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Glomérulos são tufos de capilares situados entre as arteríolas aferentes e eferentes. Esses capilares estão dispostos em lóbulos e são sustentados por pedículos formados por células mesangiais e matriz extracelular semelhante à membrana basal. A membrana dos glomérulos é formada por três camadas estruturais: • camada de células endoteliais que revestem a superfície mais interna do capilar; • membrana basal constituída por uma rede de proteínas matriciais; • camada de células epiteliais que circunda a superfície mais externa do capilar e recobre a superfície mais interna da cápsula de Bowman. As células epiteliais estão ligadas à membrana basal por prolongamentos longos semelhantes a pés (podócitos), que circundam a superfície externa dos capilares. A membrana capilar glomerular tem permeabilidade seletiva, ou seja, possibilita que água e partículas pequenas (p. ex., eletrólitos e moléculas dissolvidas, inclusive glicose e aminoácidos) deixem o sangue e entrem no espaço de Bowman; ao mesmo tempo, impedem que partículas maiores (p. ex., proteínas plasmáticas e células sanguíneas) saiam do sangue. Existem muitas formas de doença glomerular com uma patogênese que se relaciona de maneira variável com a presença de mutações genéticas, infecção, exposição a toxinas, autoimunidade, aterosclerose, hipertensão, embolia, trombose ou diabetes melito. 1. Lesão resultante de anticorpos que reagem com antígenos glomerulares fixos ou antígenos depositados dentro do glomérulo. 2. Lesão resultante de complexos antígeno-anticorpo circulantes retidos na membrana glomerular. Os antígenos responsáveis pelo desenvolvimento da reação imune podem ter origem endógena, como autoanticorpos contra o ácido desoxirribonucleico (DNA) no LES, ou podem ser exógenos, como os antígenos da membrana dos estreptococos na glomerulonefrite pós- estreptocócica. Em muitos casos, a origem do antígeno não é conhecida. As alterações celulares na doença glomerular aumentam as contagens de células glomerulares ou inflamatórias (proliferativas ou hipercelulares), causam espessamento da membrana basal (membranosa) e acarretam alterações dos componentes não celulares do glomérulo (esclerose e fibrose). O aumento da quantidade de células caracteriza-se por uma ou mais das seguintes alterações: proliferação das células endoteliais ou mesangiais, infiltração de leucócitos (neutrófilos, monócitos e linfócitos em alguns casos) e formação de crescentes (acúmulos com formato de crescentes de células epiteliais em proliferação e leucócitos infiltrantes) no espaço de Bowman. O espessamento da membrana basal consiste em deposição de material acelular denso nas superfícies endotelial e epitelial da membrana basal, ou dentro da própria membrana. “Esclerose” é o termo usado para descrever um aumento da quantidade de material extracelular nos tecidos mesangiais, subendoteliais ou subepiteliais do glomérulo, enquanto “fibrose” refere-se à deposição de fibras de colágeno. As alterações glomerulares podem ser difusas, ou seja, envolvendo todos os glomérulos e todos os seus componentes; focais, quando apenas alguns glomérulos são afetados; segmentares, quando há envolvimento apenas de determinado segmento de cada glomérulo; ou mesangiais, quando as células mesangiais são afetadas. Mutações genéticas: que produzem doença familiar ou um efeito fundador: a síndrome nefrótica congênita resultante de mutações em NPHS1 (nefrina) e NPHS2 (podocina) afeta os poros da membrana da fenda por ocasião do nascimento, enquanto as mutações em TRPC6 nos canais catiônicos produzem glomerulosclerose segmentar focal (GESF) no adulto; Hipertensão sistêmica e a aterosclerose: podem produzir um estresse tensional, isquemia ou oxidantes lipídicos que dão origem a uma glomerulosclerose crônica. A hipertensão maligna pode rapidamente complicar a glomerulosclerose com necrose fibrinoide das arteríolas e dos glomérulos, microangiopatia trombótica e lesão renal aguda. Nefropatia diabética: é uma lesão esclerótica adquirida, associada ao espessamento da MBG secundária aos efeitos de longa duração da hiperglicemia, aos produtos finais da glicosilação avançada e a espécies reativas do oxigênio. Inflamação: dos capilares glomerulares é denominada glomerulonefrite. A maioria dos antígenos glomerulares ou mesangiais envolvidos na glomerulonefrite imunomediada é desconhecida. As células epiteliais ou mesangiais glomerulares podem descamar ou expressar epítopos que simulam outras proteínas imunogênicas produzidas em outros locais no corpo. Bactérias, fungos e vírus podem infectar diretamente os rins, produzindo seus próprios antígenos. Doenças autoimunes: como a glomerulonefrite membranosa (GNM) idiopática ou a GNMP estão limitadas ao rim, enquanto doenças inflamatórias sistêmicas, como a nefrite lúpica ou a granulomatose com poliangeíte, propagam-se para o rim e causam lesão glomerular secundária. A doença antimembrana basal glomerular que produz a síndrome de Goodpasture lesiona primariamente tanto o pulmão quanto o rim, devido à estreita distribuição do domínio α3 NC1 do colágeno tipo IV que é o antígeno-alvo. A ativação local de receptores semelhante ao Toll nas células glomerulares, a deposição de imunocomplexos ou a lesão infligida pelo complemento às estruturas glomerulares induz a infiltração de células mononucleares, que subsequentemente produz uma resposta imune adaptativa atraída ao rim pela liberação local de quimiocinas. Neutrófilos, macrófagos e células T são atraídos pelas quimiocinas para o interior do tufo glomerular, onde reagem com antígenos e epítopos sobre ou próximo às células somáticas ou suas estruturas, produzindo mais citocinas e proteases que lesionam o mesângio, os capilares e/ou a MBG. Enquanto a resposta imune adaptativa assemelha-se àquela de outros tecidos, a ativação precoce das células T desempenha um papel importante no mecanismo da glomerulonefrite. Os antígenos apresentados pelas moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) classe II nos macrófagos e nas células dendríticas em combinação com moléculas de reconhecimento associativo participam do repertório das células T CD4/8. As células mononucleares, por si só, podem lesionar o rim, porém os eventos autoimunes que lesionam os glomérulos produzem classicamente uma resposta imune humoral. Tipicamente, glomerulonefrite pós-estreptocócica, nefrite lúpica e nefrite membranosa idiopática estão associadas aos imunodepósitos ao longo da MBG, enquanto anticorpos anti-MBG produzem a ligação linear da doença anti-MBG. Os imunocomplexos circulantes pré-formados podem sofrer precipitação ao longo do lado subendotelial da MBG, enquanto outros imunodepósitos são formados in situ sobre o lado subepitelial. Esses últimos depósitos se acumulam quando os autoanticorpos circulantes encontram seu antígeno encarcerado ao longo da borda subepitelial da MBG. Os imunodepósitos no mesângio glomerular podem resultar da deposição de complexos circulantes pré-formados ou de interações antígeno-anticorpo in situ. Os imunodepósitos estimulam a liberação de proteases locais e ativam a cascata do complemento, produzindo complexos de ataque C5-9. Além disso, os oxidantes locais lesam as estruturas glomerulares, produzindo proteinúria e apagamento dos podócitos. • Glomerulonefrite pós-estreptocócica • Endocardite Bacteriana Subaguda • Nefrite Lúpica • Doença Antimembrana Basal Glomerular • Nefropatia por IgA • Vasculite de Pequenos Vasos Induzida por Anca • Glomerulonefrite Membranoproliferativa • Glomerulonefrite Mesangioproliferativa Decorre do processo inflamatório do capilar glomerular. Caracteriza-se por disfunção renal de início abrupto e manifesta-se por oligúia, edema, hipertensão aterial, hematúria com cilindros hemáticos, proteinúriadiscreta ou moderada e retenção de compostos nitrogenados (azotemia). Ocorre redução na TFG e na fração de filtração – o fluxo plasmático renal pode não alterar, manter-se um pouco acima dos níveis normais ou sofrer queda, sempre menor que a fração de filtração. As funções tubulares são normais ou pouco alteradas, embora haja retenção de sódio e água, e consequente edema. No início ou durante a evolução podem faltar alguns elementos ou surgir certas complicações: • Insuficiência Renal Aguda • Encefalopatia Hipertensiva • Edema Pulmonar É um processo inflamatório intraglomerular caracterizado por disfunção renal. Pode ser aguda, subaguda ou crônica. Pode ser causada por doença renal intrínseca ou constituir parte da doença sistêmica As síndromes nefríticas desencadeiam uma resposta inflamatória proliferativa, enquanto a síndrome nefrótica aumenta a permeabilidade do glomérulo. Como a maioria das doenças glomerulares pode causar síndromes nefrítica e nefrótica mistas, o diagnóstico definitivo geralmente depende de biopsia renal. É a segunda causa mais frequente de insuficiência renal em todo o mundo e ocupa o terceiro lugar (depois do diabetes e da hipertensão) entre as causas de doença renal crônica nos EUA. Existem muitas causas de doença glomerular. A glomerulonefrite pode ser um distúrbio primário, no qual a anormalidade glomerular é o único problema existente; ou pode ser uma condição secundária, na qual a anormalidade glomerular resulta de outra doença, inclusive diabetes melito ou LES. Varia de forma considerável de acordo com a glomerulopatia que a causa. De forma geral, a mais prevalente é a glomerulonefrite pós-estreptocócica, predominando na população masculina dos 6 aos 10 anos. Entretanto, a faixa etária mais prevalente depende da doença específica, variando entre a primeira década de vida e após os 50 anos. As causas clássicas são: • glomerulonefrite infecciosa pós-infecciosa • nefropatia por imunoglobulina A (NIgA) • nefrite lúpida. A NIgA constitui a causa mais comum de glomerulonefrite no mundo inteiro. Um subgrupo de glomerulonefrite aguda, conhecido como glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNPR) pode manifestar-se com insuficiência renal grave e progressiva. Como exemplos há a doença de Goodpasture, poliartrite e granulomatose de Wegener Glomerulonefrites são a causa mais importante de Síndrome Nefrítica GLOMERULONEFRITE PÓS-INFECCIOSA AGUDA Ocorre depois da infecção por algumas cepas de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, e é causada pela deposição de imunocomplexos de anticorpo e antígenos bacterianos. Isso também pode ocorrer depois de infecções por outros microrganismos, inclusive estafilococos, vírus (p. ex., vírus da hepatite) e vários parasitas. Embora essa doença seja encontrada principalmente nas crianças, todas as faixas etárias podem ser afetadas. A fase aguda caracteriza-se por crescimento difuso e hipercelularidade dos glomérulos. A hipercelularidade é causada por infiltração de leucócitos (neutrófilos e monócitos) e pela proliferação das células endoteliais e mesangiais. Também há edema das células endoteliais. A combinação de proliferação, edema e infiltração por leucócitos fecha os lumens dos capilares glomerulares. Também pode haver edema e inflamação do interstício, e os túbulos comumente contêm hemácias. Nas primeiras semanas da doença, a microscopia de imunofluorescência geralmente mostra depósitos granulares de IgG e componente C3 do complemento no mesângio e ao longo da membrana basal. Os casos clássicos começam depois de uma infecção estreptocócica 7 a 12 dias antes. Esse é o intervalo necessário à produção dos anticorpos. Em geral, a infecção primária afeta a faringe, mas a pele também pode ser afetada. Uma das primeiras manifestações clínicas é oligúria, que ocorre à medida que a TFG diminui. Proteinúria e hematúria são consequentes ao aumento da permeabilidade das membranas dos capilares glomerulares. As substâncias na urina destroem as hemácias, e urina marrom-escura pode ser o primeiro sinal dessa síndrome. A retenção de sódio e água causa edema (principalmente da face e das mãos) e hipertensão. Entre as anormalidades laboratoriais significativas, observam-se aumentos dos títulos de anticorpo antiestreptocócico (ASO), redução das concentrações séricas de C3 e outros componentes do sistema complemento e formação de crioglobulinas (i. e., imunocomplexos grandes) no soro. GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA É uma síndrome clínica que se caracteriza por sinais e sintomas de lesão glomerular grave, sem uma causa específica determinável. Como seu nome sugere, esse tipo de glomerulonefrite é rapidamente progressivo, em geral no intervalo de alguns meses. A doença consiste em proliferação focal e segmentar das células glomerulares e recrutamento de monócitos e macrófagos com formação de estruturas com configuração de crescentes, que fecham o espaço de Bowman. A glomerulonefrite rapidamente progressiva pode ser causada por algumas doenças imunes, condições sistêmicas e patologias limitadas aos rins. Entre as doenças associadas, estão distúrbios imunes complexos como LES, vasculites de pequenos vasos (p. ex., poliangiite microscópica) e uma doença conhecida como síndrome de Goodpasture. Síndrome de Goodpasture. É uma forma rara e agressiva de glomerulonefrite causada por anticorpos dirigidos contra as membranas basais dos glomérulos (MBG) e dos alvéolos. Os anticorpos anti-MBG têm reatividade cruzada com a membrana basal dos alvéolos pulmonares e são responsáveis pela síndrome de hemorragia pulmonar associada à insuficiência renal. A alteração histopatológica típica da glomerulonefrite por anticorpos anti-MBG é a coloração linear difusa das membranas basais para IgG. A etiologia dessa síndrome é desconhecida, embora tenham sido implicadas infecções por vírus influenza, exposição aos hidrocarbonetos solventes (encontrados nas tintas e nos corantes), vários fármacos e câncer em alguns casos. Acredita-se que a síndrome de Goodpasture tenha predisposição genética, mas isso não está comprovado. Caracteriza-se por um processo inflamatório. O grau de inflamação glomerular determina, em parte, a gravidade da disfunção renal e as manifestações clínicas associadas. Muitas das glomerulopatias apresentam distúrbios imunológicos subjacentes. É causada por processos inflamatórios que obstruem os lumens dos capilares glomerulares e lesam a parede capilar. Essa lesão da parede capilar possibilita que as hemácias entrem na urina e causa as alterações hemodinâmicas que reduzem a TFG. Acumulação extracelular de líquidos, hipertensão e edema ocorrem em consequência da TFG reduzida e da reabsorção tubular aumentada de sal e água. Existem dois mecanismos básicos de lesão glomerular mediada por anticorpos: • Anticorpos que se ligam a um componente estrutural do outro material implantado nos glomérulos. Por exemplo, pode ter a formação de anticorpos circulantes dirigidos contra a membrana basal glomerular (MBG), como na doença de Goodpasture. • Formação de complexos antígeno-anticorpo circulantes que escapam do sistema reticuloendotelial e se depositam nos glomérulos. São exemplos os complexos de DNA- nucleossomo no LES e crioglobulinas na GNMP relacionada com a hepatite C. Outras doenças como a glomerulonefrite pós- estreptocócica envolvem o depósito de um antígeno nos glomérulos com a subsequente ativação do complemento. Esse processo pode resultar em lesão tecidual direta ou levar a reação inflamatória com a proliferação de células glomerulares intrínsecas, como as células mensangiais, endoteliais e epiteliais. Nos casos graves podem ocorrer a obliteração do lúmen capilar glomerular, e a ruptura do glomérulo no espaço de Bowman com a consequente formação de crescentes Edema, oligúriaou sintomas urêmicos. Muitos pacientes apresentam hipertensão, que pode ser maligna em alguns casos. Outros achados no exame físico dependem do distúrbio subjacente. Por exemplo, observa-se exantema malar e ulceras orais no LES, e ocorre púrpura palpável na púrpura de Henoch-Schonlein e na crioglobulinemia. Exame de Urina: pode apresentar hematúria macroscópica, descrita como urina cor de chá ou coca- cola. O exame microscópio revela eritrócitos dismórficos ou deformados em consequência do estresse osmótico e químico que sofrem quando passam pelo néfron. Os eritrócitos urinários com vesículas ou projeções ‘’semelhantes a bolhas’’ da membrana (acantócitos) fornecem uma forte evidência de causa glomerular para a hematúria. Podem ser observados cilindros hemáticos. A excreção urinária de proteína varia, porém geralmente é inferior a 3g de proteína por dia. A proteinúria pode ser quantificada mediante coleta de urina 24h ou ser estimada com base em uma única amostra de urina. Bioquímica do Soro: Deve-se obter um perfil bioquímico para avaliar o estado eletrolítico e estimar a TFG, a fim de documentar o grau da disfunção renal. Hemograma completo: revela anemia e possivelmente trombocitopenia ou leucopenia, conforme observado no LES. Outros exames: hemoculturas se houver febre e sopro cardíaco, títulos de antiestreptolisina O (ALSO) na faringite ou pesquisa para hepatite e crioglobulinas se for obtida história de uso de drogas intravenosas ou se houver hepatomegalia. Níveis de complemento, anticorpos anticitoplasma de neutrófilos, antiMBG e marcadores de doença por imunocomplexos, como FAN e antiDNA. Exames de Imagem: Raio X de tórax pode relevar edema pulmonar ou achados sugestivos de granulomatose de Wegener ou doença de Goodpasture. ECG: pode identificar derrame pericárdico ou endocardite USG renal: é frequentemente realizada na TFG diminuída, a fim de avaliar o tamanho dos rins. Um rim com tamanho <9cm pode sugerir fibrose renal extensa com baixa probabilidade de reversibilidade. Biópsia renal: é realizada para estabelecimento do diagnóstico definitivo, mostrando-se útil para diferenciar as causas primárias das secundárias da doença renal, bem como os subtipos de LES. A biópsia renal possibilita o estabelecimento de um diagnóstico rápido nos casos de GNRP, em que o diagnóstico e tratamento imediatos são fundamentais para preservar a função renal, também pode fornecer informações sobre o nível de inflamação, extensão da fibrose e prognóstico global. JAMESON, J L.; FAUCI, Anthony S.; KASPER, Dennis L.; et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Grupo A, 2019. 9788580556346. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978858 0556346/. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021. 9788527737876. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978852 7737876/.
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