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Gestão Pública 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos GESTÃO PÚBLICA Gestão Pública 1 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Cardoso, Bruno Baranda, 2020 Gestão Pública - Jupiter Press - São Paulo/SP 58 páginas; Palavras-chave: gestão pública; administração pública; direito administrativo. Gestão Pública 2 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos s SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................3 1. FUNDAMENTOS E CONCEITOS DA GESTÃO PÚBLICA ....................................................4 1.1 ESTADO E GOVERNO ................................................................................................................4 1.2 PODERES DO ESTADO .............................................................................................................6 1.3 GESTÃO ..............................................................................................................................................7 1.4 O QUE É GESTÃO PÚBLICA? ................................................................................................8 1.5 SERVIÇO PÚBLICO ....................................................................................................................9 2. PRINCIPAIS MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................11 2.1 MODELO PATRIMONIALISTA ...............................................................................................11 2.2 MODELO BUROCRÁTICO .....................................................................................................12 2.3 MODELO GERENCIAL ............................................................................................................13 2.4 PÓS-GERENCIALISMO ..........................................................................................................15 3. PROCESSO E FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS ..........................................................................17 3.1 PLANEJAMENTO .........................................................................................................................18 3.2 ORGANIZAÇÃO ...........................................................................................................................23 3.3 DIREÇÃO ..........................................................................................................................................24 3.4 CONTROLE .....................................................................................................................................25 3.5 INDICADORES E O BSC ..........................................................................................................26 4. NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO ..................................................................................29 4.1 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................29 4.2 REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................30 4.3 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...........................................................31 4.5 PODERES ADMINISTRATIVOS ...........................................................................................35 4.6 DEVERES DOS AGENTES PÚBLICOS ............................................................................37 5. RELAÇÕES E PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS ...................................................................39 5.1 CONCESSÕES ...............................................................................................................................39 5.2 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS (PPPS) ...................................................................41 6. MODELOS CONTEMPORÂNEOS E INOVAÇÕES NA GESTÃO PÚBLICA .............47 6.1 PRESSUPOSTOS DA GESTÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA ........................48 6.2 DIGITALIZAÇÃO, DIGITIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DIGITAL ...................49 6.3 TRANSFORMAÇÃO DIGITAL ...............................................................................................50 6.3 INOVAÇÃO ......................................................................................................................................52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................55 * * A navegação deste e-book por meio de botões interativos pode variar de funcionalidade dependendo de cada leitor de PDF. Gestão Pública 3 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos INTRODUÇÃO A gestão pública é motivo de debate em todo o mundo, foi tema relevante na produção acadêmica nas últimas décadas e a sua ausência ou falhas é pauta de matérias jornalísticas cotidianamente. O fato é que muitas pessoas são investidas na função de gestor público, sem que necessariamente possamos chamá-las de gestores. Ao contrário do que é observado de maneira geral na gestão de empresas em que a meritocracia é a regra do jogo, na gestão pública nem sempre isso é verdade. Mas então o que é essa tal Gestão Pública? Como devem agir as pessoas que estão investidas na função pública, em especial na condição de gestor? Podemos questionar ainda qual a origem desta matéria e quais são as bases fundamentais, princípios e modelos que orientam a sua organização? Nosso objetivo neste curso é tentar responder à estas e outras perguntas para o bom entendimento da Gestão Pública. É necessário destacar que a Gestão Pública não é uma matéria isolada, visto que possui transversalidade em temas como Direito, Economia, Contabilidade, Ciência Política, e Administração, tornando-a um arranjo multidisciplinar. É importante também ter em vista que a gestão pública não é feita meramente replicando ferramentas e modelos da gestão privada (ou gestão de empresas), devido aos fundamentos e estruturas típicas do serviço público. Nosso estudo partirá do entendimento da organização do Estado e do funcionamento do Governo trazendo os principais conceitos, passando pelos principais modelos, processos e funções de administração, por campos de estudo do Direito Administrativo, para chegar aos modelos contemporâneos e inovações na Gestão Pública. Gestão Pública 4 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 1. FUNDAMENTOS E CONCEITOS DA GESTÃO PÚBLICA 1.1 ESTADO E GOVERNO Para entender como se dá o funcionamento do Governo é necessário antes conhecer os pilares que fundamentam a organização estatal. Como veremos, existem características de diferenciam a forma como os Estados são organizados, que influenciam diretamente na forma de governar e, por tanto, efetuar a gestão. Primeiramente é importante destacar que Estado e Governo não são a mesma coisa. Assim, podemos identificar o Governo como um conjunto de órgãos que são responsáveis pelo desenvolvimento de ações, orientados por uma orientação política do Estado. Já Estado pode ser entendido como entidade político-social juridicamente organizada com objetivo de promover a soberania social (DOS SANTOS, 2017). Normalmente, as pessoas costumam confundir o que é forma de Estado, forma, sistema e regime de governo, vamos a elas. O Estado possui as seguintes formas possíveis de organização: Estado Único: Estado único organizado de maneira que há centralidade do poder político e administrativo. Confederação: Associação de Estados soberanos em que os Estados mantêm a sua autonomia. Federação: Estado composto por diversas entidades territoriais autônomas dotadas de governo próprio, que são regidas por uma constituição soberana. No Brasil, é adotado a forma de federação, tendo a Constituição Federal de 1998 (CF/88) explicitado que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal (BRASIL, 1988). Gestão Pública 5 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos No que se refere à forma de governo, existem duaspossibilidades: República e Monarquia. O Brasil adota a República, tendo adotado a Monarquia até 1889. A República tem como suas principais características: o processo eleitoral, a temporalidade do mandato e a responsabilidade centrada no chefe de Estado. Já a Monarquia se caracteriza pela hereditariedade, vitaliciedade e não responsabilização do chefe de Estado. Já em relação ao sistema de governo, existem duas formas: presidencialismo e parlamentarismo. O Brasil adota o presidencialismo. Este sistema é caracterizado pela concentração das funções do chefe de governo e o chefe de Estado na figura de uma só pessoa, qual seja o Presidente. De maneira alternativa ao presidencialismo existe o parlamentarismo, que é caracterizado pela diferença entre chefe de governo e chefe de Estado. O primeiro é responsável pela administração do país (chefe de governo) enquanto o último, pelas relações externas e forças armadas, ou seja, chefiar o Estado. Neste sistema, ambos são escolhidos pelos parlamentares ao invés da eleição direta pelo povo (nas monarquias parlamentaristas não há a escolha do chefe de estado em virtude da hereditariedade, ou seja, o cargo é herdado). Por fim, em relação ao regime de governo, temos os seguintes: democracia e autocracia. O Brasil adota a democracia, regime que pode ser entendido como aquele em que o poder é emanado do povo, e proporciona voz à população, principalmente pela escolha dos representantes. Outro regime de governo possível é o autocracia, caracterizado por ser um governo autoritário, de poder absoluto. Este é um sistema antagônico em relação à democracia, pois a gestão é exercida através de um soberano que detém poder ilimitado e absoluto. A seguir temos o quadro resumo com as principais características de um governo: Forma de Estado Unitário Confederação/Federação Forma de Governo República Monarquia Sistema de Governo Presidencialismo Parlamentarismo Regime de Governo Democracia Autocracia Quadro 1: Características de Governo Elaborado pelo autor Gestão Pública 6 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Mas, e como é no Brasil? No Brasil temos: • Forma de Estado: Federação • Forma de Governo: República • Sistema de Governo: Presidencialismo • Regime de Governo: Democracia 1.2 PODERES DO ESTADO Um princípio geral, presente na Constituição brasileira, é o da “divisão” ou organização dos poderes: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988). O termo “divisão” foi colocado entre aspas anteriormente pois não há de fato uma divisão, mas sim uma organização dos poderes de maneira a viabilizar um sistema de freios e contrapesos - reforçando a ideia de equilíbrio para que que nenhum desses poderes se torne forte demais a ponto de dominar os demais. Ou seja, a ideia de unidade advém do Estado Constitucional de Direito no qual prevê que o poder estatal é único e indivisível (DOS SANTOS, 2017). Assim, os poderes são organizados em: Legislativo, Executivo e Judiciário, aos quais possuem autonomia e independência e cujas ações devem ser adotadas visando a harmonia entre eles. Ao Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, é atribuída a responsabilidade para criar as leis, ao Judiciário (exercidos pelos seus órgãos) o papel de julgar e ao Executivo, exercido pelo Presidente da República e auxiliado pelos Ministros de Estado), o papel de governar o povo e administrar os interesses públicos. O equilíbrio é obtido por meio da distribuição de responsabilidades e também pelo poder fiscalizatório atribuído a cada um dos poderes. A ideia de desconcentração dos poderes aplicada pelos Estados modernos é fundamentada nas ideias de Montesquieu, que propôs um cenário em que o Estado fosse melhor controlado e garantidor de direitos individuais e coletivos. Gestão Pública 7 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos A partir do entendimento de como se organiza o Estado é possível avançarmos para o estudo da gestão e verificar como esse conceitos geram implicações que diferenciam a gestão privada e pública. 1.3 GESTÃO Inicialmente é importante destacar que a gestão pública não é feita meramente replicando ferramentas e modelos da gestão privada (ou gestão de empresas) pois, do contrário, não haveria necessidade do desenvolvimento de um campo específico de estudos para tal. A maneira mais simples de distinguir os diferentes tipos de organização - e, portanto, de áreas de gestão - é pelo objetivo que cada uma possui. Enquanto a as organizações privadas visam lucro (com exceção das organizações filantrópicas), as organizações públicas em por finalidade o bem- estar social ou, dito de outra maneira: satisfazer as necessidades da sociedade, tais como saúde, educação, infraestrutura, segurança e seguridade. Por outro lado, isso também não significa dizer que a gestão pública não pode utilizar-se dos instrumentos desenvolvidos pelas organizações privadas. Isto ficará evidente ao estudarmos os modelos de gestão. Paludo (2010) argumenta que entre a administração pública e a privada existem mais convergências do que diferenças, citando os exemplos a seguir: [...] todas as entidades privadas ou públicas utilizarão técnicas administra- tivas como o planejamento, a organização, a direção e o controle, assim como as técnicas relacionadas à motivação e avaliação de resultados. A divisão do trabalho também utilizará técnicas semelhantes, e haverá fun- ções idênticas como a orçamentária/financeira, a contábil, a de recursos humanos etc. https://www.youtube.com/watch?v=WHegUkTpTEk Gestão Pública 8 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Feitas essas considerações iniciais, ainda resta responder uma pergunta inicial: O que é gestão pública? 1.4 O QUE É GESTÃO PÚBLICA? Uma das formas de entendermos o que significa gestão pública é fazer a busca pela etimologia das palavras que compõem esse expressão, ou seja, buscar os seus significados. O termo “gestão” tem origem no latim “gestio, gestiōnis, gestus” termos estes que podem ser identificados como a ideia de fazer ou empreender algo, e pode ser entendido também como o ato ou efeito de gerir, administração ou gerência. Já o termo “pública” ou “público” é relativo à população, povo ou coletividade, que pertence a todas as pessoas (MICHAELIS, 2015). Pela junção dos verbetes temos algo como: administração ou gerência do que pertence a todas as pessoas ou conjunto de ações visando gerir interesses da população povo ou coletividade. Outra forma de entender o significado, é através da pesquisa bibliográfica, que consiste na busca por autores que buscaram apresentar seu entendimento sobre como determinado fenômeno pode ser explicado. Vamos a alguns deles: Gestão pública é o planejamento, a organização, a direção e o controle dos bens e interesses públicos, agindo de acordo com os princípios ad- ministrativos, visando ao bem comum por meio de seus modelos delimi- tados no tempo e no espaço (SANTOS, 2017). Administrar, na esfera pública, é gerir os Serviços Públicos, não apenas li- mitando-se a prestação desses serviços, mas também executá-los, dirigi- -los e governá-los no intuito de se obter um resultado útil à coletividade (MILHOMEM FILHO, 2016). A ação do Estado-nação, conduzido pelo governo, se efetiva por meio da gestão pública, objetivando viabilizar e garantir direitos, ofertar serviços e distribuir recursos (MATIAS-PEREIRA, 2016). Gestão Pública 9 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Podemos assim, sintetizar tais contribuições de forma a gerar uma nova, qual seja: Gestão pública é a ação do Estado de maneira sistematizada cujo objetivo é a satisfação dos interesses dos cidadãos. Para Matias-Pereira (2016) é necessário o entendimento de que a função precípua dos gestores públicos é a de responder às demandas dos cidadãos por bens e serviços públicos, com qualidade, e de forma transparente,evitando submeter-se às pressões espúrias ou a privilegiar os interesses dos grupos detentores do poder político e econômico. Por fim, é necessário destacar que a gestão pública não é uma matéria singular, visto que possui transversalidade em temas como Direito, Economia, Contabilidade, Ciência Política, e Administração, tornando-a um arranjo multidisciplinar. 1.5 SERVIÇO PÚBLICO Para melhor compreender a gestão pública é necessário entender sua origem e sua finalidade. A gestão pública, enquanto maneira sistematizada ações, tem o objetivo de satisfazer os interesses dos cidadãos. Este objetivo pode ser desenvolvido direta ou indiretamente pela ação estatal, mas, independentemente da forma de atuação, deve resultar em bens e serviços de interesse da sociedade. Isto nos leva a entender que a ação estatal tem como meio a prestação de um serviço ou bem, que tem por objetivo a satisfação dos cidadãos. Seguindo a afirmação de Figueiredo (2008): Serviço público é entendido como toda atividade fornecida pelo Estado, ou por quem o represente, no exercício da função administrativa, com o fim de implementar os deveres relacionados à utilidade pública, que deve ser concretizada, sob regime prevalente de Direito Público. Gestão Pública 10 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Para Meireles (2003), o serviço público é definido como: Serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou simples conveniências do Estado. Desta forma, é possível afirmar que a atividade de interesse da gestão pública é fundamentada na maneira como o Estado se organiza para a prestação de serviços e bens de interesse da sociedade. Entretanto, a forma ideal como o Estado pode adotar soluções para tal é causa de divergência entre as diversas correntes políticas existentes. https://www.youtube.com/watch?v=SQUdnjjOyxQ Gestão Pública 11 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 2. PRINCIPAIS MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Uma das formas de estudar a atuação do Governo é a partir dos modelos utilizados para sua administração e sua evolução ou estagnação ao longo dos anos. As reformas no Brasil, entretanto, foram tentativas de respostas às crises vivenciadas em diversos momentos mas, infelizmente, podemos argumentar que até hoje é possível verificar resquícios de modelos ultrapassados mesclados com modelos modernos. Desta maneira, podemos segregar os principais modelos de administração, para fins didáticos, sistematizando suas características e analisá- las de maneira comparativa, mas o estudo contemporâneo do estado da arte da administração pública revelará a perpetuação de práticas ultrapassadas coexistindo com o que há de mais moderno. Bresser-Pereira (1998) argumenta que a ideia de uma administração pública gerencial é antiga no Brasil. Nesse contexto, iremos verificar os principais modelos de administração aplicados na Gestão Pública Brasileira. No estudo dos modelos da administração pública discutem-se os as aspectos centrais para permitir a compreensão das mudanças no setor público. 2.1 MODELO PATRIMONIALISTA O modelo patrimonialista é herdado dos Estados absolutistas nos quais as nobrezas eram mandatárias pois eram as possuidoras de propriedade, em especial terras (período Feudal). Neste período não havia uma clara distinção das propriedades privadas e da coisa pública, pois os monarcas absolutistas eram ao mesmo tempo proprietários e governantes. Desse modo, governavam conforme a sua vontade. Pela ausência de separação entre as questões do Estado e as questões privadas dos governantes, a ocupação dos principais cargos era feita por familiares e pessoas de confiança ou com interesses comuns ao rei. Nesse período, ainda não havia sido concebido um modelo de Estado cuja finalidade era a utilização de recursos públicos em favor da coletividade, pois o Estado era usado como uma extensão das posses dos monarcas detentores do poder. Gestão Pública 12 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 2.2 MODELO BUROCRÁTICO O sociólogo alemão Max Weber, na segunda metade do Século XIX, criou o modelo da administração pública burocrática. Foi a partir desta perspectiva que os bens e interesses privados dos detentores do poder passaram a ser tratados como coisa distinta daqueles que pertenciam ao Estado e do interesse público. Outro fundamento da burocracia é que neste modelo a forma de organização deve se basear na racionalidade, ou seja, na adequação dos meios aos objetivos pretendidos, com objetivo de garantir a máxima eficiência possível. As suas principais características são: • Caráter legal das normas e regulamentos; • Formalização das comunicações; • Racionalização e divisão do trabalho; • Impessoalidade nas relações; • Hierarquia de autoridade; • Rotinas e procedimentos são padronizados; • A competência técnica é valorizada através da meritocracia; • Especialização da Administração; • Profissionalização dos membros das organizações; • Previsibilidade do funcionamento. Este modelo traz consigo vantagens e desvantagens, que são apresentadas no quadro a seguir: Gestão Pública 13 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Vantagens Desvantagens Racionalidade dos objetivos; Clareza na definição de cargos e tarefas; Rapidez nas decisões; Interpretação clara de normativos e regu- lamentos; Uniformidade de procedimentos e roti- nas; Continuidade da organização; Diminuição do atrito entre indivíduos; Estabilidade das decisões; Confiabilidade das decisões; Benefícios para os indivíduos nas organi- zações. Internalização das regras e o apego aos regulamentos; Excesso de formalismo; Resistência às mudanças; Despersonalização dos relacionamentos; Processo decisório categorizado; Superconformidade às rotinas e procedi- mentos; Exibição de sinais de autoridade; Dificuldade no atendimento e conflitos com o público. Quadro 2: Vantagens e Desvantagens Fonte: Elaborado pelo autor. As medidas de reformas administrativas adotadas no Brasil, a partir dos anos 30 com a adoção do modelo burocrático, cujo objetivo precípuo era a extirpação das práticas patrimonialistas e clientelistas da administração, não foram exitosas em vista das estratégias adotadas e do impedimento da sua consolidação. A partir da CF/88 o Brasil passou a sofrer o “enrijecimento burocrático extremo” sem que tivesse entretanto uma burocracia civil fortalecida, tendo como consequência a sobrevivência do patrimonialismo que, “perversamente misturados” são causas do alto custo e baixa qualidade da administração pública brasileira (BRESSER-PEREIRA, 1998). Desta maneira, tendo um modelo de reforma incompleto e inacabado, que não respondeu às necessidades do Estado, e com a crise fiscal vivenciada em 1995, eis que surge uma nova oportunidade para a reforma do Estado, chamada “reforma gerencial’. 2.3 MODELO GERENCIAL A Administração Pública Gerencial ou, como também é chamada “Nova Gestão Pública” (New Public Management), tem como um de seus fundamento que a sociedade é um ambiente de conflito, cooperação e incerteza. Por isso, argumenta-se que nesse ambiente, os cidadãos defendem seus interesses e afirmam suas posições ideológicas. O foco deixa de ser exclusivo no controle e na racionalização de processos e passa a englobar também a entrega de resultados e uma relativa flexibilização. Gestão Pública 14 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Uma das principais características do modelo gerencial é o entendimento do cidadão como cliente na prestação de serviços públicos. São três as principais fases que emergem do modelo gerencial: • Modelo gerencial puro (Managerialism): tem como ponto central a busca da eficiência (que preza pelo busca do melhor resultado com o menor custo). Este modelo é baseado no fiscalismo (busca do equilíbrio fiscal) e tem como principais instrumentos o controle orçamentários e as avaliaçõesde desempenho. • Modelo gerencial com foco no consumidor (Consumerism): tem como foco a qualidade dos serviços e a priorização das demandas dos cidadãos. Nesse modelo o cidadão é visto como consumidor ou cliente de serviços públicos. • Modelo gerencial orientado ao serviço público (Public Service Orientation - PSO): tem como principal característica a inclusão do conceito de accountability (transparência, participação, equidade e justiça) que não está presente nos modelos anteriores. No âmbito do modelo gerencial são adotados os seguintes valores: • processo decisório orientado a resultados; • descentralização; • flexibilização; • melhoria contínua; • avaliação e pagamento por desempenho/produtividade; • incentivo à competição; • direcionamento estratégico; e • transparência. De maneira resumida, podemos afirmar que a administração pública gerencial adota características e técnicas típicas da iniciativa privada adaptadas ao ambiente do setor público. Gestão Pública 15 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 2.4 PÓS-GERENCIALISMO Muitos foram os acertos e erros da adoção do modelo gerencial no Brasil e no mundo. No Brasil é possível argumentar que não implementamos totalmente ou adequadamente o gerencialismo, pois ainda convivemos com práticas patrimonialistas e principalmente burocráticas. Mas, nesse contexto de reformas incompletas e casos de insucesso, o que se verifica é uma continuidade da necessidade de reformas, e a emergência de novas características, que podemos chamar de movimento pós-gerencialismo. Para corroborar a compreensão deste movimento em curso, chamado de Pós- Gerencialismo, Cavalcante (2017) elaborou estudo para “mapear as tendências em termos de princípios e diretrizes de gestão, bem como as transformações, que permearam a administração pública nas últimas décadas”. Os principais princípios e diretrizes e seus respectivos significados estão no quadro à seguir: Princípios e diretrizes Significados Colaboração e parcerias Processos colaborativos e de parcerias de formas variadas – dentro do setor público, com a iniciativa privada e terceiro setor. Redes Atuação em redes na provisão de serviços públicos (formulação, implementação e controle). Visão integrada e holística da gestão pública Premissa de serviços públicos integrados e perspectiva da admi- nistração como um todo – coesa e coerente (não fragmentada ou competitiva) Accountability e responsivi- dade Processos de ampliação da prestação de contas e capacidade de respostas da administração pública à sociedade. Participação e engajamento Ampliação de canais de participação social no desenvolvimento de políticas e fomento ao envolvimento da sociedade na gestão públi- ca como valor e fonte de legitimidade. Liderança Importância do papel do líder (político, administrativo ou cidadão) na gestão pública, sobretudo, em processos empreendedores. Coordenação e controle Fortalecimento das capacidades de coordenação e controle da ad- ministração como forma de gerar coerência e coesão na prestação de serviços públicos. Governo Digital e tecnologia de informação e comunicação (TIC) Incorporação frequente do uso de tecnologias da informação para aumentar a transparência do setor público, bem como acesso e envolvimento do cidadão com a administração pública. Fortalecimento da burocracia pública Profissionalização e valorização do quadro funcional do Estado com vistas a torná-lo mais eficiente, interdisciplinar e responsivo à sociedade. Quadro 3: Princípios e Diretrizes Fonte: Adaptado de Cavalcante (2017). Gestão Pública 16 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos O que se convencionou chamar de modelo ou modelos “pós-gerencialismo” são princípios, diretrizes, estratégias que ainda não se encontram plenamente adotadas no âmbito do serviço público de maneira geral. Razão pela qual podemos observar ainda nos anos atuais ilhas de excelência no serviço público convivendo com culturas que deveriam ter sido abolidas há décadas. Entretanto, a mera adoção de modelos desenvolvidos em outros países não irão refletir em soluções simples para o Brasil, em seu modelo híbrido e único que apresenta-se como um desafio. Ou, como nas palavras de Abrucio (1997): “Não existe uma resposta única, e precisamos aprender com diversas experiências para adequá- las ao nosso modelo híbrido. É este o desafio.” Disserte sobre como práticas do Modelo Patrimonialista ainda podem ser observadas no Brasil? https://www.youtube.com/watch?v=3u7JvdTCzkE https://youtu.be/5V-cKv1W5w4 https://youtu.be/j5y2FbAL7IE Gestão Pública 17 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 3. PROCESSO E FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS Para Chiavenato (2016) o processo administrativo é formado pelas funções administrativas quando estas são consideradas de forma integrada. De maneira isolada, as funções administrativas são identificadas como: planejamento, organização, direção e controle, e tem origem na Teoria Neoclássica, de Peter Drucker. Em sequência, as funções administrativas formam o ciclo administrativo. Figura 1: Ciclo Administrativo Fonte: Elaborado pelo autor. De maneira mais ampla, a relação cíclica, dinâmica e interativa entre as funções forma o processo administrativo. Gestão Pública 18 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 2: Processo Administrativo Fonte: Elaborado pelo autor. 3.1 PLANEJAMENTO Planejamento é o processo de estabelecer objetivos e metas, e sistematizar os meios para alcançá-los. Em outras palavras, planejar é definir aonde se quer chegar e estabelecer as formas para atingir esse resultado. Para Chiavenato (2016) “planejamento é a função administrativa que define objetivos e decide sobre os recursos e tarefas necessários para alcançá-los adequadamente”. Assim, podemos argumentar que o gestor tem a necessidade de desenvolver a capacidade de realizar projeções para que ele possa tomar decisões e planejar o futuro de seu órgão ou unidade. Gestão Pública 19 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos O resultado do planejamento é um plano, que é a sistematização dos recursos e das atividades necessárias para alcançar os objetivos organizacionais, funcionando como guia para a coordenação das ações dos indivíduos e assim, reduzindo a incerteza e aumentando as chances de sucesso. O planejamento constitui a função inicial da administração pois, antes que seja executada qualquer outra atividade, é necessária a determinação dos objetivos e dos meios necessários para alcançá-los (CHIAVENATO, 2016). Os 6 passos do processo de planejamento são: • Definir os objetivos: onde se deseja chegar; • Diagnosticar a situação atual: avaliar a situação atual de maneira comparativa com os objetivos; • Estabelecer premissas: gerar cenários alternativos, analisar o que pode ajudar ou prejudicar o progresso em direção aos objetivos; • Analisar alternativas: identificar e avaliar as decisões que devem ser tomadas; • Escolher o curso de ação: tomada de decisão para escolha da alternativa; Implementar o plano e avaliar os resultados: executar o plano da maneira como foi planejado e avaliar os resultados para verificar o alcance dos objetivos e adotar ações corretivas, se necessário. Gestão Pública 20 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 3: Seis Passos do Processo de Planejamento Fonte: Elaborado pelo autor. Além do planejamento no nível estratégico, é necessário que a organização possua planejamento em todas as suas instâncias ou níveis. Assim, o nível institucional elabora o planejamento estratégico, o nível intermediário desenvolve o plano tático e o nível operacional traça o plano operacional. As características em relação ao nível, tipo, formato, prazo e amplitude são detalhados no quadro a seguir: Nível Tipo Formato Amplitude Institucional Estratégico Sintético Longo Macroorientado; aborda toda instituição Intermediário Tático Mais detalha- do Médio Setorial/departamental; Aborda um conjunto de unidades OperacionalOperacional Analítico Curto Microorientado; focado na unidade Quadro 4: Três Níveis de Planejamento Fonte: Elaborado pelo autor. Missão, visão e valores: O referencial estratégico é elemento essencial ao planejamento e contribui para a definição da identidade da organização. Gestão Pública 21 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Algumas perguntas norteadoras são necessárias para estabelecer o referencial estratégico, como exemplo: 1. Qual a razão de ser da organização? 2. Qual(is) o(s) objetivo(s) da organização? 3. Como, e baseados em que crenças e princípios, serão realizadas as atividades da or- ganização? Ao responder essas perguntas com razoável acuracidade é possível se definir os referenciais estratégicos: missão, visão e valores. Descrição Pergunta Missão Motivo pelo qual a organização existe. Deve explicitar para que a organização foi criada. Qual a razão de ser da or- ganização? Visão É a visão de futuro, ou seja, representa um estado futuro onde a organização deseja chegar e o que ela quer alcançar. Qual(is) o(s) objetivo(s) de médio/longo prazo da organização? Onde ela deseja chegar, o que quer alcançar? Valores São os princípios da organização, os valores que irão direcionar as suas es- tratégias. Quais são as regras que ire- mos seguir, ou seja, quais valores não podemos abrir mão? Quadro 5: Referenciais Estratégicos Fonte: Elaborado pelo autor. Os referenciais são essenciais para guiar a organização e direcionar a atuação de seus colaboradores. Missão tem como significado dever, obrigação ou conjunto de pessoas a que se confere uma tarefa. É por meio da missão que é feita a “declaração de propósito e o alcance da organização” (CHIAVENATO & SAPIRO, 2009). Não podemos deixar de lembrar que a missão não é estática, mas sim dinâmica, e da mesma forma o planejamento seja ser dinâmico e flexível. Para Chiavenato e Sapiro (2009) a missão deve contemplar os seguintes aspectos: a) a razão de ser; b) o papel junto à sociedade; c) a natureza do negócio; d) o valor que constrói para seu público-alvo; e) os tipos de atividade que deve concentrar esforços. Gestão Pública 22 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Visão deve declarar onde a organização quer chegar, ou seja, como ela se vê no futuro. Deve antecipar qual o destino desejado e dar um direcionamento geral. Para Chiavenato e Sapiro (2009) a visão deve contemplar as seguintes premissas: a) aderência aos fatos reais, ou seja, a visão deve ser possível de ser alcançada; b) descrição concisa, porém poderosa, deve ter foco definido; c) equilíbrio, contemplar todos os grupos de interesse (internos e externos). Valores são os princípios que a organização segue, e devem servir para dar orientação sobre como comprir objetivos e balizar as estratégias. São fundamentais para dar direção em caso de conflitos ou dilemas. Chiavenato e Sapiro (2009) argumentam que valor “é o conjunto de conceitos filosofias e crenças gerais que a organização respeita e pratica, e está acima das práticas cotidianas para a busca de ganhos de curto prazo”. Figura 4: Missão, visão e valores Fonte: Elaborado pelo autor. Gestão Pública 23 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 3.2 ORGANIZAÇÃO A organização é a função administrativa na qual é realizada a atribuição de estruturar, dividir as tarefas, além do estabelecimento da coordenação. Organizar é a ação de alocar pessoas e recursos. Em outras palavras, é na fase da organização que se define quem faz o quê, quem está subordinado à quem, como serão realizadas as tarefas e com quais recursos. A organização define a segmentação em unidades (ex.: divisões, departamentos, seções, equipes, etc.), além de definir as responsabilidades e atribuições de cada unidade. Na fase da organização, as pessoas e os recursos são alocados para alcançar os objetivos traçados na etapa de planejamento. A estrutura organizacional deve conter: conjunto de tarefas formais atribuídas para as unidades e pessoas; relações de subordinação, autoridade, responsabilidade e níveis hierárquicos; canais de comunicação e coordenação. Autoridade, responsabilidade e delegação são instâncias de poder numa organização. Vejamos o que significa cada um destes conceitos: a) Autoridade: direito formal e legítimo para tomar decisões, está liga- do à hierarquia; b) Responsabilidade: dever de responder por seus atos; c) Delegação: processo de transferência de autoridade e responsabili- dade para um subordinado. https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/ME_Missao-Visao-Valores.PDF Gestão Pública 24 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Enquanto a autoridade formal é decorrente de uma posição organizacional, a responsabilidade independe da posição, entretanto é comum observar que quanto maior é a posição hierárquica, maior é a responsabilidade. É importante destacar que a autoridade é um direito e a responsabilidade é um dever. As organizações podem ter formatos mais hierarquizados ou achatados. No primeiro tipo, é verificado um processo mais verticalizado da tomada de decisão e responsabilidade, enquanto no formato mais achatado há uma redução dos níveis hierárquicos, tornando a organização mais horizontal. Figura 5: Modelos de hierarquia/organogramas Fonte: Coalize.com.br Por fim, o conceito de descentralização está ligado à necessidade de agilidade. Quanto maior a descentralização, mais rápida é a capacidade de resposta. Além disso a descentralização é uma forma de estimular a independência e a criatividade das pessoas de níveis hierárquicos mais baixos. 3.3 DIREÇÃO A direção é a maneira pela qual a organização entra em ação, o plano é colocado em prática, são desenvolvidas as atividades pelas pessoas e são feitas as alocações dos recursos. É por meio desta função que, após a realização do planejamento, da definição dos objetivos e da definição da estrutura o plano é colocado em prática. “Está relacionada com a maneira pela qual os objetivos devem ser alcançados” (CHIAVENATO, 2016). Gestão Pública 25 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Para que o plano seja executado, é necessário a sua interpretação e tradução em orientações para que sejam executadas tarefas voltadas ao atingimento dos objetivos. A direção é uma função administrativa fundamental, pois é por meio do relacionamento interpessoal do administrador com seus subordinados, que as pessoas são direcionadas para o desenvolvimento de suas atividades. A pessoa que está na função de direção deve motivar, liderar e comunicar os subordinados em suas tarefas. 3.4 CONTROLE A função de controle representa o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação (ex-post), com o objetivo de verificar se as operações e atividades estão no rumo certo e dentro do que foi planejado (por meio de comparação entre o idealizado e o realizado). O controle é a função administrativa de monitoramento de atividades, a fim de manter a organização no caminho certo e de permitir correções necessárias de erros, desvios e falhas. O controle avalia os processos administrativos anteriores: planejamento, organização e direção. É importante destacar que o controle deve estar previsto no planejamento com a finalidade de estabelecer a forma como as informações serão coletadas e as atividades monitoradas. É por meio do processo de controle que são estabelecidas a forma de acompanhamento dos objetivos ou padrões de desempenho; é realizada a avaliação ou mensuração periódica; é feita a comparação entre o desempenho atual com os objetivos e padrões estabelecidos; são apontados os desvios ou anormalidades para que seja fundamentada a tomada de decisão corretiva, quando necessário. A função de controle tem característica cíclica e sistêmica, e é responsável pela retroalimentação de uma nova etapa de planejamento. Para concluir, veja a síntese de Chiavenato (2016) para as funções administrativas: Gestão Pública 26 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulosO planejamento serve para definir os objetivos, traçar as estratégias para alcançá-los e estabelecer os planos de ação. A organização serve para estruturar as pessoas e os recursos de maneira a trabalhar de forma organizada e racional. A direção mostra os rumos e dinamiza as pessoas para que utilizem os recursos da melhor maneira possível. Por fim, o controle serve para que todas as coisas funcionem da maneira certa e no tempo certo. 3.5 INDICADORES E O BSC Uma das formas utilizadas para medir se os esforços empregados estão surtindo o resultado desejável e gerar informações para dar suporte à tomada de decisões é a adoção de indicadores. Os indicadores financeiros foram os primeiros a serem adotados por todo tipo de empresa para avaliar seus resultados ou decidir sobre investimentos no longo prazo. Entretanto, eles não são suficientes. Desta maneira, com o objetivo de dotar alta-gestão de dados para tomada de decisão, com o desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas, no âmbito do planejamento estratégico, foi desenvolvido por Kaplan e Norton o Balanced Scorecard (BSC). Paludo (2010) afirma que: O Balanced Scorecard pode ser entendido como um modelo de gestão estratégica, voltado para o futuro das organizações, que alinha missão, vi- são e estratégias a um conjunto equilibrado de indicadores – financeiros e não financeiros. As decisões cotidianas devem ser tomadas nesse con- texto maior, que integra todas as áreas da organização, criando meios para catalisar esforços, motivar pessoas, e promover o consenso e o espírito de equipe. E ressalta que “O BSC não é utilizado para elaboração do planejamento estratégico, mas em sua gestão.” O BSC trouxe inovações no processo de planejamento no que tange ao desenvolvimento do mapa estratégico, no fortalecimento da liderança e no processo de realimentação cíclico. Gestão Pública 27 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Segundo Kaplan e Norton (1997 apud Paludo, 2010) o uso do BSC é útil para “esclarecer e chegar a um consenso em relação à visão e à estratégia; desenvolver uma equipe executiva; comunicar a estratégia”, além de “vincular recompensas à realização dos objetivos estratégicos; estabelecer metas estratégicas; alinhar recursos e iniciativas estratégicas; sustentar investimentos em ativos intelectuais e intangíveis”. São 4 as dimensões do BSC: aprendizagem e crescimento, processos internos, clientes e financeira. Sendo adaptadas para as perspectivas públicas e privadas de maneiras distintas e por vezes utilizadas com nomenclaturas diversas. Figura 6: Balanced Scorecard - BSC Fonte: Siteware.com.br Pela sua abrangência e adaptabilidade, o BSC é utilizado por diversas organizações e amplamente utilizado por órgãos públicos. Entretanto, as perspectivas são adotadas de maneira distinta por estas. Gestão Pública 28 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 7: Perspectiva Privada x Pública Fonte: Elaborado pelo autor. Enquanto a finalidade das organizações privadas é o lucro, e por isso, a perspetiva financeira é o objetivo nas organizações públicas o orçamento é o fator limitador e a finalidade é o atendimento da sociedade. Para que serve um Organograma Empresarial? https://dehumanas.com.br/infografico-funcoes-administrativas-podc/ https://youtu.be/yxqzJbotWhA Gestão Pública 29 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 4. NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO 4.1 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública, em definição estrita, é o conjunto de pessoas jurídicas, agentes público e órgãos que exercem função administrativa, ou seja, que exercem a atividade do Estado, que atuam para que os objetivos do governo sejam atingidos. As atividades administrativas podem ser exercidas de três formas: centralizada, descentralizada e desconcentrada. A Administração Federal compreende: Administração Direta: serviços integrados na estrutura administrativa diretamente ligados ao chefe do Poder Executivo. Exemplo: Ministérios. Administração Indireta: também chamada de administração descentralizada, tem como característica a distribuição de competências e atividades e são dotadas de personalidade jurídica próprias. A administração indireta compreende as seguintes categorias de entidades: Tipo Descrição Exemplo Autarquia serviço autônomo, criado por lei, com perso- nalidade jurídica, patrimônio e receita pró- prios, para executar atividades típicas da Ad- ministração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. INMETRO, IBAMA, INSS. Empresas Públicas entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e ca- pital exclusivo da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica que o Go- verno seja levado a exercer por força de con- tingência ou de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito. BNDES, Caixa Econômica Federal, Correios. Gestão Pública 30 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Sociedades de Eco- nomia Mista entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a explora- ção de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta. Neste caso, quando a atividade for submetida a regi- me de monopólio estatal, a maioria acionária caberá apenas à União, em caráter permanen- te. Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras. Fundações Públicas entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o de- senvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patri- mônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por re- cursos da União e de outras fontes. Estas en- tidades adquirem personalidade jurídica com a inscrição da escritura pública de sua cons- tituição no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, não se lhes aplicando as demais disposições do Código Civil concernentes às fundações (in- cluída pela Lei nº 7.596, de 1987). Funai, IBGE, Biblioteca Na- cional. Quadro 6: Entidades da administração indireta: Fonte: Adaptado de Chiavenato (2016). As Sociedades de Economia Mista e as Empresas Públicas se diferem pela forma de composição. Enquanto a companhia mista possui capital público e privado, a pública, é formada exclusivamente por recursos públicos. Além disso elas possuem formato jurídico distinto, pois as Sociedades de Economia Mistas podem ser constituídas somente na forma de sociedade anônima (S/A), sendo que ambas são enquadradas na categoria de direito privado. Cumpre ressaltar que ambas fazem parte da administração indireta, e devem ser criadas e extintas por leis específicas. 4.2 REGIME JURÍDICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Para Di Pietro (2018), a expressão regime jurídico administrativo deve ser utilizada exclusivamente para “abranger o conjunto de traços, de conotações, que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa”. Assim, o regime administrativo resume-se a duas palavras apenas: prerrogativas e sujeições (DI PIETRO, 2018). Gestão Pública 31 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos As prerrogativas encontram embasamento no princípio da supremacia do interesse público sobre o privado e as sujeições no princípio da indisponibilidade do interesse público pela administração. a) Princípio da supremacia do interesse público: estabelece que o inte- resse do Estado deve prevalecer em relação ao interesse do particular. Em situações onde há conflito de interesses, o administrador pode li- mitar e restringir direitos individuais para a garantia do interesse cole- tivo. Entretanto, é importante destacar que o Estado não pode violar direitosparticulares em função desse princípio. b) Princípio da indisponibilidade do interesse público: o administrador não pode abrir mão do interesse público. Assim, o agente público, ao realizar suas atividades, deve estar submetido aos limites impostos pelo ordenamento jurídico vigente. Cabe ressaltar que estes dois princípios, ao contrário dos princípios consagrados na CF/88, são implícitos, o que significa dizer que não estão expressos. Entretanto, possuem a mesma força jurídica que aqueles expresso no art. 37 da CF/88. Desta maneira, podemos concluir que o regime jurídico da administração é o conjunto de regras que o ordenamento jurídico confere ao Poder Público, incluindo-se direitos e obrigações, para que através delas ele possa alcançar o interesse primário do Estado, qual seja, o bem comum. 4.3 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Os princípios da administração pública são a maneira essencial para a análise de como a Gestão Pública deve atuar. Esses princípios foram consagrados na Constituição Federal Brasileira de 1998 (CF/88), que em seu artigo 37, determina: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi- ciência [...]” (BRASIL, 1988). Os princípios são ao mesmo tempo orientadores e determinantes da forma como o Estado, representado por seus gestores, podem e devem atuar, vamos a eles: Gestão Pública 32 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos a) Legalidade: é a obrigatoriedade dos agentes públicos de fazerem apenas o que está previsto na Lei. Enquanto ao particular (pessoa que está não em exercício de função pública) é permitido fazer tudo, exceto o que está proibido por lei; ao administrador (pessoa que está em exercício da função pública) é permitido apenas agir conforme o prescrito em lei. Essa é a primeira regra para o gestor público, na qual os atos administrativos praticados por um agente público durante o desempenho das atividades devem, impreterivelmente, estar previstos em lei. Ao cidadão é permitido fazer tudo, exceto o que é proibido por lei, enquanto para o gestor público é permitido fazer, exclusivamente o que é previsto em lei. b) Impessoalidade: a ação pública objetiva a finalidade pública, sem promover interesses pessoais. Este princípio pode ser dividido em duas partes: 1) Relação do indivíduo com a administração pública: O indivíduo, investido da função pública não pode utilizá-la em benefício ou interesse próprio. 2) Ao administrador público é vedada a autopromoção na forma do §1º do art. 37. O gestor público não pode agir em interesse próprio, seja ao nomear pessoa com a qual possua vínculo familiar, ou por uso da plataforma pública como meio de autopromoção em atos, programas e campanhas. c) Moralidade Administrativa: seguir padrões éticos e estabelecer os bons costumes como regra. Ao gestor público não é suficiente a obediência ao princípio da legalidade pois, aqueles que lidam com o interesse e patrimônio público devem, também, seguir padrões éticos esperados pela sociedade. Assim, este princípio visa estabelecer os bons costumes como regra da administração pública. O Nepotismo (favorecimento de parentes, ou amigos próximos, em detrimento de pessoas mais qualificadas) é uma prática que deve ser combatida com base no princípio da moralidade administrativa. Gestão Pública 33 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos d) Publicidade: todos os atos públicos, excetos casos previstos em lei, devem ser publicizados (tornados de conhecimento público). Este princípio atinge, além do aspecto da divulgação dos atos, a possibilidade de conhecimento da conduta interna dos funcionários públicos, do qual deriva a transparência ativa. Todos os atos públicos podem ser examinados por qualquer pessoa interessada, exceto em casos de necessidade de preservação da segurança previsto em lei. e) Eficiência: buscar sempre o melhor resultado e com o menor custo possível. O gestor público deve agir com presteza, perícia, em busca do melhor resultado e com o menor custo possível, no sentido econômico-jurídico. Para DI PIETRO: O princípio apresenta-se sob dois aspectos, podendo tanto ser conside- rado em relação à forma de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atuações e atribuições, para lo- grar os melhores resultados, como também em relação ao modo racional de se organizar, estruturar, disciplinar a administração pública, e também com o intuito de alcance de resultados na prestação do serviço público [...] (DI PIETRO, 2002). Figura 8: Princípios da Administração Pública Fonte: Elaborado pelo autor. Assim, é possível concluir que estes princípios consagrados na CF/88 são fundamentais para direcionar como o gestor deve atuar para implementação da ação pública. Gestão Pública 34 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Percebe-se que os princípios foram o acrônimo LIMPE, e estes revelam a forma de atuação do agente e do gestor público. Ressalte-se que os princípios não devem se sobrepor, em especial ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança jurídica e ao próprio Estado de direito (DI PIETRO, 2002). 4.4 ATOS ADMINISTRATIVOS Ato administrativo é uma declaração jurídica do Estado ou de quem o represente. Trata-se de uma manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que busca adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir ou declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si próprio. Os atos administrativo possuem 5 requisitos descritos no quadro a seguir: Requisito Descrição Competên- cia Apenas agente público que possua poder legal para desempenho regular e específi- co para as atribuições do seu cargo, podem fazer um ato administrativo. Finalidade A execução de todos os atos administrativos devem tomar como base o interesse público, qualquer desvio a isto invalida o ato. Forma Os atos administrativos devem ser formais, quase sempre de forma escrita, e devem atender o princípio de publicidade. Motivo É o porquê do ato, a situação imediata que autoriza ou exige o ato administrativo, ou seja, é a situação que determina a necessidade ou possibilita a atuação adminis- trativa proposta no ato. Objeto Conteúdo do ato, aquilo que o ato decide, enuncia, certifica, opina ou modifica na ordem jurídica. É a alteração jurídica que o ato causará. Quadro 7: Requisitos dos atos administrativos Fonte: Elaborado pelo autor Gestão Pública 35 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Além dos requisitos, os atos administrativos também possuem atributos, que são características inerentes à estes atos. Atributo Descrição Presunção de legitimi- dade Uma vez que o ato administrativo é praticado se presume que ele é legítimo. Ou seja, o ato tem eficácia plena desde o momento de sua edição, até sua futura revogação ou anulação. Imperatividade Permite que a administração pública, de modo unilateral, crie obriga- ções ou restrições para os administrados. Exigibilidade É a característica do Estado poder exigir de terceiros o cumprimento das obrigações que impôs. Auto-executoriedade O ato possui força executória desde a sua edição. Tipicidade O ato administrativo deve corresponder a figuras previamente estabe- lecidas pela lei como aptas a produzir certos resultados. Quadro 8: Atributos dos atos administrativos Fonte: Elaborado pelo autor Os atos administrativos são passíveis de anulação, revogação, convalidação, discricionariedade e vinculação. • Anulação: Atos viciados ou inválidos (ilegais) podem ser invalidados pela Administração Pública ou pelo Poder Judiciário. Os efeitos da anulação são retroativos (efeito ex tunc). • Revogação: É a extinção do ato administrativo discricionário, por questão de mérito. A revogação feita pela Administração Pública preserva os efeitos produzidos pelo ato anterior (efeito ex nunc). • Convalidação:É um ato jurídico que sana vício de um ato que o an- tecede. O efeito é retroativo, de modo que o ato antecedente passa a ser considerado como válido desde a sua produção inicial. • Discricionariedade: Os atos discricionários são caracterizados pela permissão de escolha e decisão, dentro dos limites legais. • Vinculação: Os atos vinculados não possuem discricionariedade (não há margem para tomada de decisão). A lei determina como deverá ser praticado o ato. 4.5 PODERES ADMINISTRATIVOS Os poderes administrativo são utilizados na Administração Pública para impor obrigações e garantir os deveres das pessoas que estão sob sua tutela. Gestão Pública 36 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos São seis os poderes, conforme a seguir: • Poder vinculado: o agente público não tem poder de escolha, sua única possibilidade é seguir o que está disposto da lei. • Poder discricionário: o agente público tem relativa liberdade de es- colha (ao contrário do poder vinculado) para praticar os atos admi- nistrativos, dentro dos limites da lei. • Poder hierárquico: é o responsável pela distribuição das funções nos órgãos públicos e pelo estabelecimento das relações de subor- dinação. • Poder de polícia: poder de limitar os direitos tanto coletivos, quanto individuais, com o intuito de garantir a ordem pública. • Poder disciplinar: é a competência para punir as infrações de agen- tes públicos. • Poder regulamentar: é o poder conferido aos chefes do Executivo (Federal, Estaduais e Municipais), que não pode ser delegado. Figura 9: Infográfico sobre os poderes adminstrativos. Fonte: /i1.wp.com Gestão Pública 37 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 4.6 DEVERES DOS AGENTES PÚBLICOS O artigo 116, da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, estabelece quais são os deveres dos servidores públicos, e por extensão tais deveres são aplicados também aos gestores e agentes públicos: I – exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; II – ser leal às instituições a que servir; III – observar as normas legais e regulamentares; IV – cumprir as ordens superiores, exceto quando manifesta- mente ilegais; V – atender com presteza: a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública. VI – levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração; VII – zelar pela economia do material e a conservação do pa- trimônio público; VIII – guardar sigilo sobre assunto da repartição; IX – manter conduta compatível com a moralidade adminis- trativa; X – ser assíduo e pontual ao serviço; XI – tratar com urbanidade as pessoas; XII – representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. (Redação dada pela Lei no 12.527, de 2011). Os agentes públicos estão sujeitos à responsabilização civil, penal e administrativa decorrentes do exercício de seu cargo, emprego ou função. Além disso, possuem responsabilidade por atos de improbidade administrativa, que produz efeitos mais amplos (além dos patrimoniais) pois pode levar à suspensão dos direitos políticos e à perda do cargo. (DI PIETRO, 2018). Gestão Pública 38 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Esses são conhecimentos de grande relevância sobre administração pública seja na visão de cidadão, para o exercício da cidadania plena, assim como na visão de agentes e gestores públicos para o correto entendimento de suas funções, limitações, formas de atuação e responsabilidades. Nesse sentido, as noções básicas de direito administração são elementos essenciais ao exercício da função pública, e sua análise leva ao pleno entendimento dos limites e dos meios necessários à gestão pública. Gestão Pública 39 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 5. RELAÇÕES E PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS Ao analisar as relações entre o Estado e o setor privado, Costin (2010) aponta a evolução institucional no ambiente de investimentos que favoreceu a ampliação do investimento privado e permitirão o estabelecimento de relações e parcerias entre governos e empresas, e afirma que “esses avanços não seriam possíveis sem uma enorme transformação na Constituição, nas leis e nas regulamentações” (COSTIN, 2010). Entre esses avanços a autora destaca a publicação da Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada (PPP) no âmbito da administração pública. Mas antes de falarmos sobre as PPPs é necessário entender o modelo de concessão e as diferenças entre esses modelos. 5.1 CONCESSÕES Conforme estabelecido no inciso II do art. 2º da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, a concessão de serviço público é a “delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstrem capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco, e por prazo determinado”. Di Pietro (2018) afirma que não existe uniformidade de pensamento entre os doutrinadores na definição do instituto da concessão, tendo como ponto comum em todas as modalidades de concessão, a reserva que o concedente faz de alguns direitos, poderes e vantagens, tais como os de rescisão unilateral do contrato, fiscalização, punição etc. No que diz respeito ao objeto da concessão, existem várias modalidades sujeitas a regime jurídico parcialmente diferenciado: Gestão Pública 40 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Modalidade Fundamentação Característica concessão de serviço público Lei 8.987/95 a remuneração básica decorre de tarifa paga pelo usuário ou outra forma de remuneração decorrente da própria ex- ploração do serviço concessão patro- cinada Lei 11.079/04 se conjugam a tarifa paga pelos usuários e a contrapresta- ção pecuniária do concedente (parceiro público) ao conces- sionário (parceiro privado) concessão admi- nistrativa Lei 11.079/04 tem por objeto a prestação de serviço de que a Administra- ção Pública seja a usuária direta ou indireta, nessa modali- dade, a remuneração básica é constituída por contrapresta- ção feita pelo parceiro público ao parceiro privado concessão de obra pública Lei 8.987/95 ou Lei 11.079/04 tem como finalidade a construção, conservação, reforma, melhoramento de quaisquer obras de interesse público, de- legada pelo poder público, mediante concorrência, a pessoa jurídica ou consórcio de empresas concessão de uso de bem público Legislação esparsa pode ter ou não a exploração do bem Quadro 9: Modalidades de Concessão Fonte: Adaptado de Di Pietro, 2018. Cabe ressaltar que em muitos contratos, existe a conjugação de diferentes modalidades, em que uma constitui o objeto principal e, a outra, o acessório. Como exemplo, na concessão de uma rodovia, o objeto é a construção, ampliação ou reforma de obra pública, que pode ser acompanhada da exploração comercial da obra para fins de remuneração do concessionário; mas o mesmo contrato envolve, em regra, a utilização de bens do patrimônio público (DI PIETRO, 2018). Assim, pode-se definir concessão como: o contrato administrativo pelo qual a Administração confere ao particular a execução remunerada de serviço público, de obra pública ou de serviço de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ou lhe cede o uso de bem público, para que o explore pelo prazo e nas condi- ções regulamentares e contratuais. (DI PIETRO, 2018). Enquanto as concessões são consideradas autossustentáveis as PPPs são socialmente justificáveis, porém insustentáveis do ponto de vista do investimento privado. Assim, conforme a Lei 11.079/2004: Não constitui parceria público-privada a concessão comum, assim enten- dida a concessãode serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando não envolver contrapres- tação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado. Gestão Pública 41 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Pode-se dizer que a diferença básica entre parceria público-privada e concessão comum é a remuneração do parceiro privado, pois enquanto nas concessões comuns a remuneração do concessionário advém exclusivamente das tarifas cobradas aos usuários, nas parcerias público-privadas há pagamento de contraprestação pela Administração Pública, com ou sem cobrança de tarifa dos usuários. 5.2 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS (PPPS) Entre os diferentes meio para a realização da ação pública que são adotados pelo Estado brasileiro, estão as Parcerias Público-Privadas (PPPs). As PPPs apresentam um conjunto de regras, restrições, modalidades e aplicações que as tornam diversas e complexas, como veremos a seguir. PPPs podem ser entendidas como: o ajuste firmado entre Administração Pública e a iniciativa privada, tendo por objeto a implantação e a oferta de empreendimento destinado à frui- ção direta ou indireta da coletividade, incumbindo-se a iniciativa privada da sua estruturação, financiamento, execução, conservação e operação, durante todo o prazo estipulado para a parceria, e cumprindo ao Poder Público assegurar as condições de exploração e remuneração pelo par- ceiro privado, nos termos do que for ajustado, e respeitada a parcela de risco assumida por uma e outra das partes (MARQUES NETO, 2017). Historicamente o modelo das PPPs foi criado junto com o Modelo da Administração Pública Gerencial no Reino Unido, sendo importante instrumento para atração e captação de investimentos do capital privado. As PPPs são especialmente importantes num contexto em que o Estado precisa fazer investimentos mas não pode arcar financeira e gerencialmente com tais empreendimentos. Definição Legal: De acordo com a Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004, PPP é o “contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa”. E estabelece as seguintes modalidades: Gestão Pública 42 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos a) Patrocinada: a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que envolvem, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários, contrapres- tação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado (parte do paga- mento é feita pelos usuários dos serviços e parte é feita pela Administra- ção Pública); b) Administrativa: contrato de prestação de serviços no qual a Adminis- tração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva exe- cução de obra ou fornecimento e instalação de bens (o pagamento ao prestador do serviço é feito unicamente pela Administração Pública). A mesma lei estabelece que “Não constitui parceria público-privada a concessão comum, [...] quando não envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.” De maneira resumida podemos conceituar PPP como um contrato firmado entre o setor público e uma empresa privada para que esta última preste determinado serviço mediante pagamento. A Lei nº 11.079/2004, determina condições específicas para que uma PPP possa ser estabelecida, conforme a seguir: Condições Descrição Valores o valor do contrato não pode ser inferior à 10 milhões de reais Duração o período da prestação de serviço deve durar entre 5 e 35 anos Serviços não devem ser celebrados contratos que tenham como objeto único o forne- cimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra pública Quadro 10: Condições para PPPs Fonte: Elaborado pelo autor. Gestão Pública 43 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Cláusulas Obrigatórias: 1. Prazo de vigência do contrato Se refere à determinação do prazo de contrato que, não pode ser inferior a cinco anos e nem superior a 35 anos, incluindo eventual prorrogação. Além disso, é necessário o estabelecimento de uma correlação entre o prazo de vigência contratual e a amortização dos investimentos realizados, de modo a não onerar desnecessariamente o caixa do Estado de longo prazo e, de outro lado que o tempo seja não seja suficiente para o retorno dos investimentos. (MARQUES NETO, 2017). 2. Repartição de riscos A matriz de risco deve considerar a capacidade de gerenciamento dos riscos por cada uma das partes com relação a cada específico risco, que pode inclusive ajudar na resolução de conflitos de maneira eficiente. Marques Neto (2017) argumenta que um “bom contrato de PPP deve prever, além da alocação clara e racional de riscos, o método e o procedimento para fazer frente à dinâmica destes riscos ao longo do prazo da parceria”. 3. Formas de remuneração e de atualização dos valores contratuais A Lei determina que as formas de remuneração e de atualização sejam especificamente discriminadas, sendo admitidos os seguintes modos de contraprestação da Administração Pública ao parceiro privado, sem prejuízo de outros meios disciplinados em lei: ordem bancária; cessão de créditos não tributários; outorga de direitos em face da Administração Pública; e outorga de direitos sobre bens públicos dominicais. Gestão Pública 44 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 4. Garantias As garantias devem estar detalhadas no contrato, as quais podem ser: vinculação de receitas; instituição de fundos especiais com previsão legal; contratação de seguro-garantia com companhias seguradoras que não sejam controladas pelo Poder Público; garantias prestadas por organismos internacionais ou instituições financeiras que não sejam controladas pelo Poder Público; e garantias prestadas por fundo garantidor ou empresa estatal criada para essa finalidade. Além disso, a Lei 11.079/2004 criou o Fundo Garantidor de Parcerias Público- Privadas (FGP) que tem como finalidade a prestação garantia de pagamento de obrigações pecuniárias assumidas por parceiros públicos federais, estaduais, distritais e municipais. Quanto às garantias prestadas pelos particulares, é determinado pela Lei que as garantias de execução apresentadas pelos particulares devem ser compatíveis com os ônus e riscos envolvidos. 5. Regime sancionatório contratual O contrato deve prever hipóteses de inadimplência, que incluem: mora, prazo de regularização, acionamento das garantias e penalidades aplicáveis à Administração Pública e ao parceiro privado em casos de inadimplemento. O regime sancionatório contratual deve ser estabelecido de modo a atender a proporcionalidade e compatibilização com normas regulatórias. Ressalte-se que, em respeito à legalidade, as sanções não podem ser criadas nos contratos de PPPs, mas as suas aplicações e dosimetria devem ser especificadas nas cláusulas contratuais. Assim, as infrações que ensejarem a aplicação de penalidades devem estar definidas no contrato, estabelecendo-se maior previsibilidade e segurança jurídica na configuração do inadimplemento. (MARQUES NETO, 2017). Gestão Pública 45 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 6. Outras cláusulas obrigatórias Outras cláusulas obrigatórias que devem constar nos contratos de PPP são: a) a vistoria de bens reversíveis; b) os critérios de avaliação de desempenho do particular; c) os mecanismos para a preservação da atualidade da prestação dos serviços; d) o compartilhamento com a Administração Pública de ganhos econômicos efetivos do parceiro privado decorrentes da redução do risco de crédito dos financiamentos; e e) o cronograma de repasse de aportes de recursos. Vantagens e Desvantagens: O principal argumento em favor das PPPs é que por meio deste tipo de parceria a Administração Pública consegue delegar serviços à iniciativa privada, reduzindo a necessidade de atuação direta do Estado. Por meio das PPPs também é possível viabilizar projetos que financeiramente não são atrativos sob o enfoque do investimento privado, mas são socialmente necessários e economicamenteviáveis sob a ótica pública. Outro argumento favorável é em relação ao tempo de execução, pois nesse tipo de parceira o pagamento da Administração Pública à empresa executora é feito somente na conclusão do serviço, tornando assim de interesse da empresa executora a conclusão de maneira mais rápida. Entretanto, existem também argumentos contra as PPPs, entre as quais podemos relacionar a perda de controle, em vista da Administração Pública não atuar diretamente, o que pode ensejar em problemas de qualidade. Além disso, outro argumento contrário é relacionado à corrupção. Considerando o grande vulto de investimentos as PPPs podem ser origem de casos de relações promíscuas entre agentes públicos e agentes privados. Desafios e perspectivas das PPPs: Um dos desafios relacionados à adoção das PPPs como instrumento para ação pública é a necessidade de maturidade do modelo e o aprendizado que é obtido com as experiências. Gestão Pública 46 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Marques Neto (2017) aponta que entre os principais desafios que precisam ser enfrentados para plena alavancagem das PPPs no Brasil, é a capacitação dos agentes públicos para lidar com a complexidade das PPPs. O autor também argumenta que “é preciso desenvolver a técnica de aferição de indicadores de desempenho dos parceiros privados, bem como modificar a cultura e parâmetros usualmente utilizados para definir o value for money”. Para além dos destravamentos necessários ao bom uso das PPPs novas perspectivas deveriam ser tratadas pela alta gestão do executivo e também pelos nossos legisladores, no sentido de ampliar as possibilidade de uso das PPPs, ou mesmo viabilizar arranjos mais arrojados e inovadores e novos mecanismos de garantias para a União, estados e municípios. Para que seja possível o avanço, é necessário que o Brasil continue o processo de consolidação da democracia e do Estado de direito, além de uma mudança cultural. Costin (2010) afirma que seria necessário “um esforço para substituir uma cultura burocrática, baseada nos controles sobre rituais e no intenso uso de documentos, por uma cultura mais administrativa, baseada nos resultados apresentados”. Gestão Pública 47 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 6. MODELOS CONTEMPORÂNEOS E INOVAÇÕES NA GESTÃO PÚBLICA Podemos dizer que a administração burocrática não se preocupava com o cidadão, no que se refere à qualidade de atendimento e ao atendimento das necessidades, pois seu foco estava voltado exclusivamente para procedimentos internos, ou seja, voltada para aspectos internos. Como vimos, novos modelos de administração foram sendo desenvolvidos e implementados ao longos dos anos em diversos países e também no Brasil. Costin (2010), destacou 9 (nove) momentos para tentar reconstruir as linhas gerais da evolução da administração pública no Brasil: a Administração Colonial; • o Brasil como sede do império português; • o Império (1o reinado, regências e 2o reinado); • a República Velha; • o varguismo e a implantação da Reforma de 1936; • o desenvolvimentismo e o início da Reforma do Ministério da Fa- zenda; • o regime militar, o estatismo, a modernização e a Reforma de 1967; • a democratização e o retorno ao formalismo; • a reforma da Gestão Pública de 1995. O momento subsequente, ou seja o décimo, pode ter traduzido como o momento contemporâneo que estamos vivenciando, chamado transformação digital. Matias-Pereira (2016) afirma que as transformações em curso no mundo contemporâneo, estão provocando incertezas no ambiente, mas por outro lado, também geram novas oportunidades e impulsionam avanços tanto no setor privado como no público. Gestão Pública 48 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos 6.1 PRESSUPOSTOS DA GESTÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA A prestação de serviços públicos deve ser orientada pela eficiência, eficácia e a efetividade. Enquanto eficiência tem por objetivo a redução de custos e aumento da produtividade; eficácia é relacionada a verificação entre os resultados alcançados e os objetivos pretendidos; já efetividade tem como medida os impactos e efeitos. Já não basta para a gestão pública buscar apenas a dimensão econômico- financeira, ou seja, a busca pela eficiência. O entendimento do cidadão enquanto usuário/cliente traz consigo a necessidade de vislumbrar a melhoria da qualidade dos serviços prestados de maneira que sejam percebidas por estes. Além disso, elementos como participação social, representatividade, diversidade e equidade trazem para a dimensão sócio-política a discussão sobre cidadania e a cobrança sobre efetividade. Conceito Definição eficiência é a dimensão do desempenho expressa pela relação do processo en- volvido, seu meio. Assim, possui foco interno e refere-se aos CUSTOS envolvidos. eficácia é a dimensão do desempenho expressa pelo alcance dos objetivos ou metas, independentemente dos custos implicados. Possui foco externo e refere-se aos RESULTADOS. efetividade é a dimensão do desempenho que representa a relação entre os resul- tados alcançados e as transformações ocorridas. Possui foco externo e refere-se aos IMPACTOS. Quadro 11: Eficiência, Eficácia e Efetividade Fonte: Adaptado de SÁ (2014). Gestão Pública 49 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Figura 10: Quadro comparativo Fonte: SÁ (2014) De maneira resumida eficiência é quando algo é realizado da melhor maneira possível, ou seja, com o menor desperdício ou em menor tempo. eficácia é quando os resultados foram alcançados; e efetividade é a capacidade de gerar um efeito real ou impacto (a relação entre os resultados alcançados e as transformações ocorridas). 6.2 DIGITALIZAÇÃO, DIGITIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DIGITAL O desafio para os gestores público é o de entender as necessidades do cidadão e simplificar o seu relacionamento. Sem isso, podemos dizer que a relação cidadão-estado continuará sendo vista como uma prestação de serviços precarizada, que não os satisfaz. Nesse contexto, que o é chamado de transformação digital pode ser considerado como uma forma de otimizar e repensar processos. Antes de falarmos sobre transformação digital é necessário conceituarmos os processos de digitalização e digitização. Gestão Pública 50 Volte ao Sumário Navegue entre os capítulos Digitalização é um conceito mais conhecido, que pode ser definido como o processo pelo qual um determinado documento ou dado analógico é digitalizado. O processo clássico de digitalização é feito por meio de um scanner e mais recentemente por meio de fotos em aparelhos mobiles. O processo de digitalização tem como um dos grandes expoentes o Reconhecimento Ótico de Caracteres ou OCR (Optical Character Recognition) por meio do qual é possível obter um arquivo de texto editável por um computador. Combinado com outras tecnologias, como a inteligência artificial, diversas empresas têm desenvolvido aplicações para automatizar processos de cadastro, extrair informações de documentos, contratos, etc. O termo digitização (digitalization) se refere ao processo de tornar os procedimentos de um negócio em formato digital. Mas há grande confusão também de digitização com transformação digital. No processo de digitização é feita a transformação dos processos da organização para o formato digital são realizadas inovações no sentido de automação de rotinas. Já o processo de transformação digital é mais disruptivo, pois pode ser tido como uma reinvenção ou até mesmo a desmaterialização de um negócio, que no contexto da Indústria 4.0, é o próximo estágio com relação à transformação que os recursos digitais provocarão nas organizações, como veremos a seguir. 6.3 TRANSFORMAÇÃO DIGITAL A transformação digital vem acontecendo em diversos setores e no serviço público não poderia ser diferente. Locadoras de filmes e a venda de música em diversos formatos foram substituídas por serviços de streaming. Para agregar mais um exemplo, vimos o poder das aplicativos (apps) substituírem os modelos