Prévia do material em texto
medvideos.com - ÍNDICE - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL (HYPOTHESIS) PRESCRIÇÃO DESAFIO DIAGNÓSTICO SÍNDROME METABÓLICA E ATEROSCLEROSE A SÍNDROME METABÓLICA A ATEROSCLEROSE HIPERTENSÃO ARTERIAL CONCEITOS GERAIS HIPERTENSÃO ARTERIAL SECUNDÁRIA COMPLICAÇÕES HIPERTENSIVAS AGUDAS DISLIPIDEMIAS METABOLISMO LIPÍDICO DISTÚRBIOS DO METABOLISMO LIPÍDICO TRATAMENTO APÊNDICE I SÍNDROME METABÓLICA I X PROVAS DE PEDIATRIA HIPERTENSÃO ARTERIALSÍNDROME METABÓLICA E DISLIPIDEMIA APÊNDICE II DISTRIBUIÇÃO EM PERCENTIS DA PRESSÃO ARTERIAL SEGUNDO PERCENTIS DE ESTATURA E IDADE (SEXO MASCULINO) – SBP – 2019 APÊNDICE III DISTRIBUIÇÃO EM PERCENTIS DA PRESSÃO ARTERIAL SEGUNDO PERCENTIS DE ESTATURA E IDADE (SEXO FEMININO) – SBP – 2019 medvideos.com medvideos.com Diagnóstico Diferencial - Síndrome Metabólica 1 Caso 1 Jorge, 45 anos, negro, contador, procurou atendimento médico a pedido da sua esposa, já que havia tempo que não avaliava sua saúde. Não é tabagista e não faz uso regular de medicação. Refere alimentação sem restrições, apreciando comidas mais salgadas e temperadas. Trabalha sentado no escritório a maior parte do dia. Não apresentava nenhuma queixa específica, mas apresentou ao exame, após três aferições sequenciais, média da pressão arterial = 150 x 94 mmHg (braço direito, sentado) e 148 x 92 mmHg (braço esquerdo, sentado). Outros dados anotados na avaliação: FC = 88 bpm, peso = 70 kg, altura = 1,60 m. ACV e AR sem alterações. Abdome flácido. Tofo gotoso no primeiro pododáctilo esquerdo. O médico então solicitou alguns exames e pediu que retornasse dentro de algumas semanas para reavaliação. Como não recebeu nenhuma medicação, resolveu buscar auxílio com o vizinho farmacêutico. Após aferir novamente a PA, espantou-se, pois ela agora estava em 120 x 80 mmHg. Podemos dizer que este paciente é hipertenso? Que avaliação adicional poderia nos ajudar nesse momento? Por enquanto, não: apenas uma consulta. Exames auxiliares: MAPA ou MRPA. Defina um plano terapêutico para Jorge. Terapia não medicamentosa: perda ponderal, atividade física, reduzir ingestão de sódio. Terapia medicamentosa: antagonista do cálcio. Tiazídico não seria boa opção (gota). IECA ou BRA-II não são as drogas com melhor reposta para os pacientes negros. medvideos.com Caso 2 Paciente de 65 anos, sexo feminino, recentemente diagnosticada como hipertensa, vem apresentando bastante dificuldade para obter o controle pressórico. Atualmente, ela faz uso de hidroclorotiazida 25 mg/dia, anlodipina 10 mg/dia e enalapril 20 mg/dia e mesmo assim a última PA aferida foi de 160 x 100 mmHg. No seu histórico, há descrição de internação hospitalar há dois meses por crise hipertensiva, quando sua pressão arterial chegou a 240 x 130 mmHg. Refere a presença de cãibra e constipação intestinal de aparecimento recente. Restante do exame físico sem alterações. A partir do esquema terapêutico e do controle pressórico, como podemos classificar o quadro dessa paciente? Hipertensão resistente. Cite três hipóteses diagnósticas e o tratamento para cada uma delas. Hiperaldosteronismo 1º: espironolactona e, se localizar adenoma de suprarrenal, ressecção. Hiperaldosteronismo 2º (HAS renovascular): IECA ou BRA-II e, se a estenose for por fibrodisplasia, programar angioplastia. Diuréticos: suspensão ou redução da dose. Caso 3 medvideos.com Marilda, 54 anos, sexo feminino, branca, hipertensa e diabética, embarcou hoje para uma viagem que tanto sonhara rumo à Espanha! No entanto, durante a viagem, além de ter seu sono interrompido por três crianças que ocupavam os assentos de trás e um passageiro ao lado que não parava de roncar, foi proibida de entrar no país por ser confundida com uma narcotraficante! Nervosa e assustada, passou a apresentar dor retroesternal súbita, de forte intensidade, irradiando para a região interescapular, além de sudorese fria e náusea. Ao exame: lúcida, agitada, PA = 180 x 120 mmHg (braço esquerdo), PA = 100 x 60 mmHg (braço direito), pálida, anictérica, acianótica, eupneica, FC = 100 bpm, FR = 16 ipm, MV universalmente audível, sem ruídos adventícios. RCR, bulhas normofonéticas, sopro diastólico aspirativo na borda esternal esquerda média. Abdome e membros inferiores sem alterações. Qual é o provável diagnóstico? Dissecção aórtica aguda. medvideos.com Qual é a conduta terapêutica indicada para o caso? Reduzir PA para 110 x 70 mmHg e FC para 60-70 bpm: betabloqueador IV ± nitroprussiato de sódio (ou labetalol IV). Cirurgia se dissecção tipo A (aorta ascendente). Esta mesma paciente, após iniciado o tratamento parenteral, evoluiu bem com seus níveis pressóricos controlados e recebeu alta da UTI. No quarto dia de internação, ainda sob controle estrito da PA, passou a apresentar náusea, confusão mental e acidose metabólica. Pergunta-se: O que está acontecendo nesse momento e como tratar essa condição? Intoxicação por nitroprussiato (cianeto e/ou tiocianato). Tratamento: reduzir/suspender nitroprussiato. Hidroxicobalamina (vit. B12). Nitrito de sódio ou tiosulfato de sódio. Realizar diálise. medvideos.com Caso 4 Joelma, 39 anos, branca, bancária, não está satisfeita com seu peso e procurou atendimento com um endocrinologista. Não apresentava queixas e nenhuma alteração específica foi encontrada no exame físico, exceto por discreto sobrepeso. O médico refere que o risco cardiovascular estimado para a paciente foi baixo, segundo alguns cálculos que fez em seu computador. Exames laboratoriais mostraram: Nome: Joelma Paixão Idade: 39 anos Glicose = 102 mg/dl. Colesterol total = 290 mg/dl. Triglicerídeos = 200 mg/dl. HDL-colesterol = 50 mg/dl. Creatinina = 0,8 mg/dl. Defina o plano terapêutico inicial mais adequado para esta paciente. Como o LDL-colesterol estimado é de 200 mg/dl, fica indicado o uso de terapia de alta intensidade com estatina. medvideos.com Prescrição Prescricao_Medica_Medclm03 AMS, 56 anos, sexo masculino, é trazido ao pronto-socorro torporoso, queixando-se há três dias de cefaleia com piora progressiva, hoje acompanhada por náuseas e vômitos. Familiar refere que o paciente é hipertenso, mas não faz uso regular de medicações. Ao exame físico, não apresenta rigidez de nuca, as pupilas são isocóricas e fotorreagentes e não mostra qualquer sinal de localização ao exame neurológico. PA = 240 x 150 mmHg; FC = 100 bpm; RCR; B4; ausência de sopros cardíacos. Peso estimado = 60 kg. Considerando o provável diagnóstico desse paciente, defina a prescrição que você estabeleceria para ele. MOMENTO 1: na internação hospitalar, logo que admitido na unidade: 1) Dieta oral zero. O paciente não pode receber dieta por via oral devido ao risco de broncoaspiração pelo rebaixamento de consciência. 2) Acesso venoso salinizado. Não colocar SF 0,9% devido ao grande aporte de sal com a solução. 3) Nitroprussiato de sódio 2 ml + soro glicosado 5% 248 ml. Infusão em bomba infusora a 9 ml/h. Por essa solução, obtemos uma concentração de 200 mcg/ml (a ampola de 2 ml de NPS tem 50 mg). A dose usual de NPS é de 0,5-5 mcg/kg/min. Num paciente de 60 kg, a infusão inicial seria de 9 ml/h com titulações na dose até o máximo de 90 ml/h. 4) Medida invasiva/não invasiva da pressão arterial. A gravidade do quadro, a dificuldade no controle da PA e a disponibilidade de cateter/profissional treinado para monitorização invasiva da pressão arterial definem a melhor forma de avaliá-la. Caso estejam disponíveis apenas aferições com o esfigmomanômetro, elas devem ser o mais regular possível. 5) Balanço hídrico. MOMENTO 2: após 48h da internação, quando o controle pressórico já foi obtido: 1) Dieta oral hipossódica, contendo até 6 g de sal/dia. Com o restabelecimento da dieta, o conteúdo de sódio deve ser reduzido. 2) Captopril VO 25 mg 8/8h. Com a retirada do NPS e do acesso venoso, drogas orais devem ser adicionadas para o controle pressórico. O captopril foi citado apenas pela disponibilidade e titulaçãoda droga. Outras drogas frequentemente utilizadas nesse contexto são os antagonistas de cálcio e a hidralazina. Caso a volemia do paciente esteja adequada, os diuréticos também podem ser inseridos. Desafio Diagnóstico Desafio_Diagnostico_Medclm03 medvideos.com Comia tranquilamente meu sanduíche de pão com queijo na sala dos médicos, num dos poucos momentos de calmaria daquele plantão, quando ouvi os gritos que vinham da Emergência: "Doutor?! Corre aqui..." Pronto... Sabia que não era um bom sinal. Abocanhei de uma só vez o sanduíche e fui ver a paciente que acabara de chegar. Um estagiário de enfermagem ajudou a colocar a paciente na maca da emergência e eu fui para o confronto diagnóstico. Em tela: paciente torporosa, respondendo com dificuldades às solicitações. PA = 60 x 40 mmHg. Um dos vizinhos contou que ela usava "remédios para pressão". Extremidades frias com enchimento capilar lentificado. Ausculta cardiovascular de difícil realização pela grande camada de tecido adiposo torácico. Consegui extrair da enferma a ausência de dor precordial. Leve taquipneia. Ausculta pulmonar normal. Para ganhar tempo — e organizar meu tirocínio diagnóstico — pedi ao residente que puncionasse um acesso venoso profundo e preparasse uma solução de noradrenalina e dobutamina. Enquanto ele realizava o procedimento, voltei para a sala dos médicos para pensar... medvideos.com Não se passaram nem 10min e um dos internos adentrou esbaforido: "— Professor, o residente está te chamando. A paciente está bem agitada e com 220 x 120 mmHg de PA". Desconfiado, imediatamente eu mesmo peguei o esfigmomanômetro e aferi a PA. 180 x 100 mmHg. Não entendi, será que tinha me esquecido da correta semiologia da PA?! Aferi novamente, agora estava em 120 x 80... Troquei de esfigmomanômetro 3 vezes, mas aquele quadro voltou a acontecer, exatamente da mesma forma, sub-repticiamente, a cada 2-4h. Não tive coragem de iniciar a dobutamina nos momentos de choque, muito menos o nitroprussiato (que também cheguei a preparar) nos momentos de crise hipertensiva sintomática. Fiquei entre a cruz e a espada e com um baita desafio diagnóstico. Não passaria o plantão sem, pelo menos, uma boa hipótese para o caso. Naquela noite não dormi. Às 6h45min estava na janela do meu quarto esperando pelo colega que iria me substituir. Quando avistei o seu carro cromado dobrando a esquina, em um estalo, vislumbrei o diagnóstico. Na mosca! Seguiam-se as perguntas... Qual o provável diagnóstico desta paciente e como você justificaria a alternância entre a crise hipertensiva sintomática e a hipotensão grave em tão pouco tempo? Feocromocitoma. As crises paroxísticas e sintomáticas de hipertensão são clássicas desta condição, estereotipadas. A alternância com hipotensão pode ser explicada por abuso prévio de anti-hipertensivos orais (que, apesar de determinar hipotensão arterial grave, podem não impedir as "crises" características da condição). Como confirmar sua hipótese? Dosagem de catecolaminas e metanefrinas em urina de 24h para o diagnóstico de feocromocitoma. Após confirmação: localizar tumor (TC/RM/PET). Comente a abordagem terapêutica. A abordagem deve ser cirúrgica com a seguinte rotina pré-operatória dez dias antes: iniciar fenoxibenzamina ou PRAZOSIN. Após o bloqueio alfa: betabloqueadores. medvideos.com SÍNDROME METABÓLICA E ATEROSCLEROSE A SÍNDROME METABÓLICA Você avalia um paciente no ambulatório. Ele tem obesidade, diabetes, hipertensão e dislipidemia. Será ele um azarado por ter todas essas condições ao mesmo tempo? Não exatamente. Na verdade, é provável que seja portador de uma síndrome: a Síndrome Metabólica (SM). Reunidos em torno de um elemento central – a resistência à insulina – ele acabou por desenvolver todos esses achados, que são os mais importantes fatores de risco para a aterosclerose! A partir desse momento, toda vez que aparecer uma questão de prova (e são muiiiiitas sobre este tema!) que comece por um caso clínico do tipo "paciente obeso, hipertenso, dislipidêmico..." você se lembrará desta síndrome. E como já faz no seu ambulatório deverá pensar: qual é a chance deste paciente ter doença aterosclerótica e o que posso fazer para evitar ou controlar a progressão dessa doença? medvideos.com Para fins didáticos, dividiremos a apostila de Síndrome Metabólica em dois módulos. Este primeiro está voltado para o estudo da hipertensão arterial e da dislipidemia! O segundo é dedicado ao diabetes mellitus e à obesidade. INTRODUÇÃO Video_01_Medclm03 Vejamos como a história já é bem conhecida por todos nós... Um paciente começa a ganhar peso, sobretudo à custa de gordura abdominal – fatores ambientais e genéticos estão envolvidos. Ao mesmo tempo, nota-se que a insulina passa a ter mais dificuldade de agir nos tecidos (fenômeno a que damos o nome de resistência à insulina). O que veio primeiro? Não se sabe ao certo, mas é fato que, em seguida, uma tendência à hiperglicemia se desenvolve e, de forma compensatória, teremos hiperinsulinemia e o ciclo se perpetua. Mas não acaba aí! Junto, temos a liberação de citocinas pelo mesmo tecido adiposo que se sobrepôs e que levam à disfunção vascular, distúrbios no perfil lipídico, hipertensão e inflamação vascular. Alguns anos se passam e o desfecho é até previsível: aterosclerose e doença cardiovascular! Resumindo, esta é a Síndrome Metabólica (SM), já chamada também de síndrome X, síndrome da resistência à insulina ou "quarteto da morte". O principal é perceber que, mais do que um simples diagnóstico, a SM é uma ideia. Inclusive, há diversos autores que questionam a existência de uma verdadeira síndrome, alegando que não se pode afirmar com certeza que há uma base fisiopatológica comum e que o termo poderia ser nada mais do que a reunião de fatores de risco... Mas isso não importa. O que a SM traz de mais importante é a reflexão: de que vale tratar a hipertensão arterial, se não reconhecermos que o paciente também é dislipidêmico? Ou então, tratar o diabetes, ignorando que seja obeso mórbido e dislipidêmico? Sabemos que o paciente, definido hoje como portador de SM, eleva em 2,5 vezes o seu risco de mortalidade cardiovascular. As estatísticas sobre prevalência variam de acordo com a etnia e a idade dos pacientes analisados. Segundo dados norte-americanos do NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey), os valores encontrados foram de 28% para homens e 30% para mulheres, aumentando conforme a idade. No Brasil, estudos mostram dados similares, em torno de 18 a 30%. Pode-se dizer, assim, que ela é mais prevalente nos idosos e mulheres. DIAGNÓSTICO Existem vários critérios para a definição da Síndrome Metabólica. Vejamos as características principais de cada um deles. ■ De acordo com a I Diretriz Brasileira para Síndrome Metabólica (I-DBSM) e o NCEP-ATP III (National Cholesterol Education Program's Adult Treatment Panel III), para confirmar a síndrome, o paciente deve ter pelo menos três dos cinco critérios descritos no QUADRO 1. Esse é o critério mais utilizado. medvideos.com Quadro 1 Critérios Diagnósticos para a Síndrome Metabólica (SM) Circunferência abdominal* ■Mulheres > 88 cm ■ Homens > 102 cm Pressão arterial sistólica ≥ 130 ou diastólica ≥ 85 mmHg+ Triglicerídeos ≥ 150 mg/dl HDL-colesterol++ ■Mulheres < 50 mg/dl ■ Homens < 40 mg/dl Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dl+++ *Observe que o critério de obesidade da síndrome metabólica não utiliza o Índice de Massa Corporal (IMC), mas sim a circunferência abdominal!!! +Em todas as situações, o paciente já em tratamento farmacológico para a condição também vale como critério diagnóstico (ex.: usuários de anti-hipertensivos). ++Embora o aumento do LDL-c não faça parte da síndrome metabólica, nesta síndrome há umaalteração qualitativa do LDL, que passa a ser constituído predominantemente por partículas pequenas e densas, com um potencial bem mais aterogênico. +++Inicialmente o valor utilizado para a glicemia foi de 110 mg/dl. ■O diagnóstico de SM também pode ser feito com base nos critérios da OMS, o que inclui: ❯ Em indivíduos com intolerância à glicose (TOTG ou glicemia de jejum), presença de dois ou mais dos seguintes fatores de risco: ● Hipertrigliceridemia ≥ 150 mg/dl; ● HDL ≤ 35 mg/dl para homens e ≤ 39 mg/dl para mulheres; ● PA ≥ 140 x 90 mmHg ou uso de medicação anti-hipertensiva; ● Relação cintura/quadril (RCR) > 0,9 (homens) ou ≥ 0,85 (mulheres) ou IMC ≥ 30 kg/m2; ● Microalbuminúria ≥ 20 µg/min ou relação albumina/creatinina ≥ 30 mg/g. ❯ Em indivíduos sem intolerância à glicose, presença de pelo menos dois dos critérios acima, associados à resistência à insulina (determinada pela insulina de jejum ou pelo HOMA-IR). ■Outro critério é o da International Diabetes Federation (IDF). Por ele, a obesidade é um elemento obrigatório, variando de acordo com sexo e etnia. A Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção de Aterosclerose utiliza esses valores como base também. Confiram: Brancos de origem europídea (europeus) e negros / Oriente Médio (H: ≥ 94 cm; M: ≥ 80 cm) Sul-asiáticos, ameríndios (América do Sul e Central) e chineses (H: ≥ 90 cm; M: ≥ 80 cm) e Japoneses (H: ≥ 85 cm; M: ≥ 90 cm)*. *Análise de dados subsequentes sugeriu que os japoneses utilizassem os mesmos valores que os demais asiáticos. Além da obesidade, o paciente deve ter pelo menos dois critérios a seguir:medvideos.com 1. Triglicerídeos ≥ 150 mg/dl ou em tratamento; 2. HDL < 40 mg/dl em homens ou < 50 mg/dl em mulheres; 3. PA sistólica ≥ 130 mmHg, diastólica ≥ 85 mmHg ou em tratamento; 4. Glicemia de jejum > 100 mg/dl ou DM 2 previamente diagnosticado. ■ Há ainda uma proposta tentando abranger a opinião desses mais importantes órgãos relacionados ao tema. Nela, os critérios estabelecidos pela NCEP permanecem válidos e se definiu que não haveria nenhum critério obrigatório. A grande diferença seria para o fato de que a circunferência abdominal deve estar de acordo com o perfil de cada população. Contudo, até que mais dados padronizados estejam disponíveis, para os não europeus seriam utilizados os valores da IDF que acabamos de colocar e que, para os europeus, poderiam ser usados os dados da IDF ou da NCEP. MANIFESTAÇÕES ASSOCIADAS Video_02_Medclm03 Além dos fatores que já compõem a síndrome como hipertensão e obesidade, o quadro clínico do portador de SM pode ser marcado por outros achados. É importante termos a noção de que a hiperinsulinemia gerada estimularia receptores de alguns tecidos não resistentes, provocando alterações tróficas. Os grandes representantes seriam a pele, o fígado e as células da teca ovariana, e deste estímulo teríamos, respectivamente: ■ Acantose nigricans: dermatose caracterizada por lesões hiperpigmentadas, aveludadas e hiperceratósicas, localizadas simetricamente nas axilas, dorso cervical e/ou virilhas. Existe também a acantose nigricans como síndrome paraneoplásica de alguns tumores, especialmente o câncer gástrico. Neste caso, a dermatose é mais difusa e pode acometer as mucosas e a região palmoplantar; ■ Esteatose hepática: acúmulo de gotículas lipídicas nos hepatócitos, provocando hepatomegalia e hiperecogenicidade característica à USG. Alguns desses pacientes evoluem com esteato-hepatite não alcoólica (NASH), uma desordem com potencial de evolução para cirrose hepática; ■Hiperandrogenismo: manifestando-se com hirsutismo, acne e implantação masculina dos pelos. Pode vir como um componente da síndrome dos ovários policísticos (Stein-Leventhal), caracterizada por múltiplos cistos ovarianos, amenorreia, esterilidade, além do hiperandrogenismo. Os ovários dessas pacientes produzem quantidade maior de testosterona pelas células da teca; ■Outros achados: hiperuricemia, síndrome da apneia do sono. medvideos.com RESIDÊNCIA MÉDICA – 2018 INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – IAMSPE Adolescente masculino, 13 anos, passou em consulta no posto de saúde com queixa de aparecimento de manchas escuras e ásperas em região cervical, axilar e periumbilical, sem prurido ou dor, mas que parecem estar aumentando. Ao exame físico, observa-se peso de 78 kg e estatura de 146 cm, índice de massa corpórea de 36,6 kg/m² e pressão arterial de 130 x 84 mmHg. Lesões com hiperqueratinas e hiperpigmentadas (cor marrom-escura). Assinale a alternativa que apresenta a hipótese mais provável para essas lesões de pele. a) Tinea corporis. b) Eritema marginatum. c) Dermatite de contato. d) Acantose nigricans. e) Dermatose. » As alterações descritas são características da acantose nigricans, hiperpigmentação da pele causada principalmente por fatores de crescimento que estimulam a proliferação de queratinócitos da epiderme e de fibroblastos da derme. Entre os fatores de crescimento, temos a própria insulina ou o IGF (fator de crescimento semelhante à insulina), bem como os fatores de crescimento epidérmico (EGF) e de fibroblastos (FGF). As lesões, encontradas tipicamente nos casos de obesidade com hiperinsulinismo, consistem em placas simétricas, hiperceratóticas, hiperpigmentadas, com linhas acentuadas nas regiões intertriginosas. A região cervical posterior e as axilas são os locais mais comuns, mas outras regiões podem ser acometidas. Nem precisamos saber qual o percentil de IMC deste adolescente para termos a certeza de que é um indivíduo obeso e que o objetivo inicial no tratamento é a perda ponderal. Resposta: letra D. Sinais periféricos de resistência à insulina. medvideos.com RESIDÊNCIA MÉDICA - 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO O dado que faz parte dos critérios para definição de síndrome metabólica é: a) Índice de massa corporal e pressão arterial. b) Circunferência abdominal e LDL-colesterol. c) HDL-colesterol e triglicerídeos séricos. d) Glicemia de jejum e colesterol total. e) Insulina sérica e peso corporal. » Questão conceitual sobre os critérios diagnósticos da síndrome metabólica. Os mais utilizados são os critérios da NCEP-ATP III. O paciente deve ter pelo menos 3 dos 5 critérios – obesidade central: cintura > 102 cm (homens) e > 88 cm (mulheres); hipertrigliceridemia: TG ≥ 150 mg/dl; HDL baixo: < 40 mg/dl (homens) e < 50 mg/dl (mulheres); hipertensão arterial: PA ≥ 130 x 85 mmHg ou tratamento anti-hipertensivo; glicemia de jejum alterada: glicemia de jejum ≥ 100 mg/dl ou diagnóstico prévio de DM. Portanto, somente a LETRA C traz dois critérios utilizados para definir a síndrome metabólica. TRATAMENTO Inclui terapia não farmacológica e farmacológica para cada um dos distúrbios apresentados pelo paciente. ■ Terapia não farmacológica: plano alimentar associado à atividade física para redução de peso. Além disso, incluem-se outras medidas como o controle de situações estressantes, cessação do tabagismo e ingestão limitada de bebida alcoólica. ■ Terapia farmacológica: específica para cada problema apresentado pelo paciente. Veremos ao longo dos capítulos deste módulo os pontos principais sobre o tratamento da hipertensão arterial e da dislipidemia. E, no módulo Síndrome Metabólica 2, sobre o tratamento do diabetes e da obesidade. A ATEROSCLEROSE medvideos.com PATOGÊNESE Video_03_Medclm03 Até a década de 60, uma boa parte dos médicos ainda acreditava que a aterosclerose era um processo inevitável do envelhecimento. A história só começou a mudar quando a cidade de Framingham (Massachusetts, EUA) foi escolhida para conduzir um estudo sobre a doença cardiovascular e seus principais fatores de risco. Esse estudo (pasmem!) gerou mais de 1.000 publicaçõescientíficas e ainda gera mais algumas até hoje. Foi somente após Framingham que se definiu cientificamente o risco de doença aterosclerótica associado ao tabagismo, hipertensão, colesterol... Você está em dia com a medicina preventiva? Qual foi mesmo o tipo de estudo epidemiológico feito nesta cidade? Eles partiram do fator de risco para avaliar doença... Estudo de?... Coorte!!! Ok, podemos continuar. Fig. 1 Patogênese da aterosclerose. Figuras A e B – quimiotaxia, aderência e recrutamento de leucócitos (monócitos e linfócitos) para a camada íntima. Temos também o acúmulo de células espumosas (macrófagos abarrotados de LDL- colesterol oxidado, foam cell); algumas plaquetas aderidas. Figura C – placa de ateroma: capa fibrótica com miócitos (células musculares lisas) e um cerne contendo lipídios, células espumosas e uma área de necrose. Figura D – placa instável com trombo em evolução: observe a rotura da superfície da placa e a formação de um trombo plaquetário. Observe também a presença de microvasos na placa. medvideos.com E o que é a aterosclerose? Trata-se de uma doença inflamatória crônica, de origem multifatorial, que acomete a camada íntima de artérias de grande calibre (aorta) e médio calibre (coronárias, carótidas, mesentéricas, renais, femorais). A grande característica da aterosclerose são as placas de ateroma formadas na camada íntima destas artérias. Elas contêm no seu interior, além do cerne lipídico, células inflamatórias mononucleares (monócitos e linfócitos) e células musculares lisas produtoras de colágeno. O principal local de formação das placas ateromatosas são as bifurcações arteriais (ex.: bifurcação da carótida comum) e nas porções proximais das artérias de médio calibre (ex.: coronárias, renais, mesentéricas), onde o fluxo é mais turbulento e faz mais lesão endotelial. Quando e como tudo começa? Você se lembra da organização de uma parede arterial. Ela é composta basicamente por três camadas principais: íntima, média e adventícia. Na adventícia (mais externa), encontramos fibras colágenas que dão a forma e sustentação ao vaso. Na média, a mais espessa, principalmente musculatura lisa, elastina e alguma fibras colágenas. Na íntima, encontramos um fino revestimento por células endoteliais que separa o restante da artéria do contato com o sangue. A lesão inicial na aterosclerose é representada pelas estrias gordurosas, quando temos a deposição de lipídios na camada íntima. Devido à agressão ao endotélio vascular por alguns dos fatores de risco bem conhecidos por todos nós, a exemplo da HAS, aparecem a disfunção endotelial e o aumento da permeabilidade da camada íntima às lipoproteínas plasmáticas (ex.: LDL). Essas lipoproteínas que circulam pelo plasma começam então a se depositar na parede do vaso. Na verdade, mais do que por um simples aumento na permeabilidade, tais lipoproteínas teriam a capacidade de se ligar a constituintes da matriz extracelular, aumentando o tempo em que permanecem na estrutura do vaso. Estas lesões já podem ser encontradas em crianças e adolescentes, sendo achado comum nos indivíduos entre 15 e 35 anos. O problema é que com o desenvolvimento de outras morbidades (diabetes, dislipidemia etc.), o processo tende a progredir (geralmente após os 30 anos) levando a formação de placas de ateroma e lesões mais extensas e importantes. Em seguida, desenvolve-se a oxidação das partículas de LDL e, com isso, a expressão de moléculas de adesão leucocitária (exemplo: VCAM-1) na parede do endotélio. Esses "adesivos de leucócitos" capturam monócitos e linfócitos. Além dos "adesivos", o endotélio passa a produzir também citocinas que atraem os monócitos para o espaço subendotelial. Esses monócitos (agora chamados de macrófagos) começam a captar as LDL oxidadas, quando então recebem um novo nome: células espumosas. E o que diferencia a estria gordurosa da placa de ateroma? A placa de ateroma contém tecido fibroso, produzido por células musculares lisas modificadas (miócitos modificados), que passam a envolver o cerne de lipídios. Estas células são originárias da camada média, quando migram para a camada íntima por ação de citocinas e fatores de crescimento liberados tanto por leucócitos como pelas células endoteliais e pelos próprios miócitos. medvideos.com Quais são os principais fatores de risco para aterosclerose? Sabemos que quanto mais fatores de risco um paciente tiver, maior é a chance de ter doença cardiovascular. No entanto, mais do que simplesmente somados, os trabalhos mostram que esses fatores atuam de forma sinérgica. Isto é, se o risco de um fator é 10% e o de outro 20%, os dois quando combinados podem levar a um risco de mais de 50%. O que novamente nos leva a afirmar: o paciente tem que ser avaliado para o risco cardiovascular GLOBAL. Tradicionalmente, eles são divididos em modificáveis e não modificáveis, conforme o quadro a seguir. medvideos.com Fatores de Risco para Aterosclerose Não modificáveis ■ Idade (homens ≥ 45 anos, mulheres ≥ 55 anos) ■ História familiar precoce (em parente de primeiro grau; homens < 55 anos; mulheres < 65 anos) Modificáveis ■ Hipertensão arterial ■ Dislipidemia (LDL aumentado, redução do HDL) ■ Tabagismo ■ Diabetes mellitus ■Obesidade e resistência à insulina ■ Sedentarismo Outros marcadores ■ Fatores inflamatórios: proteína C-reativa, fosfolipase A2 associdada à lipoproteína, IL-1, TNF-alfa ■ Fatores pró-trombóticos: plasminogênio, fibrinogênio, inibidor do PAI-1 ■ Lipoproteína (a) ■ Infecções (?) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As placas de ateroma podem ser estáveis ou instáveis. Nas placas estáveis predominam as fibras colágenas com a formação de uma capa fibrosa espessa. Elas não se rompem, mas podem crescer gradativamente até obstruir de forma significativa o lúmen da artéria (ex.: isquemia induzida pelo exercício). As placas instáveis, por sua vez, apresentam atividade inflamatória intensa, núcleo lipídico proeminente e frágil capa fibrótica. Tudo isso aumenta o risco de sua ruptura com exposição de material lipídico que é altamente trombogênico. A formação de trombo sobre a placa (aterotrombose) é responsável pelas mais temidas manifestações da aterosclerose, como a angina instável e o infarto agudo do miocárdio. Ao longo do MED, veremos as principais repercussões clínicas da aterosclerose, a exemplo do AVE e da síndrome coronariana. E é comum essas doenças coexistirem. Quando um paciente apresenta manifestação clínica de uma doença aterosclerótica (ex.: isquemia de membro inferior) ele já tem lesão em dois outros locais (ex.: coronária e carótida) em 3 a 8% dos casos, ou pelo menos em mais um outro local em 1/3 dos casos. A principal causa de morte continua sendo a isquemia miocárdica (70% dos óbitos). Saiba Mais! Eu bebo sim, estou vivendo... O INTERHEART foi um estudo de caso-controle internacional, idealizado para identificar os fatores de risco mais importantes para doença arterial coronariana ao redor do mundo (262 centros em 52 países dos 5 continentes). Nesse estudo, o consumo de até três doses de bebida alcoólica por dia mostrou proteção contra doenças cardiovasculares!!! Os efeitos provavelmente são mediados pelo aumento do HDL-colesterol e outras possíveis associações com o sistema de coagulação, fibrinólise e resistência periférica à insulina. Mas para quem já ficou animado e já ligou para os amigos para marcar um (dois, três...) "chopinhos", preste atenção! Graças ao risco de dependência e outras consequências deletérias (violência, dano cardíaco com alto consumo, cirrose, acidentes etc.), não há recomendação formal para a ingestão de bebidas alcoólicas como proteção cardiovascular. medvideos.comPor ora, vamos nos ater ao manejo dos seus principais fatores de risco, neste módulo particularmente, hipertensão e dislipidemia! HIPERTENSÃO ARTERIAL Saiba Mais! Quando se fala em aterosclerose, é comum pensarmos num paciente "inflamado", não é mesmo?! Mas será que reduzir a inflamação teria algum impacto na aterosclerose e na redução do risco cardiovascular? Nós já sabíamos, pelo estudo Júpiter, que o uso de rosuvastatina em pacientes "inflamados" com elevação da PCR-us era benéfico. Mas havia também a redução do LDL-colesterol, o que prejudicava esta avaliação de forma mais específica. A diferença é que tivemos posteriormente o estudo CANTOS, que investigou o uso de um anticorpo monoclonal antagonista da interleucina 1 beta – o canaquinumabe, sem nenhum efeito no colesterol. E ele mostrou redução no risco de IAM não fatal, AVC não fatal e morte cardiovascular!!! Tudo isso reforça a hipótese inflamatória da aterotrombose e abre as portas inclusive para uma possível forma de abordagem da doença. medvideos.com Doença cerebrovascular, doença coronariana, arteriopatia periférica e aortopatias: todas são doenças que têm a aterosclerose como substrato fisiopatológico e representam hoje as grandes causas de morbimortalidade no mundo moderno. Mas o que está por trás delas? São os fatores de risco! Sendo assim, a pesquisa desses fatores representa um ponto-chave na avaliação clínica de qualquer paciente. E de todos os fatores que serão tratados, certamente a hipertensão arterial sistêmica é o mais prevalente e, por isso também, bastante comum nas provas de residência médica. Podemos dizer que é praticamente impossível uma prova que não tenha pelo menos uma questão sobre HAS!!! Vamos rever, a partir de agora, os principais conceitos sobre o tema. E, se na prática você já aborda muito bem seus pacientes hipertensos, convidamos a aproveitar este momento para solidificar os conhecimentos teóricos. CONCEITO Níveis sustentadamente elevados de PA que conferem maior risco de complicações cardiovasculares. EPIDEMIOLOGIA Hipertensão – a "assassina silenciosa". medvideos.com Cerca de um bilhão de pessoas no mundo são hipertensas. No Brasil, a prevalência média é de 32,5%. Apesar da prevalência desta condição, a taxa de controle ainda é muito baixa (30%). A mortalidade por doenças cardiovasculares aumenta proporcionalmente com a elevação da PA a partir de 115/75 mmHg. A HAS justifica 40% das mortes por AVE e 25% por infarto. ETIOLOGIA Primária ou essencial (90-95% dos casos) e secundária (5-10%). A principal causa secundária é a doença parenquimatosa renal. QUADRO CLÍNICO ■Órgãos-alvo: coração, cérebro, rim (nefroesclerose benigna e maligna), retina (estreitamento arteriolar, cruzamento AV patológico, manchas algodonosas e hemorragias, papiledema) e vasos sanguíneos (aortopatia e doença arterial periférica). SEMIOLOGIA Atentar para os detalhes no preparo, técnica e calibragem do aparelho. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO ■O diagnóstico pode ser feito pela medida casual do ambulatório, residencial (MRPA) e ambulatorial nas 24h (MAPA). ■ Lembrar as dificuldades diagnósticas: HAS do jaleco branco, efeito do jaleco branco e HAS mascarada. ■ Atentar para as diferentes formas de classificação de acordo com a diretriz: brasileira x americana. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO: perda ponderal (principal!), dieta DASH (maior ingesta de potássio, magnésio e cálcio); redução na ingesta de sal; atividade física; cessar tabagismo; reduzir ingestão alcoólica; evitar situações estressantes. MEDICAMENTOSO ■Drogas de primeira linha: ❯ Diuréticos; ❯ Inibidores da ECA (IECA); ❯ Bloqueadores do receptor ATI da Angio II (BRA-II); ❯ Antagonistas dos Canais de Cálcio (ACC). *Os betabloqueadores foram retirados da lista de drogas de primeira linha, a menos que haja uma indicação específica para o uso da classe (ex.: IC com FE reduzida). ■Drogas de segunda linha: metildopa, clonidina, rilmenidina, moxonidina, hidralazina, minoxidil, reserpina. Qual é o alvo geral? PA < 140 x 90 mmHg (Diretrizes Brasileira e Europeia) OU PA < 130 x 80 mmHg (AHA). Como fazer? Depende do estágio da HAS e do risco cardiovascular. ■ Estágio 1: monoterapia. Uma alternativa é terapia não farmacológica por 6 meses em pacientes de baixo risco. Incluir nesse grupo muito idosos e/ou frágeis, bem como pré-hipertensos de alto risco. medvideos.com ■ Estágio 2 ou estágio 1 de moderado/alto risco: terapia combinada (IECA + Ant. Ca++ possivelmente é a melhor combinação; não usar IECA + BRA-II). O que é hipertensão resistente? PA não controlada apesar do uso de três agentes anti-hipertensivos de diferentes classes, em doses otimizadas. HAS SECUNDÁRIA ■ Início precoce (idade < 30 anos) ou tardio (idade > 65 anos). Alguns autores citam como limite antes dos 20 e acima dos 55 anos; ■ HAS grave (acelerada/maligna); resistente; com lesão de órgão-alvo desproporcional ao grau de hipertensão; de início súbito ou com exacerbação de níveis previamente controlados; ■ HAS lábil + tríade do feocromocitoma: palpitações, sudorese e cefaleias em crise; ■ Uso de drogas e medicamentos que possam elevar PA; ■ Sinais de endocrinopatia (ex.: Cushing, hipotireoidismo, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo); ■ Presença de massa ou sopro abdominal; ■ Assimetria de pulsos femorais; ■ Aumento da creatinina, redução da taxa de filtração glomerular, piora da função renal com o uso de IECA (estenose de artéria renal bilateral); ■ Hipocalemia espontânea (< 3 mEq/L e não relacionada a diuréticos); ■ Exame de urina anormal: proteinúria ou hematúria; ■ Sintomas de apneia durante o sono. Atentar que cada item se refere a uma condição a ser pesquisada. ■ Condição que mais cai: HAS renovascular. ■ Condição que cresce em importância: síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono. ■HAS na prova de cirurgia: hiperaldosteronismo e feocromocitoma. ■HAS na prova de pediatria: coarctação da aorta. CONCEITOS GERAIS DEFINIÇÃO Video_04_Medclm03 Quando nos ambulatórios afirmamos que um paciente é ou não hipertenso, fazemos disso um hábito tão automático que raramente paramos para pensar no diagnóstico em si. Mas afinal de contas: o que é hipertensão arterial? Como o próprio nome já diz, a ideia central é a presença de níveis pressóricos elevados! Normalmente, a pressão arterial se eleva com a idade (mais no homem que na mulher), sendo que a pressão diastólica, a partir dos 55 anos, começa a declinar. Isso justifica a diferença entre as pressões sistólica e diastólica (pressão de pulso) nesta faixa etária. Mas reparem nesta pergunta que vamos lhe fazer: todo paciente com pressão alta é hipertenso? Certamente não! No dia a dia, durante um exercício físico, estresse no trânsito ou uma atividade sexual, a pressão arterial, mesmo que discretamente, pode se elevar. Esse é um mecanismo adaptativo, de "luta ou fuga", mas não se pode dizer que é hipertensão arterial sistêmica. Esse diagnóstico requer a presença de níveis tensionais: 1. sustentadamente elevados, a ponto de aumentar o risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais; e 2. cujos ensaios clínicos tenham demonstrado o benefício de tratar. EPIDEMIOLOGIA medvideos.com No mundo, cerca de 1,13 bilhão de pessoas são hipertensas, vivendo 2/3 delas em países em desenvolvimento. No Brasil, embora tenhamos dados muito variáveis, alguns trabalhos, principalmente das regiões sul e sudeste, apontam para uma prevalência média de 21,4 a 32,3%. E a tendência é que a incidência de hipertensão aumente nos próximos anos, em boa parte decorrente do maior número de obesos e de idosos. Não bastasse tudo isso, a taxa de controle ainda é muito baixa (em torno de 20-30%). Os principais fatores de risco são: ■ Idade (relação direta e linear; acima de 65 anos a prevalência ultrapassa 60%); ■ Sexo (mais elevada entre as mulheres, exceto em faixasmais jovens); ■ Etnia (em negros, a HAS tende a ser mais grave e mais precoce); ■ Sobrepeso e obesidade; ■ Apneia obstrutiva do sono; ■ Sedentarismo; ■ Elevada ingestão de sal e álcool, baixo consumo de potássio e cálcio; ■ Fatores socioeconômicos (mais prevalente quanto menor a escolaridade); ■ Fatores genéticos. medvideos.com Conceito Hipertensão é doença de grande importância pública (prevalência elevada, aumento na incidência e no risco cardiovascular) e de baixa taxa de controle. Alguma dúvida da sua importância? Com isso em mente, vamos buscar alguns conceitos básicos, a começar pela origem do aumento da pressão arterial... FISIOPATOLOGIA Podemos dizer que, com exceção de algumas condições específicas (ex.: doença renal e endocrinopatias), a maioria dos pacientes hipertensos não tem uma causa muito bem definida. Nesses casos, temos a participação de dois fatores principais. De um lado, o fator genético/epigenético, em que são raras as condições atribuídas a mutações específicas em um gene (ex.: síndrome de Liddle), resultando em mais de 98% dos casos da interação entre vários genes. Diversos deles já foram estudados, incluindo o gene da ECA, do receptor AT1, alfa-aducina etc. Contudo, até o momento, nenhum mapeamento genético se mostrou devidamente adequado para predizer o risco de hipertensão arterial na população. De outro lado, temos a inclusão de fatores ambientais, como obesidade, resistência à insulina, aumento prolongado da ingestão de sódio e ingestão inadequada de potássio e cálcio. Gráfico 1 Alterações na pressão arterial de acordo com a idade. medvideos.com O resultado de tudo isso? Criam-se mecanismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento e manutenção da hipertensão arterial. Ninguém é capaz de definir quem vem primeiro, mas sabe-se que todos já foram associados. São eles: ■ Aumento da atividade do sistema nervoso simpático; ■ Aumento da atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona; ■ Redução na síntese de vasodilatadores (óxido nítrico, peptídeos natriuréticos); ■ Alterações estruturais e funcionais nos vasos de resistência (rigidez vascular, disfunção endotelial); ■ Lesão renal subclínica progressiva. Conceito De forma geral, podemos dividir a HAS em primária e secundária. A HAS dita primária, essencial ou idiopática, é aquela que ocorre em cerca de 90-95% dos casos, quando a causa não é reconhecida. Esses casos tendem a ser familiares e se relacionam a uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais. Nos 5-10% restantes, uma causa específica pode ser identificada, quando a hipertensão passa a ser chamada de secundária. Por ora, vamos nos concentrar nos quadros primários, deixando esse segundo tipo para ser discutido mais à frente. SEMIOLOGIA DA PRESSÃO ARTERIAL Video_05_Medclm03 A medida da PA deve ser realizada em toda consulta, por médicos de qualquer especialidade e por todos os outros profissionais da área de saúde. Indica-se a medida da PA pelo menos anualmente, se a PA do consultório for < 140 x 90 mmHg. Pacientes com PA 130-139 x 85-89 mmHg devem ter a PA medida preferencialmente antes, devido às altas taxas de progressão para hipertensão arterial. O método mais fidedigno seria a medida direta da pressão através da cateterização arterial (a exemplo do que se utiliza na UTI). No entanto, isso seria desnecessariamente invasivo. Dessa forma, utiliza-se preferencialmente o método indireto, com esfigmomanômetro oscilométrico (aparelhos semiautomáticos) ou auscultatório (aneroide ou coluna de mercúrio, este em desuso pelos riscos ambientais). Diante da simplicidade da medida realizada pela técnica oscilométrica, a utilização de dispositivo automático de braço pode ser preferível ao auscultatório, quando as duas técnicas estiverem disponíveis. Veja na TABELA 1 os aspectos fundamentais para que se obtenha o valor da PA mais adequado, de acordo com as Diretrizes Brasileiras. medvideos.com Tab. 1 Preparo do Paciente ■ Explicar o procedimento ao paciente e deixá-lo em repouso de 5min em ambiente calmo e silencioso. Não conversar durante a medida. ■ Pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado. ■ Esvaziar bexiga. ■ Evitar: exercícios físicos 60min antes; ingerir bebidas alcoólicas, café, alimentos ou fumo 30min antes. ■ Braço na altura do coração (4º espaço intercostal), livre de roupas, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido. Técnica Padronizada ■Medir a circunferência do braço do paciente no ponto médio entre o acrômio e o olécrano e selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço (ver TABELA 2). ■ Colocar o manguito sem deixar folgas cerca de 2 a 3 cm acima da fossa cubital. ■ Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial (geralmente existe uma seta no esfigmomanômetro). ■ Estimar a pressão sistólica pelo método palpatório (palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desaparecimento, desinflar rapidamente e aguardar um minuto antes da medida). ■ Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula do estetoscópio sem compressão excessiva. ■ Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da pressão sistólica. ■ Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo). ■ PA sistólica: ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff, fraco e seguido de batidas regulares). ■ PA diastólica: no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff – último som auscultado das batidas regulares). ■ Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa (se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons – fase IV de Korotkoff – e anotar valores da sistólica/diastólica/zero). ■ Três medidas de PA devem ser realizadas, com intervalo de um a dois minutos; e medidas adicionais somente se as duas primeiras leituras diferirem em > 10 mmHg. Medidas adicionais podem ter que ser realizadas em pacientes com valores instáveis da PA devido a arritmias. Nos pacientes com FA, os métodos auscultatórios devem ser preferencialmente usados, pois a maioria dos dispositivos automáticos não foi validada para a medida da PA. ■Medir a pressão em ambos os braços na primeira consulta e usar o valor do braço onde foi obtida a maior pressão como referência. ■ Informar os valores obtidos ao paciente. ■ Anotar os valores sem "arredondamento" e o braço no qual foram aferidos. Equipamento ■ Todos os aparelhos devem ser testados anualmente e calibrados, se necessário. Um dado importante!!! Ao aferir a PA, muitas vezes tem-se a impressão de que aquele é um valor único, imutável e que define qual é a "verdadeira" pressão arterial do indivíduo. No entanto, não é exatamente assim, pois a PA se modifica constantemente ao longo do dia, dependendo de parâmetros extremamente dinâmicos, como o débito cardíaco e a resistência vascular periférica. Uma pessoa normotensa pode eventualmente ter uma PA dita elevada. Surge assim a pergunta: quem é o verdadeiro hipertenso?medvideos.com Conceitualmente, podemos dizer que é aquele paciente que tem a média das aferições da PA, em duas ou mais consultas, acima do valor adotado como normal pelas diretrizes. E para definirmos esta "média", é recomendado que, na primeira avaliação, as medidas sejam obtidas em ambos os membros superiores, utilizando-se sempre o braço com o maior valor de pressão para as medidas subsequentes. Considera-se aceitável uma diferença de pressão sistólica entre os membros superiores até 15 mmHg. Caso a diferença entre eles seja maior, é possível o envolvimento de doença vascular ateromatosa. Na suspeita de hipertensão secundáriaà coartação da aorta, a medida deverá ser realizada também nos membros inferiores, utilizando-se manguitos apropriados para a circunferência do braço ou da coxa. Em condições ideais, as visitas médicas deveriam ocorrer em intervalo de dias ou semanas; ou de maneira mais assertiva, realizando-se o diagnóstico com medidas fora do consultório (MAPA ou MRPA), desde que sejam viáveis (logisticamente e economicamente). O diagnóstico de HAS já deve ser considerado na primeira consulta nos pacientes de alto risco cardiovascular, com crises hipertensivas (urgência ou emergência) ou com níveis extremamente elevados (PA ≥ 180 x 110 mmHg). O paciente deve ter a PA aferida em outra posição que não sentado? Sim. A medida na posição ortostática (depois de um e três minutos em pé) deve sempre ser feita nos idosos, diabéticos, portadores de disautonomias e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva. O objetivo é a pesquisa de hipotensão postural (ortostática). Embora existam diferentes definições para este achado, normalmente ela é descrita como a queda na PA sistólica ≥ 20 mmHg ou na PA diastólica ≥ 10 mmHg, após três minutos em ortostase. Alguns autores colocam também como critério o aumento da frequência cardíaca. Tab. 2 Dimensões da bolsa de borracha para diferentes circunferências de braço em crianças e adultos (D). medvideos.com Existe alguma característica especial em idosos, obesos e gestantes? Sim. Em idosos, graças às alterações características da idade (maior enrijecimento dos vasos), é mais comum a observação de hiato auscultatório e pseudo-hipertensão arterial. Você ainda se lembra desses conceitos? Vejamos... ■Hiato auscultatório: desaparecimento prolongado dos sons durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase II dos sons de Korotkoff. Ou seja, quando você começa a desinsuflar o manguito, fica um bom tempo de espera entre o primeiro e o segundo som. Se você não auscultou o primeiro (PA sistólica), pode achar equivocadamente que o segundo som (fase II) é o primeiro e com isso creditar valores falsamente baixos para a sistólica. Por outro lado, pode ter a ideia de PA diastólica falsamente elevada, se o hiato ocorrer na fase final. ■ Pseudo-hipertensão arterial: devido à rigidez dos vasos, a PA costuma ser “superestimada" e os níveis aferidos não configuram valores reais. Como detectar essa alteração? Através da manobra de Osler, que consiste na insuflação do manguito no braço até o desaparecimento e obliteração do pulso radial. Se a artéria permanecer palpável após esse procedimento (sensação de um "tubo firme"), a manobra é considerada positiva. Nos obesos, devido às maiores dimensões do braço, é necessário utilizar manguitos mais longos e mais largos para não superestimar a PA. Se não houver manguito disponível, a aferição pode ser realizada no antebraço, com ausculta do pulso radial. Conceito Quanto mais apertado, maior a PA, mais superestimada fica. Quanto mais folgado, menor a PA, mais subestimada fica. Nas gestantes, além de tudo que comentamos, como é de hábito assumirem o decúbito lateral esquerdo, pode-se realizar também a aferição da PA especificamente no braço esquerdo, quando necessário. Veja esta questão interessante que apareceu na prova da UEL – PR: Fig. 1 Triagem e diagnóstico de hipertensão arterial. PA: Pressão Arterial. MAPA: Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial. MRPA: Monitorização Residencial da Pressão Arterial. NV: Normotensão Verdadeira. HAB: Hipertensão do Avental Branco. HM: Hipertensão Mascarada. HS: Hipertensão Sustentada. medvideos.com Analise a charge e responda à questão a seguir. A correta aferição da Pressão Arterial (PA) é imprescindível para uma boa consulta clínica. É comum, entre os pacientes, a queixa de que seu médico o atendeu rapidamente, mal o ouviu e deixou de aferir sua PA. A prática de checar a PA sistólica pela palpação da artéria radial antes de aplicar o estetoscópio. a) É particularmente útil em pacientes que apresentam o hiato auscultatório. b) É dispensável para médicos que apresentem boa acuidade auditiva. c) Evita a subestimação da PA diastólica. d) É dispensável para médicos que apresentem boa acuidade visual. e) Tem como finalidade específica melhorar a relação médico-paciente. » Como sabemos, o método mais adequado de aferição da pressão arterial é o palpatório, seguido do auscultatório. Isso é importante para evitarmos o não reconhecimento do hiato auscultatório, mais acentuado em alguns pacientes, especialmente os idosos. Obviamente, não há privilégio algum para médicos com boa acuidade visual e sensitiva! Também não é para ficar mais tempo "fazendo carinho" no braço e aumentando a relação médico-paciente. Vamos recordar: o que é mesmo este hiato? Trata-se do desaparecimento prolongado dos sons durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase II dos sons de Korotkoff, mas também pode ocorrer no final. A ideia é: se você não auscultou o primeiro som, pode achar equivocadamente que o segundo som é o primeiro e, com isso, creditar valores falsamente baixos para a PA. Resposta: A. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO Video_06_Medclm03 Resgatando a ideia central de hipertensão, isto é, níveis elevados e sustentados de PA que aumentam o risco de doenças cardiovasculares, a primeira pergunta a fazer é: a partir de quais níveis este risco aumenta? Sugestão: respire fundo antes de responder................. medvideos.com E aí? Lembrou-se? Possivelmente sua resposta foi errada! Saiba que o risco já começa a se elevar a partir de 115 x 75 mmHg, dobrando a cada aumento de 20 mmHg na PA sistólica e 10 mmHg na PA diastólica. Agora observem a segunda pergunta: se o risco aumenta a partir desses níveis, podemos dizer que um paciente é hipertenso quando a PA estiver acima de 115 x 75 mmHg? Também não! E muito cuidado para não se confundirem! A definição de HAS se aplica arbitrariamente ao nível da PA em que, uma vez instituído o tratamento, somos capazes de obter a redução significativa da morbimortalidade. E quem nos define esses níveis são os grandes estudos populacionais. De acordo com a Diretriz Brasileira mais recente, para os pacientes acima de 18 anos (abaixo desta faixa usamos percentis para a definição), utilizaremos a classificação a seguir. No entanto, desde 2017 tivemos uma proposta surpreendente segundo as Diretrizes Americanas. E a hipertensão passou a ser definida por elas com valores de PA ≥ 130 x 80 mmHg!!! Ao mesmo tempo, retirou-se a categoria de pré-hipertensão. E assim passaram a classificar os pacientes: Esta classificação é um consenso??? Certamente não! A Diretriz Europeia publicada alguns meses depois, por exemplo, reforça a classificação utilizada no Brasil. O que fazer então??? Não há como fugir: precisamos conhecer as duas formas de classificação! E o que é a Medida Residencial da Pressão Arterial (MRPA)? É o registro da PA, obtido por medidas sistematizadas, em aparelhos validados em estudos clínicos (para fins científicos, não vale um aparelho qualquer, ok?). Na MRPA devem ser realizadas obrigatoriamente três medidas pela manhã e três à noite, durante cinco dias. São consideradas anormais as médias de PA ≥ 130 x 80 mmHg. E a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA)? Consiste na medida automática da PA, geralmente programada a cada 20min, durante 24h. O dispositivo é semelhante ao ECG-Holter e é considerado o exame padrão-ouro para o diagnóstico de hipertensão arterial. São consideradas anormais as médias de PA de 24h, vigília e sono ≥ 130 x 80 mmHg, 135 x 85 mmHg e 120 x 70 mmHg, respectivamente. medvideos.com A MAPA também apresenta melhor correlação com lesão de órgão-alvo e é capaz de identificar alterações do ciclocircadiano da PA. Qual é a importância disso? Toda! A PA tem valores mais altos durante o despertar e atividades físicas e valores bem menores no repouso e durante o sono, com uma queda ou dip de 10-20% nesse período. Pessoas que não apresentam esta queda, por exemplo, estão sob maior risco cardiovascular. Outra função da MAPA é avaliar a eficácia terapêutica de um esquema anti-hipertensivo. A MAPA ou MRPA estão indicadas sobretudo nas seguintes situações: ■ Suspeita de hipertensão do jaleco branco e hipertensão mascarada; ■ Identificação do efeito do jaleco branco em hipertensos; ■ Grande variação da PA no consultório na mesma consulta ou em consultas diferentes; ■ Hipotensão postural, pós-prandial, na sesta ou induzida por fármacos; ■ PA elevada de consultório ou suspeita de pré-eclâmpsia em mulheres grávidas; ■ Confirmação de hipertensão resistente. Indicações específicas para MAPA: ■ Discordância importante entre a PA no consultório e em casa; ■ Avaliação do descenso durante o sono; ■ Suspeita de HA ou falta de queda da PA durante o sono habitual em situações como apneia de sono, DRC ou diabetes; ■ Avaliação da variação circadiana da PA e do seu comportamento nas disautonomias. Outro ponto importante atualmente é reconhecer que, dentro do diagnóstico da hipertensão arterial, existem diferentes possibilidades ou fenótipos. Assim, a Normotensão Verdadeira (NV) seria definida por medidas normais da PA no consultório e fora do consultório, e a Hipertensão Sustentada (HS) quando ambas são anormais. Mas, além delas, teríamos outras apresentações: medvideos.com ■Hipertensão do Avental Branco (HAB): ocorre quando a PA é elevada no consultório, mas é normal fora dele. Pode ser detectada em cerca de 15 a 19% dos indivíduos no consultório, alcançando 30 a 40% naqueles com PA elevada no consultório. É mais comum nos pacientes com HAS estágio 1. A presença de LOA e o risco de eventos CV associados à HAB são menores do que na hipertensão sustentada. No entanto, em comparação com os normotensos, a HAB está associada a maior atividade adrenérgica, maior prevalência de fatores de risco metabólicos, LOA mais frequente e maior risco para desenvolver diabetes e progressão para HS e hipertrofia ventricular esquerda. Na HAB, os valores da PA fora do consultório tendem a ser mais altos do que em normotenso, o que pode explicar o aumento do risco em longo prazo de eventos cardiovasculares; ■Hipertensão Mascarada (HM): ocorre quando a PA é normal no consultório, mas é elevada fora dele. Pode ser detectada em cerca de 7 a 8% dos indivíduos no consultório, atingindo aproximadamente 15% dos pacientes normotensos. Vários fatores estariam envolvidos, como idade avançada, sexo masculino, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, hipertensão induzida pelo exercício, ansiedade, estresse, obesidade, diabetes, doença renal crônica e história familiar de hipertensão arterial. A HM está associada à dislipidemia, à disglicemia, à LOA, à pré- hipertensão e à atividade adrenérgica e aumenta o risco de desenvolver diabetes e hipertensão sustentada. A incidência de eventos CV é cerca de duas vezes maior na HM do que em normotensos, sendo comparável à dos hipertensos de fato. Cabe destacar que estes termos (HAB e HM) foram originalmente definidos para pessoas que não estavam sendo tratadas. Contudo, pacientes em uso de anti-hipertensivos também podem ter valores discrepantes da PA dentro e fora do consultório. Para eles, utilizam-se as nomenclaturas: HA mascarada não controlada (PA controlada no consultório, mas elevada fora dele); HA do avental branco não controlada (PA está elevada no consultório, mas normal fora dele); HA sustentada não controlada (PA no consultório e a fora dele estão elevadas); e HA controlada (PA está normal no consultório e fora dele); ■ Efeito do Avental Branco (EAB) e Efeito de Mascaramento (EM): representam situações em que há diferença da PA entre as medidas obtidas no consultório e fora dele (sem configurar diagnóstico de hipertensão). Quando a diferença é positiva, temos o EAB; quando é negativa, EM. Diferenças ≥ 15 mmHg na PAS e/ou 9 mmHg na PAD indicam EAB significativa, enquanto diferenças ≤ -1 mmHg na PAS e/ou PAD indicam EM significativa. Essas situações não mudam o diagnóstico, ou seja, se o indivíduo é normotenso, permanecerá normotenso; e, se é hipertenso, continuará sendo hipertenso. Um valor desta classificação está no fato de que seu desconhecimento alteraria o estágio e/ou ajudaria num manejo terapêutico mais adequado. Tab. 3 Valores de referência para a definição de hipertensão pelas MAPA e MRPA. PAS: Pressão Arterial Sistólica; PAD: Pressão Arterial Diastólica. medvideos.com Atenção! A MAPA e a MRPA não devem ser confundidas com a Automedida da PA (AMPA)! Esta modalidade não obedece a nenhum protocolo preestabelecido, sendo baseada em medidas aleatórias com equipamento automático do próprio paciente. Contudo, a pandemia pela covid-19 acelerou o processo de telemedicina e, nesse cenário, a AMPA acaba contribuindo para o diagnóstico, no acompanhamento e no tratamento dos hipertensos. Para isso, sugere-se a utilização de equipamentos oscilométricos de boa qualidade, ou seja, validados e preferencialmente de braço. Além disso, é recomendado um número mínimo de sete medidas realizadas no período de 16 a 72 horas (o valor final poderia ser a mediana). Até o momento, são adotados valores de normalidade iguais aos da MRPA, embora estudos específicos ainda precisam ser realizados para comparar os valores de PA obtidos pelas diferentes técnicas. Saiba Mais! Medida Desacompanhada da PA no Consultório (MDPAC) A medida convencional da PA no consultório ainda é a base de todos os dados epidemiológicos e clínicos disponíveis. Contudo, a MDPAC trata-se de uma modalidade alternativa de medida da PA no consultório sem a presença do profissional de saúde, capaz de melhorar a reprodutibilidade da medida da PA. O paciente (após treinamento) realiza sua própria medida em sala reservada para essa finalidade. Os participantes do SPRINT (Systolic Blood Pressure Intervention Trial) fizeram uso da MDPAC, quando seguiram um protocolo no qual aguardavam em uma sala silenciosa por cinco minutos. Em seguida, um aparelho automático realizava a medida da PA por três vezes, com intervalos de um minuto, registrando os valores obtidos. É possível que, nos próximos anos, tenhamos mais trabalhos com o uso desta modalidade. QUADRO CLÍNICO Video_07_Medclm03 Você certamente já foi chamado por algum parente ou vizinho (se ainda não foi, pode se preparar!) para que fosse atendê-lo, sob forte suspeita de apresentar aumento da pressão arterial. As queixas são as mais diversas possíveis: comecei a ficar vermelho, senti uma "dorzinha" de cabeça, apareceu uma tontura... E, curiosamente, ao avaliar a PA deste paciente, ela estava normal ou não tão elevada a ponto de justificar tal sintomatologia. Como justificar isso??? Bom, ao contrário do que muitos pensam (inclusive alguns profissionais de saúde), a hipertensão arterial é uma doença geralmente assintomática. E, por não ter sintomas, o diagnóstico acaba sendo feito numa consulta por queixa não relacionada (ex.: dor na coluna). Observe um exemplo clássico do consultório... Sra. Dalva, 65 anos, foi ao médico devido à "dor na coluna". Na história patológica pregressa, não havia nada digno de nota. Ao exame: PA = 170 x 80 mmHg (média de duas aferições), FC = 90 bpm (ritmo regular), eupneica, corada, anictérica, RCR 2T, sem sopros, MV universalmente audível, sem ruídos adventícios, abdome e MMII sem alterações, dor à digitopressão das apófises espinhosas das vértebras lombares e leve escoliose. Esta pacienteprocurou uma consulta médica por queixa de "dor na coluna". Ao exame físico, confirmamos a presença de dor lombar compatível com um quadro miofascial. Mas essa certamente não é uma condição que ameaçará sua vida. Com medidas simples como redução do peso, correção postural, uso temporário de analgésicos e exercícios para fortalecimento da musculatura abdominal e paraespinhal conseguiremos o controle da lombalgia. Mas o que não pode ser deixado passar impunemente são seus elevados níveis pressóricos. Torna-se neste momento obrigatório confirmar o diagnóstico da hipertensão arterial e iniciar o tratamento... Caso não seja tomada nenhuma conduta quanto aos níveis pressóricos, teremos tardiamente o desenvolvimento de uma complicação (ex.: AVE, IAM, arteriopatia), o que justifica o fato de a hipertensão ser conhecida como a "assassina silenciosa". Observe as principais lesões sobre os órgãos-alvo na HAS. Elas podem ocorrer tanto por sobrecarga direta (efeito hemodinâmico) como por lesão vascular. Lesão de Órgão-Alvomedvideos.com Coração O acometimento deste órgão se resume no termo cardiopatia hipertensiva, que engloba as diversas alterações trazidas pela hipertensão ao coração, como Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE), insuficiência cardíaca (sistólica e/ou diastólica) e doença coronariana aterosclerótica. O controle agressivo da HAS é capaz de regredir ou até mesmo reverter a HVE. No entanto, não se sabe se existe alguma classe "melhor" de anti-hipertensivos para este fim ou se o efeito é universal, apenas pelo controle pressórico. Cérebro O AVE tem a HAS como seu principal fator de risco. Aproximadamente 85% são de origem isquêmica e o restante, hemorrágica. Outros importantes acometimentos são o declínio cognitivo e a demência. Rim Este órgão tem um papel duplo na HAS, pois pode ser causa ou alvo! Como veremos mais à frente, a doença renal é a principal causa de HAS secundária. Por outro lado, a HAS, no Brasil, é a principal causa de doença renal crônica, sendo o risco maior com a PA sistólica e em negros. Existem dois tipos principais de lesões: a nefroesclerose benigna (crônica) e maligna (aguda). A lesão benigna se dá por alterações nas arteríolas pré-glomerulares (depósitos hialinos e esclerose de arteríolas aferentes e artéria interlobular), levando a alterações isquêmicas nos glomérulos (glomeruloesclerose isquêmica) e atrofia tubular. Outra forma de lesão seria por dano direto ao glomérulo devido ao hiperfluxo (e aqui, como iremos rever este ano, o padrão você já sabe: GEFS!). Na nefroesclerose maligna, a lesão é outra: arterioloesclerose hiperplásica (aspecto “em bulbo de cebola") da arteríola aferente e necrose fibrinoide, obliteração da luz e necrose focal do tofo glomerular, com hemorragias intersticiais (em “picada de pulga"). Resumindo... ■ Nefroesclerose benigna = arteriolosclerose hialina. ■ Nefroesclerose maligna = arteriolosclerose hiperplásica. Retinopatia No olho, a HAS lesa essencialmente vasos, dispostos principalmente no segmento posterior. Assim, as lesões se dão na coroide, na retina e na papila óptica. A fundoscopia tem papel central na detecção destas lesões que podem ser de dois tipos principais: arterioescleróticas e hipertensivas. Existem várias classificações disponíveis, porém nas provas a mais tradicional é a de Keith-Wagener. ■Grau I: estreitamento arteriolar. ■Grau II: cruzamento AV patológico. ■Grau III: manchas algodonosas, hemorragias em chama de vela. ■Grau IV: papiledema. Outros termos: na fundoscopia, a parede do vaso não pode ser vista; mas a própria coluna de sangue e um brilho que é formado pelo reflexo da luz do oftalmoscópio batendo entre a coluna sanguínea e a parede do vaso. O chamado "reflexo arteriolar" ocorre quando ele se torna mais difuso e com menos brilho por conta da arteriosclerose. Se houver progressão, ocorre modificação na cor da arteríola para próximo do dourado (fio de cobre) ou mais esbranquiçado (fio de prata). Com relação ao cruzamento vascular, o primeiro achado é a não visualização do segmento da vênula sob a arteríola (ocultamento), seguido de uma mudança no trajeto (sinal de Salus). medvideos.com Hiperplasia laminar concêntrica dando o aspecto em "bulbo de cebola". Estreitamento arteriolar (seta branca) e cruzamento AV patológico (seta preta). medvideos.com Exsudatos algodonosos (setas brancas) e hemorragia (setas pretas). medvideos.com Vasos Sanguíneos (Aortopatia e Doença Arterial Periférica) Os vasos sanguíneos são outros alvos importantes da HAS por conta da aterosclerose. Aqui, além de lesões como aneurisma e dissecção de aorta, podemos incluir alterações diversas dependendo do território acometido, a exemplo da claudicação intermitente e angina mesentérica. Marcadores Precoces das Lesões de Órgão-Alvo Atualmente, visando à detecção cada vez mais precoce das lesões de órgão-alvo, devemos ficar atentos para alguns marcadores de destaque: ■Microalbuminúria (índice albumina/creatinina em amostra isolada de urina); ■ Parâmetros ecocardiográficos: remodelação ventricular, função sistólica e diastólica; ■ Espessura do complexo íntima-média da carótida (ultrassom vascular); ■ Rigidez arterial; ■ Função endotelial; ■ Índice tornozelo-braquial. Papiledema. medvideos.com Conceito Hipertensão é doença assintomática na grande maioria das vezes. Ou fazemos o diagnóstico por rastreamento na população aferindo a PA em toda consulta médica ou fazemos tardiamente após a lesão de órgão-alvo. Atenção! O Mito da Dor de Cabeça Apesar de uma crença geral de que hipertensão e cefaleia caminham juntas, estudos mostram que não existe correlação entre o sintoma e as variações da PA ao longo do dia. Pelo contrário, é mais fácil sentir dor de cabeça quando se está preocupado com os valores da pressão do que quando ela realmente se encontra elevada! Lesões de órgão-alvo na hipertensão arterial. medvideos.com Observe esta questão que já apareceu na prova da UFRJ: As lesões vasculares do rim observadas na hipertensão arterial primária são originárias, inicialmente, de: a) Produção aumentada de pró-renina. b) Aterosclerose das arteríolas pré-glomerulares. c) Retenção de sódio pela aldosterona. d) Necrose fibrinoide das arteríolas aferentes. » Na verdade, o termo anatomopatológico mais preciso para descrever a lesão vascular renal da hipertensão arterial sistêmica é arterioloesclerose, e não aterosclerose. Aterosclerose é a doença que acomete a artéria de grande e médio calibre, enquanto a arterioloesclerose seria referente a vasos menores. Seja como for, sabemos que a nefroangioesclerose hipertensiva é consequência do efeito direto dos altos níveis pressóricos sobre as pequenas artérias e arteríolas renais pré-glomerulares, particularmente as interlobulares e as aferentes. A lesão hipertensiva destes vasos se manifesta pela hiperplasia fibromuscular da camada média (tentativa de proteger os glomérulos do aumento pressórico) e pelo espessamento da camada íntima, este último resultante do trauma hemodinâmico que eleva a permeabilidade local, permitindo extravasamento de proteínas plasmáticas que se depositam na parede vascular. Assim, a nefroesclerose hipertensiva deve ser entendida como uma forma de doença renovascular intraparenquimatosa, na qual os glomérulos – e seus respectivos túbulos – sofrem isquemia crônica progressiva, culminando em atrofia e fibrose do néfron. Os néfrons remanescentes ficam sobrecarregados pela hiperfiltração, e acabam desenvolvendo glomeruloesclerose focal e segmentar no futuro. Resposta: B. Avaliação do Paciente Hipertenso Na abordagem do paciente com hipertensão arterial, não podemos nunca perder de vista que nosso objetivo principal não é se ater ao controle dos níveis pressóricos, mas à redução do risco de complicações cardiovasculares como um todo!!! Assim,não só a pressão arterial deve ser focada, mas também suas Lesões de Órgão-Alvo (LOA) e a presença de outros fatores de risco cardiovascular. A seguir, encontram-se as principais recomendações da Diretriz Brasileira sobre a avaliação clínica e complementar necessária. Saiba Mais! Embora estejamos mais acostumados a ver a classificação de Keith-Wagener-Barker para retinopatia hipertensiva nas provas, existem outras no vasto conteúdo oftalmológico e que valem a pena ser conhecidas para uma prova de especialidade ou R3. Entre elas, temos a de Jerome Gans. Ela consiste em: A = alterações arterioscleróticas H = alterações hipertensivas A1: discreto aumento do reflexo arteriolar; alterações mínimas dos cruzamentos arteriovenosos. A2: reflexo arteriolar mais intenso; arteríolas cor de cobre ou prata; alterações das veias nos cruzamentos. A3: obliteração arteriolar e venosa. H1: arteríolas mais finas modificando a relação de diâmetro arteriovenoso para ½; constrições arteriolares focais. H2: maior redução de diâmetro arterial tornando a relação arteriovenosa de ⅓; irregularidade arteriolar com constrições focais, exsudatos e hemorragias. H3: estreitamento arteriolar fazendo segmentos espásticos invisíveis; hemorragias e exsudatos; edema de papila. medvideos.com Anamnese e Exame Físico ■ Tempo de diagnóstico, evolução e tratamento prévio. ■ Fatores de risco para doenças cardiovasculares e comorbidades. ■ Avaliação dietética (consumo de sal, ingestão alcoólica...). ■ Consumo pregresso ou atual de medicamentos ou drogas que podem elevar a PA. ■ História atual ou pregressa de gota, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, disfunção sexual e apneia do sono. ■ Fatores ambientais e psicossociais, sintomas de depressão, ansiedade e pânico, situação familiar. ■ História familiar de diabetes mellitus, dislipidemias, doença renal, AVC, doença arterial coronariana ou mortes prematuras (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos). ■Medição da PA nos dois braços. ■ Peso, altura, IMC e FC. ■ Circunferência Abdominal (CA). ■ Sinais de LOA. ■ Cérebro: deficit motores ou sensoriais. ■ Retina: lesões à fundoscopia. ■ Artérias: ausência de pulsos, assimetrias ou reduções, lesões cutâneas, sopros*. ■ Coração: desvio do ictus, presença de B3 ou B4, sopros, arritmias, edema periférico, crepitações pulmonares. ■ Sinais que sugerem causas secundárias; características cushingoides. ■ Palpação abdominal: rins aumentados (rim policístico). ■ Sopros abdominais ou torácicos (renovascular, coartação de aorta, doença da aorta ou ramos). ■ Pulsos femorais diminuídos (coartação de aorta, doença da aorta ou ramos). ■ Diferença da PA nos braços (coartação de aorta e estenose de subclávia). *O Índice Tornozelo-Braquial (ITB) consiste num método simples e de baixo custo para a detecção de doença arterial periférica. Para o cálculo do ITB, utilizam-se os valores de pressão arterial do braço e tornozelo (pediosa e tibial posterior), aferidas por um sonar Doppler. O valor normal é de 0,9-1,3. Ele está indicado em pacientes com mais de 70 anos, 50-69 anos com tabagismo ou diabetes, claudicação, alterações dos pulsos, doença coronária, carotídea ou renal, risco cardiovascular intermediário. Exames de Rotina para o Paciente Hipertenso ■ Análise de urina. ■ Potássio plasmático. ■ Creatinina plasmática e taxa de filtração glomerular estimada.* ■ Glicemia de jejum e HbA1c. ■ Colesterol total; HDL-colesterol e triglicerídeos.** ■ Ácido úrico plasmático. ■ Eletrocardiograma convencional. *Calculado pela fórmula do CKD-EPI (disponível em www.nefrocalc.net). **LDL-colesterol estimado pela fórmula de Friedewald. Obs.: a Diretriz Americana cita ainda TSH e sódio e cálcio séricos. O ácido úrico é colocado como opcional. A Diretriz Europeia acrescenta ureia, sódio e relação albumina/creatinina em amostra urinária. medvideos.com Principais Exames em Populações Indicadas ■ Radiografia de tórax: suspeita clínica de comprometimento cardíaco e/ou pulmonar; hipertensos com acometimento da aorta quando ECO não disponível. ■ Ecocardiograma*: indícios de HVE no ECG ou suspeita clínica de insuficiência cardíaca. ■ Albuminúria: hipertensos diabéticos com síndrome metabólica ou com dois ou mais fatores de risco. ■USG de carótidas**: presença de sopro carotídeo, sinais de doença cerebrovascular ou doença aterosclerótica em outros territórios. ■ Teste ergométrico: suspeita de doença coronariana estável, diabético ou antecedente familiar para doença coronariana em paciente com pressão arterial controlada. ■ Ressonância nuclear magnética (RM) do cérebro: indicada em pacientes com distúrbios cognitivos e demência para detectar infartos silenciosos e micro-hemorragias. ■ Velocidade de Onda de Pulso (VOP)***: indicada em hipertensos de baixo e médio risco, sendo considerado um método útil para avaliação da rigidez arterial, ou seja, do dano vascular. *Mais sensível do que o ECG no diagnóstico de HVE, esta considerada quando a massa ventricular esquerda indexada para a superfície corpórea é igual ou superior a 116 g/m² em homens e 96 g/m² em mulheres. **Valores da EMI (Espessura Médio-Intimal) > 0,9 mm têm sido considerados como anormais, assim como o encontro de placas ateroscleróticas. ***Valores de VOP considerados anormais quando > 10 m/s. Pesquisa do Índice Tornozelo-Braquial (ITB) com sonar Doppler. Valores menores que 0,9 apontam para a existência de doença arterial periférica. medvideos.com RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 HOSPITAL OFTALMOLÓGICO DE BRASÍLIA – HOB-DF Paciente feminina de 36 anos de idade, sedentária e obesa, agenda uma consulta por estar preocupada com a pressão arterial em razão de recente óbito familiar. Mostra-se ansiosa para fazer "todos os exames de pressão", mas se queixa de dificuldade financeira e pede somente os exames com maior nível de evidência. Considerando essa situação hipotética, é CORRETO afirmar que a paciente foi adequadamente orientada, caso tenha sido informada de que, entre os exames iniciais, os que têm nível de evidência B, de acordo com VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, são os seguintes: a) De ureia e de potássio. b) Ecocardiograma e de glicemia de jejum. c) De glicemia pós-prandial e de creatinina. d) De curva glicêmica e de colesterol total. e) De creatinina e de eletrocardiograma. » A investigação laboratorial básica está indicada a todos os pacientes hipertensos e inclui, pela Diretriz Brasileira: análise de urina; potássio plasmático; creatinina plasmática e estimativa do ritmo de filtração glomerular; glicemia de jejum e HbA1c; lipidograma; ácido úrico plasmático; eletrocardiograma convencional. Os objetivos dessa avaliação são: identificar fatores de risco para doenças cardiovasculares; pesquisar lesões clínicas ou subclínicas em órgãos-alvo; pesquisar presença de outras doenças associadas; estratificar o risco cardiovascular global; avaliar indícios do diagnóstico de hipertensão arterial secundária. Dessa forma, única opção correta: letra E. Estratificação de Risco Cardiovascular Atualmente dispomos de duas propostas principais de estratificação de risco. Na primeira, que consta apenas na Diretriz Brasileira de HAS, denominada "Estratificação de Risco Cardiovascular Adicional", o objetivo é determinar o risco diretamente relacionado à hipertensão e a classificação do risco depende dos níveis da PA, dos fatores de risco associados, das LOA e da presença de DCV, diabetes ou doença renal crônica. Observe nas tabelas a seguir e atente sobretudo para aqueles considerados de risco ALTO. Tab. 4 Estratificação de risco no paciente hipertenso de acordo com fatores de risco adicionais, presença de lesão em órgão-alvo e de doença cardiovascular ou renal. PAS: Pressão Arterial Sistólica; PAD: Pressão Arterial Diastólica;