelo túbulo proximal como fonte adicional de energia para o ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico ou dos ácidos tricarboxílicos) - A hipocitratúria ode estar presente também em situações de acidose intracelular, como na hipocalemia, dieta hiperproteica, insuficiência renal, diarreias crônicas (por perda de álcalis) e uso de acetazolamida Infecção - Cálculos primariamente associados à infecção são formados por fosfato amônio magnésio (estruvita ou triplo fosfato) ou, mais raramente, por apatita (fosfato de cálcio) - Esses cálculos possuem crescimento rápido, podendo ocupar todo o sistema coletor (coraliformes) e causar infecções urinárias de repetição, abscessos perinefréticos, urossepse e insuficiência renal progressiva - A sua gênese está relacionada à infecção por bactérias produtoras de urease (usualmente do gênero Proteus, Providencia ou Klebsiella, quase nunca E colz) que desdobram a ureia em amônia, tomando o pH urinário alcalino e favorecendo a cristalização com fosfato e magnésio para formar a estruvita Cistinúria - Doença hereditária, autossômica recessiva, caracterizada por hiperabsorção de aminoácidos dibásicos (cistina, ornitina, lisina e arginina) nas microvilosidades do túbulo proximal e células epiteliais intestinais - A excreção urinária normal de cistina situa-se ao redor de 20 mg/dia, e a formação de cálculos deve-se exclusivamente à sua baixa solubilidade em pH urinário normal - Cistina do tipo A, AB e B Deficiência de proteínas inibidoras da cristalização - Em estudos de populações selecionadas, portadoras de nefrolitíase recorrente e sem anormalidades metabólicas associadas à formação de cálculos, foram identificadas alterações quantitativas e qualitativas na excreção de nefrocalcina, proteína de Tamm- Horsfall (uromodulina), osteopontina e bicunina, entre outras Medicações - O uso de sulfato de indinavir para tratamento de infecção por HIV está associado à formação de cálculos em até 3% dos pacientes - Ingestão excessiva de vitaminas A e D, uso de triantereno, acetazolamida e sulfadiazina podem causar cristalúria e, eventualmente, nefrolitíase - Outras medicações com potencial litogênico IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período Manifestações clínicas - Pode ser totalmente assintomática, com diagnóstico acidental através de exames de imagens, ou causar apenas uma dor vaga, em flancos - + Característico na nefrolitíase é a cólica nefrética - Usualmente, inicia-se com dor localizada em região lombar, flanco ou fossa ilíaca, súbita, forte, geralmente unilateral, em cólica, não aliviada com repouso ou posição, irradiada para trajeto ureteral, região de bexiga e genitália exantema ▪ Disúria ▪ Hematúria ▪ Náuseas ▪ Vômitos ▪ EF, taquicardia, palidez, sudorese, doa a palpação em região ângulo costovertebral e distensão abdominal leve, sinais de irritação peritoneal - O quadro clínico é bastante sugestivo, porém o diagnóstico diferencial deve ser feito com patolgias gastrintestinais (apendicite aguda, diverticulite, colecistite) ginecológicas (cisto ovariano, anexite, gravidez ectópica) urológicas (orquite, epididimite, prostatite), afecções vasculares (infarto intestinal, aneurisma de aorta abdominal) e algumas causas médicas ( cetoacidose diabética, infarto agudo do miocárdio) Diagnóstico - Radiografia simples RUB - Anamnese e exame físico - Sumário de urina - Urocultura - Hemograma - A tomografia computadorizada helicoidal é atualmente o padrão-ouro para o diagnóstico de litíase urinária - Apresenta alta sensibilidade e especificidade (96 e 100%, respectivamente), permite o exame do abdome em poucos minutos, pode ser usada sem administração de contraste na cólica renal aguda, diagnostica patologias não relacionadas ao trato urinário e detecta praticamente todos os tipos de cálculo, radiopacos ou não (exceção feita aos cálculos de indinavir). Além disso, permite utilizar a densidade - Calculo expelido tem que ser analisado para saber a etiologia IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período Tratamento - Deve ser dividido em três partes: tratamento da cólica renal, tratamento do cálculo e terapêutica da doença litiásica ➔ Tratamento da cólica renal: - As duas principais classes de medicações utilizadas para analgesia na cólica renal são os anti-inflamatórios não hormonais (AINH) e os opioides - A presença de cálculo no ureter ocasiona aumento da taxa de filtração glomerular, aumento da pressão em via excretorae espasmo da musculatura lisa - Os AINES têm ação direta na patogênese da dor, ao inibirem a síntese de prostaglandinas e reduzirem vasodilatação, pressão intrarrenal e inflamação - Têm eficácia semelhante à dos opioides, porém apresentam menos efeitos colaterais, principalmente quando comparados à petidina (meperidina) - O cetoprofeno é um dos AINEs + utilizados ➔ Tratamento do cálculo: - A eliminação espontânea ocorre em até 800/o dos cálculos menores que 5 mm - Para cálculos maiores que 7 mm, a chance é bem menor, em torno de 25% para os localizados em ureter proximal, 45% para aqueles em ureter médio e de 70% para cálculos de ureter distal - Consulta urológica urgente visando remoção do cálculo ou drenagem do trato urinário está indicada em situações de dor refratária ao tratamento clínico, obstrução persistente com função renal alterada, infecção concomitante, risco de pionefrose ou urossepse, obstrução bilateral ou cálculo em rim único com hidronefrose - Hospitalização é recomendada quando houver necessidade de administração frequente de analgésicos parenterais, vomitos persistentes, suspeita de pielonefriteaguda associada, elevação da creatinina plasmática e desenvolvimento de anúria ou oligúria - Alfa-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores de prostaglandinas e corticoides – PODEM FACILITAR ESSA PASAGEM ➔ Profilaxia doença litiásica IANI SOARES LUZ - 2022.2 – 4° Período