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DISCIPLINA GEOLOGIA AMBIENTAL AULA 09 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL A DISTÂNCIA DISCIPLINA GEOLOGIA AMBIENTAL AULA 09 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL A DISTÂNCIA GOVERNO DO BRASIL Presidente da República DILMA VANA ROUSSEFF Ministro da Educação ALOIZIO MERCADANTE Diretor de Ensino a Distância da CAPES JOÃO CARLOS TEATINI Reitor do IFRN BELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA Diretor do Câmpus EaD/IFRN ERIVALDO CABRAL Diretora Acadêmica do Câmpus EaD/IFRN ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE Coordenadora Geral da UAB /IFRN ILANE FERREIRA CAVALCANTE Coordenador Adjunto da UAB/IFRN JÁSSIO PEREIRA Coordenadora do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental MARIA DO SOCORRO DIÓGENES PAIVA GEOLOGIA AMBIENTAL – Aula 09 Professor Pesquisador/Conteudista LEÃO XAVIER DA COSTA NETO DiretorA da Produção de Material Didático ROSEMARY PESSOA BORGES Coordenador da Produção de Material Didático LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA Revisão Linguística KALINA ALESSANDRA RODRIGUES DE PAIVA Coordenação de Design Gráfico LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA Projeto Gráfico BRENO XAVIER Diagramação EMERSON LUÃ 5 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS APRESENTANDO A AULA Nesta aula, você irá estudar a ação das águas costeiras, especificamente na zona de praia, onde forças oceanográficas e meteorológicas, além da ação humana, modificam de sobremaneira o meio geológico, o geomorfológico, o biótico (fauna e flora) e o socioeconômico, muitas vezes, causando sérios danos ambientais. Também irá aprender sobre a estrutura morfológica e geológica do fundo oceânico, além das características, da distribuição e da dinâmica das águas oceânicas ou marinhas, responsáveis pelo modelamento dos oceanos. Por fim, ainda encontrará um pequeno glossário de termos geológicos para auxiliar no entendimento dos conteúdos estudados. DEFININDO OBJETIVOS Ao final desta aula, você deverá: • conhecer e entender as características dos agentes oceanográficos e meteorológicos responsáveis pela dinâmica costeira e oceânica; • conhecer os processos e produtos que ocorrem nas praias e no mar aberto; • compreender as transformações ambientais decorrentes de ações antrópicas nas praias e em mar aberto. 6 GEOLOGIA AMBIENTAL DESENVOLVENDO O CONTEÚDO Propriedades da Água Oceânica Como você estudou na Aula 08 sobre as águas continentais e transicionais, do volume total de água na superfície terrestre, 97 % é constituída por água salgada dos oceanos e mares, incluindo também a zona costeira. Nessa aula, é importante que você conheça as propriedades da água do mar para entender a sua dinâmica e a influência nos processos geológicos. Nesse sentido, as principais propriedades são a salinidade e a temperatura, as quais controlam a densidade e são responsáveis pelo movimento vertical das águas oceânicas. A salinidade (S) é definida como concentração média dos sais dissolvidos nos oceanos, que varia a depender do balanço entre a evaporação e a precipitação, e o grau de mistura entre as águas superficiais e profundas. A água dos oceanos apresenta uma salinidade média de 35 PSU, ou seja, aproximadamente 3,5 %. Enquanto a água dos estuários, deltas e lagunas (água doce) tem salinidades variando de 0,5 a 30 PSU, na água dos rios, lagos e lagoas (água doce), a salinidade pode variar de 0 a 0,5 PSU. A temperatura (T) na superfície do mar está sujeita à insolação e, dependendo da quantidade de calor atmosférico, aquece as águas superficiais, já que mais calor é irradiado. Já a temperatura da superfície dos oceanos varia na ordem de 28ºC em baixas latitudes para até -2ºC em altas latitudes. Por sua vez, na variação vertical da temperatura nas latitudes baixas, a temperatura na superfície do oceano é próxima à temperatura do ar, entre 200 e 1000 m de profundidade, ocorrendo grande variação de temperatura enquanto que, na camada do fundo (> 1000 m de profundidade), ocorre uma pequena variação de temperatura. A densidade (ρ) é a relação entre a massa e o volume de um determinado material. Geralmente, é dada em g/cm3, sendo importante para a circulação oceânica, uma vez que massas d´agua mais densas tendem a afundar e massas menos densas tendem a flutuar na superfície. Na maioria das substâncias, a diminuição de temperatura provoca um aumento na sua densidade. Como a temperatura das massas de águas profundas diminuem com a profundidade, então suas respectivas densidades tendem a aumentar. Por outro lado, as massas de água superficiais, mais quentes, tendem a apresentar densidades menores. As águas costeiras e oceânicas são afetadas pelas propriedades da água, por fenômenos oceanográficos que atuam de formas diferentes e controlam a sua dinâmica, são eles: as ondas, as correntes e as marés, por fenômenos meteorológicos (vento, temperatura do ar e pressão atmosférica) e geomorfológicos (morfologia do fundo oceânico, configuração da linha de costa, etc.). De uma forma geral, o clima exerce um papel importante no controle desses fenômenos. 7 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS Águas Costeiras A zona costeira ou faixa litorânea é a zona de transição entre o ambiente continental e o marinho, onde ocorre forte dinamismo e importantes processos geológicos como erosão, transporte e deposição, os quais são controlados pelas ondas, correntes e marés. Essa transição é caracterizada pela formação do ambiente geológico de praia. A morfologia do sistema praial é um tema bastante discutido entre os pesquisadores, o que acarreta a existência um grande número de classificações. Nessa aula, será adotada a classificação proposta por Souza et al. (2005), conforme mostra a Figura 1. Fig. 01 - Morfologia do sistema praial segundo Souza et al. (2005). As ondas são formadas quando o vento sopra por determinado tempo sobre a superfície da água (oceanos, mares, lagos, barragens, etc.), entretanto, também podem ser formadas em consequência de terremotos, atividade vulcânica e furacões. Nos oceanos, as ondas se deslocam no mesmo sentido do vento em direção às regiões mais rasas, ou seja, ao continente, mais especificamente, em direção à zona costeira. Para entender o comportamento de uma onda, é fundamental que você conheça os seus elementos: crista e cava (altos e baixos característicos das ondas); altura/h (distância vertical entre uma crista e uma cava); amplitude/A (metade da altura); comprimento de onda/L ou λ (distância horizontal entre duas cristas ou duas cavas sucessivas); período/T(tempo decorrido da passagem de duas cristas ou duas cavas sucessivas em um determinado ponto); frequência/ƒ(número de ondas que passa por um determinado ponto fixo por unidade de tempo e representa o inverso do período - 1/T); esbeltez/steepness (quanto uma onda é empinada/grau de inclinação, expressa pela relação h/ L) e velocidade/V (relação L/T) (Conferir a Figura 2). 8 GEOLOGIA AMBIENTAL Fig. 02 - Distribuição da água na Terra. No Rio Grande do Norte, as ondas próximas à zona de arrebentação apresentam alturas médias em torno de 1,0 m e períodos médios de 6,0 segundos. As ondas são importantes no transporte dos sedimentos marinhos, principalmente em regiões de águas rasas, ou seja, mais próximas à linha de costa. Dependendo da profundidade da água, da presença de obstáculos emersos e submersos e da direção com que chegam à linha de costa, as ondas podem passar pelos fenômenos físicos de refração, reflexão e difração, que contribuem com o processo de transporte de sedimentos, erosão e sedimentação. Segundo Teixeira et al (2009), a depender da forma e energia das ondas, bem como da topografia da zona costeira, as ondas apresentam 3 tipos de arrebentação: ascendente (áreas de alta declividade do fundo), mergulhante (áreas de média declividade do fundo e a crista enrola em espiral) e deslizante (áreas de baixa declividade do fundo, ondas quebras e percorrem grandes distâncias) (Conferir a Figura 3). O movimento dos grãos por ação das ondas, quandose aproximam das áreas costeiras, ocorre quando as mesmas atingem profundidades iguais a 1/2 do seu comprimento de onda (Muehe apud Guerra e Cunha, 1995). Fig. 03 - Tipos de arrebentação de ondas. 9 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS Marés São fenômenos oceânicos definidos como oscilação do nível do mar em um determinado período, o qual é explicado pela Lei da Gravitação Universal de Newton. As marés são classificadas da seguinte forma: a) Quanto ao período de maré, em maré alta ou de enchente ou preamar e maré baixa, ou vazante ou baixa-mar; b) Quanto ao efeito combinado do Sol e da Lua, maré de sizígia (variações máximas de marés que ocorrem durante a lua nova ou lua cheia) e maré de quadratura (variações mínimas de marés que ocorrem nas fases de quarto crescente e quarto minguante) (Conferir a Figura 4); c) Quanto ao período dominante da maré observada em 24 horas, pode ser maré diurna (um pico de maré alta e outro de baixa), maré semidiurna (dois picos de maré alta e dois picos de maré baixa) e maré mista (combinação de marés diurnas e semidiurnas); d) Quanto à altura das marés, em micromaré (0 a 2 m), mesomaré (2 a 4 m) e macromaré (> 4 m). Na costa brasileira, a altura das marés varia segundo a região: na região sul e parte da sudeste, predomina o regime de micromaré; em parte da região sudeste e na região nordeste, predomina mesomaré; e, na região norte, macromaré. No litoral do Pará, as marés variam de 7 a 9 m de altura; na baia de Fundy (Nova Escócia), a oscilação da maré varia de 15 a 17 m. 10 GEOLOGIA AMBIENTAL Fig. 04 - Tipos de marés quanto ao efeito combinado do Sol e a Lua. As marés ao atingirem as praias, canais estuarinos, deltas e lagunas exercem importante papel no transporte e na deposição de sedimentos, carreando areia, e principalmente, lama em suspensão. As marés de vazante carreiam esses sedimentos em direção à praia, chegando a atingir grandes distâncias em mar aberto, enquanto as marés de enchente carreiam sedimentos do mar em direção ao continente. A penetração das marés nos continentes chega a alcançar grandes distâncias, sendo também a responsável pela mistura da água doce dos rios com a água salgada do mar, gerando a água salobra nos ambientes transicionais, como você estudou na Aula 08. Correntes As corrente costeiras ou litorâneas são geradas pela ação das ondas ao se aproximarem do continente e, consequentemente, da praia. Lembre-se de que as ondas, na zona costeira, são formadas quando o vento sopra sobre a superfície do mar. A presença dessas correntes também é influenciada pela morfologia da linha de costa, pela batimetria, pela presença de obstáculos submersos ou emersos, pela inclinação da praia, etc. Os principais tipos de correntes costeiras são as de deriva litorânea (longitudinais a praia) e as de retorno (transversais à praia). As correntes de deriva litorânea são geradas quando as cristas das ondas chegam oblíquas (em ângulo) em relação à linha de costa, cujo sentido da corrente é definido pelo sentido do referido ângulo (Conferir a Figura 5). Segundo Muehe 11 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS apud Guerra et al. (1995), ângulos a partir de 5° geram correntes com velocidades que variam de 0,3 a 1 m/s, suficientes para transportar grandes quantidades de sedimentos. Fig. 05 - Transporte de sedimentos pela corrente de deriva litorânea ao longo da praia entre a zona de arrebentação e o limite superior de ação das ondas. α é o ângulo que a frente de onda faz com a praia. No litoral leste do Rio Grande do Norte, as correntes de deriva fluem predominantemente na direção N-NW, devido à presença dos ventos alísios a sudeste. Porém, localmente e durante mudanças na direção dos ventos para nordeste, essas correntes podem inverter para sul. No litoral norte, a corrente de deriva se desloca para oeste. Costa Neto (1995) registrou na Ponta do Tubarão, no município de Macau-RN, ângulos médios da frente de onda chegando à praia a 24º para oeste, gerando uma corrente de deriva litorânea na ordem de 163 cm/s e, consequentemente, um transporte longitudinal na ordem de 3.000 m3/dia, considerando uma altura de onda de 0,75 m. As correntes de retorno são geradas pela chegada de ondas à praia com direções convergentes que, ao se encontrarem, retornam em direção ao mar como uma forte corrente (Conferir a Figura 6), geralmente com velocidades médias acima de 2 m/s. Geralmente, essa convergência se deve a variações na inclinação da praia. Na praia de Búzios (Nísia Floresta-RN), ocorrem fortes correntes de retorno que, associadas com ondas de altura significante, provocam frequentemente acidentes com banhistas. 12 GEOLOGIA AMBIENTAL Fig. 06 - Corrente de retorno e seus elementos (boca, pescoço e cabeça). A composição dos sedimentos costeiros varia conforme a sua fonte. A maioria das praias brasileiras é constituída por sedimentos arenosos, de composição quartzosa (Conferir a Figura 7), mas ocorrem também praias lamosas, areno lamosas e cascalhosas. Muitas praias arenosas apresentam minerais pesados (magnetita, ilmenita, rutilo, zircão, etc) na sua composição. A zona costeira é fortemente afetada por transformações ambientais decorrentes da ação dos fenômenos naturais como ondas, correntes, marés, chuvas etc. Entretanto, as atividades antrópicas nessa zona incrementam de sobremaneira essas transformações, estabelecendo ou acelerando o processo de erosão costeira que você estudou na Aula 06. Porém, essas atividades também trazem benefícios à economia local e do país, por exemplo: indústria do petróleo e gás, indústria salineira, turismo, portos, pesca, aquicultura (carcinicultura e piscicultura), dentre outros. Fig. 07 - Praia arenosa de composição quartzosa no município de Galinhos-RN. 13 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS Com o objetivo de implantar uma política nacional de uso e ocupação da zona costeira brasileira, de forma a conduzir a sua sustentação natural e socioeconômica, em 2002, foi idealizado pelo Ministério do Meio Ambiente o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima, o Projeto Orla, o qual deve ser executado em todos os municípios costeiros. Para conhecê-lo, acesse em Leituras Complementares o arquivo “Projeto Orla: Fundamentos para a Gestão Integrada”. ATIVIDADE 01 1. Pesquise como as ondas transportam os sedimentos na praia durante os períodos de inverno e verão. 2. Pesquise sobre a ação das correntes de maré vazante e enchente no transporte de sedimentos na praia e nos estuários. 3. Pesquise e explique como se movimentam os sedimentos arenosos na face de praia, devido à presença das correntes de deriva litorânea e de retorno. ÁGUAS OCEÂNICAS A circulação oceânica se deve principalmente ao atrito dos ventos na superfície oceânica e à variação de densidade da água. Os ventos são mais importantes na formação de correntes superficiais, enquanto a variação de densidade é mais importante na formação de correntes de fundo ou oceânicas, cuja circulação é denominada de termohalina. As correntes superficiais sofrem influência da temperatura, da salinidade e da densidade. No Hemisfério Norte, as correntes giram no sentido horário, enquanto que, no Hemisfério Sul, giram no sentido anti-horário (Conferir a Figura 8). 14 GEOLOGIA AMBIENTAL Fig. 08 - Principais correntes superficiais frias (setas azuis) e quentes (setas vermelhas) nos oceanos ao redor do mundo . As correntes superficiais classificam-se em: Correntes de oceano aberto (possuem velocidades de 3 a 6 km/dia e se estendem de 100 a 200 m abaixo da superfície do mar. Exemplos: Pacífico Norte, Atlântico Norte e Atlântico Sul); Correntes da borda oeste (estreitas e profundas/≈ 1.000 m, velocidade de 40 a 120 km/dia. Exemplos: do Golfo, Kuroshio/Japão, Corrente do Brasil e Leste da Austrália); Correntes da borda leste (mais largas e possuem velocidade de 3 a 7 km/dia. Exemplos: da Califórnia e das Canárias) e Contra corrente equatorial (caracterizada pelo retorno parcial para lestedas águas carregadas para oeste pelas correntes ao norte e ao sul do Equador) (Conferir a Figura 8). As correntes de fundo são geradas pela circulação termohalina global a uma profundidade média de 5.000 m. A topografia de fundo, principalmente em altas latitudes, também é importante na formação dessas correntes, além da temperatura e da salinidade. As correntes mais frias e mais densas ocorrem predominantemente em maiores profundidades. A circulação oceânica depende da morfologia do fundo oceânico, o qual é dividido em duas regiões: a margem continental e a bacia oceânica (Conferir a Figura 9). Segundo a teoria da tectônica de placas, existem dois tipos de margem continental, a saber: tipo Atlântico ou de margem passiva e tipo Pacífico ou de margem ativa, as quais são constituídas por coberturas sedimentares e apresentam as seguintes feições fisiográficas do continente em direção ao mar aberto: plataforma continental, talude continental e elevação ou sopé continental (Conferir a Figura 10). 15 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS Fig. 09 - Margem continental tipo Atlântica e bacias oceânicas. A plataforma continental é a zona de inclinação suave, sem grandes variações de relevo, que se estende da linha de costa até o ponto onde ocorre considerável aumento na inclinação do fundo oceânico, denominado de quebra da plataforma (Conferir a Figura 10), em média, a 135 m de profundidade, com largura média de 70 km. No Rio Grande do Norte, ocorre aproximadamente entre 50 e 60 m de profundidade, distando cerca de 30 a 40 km da linha de costa (COSTA NETO, 1997). Na plataforma continental externa do Rio Grande do Norte (tipo Atlântica), a Corrente Norte do Brasil (CNB), um ramo da Corrente Equatorial Sul (CES), alcança velocidade acima de 230 cm/s fluindo para W (DHN, 1977 in Silva, 1991). Fig. 10 - Perfil longitudinal mostrando as províncias fisiográficas marinhas. A esquerda da cadeia ou dorsal meso-oceânica (CMO) é uma margem tipo Atlântica (plataforma, talude e elevação continental), a esquerda da CMO é uma margem tipo Pacífica (trincheiras e arcos vulcânicos associados). O talude continental é a zona que vai da borda da plataforma continental, cuja profundidade cai rapidamente de 100-200 m para 1.500-3.500 m (Conferir a Figura 10). É uma zona relativamente estreita, geralmente menor que 200 km de largura, com um relevo íngreme, geralmente sem apresentar grandes escarpamentos. A elevação ou Sopé Continental é a província fisiográfica que ocorre entre o talude continental e as bacias oceânicas (Conferir a Figura 10). Apresenta largura entre 100 e 1.000 km, sendo marcada por um gradiente suave em direção ao mar aberto e relevo local geralmente menores que 40 m. A bacia oceânica inicia-se logo após a margem continental, sendo subdividida nas seguintes sub-províncias: abissal, província de colinas abissais, cadeia meso- 16 GEOLOGIA AMBIENTAL oceânica, trincheira/fossa oceânica e montes submarinos (Conferir a Figura 10). O fundo oceânico é constituído por sedimentos e rochas vulcânicas. Os principais sedimentos são de origem terrígena (litogênicos, fragmentos de rochas), biogênica (matéria orgânica), hidrogênica (elementos dissolvidos na água) e cosmogênica (originados do espaço). A Figura 11 mostra a distribuição dos sedimentos marinhos nos principais oceanos da Terra. Fig. 11 -Distribuição dos sedimentos oceânicos nos Oceanos Atlântico, Pacífico, Índico e média em todos os oceanos. Os sedimentos terrígenos ocorrem até as profundidades inferiores a 500 m, enquanto, acima dessas profundidades, predominam sedimentos biogênicos e argilas pelágicas, além de pequenas quantidades de sedimentos terrígenos. Sobre a superfície do fundo oceânico e abaixo dele ocorrem importantes reservas minerais. Sobre o fundo oceânico existem grandes concentrações de nódulos polimetálicos com importantes concentrações de ferro, manganês, cobre, níquel, cobalto e molibdênio (planície abissal), além das coberturas de algas calcárias na plataforma continental. Nas camadas sedimentares abaixo do fundo oceânico, ocorrem importantes reservas de petróleo e gás, além de sal gema. Da mesma forma que o ambiente costeiro, o ambiente oceânico também sofre alterações ambientais de origem natural e provocadas pelo homem. A indústria petrolífera tem provocado sérios danos ambientais ao ambiente oceânico, seja na contaminação das águas e dos sedimentos de fundo, bem como na mortandade da fauna e da flora. Nos últimos anos, ocorreram grandes vazamentos de petróleo em poços no fundo oceânico, em plataformas de extração, em oleodutos ou durante o seu transporte em navios. Um dos mais recentes vazamentos de petróleo na costa brasileira ocorreu em um poço da empresa petrolífera americana Chevron, no Campo do Frade, na Bacia de Campos, em novembro de 2011 e em março de 2012, de onde vazaram 3.700 barris de óleo. Muitas vezes, o produto desses vazamentos chega até a zona costeira e provoca grandes danos aos seus constituintes vivos e não vivos. 17 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS ATIVIDADE 02 1. Pesquise e explique como ocorre o aquecimento da água oceânica. 2. Explique como se formam as correntes superficiais e de fundo oceânico. 3. Pesquise e descreva as características morfológicas, geológicas e oceanográficas da plataforma continental do Rio Grande do Norte. LEMBRE-SE Glossário Argilas pelágicas são argilas vermelhas acastanhadas que ocorrem nas bacias oceânicas e são constituídas de minerais de argila, grânulos cósmicos, poeiras vulcânicas e micronódulos de ferro e manganês. Batimetria é a representação da variação de profundidade em um determinado corpo aquoso (oceano, lago, lagoa, laguna etc.). Tomando como referência o nível médio dos mares, a batimetria apresenta relevo negativo, enquanto a relevo topografia é positivo. Carcinicultura é a atividade de cultivo de camarão em cativeiro. Carga de fundo é o volume de sedimentos grossos, geralmente de granulometria igual ou superior a da areia, que é transportada por um fluxo hidráulico no leito ou fundo do canal por arrasto, tração e saltação. Circulação termohalina é a circulação da água oceânica profunda, devido à variação da densidade da água do mar e da variação de temperatura, que é controlada pela sua gradiente entre os polos e o Equador. Em altas latitudes, a densidade da superfície da água é menor que em baixas latitudes; a diminuição da densidade próximo ao fundo do mar faz com que ocorram correntes profundas que vão para o equador e para cima, provocando as ressurgências. Lei da Gravitação Universal foi formulada pelo físico inglês Sir Isaac Newton e diz que existe uma força de atração entre dois corpos que depende diretamente 18 GEOLOGIA AMBIENTAL do produto das suas massas (m1 e m2) e inversamente do quadrado da distância (d) que os separam, multiplicado pela Constante de Gravitação Universal (G), é igual a 6,67x1011 Nm2/kg2. Matematicamente, essa Lei é definida por: F = G ((m1 x m2) / d2). Nódulos polimetálicos são nódulos formados por óxido e sulfuretos de cobre, níquel e manganês com peso entre alguns gramas e uma centena de quilogramas que ocorrem no oceano Pacífico. Piscicultura é a atividade de cultivo de peixe em cativeiro. PSU (Practical Salinity Units) ou Unidades Práticas de Salinidade é a unidade adimensional utilizada em oceanografia para determinar a salinnidade das águas, a qual é determinada com base na relação direta entre a condutividade elétrica da água do mar e a sua salinidade. Teoria da tectônica de placas foi proposta pelo meteorologista alemão Alfred Wegener em seu livro “A Origem dos Continentes e Oceanos”, de 1915, no qual postula que, há aproximadamente 200 milhões de anos (Triássico), havia um supercontinente, que denominou de “Pangea”, onde todas as massas continentais existentes estavam concentradas e que começou a fraturar-se, iniciando o seu movimento até a configuração atual. Wegener baseou sua teoria na forma dos continentes eem evidências geológicas similaridades entre as rochas, estruturas geológicas e os fósseis encontrados no Brasil e na África. Vazas são sedimentos finos formados nas bacias oceânicas por acumulações de organismos com carapaças calcárias (foraminíferos e algas calcárias) e silicosas (diatomáceas e radiolários). Zona de arrebentação é zona próxima à praia onde as ondas arrebentam devido à diminuição da profundidade, do gradiente do fundo e da geometria da onda. Zonas distantes da praia podem ocorrer arrebentação, caso existam bancos ou recifes submersos. 19 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS RESUMINDO Nessa aula, você aprendeu sobre as propriedades da água oceânica e como influenciam a circulação oceânica. Estudou, também, que a hidrodinâmica na zona costeira é controlada pelas ondas, correntes e marés e que, juntamente com as atividades antrópicas, aceleram o processo erosivo. Você conheceu a variação de morfologia da zona costeira, principalmente, o ambiente de praia, local onde ocorrem os intensos fenômenos de erosão. Você pode perceber que o aumento da profundidade do mar indica mudança dos agentes dinâmicos e dos processos atuantes, característicos do ambiente oceânico, onde prevalecem as ações dos ventos, da temperatura e da densidade da água, gerando as correntes superficiais e de fundo. Essas correntes atuam nas províncias fisiográficas da plataforma, talude e sope continental, além das bacias oceânicas, provocando a formação e a distribuição dos sedimentos de fundo. Além disso, você estudou que os ambientes costeiro e oceânico possuem importantes recursos minerais e que a sua explotação pode ocasionar sérios danos ambientais. 20 GEOLOGIA AMBIENTAL LEITURA COMPLEMENTAR Para saber mais sobre o Projeto Orla, idealizado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2002, acesse em Leituras Complementares o arquivo “Projeto Orla: Fundamentos para a Gestão Integrada”. AVALIANDO SEUS CONHECIMENTOS 1. Escolha uma das praias apresentadas a seguir e pesquise sobre os fenômenos de erosão atuantes (características geológicas, oceanográficas, topográficas etc) e os projetos de recuperação instalados (aterro hidráulico, gabiões, molhe etc): Miami Beach/USA, Copacabana/RJ e Iracema/CE. 2. Escolha um dos temas apresentados, pesquise e descreva sobre os impactos ambientais nos oceanos causados pela exploração de petróleo e gás, pela instalação de parques eólicos e pela pesca oceânica. 21 ÁGUAS COSTEIRAS E MARINHAS CONHECENDO AS REFERÊNCIAS COSTA NETO, Leão Xavier. Evolução geológica geomorfológica recente da plataforma interna ao largo do delta do rio Açu, Macau-RN. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Fluminense-LAGEMAR, 1997. 213 p. GUERRA, Antônio José Teixeira e CUNHA, Sandra Baptista. Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand do Brasil S.A., 1995. 472 p. SILVA, Cleverson Guizan. Holocene Stratigraphy and Evolution of the Açu River Delta, Rio Grande do Norte, State Northeastern Brazil. Tese de Doutorado in Dpto. of Geology in the Graduate School of Duke University, USA, 1991. 400 p. SOUZA, Célia Regina de Gouveia. A Erosão nas Praias do Estado São Paulo: Causas, Consequências, Indicadores de Monitoramento e Risco. In: Bononi, V.L.R., Santos Junior, N.A. (Org.). Memórias do Conselho Científico da Secretaria do Meio Ambiente: a síntese de um ano de conhecimento acumulado. São Paulo: Instituto de Botânica – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2009. p.48- 69. SOUZA, Célia Regina de Gouveia; SOUZA FILHO, Pedro Walfir M.; ESTEVES, SL.; VITAL, Helenice; DILLENBURG, S.R.; PATCHINEELAM, Soraia M. e ADDAD, J.E. Praias Arenosas e Erosão Costeira. In: C.R. de G. Souza et al. (eds.). Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2005. p. 130-152. TEIXEIRA, Wilson; FAIRCHILD, Thomas Rich; TOLEDO, Maria Cristina Motta de; TAIOLI, Fábio. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2ª ed., 2009. 623 p. THURMAN, H.V. Introductory oceanography. Canadá: Macmillan, 6a ed., 1994. 550 p. LISTA DE FIGURAS Fig. 01 - Fonte: Souza (2009, p.5). Fig. 02 - Fonte: Acervo pessoal do autor para uso exclusivo em sala de aula. Fig. 03 -Fonte: Adaptada de http://www.cem.ufpr.br/praia/pagina/pagina.php?menu=ondas_tipos#. Fig. 04 - Fonte: Adaptada de http://www.aprh.pt/rgci/glossario/mare.html Fig. 05 - Fonte: Adaptada de http://www2.sunysuffolk.edu/mandias/38hurricane/geological_impact. html. 22 GEOLOGIA AMBIENTAL Fig. 06 - Fontes: (a) Adaptada de http://www.pescadepraiabrasil.com.br/web/viewtopic. php?f=20&t=2539. (b) http://www.praia.log.furg.br/rips/rips.htm. Fig. 07 - Fonte: Google Earth (15/09/2013) Fig. 08 - Fonte: After Svardrup et al. (1942 apud Thurman, 1994). Fig. 09 - Fonte: Adaptada de Tarbuck e Lutgens (1991 apud Thurman, 1994). Fig. 10 - Fonte: Adaptada de Tarbuck e Lutgens (1991 apud Thurman, 1994). Fig. 11 - Fonte: Adaptado de After Sverdrup, Johson and Fleming (1942 apud Thurman, 1994).
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