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Geovana Sanches, TXXIV HEPATITES CONCEITOS As hepatites dizem respeito aos processos inflamatórios do fígado, os quais podem ser agudos ou crônicos, com diferentes etiologias. Elas devem ser diferenciadas das colestases, nos quais a lesão se dá no colangiócito e não no hepatócito. A mensuração das enzimas, além da clínica, auxilia para essa diferenciação. • Fosfatase alcalina o VR: até 150 U/L o Aumento em geral se relaciona com lesão de colangiócito • Gama-GT o VR: até 30 U/L o Aumento em geral se relaciona com lesão de colangiócito • TGO / AST e TGP / ALT o VR: até 40 U/L o Aumento se correlaciona com lesão dos hepatócitos CLASSIFICAÇÃO Hepatite aguda • Duração inferior a 6 meses • Evolução o Resolução: quando o organismo controla o quadro inflamatório o Insuficiência hepática aguda: falha no controle da inflamação; minoria dos casos o Cronificação • O tipo de evolução depende de vários fatores, tais como o agente etiológico e as condições do hospedeiro o Hepatite A: não há cronificação o Hepatite B: não cursa com insuficiência hepática agudas Hepatite crônica • Alteração das aminotransferases por 6 meses ou mais • Evolução o Cirrose: maior parte dos casos, podendo evoluir para carcinoma hepatocelular o Carcinoma hepatocelular: costuma ser uma evolução da cirrose, mas em alguns casos pode ocorrer evolução direta para o carcinoma – hepatite B por exemplo HEPATITES VIRAIS AGUDAS Etiologia Vírus hepatotrópicos • HAV (hepatite A) • HBV (hepatite B) • HCV (hepatite C) • HDV – vírus delta (hepatite D) • HEV (hepatite E) Vírus de envolvimento sistêmico • EBV • CMV Prevalência A hepatite A é a mais comum nos indivíduos mais jovens, enquanto as hepatites B e C atingem todas as faixas etárias. Tipo Faixa etária Hepatite A 5 a 19 anos Hepatite B 10 a 69 anos Hepatite C 10 a 69 anos Manifestações clínicas As manifestações clínicas são definidas por quatro períodos: • Incubação o Tempo varia de acordo com o vírus • Prodrômico o Duração média de 1 semana o Sinais e sintomas inespecíficos, como adinamia • Estado o Icterícia o Duração de 4 a 6 semanas Geovana Sanches, TXXIV • Convalescença o Período de resolução do quadro, porém o paciente ainda apresenta sintomas inespecíficos, como adinamia HEPATITE A • Mais comum em países subdesenvolvidos • Transmissão fecal-oral principalmente • Incubação: média de 28 dias • Transmissibilidade o 2 semanas antes até 1 semana após início dos sintomas • Diagnóstico o HAV IgM+ § pode estar positivo por até seis meses o É possível identificar IgG como cicatriz sorológica • Tratamento: suporte • Vacina disponível (exceto SUS) HEPATITE E • Mais comum no norte do país, porém tem aumentado a incidência em demais regiões • Transmissão fecal-oral o Parenteral? • Incubação: média de 28 dias • Transmissibilidade o 2 semanas antes até 1 semana após início dos sintomas • Diagnóstico o HEV IgM + § pode estar positivo por até seis meses o IgG • Tratamento: suporte • Vacinação indisponível HEPATITE B • Transmissão parenteral, sexual e vertical o Assemelha-se muito com o HIV, não sendo incomum a coexistência de ambos os vírus • Incubação: 90 a 180 dias • Genótipos: A a J – sem impacto na prática clínica • Diagnóstico o HBsAg+ o Anti-HBc IgM+ • Tratamento: anti-virais nas formas graves • Vacina disponível (SUS) História natural da doença O quadro de hepatite aguda é dependente da resposta imunológico do indivíduo contra o vírus, a qual é responsável por acabar com o quadro infeccioso. Pacientes com resposta imunológica imatura, como na fase perinatal, costumam evoluir com infecção crônica, tendo em vista que não haverá combate a infecção. Na infância, quando o sistema imune já é um pouco melhor, a taxa de cronificação cai. No adulto imunocompetente, por sua vez, dois terços dos casos são subclínicos, alguns cursam com hepatite aguda e resolução espontânea, e uma minoria evolui para insuficiência hepática fulminante e cronificação. É importante ressaltar que, nos casos crônicos, o indivíduo segue transmitindo o vírus, mesmo na ausência de sintomas. Estrutura do vírus Proteína S • Encontra-se no envelope proteico do vírus • É a proteína utilizada para confecção da vacina contra hepatite B • Antígeno: HBsAg Proteína C • Encontra-se no núcleo (core viral) • Antígeno: HBcAg o Não circula pelo nosso organismo, de forma que não será dosado Proteína E • São proteínas de replicação do vírus o Quando presentes, indicam atividade viral • Antígeno: HBeAg Diagnóstico e sorologias Fase aguda Geovana Sanches, TXXIV • Aumento das transaminases • Aumento do HBsAg e do Anti-HBc Fase crônica • Redução dos níveis de aminotransferases em comparação a fase aguda • HBsAg mantém-se positivo • Anti-HBc presente Em resumo... Tratamento na fase crônica • Droga de escolha: Tenofovir • Segunda opção: Entecavir Critérios principais HBeAg reagente ALT > 2x LSN OU Idade > 30 anos HBeAg não reagente ATL > 2x LSN E HBV-DNA > 2000 UI/mL LSN = limite superior da normalidade Quando o HBeAg está não reagente e temos um paciente em fase crônica, isso significa que houve uma mutação viral e o vírus está se replicando por outra via, sem ser pela proteína E. Por isso que, nesses casos, consideramos a medida do HBV-DNA. Outros critérios • Histórico familiar para carcinoma hepatocelular • Manifestações extra-hepáticas o Artrite o Glomerulonefrite o Vasculites • Coinfecção HIV ou HCV • Hepatite aguda grave o Coagulopatia ou icterícia por mais de 14 dias • Reativação de hepatite B crônica • Cirrose hepática ou METAVIR > F2A2 ou elastografia > 7,0 kPa • Prevenção de reativação viral em pacientes que farão uso de imunossupressão ou quimioterapia HEPATITE D • Transmissão parenteral, sexual e vertical o Dependente da infecção pelo vírus B, tendo em vista que o D necessita do maquinário do B para crescer • Pensaremos na hepatite D principalmente em pacientes com hepatite B que estão evoluindo muito mal • Superinfecção: alta incidência de forma fulminante o Paciente portador crônico de hepatite B que adquire hepatite D posteriormente o 70% evoluem para cronicidade • Co-infecção: fase aguda mais grave com posterior clareamento de ambos os vírus o Infecção pelos vírus B e D em conjunto • Diagnóstico: Anti-delta IgM+ • Tratamento: interferon + anit-virais HEPATITE C • Transmissão parenteral • Incubação: 30 a 180 dias • Genótipos: 1 a 6 • Diagnóstico o Anti-HCV+ § Mantém-se positivo por 8 a 12 semanas o HCV-RNA § Precoce § Utilizado para confirmar a doença quando o anti-HCV vem positivo • Tratamento: antivirais de ação direta • Sem vacina disponível DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO- ALCOÓLICA (NASH) Etiologia • Multifatorial • Síndrome metabólica o DM tipo 2 o Obesidade o Resistência insulínica Geovana Sanches, TXXIV o Dislipidemia o HAS • Esteatose hepática Fisiopatogênese A fisiopatologia da NASH vem da teoria dos múltiplos “hits”, sendo a base inicial a resistência insulínica. A partir dela, há acúmulo de gordura no fígado, a qual, associada aos demais hits, levaria a inflamação desse órgão. Multi-hit • Toxinas bacterianas derivadas do intestino • Desequilíbrio de adipocitocinas • Disfunção mitocondrial • Dano oxidativo • Desregulação da apoptose • Ativação de fatores pró-fibrogênicos • Ativação de mediadores pró-inflamatórios • Ativação de células estreladas hepáticas Incidência Cerca de 24% da população apresenta esteatose hepática, condição que aumenta o risco de doença cardiovascular. Sendo assim, mesmo nos casos em que não há consequência hepática, o tratamento deve ser instituído. Entretanto, até30% desses pacientes evoluem com esteato-hepatite, condição que pode evoluir para cirrose e carcinoma. Quadro clínico • Assintomático • Sintomas inespecíficos o Mal-estar, “canseira”... Diagnóstico • Quadro laboratorial o ALT elevada § 2 a 4 vezes sobre o valor de referência § Aumentos muito maiores do que isso em geral estão relacionados a outras condições que não apenas NASH o Elevação de gamaGT • Excluir outras causas de lesão hepática o Pesquisar ao menos hepatite viral e outras etiologias mais frequentes, tais como por drogas, medicação, hemacromatose, doença autoimune, entre outras Tratamento • Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) o Correção dos fatores de resistência insulínica • Esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) o Mais indicado: Pioglitazona o Metformina: pode ser usada, mas não reduz a fibrose o Vitamina E: ajuda a controlar, mas não deve ser mantida por muito tempo (máximo de 6 meses a 1 ano) HEPATITE ALCOÓLICA A hepatite alcoólica pode ser crônica, evoluindo com cirrose, ou aguda. A história natural da doença segue com esteatose, hepatite e cirrose. Fatores de risco • 10g de álcool por dia para a mulher o 1 lata de cerveja = 14g de álcool • 30g de álcool por dia para o homem • A ingestão de grande quantidade de álcool em um único momento pode ser pior do que a ingestão diária. Quadro agudo • Hepatomegalia o Dolorosa • Icterícia • Encefalopatia • Febre (?) • Leucocitose Laboratório • GGT bem elevado o Pode ser visto como um “dedo- duro” pelos pacientes que ingerem grandes quantidades de álcool • AST > ALT o É uma das poucas condições em que a AST é maior do que ALT, sendo essa relação geralmente contrária Geovana Sanches, TXXIV Tratamento Hepatite aguda • Fator discriminante de Madrey o Calculado a partir de um aplicativo o Até 32: acompanhamento e hidratação do paciente o > 32: pior prognóstico, sendo indicado tratamento • Medicamento de escolha: Prednisona 40mg/dia por 4 semanas • Segunda opção: Pentoxifilina 400mg 3x/dia o Quando há contra-indicação para o uso de prednisona o Não é tão eficaz quanto a prednisona HEPATITES POR DROGAS (MEDICAÇÕES) Sempre que um paciente apresenta quadro de hepatite, devemos questionar quais drogas ele ingere e se alguma delas foi introduzida próximo ao início das alterações hepáticas. Em resposta positiva, a hepatite por drogas se torna mais suspeita. Praticamente todos os medicamentos podem causar alterações, tais como o Clavulin, fenitoína, loratadina, fluconazol e, até mesmo suplementos, tais como o Herba-life (pode evoluir com hepatite fulminante).