Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacologia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ SULFONAMIDAS E QUINOLONAS SULFAS/SULFONAMIDAS A primeira classe de substâncias com atividade contra Gram+ e Gram- introduzidas na terapêutica humana. Tem papel relativamente secundário atualmente. Têm estrutura semelhante com o PABA (ácido paraminobenzênico, substrato usado pela bactéria para formar ácido fólico → formação material genético. Age na via metabólica do folato (ácido fólico) Mecanismo de ação • Bacteriostáticos (bloqueia a síntese do ácido fólico → bloqueia a síntese de material genético → inibe a replicação) • Inibidores competitivos, como falsos substratos da dihidropteroato-sintetase (pega o PABA e forma ácido fólico). • Trimetoprima inibe dihidrofolato redutase (transforma ácido fólico em ácido folínico) • Microrganismos sensíveis são aqueles que precisam sintetizar seu próprio ácido fólico (bactérias e protozoários) • Geralmente é usada em sinergismo (sulfonamida + trimetoprim/pirimetamina) Espectro de ação • No início tinham ação contra Gram+ e Gram-. Com o passar do tempo (90 anos), há uma grande resistência bacteriana adquirida. a resistência é observada em praticamente todos os agentes bacterianos (variando com o local, origem urbana/rural, característica intra/extra-hospitalar) • Melhora do espectro quando associada a um inibidor da dihidrofolato redutase (trimetoprim ou pirimetamina) o Se algum ácido fólico conseguiu ser formado mesmo com a sulfa, ele será inibido de transformar-se em ácido folínico → incapacidade de síntese do DNA e replicação • Ação contra agentes infecciosos não bacterianos: Toxoplasma gondii (associado a pirimetamina), Pneumocystis jiroveci (associado a trimetoprim), Paracoccidioides brasiliensis, Isospora belli, Nocardia o Plasmódios já se mostraram sensíveis às sulfas (sulfadoxina + pirimetamina já foi usada no Brasil para malária por P. falciparum); hoje, não respondem mais a essa terapêutica. Mecanismos de resistência • ↓afinidade da dihidropteroato sintetase pelas sulfonamidas • ↓permeabilidade bacteriana (a sulfa precisa entrar dentro da célula, pois o metabolismo do ácido fólico é citoplasmático) Farmacologia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ • Efluxo ativo do fármaco • Via metabólica alternativa • ↑produção de um metabólito essencial (PABA) → mais comum em Staphylococcus Farmacocinética • Disponível em todas as formas de administração. Algumas são feitas para não serem absorvidas, mas para terem efeito local no intestino ou tópico (como úlcera ou queimadura) • 70-100% da dose VO é absorvida, é absorvida no intestino delgado e no estômago • Níveis plasmáticos máximos de 2 a 6h • Alta ligação proteica à albumina • Concentram-se em todos os líquidos corporais (incluindo líquor) • Atravessam a placenta • Sofrem metabolismo hepático → metabólito sulfonamida N4-acetilada • Excretadas pelo rim (uma parte inalterada e outra de metabólitos) • Quantidades pequenas eliminadas nas fezes, bile e leite Indicações • Toxoplasmose e pneumocistose (SMX+TRI, profilaxia e tratamento) → 1ª opção • ITU → 2ª ou 3ª opção, principalmente quando não pode usar quinolonas (1ª opção), como grávidas e crianças • Nocardiose • Infecções do TGI (SMX+TRI) (quinolonas também são 1ª opção) • Infecções do trato respiratório (SMX+TRI) → 4ª ou 5ª opção • Nocardiose • Profilaxia para Streptococcus em pessoas que tem predisposição a reação cruzada (febre reumática). É uma alternativa à Penicilina G benzatina (para os casos de alergia) • Uso tópico (sulfadiazina de prata forma uma barreira mecânica em grandes feridas, além da ação antibiótica) • Sulfassalazina na DII → degradação em sulfapiridina + ácido 5-aminossalicilato (5-ASA)) o Via oral ou retal → metabolizada pelas bactérias colônicas → 5-ASA é um salicilato (AINE tópico) → age na mucosa intestinal reduzindo processo inflamatório o Mesalazina é a forma mais aprimorada da sulfassalazina o A vantagem é evitar uma ação sistêmica (↑PA, ↑agregação plaquetária, IR etc.) Reações adversas (aprox. 5% de incidência) • Cristalúria → aumenta o pH urinário, tornando-o mais alcalino • Anemia hemolítica (apenas em pessoas com deficiência de G-6-P-D, enzima essencial para formação e metabolismo das hemácias, que se rompe ao contato com a sulfa) • Agranulocitose (sulfa é mielotóxica) • Anemia aplásica (uso prolongado de pirimetamina/trimetoprim interfere a conversão de ácido fólico em folínico, atingindo as células de replicação rápida) → repor ácido folínico • Reações de hipersensibilidade o Principalmente cutâneas → erupções, eritema, Stevens Johnsons, Behçet, fotossensibilidade • Febre em 3% • Hepatotoxicidade Farmacologia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ QUINOLONAS/FLUORQUINOLONAS Todas as quinolonas são sintéticas • 1ª geração: ácido nalidíxico • 2ª geração o Subgrupo A: norfloxacino (profilaxia para PBE, peritonite bacteriana espontânea) o Subgrupo B: ciprofloxacino, ofloxacino (exclusivo para tratar tuberculose – esquema 2) • 3ª geração (quinolonas respiratórias): levofloxacino, gatifloxacino (saiu do mercado pois causava hipoglicemia) • 4ª geração (quinolonas respiratórias): moxifloxacino • Subgrupo B a 2ª geração é 4-8x mais potente que subgrupo A • Conforme evoluem as gerações, evolui o espectro • 3ª e 4ª gerações são conhecidas como quinolonas respiratórias (mesmo espectro da 2ª geração, mas cobrem Pneumococcus) • 4ª geração cobre bem anaeróbios Mecanismo de ação • Bactericidas (expansão do cromossomo) • Agem no cromossomo, retirando sua estrutura espiral. • 2 alvos: DNA-girase/topoisomerase II (Gram-) e topoisomerase IV (Gram+), que enrolam, espiralam e dobram a cadeia de DNA. • Inibição das enzimas → expansão do cromossoma Espectro de ação • Todos pegam Gram- comunitários (E. coli, Salmonella, Enterobacter, Campylobacter, Neisseria). o Pseudomonas a partir do ciprofloxacino, 2ª geração o Não pode fazer para Neisseria, pois não concentra no líquor. Não são feitos para Pseudomonas, pois a resistência é crescente • Gram+: MSSA (a partir da 2ª geração), Streptococcus (a partir do levofloxacina, 3ª geração) o Apenas levofloxacino (3ª) e moxifloxacino (4ª) para trato respiratório • Bactérias intracelulares (atípicos): Chlamydia, Mycoplasma, Legionella, Brucella Farmacologia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ o A partir da 2ª geração o Mycobactérias (quinolonas são alternativas para tuberculose pulmonar) • Anaeróbios (4ª geração, moxifloxacino é a melhor) Resistência • Mutação nos genes que codificam as topoisomerases • Modificação dos canais porínicos da membrana externa das bactérias • Transporte do fármaco para fora da bactéria • Resistência crescentem em Streptococcus e Pseudomonas Farmacocinética • Bem absorvida VO • 1-3 horas atingem nível sérico máximo, biodisponibilidade > 50% (alguns > 95%), meia-vida de 3-5h. • Boa distribuição pelo corpo (exceto líquor, osso e próstata). o Não deve ser usada no líquor o Nos locais de menor concentração (osso e próstata), aumenta-se o tempo de uso (no mínimo por 4 semanas) • Excelente concentração intracelular • Eliminados pelo rim in natura (exceto pefloxacino e moxifloxacino, que têm metabolismo hepático) Indicações • ITU → 1ª opção, exceto para gestantes e crianças. Ciprofloxacino (500 mg VO 12/12h, por 7 dias; ou 400 mg IV 12/12h) • Prostatite (4-6 semanas). Ciprofloxacino 500 mg 12/12h, por no mínimo 4 semanas (pela menor concentração) • DST (uretrites/cervicites): não são 1ª opção (são as tetraciclinas) • Gastroenterites→ 1ª opção, por cerca de 3-5 dias • Infecções abdominais (Colecistite, apendicite, peritonite, diverticulite). Não se usa em pancreatite, usa-se carbapenêmico • Infecções respiratórias (3ª e 4ª gerações). o Levofloxacino ▪ Via aérea alta, trato urinário e TGI: 500 ou 750 mg 1x/dia ▪ Via aérea baixa: 500 mg 2x/dia o Moxifloxacino 400 mg VO ou IV, 1x/dia Farmacologia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ • Osteomielite e artrites: normalmente causadas por Staphylococcus da pele. Normalmente MSSA, então pode-se usar 2ª geração • Infecções de tecidos moles (pele e anexos): respondem bem a 2ª geração • Tuberculose (esquema alternativo): ofloxacino (2ª, subgrupo B) • Profilaxia PBE (peritonite bacteriana espontânea → translocação das bactérias intestinais para o líquido ascítico): norfloxacino Efeitos adversos • Bem tolerados, exceto por sintomas gastrointestinais leves (náusea, vômito e dor abdominal 3-17%) • Colite por C. difficile (pseudomembranosa): não é exclusiva das quinolonas • Alterações da glicemia (gati – saiu do mercado) • Efeitos no SNC (enxaqueca, confusão mental, agitação) • Quinina está sendo associada a lesões do tecido conjuntivo (ruptura do tendão Aquileu e grandes vasos) • Artropatias em crianças (associado ao fechamento precoce das epífises) • Gestantes
Compartilhar