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Hérnia de Parede Abdominal 1 Hérnia de Parede Abdominal Natasha Ferreira - ATM25 INTRODUÇÃO Protrusão anormal de um órgão/tecido de uma cavidade, devido a defeitos em suas paredes adjacentes (ruptura), para um saco herniário Pontos de fragilidade (canal inguinal, trígono de Hesselbach, anel femoral, linha alba…) Na parede abdominal ocorre onde a aponeurose e fáscia NÃO são cobertas por músculo estriado (área frágil) Diástase do reto → músculos são mais afastados, por isso o local é mais frouxo que o normal. Não é patológico CLASSIFICAÇÃO → local INGUINAL Femoral Umbilical Epigástrica Porção inferior da linha semilunar Locais de incisões prévias (incisional) Littré Spiegel CONCEITOS Colo (orifício) → porção mais estreita e localiza-se na camada musculoaponeurótica mais interna Pode ser medido pela ecografia Saco herniário → revestido por peritônio e faz protrusão da estrutura no colo Hérnia Externa → protrusão através de todas as camadas da parede abdominal, para fora da cavidade Hérnia Interna → protrusão do intestino através de um defeito dentro da cavidade peritoneal. Em geral ocorre devido a secção do intestino delgado, formando uma fenda do meso (mesmo fechada pode dar passagem para formação de uma hérnia) Hérnia de Parede Abdominal 2 Hérnia Intra-parietal → saco herniário fica dentro da camada músculo- aponeurótica da parede abdominal Comum após casos de apendicite TIPOS DE HÉRNIA Redutível → seus conteúdos podem ser reposicionados novamente na cavidade abdominal (por de volta pra dentro) Irredutível → fica presa, encarcerada, devido a formação de aderências no subcutâneo. Quando NÃO se consegue reduzir URGÊNCIA Pode ser só por um momento ou não Conteúdo fica edemaciado devido ao “aperto” do retorno venoso Complicação: quando o aprisionamento leva a lesão local (estrangula) Estrangulada → quando o suprimento sanguíneo para o conteúdo fica comprometido devido ao orifício (colo) ser pequeno demais para o tamanho da hérnia. EMERGÊNCIA Fluxo sanguíneo arterial e/ou drenagem venosa para o saco obstruídos Isquemia e necrose da estrutura Complicação grave e potencialmente fatal Em alguns casos ocorre processo inflamatório que formam aderências. Estas, podem causar um ponto de ancoragem do revestimento peritônio → obstrução intestinal e estrangulamento Com perda de domicilio → estrutura passa a “morar” na hérnia e não mais na cavidade Richter → apenas uma porção da parede antimesentérica do intestino fica presa dentro da hérnia (não entra todo o intestino) Fezes continuam passando, mas o suprimento sanguíneo esta comprometido Ocorre estrangulamento, porém SEM obstrução 💡 A evolução da hérnia sempre será encarcerar e, posteriormente, estrangular, por isso, quando o paciente começa a ter mais sintomas o cirurgião, em geral, já entra em ação FATORES DE RISCO → aumentam a pressão intra-abdominal Obesidade Esforço abdominal e peso Idade avançada → flacidez e perda de colágeno Tabagismo Tosse crônica, DPOC Obstipação → esforço para defecar Prostatismo → esforço para urinar Ascite Gravidez Dilatação de órgãos pélvicos ⚠ A pressão intra-abdominal intermitente tem mais chance de dar hérnia CONSULTA Hérnia de Parede Abdominal 3 ANAMNESE Idade (prevalência aumenta com idade avançada) Sexo ♂ inguinal indireta ♀ inguinal direta e femoral Profissão Demanda esforço intenso? HDA Tumefação dolorosa ou não, com evolução insidiosa ou desencadeada por esforço intenso, aumenta de volume com aumento de pressão intra-abdominal e que tem redução espontânea com decúbito ou pressão manual Desconforto local que piora no fim do dia e alivia em decúbito Distensão abdominal, dor, alterações de trânsito intestinal, vômitos (oclusão intestinal) Sensação de parestesia (compressão ou irritação dos nervos) Antecedentes pessoais Outras patologias e condições que aumentem cronicamente a pressão intra-abdominal História individual de hérnia e sua reparação EXAME FÍSICO DIAGNÓSTICO CLÍNICO Examinar o doente em posição ortostática (supino e de pé) e decúbito dorsal Inspeção Localização e forma da tumefação Impulso da tumefação com a tosse (valsalva) Presença de sinais inflamatórios → prediz encarceramento Presença de cicatrizes → prediz hérnia incisional Ausculta/palpação Avaliação do conteúdo do saco herniário Avaliação de sinais de oclusão arterial Avaliação se hérnia retrátil ou sinais de estrangulamento Manobras Valsalva e tosse EXAME COMPLEMENTAR O diagnóstico é essencialmente clínico, mas pode ser utilizado outros exames caso dúvida diagnóstica RX abdominal simples Ultrassom Ecografia TAC HÉRNIA INGUINAL 75-80% das hérnias de parede abdominal 25x mais em homens Região inguinal enfraquecida devido a formação de um conduto peritoneo-vaginal, canal inguinal, que permite a passagem do testículo (leva as camadas do abdome, para formar as túnicas) e funículo espermático, e também do ligamento redondo do útero Hérnia de Parede Abdominal 4 Parede posterior do canal → fascia transverssalis Trígono de Hesselbach Limite superolateral: vasos epigástricos inferiores Limite medial: bordo lateral (bainha) do reto abdominal Limite inferior: ligamento inguinal parede posterior: fascia transverssalis Classificação de Nyhus Tipo I → inguinal indireta com anel interno normal (típico de crianças) Tipo II → inguinal indireta com anel interno dilatado, mas parede inguinal intacta Tipo III → defeito da parede inguinal posterior a. Inguinal Direta b. Inguinal Indireta com grande alargamento do anel c. Femoral Tipo IV → recidivante a. Direta b. Indireta c. Femoral d. Combinada INDIRETA através do canal inguinal (por dentro) Começam no anel interno e vão até o escroto se não tratadas Uma hérnia que passe inteiramente para dentro do escroto é designada hérnia completa Etiologia Defeito congênito: não fechamento do conduto peritônio vaginal O saco herniário entra no anel inguinal profundo, lateralmente a artéria epigástrica inferior e pode estender-se ao longo do canal inguinal e até sair pelo anel inguinal superficial Típica da infância (picos de incidência: nascimento e após 40a) Pode ocorrer devido a aumento da pressão abdominal e flacidez Epidemiologia Mais frequente e maior risco de encarceramento dentre as inguinais Mais frequente em HOMENS Mais comum do lado direito (neste lado o fechamento do conduto peritônio vaginal é mais tardio) e porque no lado esquerdo existe o cólon sigmoide que forma uma barreira Complicações Encarceramento, estrangulamento e até obstrução intestinal DIRETA Surge diretamente atrás da parede por defeito na Fáscia transversallis (defeito na parede abdominal), ou seja, não atravessa o anel inguinal profundo. Instala-se por cima do anel Hérnia de Parede Abdominal 5 inguinal superficial. Etiologia Defeito adquirido: enfraquecimento da parede posterior do canal inguinal Se anuncia através do trígono de Hesselbach, devido fraqueza desenvolvida pela fáscia transversallis, em consequência da idade ou aumento de pressão intra-abdominal, em provável associação com a síntese ou metabolismo do colágeno O saco herniário projeta-se na parede abdominal medialmente a artéria epigástrica inferior profunda. Raramente cresce a ponto de forçar a sua parede pelo anel inguinal superficial e descer para o escroto Epidemiologia 1⁄4 das hérnias inguinais Surgem após os 40 anos (geralmente idosos) FR: idade + pressão intra-abdominal aumentada Mais frequente em MULHERES Complicações Risco mínimo, são as que menos encarceram pois não estão presas em nenhum canal Diagnóstico diferencial Hidrocele Adenite inguinal/femoral Testículo estópico Torção testicular Lipoma Hematoma Abcesso do psoas Linfoma Neoplasia Epididimite Diferenciando Direta X Indireta INDIRETA DIRETA prevalência + - faixa etária criança/adulto idoso sintomas + e complicações+ e sem complicações sexo masculino feminino vasos epigásticos inf. lateral medial inspeção ortostática (tumefação) mal delimitada bem delimitada Landivar (dedo no canal) + Valsalva toca polpa do dedo toca lateral do dedo Hérnia de Parede Abdominal 6 OBS: Laparoscopia pode ser diagnóstica e terapêutica para casos especiais HÉRNIA FEMORAL Abaixo do ligamento inguinal, através do canal femoral, pelo anel femoral Limite superior: ligamento inguinal Limite inferior: m. pectíneo Limite lateral: veia femoral Limite medial: ligamento lacunar Causa Anel femoral alargado Epidemiologia Mais comum em MULHERES (10:1) → tem musculatura da coxa mais flácida obesas e >45 anos Mais comum do lado direito (lado esq. há o cólon sigmoide protegendo) Clínica → dor e pequeno abaulamento em grande lábio ⚠ Complicações Fáscia lata é inelástica → é comum ter estrangulamento e encarceramento cirurgia imediata Maior risco de encarceramento e estrangulamento de todos! HÉRNIA EPIGÁSTRICA Hérnia na linha alba, entre a cicatriz umbilical e processo xifoide Causa Ocorre protrusão de gordura pré-peritoneal ou peritônio na linha alba através dos orifícios dos vasos perfurantes Epidemiologia Mais frequente em HOMENS entre 20-50 anos 20% delas são múltiplas Sintomas Variam de dor epigástrica até dor profunda com irradiação para dorso, acompanhada de distensão, náuseas e vômitos Tratamento cirúrgico HÉRNIA UMBILICAL Não fechamento do anel umbilical Congênitas Característico das crianças (muito comum) Deve-se à obliteração incompleta do anel umbilical durante o colapso dos vasos umbilicais (AVA) Complicações são raras Adquiridas Característicos de adultos HÉRNIA INCISIONAL Hérnia em área de incisão cirúrgica prévia Ocorre por deiscência/abertura da sutura da camada músculo-aponeurótica cicatrização deficitária infecção no local que torna o tecido friável Epidemiologia 10% das cirurgias abdominais (até 1-2 anos após cirurgia) Menos frequente quando incisões são transversais (no sentido das linhas de força) Hérnia de Parede Abdominal 7 O tecido que fecha o anel umbilical cede gradualmente Mais frequente em MULHERES FR: múltiplas gestações, ascite, obesidade, grandes tumores Tratamento: cirúrgico se sintomáticos ou ascite volumosa Tratamento 1. Conservador (fechamento espontâneo) 2. Cirúrgico Hérnia inguinal concomitante > 3cm Associada a DVP Não fechamento até 5 anos muito sintomática Aumentam com o tempo → dor, obstrução intestinal FR Técnica incorreta Infecção, hematoma, seroma Desnutrição, idade avançada, corticoide Obesidade, pressão intra-abdominal elevada OBS: recidivas diminuem com o uso de telas HÉRNIA DE LITTRÉ Contém divertículo de Meckel no saco herniário Epidemiologia Mais prevalente nas hérnias inguinais, femorais e umbilicais Tratamento Reparação cirúrgica com remoção do divertículo HÉRNIA DE SPIEGEL Mais comum em mulheres idosas (hérnia da vovó) Entre a borda lateral do reto abdominal e a linha de Spiegel/Semilunar Ocorrem na fáscia de Spiegel, abaixo da linha arqueada/Douglas (entre umbigo e púbis, na linha semilunar) Se forma de maneira interparietal. Diagnóstico difícil pela ausência de massa palpável (US ou TC para diagnóstico) Alta incidência de estrangulamento!! TRATAMENTO 1. De acordo com a situação 1.1 Redutível Cirurgia eletiva 1.2 Encarcerada Redução manual: manobra de TAXE (segura o anel inguinal profundo com uma mão e vai, gentilmente, empurrando a hérnia para o lugar original) Não reduzir se houver sofrimento isquêmico em casos: Tempo > 6-8hrs (realizar cirurgia) Se não encarcerar de 6-8h é pq é uma hérnia sem domicílio Obstrução intestinal Irritação peritoneal, hiperemia, hipotensão 1.3 Estrangulada Cirurgia de emergência: inguinotomia 2. Tipo de tratamento 2.1 Conservador Não curativo Evitar situações que aumentem a pressão intra- abdominal. Usar cintas elásticas (funda) Indicações: hérnias pequenas e assintomáticas, contraindicação cirúrgica, escolha do paciente 2.2 Cirúrgico Não complicada: cirurgia eletiva, com prazo definido pelo médico e o doente Encarcerada: urgência cirúrgica Primeiras 6h de encarceramento pode-se tentar reduzir manualmente Coloca-se uma “tela de marlex”, presa com fios inabsorvíveis Cirurgia aberta ou laparoscópicas Técnica de McVay → femorais Hérnia de Parede Abdominal 8 Se houver redução espontânea: laparotomia Técnica de Lichtenstein → inguinais Técnicas Operatórias → telas são utilizadas quando não for possível uma sutura com até 2/3cm Abordagem anterior Herniorrafia anterior + reforço posterior Shouldice: imbricação das camadas da parede posterior (músculo) com suturas contínuas Mc Vay: reparo iniciado no tubérculo púbico, feito com suturas interrompidas com fio inabsorvível, que aproxima a aponeurose do transverso abdominal ao ligamento de cooper Bassini Hernioplastia → anel herniário > 2cm Lichtenstein: tela livre de tensão (tela de Marlex - sintética) suturada ao longo do ligamento inguinal (técnica de escolha) Fibrose na tela impede que haja um enfraquecimento da parede complicações infecções do sítio lesão de nervo e dor crônica orquite isquêmica → atrofia testicular Lesões dos ductos defrentes e de vísceras recidiva da hérnia Outras Informações Abordagem videolaparoscópica → Sempre posterior e sempre utiliza tela Indicações Primárias e unilaterais Sexo feminino Bilateral Recidivadas Técnicas TEP: totalmente extraperitoneal TAPP: trans-abdominal pré-peritoneal Anatomia laparoscópica Y invertido (vermelho) Vasos epigástricos inferiores (VEI) Vasos deferentes (VD): media Vasos espermáticos (VE): lateral Trato iliopúbico (TI): é o ligamento inguinal visto internamente Triângulos Triângulo de doom (da desgraça) Limites: Entre os VD e VE Contém os vasos ilíacos externos Triângulo da dor Limites: entre o VE e TI Contém a inervação da região Hérnia de Parede Abdominal 9 Hérnias diretas: medial aos VEI Hérnias indiretas: lateral aos VEI Hérnias femoral: abaixo do TI