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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 1 DISTRIBUIÇÃO TRIMODAL DO TRAUMA O trauma constitui um importante problema de saúde pública em nosso país, sendo ele responsável pelo grande número de anos perdidos pela população, sendo que sua maior incidência é nos jovens. Dito isso, as medidas de prevenção e políticas de educação são fundamentais, pois os acidentes de trânsito compõem grande parte desses números. O trauma apresenta uma distribuição trimodal das mortes, sendo representada por três picos: 1- O primeiro pico corresponde aos primeiros segundos e minutos após o trauma. Alguns pacientes podem ser salvos a depender da lesão, mas uma grande parte acaba evoluindo para o óbito por não suportar o trauma. Nesse caso, temos as lesões cardíacas, aórticas, do SNC e insuficiência respiratória como as prevalentes. 2- O segundo pico ocorre dentro de minutos e horas após o trauma, correspondendo ao conceito hora de ouro em que os socorristas devem agir e atender o paciente politraumatizado, pois o sucesso da sobrevida depende diretamente do tempo e da qualidade desse atendimento. Nesse tempo observamos como principais vilões as hemorragias e lesões do SNC. 3- O terceiro pico ocorre em vários dias ou semanas após o evento. Tal pico está relacionado a sepse e a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. ATENDIMENTO AO POLITRAUMATIZADO O médico emergencista ganha papel importante frente a um trauma, pois o mesmo deve exercer um papel de liderança. Mesmo assim, não podemos esquecer que a abordagem inicial deve ser feita em equipe, necessitando de uma boa relação, comunicação e treinamento. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 2 A medicina da emergência deve estabelecer ótimos vínculos com a cirurgia geral, neurocirurgia, ortopedia e anestesia a fim de levar o paciente ao centro cirúrgico de forma rápida e segura. O atendimento a um paciente politraumatizado inicia desde a chegada de profissionais ou leigos que possua habilidade de realizar o suporte básico de vida. Não podemos esquecer que aqui no Brasil temos duas instituições nas quais são responsáveis por esses casos: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), corpo de bombeiros e polícia. O SAMU e o corpo de bombeiros dividem os casos de forma pactuada de acordo com a gravidade. Devemos ter o conhecimento que o próprio SAMU apresenta dois tipos de equipes para o atendimento. Segundo a portaria 2052 que rege o SAMU existe dois tipos de ambulâncias: (1) ambulância básica: composta pelo motorista, técnico de enfermagem, maca, tábua rígida – pode ou não ter desfibrilador e não faz procedimento invasivos, enquanto que, (2) ambulância avançada: é composta por médico, enfermeiro, motorista, desfibrilador e drogas, mas não é uma ambulância de salvamento e sim de condução desse paciente para um centro de referência. Desse modo, o treinamento dos profissionais a situações extremas é fundamental para que uma equipe tenha sucesso nas suas abordagens. Sendo assim, o grau de complexidade dos procedimentos realizados por essa equipe durante a cena varia de acordo com a destreza da equipe. Acima dessas duas instituições que realizam esse atendimento inicial temos a central de regulação (sistema nervoso central da emergência) na qual deve ser composta por um médico que fica responsável desde o envio de uma equipe para a cena até a regulação do paciente para o centro de referência. O papel da central de regulação é importante, pois se deve levar em consideração, a distância, tempo de percurso, o estado de saúde do paciente e o recurso humano dentro dos serviços de emergência naquele momento. Durante o atendimento inicial do paciente traumatizado devemos ter em mente os 3 S (segurança, cena e situação). Tal mnemônico permite que o profissional de saúde evite erros e maiores danos ao paciente ou coloque em risco a sua equipe. Desse modo, devemos frisar sempre: em primeiro lugar devemos avaliar se o ambiente é seguro para que possamos tocar no paciente. Essa premissa permite que muitos erros possam ser evitados, pois caso seja inviável chegar ao paciente com parada a melhor conduta é procurar por ajuda, mesmo que você perca algum tempo. A avaliação da segurança do local deve ser constante, pois qualquer erro pode levar o fracasso do atendimento e morte de toda equipe. Desse modo, a experiência da equipe é bastante importante para minimizar tais erros, pois qualquer tomada de decisão equivocada não há como voltar atrás. Para tanto, dispomos do método START de avaliação das vítimas em que não leva em consideração o diagnóstico específico do paciente, mas sinaliza a necessidade do mesmo em ser socorrido. Tal método avalia a frequência respiratória (FR), tempo de enchimento capilar (TEC) e capacidade de realizar solicitações simples (falar seu nome). O macete para lembrar do método é 30 – 2 (30 – incursões por minuto da respiração e 2 – enchimento capilar). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 3 Os pacientes então são classificados em vermelho (risco imediato de vida, apresentando respiração após manobras de abertura de vias aéreas), amarelo (sem risco imediato de vida, necessitando de atendimento no local ou hospital), verde (capacidade de andar) e preto (pacientes que foram a óbito). AVALIAÇÃO PRIMÁRIA DO PACIENTE POLITRAUMATIZADO A avaliação primária consiste na sistematização da investigação diagnóstico de lesões imediatamente ameaçadoras à vida do paciente, seguindo uma ordem padronizada de prioridades. Para tanto, dispomos do ATLS que apresenta três pilares: (1) tratar primeiro A MAIOR ameaça à vida; (2) a falta de diagnóstico definitivo NUNCA deve impedir a aplicação do tratamento indicado; (3) a história detalhada NÃO É essencial para iniciar a avaliação inicial do traumatizado. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 4 A avaliação primária deve ser repetida frequentemente, para identificar qualquer piora na situação do doente que indique necessidade de outra intervenção. Para tanto, tal processo deve seguei a padronização do XABCDE. LETRA – X A letra X nada mais é do que o controle da hemorragia através de técnicas de hemostasia, transporte rápido, uso de cristaloides e prevenção de hipotermia (torniquete e imobilização pélvica). Fórmula do choque índex (FC/PAS): razão entre frequência cardíaca e PAS. Valores iguais e acima de 0,9 estamos diante de uma situação de sangramento crítico. LETRA – A A letra A (avaliação das vias aéreas com restrição da mobilidade da coluna cervical): traduz o primeiro passo no atendimento em avaliar a perviabilidade das vias aéreas, mesmo tendo a precaução com a mobilidade da coluna. Desse modo, o avaliado deve se identificar a presença de corpos estranhos, fraturas de mandíbula e face as quais impossibilitam a ventilação. Antes de tudo, não podemos esquecer de estabilizar a coluna cervical do paciente frente a suspeita de lesão de medula espinal com colar cervical rígido e prancha rígida. A observação de que a via aérea está pérvia se dá pela fonação do paciente que se encontra consciente, falando, eupneico. Existem algumas situações em que o paciente, mesmo com a via aérea pérvia, que o paciente pode evoluir com obstrução, caso não realizemos as manobras de manutenção de via aérea, são elas: • Trauma penetrante de pescoço em expansão; • Evidência de lesão química ou térmica na boca, narinas ou hipofaringe; • Enfisema subcutâneo extenso no pescoço; • Trauma maxilofacial complexo; • Sangramento ativa em via aérea; Manobras comuns são importantes para evitar a queda da língua (principal causa de obstrução de via aérea), realizando a elevação do mento (Chin lift), anteriorização da mandíbula (jaw trust) e tração mandibular natentativa de sanar a obstrução. Caso o paciente não consiga proteger a sua via aérea devemos lançar mão da cânula de Guedel ou cânula orofaríngea ou até mesmo do suporte avançado com intubação ou uma cricotireoidostomia. Para tanto, a escala de coma de Glasgow é importante para indicar a necessidade de intubar o paciente. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 5 Garantir uma via aérea artificial significa dizer que tomaremos medidas que garantam a oxigenação e ventilação do paciente crítico com métodos não cirúrgicos (IOT) e cirúrgicos (traqueostomia e cricotireoidostomia). A indicação para buscar uma via aérea definitiva são: • Inconsciência (Glasgow < 8); • Fraturas maxilo-faciais graves; • Risco de aspiração (sangramento ou vômito); • Risco de obstrução (hematoma cervical, lesão de laringe/traqueia e quemadura); Devemos tomar cuidado em pacientes com suspeita de TCE, pois a IOT exige uma hiperextensão da cervical para sequência rápida. Desse modo, a escolha por outro método é a melhor conduta. As técnicas que podem ser escolhidas são a IOT (orotraqueal ou nasotraqueal) e cricotireoidostomia (punção ou cirúrgica). A IOT é o método mais utilizado para acesso definitivo da via aérea, mas frente a um trauma maxilofacial extenso, presença de distorção anatômica em pescoço e incapacidade de visualização das cordas vocais é preferível utilizar outros métodos. A intubação nasotraqueal não deve ser realizada em pacientes com Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 6 rebaixamento do nível de consciência. Sinal de lesão de base de crânio: (1) sinal do guaxinim; (2) otorragia; (3) rebaixamento do nível de consciência. Contraindica a IOT, necessitando então de uma traqueostomia. A cricotireoidostomia cirúrgica é uma alternativa, sendo realizada através de uma incisão transversa ou longitudinal da cervical sobre a membrana cricotireoide. O orifício deve ser dilatado com pinça hemostática para introdução da cânula e insuflação do balonete na trauqueia. Devemos evitar essa medida em menores de 12 pelo risco de estenos subglótica. O ATLS traz a idade de 08 como corte para essa conduta. A traquestomia pode ser utilizada frente a presença de trauma de laringe (rouquidão, enfisema subcutâneo), acesso aéreo em pacientes menores que 12 anos e presença de lacerações abertas de pescoço. LETRA – B A letra B (ventilação e respiração): assegurar uma boa ventilação do paciente o examinador deve identificar os fatores que interferem na oxigenação do sangue, ou seja, inspecionar os pulmões, caixa torácica e diafragma. Desse modo, turgência de jugular e desvio de traqueia deve ser avaliados. Durante a cena o tórax deve ser exposto possibilitando a visualização, palpação e ausculta. Após a inspeção a ausculta pulmonar deve ser realizada a fim de confirmar se a ventilação está adequada dos pulmões, fornecendo indícios das possíveis etiologias. Logo em seguido podemos lançar mão de oxímetro de pulso. Todo paciente vítima de trauma deve receber oxigênio suplementar através de máscara com reservatório e fluxo de pelo menos 10 L/min. Além disso, a monitorização por oximetria de pulso e eletrocardiografia deve ser contínua. Fatores que dificultam a ventilação: pneumotórax hipertensivo, lesão na árvore brônquica, pneumotórax aberto, hemotórax maciço, contusão pulmonar e tamponamento cardíaco. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO O pneumotórax hipertensivo acontece quando o ar penetra a cavidade pleura de forma contínua em um mecanismo valvular que impede a saída do ar. Pacientes que apresenta traumatismo toráxico penetrante, ou fechado podem apresentar tal quadro. O ar aprisionado leva ao colapso do pulmão ipsilateral, desvio da traqueia e do mediastino, compressão do pulmão contralateral (gerando insuficiência respiratória) e aumento da pressão intratorácica (redução do retorno venoso: turgência de jugular, hipotensão e choque). Embora seja um problema pneumológico os principais sinais aparecem as alterações hemodinâmicas. Paciente que apresenta hipotensão, redução ou abolição da ausculta do murmúrio vesicular, hipertimpanismo, desvio contralateral da traqueia e turgência de jugular até que se prove o Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 7 contrário estamos diante de um pneumotórax hipertensivo. O diagnóstico é clínico e é um erro aguardar radiografia de tórax ou tomografia para confirmar tal diagnóstico. Uma vez diagnóstico a conduta é a rápida punção do pneumotórax com uso da toracocentese de alívio com objetivo de reduzir a pressão e melhorando o desconforto respiratório e padrão hemodinâmico. A punção do tórax é realizada com Jelgo no 5° espaço intercostal, anterior na linha axilar média. Antes a toracocentese era realizada no 2° espaço intercostal na linha hemiclavicular. O tratamento definitivo consiste na inserção do selo d’água com uso de dreno. Pacientes que mesmo com hemitórax drenado não apresenta melhora do pneumotórax e manutenção do desvio do mediastino, devemos pensar em lesão de via aérea de grande calibre que pode ser identificada com broncoscopia ou toracotomia. Uma medida de alívio que pode ser tomada é a inserção de outro dreno. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 8 PNEUMOTÓRAX SIMPLES No pneumotórax simples o mesmo apresenta uma gênese semelhante ao hipertensivo, mas não há desvio de mediastino, ne hipotensão arterial, não apresentando, então, manifestações hemodinâmicas. Dessa forma, a inserção de selo d’água depende da extensão do acometimento. O pneumotórax simples não apresente instabilidade hemodinâmica não há a necessidade de uma drenagem imediata com tratamento definitivo. HEMOTÓRAX O hemotórax é definido pela presença de sangramento na cavidade pleural que pode ser oriundo de uma laceração do parênquima pulmonar, lesão de vasos intercostais ou comprometimento da artéria mamária interna. Geralmente, o sangramento é autolimitado, sendo que o alívio com toracostomia e drenagem toráxica atua permitindo a reexpansão pulmonar e compressão do vaso lesado do sangramento. O hemotórax maciço consiste em um acúmulo rápido de sangue, cerca de 1500 mL ou mais de um terço de volumem sanguíneo do paciente na cavidade toráxica. Seu diagnóstico é alcançado pela presença de instabilidade hemodinâmica, murmúrio vesicular ausente e maciez à percussão do hemitórax envolvido. Geralmente, as jugulares estão colabadas por conta de hipovolemia. O manejo consiste na infusão de cristaloides e sangue, bem como toracostomia com colocação de dreno no nível do 5° espaço intercostal entre alinha axilar média e anterior. O conteúdo deve ser coletado para autotrasfusão. A drenagem deve seguir a velocidade de 200-300 mL/h. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 9 PNEUMOTÓRAX ABERTO Consiste na presença de lesão com diâmetro 2/3 do diâmetro da traqueia o que permite a entrada de ar através desse orifício. Desse modo, instala-se um aumento de pressão intra- torácica o que impede a boa ventilação e perfusão dos tecidos. Desse modo, devemos realizar um curativo de 03 pontas para permitir a saída do ar encaminhar para o centro cirúrgico. HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA TRAUMÁTICA Consiste na presença de evisceração das alças intestinais do abdômen adentrando na cavidade torácica a partir de um orifício criado por trauma no músculo do diafragma. Desse modo, podemos realizar o diagnóstico através do exame físico (presença de maciez) e exame de imagem. TÓRAX INSTÁVEL OU AFUNDAMENTO DE TÓRAX Consiste na visualização de dinâmica ventilatória anormal do paciente. Observa-se um afundamento durante a inspiração e elevação durante a expiração. Tal situação acontece quandotemos uma lesão de gradil costal em dois locais, deixando a costela “livre”. A conduta é em ambiente hospitalar para correção da lesão. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 10 TAMPONAMENTO CARDÍACO O tamponamento é a causa mais comum de traumatismo torácico o qual consiste no acúmulo de líquido ou sangue dentro das lâminas pericárdicas. Essa situação é comum na presença de lesões penetrantes, traumas cardíacos fechados (ruptura miocárdica ou dissecção de aorta) e traumas de aorta ou vasos pulmonares. O sangue acumulado na cavidade pericárdica acaba exercendo um efeito compressivo sobre as câmaras do coração o que leva a restrição de seu enchimento e comprometimento do débito cardíaco. Tal situação acaba levando uma turgência jugular e congestão pulmonar, bem com hipotensão e choque. O tamponamento cardíaco é marcado pela presença de tríade de beck (turgência de jugular, hipotensão e abafamento de bulhas cardíacas – presente em 30-40% dos casos). Não podemos esquecer da presença de pulso paradoxal que é marcado pela diferença de mais 10 mmHg entre a PAS durante a inspiração. Na suspeita de tamponamento podemos lançar mão do FAST para identifica derrame pericárdico o qual permite avaliar a presença Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 11 de líquido em 90-95% dos casos. Quando o FAST for inconclusivo a utilização de um ecocardiograma transtorácico é recomendado. O tratamento consiste na toracotomia de emergência ou esternotomia. A intervenção provisória pode ser por pericardiocentese subxifoidiana (punção de Marfan) com agulha de ponta romba para remoção de 15-20 mL e melhora do quadro hemodinâmico. LETRA – C A letra C (circulação com controle de hemorragia): a atenção quanto à hemodinâmica do paciente é fundamental através da avaliação da perfusão periférica, pulsos e capacidade do paciente de manter um bom nível de consciência. Devemos saber que um pulso periférico rápido e fino ou ausente é um sinal clássico de choque hipovolêmico. Desse modo, a monitorização eletrocardiográfica e da pressão arterial se faz necessário. A primeira medida é compressão de feridas sangrantes com uso de gaze ou curativo. Após isso, devemos sempre buscar estimar o status hemodinâmico do paciente para determinar quanto de reposição volêmica vamos realizar. Para tanto, a avaliação dos sinais vitais (frequência cardíaca, pressão arterial), presença de pulso carotídeo (podemos deduzir uma PAS de no mínimo 60 mmHg), pulso femoral (PAS 70 mmHg) e pulso radial (PAS 80 mmHg). Paralelo a isso, devemos instalar dois acessos venosos periféricos de grosso calibre, caso seja impossível, lançamos mão de acesso intraósseo, acesso venoso central e flebotomia nesta ordem de prioridades. Devemos coletar os níveis séricos de hemoglobina e hematócrito, INR, Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 12 tipagem sanguínea, lactato e gasometria arterial, não esquecendo de solicitar beta-HCG em todas as mulheres com idade fértil. Além disso, administrar 1000 mL de solução isotônica aquecida faz parte do protocolo, de preferência aquecido 37-39°C. Caso haja hemorragia externa devemos pressionar o local, caso seja impossível, lançamos mão de um torniquete. Fontes de hemorragia interna podemos identificar através do exame físico, exames de imagem, toque retal e vaginal. Em situações de choque hemorrágico o uso de ácido tranexâmico (ótima droga no cenário do trauma, pois apresenta capacidade de evitar a fibrinólise, pela inibição da lise da fibrina. O mesmo não interfere na cascata de coagulação, assim, não altera os parâmetros) precocemente faz parte do protocolo, sobretudo em paciente com PA sistólica abaixo de 90 e taquicardia acima de 120 bpm. Administrar 1 g IV em 10 min em até 3 horas do trauma, mesmo em choque classe III. A principal via de acesso venoso é o dorso da palma da mão e antebraço, seguido de safena magna ou acesso central, seguido por acesso intraósseo (primeira opção em menores que 06 anos quando o acesso periférico não é possível). Como sabemos que o atendimento pré- hospitalar não é um ambiente com medidas de assepsia corretas, devemos trocar os acessos o mais precoce possível para evitar contaminação. Um fato importante é que devemos sempre avaliar a resposta do paciente frente a expansão volêmica iniciada. O uso de cristaloide em excesso (de preferência o Ringer Lactato), pode piorar o quadro de hemorragia pela elevação da PA reflexa. Desse modo, devemos fechar a torneira antes de encher o tanque. Como todo trauma devemos encarar como choque hipovolêmico podemos aplicar o conceito de hipotensão permissiva a fim de alcançar perfusão e oxigenação com níveis pressóricos abaixo do normal, evitando que o paciente sangue mais. Tal conceito só pode ser aplicado frente a não suspeita de TCE. Pacientes classes 3 e 4 podem se apresentar refratários a reposição com cristaloide, requerendo o uso de transfusão de hemoderivados. Podemos utilizar a transfusão maciça que consiste no emprego de mais de 10 unidades de concentrados de hemácias nas 24 horas ou 04 unidades em uma hora. A proporção da transfusão maciça é de 1:1:1. Temos um score que podemos utilizar para iniciar o protocolo de transfusão maciça, ele avalia (1) presença de trauma penetrante; (2) FAST positivo; (3) PAS ≤ 90 mmHg; (4) FC ≥ 120 bpm. Sendo que uma Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 13 pontuação ≥ 2 prediz necessidade de transfusão com sensibilidade de 75% e especificidade de 86%. Uma vez que iniciamos a ressuscitação volêmica devemos estar atentos para a resposta do paciente frente nossa medida. Desse modo, avaliamos a pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória e, sobretudo, o DÉBITO URINÁRIO. Podemos subdividir tal resposta em rápida (pacientes com perda volêmica < 20%), transitória (pacientes com perda sanguínea de 20-40%) e mínima ou ausente (pacientes que devem ser encaminhados o mais rápido para o centro cirúrgico. LETRA – D A letra D (avaliação neurológica): o exame neurológico é mais focado em determinar o nível de consciência do paciente, através da avaliação das pupilas e sinais de lateralização. Devemos sempre prevenir lesão cerebral secundária, mantendo boa oxigenação e perfusão cerebrais. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Urgência e Emergência) 14 LETRA – E A letra E (exposição e controle do ambiente): a exposição consiste em retirar o paciente do ambiente no qual pode acarretar dano ao mesmo, bem como precaver hipotermia. Devemos sempre despir todo o paciente para avalia-lo da cabeça aos pés, bem como a região dorsal e períneo. A prevenção da hipotermia pode ser realizada com desligamento do ar condicionado e uso de cristaloide aquecido. Não podemos esquecer de outras medidas auxiliares nessa primeira avaliação: monitorização eletrocardiográfica para afastar arritmias e lesão miocárdica, introdução de cateter urinária para avaliação do débito urinário, cateter gástrico para esvaziamento do estômago para evitar a broncoaspiração e monitorização completa do paciente em ambiente de UTI. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA O próximo passo do atendimento do trauma consiste na avaliação secundária clinicamente do paciente de forma sistemática, seguindo a ordem craniocaudal. Neste momento o paciente já se encontra estabilizado, sendo fundamental lançar mão de uma história e exame físico mais detalhado (craniocaudal). Neste momento podemos também utilizar exames complementares a fim de alcançar o diagnóstico (EDA, broncoscopia, RNM, TC, cistografia). Podemos antes de iniciar o exame físico questionar o paciente ou acompanhante sobre o mnemônico AMPLA. A – Alergias; M – medicamentos em uso; P – passadomédico/prenhez; L – líquidos e alimentos ingeridos recentemente; A – ambiente e eventos relacionados ao trauma.
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