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ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES ESPONDILOARTRITES Englobam um grupo de doenças inflamatórias da coluna que afetam ligamentos e tendões e que compartilham certas manifestações clinicas, associações genéticas e mecanismos patogênicos. As formas clinicas incluem: 1. Espondilite anquilosante (EA) 2. Artrite reativa (ARe) 3. Espondilite e artrite psoriásica (APs) 4. Espondilite e artrite enteropática 5. Espondiloartrite (EspA) de início juvenil 6. EspA indiferenciada Essas doenças são caracterizadas por dor lombar e rigidez pela manhã que pioram no repouso e melhoram aos movimentos. Recentemente, esses distúrbios foram classificados de forma ampla como predominantemente: 1. Predominantemente EspA axial → afetando a coluna vertebral, a pelve e a caixa torácica 2. Predominantemente EspA periférica → afetando os membros. ESPONDILITE ANQUILOSANTE (EA) É um distúrbio inflamatório crônico, de causa desconhecida que afeta primariamente o esqueleto axial, podendo atingir também articulações periféricas e extra-articulares. Atualmente, o termo espondiloartrite axial (EspAx) é mais utilizado e inclui: 1. EA definitiva 2. Estágios iniciais que evoluirão para atender os critérios clássicos para EA 3. Um ou mais fenótipos que não são progressivos. EPIDEMIOLOGIA: A EA é o distúrbio inflamatório mais comum do esqueleto axial que começa a aparecer entre 20- 30 anos, com uma prevalência maior no sexo masculino (na mulher, pode-se encontrar um quadro atípico – quadro descendente, começando na cervical) e caucasianos. Além disso, tem-se mostrado uma correlação com o antígeno de histocompatibilidade HLA-B27, o que no Brasil, representa cerca de 60% dos pacientes. PATOGÊNESE Fatores genéticos indicam que fator de necrose tumoral a (TNF-a), IL-17 e IL-23 desempenham um papel central na imunopatogênese da EA → Na fase inicial da doença, a articulação sacro-ilíaca inflamada está infiltrada com células TCD4+ e CD8+ e mostra elevados níveis de TNF-a. Com o avançar da doença, o fator de crescimento transformador B (TGF-B) é encontrado em abundancia. Nenhum evento ou agente exógeno que desencadeie o início da doença foi identificado, embora o envolvimento da via IL- 23/IL-17 sugere que bactérias entéricas possam desempenhar um papel, e a microlesão por estresse mecânico em sítios de entese também tem sido implicada. Sabe-se que o HLA-B27 desempenha um papel direto na patogênese da EA, mas seu papel preciso ao nível molecular permanece não resolvido, existindo 4 teorias para tentar explicar essa relação: 1. O antígeno peptídico seria apresentando pelo HLA- B27 ao linfócito TCD8 → Porém, estudos mostraram que a evolução da doença não foi impedida pela ausência de CD8 2. A cadeia pesada de B27 tem uma tendência incomum de se dobrar de maneira errônea, um processo que pode ser pró-inflamatório com superexpressão de IL-23 3. Há um excesso de HLA-B27 na superfície da célula apresentadora de antígeno, gerando uma ativação Th17 4. Disbiose intestinal (desequilíbrio da flora intestinal) causaria uma superexpressão do IL-23 PATOLOGIA A EA afeta principalmente o esqueleto axial, sobretudo as articulações sacro-ilíacas e vertebrais que começam o processo de inflamação e fibrose. As alterações mais precoces da EA são a sinovite (processo inflamatório da membrana sinovial) e medula mixoide, seguidas de pannus e tecido de granulação subcondral (abaixo de uma cartilagem). ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES Pode-se encontrar ainda edema de medula, entesite e diferenciação condroide com uma prevalência celular de macrófagos, células T, plasmócitos e osteoclastos. ▪ Entese é o local onde os tendões (que prendem os músculos aos ossos) e ligamentos (que prendem os ossos uns aos outros) se “ligam” ao osso. Já a entesite é uma inflamação nesses locais, que pode gerar dor e inchaço Com o progredir do processo, há destruição das bordas dos corpos vertebrais (estimulados pelos osteoclastos) e ossificação metaplásica e endocondral dos discos, gerando anquilose. A calcificação e ossificação dos ligamentos para-vertebrais dão origem à formação de pontes ósseas (estimulado pelos osteoblastos), denominadas sindesmófitos. O quadro final é de uma coluna rígida, com fusão dos corpos vertebrais e dos ligamentos, denominado de “coluna em bambu”. Outras lesões na coluna incluem osteoporose, erosão de corpos vertebrais na margem do disco e inflamação e destruição da fronteira disco-osso. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O sintoma inicial da EA é uma dor surda (maçante) de início insidiosa, sentida profundamente na região lombar inferior ou glútea, acompanhada de rigidez matinal na região lombar inferior, com duração de algumas horas, melhorando com a atividade e retornando após a inatividade. Poucos meses após seu aparecimento, a dor, em geral, torna-se persistente e bilateral. A exacerbação noturna da dor com frequência força o paciente a se levantar e se movimentar → Lombalgia de ritmo inflamatório. Pode haver ainda hipersensibilidade óssea (provavelmente refletindo a entensite ou osteíde) que afeta principalmente a junções costoesternais, processos espinais, cristas ilíacas, trocânteres maiores, tuberosidades isquiáticas, tubérculos tibiais e calcanhares. Outro sintoma é a artrite do quadril e do ombro (geralmente, menos assintomático). Dor e rigidez no pescoço pelo acometimento da coluna cervical em geral são manifestações relativamente tardias, mas, às vezes, são sintomas dominantes – A história natural da doença é em caráter ascendente (sacrilíaca- lombar – torácica- cervical) Essas alterações levam a perda da mobilidade espinal, com limitação da flexão anterior e lateral e da extensão da coluna lombar, bem como da expansão do tórax e diminuição da mobilidade cervical → Para avaliar essa perda de mobilidade, pode-se fazer o teste de schober modificado (coluna) e sinal da flecha (cervical) Teste de Schober modificado O paciente se posiciona ereto, com os calcanhares juntos, e são feitas marcas sobre a coluna: na junção lombossacral (identificada por uma linha horizontal entre as espinhas ilíacas posterossuperiores) e 10 cm acima. Então, o paciente se inclina maximamente para a frente, com os joelhos em extensão total, e a distância entre as duas marcas é medida. Essa distância aumenta em ≥ 5 cm, no caso de mobilidade normal, e em ≤ 4 cm, no caso de mobilidade diminuída. Para avaliar a expansão torácica mede-se a diferença entre a inspiração máxima e a expiração forçada máxima, no quarto espaço intercostal nos homens e logo abaixo das mamas nas mulheres (com as mãos da paciente descansando sobre ou atrás da cabeça). A expansão normal do tórax é ≥ 5 cm. A inclinação lateral mede a distância que o dedo médio do paciente percorre perna abaixo com a inclinação lateral máxima. O normal é > 10 cm. Já as manifestações extra-articulares são: 1. Uveíte anterior a. Pode preceder a espondilite e é a manifestação extra-articular mais comum da EA ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES b. Geralmente são unilaterais, aguda, recorrente com dor, fotofobia e lacrimejamento 2. Catarata e glaucoma secundário. 3. Inflamação no cólon ou no íleo, que, em geral, é assintomática, podendo ocorrer uma DII franca 4. Manifestações cutâneas como acne fulminante ou hidradenite supurativa. 5. Menos comuns: a. Fibrose pulmonar apical e síndrome da cauda equina → complicações mais tardias b. Insuficiência aórtica c. BAV de primeiro grau d. Nefropatia por IgA e. Amiloidose secundaria Pacientes que tiveram o início da espondiloartrite (incluindo EA) antes dos 40 anos, apresentavam predomínio de sintomas axiais; os pacientes, predominantemente do sexo feminino, com início de sintomas mais tardio apresentavam sintomas periféricos ACHADOSLABORATORIAIS Não existe nenhum exame laboratorial diagnostico de EA. Alterações que PODEM ser encontradas são: 1. Velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C-reativa aumentadas 2. Anemia leve 3. FA elevado na doença grave 4. Níveis séricos de IgA elevados 5. TCD8+ tendem a ser baixos 6. Liquido sinovial das articulações periféricas é de caráter inflamatório inespecífico O fator reumatoide, os anticorpos antipeptídeo cíclico citrulinado (CCP) e o fator antinuclear (FAN) estão largamente ausentes, exceto quando gerados por uma doença coexistente, embora os FANs possam aparecer com a terapia anti-TNF. ACHADOS RADIOLOGICOS Por definição, o diagnóstico de EA está associado à sacroileíte avançado, em geral, simétrica, demonstrado na radiografia. Porém, deve-se ter em mente que: ▪ A sacroileíte com frequência é uma manifestação precoce da EA e da EspA-ax-nr, porém, nem sempre é detectável nos exames radiológicos nas fases iniciais da doença ▪ Diz-se que os pacientes com EspA-ax sem critérios radiológicos para EA têm EspA-ax não radiográfica (EspA-ax-nr). As alterações mais precoces no exame radiográfico são: 1. Aspecto borrado das margens corticais do osso subcondral, seguido de erosões e esclerose 2. “Pseudoalargamento” do espaço articular Na coluna lombar, a progressão da doença pode levar à perda da lordose, bem como à osteíte dos cantos anteriores dos corpos vertebrais, com subsequente erosão, levando à diminuição de um ou mais corpos vertebrais. A ossificação progressiva leva à formação de sindesmófitos marginais, visíveis em radiografias simples como pontes ósseas conectando corpos vertebrais sucessivos anterior e lateralmente. Para avaliar a sacroileíte no exame clinico, pode-se fazer a manobra de Patrick FABERE: Paciente em posição supina deverá flexionar o joelho posicionando o pé no membro oposto que não será examinado. Ou seja, o quadril está fletido, abduzido e em rotação externa (FABERE). Promovemos força sobre o joelho para verificar se desencadeia dor posterior contralateral (positivo). DIAGNOSTICO Não existe critérios diagnósticos para EA e sim critérios de classificação, como: 1. Critérios ASAS Feitos para indivíduos que ainda não apresentam danos estruturais → Usados preferencialmente ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES 2. Critérios de classificação modificados de Nova Iorque Inclui pacientes já com alterações radiográficas, numa fase mais avançada da doença e são: a. Clínicos a. Lombalgia inflamatória por três meses ou mais de duração (Dor lombar que melhora com exercícios, mas não com repouso, que ocorre predominantemente à noite, com início insidioso, antes dos 40 anos.) b. Limitação dos movimentos da coluna lombar nos planos sagital (por exemplo, média variação bilateral dedo-chão inferior a 10cm) e frontal (por exemplo, teste de Schober inferior a 5cm) c. Expansão torácica diminuída (inferior a 2,5 cm) b. Radiográficos a. Radiografia com detecção de sacroiliíte bilaterais graus 2-4 b. Radiografia com detecção de sacroiliíte unilateral graus 3 ou 4. TRATAMENTO Os objetivos do tratamento são: a. Reduzir os sintomas b. Manter a flexibilidade axial e postura normal c. Reduzir as limitações funcionais d. Manter a habilidade laboral e. Reduzir as complicações associadas a doença MANEJO NÃO MEDICAMENTOSO 1. Educação do paciente 2. Realização de exercícios físicos → fisioterapia, alongamento, educação postural, atividades recreacionais ou hidroterapia MANEJO MEDICAMENTOSO a. AINE (anti-inflamatórios não esteroides) Primeira linha de tratamento em pacientes com EA em atividade, ofertando uma melhora da dor e da rigidez axial, sendo que não foi encontrados diferenças nos efeitos em tratamento de uso contínuo com o uso sob demanda (exceto em relação a progressão radiológica da doença que apresenta resultados conflitantes) O naproxeno foi considerado o mais seguro com relação aos eventos cardiovasculares do que os outros AINE. Em pacientes não responsivos a um dado AINE, pode-se substituí-lo por outro, devendo a escolha ser individualizada conforme contraindicações de cada medicamento, conveniência para o paciente, toxicidade relativa, custo e experiência de uso. b. Glicocorticoide Opção terapêutica para casos não responsivos ao uso de AINE e com dor isolada nas sacroiliacas, sendo feita através de injeção intra-articular nas sacroiliacas c. Medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD) sintéticos Sulfassalazina (SSZ): pacientes com menor tempo de doença, manifestações periféricas e maiores níveis de velocidade de sedimentação globular são os que mais se beneficiam de SSZ Metotrexato (MTX): é mais benéfico para reduzir os efeitos compostos (rigidez matinal, bem-estar físico, atividade da doença e capacidade funcional) d. MMCD biológicos Anti-TNF: seu uso deve ser considerado na doença ativa e grave, quando: ➔ ASDAS maior ou igual a 2,1 ou BASDAI 4 ➔ Dor na coluna > 4 pela Escala Visual Analógica (EVA) de dor ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES ➔ Falha terapêutica com o uso de AINE ou, no caso de artrite periférica, falha com sulfassalazina (ou metotrexato) Em geral, a resposta ocorre em menos de 6 semanas e os fatores associados a melhor resposta aos anti-TNF foram idade jovem, sexo masculino, proteína C reativa elevada, presença de HLA-B27, menos fadiga e ausência de uso prévio de anti-TNF → O uso de anti-TNFs poderia retardar a progressão radiográfica em pacientes com doença inicial e com maior tempo de uso destes medicamentos. De forma contrária, não houve benefício em estágio mais avançado da doença, quando sindesmófitos ou infiltração gordurosa já estão presentes Dados de revisões sistemáticas sugerem que, em curto prazo, os anti-TNFs estão associados a maiores taxas de efeitos adversos, infecções graves, reativação de tuberculose, câncer não melanótico de pele e suspensão da terapia em comparação ao tratamento controle. A indicação mais comum para cirurgia nos pacientes com EA é a artrite grave da articulação do quadril, cuja dor e rigidez geralmente são drasticamente aliviadas pela artroplastia total do quadril. Raros pacientes podem se beneficiar da correção cirúrgica de deformidades extremas em flexão da coluna vertebral ou da subluxação atlantoaxial. Os ataques de uveíte, em geral, são tratados de modo eficaz com a administração local de glicocorticoides e agentes midriáticos, embora glicocorticoides sistêmicos, fármacos imunossupressores ou terapia anti-TNF possam ser necessários. Os inibidores de TNF diminuem a frequência dos ataques de uveíte em pacientes com EspA- ax; o adalimumabe foi aprovado recentemente pela FDA para uso no tratamento da uveíte. Foram observados casos novos ou recorrentes de uveíte após o uso de um inibidor de TNF, em particular o etanercepte. O anti-IL-17 não parece ser tão efetivo para a uveíte quanto a terapia anti-TNF. Atualmente, o tratamento da osteoporose axial é semelhante ao utilizado para a osteoporose primária, pois não há dados específicos disponíveis para EA. ARTRITE REATIVA (ARE) Refere-se a uma artrite não purulenta aguda complicando uma infecção em outra parte do corpo, geralmente entéricas ou urogenitais EPIDEMIOLOGIA: a taxa de crises de Are pós-entérica, em geral, varia de 1 a cerca de 30%, sem diferenças entre os sexos; enquanto que a taxa de crises de ARe pós-clamídia é em torno de 4 a 8%. A ARe com frequência é a primeira manifestação da infecção por HIV e muitas vezes entra em remissão com a progressão da doença. Em contrapartida, os pacientes brancos ocidentais infectados por HIV e com EspA geralmente são positivos para B27, e a artrite é exacerbada à medida que a Aids avança. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE As bactérias identificadas como gatilhos definidos daARe são gram-negativas com um componente de lipossacarideos em suas paredes celulares (LPS) e são elas: 1. Salmonella → Todas as suas espécies são implicadas nesse tipo de artrite, sendo que as mais comuns são a S. flexneri e S. sonnei 2. Shigella 3. Yersinia enterocolitica 4. Yersinia pseudotuberculosis 5. Campylobacter jejuni 6. Chlamydia trachomatis Não se sabe se existe um mecanismo patogênico comum que deflagre a ARe e seja compartilhado por todos esses microrganismos, assim como não foi elucidado o mecanismo envolvido no caso de qualquer um desses gatilhos conhecidos → Especificamente na ARe induzida por C. trachomatis, a carga bacteriana no tecido sinovial de pacientes com doença em remissão é mais baixa que a da doença ativa, mas os níveis de RNAs mensageiros (mRNAs) codificadores de proteínas pró-inflamatórias são iguais ou mais altos que na doença ativa. O HLA-B27 parece estar associado com as formas mais graves e crônicas da ARe, mas seu papel patogênico ainda é indeterminado QUADRO CLINICO Pode variar desde uma entesite ou monoartrite isolada e transitória até uma doença multissistemica grave, sendo que o paciente apresentara uma infecção que antedesse em 1-4 semanas o aparecimento dos sintomas da doença reativa (principalmente na Are pós-entérica). Os sintomas são: 1. Constitucionais a. Fadiga, mal estar, febre e perda de peso 2. Musculoesqueléticos a. Atrite simétrica, dolorosa e aditiva (envolve novas articulações em poucos dias até 1-2 semanas), sendo que derrames articulares não são incomuns → As articulações dos membros inferiores são as menos envolvidas ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES b. Dactilite ou “dedo em salsicha”, um edema difuso de um dedo solitário da mão ou do pé c. Tendinite e fascite – produzindo dor em múltiplos sítios de inserção em particular o de calcâneo (de Aquiles), da fáscia plantar e de sítios ao longo do esqueleto axial. d. Dor lombar e nas nádegas Em geral, a artrite persiste por 3 a 5 meses, porém cursos mais crônicos podem ocorrer, mas tendem a ser menos graves que na fase aguda. A dor crônica no calcanhar costuma ser particularmente incômoda. Lombalgia, sacroileíte e EA franca também são sequelas comuns → Os pacientes com artrite induzida por Yersinia ou Salmonella têm menos doença crônica que aqueles cujo episódio inicial se seguiu à shiguelose epidêmica 3. Lesões urogenitais: a. Uretrite → marcante principalmente no sexo masculino, podendo também ser relativamente assintomática b. Prostatite c. Sexo feminino: cervicite ou a salpingite pode ser causada pelo gatilho infeccioso ou pelo processo reativo estéril. 4. Doença ocular → conjuntivite assintomática transitória a uma uveíte anterior agressiva que, ocasionalmente, se mostra refratária ao tratamento e pode resultar em cegueira. 5. Lesões mucocutâneas: a. Úlceras orais → superficiais, passageiras e, com frequência, assintomáticas. b. Ceratodermia blenorrágica → consistem em vesículas e/ou pústulas que se transformam em hiperceratose e, finalmente, formam uma crosta antes de desaparecer, sendo mais comuns nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, mas também podem ocorrer em outros locais. São particularmente graves em pacientes com HIV c. Balanite circinada → Lesões na glande do pênis que consistem em vesículas que se rompem rapidamente para formar erosões superficiais indolores. Em indivíduos circuncidados, essas erosões podem formar crostas semelhantes às da ceratodermia blenorrágica. d. Alterações nas unhas são comuns e consistem em onicólise, descoloração amarelada distal e/ou hiperceratose superposta. Manifestações menos frequentes ou raras de ARe incluem defeitos de condução cardíaca, insuficiência aórtica, lesões do sistema nervoso central ou periférico e infiltrados pleuropulmonares. ACHADOS LABORATORIAIS E RADIOLOGICOS Os achados laboratoriais que podem estar presentes são: 1. VHS elevado 2. Leve anemia 3. Liquido sinovial de caráter inflamatório, de modo inespecífico 4. Cultura do microrganismo pode ser uma possibilidade nos casos da doença induzida por Yersinia ou Chlamidia Na doença leve ou ainda em fase inicial, as alterações radiológicas podem estar ausentes ou se limitarem à osteoporose justa-articular. Com a doença de longa duração, os aspectos radiológicos são erosões marginais e perda de espaço articular nas articulações afetadas. Periostite com neoformação óssea reativa é característica, assim como em todas as EspAs. É comum haver esporões na inserção da fáscia plantar. Sequelas tardias: sacroileíte assimétrica e espondilite que pode começar em qualquer parte do corpo. Os sindesmófitos são descritos como não marginais, grosseiros, assimétricos e em forma de “vírgula”, originando-se do meio de um corpo vertebral. A progressão para fusão da coluna é incomum. DIAGNOSTICO A ARe deve ser considerada em qualquer paciente com tendinite ou artrite aditiva inflamatória aguda assimétrica, podendo ser feito o diagnostico sem necessidade de qualquer exame laboratorial ou radiológico →A análise do líquido sinovial geralmente é necessária para eliminar a possibilidade de artrite séptica ou induzida por cristais. ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES O teste para HIV é indicado com frequência e pode ser necessário para selecionar a terapia adequada. TRATAMENTO Para prevenir o aparecimento da ARe, deve-se usar o tratamento antibiótico imediato, apropriado, da uretrite aguda por clamídia ou infecção entérica. Já o uso de antibiótico depois do início da artrite é conflitante, mas, no geral, não há benefícios. A maioria dos pacientes com ARe beneficia-se, em algum grau, do uso de AINEs em doses altas, embora os sintomas agudos raramente melhorem por completo e alguns pacientes sejam irresponsivos. Para a ARe persistente, o uso de sulfassalazina, até 3 g/dia em doses fracionadas, pode ser benéfica para pacientes. Em pacientes com infecção pelo HIV e ARe, muitos apresentam lesões cutâneas graves que respondem à terapia antirretroviral. As complicações cardíacas são tratadas de modo convencional; o controle das complicações neurológicas é sintomático. O tratamento abrangente inclui aconselhamento dos pacientes sobre infecções sexualmente transmissíveis e exposição a patógenos entéricos, assim como uso apropriado de fisioterapia, aconselhamento vocacional e vigilância contínua para complicações em longo prazo, tais como EA. Pacientes com história de ARe apresentam risco aumentado de crises recorrentes subsequentes a exposições repetidas. ARTRITE PSORIÁSICA (APS) Refere-se a uma doença inflamatória musculoesquelética que ocorre em indivíduos com psoríase. O que difere a APS da artrite normal é que a APS: 1. Em geral, é soronegativa (fator reumatoide negativo) 2. Frequentemente envolve as articulações interfalângicas distais dos dedos da mão, coluna vertebral e articulações sacroilíacas 3. Possui características radiológicas distintas 4. Mostra uma considerável agregação familiar EPIDEMIOLOGIA: até 30% dos pacientes com psoríase, desenvolvem APS sendo que a duração e a gravidade da psoríase, aumentam a probabilidade de desenvolver APS. Os parentes de primeiro grau de pacientes com APs têm risco elevado de psoríase, de APs e de outras formas de EspA. QUADRO CLINICO Na maioria dos casos, a psoríase precede a artropatia, podendo ocorrer um intervalo de até 1 ano entre uma e outra. A doença pode começar na infância ou mais tardiamente, porém se inicia na quarta ou quinta década da vida, em média aos 37 anos de idade. A doença pode se manifestar a partir de 5 padrões: 1. Artrite das articulações IFDs 2. Oligoartrite assimétrica 3. Oligoartrite simétrica semelhante à AR 4. Comprometimento axial (coluna e articulaçõessacroilíacas) 5. Artrite mutilante → encurtamento disseminado dos dedos (“telescopagem”) Esses padrões com frequência coexistem, e o padrão que persiste cronicamente muitas vezes difere daquele da apresentação inicial. Alterações comuns são: A. Alterações das unhas das mãos e dos pés → pitting, sulcos horizontais, onicólise, coloração amarelada das margens, hiperceratose distrófica e combinações desses achados. B. Dactilite e entesite C. Dor e rigidez lombar Há relatos ainda de acometimento ocular, ou conjuntivite ou uveíte (bilateral, crônica e/ou posterior). Insuficiência da valva aórtica tem sido encontrada em menos de 4% dos pacientes, em geral após doença de longa duração. ACHADOS LABORATORIAIS E RADIOLÓGICOS ➔ VHS e PCR com frequência estão aumentadas ➔ Ácido úrico pode estar elevado na psoríase extensa ➔ HLA-B27 positivo em grande parte dos pacientes ESPONDILOARTRITES LETÍCIA FAGUNDES ➔ Raramente: fator reumatoide pode estar presente em títulos baixos RADIOLOGICOS 1. Envolvimento IFD → Deformidade clássica em “lápis na taça” 2. Erosões marginais com proliferação óssea adjacente (“franjeamento”) 3. Anquilose de pequenas articulações 4. Osteólise de ossos falangianos e metacarpais, com telescopagem digital; 5. Periostite e neoformação óssea proliferativa nos sítios de entesite 6. Distribuição “radial” das lesões. As manifestações da APs axial que diferem da EA idiopática incluem sacroileíte assimétrica; menos artrite de articulações zigoapofisárias; sindesmófitos não marginais, volumosos e em forma de “vírgula”, que tendem a ser menos numerosos, menos simétricos e menos delicados do que os sindesmófitos marginais da EA; hiperperiostose pilosa dos corpos vertebrais anteriores; comprometimento grave da coluna cervical, com tendência à subluxação atlantoaxial, mas relativa preservação da coluna toracolombar; e ossificação paravertebral. DIAGNOSTICO O diagnóstico pode ser um desafio quando a artrite precede a psoríase, quando a psoríase não foi diagnosticada ou é obscura, ou nos casos em que o comprometimento articular é bastante parecido com outra forma de artrite. Um alto grau de suspeita se faz necessário em qualquer paciente com artropatia inflamatória não diagnosticada. Os critérios de classificação de CASPAR são: ▪ Artropatia inflamatória (articulação, coluna ou entese) com ≥ 3 pontos de alguma das cinco categorias a seguir: o Evidência de psoríase em curso (2 pontos), história pessoal de psoríase, ou história familiar de psoríase em parente de primeiro ou segundo grau (1 ponto) o Distrofia ungueal psoriásica típica e observada no exame físico atual o Um resultado de teste negativo para fator reumatoide o Ou dactilite atual ou história de dactilite registrada por um reumatologista o Evidência radiológica de neoformação óssea justa-articular na mão ou no pé TRATAMENTO São usados agentes anti-TNF-α que promove a resolução imediata e drástica tanto da artrite como das lesões cutâneas → Infliximabe, etanercepte, adalimumabe Além disso, também podem ser usados: ▪ Anticorpo monoclonal anti-IL-17A secuquinumabe e ixekizumabe ▪ Apremilaste, um inibidor oral de 4-fosfodiesterase → Seu uso não é indicado para pacientes com evidência radiográfica de dano articular ou envolvimento axial. ▪ Tofacitinibe Todos esses tratamentos requerem monitoração cuidadosa. A terapia imunossupressora pode ser usada com cautela na APs associada ao HIV se a infecção estiver bem controlada.
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