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Química Farmacêutica e Planejamento de Fármacos Estratégias estruturais no desenvolvimento de fármacos – bioisosterismo Profa. Dra. Andressa Keiko Matsumoto • Unidade de Ensino: 3 • Competência da Unidade: Estabelecer perspectivas para comparar, modificar e desenvolver moléculas farmacológicas. • Resumo: O processo de latenciação e as simplificações moleculares no qual é submetido as reações químicas para simplificar a molécula, mantendo as estruturas essenciais para causar efeito farmacológico. • Palavras-chave: Bioisosterismo, moléculas e reações químicas. • Título da Teleaula: Estratégias estruturais no desenvolvimento de fármacos – bioisosterismo • Teleaula nº: 3 Contextualização Bioisosterismo Estratégia de planejamento Bioisosterismo natural e ligados às funções orgânicas Hibridação Hibridação molecular e compostos farmacológicos Hibridação usadas para desenvolver protótipos de fármacos simbióticos Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Latenciação Importância da latenciação na descoberta de pró-fármacos e fármacos dirigidos. Bioisosterismo Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento Bioisosterismo Técnica de química medicinal para o planejamento racional de novos medicamentos, sendo um processo especial de modificação molecular. Reatividade química dos grupos funcionais ou subunidades estruturais bioisostéricas, principalmente para prever alterações importantes nos processos de biotransformação, inclusive para o eventual alteração da característica tóxica em relação aos metabolitos. Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento Isósteros Grupamentos que apresentam semelhança em suas propriedades químicas e/ou físicas. Semelhança em interações intermoleculares e grau de ionização, possuem em geral volume molecular, número de átomos ou disposição eletrônica semelhantes. Substituição isostérica é a troca de um elemento ou grupamento por outro com configurações estéricas e eletrônicas semelhantes. Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento 1919 – Langmuir – Conceito de Isosterismo “Moléculas são isostéricas se elas possuem a mesmo numero e arranjo de elétrons” Fonte: Livro didático da disciplina. Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento Regra do Hidreto de Grimm Preconizava que a adição de um átomo de hidrogênio com um par de elétrons (hidreto) a outro átomo, confere a esta estrutura (átomo + hidrogênio) as propriedades físicas daqueles átomos presentes na coluna imediatamente posterior na Tabela Periódica. Fonte: Livro didático da disciplina. Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento Em 1970, Alfred Burger: • Bioisosterismo clássico; • Bioisosterismo não clássico. Fonte: Livro didático da disciplina. Emprego de bioisósteros Otimização de propriedades e desenvolvimento de candidatos a fármacos mais qualificados Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento Os bioisósteros não clássicos não atendem às regras dos bioisósteros clássicos, mas apresentam efeito terapêutico semelhante. Fonte: Livro didático da disciplina. Bioisosterismo: uma estratégia de planejamento Fonte: Livro didático da disciplina. Exemplos de Bioisósteros clássicos e não clássicos Bioisosterismo natural e ligados às funções orgânicas Natureza • Exemplos de isosterismo. Relação bioisósterica clássica • Relação entre os aminoácidos essenciais, bases pirimidínicas, xantinas e entre os ácidos salicílico e antranílico. Exemplos de relação bioisósterica não clássica: • Relação existente entre GABA e musminol Bioisosterismo natural e ligados às funções orgânicas Existem grupamentos funcionais monovalentes isósteros que modificam as propriedades físico- químicas das substâncias bioativas, alterando suas atividades farmacológicas. Metilpredinisona Fonte: Livro didático da disciplina. Substituir o grupo –OH por um grupo –NH2 Metropolol Atenolol O metoprolol é um fármaco beta- bloqueador com coeficiente de partição igual a 1,88, enquanto que o atenolol tem o seu coeficiente de partição igual a 0,16. Bioisosterismo natural e ligados às funções orgânicas Troca de um elemento ou grupamento Alterar a farmacocinética e farmacodinâmica Produz diferenças na ação farmacológica Os isósteros de ácidos carboxílicos podem aumentar a potência, reduzir a polaridade, aumentar a lipofilia, melhorar as propriedades farmacocinéticas e reduzir o potencial de toxicidade. O isósteros de amidas vão modelar a polaridade e a biodisponibilidade. Bioisosterismo natural e ligados às funções orgânicas Os isósteros de ésteres são usados devido a possibilidade de clivagem in vivo. Os isósteros de fenol e de catecol são planejados para superar limitações farmacocinéticas e toxicológicas. Bioisósteros funcionais de ésteres e amidas são usados para prevenir a metabolização plasmática dessas funções, vulneráveis à ação de enzimas hidrolíticas, esterases e amidases. Hibridação molecular e compostos farmacológicos Hibridação molecular e compostos farmacológicos Protótipo A primeira substância estudada com estrutura química definida, de origem natural ou sintética, que exiba alguma atividade farmacológica in vivo. Estratégia clássica de conjugação de estruturas de compostos bioativos distintos em uma única molécula, sendo uma alternativa eficaz de arquitetar racionalmente estruturas moleculares de novos compostos protótipos. Hibridação molecular Estratégia de planejamento de fármacos: Identificação dos grupamentos farmacofóricos; Desenvolvimento de um composto híbrido; Mantém as características previamente selecionadas dos compostos isolados. Hibridação molecular e compostos farmacológicos Fármacos ou grupos farmacofóricos com atividades biológicas diferentes possuem relação com a doença, podem ser unidos por ligação covalente, que exerce duas ações farmacológicas distintas. Hibridação molecular Hibridação molecular na gênese da tropisetrona, protótipo da ondansetrona Fonte: BARREIRO, E.J. Química medicinal: As bases moleculares da ação dos fármacos. 3ª.ed. Porto Alegre: Artmed, 2015 (pág. 426). Hibridação molecular e compostos farmacológicos Fonte: Livro didático da disciplina. Por meio da hibridação molecular é possível obter uma biblioteca com uma enorme variedade de moléculas híbridas por combinações distintas de fármacos ou grupos farmacofóricos. Utilização da hibridação para modificação de antigas estruturas, visando novos compostos Moléculas-mãe toxicidade e características físico-químicas e farmacológicas estudadas para desenvolvimento de moléculas bioativas mais eficazes - demanda menos tempo. Hibridação molecular entre acetazolamida Exemplo da hibridação molecular empregando fármacos antigos para alvos novos. Utilização da hibridação para modificação de antigas estruturas, visando novos compostos Hibridação molecular entre acetazolamida 1, 3 benzodioxola Heterocíclico tiadiazola Protótipo de um novo agente anti-inflamatório. Fonte: Livro didático da disciplina. Hibridação usadas para desenvolver protótipos de fármacos simbióticos Abordagem fisiológica Fatores estruturais relacionados a dois alvos escolhidos Molécula planejada- reconhecimento molecular pelos dois alvos-terapêuticos eleitos Dois alvos eleitos pertencem a distintas rotas bioquímicas e estão relacionados à uma mesma doença, será denominado de ligante ou protótipo de novo fármaco simbiótico. Hibridação usadas para desenvolver protótipos de fármacos simbióticos Agente simbiótico protótipo Desenhado para atuar em no mínimo dois alvos moleculares O desenho do agente simbiótico é baseado no método de combinação de farmacóforos pré‐selecionados, a partir de protótipos seletivos para os alvos eleitos. Pertencentes a janelas bioquímicas distintas, porém, envolvidos em uma mesma resposta fisiopatológica. Hibridação usadas para desenvolver protótipos de fármacos simbióticos Fonte: Livro didáticoda disciplina. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Fármacos simbióticos Imagine que no hospital onde você trabalha, vai ter um processo seletivo, para escolha de um farmacêutico para chefiar uma equipe de pesquisa clínica. Será testado um novo fármaco, com promissores resultados. Na sua prova oral, Dra. Ana, que ministra a prova, disserta que os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) encontram-se hoje entre os medicamentos mais prescritos no mundo... Mediante a explicação do Dra. Ana, ela o questiona se o CIMICOXIB pode ser usado como protótipo para formar um agente simbiótico inibidor e doador de NO. Fonte: Elaborado pela autora É uma sulfonamida, um membro dos imidazóis, um composto organoclorado, um composto organofluorado e um éter aromático. Fármacos simbióticos • Cimicoxib é um imidazol substituído nas posições 1, 4 e 5 pelos grupos 4-aminossulfonilfenil, cloro e 3-fluoro-4-metioxifenil, respectivamente sulfonamida Cimicoxib Imidazol Fonte: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pyrazolo_3,4-d_pyrimidine_derivative_1.png. Acesso em: 23 jan. 2023. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Protótipos naturais ativos estruturalmente complexos Podemos obter estruturas mais simples Simplificação molecular Simplificação molecular possa ser empregada de forma racional, preservando as sub-unidades farmacofóricas, previamente identificadas nos compostos protótipos. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Morfina Fonte: Livro didático da disciplina. O emprego empírico da simplificação molecular, inúmeros alcaloides originaram importantes fármacos de diversas categorias; como exemplo temos a morfina, um alcaloide isolado da Papaver somniferum. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Simplificação molecular da quinina Fonte: Livro didático da disciplina. A modificação do anel rubônico da quinina para o sistema piperidínico originou a melfloquina. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Obtenção do Aciclovir Fonte: Livro didático da disciplina. Como derivado sintético obtido por simplificação molecular temos o aciclovir: obtido por simplificação molecular ou abertura de anel (processo especial de modificação molecular) da guanosina e é empregado até hoje, com sucesso, no tratamento do Herpes sp. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Captopril Fonte: Livro didático da disciplina. Anti-hipertensivo peptóide. Desenvolvido por simplificação molecular consecutiva do nonapeptídeo teprotide, possuí a mesma sequência dos peptídeos isolados do veneno de jararaca, identificados como inibidores da enzima conversora de angiotensina. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina previnem a biotransformação da angiotensina II, endopeptídeo pró-vasoconstritor e, simultaneamente, a degradação da bradicinina, potente agente hipotensor endógeno. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Indometacina Fonte: Livro didático da disciplina. A indometacina, protótipo da classe dos fármacos anti-inflamatórios não- esteroides, do grupo dos ácidos aril-acéticos, através da exclusão do sistema indólico originou uma estrutura mais simples, o zomepiraco. Simplificação molecular de produtos naturais bioativos • A simplificação molecular do protótipo clozapina ocorreu através da abertura do anel central e sua contração, fornecendo o anel pirazólico, que apresenta o grupamento arila funcionalizado no nitrogênio 1; • O cloro foi introduzido no anel fenila ligado ao sistema heterocíclico buscando alcançar similaridade estero-eletrônica com o protótipo clozapina. Antipsicótico atípico cujo uso se dá em casos de transtornos psicóticos (notadamente a esquizofrenia) Clozapina Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Clozapine2DACS.svg. Acesso em: 23 jan. 2023. Latenciação Latenciação A baixa permeação do fármaco através das membranas biológicas, baixa biodisponibilidade absorção e excreção muito rápidas, toxicidade relacionada a irritação local ou à distribuição em outros tecidos, falta de solubilidade adequada. Alguns problemas que podem ser solucionados com o emprego da latenciação. A estrutura que será transformada em pró-fármaco deve ter grupos funcionais capazes de sofrer derivatização e estabilidade química. Latenciação • No processo de latenciação vários fármacos ligados diretamente aos transportadores não são hidrolisados por enzimas lisossômicas, dificultando a liberação da porção ativa. pró-fármacos clássicos Reação hidrolítica química ou enzimática liberar a porção ativa lipofílico aumentam a biodisponibilidade e diminuem a toxicidade. Latenciação A macromolécula, para ser empregada como um transportador deve apresentar as seguintes características: Deve ser biodegradável; Não apresentar toxicidade; Não apresentar antigenicidade intrínseca; Não acumular no organismo; Apresentar grupos funcionais para ligação química; Manter a atividade original do fármaco liberado até que este atinja o local de ação. Latenciação A sulfassalazina libera através da ação de azorredutases no organismo sulfapiridina e ácido-5-aminossalicílico, dois compostos farmacologicamente ativos. Sulfassalazina Fonte: Livro didático da disciplina. Latenciação pró-fármacos mistos Possuem características de pró-fármacos clássicos e de bioprecursores. Os bioprecursores são compostos que sofrem modificação molecular por via metabólica, formando um novo composto que é o fármaco ativo. Necessita biotransformação do transportador previamente à liberação do fármaco é o sistema denominado CDS (Chemical Delivery System), idealizado por Bodor e Abdelalim, em 1985. Latenciação BIOPRECURSORES NH2 N NH N2 Adenosina desaminase Xantina oxidase Fonte: Adaptado de: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Guanosine-acyclovir-comparison.png. Acesso em: 23 jan. 2023. Latenciação Fármacos dirigidos São aqueles acoplados a transportadores que são capazes de levar o fármaco seletivamente do local de administração até o sítio de ação. O objetivo principal do fármaco dirigido é minimizar as reações adversas provocadas pela ação inespecífica do fármaco em outros alvos, diminuindo, a toxicidade. Os transportadores mais utilizados: aqueles que interagem especificamente com os sítios presentes na superfície das células-alvo. Os fármacos podem ser ativados após a endocitose do conjugado fármaco- transportador pela célula alvo mediante ação de hidrolases ácidas presentes no compartimento lisossômico intracelular Levodopa No seu plantão, chega a Enfermeira Maria e pede que você esclareça uma dúvida. Ela sebe que na doença de Parkinson, ocorre uma redução das células que produzem a dopamina, um neurotransmissor que atua no envio de mensagens para as partes do cérebro que controlam os movimentos e a coordenação. Na falta deste neurotransmissor, todo o controle motor se desequilibra. Maria questiona se uma eventual reposição de dopamina via oral seria o tratamento ideal. Porque precisamos usar a levodopa e não podemos usar dopamina? levodopa Teste tuberculínico Levodopa pró-fármaco que consegue atravessar a barreira hematoencefálica. Tratamento com uso direto de dopamina não seria eficaz, por que ela não ultrapassa esta barreira. Levodopa Dopamina dopa-descarboxilase SNC Recapitulando Recapitulando Bioisosterismo Estratégia de planejamento Bioisosterismo natural e ligados às funções orgânicas Hibridação Hibridação molecular e compostos farmacológicos Hibridação usadas para desenvolver protótipos de fármacos simbióticos Simplificação molecular de produtos naturais bioativos Latenciação Importância da latenciação na descoberta de pró-fármacos e fármacos dirigidos.
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