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10/10/2022 1 FBA – 0201 Bromatologia PROTEÍNAS NOS ALIMENTOS Prof. Dr. João Paulo Fabi UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental 1 PROTEÍNAS ALIMENTARES: •PROPRIEDADES: ØTecnológicas ØNutricionais PROTEÍNAS PROCESSAMENTO Custo-Benefício: Ingestão X Aproveitamento 2 • Vegetais sintetizam os 20 (21) aminoácidos necessários para a produção de suas proteínas • Animais não sintetizam todos eles, sendo que alguns devem ser ingeridos com o alimento. AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS E NÃO-ESSENCIAIS Po r q ue ? PROPRIEDADES NUTRICIONAIS 3 AMINOÁCIDOS LIMITANTES • o corpo humano só vai absorver os outros aminoácidos na proporção em que o aminoácido de menor quantidade for utilizado para anabolismo (ex. LISINA) AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS E NÃO-ESSENCIAIS 4 10/10/2022 2 PORTANTO........ Qualidade nutricional das proteínas: 1. Quantidade de aminoácidos essenciais 2. Digestibilidade proteica (biodisponibilidade) 5 DIGESTIBILIDADE / BIODISPONIBILIDADE Ø Proporção de NITROGÊNIO que será absorvido após a digestão ↑ PROTEÍNAS ANIMAIS X ↓ PROTEÍNAS VEGETAIS 1. Solubilidade 2. Estrutura química 3. Fatores antinutricionais 4. Modificações químicas dos aminoácidos 6 SOLUBILIDADE: Equilíbrio entres interações proteína-proteína e proteína-solvente Proteína-proteína: interações hidrofóbicas Proteína-solvente: interações iônicas MENOS RESÍDUOS HIDROFÓBICOS NA SUPERFÍCIE, MAIOR SOLUBILIDADE 1) Albuminas - solúveis em água pH 6,6 Albumina sérica, ovoalbumina, α-lactoalbumina 2) Globulinas - solúveis em solução salina pH 7 Glicinina, faseolina, β-lactoglobulina 3) Glutelinas - solúveis em pH extremos (2 ou 12) Glutelinas do trigo 4) Prolaminas - solúveis em etanol 70% Zeína e gliadinas; são extremamente hidrofóbicas + H ID R O FO B IC ID A D E - 7 Solubilidade X Estrutura química ESTADO NATIVO FOLDING Ação enzi mátic a: ma is fác il ou mais difíc il? 8 10/10/2022 3 SOLUBILIDADE: • Influência do pH: maior solubilidade em pH < pI / pH > pI § no pI de proteínas + hidrofóbicas: interações hidrofóbicas + interações iônicas § maior interação “inter-molecular” → AGREGAÇÃO → PRECIPITAÇÃO Ø Proteínas com resíduos polares superfície > apolares, mais solúveis no pI: α-LACTOALBUMINA / ALBUMINA SÉRICA pH < pI pH > pIpH ~ pI pI 9 SOLUBILIDADE: • Influência da força iônica: sais estabilizam / desestabilizam as proteínas ↑ SOLUBILIDADE (SALTING IN) / ↓ SOLUBILIDADE (SALTING OUT) GLOBULINAS ALBUMINAS Belitz 2009 Pouco solúveis no pI sais ↑ solubilidade “SALTING IN” Muito solúveis no pI sais ↓ solubilidade “SALTING OUT” 10 SOLUBILIDADE: • Influência da temperatura: → pH / forças iônicas constantes § ↑ temperatura (0-40ºC) § ↑ solubilidade (a) polares § > 40ºC desdobramento/desnaturação § ↓ SOLUBILIDADE Proteínas isoladas do soro do leite (Whey Protein Isolate) Damodaran, 2010 11 DESNATURAÇÃO PROTEICA -Ligações peptídicas se mantêm inalteradas; -Outros tipos de interações são afetadas; -Domínios desfeitos; AUMENTO BIODISPONIBILIDADE (???) ESTRUTURA QUÍMICA ALTA PROBABILIDADE DE INTERAÇÕES INTER-MOLECULARES!!! 12 10/10/2022 4 DIGESTIBILIDADE - BIODISPONIBILIDADE – nível de utilização dos aminoácidos - ↑ qualidade em proteínas animais, ↓ qualidade em proteínas vegetais FATORES ANTINUTRICIONAIS - Preparados proteicos vegetais: • inibidores de tripsina / quimotripsina • inibidores Kunitz ou Bowman-Birk • lectinas • inibidores de amilase DESNATURAÇÃO TÉRMICA PROPRIEDADES NUTRICIONAIS 13 - taninos → reação covalente (amino do R) Lys, ↓ clivagem pela tripsina - fitatos → complexo proteicos em ↓ pH (estômago) - polissacarídeos e fibras → ↓ taxa de hidrólise: • físico • químico - açúcares redutores: reação de Maillard PROPRIEDADES NUTRICIONAIS 14 Avaliação do valor nutricional de proteínas - Muitos fatores influenciam a qualidade nutricional das proteínas - Diversos procedimentos para avaliação da qualidade proteica são necessários para: (a) promover níveis seguros de aminoácidos essenciais para crescimento e manutenção; (b) monitorar alterações durante o processamento de alimentos para minimizar perda de qualidade durante o processamento. A qualidade nutritiva das proteínas pode ser avaliada por diversos métodos biológicos e químicos. 15 Avaliação do valor nutricional de proteínas MÉTODOS BIOLÓGICOS FAO/OMS: Baseados em ganho de peso ou retenção de N em “animais de teste” quando alimentados com uma determinada proteína. - Dieta com ~10% de proteínas (b.s.): abaixo das necessidades diárias; - CHO e lipídeos adequados para correto suprimento de energia: proteína apenas para anabolismo. 16 10/10/2022 5 Avaliação do valor nutricional de proteínas Durante determinados dias (geralmente 9 para ratos): quantidade de dieta consumida é medida e o Nitrogênio da urina e fezes é medido. O Quociente de Eficiência Proteica (PER − protein efficiency ratio) é o peso do animal (em gramas) ganho por grama de proteína consumida. Fonte proteica X animal de estudo MÉTODOS BIOLÓGICOS 17 Avaliação do valor nutricional de proteínas Quociente de Eficiência Líquida da Proteína (NPR − net protein ratio) é outro parâmetro e calcula a capacidade das proteínas na manutenção e crescimento dos animais. Crescimento de ratos mais acelerado que humanos / crianças em crescimento utilizam mais proteínas / idosos utilizam menos proteínas: - questiona-se os valores de PER e NPR de ratos para estimar as necessidades humanas, apesar de que procedimentos de correção apropriados estão disponíveis. MÉTODOS BIOLÓGICOS 18 Avaliação do valor nutricional de proteínas Já o Valor Biológico de uma proteína (VB) leva em consideração o metabolismo da proteína: onde I é o nitrogênio ingerido, NF é o nitrogênio fecal total, NF,e é o nitrogênio fecal endógeno (obtido por uma alimentação com dieta livre de proteína), NU perda de nitrogênio total na urina e NU,e perda de nitrogênio endógeno na urina. MÉTODOS BIOLÓGICOS 19 Avaliação do valor nutricional de proteínas Já a Utilização Líquida da Proteína (NPU − Net Protein Utilization), isto é, a porcentagem de consumo de nitrogênio retido como nitrogênio corporal, é tida: onde I é o nitrogênio ingerido, NF é o nitrogênio fecal total, NF,e é o nitrogênio fecal endógeno (obtido por uma alimentação com dieta livre de proteína), NU perda de nitrogênio total na urina e NU,e perda de nitrogênio endógeno na urina. MÉTODOS BIOLÓGICOS 20 10/10/2022 6 Avaliação do valor nutricional de proteínas A cada aminoácido essencial de uma proteína de teste se dá um ESCORE QUÍMICO, o qual é definido como: O aminoácido essencial que mostra o menor escore é o aminoácido mais limitante da proteína de teste (geralmente Lys, Thr, Trp e sulfurados). O escore químico desse aminoácido limitante fornece o escore químico da proteína de teste. mg aa / g de proteína teste mg mesmo aa / g de proteína referência X 100 MÉTODOS QUÍMICOS 21 Avaliação do valor nutricional de proteínas Escore químico de aminoácido corrigido pela digestibilidade proteica (Protein Digestibility Corrected Amino Acid Score - PDCAAS) Compara o perfil de aminoácidos da proteína alimentar específica contra um perfil de aminoácidos padrão com a pontuação mais alta possível sendo 1,0. Essa pontuação significa que, após a digestão da proteína, ela fornece, por unidade de proteína, 100% ou mais dos aminoácidos indispensáveis essenciais. mg de aminoácido limitante em 1 g de proteína de teste mg do mesmo aminoácido em 1 g de proteína de referência porcentagem de digestibilidadeX A digestibilidade aparente das proteínas pode ser rapidamente determinada in vitro usando-se uma combinação de três ou quatro enzimas, como tripsina, quimotripsina, peptidase e protease bacteriana (melhor ser a digestibilidade verdadeira). MÉTODOS QUÍMICOS 22 Avaliação do valor nutricional de proteínas PROBLEMAS: 1) não distinguem entre D- e L-aminoácidos; só L-aminoácidosutilizados no anabolismo de animais, pode superestimar o valor nutricional proteínas expostas a alto pH ou alta temperatura (racemização); 2) não prediz os efeitos negativos de altas concentrações de um aminoácido essencial sobre a biodisponibilidade de outros aminoácidos essenciais; 3) não leva em conta o efeito de fatores antinutricionais. Mas quando os escores são corrigidos pela digestibilidade proteica (in vitro), correlacionam-se bem com ensaios biológicos para as proteínas que apresentam VB acima de 40%; quando o VB está abaixo de 40%, a correlação é fraca. MÉTODOS QUÍMICOS 23 PER x BV x NPU x PDCAAS 24 10/10/2022 7 FBA – 0201 Bromatologia DETERMINAÇÃO DE PROTEÍNAS NOS ALIMENTOS Prof. Dr. João Paulo Fabi UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental 25 26 DETERMINAÇÃO DE PROTEÍNAS EM ALIMENTOS - Determinação de umelemento químico elementar (C, N); - Determinação de grupo específico da proteína (aminoácido, ligação peptídica). A conversão para conteúdo de proteína é feita através de um fator. ANÁLISES ELEMENTARES A. Análise de carbono •digestãomais fácil do que para o nitrogênio; •menores erros no resultado por causa da maior quantidade em relação ao nitrogênio; •fator de conversãomais constante do que o nitrogênio; •Desvantagem: maior dificuldade em separar os carbonos pertencentes à proteína dos carbonos de outros componentes. 27 B. Análise de nitrogênio •é a determinaçãomais utilizada; •considera que as proteínas têm 16% de nitrogênio em média (vai depender do tipo de proteína); •fator geral na transformação de nitrogênio para proteína é de 6,25. Este fator de conversão gera erros quando o conteúdo em N de um alimento é muito diferente de 16%. Nestes casos, existem os fatores de conversão específicos para cada alimento 28 10/10/2022 8 Método de Kjeldahl Johann Kjeldahl (1849-1900) Desenvolveu em 1883 o processo básico para determinação de nitrogênio orgânico total. Os passos incluem: •Digestão: H2SO4 (conc.) a 350-400oC + catalisador •Neutralização e Destilação •Titulação •Conversão do teor de N total para teor de proteína 29 Método de Kjeldahl Proteína H2SO4 (conc.) + K2SO4 D + catalisador (NH4)2SO4 K2SO4 : Aumenta o Ponto de Ebulição do H2SO4 (de 337 para mais de 400oC) Digestão mais eficiente CuSO4 : Catalisador. Acelera o processo de oxidação da matéria orgânica 30 Amostra ANTES da digestão Amostra DEPOIS da digestão 31 Método de Kjeldahl Neutralização e Destilação (NH4)2SO4 + 2NaOH 2NH3 + Na2SO4 + 2H2O NH3 + H3BO3 NH4H2BO3 Borato de amônio 32 10/10/2022 9 Método de Kjeldahl Titulação NH4H2BO3 + HCl H3BO3 + NH4Cl Indicadores: vermelho de metila + azul de metileno 33 1 Eq HCl _____________ 1 Eq Nitrogênio 1N (1Eq/1000 mL) _____ 14 g Nitrogênio 1N (1mL) ____________ 0,014g Nitrogênio 0,1N (1mL) ___________ 1,401mg Nitrogênio Logo: 1mL (0,1N) __________ 0,0014g Nitrogênio Vol. de HCl __________ Xg Nitrogênio Método de Kjeldahl 34 A maioria das proteínas possui em média 16% de nitrogênio, se levarmos em conta apenas o N das ligações peptídicas Portanto: 16g N _______ 100g proteínas 1g N ________ Xg Xg = 100/16 = 6,25 O teor de proteína bruta de um alimento é obtido pela multiplicação do teor de N - total pelo fator de conversão (6,25). Método de Kjeldahl 35 Levando em conta o N nas cadeias laterais de aminoácidos como Lys, Arg, His, Trp, Asn e Gln, o teor de N será diferente, logo o fator de correção também! 36 10/10/2022 10 Método de Kjeldahl Conhecendo a composição de AAs de um produto, é possível propor fatores mais específicos. % de N na proteína Fator Ovo ou carne 16,00 6,25 Leite 15,70 6,38 Trigo 17,15 5,83 Milho 17,70 5,65 Aveia 18,66 5,36 Soja 18,12 5,52 Arroz 19,34 5,17 37 https://www.youtube.com/watch?v=r0CYLxkNglo 38 Método de Kjeldahl Vantagens •Aplicável a muitos tipos de alimentos •Relativamente simples •Não é caro •Preciso. Trata-se de um método oficial para a determinação de proteínas • Pode analisar microgramas de proteína em um alimento (micro Kjeldhal) Desvantagens •Mede Nitrogênio orgânico total, não apenas nitrogênio de proteínas •Demorado •Utiliza reagentes corrosivos. 39 Método de Kjeldahl Outras possíveis fontes de N na amostra: •Amino ácidos livres •Pequenos peptídeos •Ácidos nucleicos •Amino açúcares •Porfirinas •Algumas Vitaminas •Alcaloides •Ureia •Íons Amônio DNA Clorofila Cianocobalamina (Vit. B12) 40 https://www.youtube.com/watch?v=r0CYLxkNgl https://www.youtube.com/watch?v=r0CYLxkNglo 10/10/2022 11 Método de Kjeldahl 1. Digestão: H2SO4 (conc.) a 350- 400oC + catalisador 2. Neutralização e Destilação 3. Titulação 4. Conversão do teor de N total para teor de proteína 41 METODO DE DUMAS O método proposto por Jean-Baptiste Dumas (1831) determina N total, após combustão da amostra a 700 – 900°C e medida volumétrica do N gasoso (impreciso). Equipamentos recentes completam a análise em 3 minutos e com boa precisão, pois consegue eliminar a água e CO2 presentes, analisando em detector de condutividade térmica (TCD) apenas o N elementar. https://www.youtube.com/watch?v=Jyo0nnyhoas 42 ANÁLISE POR GRUPOS FUNCIONAIS METODO POR ESPECTROFOTOMETRIA ULTRAVIOLETA Proteínas absorvem UV em 280 nm. Aminoácidos aromáticos: tirosina, triptofano METODO POR BIURETO ligações peptídicas formam um complexo de cor roxa com sais de cobre em soluções alcalinas MÉTODO DE LOWRY (reagente de FOLLIN-CIOCALTEAU) reagente fenol e cobre em condições alcalinas: aminoácidos aromáticos 10 a 20X mais sensível que UV, 100X mais sensível que o método por biureto 43 ANÁLISE POR GRUPOS FUNCIONAIS METODOS TURBIDIMÉTRICOS A medida é baseada na turbidez causada pela proteína precipitada por algum agente precipitante MÉTODO DYE-BINDING (ligação de corante) Corante que forma um complexo colorido com a proteína: “Bradford” 44 https://www.youtube.com/watch?v=Jyo0nnyhoas 10/10/2022 12 REFERÊNCIAS ORDÓÑEZ, J. A. Tecnologia de alimentos: componentes dos alimentos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2005. v. 1. FENNEMA, O. R. Química de alimentos. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. COULTATE, T. P. Alimentos: a química de seus componentes. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. DE MAN, J.M. Principles of Food Chemistry. 3.ed. Gaithersburg, Maryland, 1999. BELITZ, ·H.D.; GROSCH, W.; SCHIEBERLE, P. Food Chemistry. 4.ed. Berlin Heidelberg: Springer-Verlag, 2009. 45
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