Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Reações Adversas a Drogas Pela OMS, reação adversa à droga inclui toda a consequência não terapêutica do uso de uma droga, com exceção do seu abuso, envenenamento e falência terapêutica. A reação adversa a droga pode, ainda, ser definida como qualquer efeito indesejável na estrutura ou função da pele e ou sistêmicas, bem como dos anexos cutâneos ou das mucosas. à A pele é o órgão mais frequentemente acometido. HISTÓRICO Desde o século XIX Jadassohn e Almkvist já haviam observado alterações cutâneas provocadas pelos mercuriais, da mesma forma Brocq e Naegeli haviam constatado as erupções fixas a certas drogas. As reações as drogas descritas na ocasião devido ao grande número de nomes diferentes e epônimos apresentavam dificuldades na classificação. INTRODUÇÃO - Afeta 2% da população adulta e aproximadamente 4% da população pediátrica. - Acomete aproximadamente 10 a 20% dos pacientes hospitalizados, pois há o uso intenso de muitos medicamentos. - Acomete mais mulheres do que homens. - É maior em pacientes imunossuprimidos e AIDS com CD4 menor que 200 - É maior em pacientes com uso de várias medicações - Drogas: antibióticos, psicotrópicos, anticonvulsivantes (Hidantoína), Alopurinol, AINES (Diclofenaco, Piroxicam), AAS. FISIOPATOLOGIA MECANISMOS NÃO IMUNOLÓGICOS - Reações Previsíveis: Efeitos Colaterais, Toxicidade e Interação Medicamentosa. - Reações Imprevisíveis: Intolerância, Idiossincrasia e Hipersensibilidade. Obs: intolerância (quantitativa), idiossincrasia (intolerância qualitativa). - Distúrbio Ecológico: Alteração da flora normal de microrganismos como pode ocorrer pelo uso de antibióticos. - Biotropismo: Determinadas drogas que são tóxicas para alguns microrganismos favorecem o desenvolvimento de outros, efeito biotrópico. MECANISMOS ALÉRGICOS As erupções por drogas causadas por mecanismos alérgicos obedecem aos tipos gerais de reações de hipersensibilidade. Os mecanismos imunes que podem estar envolvidos nas erupções por droga de caráter alérgico são: 1) Mecanismos dependentes de IgE. 2) Mecanismos citotóxicos. 3) Mecanismos envolvendo complexos imunes. 4) Mecanismos mediados pela imunidade celular. MECANISMOS DEPENDENTE IGE- REAÇÃO TIPO I - Decorrente da degranulação dos mastócitos com liberação de histaminas. - Resposta imune: IgE. - Quadro clínico: urticária e anafilaxia. Aula 7 Beatriz Loureiro - Tipo celular: Imunoglobulinas e células B. - Exemplo: reações urticariformes à penicilina. Existem dois grupos de determinantes antigênicos haptênicos na penicilina: o determinante major, que compreende o grupo peniciloil e que representa 95% da penicilina ligada a proteínas, e o determinante minor, que compreende outros metabólicos da penicilina. As reações imediatas são causadas pelos antigênicos minor e as tardias, urticariformes e exantemáticas relacionam-se aos determinantes major. Urticária Angioedema MECANISMOS CITOTÓXICOS - Decorrente da citotoxicidade celular mediada por anticorpos. - Resposta imune: IgG. - Quadro clínico: discrasias sanguíneas. - Tipo celular: células B e imunoglobulinas. - Exemplo: anemias hemolíticas à penicilina ou a metildopa, plaquetopenias causadas sulfas. MECANISMOS ENVOLVENDO IMUNOCOMPLEXOS – REAÇÃO TIPO III Surge em torno de 14 dias após a administração do agente ou de soro, caracterizando-se por febre, artralgias, edema, urticas, adenopatias e eosinofilia sanguínea. - Decorrente da deposição de imunocomplexos. - Resposta imune: IgG e imunocomplexos. - Tipo celular: células B e imunoglobulinas. - Exemplo: vasculite induzida por drogas como: Alopurinol, AINES, Fenitoína, Quinolonas, Tiazídicos, Solfonamidas. Vasculites MECANISMOS MEDIADOS PELA IMUNIDADE CELULAR O mecanismo da reação tipo IV está bem estabelecido nas dermatites de contato, inclusive por drogas de uso tópico. - Tipo 4 A: células TH1, ativação de monócitos (ex., eczema). - Tipo 4 B: células TH2 (IL4, IL5), inflamação eosinofílica (ex., exantema máculo-papular e bolhoso). - Tipo 4 C: células T e apoptose, morte celular por CD4 e CD8 (ex., exantema máculo-papular, bolhoso e pustuloso). - Tipo 4 D: células T (IL-8), ativação e recrutamento dos neutrófilos (ex., pustulose exantemática generalizada aguda). PRURIDO Pode ser uma manifestação isolada. O prurido costuma acompanhar as demais reações cutâneas a droga. Clinicamente, o paciente não apresenta Beatriz Loureiro lesão cutânea, podendo apresentar apenas escoriações. - Tratamento: deve-se retirar a droga, podendo o prurido persistir até 2 semanas após. ERUPÇÃO EXANTEMÁTICA POR DROGA São as reações mais comuns. - Padrão morbiliforme ou escarlatiniforme, poupando palmas, plantas e mucosas. - Aparecimento súbito, geralmente entre 7° e 14° dia do uso da droga nova. - Naqueles já sensibilizados, pode ocorrer por volta de 1 a 3 dias no uso da droga. - Regridem após 1 a 2 semanas da retirada da droga. - Tratamento: cuidado com os exantemas virais e uso de corticoides. ERITEMA PIGMENTAR FIXO É uma forma frequente de erupção por medicamentos que se caracteriza pela recidiva sempre no mesmo local, ainda que novas lesões possam surgir simultaneamente em outras áreas. - Consiste em mancha/máculas de cor vermelho- azuladas, redondas ou ovais com limites nítidos. - A lesão pode ainda ser purpúrica, urticada ou bolhosa em formas mais severas. - Há prurido e sensação de queimação. - O eritema regride gradualmente deixando mácula acastanhada residual (melanina). - Região palmo plantar são os locais mais frequentes, assim como regiões periorificiais da face e genitais. - Lesões podem surgir 30 minutos a 8 horas após administração da droga. - Pode ocorrer fenômeno de Koebner. - Tratamento: retirar o medicamento, anti- histamínico, corticoide tópico ou oral - se maior gravidade. URTICÁRIA – ANGIOEDEMA – ANAFILAXIA Urticária estão entre as mais frequentes reações indesejáveis às drogas. - Pode ser causada por qualquer droga e sendo frequentemente associado ao angioedema. - Pode resultar das reações de Gell e Coombs do tipo I ou do tipo III. - Causados principalmente pelo AINES, penicilina, cefalosporinas e amoxicilina. - Meios de contraste radiológicos podem desencadear o quadro. à A histamina é o principal mediador das urticárias, ela desencadeia o prurido e aumenta a permeabilidade capilar. - Surge geralmente de 15 minutos a 24 horas após a exposição a droga. - Tratamento: suspensão da droga, anti- histamínicos, corticoides. Beatriz Loureiro ERITEMA MULTIFORME - Mais comum em pacientes jovens com infecções de repetição pelo herpes simples. - Em crianças se correlacionam com infecções pelo Micoplasma pneumoniae e fungos. - Eventualmente relacionado a drogas (10 a 20%). - Lesões poliformas, com máculas, pápulas, vesículas e bolhas simetricamente distribuídas pelo tegumento. - É caraterística a lesão em alvo (ou íris, herpes íris de Bateman): mácula eritematosa cujo centro apresenta vesícula, a qual é circuncidada pelo discreto halo eritematoso e circundado por vesículas menores concêntricas. - Superfícies extensoras à localização mais frequente. - ¼ dos doentes tem acometimento da mucosa. - Maioria dos doentes tem a forma minor limitado ao máximo a uma superfície de mucosa. - 20% dos casos evoluem para forma major ou síndrome de Stevens-Johnson que cursa com alto grau de mortalidade. - Tratamento: retirada da droga, anti-histamínico, corticoide tópico e/ou oral. SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON - Incidência de 1 a 6 casos por milhão. - Mais comum em HIV +. - Lesões semelhantes ao eritema polimorfo, porém com máculas purpúricas e bolhas amplamente distribuídas ou mesmo lesões em alvo atípicas dispostas sobre o dorso das mãos, palmas, plantas dos pés, região extensora das extremidades. - 10 a 30%com febre e acometimento gastrointestinal e respiratório. - Acometimento mucoso de duas (2) superfícies mucosas distintas, pode preceder ou suceder o acometimento cutâneo. - Destacamento epidérmico < 10%. - Taxa de mortalidade inferior a 5%, sepse é a causa principal. - Tratamento: suspensão da droga, corticoide somente nas primeiras 48h, antibiótico se infecção. NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA OU SÍNDROME DE LYELL Caracterizada por um intenso destacamento da epiderme por necrose, > 30%. - Mais comum no HIV +. - Predomínio em mulheres. - Sentido crânio-caudal. - Sintomas iniciais como febre, dor de garganta, tosse e queimação ocular, seguido após Beatriz Loureiro aproximadamente 3 dias de erupção cutâneo- mucoso. - Geralmente em cerca de 2 a 5 dias com acometimento total do corpo. - Sinal de nikolsky positivo na pele comprometida. - Raro o acometimento do couro cabeludo. - Febre alta ou hipotermia podem ocorrer pelo desequilíbrio hidroeletrolítico. - Anemia e linfopenia em até 90% dos casos. - Neutropenia: pior prognóstico. - Tratamento: suspensão da droga, suporte semelhante aos pacientes com queimaduras extensas, biópsia da pele, UTI, hidratação, corticoide (controverso), imunoglobulinas, agentes Anti-TNF, antibióticos. Prognóstico – Critérios de Scorten - Atribui-se um ponto para a presença de cada um dos parâmetros abaixo. Quando o somatório do Scorten é menor que 2 o risco de óbito é em torno de 3%, quando o somatório é ≥ 4 o risco de óbito e pelo menos 60%. Fatores Prognósticos Parâmetros Idade > 40 anos Frequência cardíaca > 120 bpm Presença de malignidade- neoplasia Sim ou não % da área acometida > 10% Uréia sérica > 28 mg/dL Bicarbonato sérico < 20 mmol/L Glicemia > 252 mg/dL Scorten 1: 3,2%. Scorten 2: 12,1%. Scorten 3: 35,3%. Scorten 4: 58,35. Scorten 5 ou mais: 90% PUSTULOSE EXANTEMÁTICA AGUDA GENERALIZADA 90% dos casos atribuídos a medicamento. - Edema de face e áreas de dobras antes de se disseminar. - Geralmente ocorre uma a três semanas após o uso do medicamento. - Febril aguda, pústulas estéreis não foliculares (febre alta no mesmo dia da erupção pustulosa estéril). - Leucocitose (Neutrofilia Sanguínea) com frequência e eventualmente eosinofilia. - Resolução em 4 a 10 dias após suspensão da droga. - Drogas causadoras: betalactâmicos, macrolídeos, cefalosporinas, tetracicilinas, sulfas, alopurinol, carbamazepina, paracetamol, terbinafina, mercúrio e talidomida. SÍNDROME HIPERSENSIBILIDADE INDUZIDA POR DROGAS DRESS – Reação a droga com eosinofilia e sintomas sistêmicos - Mais comumente vista com uso de agentes antiepiléticos (fenitoína, carbamazepina e fenobarbital). - Incidência maior em afrodescendentes. - Erupção morbiliforme edematosa, início pela face, tronco superior e extremidades superiores. Beatriz Loureiro - Edema de face com acentuação periorbitária é um sinal de alerta ao diagnóstico. - Linfadenopatia em 75% dos casos e dolorosa. - Artralgia. - Hepatomegalia com hepatite em 50% casos. - Laboratorial: Eosinofilia, Linfócitos atípicos. - Diagnostico diferencial: mononucleose. SÍNDROME DO HOMEM VERMELHO - É um estado de eritrodermia instalada em dias ou semanas por diversas etiologias. - Mais comum a drogas: Vancomicina. - Acredita ser reação de hipersensibilidade a Vancomicina, geralmente após a infusão rápida da droga quando administrada antes de 60 minutos, mas pode ocorrer em infusões lentas também. - Na sua progressão: dispneia, hipotensão, dor torácica e espasmos musculares. - Inicia-se pela área genital, face ou tronco e progressivamente se generaliza, com posterior processo descamativo. SÍNDROME DO BABUÍNO SDRIFE – Exantema flexural e intertriginoso simétrico relacionado a droga - A síndrome do babuíno foi descrita inicialmente como uma reação cutânea decorrente de exposição sistêmica a um alérgeno de contato prévio. - Hoje, já foram descritos diversos casos secundários a exposição a drogas sistêmicas, e dessa forma o termo SDRIFE é melhor empregado. - O quadro se caracteriza por erupção cutânea eritematosa simétrica, predominantemente nas áreas intertriginosas, nádegas (incluindo região perianal) e região inguinocrural. - A síndrome ganhou esse nome devido ao exantema das nádegas vermelho-vivo fazer uma analogia à calosidade presente nas nádegas do babuíno. Critérios diagnósticos foram propostos para auxílio a identificação do quadro clínico: 1) Exposição a uma droga administrada sistemicamente, na primeira dose ou doses subsequentes (excluindo alérgenos de contato); 2) Eritema bem demarcado na região glútea, perianal e / ou eritema em forma de V da área perigenital inguinal; 3) O envolvimento de, pelo menos, uma outra localização intertriginosa / flexura; 4) Simetria das áreas afetadas; 5) Ausência de sintomas sistêmicos e sinais. Beatriz Loureiro REAÇÕES A DROGAS à Alterações pigmentares da pele: clofazimina, amiodarona, antimaláricos, minocilina, hidroquinona. à Alterações pigmentares da unha: tetraciclinas, antimaláricos, sulfas, AZT, bleomicina, ciclofosfamida, ouro. à Onicólise: betabloqueadores, captopril, isotretinoína, acitretina, 5-fluoracil, sulfas. à Erupções liquenóides: IECA, betabloqueador, clorotiazida, carbamazepina, tetraciclinas, griseofulvina, hidantoína, espironolactona. à Lúpus medicamentoso: Hidralazina mais comum, isoniazida, betabloqueador, procainamida, testosterona e estrógenos. à Iododerma e Bromoderma: além de erupções acneiformes, podem formam bolhas, úlceras e vegetantes. à Alopecias, Hipertricose e Hirsutismo. Beatriz Loureiro
Compartilhar