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Emanuelle Ferreira SANGRAMENTO NO FINAL DA GESTAÇÃO • Nem todo sangramento na gestação é sinal de gravidade • São divididos em: - Sangramentos da primeira metade da gestação (até 20 semanas): Normalmente em razão de gestação ectópica, doença trofoblástica ou abortamento - Sangramentos da segunda metade da gestação: Normalmente por patologias placentárias, principalmente placenta prévia e descolamento prematura de placenta PLACENTA PRÉVIA • Conhecida também como placenta baixa • É a implantação da placenta sobre o orifício cervical interno (OCI), cobrindo-o total ou parcialmente ou próximo deste (margem placentária a menos de 5cm do OCI – placenta de inserção baixa) após a 28ª semana de gestação • Normalmente, a placenta termina formação após 13 semanas de gestação, sendo originada do tecido trofoblástico. Com o crescimento uterino, a placenta tende a ter localização mais alta, mais próxima ao fundo uterino. Porém, nos casos de placenta prévia, a placenta é mais localizada próxima ao colo do útero - Diagnósticos antes da 28ª semana pode ser incorreto pelo fenômeno da migração placentária • Incidência: 1/200 gestações ETIOLOGIA • Um dos fatores mais importantes no determinismo da PP é a vascularização deficiente da decídua -> a placenta procura se implantar em locais mais ricamente vascularizados (trofotropismo), que normalmente é no fundo uterino DANO ENDOMETRIAL • Fator de risco mais importante, pois a placenta se fixa em contato com o endométrio • Agressões prévias ao endométrio podem causar problemas de implantação - Cesáreas prévias: 4,5x após 1 cesárea e 40x após 4 cesáreas - Ocorre secção do endométrio, podendo gerar uma futura implantação não adequada - Multiparidade: relação 1:5 - Ocorre repetição de alterações e de invasão da placenta, aumentando a chance de - Idade materna avançada: aumenta 3,5x acima de 35 anos, devido ao desuso dos folículos - Curetagens, biópsias - Lesa várias partes do endométrio – em desuso - Endometrite (DIP, endometrite pós-parto) BAIXA NUTRIÇÃO / OXIGENAÇÃO PLACENTÁRIA • Fumantes e uso de cocaína • Residentes em altas altitudes • Gestação múltipla (nutrição inadequada dos bebês) • Isoimunização Rh (paciente Rh -, pai Rh +, segunda gestação adiante) Emanuelle Ferreira CLASSIFICAÇÃO • Leva em conta a relação da placenta com o colo uterino • Placenta prévia total ou oclusiva completa (estágio 4): recobre totalmente a área do OCI – forma clássica - Contraindicação de parto normal, pois pode ocorrer descolamento da placenta e hemorragia • Placenta prévia parcial ou oclusiva parcial (estágio 3): recobre parcialmente o OCI, apenas um pedaço acima do orifício - CI de parto normal • Placenta marginal (estágio 2): a borda da placenta alcança o OCI - CI RELATIVA de parto normal, acompanhamento cauteloso • Placenta prévia lateral ou baixa (estágio 1): implantação encontra-se no segmento inferior a menos de 5cm do OCI - CI RELATIVA de parto normal, acompanhamento cauteloso DIAGNÓSTICO CLÍNICO • Sangue VERMELHO VIVO: Intermitente, Indolor, Imotivado (sem motivo, traumatismo ou esforço) → 3 I’S DA PLACENTA PRÉVIA - Sangramento sempre se exterioriza - Episódios costumam ser repetidos • BCF sem alteração: normalmente não leva a sofrimento fetal • Tônus uterino normal • Exame especular: Exame indispensável. Colo se encontra congesto/vascularizado (em razão da invasão trofoblástica) e entreaberto (em razão da força da placenta), com presença de sangue no canal cervical • Toque vaginal DEVE SER EVITADO e deve ter abstinência sexual • É um quadro autolimitado (ao contrário do descolamento de placenta, que tem alta mortalidade) ULTRASSONOGRÁFICO • Acurácia de 95% • Visualização de placentas recobrindo o OCI • Preferência pelo exame transvaginal • Placenta de inserção baixa entre 16-20 semanas: achado frequente, 90% de resolução até as 30 semanas Emanuelle Ferreira DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • DPP • Rotura uterina • Rotura de Vasa Prévia (VP) • Rotura do seio marginal • Lesões cervicais: tumorações, inflamações, pólipos • Lesões na vagina ou vulva MANEJO • O tratamento depende da idade gestacional • 1 ou 2º trimestre e sangramento leve: - Repouso relativo - Abstinência sexual • IG < 36/37 semanas com sangramento: - Corticoide: utilizado para amadurecimento pulmonar fetal - Avaliação laboratorial: Procurar anemia, problemas de coagulação, etc - Avaliar necessidade de hemotransfusão: se caso de anemia severa - Interrupção da gestação se condição materna ou fetal deteriorar: instabilidade hemodinâmica, sofrimento fetal ou piora do sangramento • IG ≥ 35/37 semanas com sangramento: - Interrupção da gestação - Prevalência pela via alta - CESÁREA (via baixa somente em casos de placenta marginal ou lateral, porém com monitorização contínua) - Suporte hemodinâmico materno se necessário COMPLICAÇÕES • Parto pré-termo: 16% das mulheres com placenta prévia evoluem para trabalho de parto espontâneo • Rupreme: Ruptura prematura das membranas, levando ao rompimento da bolsa antes do trabalho de parto - Se ocorrer ruptura de bolsa antes de 34 semanas, espera-se a maturação do feto para interrupção da gravidez. - Porém, nos casos de a IG ser menor que 34 semanas e haver risco de infecção, pode-se interromper antes • Hemorragia grave -> menor contratilidade do útero • Acretismo placentário: Implantação que invade o miométrio de maneira patológica Emanuelle Ferreira DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA (DPP) • Separação abrupta da placenta e do útero entre a 20ª semana até antes do parto - Em um trabalho de parto normal, o momento em que a placenta deveria descolar é na 3 fase do parto • Incidência: 1 a 2 de cada 100 nascimentos • Morbidade materna: 1 a 2% (hipovolemia, anemia, coagulopatia, hemotransfusão, cesariana de emergência, histerectomia e até morte) • Morbidade perinatal: 40 a 80% (prematuridade, baixo peso ao nascer e sofrimento fetal ETIOLOGIA • Fatores que fazem com que a pressão intrauterina altere de forma muito abrupta • HAS (50% dos casos de DPP não traumático): Gestante pode ter picos hipertensivos • Pré-eclâmpsia/eclâmpsia: Ocorre falha da invasão trofoblástica, o que gera uma resistência placentária muito grande • Multiparidade • DPP anterior • Tabagismo e drogadição -> hipoperfusão -> isquemia, necrose, ruptura vascular e hemorragia • Desnutrição materna • Trombofilias • Brevidade do cordão umbilical: Cordão umbilical curto puxa a placenta no momento do parto • Trauma materno-> acidente automobilístico, agressão física • Descompressão uterina rápida • Implantação placentária sobre anomalia uterina: Pólipos endometriais, miomas, etc • Rupreme pré-termo FISIOPATOLOGIA • A rotura de vasos matemos na decídua basal (hemorragia decidual) inicia o DPP • Consequentemente, forma-se o hematoma retroplacentário que tende a invadir a placenta e cria uma erosão na superfície placentária • Tal processo aumenta a área de descolamento, provocando maior extravasamento sanguíneo e aumentando o volume do coágulo -> leva a uma dissecação completa e irreversível • A placenta separada não é capaz de manter sua função de troca de gases e nutrientes, o feto torna-se progressivamente comprometido • Em 20% dos casos, a perda sanguínea restringe-se ao espaço retroplacentário e não ocorre sangramento vaginal -> “hemorragia oculta” Emanuelle Ferreira DIAGNÓSTICO • Quadro clínico variável, conforme o grau de descolamento da placenta. Pode ser assintomático até choque hipovolêmico • Sintomas mais frequentes: sangramento vaginal escuro, dor abdominal súbita, hipertonia uterina, sofrimento fetal agudo - Sangramento vaginal presente em 80% dos casos: Em alguns casos pode não sangrar e ser mais grave devido ao acúmulo de sangue no miométrio- Hemorragia pode permanecer oculta, invadir a cavidade amniótica (hemoâmnio) e o útero (útero de Couvelaire - edemaciado,arroxeado e com sufusões hemorrágicas.) • Paciente pode apresentar anemia aguda, hipotensão e choque • DOR abdominal: Irritação do miométrio, fazendo o útero ter tônus aumentado - Hipertonia uterina • Sofrimento fetal agudo: não há mais conexão de placenta e embrião - Cardiotocografia anormal em 58% dos casos • Análise da placenta pós-parto: para avaliar se foi retirada inteira, se tem hematoma (sinal de descolamento da placenta) • Complicações: CIVD (tromboplastina entra na circulação materna), necrose hipofisária (síndrome de Sheehan), insuficiência renal aguda (necrose tubular) CLASSIFICAÇÃO DE SHER EXAME FÍSICO • Pode apresentar hipertensão arterial, pré-choque ou choque hipovolêmico • Sinais de CIVD • Sangramento vaginal, aumento da altura uterina e útero hipertônico à palpação CONDUTA • Medidas de suporte hemodinâmico e rastreio de CIVD • Interrupção da gestação Emanuelle Ferreira - Feto morto: induzir parto para não prejudicar futuro obstétrico (literatura), mas cesária é feita também • Via de parto: a mais rápida (feto vivo) • Amniotomia → Romper a bolsa sempre que possível pois diminui tempo de parto e diminui o risco de passagem de tromboplastina tecidual (CIVD) ACRETISMO PLACENTÁRIO • Adesão patológica da placenta em relação à parede uterina • Classificação: - Acreta: aderência patológica do endométrio - Increta: invasão do miométrio - Percreta: atinge a serosa, com possibilidade de perfuração do útero e invasão de órgãos adjacentes • Incidência: 1 em cada 2500 nascimentos • Fator de risco: CESARIANAS PRÉVIAS e PP • Outros fatores de risco -> idade materna maior que 35 anos, multiparidade, defeitos endometriais (síndrome de Asherman), pequeno intervalo entre cesarianas, história de remoção manual da placenta, anomalias uterinas, fertilização in vitro, cirurgias uterinas prévias. leiomiomas submucosos e tabagismo DIAGNÓSTICO • USG -> quando a placenta é acreta, a área hipoecoica é perdida e a placenta aparece contígua à parede vesical • RNM -> examinar PPs posteriores, avaliar a extensão da placenta aos órgãos subjacentes e auxiliar no planejamento cirúrgico • Laboratoriais -> associação entre a placenta acreta e elevações inexplicadas da alfafetoproteína materna Emanuelle Ferreira MANEJO • Tratamento cirúrgico -> histerectomia total abdominal (única solução se increta ou percreta) - Realizar histerectomia logo após o nascimento do bebê, sem tentar remover a placenta • Placenta acreta -> tenta a extração manual da placenta ou realiza a histerectomia nos casos de insucesso • Tratamento conservador: metotrexato (na tentativa de soltar a placenta para retirada em outro momento) RUPTURA UTERINA • Separação completa das camadas uterinas, com saída de parte ou de todo o feto da cavidade uterina • Parcial -> serosa fica íntegra FATORES DE RISCO • Uso de misoprostol ou ocitocina em pacientes com cirurgia uterina prévia - NÃO SE INDUZ PARTO EM PACIENTES COM CIRURGIA UTERINA PRÉVIA (RETIRADA DE MIOMAS) • Insistência em parto de via baixo em casos de DCP (desproporção cefalo-pelvica) • Manobras intrapartos: Manobra de Kristeller (violência obstétrica) não é mais realizada • Uso inadequado do fórceps • Trabalho de parto após cesariana -> recomenda-se um tempo de cerca de 1 ano e 8 meses a 2 anos após a cesariana - 2 cesáreas ainda é contraindicação de nova cesárea. Se houver um espaço de tempo relativo entre elas, estudos mostram que não há tanto risco • Traumatismos Emanuelle Ferreira DIAGNÓSTICO • Sinal de Bandl (foto): Anel fibromuscular transversal no segmento inferior (útero em ampulheta) • Sinal de Frommel: Ligamentos redondos retesados e hipercontraídos • Dor súbita de forte intensidade seguida de cessação das contrações uterinas e da percepção de partes fetais a palpação do abdome materno - Não há mais dor ou contração em razão da ruptura do músculo uterino • Pode haver sinais de choque materno • Alto índice de mortalidade fetal e materna (dependendo do grau de hemorragia) • Ao toque vaginal, a subida da apresentação é o sinal mais importante -> Sinal de Reasens CONDUTA • A conduta cirúrgica pode variar desde uma simples rafia do útero até a histerectomia ROTURA DE VASA PRÉVIA • Anomalia de inserção do funículo umbilical na placenta, na qual os vasos umbilicais, que correm livres sobre as membranas, cruzam o segmento inferior uterino, e se colocam à frente da apresentação • Muitas vezes relacionada com inserção velamentosa -> os vasos sanguíneos deixam o cordão umbilical antes da inserção placentária e caminham, sem a proteção da geleia de Warthon, pela membrana ovular, até alcançar a massa placentária. • Grande comorbidade fetal quando há rompimento - Os vasos não estão protegidos pelo cordão umbilical - Os vasos estão soltos, apenas protegidos por uma membrana - Prejudica a nutrição do feto - Maior risco de rompimento quando ficam próximos à cabeça do bebê • Incidência: 1 em cada 3 mil nascimentos • Alta taxa de mortalidade fetal: 33 a 100% • Raro PROGNÓSTICO E CONDUTA • O prognóstico é pior quando a veia umbilical é acometida. Neste caso, a morte do feto é quase imediata • Melhor conduta na constatação de vasos prévios é a interrupção eletiva da gestação por via alta (cesariana), em todas as pacientes com 36 semanas ou mais • Quando o diagnóstico ocorre após a rotura desses vasos, trata-se de emergência obstétrica, e a cesárea de urgência é o procedimento escolhido
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