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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Exame genitália criança e adolescente O ginecologista da infância e da adolescência necessita ter formação e experiência suficientes para atender as crianças e adolescentes com uma visão integral, priorizando não somente a medicina curativa, mas também a prevenção, a orientação e a educação (JÚNIOR et al., 2021). ATENÇÃO: Uma consulta ginecológica malconduzida na infância pode gerar um processo de inadequação importante para as futuras consultas ginecológicas dessa criança (JÚNIOR et al., 2021). CONSULTA GINECOLÓGICA ↠ O especialista deve estar capacitado para criar uma condição favorável ao exame ginecológico, junto à paciente e a seus acompanhantes, enfatizando a importância deste e tranquilizando-os quanto ao procedimento que será realizado (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Deve tentar obter a colaboração dos responsáveis no sentido de compreenderem a necessidade do acompanhamento ginecológico desde a mais tenra idade. Dessa forma, na segunda infância a menina estará familiarizada com a rotina do exame e esclarecida sobre as modificações de seu corpo como parte natural do processo de amadurecimento, desenvolvendo também maior responsabilidade pela sua saúde (JÚNIOR et al., 2021). ↠ O ambiente ideal para o atendimento ginecopediátrico necessita ser tranquilo, confortável, agradável, ter privacidade e ser adequado à faixa etária. Conversar diretamente com a criança no momento de sua chegada, recebê-la pelo nome e não se dirigir somente aos adultos responsáveis pode estimular a empatia e melhorar a relação do profissional com a pequena paciente. A anamnese minuciosa será realizada na presença da mãe e/ou responsável. No entanto, o questionamento deverá ser dirigido à criança e complementado pelas informações do acompanhante, principalmente sobre o motivo do comparecimento ao consultório (JÚNIOR et al., 2021). Na anamnese da primeira infância muitas vezes a comunicação não é verbal e os gestos se revestem de grande valia, pois transmitem segurança, confiança e afeto. O esclarecimento sobre as etapas do exame a ser realizado é primordial para diminuir a ansiedade. Esse conhecimento, transmitido pelo médico, leva a criança e a pequena jovem a sentirem-se valorizadas como pessoas, com opiniões e expressões próprias (JÚNIOR et al., 2021). ↠ O exame físico deve ser inicialmente geral e depois ginecológico, completo, meticuloso, delicado e sistematizado. Meninas nas fases pré-puberal e puberal geralmente apresentam maior resistência e se sentem mais constrangidas para a realização do exame físico e ginecológico. Se possível, deve-se propor que o exame clínico seja realizado em uma próxima consulta, caso não se trate de uma urgência na qual o exame seja imprescindível; pode-se propor também realizar somente o exame físico, para ganhar a confiança da pequena paciente, e deixar o ginecológico para uma próxima oportunidade (JÚNIOR et al., 2021). PECULIARIDADES DO EXAME GINECOLÓGICO NAS DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS DA CRIANÇA RECÉM-NASCIDA OU NEONATA ↠ Huffman reforça a necessidade de realizar o primeiro exame ginecológico ainda na sala de parto pelo neonatologista e, eventualmente, pelo ginecologista. A observação minuciosa permite detectar precocemente não só as malformações como também hérnias gonadais, genitália ambígua e tumores (JÚNIOR et al., 2021). • Exame clínico geral: nesse momento podem ser detectadas anomalias vinculadas ao desenvolvimento genital, como nanismo pituitário, transtornos tireoidianos congênitos, hiperplasia de suprarrenal, entre outros. O diagnóstico precoce de uma afecção como a disgenesia gonadal é de suma importância, pois existem alterações que podem afetar de modo irreversível o futuro da menina • Palpação abdominal e da região inguinal: pesquisam- se principalmente massas tumorais e hérnias na região inguinal. Tanto nas neonatas como na primeira e segunda infâncias, os tumores são intra-abdominais e não intrapélvicos, pela especial configuração da cavidade pélvica nessas idades e à localização alta das gônadas. A palpação de uma tumoração na região hipogástrica obriga o profissional a investigar e comprovar a permeabilidade da vagina, descartando a possibilidade de um mucocolpo que simule um tumor. A constatação de massa pequena e firme na região inguinal deve levantar a suspeita de gônada feminina ou masculina no interior do saco herniário; nesses casos a investigação de distúrbios da diferenciação sexual é obrigatória. • Exames das mamas: a mais frequente causa de consulta é a presença de intumescimento dos brotos mamários. À expressão da glândula, pode estar presente uma secreção constituída por uma mistura de colostro e leite, denominada comumente “leite de bruxa”. Nenhuma manobra, como massagens ou extração manual, deve ser realizada. Esse efeito desaparece entre 15-20 dias, mas o botão mamário pode persistir até 2 anos de idade sem ser patológico. Deve-se observar o número de glândulas e papilas mamárias. A anomalia congênita mais frequente nessa faixa etária é a politelia. 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Exame ginecológico: A neonata não oferece resistência ao exame; é uma cliente passiva e fácil de ser avaliada. Deve-se colocar a paciente em decúbito dorsal sobre a mesa ginecológica, ou no colo da mãe, e manter suas pernas em abdução (posição de rã), com os joelhos flexionados, bem separados, e a perna apoiada na cama. O aspecto da genitália externa apresentará variações que dependem do estado nutricional da pequena menina e do tempo de gestação. À inspeção da vulva, afastar as malformações congênitas como duplicação vulvar, prolapsos vaginais, prolapsos uterinos, agenesia vulvar e cisto do seio urogenital. Os prolapsos uterinos são raros, mas podem estar associados com meningocele. Diante de uma dessas patologias, sempre suspeitar de malformações dos genitais internos ou do trato urinário, bem como de espinha bífida. Principais características da genitália da recém-nascida • Grandes lábios: em dois terços dos casos, encobrem parcial ou totalmente as ninfas. Geralmente são volumosos, congestos e hipercrômicos e diminuem gradativamente, adquirindo seu aspecto definitivo na segunda infância. Na criança pós-matura ou pequena para a idade gestacional, a vulva é semelhante à das mulheres na senilidade (vulva senil neonatal). Nas apresentações pélvicas, é comum edema e/ou infusão hemorrágica dos grandes lábios, que desaparece nas primeiras 72 horas e não exige tratamento. Os edemas volumosos de grandes lábios são raros; quando ocorrem, podem determinar uma compressão periuretral e, consequentemente, disúria ou anúria. • Pequenos lábios: geralmente se encontram espessos no primeiro mês e se tornam mais finos na infância. Nas prematuras, os pequenos lábios são comparativamente mais desenvolvidos que os grandes lábios e pode-se observar aumento do clitóris. É frequente observar acúmulo de vérnix entre os grandes e os pequenos lábios. O vérnix permanece durante muitos dias: é um elemento de formação tardia no período gestacional. • Clitóris: na recém-nascida, é relativamente grande quando comparado às outras estruturas vulvares; em média tem entre 0,5-2 cm de comprimento por 0,3-0,9 cm de largura. Nos casos de hipertrofia de clitóris, deve-se realizar o diagnóstico diferencial entre hiperplasia de suprarrenal, uso de hormônios virilizantes pela mãe no primeiro trimestre da gravidez e tumor materno, como o arrenoblastoma. • Hímen: oclui aparentemente o introito vaginal. É relativamente espesso e proeminente; geralmente tem 0,4 cm de diâmetro e pode ser de difícil visualização pelo ingurgitamento e edema consequente ao alto teor hormonal a que a criança está submetida durante esse período. Na presença de dois orifícios himenais,deve-se descartar a existência de uma vagina dupla. A imperfuração himenal é excepcionalmente detectada nessa fase da vida; quando diagnosticada, a hipótese de agenesia vaginal tem de ser afastada. Pode-se observar pólipos himenais, sem importância patológica; geralmente involuem após os hormônios maternos serem eliminados. O hímen pode ser: (SILVA) ✓ Anular: circular ocupando todo o contorno no intróito vaginal (é o mais frequentemente visto). ✓ Rim posterior: ocupa apenas a porção posterior do intróito. ✓ Redundante: apresenta mucosa excedente que pode dificultar a visualização do intróito vaginal. ✓ Cribiforme: com microperfuração em toda a sua superfície, não impedindo mas dificultando a saída do fluxo menstrual. ✓ Septado: pérvio, porém com uma trave de tecido geralmente longitudinal. ✓ Imperfurado: Intróito vaginal obstruído por uma membrana himenal contínua, impedindo completamente a passagem do fluxo menstrual. Genitália externa feminina de criança. 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Meato uretral: é uma estrutura de difícil visualização. Pode estar encoberto por vérnix ou ser confundido com as dobras himenais. • Vagina: tem 4-4,5 cm de profundidade e sua mucosa é róseo-pálida, hiperplásica e apresenta conteúdo mucoide aumentado. As paredes têm pregas longitudinais na parte inferior e circulares na superior; os fundos de saco ainda não estão formados. Diante de uma genitália ambígua, é necessária a exploração da vagina; sua permeabilidade pode ser comprovada introduzindo-se uma sonda de nelaton n. 8 ou uma vela de Hegar n. 4 através do orifício himenal. A presença de mecônio na vagina pode sugerir uma fístula retovaginal • Exame retoabdominal: raramente utilizado; há condições de obter informações sobre os órgãos genitais internos por meio da ultrassonografia pélvica e/ou transperineal. Indicado nos casos de anomalias dos órgãos genitais externos ou suspeita de tumor. Na neonata, o útero mede aproximadamente 3,5-4 cm; logo diminui para 2,5 cm de comprimento e para apenas 0,5 cm de largura, mantendo-se assim até a segunda infância. Os ovários raramente são palpáveis; medem 0,5-1,5 cm de comprimento por 0,3-0,4 cm de largura (JÚNIOR et al., 2021). • Exame especular e colpovirgoscopia: há indicação nos casos de perda sanguínea por via vaginal. O instrumento utilizado deve ser o mais suave possível e o exame, realizado sob narcose. Utiliza-se: otoscópio infantil ou colpovirgoscópio de Bicalho ou histeroscópio. “CRISE GENITAL” DA RECÉM-NASCIDA Definida como o conjunto de elementos semiológicos que engloba edema vulvar, leucorreia, ingurgitamento mamário e/ou hemorragia genital. A hemorragia genital ocorre em 5-10% dos casos; aparece entre o 2º e o 5º dia após o nascimento e tem a duração de 2-3 dias. O fluxo geralmente é de pequena intensidade, mas às vezes adquire as características de uma hemorragia moderada (JÚNIOR et al., 2021). A causa desse sangramento é a descamação das células hipertrofiadas e hiperplásicas da endocérvice, que ocorre devido à diminuição dos hormônios placentários circulantes. O endométrio tem baixa sensibilidade aos hormônios nessa fase; é discutida sua participação na “hemorragia” (JÚNIOR et al., 2021). A crise genital é fisiológica, não existe tratamento e a regressão é espontânea. Caso dure mais de 6 dias, deve-se investigar, uma vez que pode ser o primeiro sinal de um tumor cervical ou vaginal (JÚNIOR et al., 2021). Durante esta inspeção pode-se encontrar a genitália bastante ingurgitada, com pequenos e grande lábios proeminentes, é a chamada “Crise genital”. Isso ocorre em resposta aos esteróides sexuais maternos que chegam até o feto ainda no intra-útero, em questão de poucos dias estas características de intumescimento desaparecem. Assim como a vulva, as mamas podem exibir sinais de ação hormonal, podendo ser identificado broto mamário uni ou bilateral, mas que também tende a desaparecer em alguns dias (SILVA). INFÂNCIA ↠ Segundo Sanfilippo, parece adequado que todos os provedores de assistência pediátrica primária incluam um exame genital, educacional, detalhado, a cada exame físico anual. Nessa faixa etária, primeira e segunda infâncias, é imprescindível explicar à criança como o exame será realizado; a atitude médica é de grande importância nesse momento. É preciso escutar sempre a criança e acreditar no que ela diz sentir; ter muito cuidado para não permitir que o adulto “fale pela paciente”. O diálogo com a mãe ou acompanhante será estabelecido posteriormente (JÚNIOR et al., 2021). As queixas mais frequentes nesse período são: corrimento vaginal, hiperemia e prurido vulvar, suspeita de violência sexual, dor abdominal, perda sanguínea por via vaginal, crescimento prematuro das mamas e/ou dos pelos pubianos, massas abdominais, coalescência de pequenos lábios, disúria e anomalias dos genitais (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Durante a anamnese, deve-se avaliar as condições do parto, doenças recentes (respiratória, intestinal) e o uso de antibióticos. Essas informações poderão ajudar a determinar a etiologia dos processos inflamatórios vulvovaginais. Jamais efetuar um exame à força, o que pode gerar forte rejeição a uma segunda consulta e acarretar consequências futuras no relacionamento sexual (JÚNIOR et al., 2021). Formas himenais. A: Hímen anular; B: Hímen septado; C: Hímen cribiforme. 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck Para as meninas entre 7-10 anos, a boa conduta é solicitar sua colaboração durante o procedimento; elas se sentirão úteis e se distrairão. É muito raro o profissional não conseguir vencer a resistência da minicliente e realizar, na primeira consulta, tanto o exame da genitália como a coleta do conteúdo vaginal, quando necessário (JÚNIOR et al., 2021). • Exame físico geral: geralmente, na primeira infância, até os 3-4 anos, a menina é levada pelo profissional ao exame sem resistência. Em qualquer idade, deve- se sempre deixar a pequena paciente com uma bata e lençol, e examinar seu corpo por partes. Certas anomalias observadas no período neonatal tendem a se manifestar com maior nitidez durante o desenvolvimento da menina, particularmente os estigmas das disgenesias gonadais. • Exame das mamas: sua realização na criança é muito simples, pois ela ainda não recebeu o estímulo hormonal. Pode-se constatar: anomalias congênitas, desenvolvimento prematuro das mamas (telarca precoce), nódulos, crescimento unilateral e/ou bilateral assimétrico. Deve-se estabelecer a correlação cronológica, obedecendo aos 5 estágios de Tanner. Se possível, medir as mamas para um futuro acompanhamento. As mensurações são realizadas a partir da linha axilar anterior até a papila e desta até o sulco mamário inferior. • Exame abdominal: deve-se palpar com suavidade procurando os pontos dolorosos. A palpação de tumores intraperitoneais, particularmente dos ovários, fica relativamente facilitada, pois eles não conseguem alojar-se na cavidade pélvica nessa faixa etária e são deslocados para o interior da cavidade abdominal. Verificar a presença de hérnias inguinais. • Exame ginecológico: Huffman recomenda não ter pressa para iniciar o exame. Uma forma de temor expressada particularmente pela família relaciona-se com o risco de ocorrer lesão da membrana himenal. O ginecologista deve adiantar-se em relação a essa preocupação; sempre mostrar ao responsável pela criança o orifício himenal por onde será realizada, se necessário, a coleta do conteúdo vaginal. Colocar a minipaciente em posição ginecológica: decúbito dorsal com as pernas separadas e flexionadas. Para a inspeção da vulva, segura-se parte dos grandes lábios com o polegar e o indicador, tracionando-os para a frente e ligeiramente para fora. A separação dos grandes lábios pode serrealizada pela própria paciente, caso ela não permita ser tocada. Com a queda dos estrógenos maternos circulantes, que ocorre entre o 10º e o 30º dia pós-natal, a vulva adquire características próprias, que se mantêm até os 7-8 anos, quando começam a aparecer os primeiros sinais de maturação sexual. Durante essa época, denominada “repouso genital”, as estruturas vulvares sofrem poucas alterações; a pele e a mucosa são delgadas e toda a área vulvar é mais seca, pois nessa idade não existe conteúdo vaginal fisiológico. Caso haja sinais de amadurecimento sexual, como turgência de grandes e pequenos lábios, presença de pelos pubianos e introito vaginal de coloração mais avermelhada e úmida, pode-se suspeitar de fonte estrogênica endógena (puberdade precoce, tumor de suprarrenal) ou exógena (iatrogênica, uso de cremes com estrogênio ou androgênio, ingestão de anabólicos). Principais características da genitália na infância • Grandes lábios: são finos, possuem escasso tecido adiposo subcutâneo e sua espessura depende do estado nutricional da menina. • Pequenos lábios: são delgados e não protegem o vestíbulo das infecções externas. • Clitóris: apresenta-se bem menor do que ao nascimento, e sua glande começa a ser visualizada. Pequenas hipertrofias podem ter causa idiopática. • Meato uretral: visível, encontra-se mais afastado do orifício himenal do que na neonata. • Hímen: membrana de espessura variável, com um orifício geralmente central e circular, de 0,5 cm de diâmetro. Entre 7-9 anos, mede cerca de 0,7 cm, e, na pré-menarca, 1 cm. O modo como ele se apresenta deve ser descrito no prontuário. • Vagina: a mucosa do introito vaginal é rósea, o epitélio é delgado e permite a visualização da vascularização. É importante essa observação, pois um examinador pouco experiente pode interpretá-la como vulvite. Do nascimento até 7- 8 anos de idade, a vagina aumenta 1 cm no comprimento, chegando a 5 cm; pode ter 8 cm aos 10 anos, e, com o começo da atividade ovariana, no momento da menarca, chega a medir 11,5 cm, à custa do fundo de saco posterior, que é o primeiro a se desenvolver. A vagina é o primeiro órgão que responde ao estímulo hormonal; após 8-9 anos, torna-se elástica e o conteúdo vaginal aparece pelo início da ação estrogênica. 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Exame retoabdominal: se necessário, realizar sob narcose e com o consentimento da paciente; pode ser substituído pela ecografia pélvica e/ou transperineal. É útil no diagnóstico diferencial entre imperfuração himenal e agenesia parcial ou total da vagina, assim como para detectar um corpo estranho endovaginal. O útero mede cerca de 3 cm de comprimento, sendo dois terços de colo. A relação colo-corpo uterino é de 2:1 na infância, passando para 1:1 até os 10 anos; aos 13 anos, é de 1:2 (JÚNIOR et al., 2021). • Exame especular e colpovirgoscopia: só realizar nos casos de perdas sanguíneas por via vaginal a esclarecer, corpo estranho, traumatismos e suspeita de tumor. Nessa faixa etária, após os exames físico e ginecológico, o médico deve discutir a sintomatologia e os achados do exame com a criança e o responsável que a acompanha (JÚNIOR et al., 2021). ADOLESCÊNCIA ↠ Um dos maiores objetivos a serem alcançados pelo profissional é conseguir que a adolescente se sinta responsável pela própria saúde, de forma integral. A atitude médica variará de acordo com as múltiplas circunstâncias, pois a fase da adolescência abrange mudanças bem notórias entre a primeira etapa (10-14 anos) – a puberal – e a posterior – a adolescência tardia (15-19 anos) (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Geralmente na etapa puberal as meninas comparecem à consulta acompanhadas pela mãe ou um responsável. Já as “adolescentes tardias” menos frequentemente se apresentam acompanhadas (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Quando as mães estão presentes, o diálogo se torna mais difícil. Na medida do possível, deve-se afastar a acompanhante da sala; haverá um grande enriquecimento no relacionamento médico-paciente. Mas a presença ou não da mãe durante a consulta e o exame ginecológico ficarão a critério da paciente (JÚNIOR et al., 2021). Durante o atendimento, orientar sobre a fisiologia do aparelho genital e a higiene corporal. Na consulta de adolescentes tardias, também orientar sobre condutas sexuais e a utilização de métodos contraceptivos (JÚNIOR et al., 2021). • Exame físico geral: avaliar dados antropométricos, estado geral, presença de hirsutismo e as fases de desenvolvimento das mamas e dos pelos pubianos (critérios de Tanner). • Exame das mamas: observar o desenvolvimento das mamas, número de glândulas mamárias e papilas e eventuais deformidades. A palpação tem a finalidade de pesquisar eventuais nódulos, e a assimetria mamária, se presente, será avaliada medindo-se as mamas. • Exame abdominal: as técnicas para o exame abdominal não diferem das utilizadas no período da infância; procurar áreas dolorosas, hérnias ou massas tumorais. • Exame ginecológico: colocar as pacientes em decúbito dorsal, na mesa ginecológica, com as pernas flexionadas e apoiadas. Pode-se utilizar foco luminoso com espelho, que permitirá à paciente acompanhar as etapas do exame, ouvindo as explicações do profissional. Principais características da genitália na adolescência • Grandes lábios: como o restante do aparelho genital externo, os grandes lábios estão sujeitos às variações endócrinas do ovário. A turgescência, a cor e a umidade dessas estruturas constituem um índice de funcionamento desse órgão. • Pequenos lábios: pequenos ou hipertróficos ou assimétricos, sem significado clínico. • Clitóris: segundo Huffman, a glande da menina entre 11-15 anos de idade não passa de 3 × 3 mm, e nas jovens entre 15-19 anos mede 5 × 5 mm. Na presença de hipertrofia do clitóris deve- se pensar em uma fonte androgênica. Os tumores virilizantes ovarianos são raros na puberdade, sendo a suprarrenal a causa mais frequente da estimulação virilizante. Uma glande de 10 mm já é considerada uma virilização importante. • Hímen: observar a integridade e a coloração. Os himens imperfurados requerem uma himenotomia simples antes da menarca e os tipos puntiformes, cribiforme e septado ou bifenestrado, antes do contato sexual. Muitas vezes, é no momento do exame da genitália que a adolescente admite ao médico que tem vida sexual. Caso o hímen esteja roto mas a cliente não o refira, o exame deve ser realizado como se ela fosse virgem. Ao médico não cabe o papel de “mostrar quem é que está certo” ou que “não está enganado”. Essa observação deve ser colocada no prontuário. • Vagina: sua permeabilidade pode ser comprovada por um estilete de ponta romba ou 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck sonda Nelaton n. 4 ou 6, ou por um histerômetro. Posteriormente, procede-se à coleta do conteúdo vaginal para citologia, exame a fresco e bacterioscopia pelo Gram. A vagina é rosada e úmida na puberdade; chega a 11,5 cm de comprimento, e nessa época se forma o fundo de saco posterior. Após a adolescência, aparecem os fundos de saco anterior e laterais.2 • Exame especular: na pós-menarca, a escolha do instrumental vai depender da integridade ou não do hímen. Quando está íntegro e o exame especular é necessário, pode-se utilizar o colpovirgoscópio de Bicalho; se a paciente já tem atividade sexual, o espéculo indicado é o de Collins pequeno ou o de Huffman, que mede 11 cm de comprimento, e valvas de 1 cm de largura. Observar as características do colo, a presença de ectrópio, cistos de Naboth e proceder à coleta para o exame citológico de Papanicolau. • Toque retal ou vaginal/abdominal: avaliar as condições dos órgãos genitais internos, suas características e eventuais patologias. O toque retal, se necessário, só deve ser realizadocom o consentimento da paciente, e praticamente é substituído pela ecografia pélvica e/ou transperineal ou transvaginal. O útero, após os 6- 7 anos, começa seu crescimento à custa do miométrio. Aos 10 anos, corpo e colo apresentam os mesmos diâmetros, reconhecidos ao toque como cordão mediano, longitudinal, sem angulação. Após a menarca, útero, tubas e ovários ocupam a cavidade pélvica. Depois dos exames físico e ginecológico, quando a paciente retorna à sala de entrevista, o médico deve discutir a sintomatologia e os achados do exame, com detalhes. Se a mãe a acompanha, deve ser perguntado à paciente se ela permite ou não que os assuntos sejam discutidos na sua presença. É extremamente importante para a paciente que as informações confidenciais não sejam divulgadas à mãe (JÚNIOR et al., 2021). Ao abordar a criança com idade superior a dois anos, além do consentimento do responsável, que a trás à consulta, deve haver também o consentimento da criança. O uso da força para a realização do exame físico não deve ser empregado, pois nesta idade a criança já guarda na memória o episódio ocorrido e cada consulta será um trauma (SILVA). Marcos na puberdade ↠ O desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários deverá se iniciar a partir dos 8 anos de idade. Estão incluídos neste desenvolvimento: as mamas, os pêlos pubianos e axilares, distribuição de gorduras com deposição em quadris e coxas e o estirão de crescimento (SILVA). Segundo Speroff, o desenvolvimento puberal segue uma ordem cronológica determinada, que pode apresentar variações ainda assim consideradas normais. A telarca, ou desenvolvimento das mamas costuma ser o primeiro evento, seguido da adrenarca (início da esteroidogênese adrenal, predominantemente de androgênios) que é concomitante à pubarca, que é o desenvolvimento dos pêlos pubianos (e axilares). O estirão de crescimento tem início simultâneo a este processo, desde o início da produção de estrogênios, mas o pico da velocidade de crescimento vai ocorrer cerca de 2 a 3 anos após a telarca, chegando a 10cm/ano (SILVA). CRITÉRIOS DE TANNER A sequência de eventos que caracterizam a maturação sexual tende a ser mais precoce no sexo feminino e se completa em um período de 2 a 5 anos. Nas meninas, esse processo tem início com o aparecimento do broto mamário, entre os 8 e os 13 anos de idade (PORTO, 2021). No sexo masculino, o primeiro indício de maturação sexual é o aumento dos testículos, que se dá em média aos 10,9 anos, podendo ocorrer entre os 9 e os 14 anos de idade. Esse evento é seguido pelo aparecimento de pelos pubianos, em média aos 11,9 anos, e pelo aumento do tamanho do pênis (PORTO, 2021). A sequência desses eventos foi estudada por Tanner e Marshall, que os classificaram em cinco etapas (estágios de Tanner) (PORTO, 2021). O desenvolvimento de mamas e pêlos ocorre segundo já padronizado nas pranchas de Tanner-Marshall, sendo classificado de M1 a M5 para mamas e de P1 a P5 para pelos (SILVA). ✓ M1= ausência completa de desenvolvimento mamário. ✓ M2= broto mamário (tecido glandular limitado à área retro- areolar da mama). ✓ M3= tecido glandular que extravasa os limites da aréola, de volumes variáveis. Os contornos mamários superior e inferior são arredondados. ✓ M4= caracterizado pela presença de “degrau” entre o tecido mamário e a aréola, como se esta última estivesse sobreposta à mama. ✓ M5= Mama adulta, já sem o aspecto de sobreposição areolar presente no M4, sendo o contorno superior da 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck mama mais retificado e a aréola mais pigmentada. O volume é variável, e em casos de mamas pequenas pode se confundir com M3, sendo diferenciada desta principalmente pelo formato. ✓ P1= ausência completa de pêlos pubianos ✓ P2= pêlos mais escuros e grossos, lisos ou encaracolados em região de fenda vulvar. ✓ P3= pêlos se estendem até o monte púbico, sem assumir ainda formato triangular de distribuição de pêlos. ✓ P4= pêlos assumem distribuição triangular. ✓ P5= pêlos se estendem em direção às raízes das coxas, sem entretanto extravasar destas regiões. SEXO FEMININO SEXO MASCULINO Es tá gi os d o de se nv ol vi m en to d os p el os p ub ia no s no s ex o fe m in in o (T an ne r e M ar sh all , 1 96 2) . Es tá gi os d o de se nv ol vi m en to d os g en ita is no s ex o m as cu lin o (T an ne r e M ar sh all , 1 96 2) . 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck Aproveitar o momento após o exame físico e esclarecer sobre o uso de preservativo (masculino e feminino) e dos contraceptivos para a prevenção de gravidez e infecções sexualmente transmissíveis (IST)/aids, enfatizando a dupla proteção (uso do preservativo associado a outro método contraceptivo). Para adolescentes que já iniciaram atividades sexuais, ou apresentaram algum problema geniturinário, ressaltar a higiene, o autocuidado e a prevenção de IST e gravidez (AZEVEDO et. al., 2019). Referências JÚNIOR, Dioclécio C.; BURNS, Dennis Alexander R.; LOPEZ, Fábio A. Tratado de pediatria. v.2. Editora Manole, 2021. SILVA, A. C. J. S. R. Semiologia em ginecologia na criança e na adolescente. AZEVEDO et. al. Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra. Sociedade Brasileira de Pediatria, n. 10, 2019. PORTO, C. C. Semiologia médica, 8ª edição – Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 2021. Es tá gi os d o de se nv ol vi m en to d os p el os p ub ia no s no s ex o m as cu lin o (T an ne r e M ar sh all , 1 96 2) .
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