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Toxoplasma gondii e Toxoplasmose Profa. Regina Maura Laboratório de Protozoologia Departamento de Biologia Animal Farmácia - 2016 Introdução: Toxoplasmose • Significativo problema médico sanitário. • Maioria das infecções: assintomáticas e atinge vários níveis sócio-econômicos; doença é mais rara. • Sorologia: 50% a 80%; Região Sudeste: 85% + – Ex: 71% dos doadores de sangue no Estado de São Paulo. • Estimativa: 30% da população mundial está infectada! Ou seja: 2 bilhões de pessoas.... – 1° caso de Toxoplasmose congênita: descrito em 1939 por Wolf et al.; PCR para detecção de “Toxo” congênita: Burg et al, 1989....não há muitas pesquisas sobre fármacos nos últimos 50 anos.... 2 Relevância do Toxoplasma gondii • Nos EUA: principal causa de morte atribuída a transmissão alimentar (DTA=doenças transmitidas por alimentos). • OMS: infecção parasitária negligenciada: – Toxoplasmose congênita - Toxoplasmose ocular 3 Nem sempre a culpa é do gato!!! Agente etiológico • Protozoário Toxoplasma gondii: – Filo Apicomplexa, família Sarcocystidae – Descrito em 1908 no Brasil e na França, simultaneamente. – Intracelular estrito!!: • Penetram ativamente em vários tipos de células, exceto eritrócitos! 4 Ciclo Biologico: Heteroxênico • Toxoplasma gondii: – Reservatórios naturais: felídeos domésticos e selvagens. Membros da Familia Felidae são hospedeiros definitivos do protozoário (ciclo sexuado do protozoário somente ocorre no epitélio intestinal dos Felidae). – Hospedeiros acidentais: homem, outros mamíferos (caprinos, ovinos, suínos, bovinos, coelhos, cães) e diversas espécies de aves (galinhas, pombos, etc). 5 Formas infecciosas do Toxoplasma gondii: 3 6 1. Taquizoítos • Formato de arco; forma de multiplicação rápida do protozoário (sucessivas endodiogenias). • 6-7 μm comprimento; 3 μm diâmetro; • Encontrados nos líquidos corporais (saliva, leite, esperma, líquido peritoneal, urina, lágrimas), células hepáticas, células nervosas. • Penetram ativamente em todas células nucleadas do hospedeiro, disseminando a infecção no corpo do hospedeiro. • Característicos da Fase Aguda da infecção (± 3 semanas) 7 2. Cistos • Forma de resistência encontrada nos tecidos do hospedeiro parasitado. • Contém os bradizoítos: proliferação lenta, infecção latente, formas quiescentes (metabolicamente inativo). • Interior dos miócitos (músculo esquelético e miocárdio), na retina e no cérebro (neurônio/encéfalo). •Caracteristicos da Fase Crônica da infecção • 10 a 200 μm; até 3.000 bradizoítos Formas infecciosas do Toxoplasma gondii: são 3! 8 3. Oocistos contendo Esporozoítos: • Dois esporocistos com quatro esporozoítos cada um: •Oocisto não esporulado: 10 x 12 m; •Oocistos esporulados: 11 x 13 m • Fezes de felídeos: 7 a 20 dias. Gatos jovens....13.000.000 oocistos/g/fezes...em geral, eliminam oocistos uma só vez na vida. • São eliminados não esporulados; Infectantes em 1 a 5 dias (umidade e temperatura). Formas infecciosas do Toxoplasma gondii: são 3! Infecção por Toxoplasma gondii no gato: • Nem todo gato infectado pela ingestão de oocistos, chega a eliminar oocistos nas fezes... mas gatos infectados pela ingestão de cistos teciduais (através do carnivorismo), 100% eliminam oocistos nas fezes! 9 Gatos eliminam oocistos após: Ingerirem: Período Pré- patente % de gatos eliminando oocistos nas fezes • taquizoítos ± 18 dias 50% • bradizoítos 3-10 dias 100% • oocistos 18 dias 50% Toxoplasma gondii: Ciclo Biológico. • Ciclo enteroepitelial (epitélio intestinal de felídeos): formação de gametas que culminam na produção de oocistos. • Ciclo Assexuado: realizado em outros tecidos sem formação de gametas, ocorre em animais de sangue quente : taquizoítos e bradizoítos. 10 11 Moura et al., 2009. Mem. Inst. Oswaldo Cruz vol.104 no.6 Rio de Janeiro Sept. 2009 12 Toxoplasma gondii: formas de transmissão Hospedeiros intermediários Ser humano: hospedeiros acidentais Hospedeiros Definitivos Vias de Transmissão: 1. Ingestão de oocistos 2. Ingestão de cistos teciduais 3. Transplacentária 4. Transplante 5. Transfusão de leucócitos Infectados Transmissão de Toxoplasma gondii x Formas do Parasito 13 Contaminação fecal do solo com oocistos 1 a 2 dias Taquizoítos Cistos teciduais Toxoplasma gondii: Mecanismos de transmissão • Ingestão de oocistos (locais onde há fezes de gato: jardins, caixas de areia, solo, água, verduras, insetos). • Ingestão de cistos teciduais (ex: carne de porco ou carneiro crua ou mal cozida). • Transplacentária ou congênita (aquisição da infecção pela gestante, antes soronegativa). • Transplante ou transfusão de leucócitos infectados. 14 Formas clínicas da Toxoplasmose - Toxoplasmose Adquirida (pós-natal): assintomáticos à casos severos; linfadenite; podem ocorrer sintomas prodromicos; acometimento ocular mesmo se paciente é adulto...gravidade depende do genótipo/virulência. - Toxoplasmose Congênita: transmissão de mãe para o feto; manifestação mais severa da infecção; - Toxoplasmose no indivíduo imunocomprometido: encefalite, disseminada ou retinite (atinge 40% dos portadores de SIDA); alta letalidade. 15 Toxoplasmose Adquirida • Variedade de manifestações (desde assintomático até casos severos): • - Idade do indivíduo, n° de parasitos; via de aquisição do parasito, genótipo/cepa; localização do parasito. 1. Ganglionar ou febril aguda: forma mais comum em humanos; comprometimento ganglionar, febre alta; curso benigno em geral. 2. Ocular: surge 1 mês a 3,5 anos após aquisição da infecção (pessoas afetadas: 10 a 57 anos de idade – surtos). Cistos na retina e inflamação da coróide. Pode evoluir para cegueira parcial ou total. 16 Toxoplasmose Adquirida 3. Cutânea ou exantemática: mais rara; lesões generalizadas; fatal. 4. Encefalite: manifestação clínica mais importante nos imunodeficientes: lesões no hemisfério cerebral, desde leve paralisia até confusão mental e morte do paciente (10% a 30%); reativação. 5. Generalizada: forma muito rara; atinge vários órgãos e tecidos. 17 Lembre-se! Doença ocular é provavelmente o acometimento mais comum da toxoplasmose adquirida após o nascimento. Experimentalmente, infecções induzidas por oocistos são mais severas que aquelas induzidas por cistos teciduais e bradizoítos, a despeito da dose. Toxoplasmose Congênita • Resulta da Transmissão da infecção ao feto: - Somente ocorre se a mãe adquirir a infecção durante a gravidez (= primoinfecção); - Apenas cerca de 10% das mulheres infectadas tem infecção sintomática: Febre, exantema, mal estar, linfadenomegalia. - Se a infecção ocorrer do 3º ao 4º mês da gestação: a frequência da transmissão ao feto é menor mas a doença é mais grave, podendo resultar em morte fetal. 18 Transmissão via placenta • Disseminação no feto: – via sanguínea todos os tecidos: • Taquizoítos atravessam a placenta (alcançando a circulação fetal e tecidos fetais, com necrose, vasculite; hemorragias): afinidade por SNC e olhos!!! 19 Há especial afinidade do toxoplasma para o Sistema Nervoso Central e olho. Risco de Infecção Congênita na Toxoplasmose adquirida durante a Gestação • 1° Trimestre..............Risco: 10-15% Mas: - Período crítico: 10ª sem – 24ª sem. - Bebês são mais severamente afetados! • 3º Trimestre...................Risco: 60 – 90% 20 Aspectos Clínicos da Toxoplasmose Congênita • Gravidade – variável: – Feto: natimorto ou forma grave (hepatoesplenomegalia, petéquias e icterícia); nestes casos sempre há lesões cerebrais e oculares. Mortalidade perinatal alta. – Grande maioria dos casos: doença ao nascimento é sub-clínica; sequelas somente são detectadas após dias ou semanas (reativação geralmente nas tres primeiras décadas de vida). • Tétrade de Sabin: – Hidrocefalia* ou microcefalia; – Coriorretinite, estrabismo – Calcificações intracranianas (córtex, tálamo); – Convulsões ou retardo mental * Sinal clinico mais dramático da toxoplasmose congênita;é uma reação do hospedeiro ao parasito (Dubey, 2010). 21 Toxoplasmose no indivíduo imunocomprometido - Encefalite, disseminada ou retinite: - 10 a 40% nos EUA; - 75% a 90% na Europa, África e América Latina; - Lesões da encefalite: córtex cerebral; - Quadro: distúrbios do comportamento, confusão mental, torpor, convulsões, delírio, ataxia, coma, déficits neurológicos focais às vezes acompanhados de rigidez da nuca - Pneumonia; - Depende do genótipo! - Tipos genéticos de T. gondii: - Tipo I, Tipo II e Tipo III (linhagens clonais) ou recombinantes do tipo I/III: - Genótipos de T. gondii no Brasil: recombinantes naturais I/III. 22 Epidemiologia • Pesquisa de Anticorpos – sorologia: – Mulheres – EUA: 15-19 anos: 16% 20-24 anos: 27% 25-30 anos: 33% 30-34 anos: 40% Acima de 35 anos: 50% - Mulheres – Brasil: 18-40 anos: 51,6% Área urbana: 71,3% - 20 a 30 anos. Área rural: 78% 23 Risco! Diagnóstico Clínico • Toxoplasmose adquirida: Linfadenopatia (firme; sem dor, em uma cadeia de gânglios – cervical, inguinal ou axilar); febre; exantema. 24 Diagnóstico Laboratorial • PCR: Reação em Cadeia da Polimerase – Pacientes imunocomprometidos, infecção congênita e ocular. • Métodos sorológicos – IgM (marcador de fase aguda) e IgG (marcador de fase crônica): aumento de IgG em exames repetidos sinaliza infecção recente. • Sabin-Feldman – Somente em centros de referência: cultura celular ou peritônio de camundongo • Reação de fluorescência indireta – Taquizoítos; método mais econômico e seguro que anterior • Testes de aglutinação direta (com taquizoítos fixados por acetona), detecção de IgG. 25Saadatnia e Golkar, 2012. Scand. J. Infect. Dis. Diagnóstico Laboratorial – Toxoplasmose Congênita • Clínico - tétrade de Sabin. • Laboratorial : - Alvo: pesquisa de Ac – Tipo IgM (não atravessa placenta) no soro do recém-nascido; estratégia: 1. Vários testes (RSF, IFA, ELISA): título do recém-nascido maior que os da mãe (2x/diluição); 2. Elevação dos títulos de recém-nascido, em 2 testes sucessivos. 3. Persistência dos títulos em até 5 meses após o nascimento. *IgG: atravessam passivamente a placenta da mãe com sorologia positiva. 26 Tratamento da Toxoplasmose • Em indivíduos imunocompetentes: – Sulfadiazina, pirimetamina, ácido folínico . – Se corioretinite: Sulfadiazina, pirimetamina, ácido folínico e prednisona. • Em indivíduos imunocomprometidos: – Sulfadiazina, pirimetamina, ácido folínico . 27 Tratamento • Em gestantes: – Espiramicina: 3 a 4 semanas e sulfadiazina-pirimetamina#- ácido folínico + levedura* – Toda a gravidez, a partir do momento do diagnóstico! • Espiramicina: alta concentração tecidual, particularmente na placenta. Não atravessa a barreira placentária. • Tratamento pré-natal dos bebês infectados. # Pirimetamina + sulfa: agem contra taquizoítos (Eyles e Coleman, 1953) *T. gondii não tem capacidade de “usar” ácido folínico pré-sintetizado. 28 Prevenção e Controle • Exame pré-natal em gestantes; • Tratamento das grávidas na fase aguda da doença; • Alimentar os gatos com ração ou carne bem cozida; • Evitar que grávidas manipulem caixa de areia contendo fezes de gato; • Incinerar as fezes do gato antes de jogar no vaso sanitário (sem a queima, os oocistos são dispersos no esgoto); • Cocção ou congelamento da carne • Posse responsável de gatos: evitar gatos errantes. 29 Toxoplasmose: Epidemiologia Variáveis associadas com infecção em gestantes: 1º: contato com solo; 2º: moradia sem coleta de lixo; 3º: comer carne mal cozida. Hábito de ingestão de carne crua ou mal-cozida: Ordem de importância: ++++ : suínos, caprinos, ovinos +++: aves, coelhos, cães, eqüinos +: carne bovina e búfalos. - carcaças refrigeradas: 1-4°C:3 semanas - congelamento (-1 a -8°C): 1 semana. IC770 - 30 Aquisição da toxoplasmose está relacionada aos hábitos culturais dos diferentes países: ex: quibe cru. Toxoplasmose: Profilaxia e Orientações aos Pacientes Importância para os soronegativos (gestantes): Não consumir: carne crua ou mal cozida; leite não pasteurizado, ovos crús (considerada uma via de baixa importância epidemiológica); Lavar as mãos após manipulação de carnes cruas; após jardinagem ou contato com solo. Lavar frutas e verduras (insetos - vetores mecânicos); Evitar contato com fezes de gatos; Receptores de transplantes: riscos! órgãos de doadores positivos; Realização de campanhas educativas: como proteger play-grounds; necessidade de testes pré-natais (compulsório em alguns países, hoje); informação correta da gestante. IC770 - 31 Surtos Epidêmicos por via Hídrica: maior em n° de pessoas atingidas. • Isabel do Ivaí, Paraná, Brasil: - Nº de pessoas atingidas: 290; - Origem do surto: reservatório de água (pequena planta de tratamento), contaminação com fezes de uma gata. - Tratamento só por cloração; - Repercussão internacional: negativa. ______________________________________________________________ • Surto de toxoplasmose no Paraná é recorde mundial • AGENCIA ESTADO • 11 Janeiro 2002 | 17h 45 - Atualizado: 03 Março 2012 | 21h 38 • O surto de toxoplasmose em Santa Isabel do Ivaí, a 580 quilômetros de Curitiba, no noroeste do Paraná, pode ter provocado o primeiro aborto. A Secretaria Municipal da Saúde espera resultados de exames realizados no feto da operária Irene Magalhães Vasconcelos, de 29 anos, que abortou terça-feira. Na cidade já foram confirmados 132 casos de toxoplasmose, superando os 100 casos registrados em 1995, na cidade canadense de British Columbia, considerado o maior surto da doença. Das cerca de 50 gestantes identificadas no município, três, entre elas Irene, contraíram a doença transmitida pelo protozoário Toxoplasma gondii. As outras duas estão grávidas de cinco e oito meses. Os bebês ainda correm risco, principalmente de má-formação. Por isso, as atenções dos agentes de saúde estão mais voltadas para as gestantes e para pessoas imunodeficientes. A operária que abortou já tem uma filha de seis anos e um menino de 11 anos. Os primeiros casos do surto no município manifestaram-se no início de dezembro. Ainda há outras 100 notificações em processo de análise, o que poderá elevar o número de casos confirmados, e outros cerca de 200 que apresentam um ou outro sintoma - febre, dor na cabeça ou no corpo e fraqueza -, mas o próprio organismo reage contra a doença. A partir da próxima semana, todas as pessoas notificadas passarão por exames oftalmológicos e receberão acompanhamento médico por tempo indeterminado. As doenças oculares são um dos problemas gerados pela toxoplasmose. "Ninguém ficará sem assistência", garantiu a secretária municipal de Saúde, Ana Elisa Mazzotini. A água consumida na cidade vem sendo apontada como uma das principais suspeitas de ter transmitido o parasita à população. Os técnicos acreditam que a água - o município tem um sistema próprio de distribuição de água, independente do sistema estadual ? foi contaminada pelas fezes de uma gata, que vivia próximo de um dos reservatórios. O parasita utiliza como hospedeiro animais, sobretudo gatos, pois somente no intestino dele é que o protozoário consegue se reproduzir. A secretaria está oferecendo R$ 100,00 para quem conseguir capturar o animal. "Para as análises que estamos fazendo, ela é importante", disse a secretária. As outras possíveis causas de transmissão são os alimentos crus, especialmente carnes e verduras. 32 Surtos Epidêmicos por via Alimentar: bebês foram infectados. • Santa Vitória do Palmar (RS), Brasil: - 10 pessoas da mesma família (entre 2 meses e 54 anos); - Origem do surto: ingestão de embutido de carne suína denominado “copa”; 33