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Artrite Séptica SUMÁRIO 1. Introdução ..........................................................................................................3 2. Mecanismo de infecção ......................................................................................6 3. Etiologia .............................................................................................................8 4. Análise do líquido sinovial ................................................................................10 Características macroscópicas ................................................................................. 10 Exames laboratoriais .................................................................................................. 11 5. Artrite não gonocócica .....................................................................................13 Diagnóstico ................................................................................................................. 14 Tratamento.................................................................................................................. 15 Prognóstico ................................................................................................................. 16 6. Artrite gonocócica ............................................................................................19 Diagnóstico ................................................................................................................. 21 Tratamento.................................................................................................................. 22 Referências .......................................................................................................................26 Artrite Séptica 3 1. INTRODUÇÃO Artrite séptica ou infecciosa é sinônimo de infecção em uma articulação. A artrite séptica é geralmente causada por bactérias, mas também pode ser causada por ou- tros microrganismos. As artrites sépticas são divididas, didaticamente, em agudas (não gonocócicas e gonocócicas) e crônicas (micobactérias e fungos). Decorrem da interação de pa- tógenos com o hospedeiro, resultando em uma resposta inflamatória sinovial, cuja evolução pode ser aguda, subaguda ou crônica. Neste Material serão abordadas as artrites sépticas agudas. A artrite séptica (bacteriana) é uma emergência médica, e a demora em estabelecer o diagnóstico e iniciar o tratamento pode causar destruição articular irreversível e au- mentar a mortalidade. Mesmo com a disponibilidade de agentes antimicrobianos mais eficazes e das técnicas de incisão e drenagem articulares, o índice de lesão articular irreversível secundária à artrite séptica varia de 25 a 50%. O coeficiente de mortalidade da artrite bacteriana monoarticular ainda é alto (11%), mas os índices mais altos são detectados nos pacientes com artrite séptica poliarticular (até 50% dos casos), artrite reumatoide (AR) coexistente e imunossupressão. Se liga! A artrite séptica é considerada uma emergência clínica, pois o seu atraso no diagnóstico e/ou tratamento pode levar a uma irreversível destruição articular e aumento de mortalidade. Não há dados oficiais no Brasil, mas a incidência anual estimada de artrite séptica na população geral é entre 2 a 6 casos/100.000 pessoas, é ligeiramente maior no sexo masculino em relação ao feminino (1,5:1) e sem diferença entre as raças. Os fatores de risco que favorecem o aparecimento de artrite séptica são: • Idade acima dos 80 anos; • Diabetes mellitus; • Alcoolismo; • Condições que causam danos na integridade da pele, como psoríase, eczema e úlceras; • Cirurgia articular prévia e prótese articular; • Cirrose hepática; Artrite Séptica 4 • Doença renal crônica, principalmente nos que estão em diálise; • Neoplasias e uso de quimioterápicos; • Usuários de drogas endovenosas; • Hemofílicos; • Transplantados; • AIDS; • Pacientes com hipogamaglobulinemia; • Doenças com comprometimento imunológico como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. Fatores de risco e mecanismos da infecção na artrite bacteriana Fator de risco Mecanismo da infecção Comentários AR Fatores locais e sistêmicos desempe- nham um papel importante As articulações lesadas funcionam co- mo nichos para a infecção Os imunossupressores predispõem à infecção, principalmente se o paciente usou corticoide oral ou intra-articular Cerca de 0,3 a 3% dos pacientes com AR têm a complicação de artrite séptica Nos pacientes com AR, a artrite séptica poliarticular causa mortalidade > 50% Staphylococcus aureus é o agente etioló- gico mais provável Prótese articular O corpo estranho atua como nicho para a infecção, principalmente por patóge- nos que formam biopelículas ou cama- da de glicocálix (ex: Staphylococcus epidermidis) A articulação artificial não tem microcirculação Os índices de infecção diminuíram nos últimos 30 anos A incidência é mais alta depois da revi- são cirúrgica de artroplastias Uso de drogas inje- táveis; cateteres de longa permanência; infecções cutâneas crônicas Bacteremia recidivante com dissemina- ção hematogênica subsequente para as articulações Os pacientes que fazem hemodiálise crônica, usam cateteres de longa perma- nência, recebem infiltrações cutâneas repetidas (ex: insulina) ou têm infecções cutâneas crônicas são mais suscetíveis Joelho é a articulação acometida mais comumente nos usuários de drogas inje- táveis, mas também ocorrem infecções das articulações axiais, inclusive ester- noclaviculares e sacroilíacas S. aureus (geralmente resistente à meti- cilina) é o agente etiológico mais comum entre os usuários de drogas injetáveis Pseudomonas aeruginosa é isolada em cerca de 10% dos casos Artrite Séptica 5 Fator de risco Mecanismo da infecção Comentários Artrite induzida por cristais (gota, pseudogota) Fatores locais Lesão articular causada pelos cristais A acidose do líquido sinovial em conse- quência da sinovite induzida pelos cris- tais promove a destruição da cartilagem A artrite induzida por cristais pode cau- sar contagens altas de leucócitos no líquido sinovial, embora sem infecção A presença de cristais não exclui a possi- bilidade de infecção A destruição da cartilagem articular mediada pela infecção raramente forma cristais no espaço sinovial Osteoartrite grave, ar- ticulação de Charcot, hemartroses Desestruturação da articulação, sinovite crônica e sangue no espaço sinovial podem formar nichos para a infecção Sempre é necessário enviar material retirado de um derrame sinovial sangui- nolento para cultura de forma a excluir infecção Doenças sistêmicas crônicas (ex: lúpus, câncer, diabetes mellitus; outras con- dições associadas à imunossupressão, inclusive extremos etários Redução dos mecanismos de defesa em consequência da doença crônica, inclusi- ve deficiência de fagocitose Os fármacos usados para tratar essas doenças crônicas (ex: corticoides no lúpus) predispõem à infecção S. aureus e bastonetes gram-negativos são os agentes etiológicos mais comuns Alguns pacientes com lúpus podem ter hiposplenismo funcional, que os pre- dispõem à infecção por bactérias en- capsuladas (ex: Neisseria gonorrhoeae, Salmonella, Proteus) Infiltração in- tra-articular (ou artrocentese) Inoculação direta do agente patogênico Os microrganismos isolados mais co- mumente fazem parte da flora cutânea, inclusive S. epidermidis e S. aureus Infecção por HIV Imunossupressão e predisposição au- mentada à bacteremia quando há infec- ções localizadas Mesmo nos pacientes assintomáticos infectados pelo HIV, os fatores de risco que resultaram na infecção (p. ex., uso de drogas injetáveis ou hemofilia) podem predispor à artrite Atividade sexual Predispõe à infecção gonocócica locali- zada, que pode disseminar-se e causar doença cutânea e articular A infecçãogonocócica disseminada (IGD) é duas a três vezes mais comum nas mulheres que nos homens, princi- palmente depois da menstruação ou no puerpério As deficiências dos componentes termi- nais do complemento também predis- põem à IGD Fonte: Current Reumatologia: diagnóstico e tratamento, 3 ed, 2014 Artrite Séptica 6 MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO Artrites sépticas Não gonocócicas Gonocócicas Emergência médica Micobactérias Fungos CrônicasInfecção em articulação Agudas Destruição articular irreversível Aumento da mortalidade 2. MECANISMO DE INFECÇÃO A artrite séptica se desenvolve como resultado de disseminação hematogênica ou inoculação direta de bactérias na articulação. Mais comumente, surge através da disseminação hematogênica para a membra- na sinovial (a qual não possui membrana basal limitante, permitindo assim que os organismos entrem no espaço articular). A artrite séptica devido à disseminação hematogênica é mais comumente causada por organismos com propensão a aderir aos tecidos sinoviais (como S. aureus) e geralmente envolve grandes articulações. Se liga! A sinóvia é altamente vascularizada, e a falta de uma mem- brana protetora a torna vulnerável ao crescimento bacteriano. Geralmente, o pa- tógeno alcança o espaço articular por disseminação hematogênica a partir de um processo infeccioso a distância (ex.: pneumonia). Artrite Séptica 7 A artrite bacteriana também pode ocorrer através da inoculação direta de bacté- rias na articulação; mecanismos incluem mordidas, trauma, artroscopia ou outra ci- rurgia e injeção intra-articular. Raramente, a artrite séptica se desenvolve através da extensão da infecção de te- cidos adjacentes para o espaço articular. No cenário da osteomielite de osso longo, a infecção na metáfise pode romper o córtex ósseo, levando à descarga de pus na articulação. Isso ocorre nas articulações nas quais a metáfise está dentro da refle- xão capsular (ex: joelhos, quadril, ombro e cotovelos). Outros exemplos incluem complicações da cateterização das veias subclávia e femoral (resultando em artrite séptica das articulações esternoclavicular e quadril, respectivamente) e diverticulite rompida, resultando em dissecção da infecção pelo espaço retroperitoneal para coxa posterior e articulação do quadril. Figura 1: As bactérias podem atingir a articulação por meio de disseminação hematogênica ou por contiguidade de infecções próximas, trauma aberto ou técnicas invasivas diretamente inoculadas. Fonte: Designua/shutterstock.com Artrite Séptica 8 Independentemente da via de acesso à articulação, o processo fisiopatológico evolui com a proliferação bacteriana no líquido sinovial, seguido de aumento da ati- vidade fagocítica das células sinoviais e dos polimorfonucleares que aportam na membrana sinovial. Dentro de poucas horas, a sinóvia torna-se infectada, levando à sua proliferação e provocando degradação enzimática, neovascularização e desenvolvimento do tecido de granulação. À medida que elementos purulentos se acumulam, a pressão intra-articular au- menta e o fluxo sanguíneo sinovial fica tamponado, resultando em anoxia dessa car- tilagem e contribuindo para a necrose da cartilagem. MAPA MENTAL: MECANISMO DE INFECÇÃO Artrite séptica Disseminação hematogênica Inoculação direta de bactérias na articulação Outros (extensão de infecção em tecidos adjacentes, complicações de procedimentos) 3. ETIOLOGIA Numerosos patógenos são capazes de causar artrite séptica. A microbiologia da artrite séptica depende em parte do mecanismo de infecção e de exposições epide- miológicas relevantes. A artrite séptica é geralmente monomicrobiana. O Staphylococcus aureus (incluin- do o S. aureus resistente à meticilina - MRSA) é a causa mais comum de artrite sép- tica em adultos. Outros organismos gram-positivos, como estreptococos, também são importantes causas potenciais de artrite séptica. Streptococcus pneumoniae é responsável por uma pequena porcentagem de casos em adultos. A artrite séptica por bacilos gram-negativos geralmente ocorre em adultos mais velhos, em pacientes com imunossupressão subjacente ou usuários de drogas intra- venosas; também pode ocorrer como uma complicação do trauma. Pacientes com Artrite Séptica 9 imunossupressão subjacente e usuários de drogas intravenosas estão em risco de infecção devido a Pseudomonas. A artrite séptica polimicrobiana é incomum; pode ocorrer no cenário de trauma penetrante envolvendo o espaço articular ou via disseminação hematogênica em pacientes com bacteremia polimicrobiana. É mais provável que a artrite séptica nas articulações pequenas seja polimicrobiana e causada por estreptococos, Eikenella ou bactérias anaeróbias. Fatores de risco e mecanismos da infecção na artrite bacteriana Patógeno Achados clínicos Staphylococcus aureus Adultos saudáveis, lesões na pele, articulações pre- viamente danificadas (ex: artrite reumatoide), prótese articular Espécies estreptocócicas Adultos saudáveis, disfunção esplênica Neisseria gonorrhoeae Adultos saudáveis (particularmente jovens, sexu- almente ativos), tenossinovite associada, pústulas vesiculares, deficiência tardia de complemento, cultura negativa de líquido sinovial e coloração de gram-negativa Bactérias gram-negativas aeróbicas Hospedeiros imunocomprometidos, infecção gastrointestinal Bactérias gram-negativas anaeróbias Hospedeiros imunocomprometidos, infecção gastrointestinal Brucelose Zoonose Espécies micobacterianas Hospedeiros imunocomprometidos, viajantes para ou residentes em área endêmica Espécies fúngicas (espécies de Candida, esporotrico- se, Cryptococcus, blastomicose, coccidioidomicose) Hospedeiros imunocomprometidos Espiroqueta (Borellia burgdorferi) Exposição a carrapatos, erupção prévia, envolvimento da articulação do joelho Mycoplasma hominis Hospedeiros imunocomprometidos com manipula- ção prévia do trato urinário Fonte: UpToDate, Septic arthritis in adults, 2020 Artrite Séptica 10 4. ANÁLISE DO LÍQUIDO SINOVIAL O fluido sinovial ou líquido sinovial (LS) normal é um transudato de plasma, acres- cido de sacarídeos de alto peso molecular (destacando-se os hialuronatos) produzi- dos pelos sinoviócitos do tipo B. Artrocentese com análise do LS deve ser realizada em todos os pacientes com efusão articular de causa desconhecida, possibilitando estreitar o diagnóstico dife- rencial, valendo-se da distinção entre categorias inflamatória e não inflamatória do LS. A análise do LS é útil na determinação da causa da artrite, em especial da artrite séptica, e da artrite induzida por cristal. Citologia (total e diferencial), bacterioscopia (Gram) e cultura, além da pesquisa de cristal usando microscopia de luz polarizada, são particularmente úteis na definição da etiologia da artrite. Características macroscópicas Características macroscópicas como volume, transparência, coloração e viscosi- dade do LS devem ser valorizadas: • Volume: o volume do LS no joelho é < 3,5 mL. • Transparência: líquidos mais opacos devem-se à presença de quantidade au- mentada de células nucleadas (leucócitos) ou hemácias. • Cor: o LS normal é incolor. O aumento na quantidade de plasma e células nu- cleadas tornam o LS amarelo ou amarelo-esverdeado, encontrado nos quadros inflamatórios e/ou sépticos. MAPA MENTAL: ETIOLOGIA Staphylococcus aureus Causa mais comum em adultos Outras bactérias gram-positivas Bacilos gram-negativos Adultos mais velhos, imunossupressos ou usuários de drogas IV N. gonorrhoeae Causa mais comum em jovens sexualmente ativos Artrite Séptica 11 • Viscosidade: o LS normal é viscoso, portanto, capaz de produzir um efeito do tipo “liga”. Líquidos inflamatórios, por causa da presença de enzimas proteolí- ticas, possuem baixa viscosidade. Por outro lado, LS purulento (séptico) pode também ser viscoso. Exames laboratoriais Citologia: a quantidade de leucócitos permite classificaro LS em inflamatório e não inflamatório. O fluido sinovial normal é praticamente acelular. LS com menos de 2.000 leucócitos/mm3 são encontrados em distúrbios não inflamatórios, como osteoartrite, necrose avascular, artropatia de Charcot, hemocromatose e trauma. LS inflamatórios, em geral, apresentam mais de 2.000 leucócitos/mm3. Já o LS séptico, contém de 50 a 150.000 leucócitos/mm3 (às vezes em torno de 25.000), com predo- mínio de polimorfonucleares (PMN). O percentual de PMN no LS inflamatório (não séptico) é, em geral, ≥ 50%; no LS séptico ≥ 70%. Eosinofilia no LS sugere infecção parasitária, alergia, neoplasia ou doença de Lyme. Bioquímica: a análise bioquímica e imunológica do LS, via de regra, tem se mostra- do pouco útil no diagnóstico e tratamento das artrites. Redução dos níveis de glicose e elevação da desidrogenase lática no LS têm sido associadas à infecção bacteriana, mas possuem baixa sensibilidade para essa condição. Bacterioscopia: a coloração do Gram é simples, rápida e capaz de oferecer infor- mações valiosas, tanto para o diagnóstico como para o tratamento da artrite séptica – microrganismos Gram-positivos versus Gram-negativos, por exemplo. Além disso, pode representar a única evidência para germes de difícil cultivo. A sensibilidade do Gram varia de 29 a 50% para artrites infeciosas. Dessa forma, dado o baixo ren- dimento do método, um resultado negativo não afasta infecção, particularmente se causada por micobactéria ou fungo. A coloração Ziehl-Neelsen do LS (para bacilos álcool-ácido resistentes) também oferece um baixo rendimento. Logo, a confirmação de tuberculose deve ser estabelecida pela histopatologia e cultura da membrana sinovial. Cultura bacteriana: a cultura bacteriana no LS é positiva na maioria dos pacientes com artrite séptica não gonocócica. Em uma série de 19 casos, a sensibilidade pa- ra cultura e Gram foi 75-95% e 50-75%, respectivamente (esses dados referem-se à infecção bacteriana não gonocócica e sem uso prévio de antibióticos). Antibióticos devem ser suspensos antes da aspiração articular. Parte do LS pode ser misturado a um frasco de hemocultura (para aeróbicos e anaeróbicos), maximizando a identifica- ção do microrganismo. Detecção de cristais: importante no diagnóstico de gota e da doença por deposi- ção de pirofosfato de cálcio. Artrite Séptica 12 MAPA MENTAL: ANÁLISE DO LÍQUIDO SINOVIAL CATEGORIA Normal Não inflamatório Inflamatório Séptico Hemorrágico VOLUME ML (JOELHO) < 3,5 > 3,5 > 3,5 > 3,5 VermelhoCOR Claro Amarelo Amarelo Esverdeado VariávelVISCOSIDADE Alta Alta Baixa Variável VariávelLEUCÓCITOS POR MM³ < 200 0 a 2.000 > 2.000 > 20.000 50 a 75PERCENTAGEM DE PMN < 25 < 25 ≥ 50 ≥ 75 NegativaCULTURA Negativa Negativa Negativa Frequentemente positiva Artrite Séptica 13 5. ARTRITE NÃO GONOCÓCICA Em geral, os pacientes com artrite infecciosa bacteriana não gonocócica mos- tram-se com quadro febril de instalação súbita, calafrios quando há bacteremia e queda do estado geral. O acometimento costuma ser monoarticular (80 a 90%), súbi- to, doloroso, com derrame articular e limitação acentuada dos movimentos ativos e passivos da articulação. O quadro clínico clássico de artrite bacteriana consiste em início súbito de dor, aumento da temperatura local e edema da articulação. Nos pacientes com doen- ças reumáticas preexistentes ou imunossupressão, a apresentação clínica é mais insidiosa. Os sinais comuns de artrite séptica são derrames articulares evidentes, hipersensibilidade moderada a grave durante a palpação da articulação afetada e li- mitação acentuada dos movimentos ativos e passivos. Embora possa afetar qualquer articulação, em aproximadamente 50% dos pacien- tes o joelho é a mais atingida. Quadril (15%), tornozelo (9%), cotovelo (8%), punho (6%) e ombro (5%) são outros sítios comumente acometidos. Bursite, especialmente olecraniana e pré-patelar, pode ser a primeira manifestação dessa doença. O envolvi- mento poliarticular é visto em cerca de 10 a 20% dos casos, principalmente nos por- tadores de quadros gonocócicos. O acometimento do esqueleto axial é raro. Se liga! Um paciente com artrite monoarticular aguda deve ser con- siderado portador de artrite séptica, até que se prove o contrário. A artrite bacteriana não gonocócica pode apresentar-se da seguinte maneira em determinados grupos: Crianças: em neonatos é rara, sendo a infecção de origem hospitalar mais fre- quente com uma condição mórbida preexistente. S. aureus e bacilos Gram-negativos são os agentes etiológicos mais encontrados. Quando adquirida em ambiente extra hospitalar, o estreptococo é o mais comum. Entre 2 meses e 2 anos de idade, H. in- fluenzae é o responsável por mais da metade dos casos de artrite infecciosa. O joe- lho é a articulação mais afetada, seguida pelo quadril. Idosos: o S. aureus é o responsável por 50% dos casos. Estreptococos e bacilos Gram-negativos são responsáveis pela outra metade. É importante pesquisar fatores predisponentes para artrite séptica. Artrite Séptica 14 Diagnóstico Na suspeita de artrite séptica recomenda-se realizar os exames de velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C-reativa (PCR), os quais podem estar eleva- dos. Deve-se levar em conta que, em situações clínicas não infecciosas, esses mar- cadores também se elevam. Nos casos confirmados de artrite séptica podem ser úteis na monitorização da resposta terapêutica. Hemoculturas devem ser obtidas e possuem taxas de positividade em torno de 50%. O hemograma, embora inespecífico, pode revelar leucocitose. Investigação por imagem pode ser realizada por diversas técnicas como radio- grafia simples, ultrassonografia, cintilografia óssea, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Essas modalidades, embora avaliem a integridade da arti- culação, a presença e a extensão de inflamação, não oferecem de forma acurada a distinção entre infecção e inflamação. O principal exame para o diagnóstico de artrite séptica bacteriana é a análise do líquido sinovial aspirado da articulação afetada. O líquido deve ser coletado preferen- cialmente antes de iniciar qualquer antibiótico. Analisa-se a coloração pelo método de Gram, contagem de leucócitos total e diferencial, cultura e pesquisa de cristais. Artrite séptica pode coexistir com artropatia por cristais, portanto, a presença destes não exclui infecção. Figura 2: Esfregaço de bactérias cocos gram-positivas de um exsudato inflamatório sob microscópio de luz 100X. Fonte: Current Reumatologia: diagnóstico e tratamento, 3 ed, 2014 Artrite Séptica 15 Na artrite séptica bacteriana o fluido sinovial costuma ser purulento, de cor amare- lada, opaco, com leucócitos acima de 50.000/mm³, predominando polimorfonuclea- res. Valores inferiores a 50.000/mm³ podem ser observados em pacientes que estão em vigência ou receberam antibióticos ou imunodeprimidos. O diagnóstico diferencial de artrite séptica bacteriana inclui doenças inflamatórias reumáticas e outras doenças infecciosas dentro de um contexto clínico que envolva mono ou oligoartrite, associada a febre e alteração do estado geral: • Outras artrites infecciosas por micobactérias, fungos, espiroquetas e vírus; • Artropatias por cristais como gota e doença por depósito de pirofosfato de cálcio; • Artrite traumática; • Artrite relacionada às espondiloartrites: reativa, psoriásica, espondilite anquilo- sante e doença inflamatória intestinal; • Artrite associada a outras doenças autoimunes como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Behçet, vasculites sistêmicas; • Artrites associadas a lesões metastáticas e sinovite vilonodular pigmentada. Tratamento Na suspeita de artrite séptica recomenda-se terapia antibiótica inicial baseada no quadro clínico, nos fatores de risco e no conhecimento da resistência antibiótica lo- cal ao patógeno possivelmente envolvido. A análise da coloração pelo Gram deve ser usada até que o resultado de culturapossa revelar o patógeno. A duração da terapia antibiótica requer um período de 2 a 4 semanas, inicialmente com antibióticos por via parenteral, mas o tratamento pode ser convertido para via oral desde que o quadro clínico esteja com evolução favorável, após no mínimo 2 semanas de terapia parenteral, e que a droga tenha equivalência de espectro e bio- disponibilidade adequada. Em caso de artrite séptica por Gram-negativo e S. aureus, recomenda-se terapia endovenosa por 4 semanas. As indicações são: • Em artrite séptica por coco Gram-positivo, o antibiótico de escolha para a tera- pia inicial empírica recomendada é a vancomicina 15 a 20 mg/kg/dose, endove- nosa, a cada 8 ou 12 horas. • Infecção por S. aureus meticilina sensível pode ser tratada com cefazolina 2 g, endovenosa, a cada 8 horas ou oxacilina 2 g, endovenosa, a cada 4 horas. • Para pacientes com S. aureus meticilina resistente (MRSA) recomenda-se van- comicina, entretanto, em situações de contraindicação são opções a linezolida 600 mg, via oral, a cada 12 horas ou clindamicina 600 mg, via oral ou endoveno- sa, a cada 8 horas. Artrite Séptica 16 • Em casos de bacilo Gram-negativo as cefalosporinas de 3ª geração são reco- mendadas: ceftriaxona 2 g, endovenosa, a cada 24 horas, cefotaxima 2 g, endo- venosa, a cada 8 horas ou ceftazidima 1 a 2 g, endovenosa, a cada 8 horas. • Nos casos suspeitos de P. aeruginosa a opção inicial é ceftazidima combinada a aminoglicosídeo (gentamicina 3 a 5 mg/kg por dia dividido em 2 a 3 doses). Em situações em que não for possível um resultado pela coloração do Gram, a te- rapia inicial empírica pode ser iniciada com vancomicina para pacientes imunocom- petentes ou combinada a cefalosporina de 3ª geração em imunodeprimidos. Drenagem da articulação por meio de artrocentese com agulha ou via cirúrgica (artroscopia ou artrotomia) é considerada essencial para o adequado manejo da artrite séptica. Não há consenso sobre qual método é melhor e a escolha da abor- dagem deve se basear em critérios, como tipo de articulação afetada e duração da infecção. A artrocentese por agulha pode ser realizada diariamente. É utilizada para articu- lações de fácil acesso como o joelho e permite a cada aspiração avaliar a citologia do líquido sinovial, colher cultura e, assim, acompanhar, juntamente com a evolução clínica (redução de edema e calor), a resposta terapêutica. A drenagem cirúrgica geralmente é necessária para articulações como ombro e quadril e em casos de infecção associada à presença de prótese articular. Também pode ser utilizada em situações em que a artrocentese seriada não foi associada a melhora do quadro articular ou quando, mesmo em articulações de fácil acesso, a aspiração para drenar líquido sinovial purulento não é efetiva. Nos casos de artrite séptica de joelho, ombro e punhos, quando se opta pelo mé- todo cirúrgico de drenagem, a artroscopia geralmente é preferível. Para as infecções em quadril a drenagem aberta (artrotomia) geralmente é requerida. Durante todo o tratamento do quadro infeccioso recomendam-se medidas fisio- terápicas com objetivo de evitar contraturas, promover mobilização, manutenção ou ganho gradual de amplitude de movimentos. Prognóstico A mortalidade é considerada elevada, variando de 10 a 20%, e dependem de fa- tores como idade acima de 65 anos, imunossupressão, doenças coexistentes. A ar- trite séptica poliarticular especialmente quando por S. aureus ou em pacientes com artrite reumatoide tem taxa de mortalidade que atinge 50%, por outro lado, na artrite séptica relacionada a pneumococo a mortalidade gira em torno de 20%. Desfechos como amputação, artrodese e grave deterioração da função articular estão relacio- nados a idade avançada, doença prévia articular e presença de material sintético intra-articular. Artrite Séptica 17 Em infecção por S. aureus, 50% dos pacientes apresentam perda da função arti- cular; dos pacientes que tiveram infecção por pneumococo, 95% retornam a função articular a níveis basais. Se liga! A piora permanente da função articular é observada em cerca de 40% dos pacientes acometidos. Saiba mais! Infecção em próteses articulares A infecção na prótese articular ocorre em 0,86 a 1,1% em artroplastias de joelho e 0,3 a 1,17% em quadril. Os fatores de risco incluem fratura prévia, artroplastia em artrite reumatoide, índice de massa corporal elevado, infecção no sítio cirúr- gico e revisão de artroplastia. Algumas bactérias, ao se aderirem à superfície da prótese, produzem um exopolissacarídeo (glicocálix) formando um biofilme que as protege da fagoci- tose e dos antibióticos, o que leva a um curso clínico indolente e muitas vezes à necessidade de remoção da prótese para erradicar a infecção. Infecções com menos de 3 meses do procedimento cirúrgico estão relaciona- das a S. aureus e bacilos Gram-negativos. O quadro clínico pode se caracterizar por drenagem de secreção pelo ferimento cirúrgico, dor, edema e eritema na articulação. Infecções após 3 meses podem ser decorrentes de S. aureus e estafilococos coagulase-negativos, estreptococos, aeróbios Gram-negativos e anaeróbios. O quadro clínico geralmente se caracteriza por dor persistente, sendo a febre in- comum. Na suspeita de artrite séptica relacionada à prótese, faz-se necessária a coleta de material para análise do líquido sinovial e culturas; os valores de leucócitos totais nesses casos podem estar abaixo daqueles esperados para infecções em articulações naturais. Na estratégia de tratamento devem ser consideradas a escolha de antibiótico que aja sobre bactérias que produzem e aderem ao biofilme, curso mais prolon- gado de antibioticoterapia, a possibilidade de debridamento, troca ou remoção definitiva da prótese. Artrite Séptica 18 MAPA MENTAL: ARTRITE NÃO GONOCÓCICA Principal exame para diagnóstico Artrite não gonocócica Quadro clínico Purulento, amarelado, opaco Leucócitos > 50.000 (predomínio de PMN) Coloração de Gram Cultura Prognóstico Diagnóstico Tratamento Análise do líquido sinovial Direcionado para o patógeno Antibioticoterapia por 2-4 semanas (inicialmente IV) + Drenagem da articulação Empírica: vancomicina (imunocompetentes) ou cefalosporina de 3ª geração (imunodeprimidos) Imagem: avaliação da integridade da articulação e da inflamação Hemoculturas: positividade ~50% Exames complementares: ↑ VHS, PCR, leucócitos Análise do líquido sinovial Dor, calor e edema da articulação Febre, calafrios, queda do estado geral Principal articulação: joelho Geralmente monoarticular e súbita Piora permanente da função articular em 40% Mortalidade de 10-20% Artrite Séptica 19 6. ARTRITE GONOCÓCICA A artrite gonocócica ou infecção gonocócica disseminada (IGD) resulta da propa- gação hematogênica do patógeno N. gonorrhoeae, tendo como porta de entrada uma infecção, sexualmente adquirida, de mucosa. Sua apresentação típica é a tríade com- posta por poliartrite, tenossinovite e lesões cutâneas. Hora da revisão! A N. gonorrhoeae é um diplococo Gram- negativo, não flagelado, não formador de esporos, encapsulado e anaeróbio facultativo que infecta exclusivamente humanos. O gonococo infecta superfí- cies mucosas, incluindo a uretra, endocérvice, faringe, reto e, por contaminação cervicovaginal, a conjuntiva no recém-nascido. A artrite gonocócica ocorre por disseminação hematogênica a partir dessas portas de entrada. A IGD ocorre em 0,5 a 3% dos pacientes com infecção de mucosas não tratada, sendo ainda a causa mais comum de artrite séptica aguda em jovens sexualmente ativos. Apesar disso, a proporção geral de casos de artrite séptica causados por N. gonorrhoeae é baixa. Classicamente, a IGD ocorre de 3 a 4 vezes mais em mulheres do que em homens, sendo mais frequente nos primeiros sete dias após o início da menstruação, durante a gravidez e no período pós-parto. No entanto, essa razão entre os sexos pode estarsofrendo mudanças. Outros fatores de risco para a ocorrência de artrite gonocócica são infecção mucosa assintomática, múltiplos parceiros sexuais, uso de drogas in- travenosas, baixo nível socioeconômico, deficiência de complemento (C5-C9), lúpus eritematoso sistêmico e anemia falciforme. O intervalo decorrido entre o contato sexual e o início da IGD varia de um dia a dois meses. Apenas 25% dos pacientes com IGD apresentam sintomas genituri- nários ou faríngeos de infecção mucosa primária. Artrite Séptica 20 As manifestações clínicas da IGD surgem em dois estágios: • Fase bacteriêmica: poliartralgia (aditiva ou migratória), tenossinovite (67%), febre alta (60%), calafrios e dermatite (75%). As lesões cutâneas são indolores, não pruriginosas, podendo não serem percebidas pelos pacientes, e ocorrem em tronco e extremidades, poupando a face. Classicamente, são pápulas ou vesículas, contudo, também podem se apresentar como pústulas, vasculite, bo- lhas hemorrágicas, eritema multiforme, eritema nodoso e urticária. A tenossino- vite ocorre com maior frequência em dorso das mãos, dedos e pés. Essa fase dura de 48 a 72 horas e pode se resolver espontaneamente. Figura 4: Tenossinovite no dorso da mão direita. Fonte: TisforThan/shutterstock.com • Artrite supurativa: monoartrite de grandes articulações periféricas (em or- dem decrescente de acometimento: joelhos, punhos, tornozelos e cotovelos). Esternoclaviculares e temporomandibulares podem ocasionalmente ser envol- vidas. Artrite em mais de uma articulação também pode ser vista, assim como ausência da fase de bacteremia. Artrite Séptica 21 Manifestações graves incluem endocardite, miocardite, defeitos de condução, pe- ricardite, osteomielite, piomiosite, hepatite (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis), meningite, síndrome de Waterhouse-Friderichsen e síndrome respiratória do adulto. Essas com- plicações tornaram-se extremamente raras desde a introdução dos antibióticos. A maioria dos pacientes do IGD nega sintomas genitourinários, anorretais ou farín- geos, apesar de a infecção gonocócica nesses sítios poder ser identificada em 70 a 80% deles ou em seus parceiros sexuais. Diagnóstico Nos exames laboratoriais, leucocitose, às custas de polimorfonucleares, eleva- ção de velocidade de hemossedimentação e proteína C-reativa são frequentes, mas inespecíficas. Hemoculturas são positivas em torno de 50% dos casos, principalmente em pa- cientes na fase bacteriêmica. A artrocentese com estudo do líquido sinovial (celularidade, Gram e cultura) deve ser realizada em todo paciente com derrame articular e suspeita de IGD. O líquido é inflamatório, com contagem de leucócitos entre 10.000 e 100.000 células/mm3. A presença de diplococos Gram-negativos ocorre em menos de 25%, e as culturas são positivas em menos de 50% dos casos. O centro de laboratório deve ser avisado da suspeita de infecção gonocócica para que as culturas sejam processadas adequada- mente, devendo idealmente serem semeadas à beira do leito em ágar chocolate ou Thayer-Martin. As colônias de N. gonorrhoeae podem precisar de mais de 48 horas de incubação para crescer. Figura 6. Neisseria gonorrhoeae. Coloração de Gram de exsudado uretral na gonorreia, mostrando diplococos reniformes intracelulares Gram-negativos. Fonte: Sureerat niukoonchitt/shutterstock.com Artrite Séptica 22 Na suspeita de IGD, amostras de secreção uretral, cervical, faríngea e retal devem ser coletadas, mesmo na ausência de sintomas nesses locais. Os testes de amplifi- cação de ácido nucleico são os mais sensíveis e são positivos em mais de 90% dos pacientes não tratados. Se indisponíveis, a cultura é o teste alternativo preferido. Aproximadamente 80% dos pacientes têm uma cultura positiva de algum sítio mu- coso, sendo o trato genitourinário o de melhor rendimento. As culturas do parceiro sexual também devem ser obtidas e podem ser positivas mesmo que as do paciente não sejam. Exames de imagem normalmente não são necessários para o diagnóstico de IGD e pouco acrescentam em relação ao exame físico, apesar de mais sensíveis na de- tecção de artrite e tenossinovite. O diagnóstico definitivo da IGD é feito pela identificação da N. gonorrhoeae em amostra de sangue, líquido ou tecido sinovial, lesão cutânea ou outro local não mucoso. Se estas forem negativas, o diagnóstico presuntivo pode ser feito em um paciente com evidência microbiológica de N. gonorrhoeae em mucosa e uma apre- sentação clínica compatível com IGD. Nos casos em que todos os testes microbiológicos forem negativos, o diagnós- tico é assumido com base em uma apresentação clínica típica, ausência de causa alternativa e resposta à terapia apropriada. Na fase bacteriêmica, os principais diagnósticos diferenciais são: artrite reativa, artrite reumatoide inicial, sarcoidose, endocardite bacteriana, meningococemia, ar- trite induzida por drogas e infecções virais (ex.: parvovirose, arboviroses, hepatites e infecção aguda pelo HIV). No estágio de artrite supurativa, faz-se mandatório excluir artrite séptica por outros patógenos e artrite induzida por cristais. Tratamento Hospitalização está indicada quando o diagnóstico não está bem definido, em pa- cientes com artrite purulenta franca, ou com sintomas de difícil alívio. O regime inicial de escolha atualmente é o ceftriaxone 1 g, intravenoso ou intra- muscular, a cada 24 horas, associado com azitromicina 1 g, via oral, em dose única. Regime alternativo pode ser feito com ceftizoxima ou cefotaxima, ambas 1 g, intrave- noso, a cada 8 horas e associadas com azitromicina na mesma dose. A doxiciclina 100 mg, via oral, a cada 12 horas, durante 7 dias, pode ser usada co- mo alternativa à azitromicina, juntamente com a cefalosporina parenteral. A associação com azitromicina ou doxiciclina possui duplo efeito, tanto na redu- ção da resistência bacteriana como no tratamento da clamídia, comumente presente como coinfecção. Artrite Séptica 23 Se liga! Em razão do histórico de resistência a antimicrobianos da N. gonorrhoeae, o uso de penicilinas, tetraciclinas e fluoroquinolonas não está mais recomendado. De modo geral, a melhora clínica é muito rápida, dentro de 24 a 48 horas do início da antibioticoterapia, o que ajuda na confirmação dos casos com diagnóstico pre- sumido. A terapia parenteral deve ser mantida em torno de 48 horas após a melhora clínica e então substituída por terapia via oral, para completar 7 a 10 dias. Para pa- cientes com artrite purulenta ou com alguma comorbidade, pode ser necessário um tratamento parenteral mais prolongado, de 7 a 14 dias. Para continuação do trata- mento oral, pode-se usar a cefixima 400 mg, a cada 12 horas. Pacientes com história de alergia a penicilina raramente apresentam reação às cefalosporinas de terceira geração e podem usá-las com segurança. Contudo, em pacientes com histórico de outras reações graves (anafilaxia, síndrome de Stevens- Johnson), um infectologista deve ser consultado. O parceiro sexual, com contato até dois meses antes do diagnóstico, deve ser tra- tado, tanto para N. gonorrhoeae como para clamídia. Pode ser usado ceftriaxone 250 mg, intramuscular, associado a azitromicina 1 g, via oral, em dose única, ou a doxici- clina 100 mg, a cada 12 horas, por 7 dias. Na presença de derrame purulento, punção articular deve ser realizada uma ou mais vezes, se necessária. Drenagem aberta ou artroscópica pode ser indicada em raras situações. O prognóstico é bem favorável, geralmente sem sequelas, sobretudo quando o diagnóstico e a terapêutica são precoces. Pacientes com história de dois ou mais episódios de IGD devem ser avaliados para deficiência de algum componente termi- nal da cascata do complemento. Se liga! O prognóstico da artrite associada à IGD é muito mais favo- rável que a da artrite séptica não gonocócica, com recuperação total de quase todos os pacientes depois de iniciar o tratamento antibiótico apropriado. Artrite Séptica 24MAPA MENTAL: ARTRITE GONOCÓCICA Deve ser realizada em todo paciente Artrite gonocócica Quadro clínico Leucócitos entre 10.000-100.000 Coloração de Gram: diplococos gram- negativos em < 25% Cultura: positiva em < 50% Prognóstico Diagnóstico Tratamento Análise do líquido sinovial Completar 7-10 dias Análise do líquido sinovial Hemocultura: positiva – 50% Exames complementares: ↑ VHS, PCR, leucócitos Maioria não possui sintomas genitourinários Atrite supurativa: monoartrite de grandes articulações periféricas Fase bacteriêmica: poliartralgia, tenossinovite, febre alta, calafrios e dermatite Tríade: poliartrite, tenossinovite e lesões cutâneas Geralmente sem sequelas Favorável Diagnóstico definitivo: identificação da N. gonorrhoeae em sangue, líquido sinovial, lesão cutânea ou outro Amostras de secreção uretral, cervical, faríngea e retal Tratar parceria para N. gonorrhoeae e clamídia Punção articular Ceftriaxone 1g, IV ou IM, a cada 24h + azitromicina 1g, VO, em dose única Artrite Séptica 25 (imunodeprimidos) MAPA MENTAL: ARTRITES SÉPTICAS AR TR IT ES S ÉP TI CA S Destruição articular irreversível Aumento da mortalidade Causa mais comum em adultos Adultos mais velhos Imunossupressos Usuários de drogas IV Causa mais comum em jovens sexualmente ativos Dor, calor e edema da articulação Geralmente monoarticular e súbita Principal articulação: joelho Exames complementares: ↑ VHS, PCR, leucócitos Hemoculturas: positividade ~50% Imagem: avaliação da integridade da articulação e da inflamação Análise do líquido sinovial Antibioticoterapia por 2-4 semanas (inicialmente IV) + Drenagem da articulação Direcionado para o patógeno Empírica: vancomicina (imunocompetentes) ou cefalosporina de 3ª geração Mortalidade de 10-20% Piora permanente da função articular em 40% Tríade: poliartrite, tenossinovite e lesões cutâneas Fase bacteriêmica: poliartralgia, tenossinovite, febre alta, calafrios e dermatite Atrite supurativa: monoartrite de grandes articulações periféricas Maioria não possui sintomas genitourinários Exames complementares: ↑ VHS, PCR, leucócitos Hemocultura: positiva – 50% Análise do líquido sinovial Amostras de secreção uretral, cervical, faríngea e retal Diagnóstico definitivo: identificação da N. gonorrhoeae em sangue, líquido sinovial, lesão cutânea ou outro Ceftriaxone 1g, IV ou IM, a cada 24h + azitromicina 1g, VO, em dose única Completar 7-10 dias Tratar parceria para N. gonorrhoeae e clamídia Punção articular Favorável Principal exame para diagnóstico Purulento, amarelado, opaco Leucócitos > 50.000 (predomínio de PMN) Coloração de Gram Cultura Deve ser realizada em todo paciente Leucócitos entre 10.000-100.000 Coloração de Gram: diplococos gram-negativos em < 25% Cultura: positiva em < 50% Infecção em articulação Agudas Crônicas Mecanismo de infecção Etiologia Análise do líquido sinovial Artrite não gonocócica Artrite gonocócica Não gonocócicas Gonocócicas Emergência médica Micobactérias Fungos Disseminação hematogênica (principal) Inoculação direta de bactérias na articulação S. aureus Outras bactérias gram-positivas Bacilos gram-negativos N. gonorrhoeae Volume (joelho) > 3,5 ml Cor: Esverdeado Viscosidade: Variável Leucócitos por mm³: > 20.000 Percentagem de PMN: ≥ 75 Cultura: Frequentemente positiva Quadro clínico Diagnóstico Tratamento Prognóstico Quadro clínico Tratamento Prognóstico Febre, calafrios, queda do estado geral Geralmente sem sequelas Diagnóstico Artrite Séptica 26 REFERÊNCIAS Vasconcelos JTS et al. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatolo gia. 1. ed. Barueri: Manole, 2019. Imboden JB, Hellman DB, Stone JH. Current Reumatologia: diagnóstico e tratamento. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. Goldenberg DL, Sexton DJ. Septic arthritis in adults. [Internet]. 2011. [acesso em 4 jun. 2021]. Disponível em: https://somepomed.org/articulos/contents/mobipreview. htm?32/63/33776. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770
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