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Nutrição nos ciclos da vida 1 Nutrição nos ciclos da vida Professora Rosimerie Barros Nutrição nos ciclos da vida 2 1 A saúde e a nutrição 3 2 Saúde pública 5 3 O Programa Saúde da Família, a nutrição e o nutricionista 6 4 Hábitos de vida e nutrição 8 5 Pirâmide alimentar 9 6 Nutrição inteligente 12 7 Cálcio para prevenir a osteoporose 12 8 Necessidades de cálcio 13 9 Fontes de cálcio 13 10 Suplementação de cálcio 13 11 Alimentos funcionais e o coração 13 12 Gravidez, amamentação e a criança pré-escolar 14 13 Gravidez: impacto da nutrição 15 14 Os nutrientes para o bebê 15 15 Vitaminas 16 16 Alimentos ricos em ácido fólico 16 17 Minerais 16 18 A amamentação 17 19 Alimentação saudável e o signifi cado dos alimentos 18 20 O pré-escolar 19 21 Fase escolar 19 22 Preocupações nutricionais 19 23 Adolescência 20 24 Idade adulta 22 25 Envelhecimento 23 26 Ações conjuntas voltadas para a segurança alimentar e nutricional, na promoção da saúde 25 Referências bibliográfi cas 27 SUMÁRIO Nutrição nos ciclos da vida 3 1 A SAÚDE E A NUTRIÇÃO A transição epidemiológica em curso no Brasil, fruto das mudanças no perfi l demográfi co e nutricional da população, vem promovendo profundas alterações no padrão de morbimortalidade e no estado nutricional em todas as faixas etárias e em todo o espaço geográfi co – nas áreas urbana e rural das grandes e pequenas cidades. Embora o perfi l de saúde da população brasileira possa ser caracterizado por decrescentes taxas de mortalidade em todas as faixas etárias, destacam-se ainda as altas prevalência e incidência de várias doenças infecciosas e parasitárias (BRASIL, 1999), estas de elevada ocorrência em países periféricos. Soma-se a esse panorama aquelas morbidades características dos países centrais. De uma maneira geral, o quadro de morbimortalidade desenhado na atualidade para o Brasil associa-se com a alimentação, a nutrição e o estilo de vida dos brasileiros (WORLD HEALTH, 1997). É importante refl etirmos sobre o perfi l de morbidade da gestante, caracterizado também pela dualidade do estado de saúde e nutrição. Por um lado, vemos aquele estado de saúde representado pelo peso inadequado ao gestar e baixo ganho de peso no processo gestacional, resultando em baixo peso ao nascer e suas consequências negativas para a sobrevivência do recém-nascido, e, por outro lado, vemos o estado caracterizado pelo sobrepeso, doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, os quais constituem riscos elevados de morbidade materna. Nesse cenário, o Brasil, ao colocar-se como signatário dos Fóruns Internacionais sobre Segurança Alimentar, assume os objetivos estratégicos da redução das prevalências da anemia ferropriva, da hipovitaminose A, da defi ciência de iodo, do baixo peso ao nascer e de outras defi ciências nutricionais que vêm comprometendo a qualidade de vida e a saúde do brasileiro. Ressaltamos, no entanto, que a falta de equidade em saúde e a distribuição heterogênea dos seus agravos permeiam todas as instâncias e todos os ciclos de vida da população brasileira, defi nindo-se nessa complexidade social o perfi l nutricional e alimentar diretamente vinculado ao padrão de morbimortalidade desta comunidade. Diante desta situação, o Brasil vem buscando, especifi camente a partir dos anos 90, reorganizar o modelo de atenção à saúde, de forma a superar a história de um sistema nacional de saúde modelado pela assistência médica curativa, de baixa resolutividade e inacessível à maioria da população. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) foi formulada a partir da luta e contribuições de pessoas de instituições governamentais e não governamentais com atuação no campo da alimentação e nutrição. Isso representa uma conquista no que se refere à legitimação das ações nesta área enquanto integrantes da Política Nacional de Saúde, sob responsabilidade dos três níveis de gestão do Sistema Único de Saúde. Esta política integra a Política Nacional de Saúde no contexto da segurança alimentar e nutricional. Compõe, portanto, o conjunto das políticas de governo voltadas à concretização do direito humano à alimentação adequada, com o propósito da garantia da qualidade dos alimentos colocados para o consumo no país, a promoção de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e controle dos distúrbios nutricionais, bem como o estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos. O tema de segurança Nutrição nos ciclos da vida 4 alimentar e nutricional se qualifi ca quando as ações começam a caminhar para uma abordagem integrada dos problemas de saúde, não mais dicotomizando a desnutrição e a obesidade como antagônicas, mas sim como faces de um mesmo problema epidemiológico, político, econômico e social. A fundamentação da política na garantia da segurança alimentar e nutricional e na concretização do direito humano à alimentação adequada é uma das qualidades que apresentam um leque de possibilidades de ações que não se limitam apenas ao setor saúde. O reconhecimento da alimentação saudável como um direito humano, conferindo-a o status de direito social, colocou as questões relacionadas à fome e à insegurança alimentar e nutricional no enfoque de políticas públicas. Percebe-se a necessidade de fortalecimento das relações intersetoriais para garantir o acesso da população aos alimentos, como a aquisição dos alimentos do pequeno produtor para a merenda escolar, o fortalecimento dos bancos de alimentos nos municípios e o estímulo à produção de alimentos entre pequenos produtores. A política trata da necessidade do redirecionamento e do fortalecimento das ações de vigilância sanitária na diretriz “Garantia da segurança e da qualidade dos alimentos e da prestação de serviços neste contexto”. A Redenutri sugere a modernização dos instrumentos de fi scalização, a formação de massa crítica para discussão sobre o tema, o desenvolvimento e capacitação de recursos humanos, a responsabilidade das três esferas de governo e a ampliação de espaços de diálogo e negociação para que se possibilite a real implantação da PNAN e o avanço contínuo da garantia do acesso à alimentos saudáveis, adequados e seguros. Quanto à diretriz do “Monitoramento da situação alimentar e nutricional”, integrantes relatam tanto qualidades quanto limitações. Na diretriz de “Promoção de práticas alimentares e estilos de vida saudáveis”, a política reconhece a importância do estabelecimento de diretrizes técnicas sobre alimentação nas diferentes fases do ciclo de vida. A publicação dos guias alimentares tem papel fundamental na orientação dos profi ssionais de saúde para as ações de promoção e prevenção da saúde. Em 2005 foi publicado o primeiro Guia Alimentar para a População Brasileira. Também existe a necessidade de melhor articulação dos programas e ações da nutrição na atenção básica no escopo da atenção primária à saúde. Os programas nacionais de suplementação de ferro e de vitamina A são ainda implementados de maneira desarticulada das ações da Estratégia de Saúde da Família. Faz-se necessária a criação de mecanismos que provoquem uma integração melhor destes processos. Os Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASFS) têm potencial para o apoio para a concretização desta integração. A agenda única deve ser organizada a partir da caracterização clara do perfi l epidemiológico da comunidade e dos espaços domiciliares com a identifi cação de riscos, problemas, prioridades, potencialidades e possibilidades de atuação e reconhecimento da situação de saúde, alimentação e nutrição das famílias, utilizando os diversos sistemas de informação da atenção básica – dentre os quais o Sisvan –, que servirão de base para a realização do diagnóstico no nível local até chegar na tomada de decisão em diferentes níveis de governo. A partir do diagnóstico local, é possível realizar o planejamento com vistas à estruturação das ações de prevenção e controle dascarências nutricionais e de promoção da alimentação saudável no serviço, de Nutrição nos ciclos da vida 5 forma a contemplar as peculiaridades e as diversidades locais, assim como defi nir os mecanismos de apoio e os espaços intersetoriais, com destaque para o papel das escolas, dos equipamentos da rede de assistência social e do desenvolvimento agrário como potenciais atores de atuação conjunta. 2 SAÚDE PÚBLICA As mudanças econômicas, sociais e demográfi cas ocorridas nas últimas décadas, em decorrência da modernização e crescente urbanização, alteraram os padrões de estado nutricional da população, gerando um aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade e diminuição da incidência de desnutrição, caracterizando assim um período de transição nutricional (MONTEIRO, 2000). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, nos próximos dez anos, a obesidade será a principal causa de morte evitável em todo o mundo, superando o número de óbitos causados pelo cigarro (WHO, 2003). A prevenção e o controle das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e seus fatores de risco são fundamentais para evitar o crescimento epidêmico delas e suas consequências para a qualidade de vida e os sistemas de saúde. A Estratégia Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde (EG) propõe como medida a necessidade de fomentar mudanças socioambientais coletivas, para então favorecer as escolhas saudáveis do indivíduo, de forma a reverter este quadro ascendente de DCNT. A responsabilidade compartilhada entre sociedade, setor produtivo e setor público é o caminho para a construção de modos de vida que tenham como objetivos centrais a promoção da saúde e a prevenção das doenças. Os direitos humanos consistem em respeito, igualdade, dignidade e valor e dizem respeito à oportunidade de todas as pessoas alcançarem seu pleno potencial. As desigualdades em saúde frequentemente refl etem discriminação ou exploração subjacente. A obesidade e doenças relacionadas não são igualmente distribuídas e existem dimensões tanto socioeconômicas quanto étnicas envolvidas. A tendência de taxas de incidência mais altas entre grupos pobres e socialmente desfavorecidos em países desenvolvidos agora também parece estar ocorrendo nos países em desenvolvimento, principalmente em áreas urbanas, inclusive favelas (ENGESVEEN, 2005). As obrigações correspondentes dos Estados geralmente são classifi cadas em três níveis de obrigação: respeitar, proteger e cumprir. Este último geralmente é subdividido em facilitação, provisão e promoção. Entre as medidas de proteção está a regulação das atividades de terceiros, a fi m de evitar a interferência nos direitos de outras pessoas à alimentação e a saúde. Isso depende das opções disponíveis e acessíveis, logo os Estados são responsáveis por criar ambientes propícios, cumprindo assim suas obrigações de facilitação dos direitos à alimentação e à saúde. Muitos estudos de caso sugerem que os governos podem encorajar escolhas melhores para a saúde das pessoas através de processos de regulamentação de determinados produtos que resultam em prejuízo para a saúde. Assim, intervenções governamentais que ajudem as pessoas a controlar comportamentos que coloquem sua própria saúde em risco não podem ser entendidas como restrições à liberdade de escolha Nutrição nos ciclos da vida 6 individual. O avanço do conhecimento científi co sobre riscos à saúde vem ampliando o debate sobre melhores medidas e ações que impactam a saúde pública mundial. È importante que os governos e atores não governamentais reconheçam sua responsabilidade conjunta pela realização do direito de todas as pessoas, em particular dos jovens, à alimentação adequada e ao padrão de saúde mais elevado possível (SCN, 2006). As DCNT em geral são doenças de longa duração e, como tais, estão entre as doenças que mais demandam ações, procedimentos e serviços de saúde. De acordo com dados do Ministério da Saúde, estima-se que os gastos do Sistema Único da Saúde (SUS) com as DCNT totalizam 69% dos gastos com atenção à saúde. Por outro lado, sabe-se que os principais fatores de risco para as DCNT são relacionados ao comportamento (má alimentação, inatividade física, baixo consumo de frutas, legumes e verduras e uso de tabaco) e, portanto, passíveis de prevenção. Fortalecer as ações de promoção da saúde, com destaque para a promoção da alimentação saudável, representa aumentar a efetividade dos investimentos em saúde e nutrição adequada para reverter as elevadas prevalências destas doenças no país. Desse modo, partindo do conceito ampliado de saúde, marcado pela Constituição Federal de 1988, e dentro da perspectiva da promoção da saúde, são construídas estratégias intersetoriais de proteção à saúde e à vida, estimulando e desencadeando ações que favoreçam o compromisso da sociedade a tornar as escolhas saudáveis mais acessíveis a todos. O Ministério da Saúde ratifi ca, por meio da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), o compromisso brasileiro com as diretrizes de Estratégia Global, em plena consonância com a Política Nacional de Alimentação de Nutrição (PNAN) (BRASIL, 2003). 3 O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA, A NUTRIÇÃO E O NUTRICIONISTA Tomando como base os fundamentos norteadores das diretrizes da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, pode-se concluir que a efetivação da vigilância capaz de ultrapassar a abordagem do estado nutricional, abrangendo a dimensão alimentar, demanda também que sejam asseguradas a disponibilidade e as condições de acesso social e físico aos alimentos. Se, por um lado, esta questão estará estritamente ligada às condições estruturais da sociedade e requer estudos para minimizar a problemática, por outro lado, é imperioso conhecer com profundidade os determinantes culturais dos hábitos alimentares, assim como compreender porque práticas alimentares regionais saudáveis vêm sendo substituídas por outras que agregam maiores prejuízos à saúde e, por vezes, também às fi nanças das famílias. Todo esse desafi o é emoldurado, no âmbito da PNAN, pela educação alimentar e nutricional, a qual exige um profi ssional detentor de conhecimentos no campo da ciência da alimentação e da nutrição que, consequentemente, integre à sua prática ferramentas da epidemiologia, do planejamento, da educação e de outras disciplinas das ciências sociais e humanas. Além disso, o processo de adoecimento da população é explicado por uma rede complexa de determinantes biológicos, sociais, econômicos e culturais de difícil hierarquia na defi nição da situação de risco e de suas prioridades. Desse modo, a prevenção e o tratamento dos males que atingem os brasileiros requerem a disponibilidade de uma equipe multidisciplinar capaz de conceber a saúde na sua dimensão coletiva. Nutrição nos ciclos da vida 7 Nesse sentido, toma-se como referência o discurso ofi cial do PSF: “O Programa Saúde da Família não é o Programa do Médico da Família, pois não é centrado no trabalho médico, mas de uma equipe multiprofi ssional, na qual todos os saberes são respeitados [...]” (BRASIL, 2000c). Tal afi rmação, perfeitamente sustentada na compreensão da multideterminação dos problemas de saúde vivenciados pela população e amparada no conceito da interdisciplinaridade, evidencia que a implementação do programa prevê o envolvimento de profi ssionais qualifi cados, capazes de articularem no exercício de seu trabalho os conhecimentos específi cos, construídos ao longo de sua formação profi ssional, com os saberes coletivos, na direção de uma prática social que transcenda a fragmentação e a especialização características das ações de saúde no país. Na atualidade, de acordo com o conhecimento científi co acumulado, o controle, a prevenção e o tratamento das enfermidades aqui aludidas passam, necessariamente, pelo campo específi co da ciência da nutrição, assim com as mudanças na qualidade de vida das pessoas, as quais são preconizadas em todo o mundo como uma das estratégiascapazes de gerar impactos positivos no perfi l epidemiológico das populações. A importância do componente alimentar e nutricional nas políticas públicas de corte social, particularmente no Brasil, é mais um indicador da relevância dessa área de saberes e práticas. Desde os anos 70, o Brasil vem buscando implementar programas nacionais de intervenção na área de alimentação e nutrição. Recentemente, contudo, tais ações passaram a ser descentralizadas. No presente, tanto quanto no passado, questões sobre avaliação do impacto dessas políticas e programas encontram-se na agenda do governo, não só pela inversão de recursos que representam, mas também pelo compromisso fi rmado por todos os governos e governantes com a redução da fome e da prevalência da desnutrição do povo brasileiro. A competência do nutricionista para integrar a equipe do Programa Saúde da Família está estabelecida em sua formação acadêmica, a qual o instrumentaliza a realizar diagnóstico nutricional da população, tornando-o, assim, o único profi ssional a receber uma instrução específi ca que lhe permite, a partir desse diagnóstico e da observação dos valores socioculturais, propor orientações dietéticas cabíveis e necessárias, adequando- as aos hábitos da unidade familiar, à cultura, às condições fi siológicas dos grupos e à disponibilidade de alimentos. Trata-se, portanto, de um profi ssional apto a participar efetivamente da recriação das práticas de atenção à saúde no Brasil. Por este caminho, pode-se afi rmar que uma assistência à saúde da família brasileira cujo objetivo seja transformar a história das práticas e dos resultados das intervenções não poderá prescindir da atuação do nutricionista. A partir da integração do nutricionista à equipe do Programa Saúde da Família, estará conquistada a sua oportunidade de colocar à disposição da unidade familiar, de forma integrada com outros profi ssionais, os seus saberes específi cos na direção de uma ação responsável sobre os problemas que afetam a saúde e a qualidade de vida da população brasileira. Nutrição nos ciclos da vida 8 4 HÁBITOS DE VIDA E NUTRIÇÃO Alimentação baseada em grandes quantidades de alimentos industrializados, maior acesso aos confortos propiciados pela tecnologia (elevadores, carros, controles remotos, entre outros) e trabalho em um ritmo alucinante são fenômenos típicos dos processos de industrialização e urbanização. Os hábitos da modernidade vêm gerando brasileiros mais gordos, inativos e estressados do que nunca. Para se ter uma ideia da importância desses hábitos da modernidade sobre a longevidade humana, de acordo com pesquisa realizada pela Universidade de Stanford, dentre os fatores que pesam para que uma pessoa ultrapasse os 65 anos, o estilo de vida é o fator mais predominante (53%). A obesidade, por exemplo, tornou-se tão comum que acabou por transformar-se no mais grave problema de saúde pública do mundo, superando até mesmo a desnutrição e as doenças infecciosas. Os Estados Unidos já possuem 55% da sua população acima do peso. No Brasil, esse percentual gira em torno de 40%, do qual 11% é constituído por obesos. Sem desprezar a infl uência dos fatores genéticos, que são consideráveis, o aumento da obesidade é um produto da sociedade moderna. Pela primeira vez, em séculos, o mundo ocidental tem abundância de alimentos (sobretudo de proteínas, carboidratos e gorduras), bem como alimentos industrializados amplamente distribuídos e anunciados de modo atraente, o que torna mais difícil convencer as pessoas a privilegiarem o consumo de frutas, verduras e legumes, apesar dos benefícios nutricionais evidentes destes alimentos. Soma-se a isto a ascensão de padrões sociais de beleza que induz as pessoas a buscarem cada vez mais um ideal de magreza, muitas vezes incompatível com a constituição física que lhes é característica. O cenário é de maior abundância de alimentos altamente calóricos aliada a uma exigência social cada vez maior pela magreza e pelo corpo perfeito. Como consequência, surgem problemas psíquicos e emocionais que se refl etem em graves distúrbios alimentares, os quais não apenas comprometem a qualidade de vida mas, sobretudo, a saúde das pessoas. A nutrição é um conjunto de processos que envolve a ingestão, digestão, absorção, metabolismo e excreção dos nutrientes, com a fi nalidade de produzir energia e manter as funções do organismo. Os nutrientes são substâncias contidas nos alimentos que fornecem energia para o funcionamento do corpo humano. Podemos dividi-los em macronutrientes e micronutrientes. Os macronutrientes são os carboidratos, proteínas e lipídeos, e os micronutrientes são as vitaminas e minerais. Os carboidratos fornecem a energia necessária para que realizemos as atividades do dia-a-dia. As proteínas atuam na reestruturação de células e tecidos, crescimento e manutenção do esqueleto e síntese de enzimas e hormônios. Os lipídeos, por sua vez, atuam no transporte das vitaminas lipossolúveis A, D e K e também fornecem energia. As vitaminas e os minerais são substâncias reguladoras. Desempenham papel importante no bom funcionamento de intestino, contribuem na formação de ossos, dentes, cartilagens e no processo de absorção Nutrição nos ciclos da vida 9 do organismo. Em cada fase da vida há uma demanda energética e nutricional diferente, de acordo com a necessidade orgânica. Em estados de doença, a necessidade nutricional muda e requer um cuidado alimentar diferenciado. 5 PIRÂMIDE ALIMENTAR A pirâmide alimentar é o mais moderno guia de alimentação aprovado pela Organização Mundial da Saúde. Substituiu a roda de alimentos, usada para explicitar os grupos de alimentos. Estes foram subdivididos para melhor garantir o consumo de todos os nutrientes nas quantidades adequadas. Através da pirâmide podemos visualizar todos os grupos de alimentos e saber qual podemos ingerir mais e qual devemos evitar. Foram defi nidos oito grupos para manter a estrutura idealizada pela pirâmide americana. Cada grupo tem sua importância funcional no organismo: a base fornece energia; o segundo nível, as vitaminas, minerais e fi bras; o terceiro, proteínas, ferro e cálcio; o topo, gorduras e açúcares. Cada um desses nutrientes tem uma importância diferente no organismo, por isso a colocação deles dentro de uma pirâmide. Dessa forma, pode-se mostrar que os alimentos da base devem ser consumidos em maiores quantidades e os do topo em menores. Os três conceitos principais de uma alimentação equilibrada são: Nutrição nos ciclos da vida 10 • Variedade: é identifi cada pelo consumo de uma grande variedade de alimentos dentro e entre os maiores grupos. Em outras palavras, nenhum grupo é mais ou menos importante do que qualquer outro grupo; • Moderação: é defi nida por dois componentes: a. consumir alimentos no tamanho recomendado das porções, especialmente no caso daqueles ricos em gorduras e/ou açúcares; b. consumir gorduras, óleos e doces esporadicamente. • Proporcionalidade: é defi nida como consumir relativamente mais de grupos alimentares maiores, e menos de grupos menores. Vejam quais são os alimentos de cada grupo e quantas porções, em geral, devemos consumir de cada um: • Grupo 1: os carboidratos (pão, batata, macarrão, arroz) - principais fontes imediatas de energia. São chamados energéticos. • Grupo 2 e 3: o das verduras, legumes e frutas - fontes de vitaminas, minerais e fi bras (essenciais para o bom funcionamento do organismo). São denominados reguladores. • Grupo 4, 5 e 6: o das leguminosas e sua proteína vegetal (lentilha, ervilha, feijão, grão de bico e soja), das carnes (brancas, vermelhas, ovo) e sua proteína animal – muito bem utilizadas por nosso organismo para produção de tecidos, enzimas e compostos do sistema de defesa – e dos leites e derivados (iogurtes, queijos), que são os maiores fornecedores de cálcio. Todos eles têm a função de crescimento, desenvolvimento e formação de massa muscular. São chamados construtores. • Grupos 7 e8: o dos óleos, gorduras, açucares e doces – o excesso deve ser evitado. São os chamados energéticos. As porções são quantidades dos alimentos em suas formas mais comuns de consumo pela população (fatia, colheres, unidades, copos, folhas etc.). Foram estabelecidas para os oito grupos alimentares, com defi nição dos pesos em gramas, quilocalorias e as medidas usuais de consumo de alimentos naturais, industrializados e preparações culinárias, para facilitar a transmissão das orientações dietéticas e o entendimento pela população. Todos os grupos de alimentos são importantes para suprir as necessidades de nutrientes dos indivíduos e manter sua saúde, por isso, todos devem ser consumidos em suas quantidades adequadas. Estas quantidades variam de acordo com as necessidades de cada indivíduo (PHILIPPI et al.,1999). A base da pirâmide deve ser composta por exercícios físicos e controle de peso. Os malefícios causados pelo sedentarismo já estão mais do que comprovados. Colocar em prática as recomendações da pirâmide pode diminuir signifi cativamente o risco de doenças cardiovasculares. Entretanto, em uma dieta balanceada não pode haver excessos e nem defi ciência de alimentos. Portanto, nem todo carboidrato é bom, assim como Nutrição nos ciclos da vida 11 nem todo óleo é ruim. A forma como eles são preparados e o horário em que serão ingeridos também devem ser levados em conta. De acordo como os princípios de uma alimentação saudável, todos os grupos de alimentos devem compor a dieta diária. A alimentação saudável deve fornecer água, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, fi bras e minerais, os quais são insubstituíveis e indispensáveis ao bom funcionamento do organismo. A diversidade dietética que fundamenta o conceito de alimentação saudável pressupõe que nenhum alimento específi co ou grupo de alimentos, isoladamente, é sufi ciente para fornecer todos os nutrientes necessários a uma boa nutrição e uma consequente manutenção da saúde. A ciência comprova aquilo que ao longo do tempo a sabedoria popular e alguns estudiosos, há séculos, apregoavam: a alimentação saudável é a base para a saúde. A natureza e a qualidade daquilo que se come e se bebe é de importância fundamental para a saúde e para as possibilidades de se desfrutar todas as fases da vida de forma produtiva e ativa, longa e saudável. A alimentação, quando adequada e variada, previne as defi ciências nutricionais e protege contra as doenças infecciosas. Por ser rica em nutrientes, pode melhorar a função imunológica e contribuir para a proteção contra as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e potencialmente fatais, como diabetes, hipertensão (AVC), doenças cardíacas e alguns tipos de câncer. Por esses motivos, a alimentação deve ser planejada, com alimentos de todos os tipos e de procedência conhecida. As recomendações são de que esses alimentos: • devem ser consumidos preferencialmente em sua forma natural; • devem ser adequados qualitativa e quantitativamente; • pertençam ao hábito alimentar; • sejam preparados de forma a preservar os valores nutritivos e os aspectos sensoriais; • sejam seguros sob o ponto de vista higiênico-sanitário. Assim, observamos que somente a mudança de hábitos alimentares, a reformulação e adequação da nossa dieta com o modelo proposto pela pirâmide alimentar e a prática constante de exercícios físicos permitirão alcançar uma boa saúde e uma alimentação com qualidade. Nutrição nos ciclos da vida 12 6 NUTRIÇÃO INTELIGENTE Dos vários neurotransmissores, a serotonina exerce grande infl uência no estado de humor. Ela é também conhecida como uma substância “mágica” e sedativa que melhora o humor de um modo geral, principalmente nas pessoas com depressão. Os níveis cerebrais de serotonina são dependentes da ingestão de alimentos fontes de triptofano (aminoácidos precursor da serotonina) e de carboidratos. • Fontes de triptofano: carnes magras, peixes, leite e iogurte desnatados, queijos brancos e magros, nozes e leguminosas. • Fontes de carboidratos: pães, cereais integrais, biscoitos integrais, massas integrais, arroz integral e selvagem, frutas, legumes e chocolate amargo (com moderação). O processo de digestão das proteínas fornece os aminoácidos para o nosso corpo formar suas próprias proteínas. Um aminoácido conhecido como tirosina está relacionado com a produção de dopamina e adrenalina, ambos neurotransmissores que promovem o estado de alerta, o “pique” e a alegria. Como fontes de tirosina podemos citar peixes, carnes magras, aves sem pele, ovos, leguminosas, nozes e castanhas, leite e iogurte desnatados, queijos magros e tofu. O cálcio deve fazer parte do cardápio diário de homens e mulheres para garantir ossos e dentes saudáveis e ainda de “quebra” doses extras de bom humor. Como fontes de cálcio citamos: leite e iogurte desnatados e queijos magros. O magnésio, grande colaborador do cálcio, está também envolvido na regulação dos níveis de serotonina. Participa da produção de energia, da contração muscular, da manutenção da função cardíaca normal e da transmissão dos impulsos nervosos. As principais fontes de magnésio são: tofu, soja, caju, tomate, salmão, espinafre, aveia e arroz integral. Tudo indica que o selênio, um mineral magistral, tem grande participação no estado de humor. Pessoas que têm carência de selênio são mais depressivas, irritadas e ansiosas. Citamos as seguintes fontes de selênio: castanha-do-pará, nozes, amêndoas, atum, semente de girassol, trigo integral e peixes. 7 CÁLCIO PARA PREVENIR A OSTEOPOROSE A osteoporose acomete milhares de pessoas, especialmente mulheres pós-menopausa e idosos. É uma doença osteometabólica que se caracteriza por progressiva perda de massa óssea e de tecido ósseo. Aos poucos, enfraquece a estrutura do osso ou a chamada arquitetura óssea, denominação dada pelos especialistas. Com o tempo, ela vai fi cando mais frágil, com menos resistência à compressão e, portanto, com maior probabilidade de desenvolver fraturas. Ao contrário do que muitos imaginam, a osteoporose é considerada uma doença silenciosa. Não provoca dor ou qualquer outro sintoma, exceto quando surgem as complicações, e geralmente atinge as mulheres. Nutrição nos ciclos da vida 13 Devemos sempre prevenir e tratar a osteoporose com hábitos saudáveis e orientação médica. É importante ir regularmente ao médico para saber as medidas preventivas. A osteoporose não é um problema só feminino. O homem também é alvo da doença. Desde os anos 80, observamos o aumento dos casos entre indivíduos do sexo masculino. Dentre as medidas preventivas, ingerir alimentos ricos em cálcio é fundamental, pois o esqueleto humano concentra cerca de 99% deste nutriente. O restante pode ser encontrado nos fl uidos, responsáveis pelo metabolismo e pelo bom funcionamento de nosso corpo. 8 NECESSIDADES DE CÁLCIO O consumo diário de cálcio varia de acordo com algumas características. A idade é uma das principais: • Até os 25 anos de idade, a necessidade de cálcio fi ca em torno de 1200 a 1500 miligramas por dia, o equivalente a 5 copos de leite. • Dos 25 aos 50 anos, recomenda-se a ingestão para homens e mulheres de 1000 miligramas de cálcio cerce de 4 copos de leite por dia. • Para a mulher pós-menopausa, 1000 miligramas por dia, se fi zer reposição hormonal, e 1500 miligramas, se não estiver em tratamento, ou seja, 4 a 5 copos de leite. • Acima dos 65 anos de idade, 1500 miligramas de cálcio, portanto 5 copos de leite por dia. 9 FONTES DE CÁLCIO Leite e seus derivados são riquíssimos em cálcio. Adultos, se possível, devem consumir leite semidesnatado ou desnatado, pois na forma integral contém gordura saturada e colesterol, e queijos magros, brancos. Para quem não gosta de leite ou tem intolerância a produtos lácteos, há outras alternativas, como consumir legumes verdes, soja, feijão, amêndoa, peixes, agrião, brócolis e couve. 10 SUPLEMENTAÇÃO DE CÁLCIO Nem todas as pessoas conseguem ingerir a quantidade recomendadade cálcio somente pela alimentação. Neste caso, é recomendado o uso de suplementos nutricionais para mulheres e homens. 11 ALIMENTOS FUNCIONAIS E O CORAÇÃO Uma dieta balanceada não só é efi caz na manutenção do peso como ajuda a prevenir muitas doenças e, o que é melhor, de uma maneira saborosa. Alimentos funcionais, como também os chamados “nutracêuticos”, são defi nidos pelo cardiologista Dr. Nabil Ghorayeb como: Nutrição nos ciclos da vida 14 • “Produtos alimentícios que produzem benefícios específi cos à saúde além dos nutrientes tradicionais que eles contêm”. • “Alimentos que contêm níveis signifi cativos de componentes ativos biologicamente que trazem benefícios à saúde além da nutrição básica”. Seja qual for a defi nição adotada, todos os alimentos funcionais são vistos como promotores de saúde e podem estar relacionados à redução de riscos a certas doenças. Entretanto, os cientistas esclarecem que os alimentos funcionais, por si só, não podem garantir boa saúde, mas podem melhorar a saúde quando fazem parte de uma dieta contendo variedade de alimentos, incluindo frutas, vegetais, grãos e legumes. Ele são aproveitados no próprio consumo dos alimentos in natura ou então isolados e inseridos em outro produto, que passa então por um enriquecimento com nutrientes. Deste processo surgem as cápsulas de fi bras e aminoácidos, ácidos graxos (ômegas 3 e 6) e vitaminas. Base da alimentação do futuro, o que torna funcional um alimento é a presença ou não de um novo grupo de compostos identifi cados nas frutas e nos vegetais: os fi toquímicos. Os fi toquímicos não são considerados nutrientes, já que nossas vidas não dependem deles – o mesmo vale para as vitaminas. Ainda não se sabe a maneira exata como os compostos de plantas agem em nosso corpo, pois os mecanismos de ação são tão diversos quanto os compostos: alguns atuam como antioxidantes, outros como inibidores de enzimas. Temos várias ações terapêuticas específi cas dos alimentos funcionais, exclusivamente os benefícios para o coração, ou seja, na prevenção e até mesmo parte do tratamento nas doenças cardiovasculares. 12 GRAVIDEZ, AMAMENTAÇÃO E A CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR Quando o assunto é alimentação, e principalmente quando se trata de gestação e crianças em fase de crescimento, há princípios básicos que precisam ser seguidos para garantir a qualidade de vida e menor risco de desenvolvimento de doenças. Esses princípios são: 1º - todos os alimentos são compostos de nutrientes. É comum confundir esses dois termos. Quando se diz que a cenoura (alimento) faz bem para a visão, por exemplo, na verdade é a vitamina A (nutriente) que tem a função de protegê-la. Assim, outros alimentos também são ricos em vitamina A, como mamão, abóbora, verduras verde-escuras, gema de ovo, leite integral, manteiga, milho e fígado. A cenoura também contém outros nutrientes, como carboidratos e fi bras. 2º - Cada nutriente tem mais de uma função no organismo. Para crescer e se manter, o corpo humano realiza um número muito grande de reações químicas, que, em seu conjunto, são conhecidas como metabolismo. Cabe aos nutrientes fornecer energia e participar da maioria desses processos. Como visto anteriormente, os nutrientes são classifi cados em proteínas, gorduras e carboidratos (fornecedores de energia), vitaminas, minerais e água. 3º - O bom desempenho do organismo depende da presença dos nutrientes, provenientes de um conjunto de alimentos, em proporções e quantidades adequadas. Portanto, não existe alimento, com exceção do leite Nutrição nos ciclos da vida 15 materno nos primeiros meses de vida, que isoladamente disponha de todos os nutrientes necessários para o organismo. Para compor uma alimentação equilibrada, que tenha condições de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e manutenção do organismo, deve-se: • ingerir alimentos de todos os grupos; • manter proporção adequada de alimentos; • variar ao máximo os alimentos ingeridos. 13 GRAVIDEZ: IMPACTO DA NUTRIÇÃO A gravidez é um momento especial da vida de toda mulher, e a boa nutrição nesse momento é mais importante do que nunca. Mulheres com uma nutrição adequada durante a gestação têm menos complicações e dão a luz a bebês maiores e saudáveis. O organismo precisa de alimentos nutritivos para manter saudável tanto a mãe quanto o fi lho, que precisa crescer e se desenvolver de maneira adequada. 14 OS NUTRIENTES PARA O BEBÊ As proteínas, calorias, vitaminas e minerais são essenciais para o desenvolvimento de um bebê saudável. Caso exista falta ou excesso desses nutrientes, o desenvolvimento das células não é perfeito e o bebê pode nascer com peso e desenvolvimento inadequados. As células do bebê em desenvolvimento são feitas principalmente de proteínas, e as mudanças no corpo da mãe, particularmente a placenta, também necessitam delas. As melhores fontes de proteínas são as carnes, ovos, leite e seus derivados. Calorias: importante para o feto Os carboidratos devem ser a fonte principal de calorias. Eles são fácil e rapidamente convertidos em energia. As gorduras dos alimentos podem também ser usadas para fornecer energia, mas a quantidade que a gestante deve ingerir de gorduras precisa ser bem menor do que a de carboidratos. Atenção especial deve ser dada ao tipo de gordura ingerida, evitando as gorduras saturadas, presentes no leite, na carne gorda e na manteiga e as transaturadas, presentes nas margarinas. Os carboidratos são necessários para o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso, tanto da mãe quanto do bebê. Os alimentos ricos em carboidratos, como cereais (preferencialmente integrais), pães, grãos, batatas, milho e frutas são combustíveis da vida. Nutrição nos ciclos da vida 16 15 VITAMINAS As vitaminas são essenciais para a utilização da energia dos carboidratos, assim como para a maioria das funções do corpo. Todas as vitaminas são importantes durante a gravidez, e a maioria pode ser obtida por uma alimentação variada. Uma vitamina muito importante, tanto antes quanto durante a gravidez, é o ácido fólico. O ácido fólico, também conhecido como folacina ou folato, é uma vitamina do complexo B. Ele ajuda a formar as células brancas e vermelhas do sangue e, portanto, é essencial durante a gestação para a produção aumentada de sangue, necessária ao feto e à placenta. Ele também atua na formação do material genético de cada célula. Mulheres que consomem quantidades adequadas de folato durante a gravidez podem reduzir o risco de ter uma criança com defeito congênito. Esses defeitos podem ocorrer no tubo neural logo no início da gestação, entre 24 e 28 dias após a concepção, afetando o cérebro ou a espinha do bebê. É recomendável que toda mulher em idade fértil tome 0,4mg de ácido fólico por dia. O ácido fólico também auxilia no combate à anemia ferropriva, que é a falta de ferro no sangue. Por isso, tornou-se obrigatória a fortifi cação das farinhas de trigo e de milho com ferro e ácido fólico. 16 ALIMENTOS RICOS EM ÁCIDO FÓLICO • hortaliças folhosas (brócolis,espinafre,couve) • leguminosas (ervilha, feijão etc.) • frutas cítricas (laranja, limão) • germe de trigo integral • ricota e iogurte, outro alimentos fortifi cados com o ácido fólico 17 MINERAIS Os minerais também têm muitas funções. Dois deles são muito importante durante a gestação: ferro e cálcio. Se a gestante não ingere quantidade sufi cientes desses minerais durante a gestação, seu bebê em crescimento irá usar o cálcio de seus ossos e o ferro de seu sangue, e isso será ruim para a saúde da mãe. A anemia é comum na gravidez. Ela normalmente ocorre no fi nal do primeiro até o começo do terceiro trimestre. Os sintomas são fraqueza, fadiga e tonturas. A razão da anemia é que o suprimento de sangue aumenta em cerca de 50% na gestação, tornando portanto fundamental a ingestão de ferro em grande quantidade – a necessidade desse mineral dobra durante esse período. O ferro ajuda a formar as células vermelhas do sangue. São elasque carregam oxigênio para todas as partes do corpo. Durante o período de gestação, o bebê também forma um “estoque” de ferro para os seus primeiros meses de vida, quando ainda não será capaz de produzir essas células. A inclusão de Nutrição nos ciclos da vida 17 alimentos ricos em ferro na alimentação é recomendada para todas as mulheres grávidas, podendo também ser recomendado um suplemento do mineral. • Alimentos ricos em ferro: carnes vermelhas, fígado, peixes, frutos do mar e aves, ameixas e outras frutas secas, feijões e hortaliças folhosas. • Alimentos ricos em vitamina C: frutas como caju, laranja, limão, abacaxi, morango, melancia e melão e hortaliças, como brócolis, pimentões e tomates. As mulheres grávidas necessitam de cálcio extra, principalmente no terceiro trimestre, quando os ossos do bebê estão endurecendo e os dentes estão se formando. Seu corpo também está estocando cálcio para a produção de leite após o nascimento do bebê. Se a alimentação da gestante é pobre nesse mineral, ela pode ter câimbras nas pernas, cáries dentárias e perda de dente ou até osteoporose, após alguns anos. Isso acontece porque, em uma situação de falta de cálcio, o bebê tira o mineral das reservas da mãe. Durante a gestação, a ingestão de cálcio pode prevenir a pressão alta e uma condição perigosa chamada pré-eclâmpsia. Entre os alimentos ricos em cálcio, citamos: leite, iogurte, queijo, sorvetes com leite, sardinha enlatada, alimentos comerciais fortifi cados em cálcio, espinafre, couve e folhas de mostarda. Os suplementos são indicados apenas para as pessoas que têm ingestão muito baixa de cálcio. Os mais recomendados é o carbonato de cálcio adicionado com vitamina D, que ajuda a fi xar o cálcio. 18 A AMAMENTAÇÃO O leite materno é o ideal para o crescimento e desenvolvimento do bebê, e ele traz numerosos benefícios durante o primeiro ano de vida, que perduram por toda a vida. As quantidades apropriadas de todos os nutrientes que o bebê precisa estão no leite materno. Sua própria composição vai mudando conforme o bebê cresce, como uma forma de se adaptar ao seu crescimento. Evidentemente, isso ocorre quando o sistema digestivo do bebê começa a amadurecer, daí outros alimentos começam a ser introduzidos, pois já podem ser aproveitados adequadamente pelo novo organismo. Vantagens do leite materno: • o leite materno está sempre fresco, morno, livre de bactérias e pronto para beber; • contém anticorpos que melhoram o sistema imunológico, protegendo o bebê contra infecções; • o bebê tem menos chances de ser alérgico ao leite materno; • o bebê é menos propenso a ser alimentado em excesso; • ajuda o útero a voltar mais rápido ao seu tamanho normal; • ajuda a mulher a perder o peso mais rápido; Nutrição nos ciclos da vida 18 • diminui o risco de câncer de mama; • promove maior ligação entre a mãe e o fi lho. Uma vantagem psicológica para o bebê é a de se sentir protegido e amado durante esse período. A mamadeira pode ser necessária para bebês prematuros e em casos de gêmeos, no qual o leite materno não está disponível. Quando nasce, o bebê possui um estômago muito pequeno, por isso ele deve ser alimentado de duas a três horas, em pequenas quantidades. Gradualmente, as mamadas vão fi cando mais distantes, conforme aumenta sua capacidade gástrica. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o bebê seja alimentado exclusivamente com o leite materno até os 6 meses de idade, desde que esteja crescendo e desenvolvendo-se dentro do padrão esperado. O leite materno fornece todos os nutrientes adequados para o bebê até os 6 meses. A partir desta idade, ele deverá começar a receber novos alimentos. O desmame é a transição da amamentação para a alimentação sólida ou semissólida e deve ser feito de maneira gradativa para que o organismo aprenda a receber outros alimentos além do leite materno, amadurecendo o aparelho digestivo. 19 ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E O SIGNIFICADO DOS ALIMENTOS Para compor uma alimentação equilibrada, que tenha condições de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento e manutenção do organismo da criança, deve haver: • Alimentos de todos os grupos • Proporção adequada de alimentos • Variar ao máximo os alimentos As proteínas são matéria-prima para formação de novas células, por isso são fundamentais no processo de crescimento, mas a ingestão pode ser prejudicial a saúde, sobrecarregando os rins e o fígado. Os minerais são conhecidos como micronutrientes, pois estão presentes nos alimentos em pequenas quantidades, mas têm função muito importante na regulação do bom funcionamento do organismo. A criança que ingere vitaminas e minerais em quantidade inadequada fi cam sensíveis a doenças contagiosas e outras. Algumas doenças causadas por carências nutricionais muito comuns em crianças são: anemia ferropriva, hipovitaminose A e bócio endêmico. Esses são os principais problemas carenciais, com recomendações de ações específi cas de saúde pública. Nutrição nos ciclos da vida 19 20 O PRÉ-ESCOLAR Nessa fase a criança aprende a usar os cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar para relacionar-se com o mundo, inclusive com a alimentação. Uma situação comum nessa fase é a criança manipular os alimentos antes de comer. Ao amassar uma banana entre os dedos antes de comê-la, a criança está “aprendendo” aquele alimento com todas as sensações que ele pode dar. O pré-escolar vai aos poucos descobrindo seu poder de decisão na escolha de sua dieta. Outra característica importante nessa fase é a limitada capacidade de atenção, tanto para comer quanto para brincar, por isso, quando estão com fome, concentram-se nessa sensação e comem, mas se estão saciados interessam-se por outros alimentos rapidamente. Uma situação comum é a criança brincar com os talheres e com a comida quando não tem mais fome, o que não requer preocupação. Nessa fase também é importante que a criança perceba a rotina na alimentação, com horários regulares, pratos e talheres adequados para cada idade e que possibilitem a convivência, tanto em família quanto na escola com os amigos. 21 FASE ESCOLAR O crescimento dos 6 aos 12 anos é lento mas estável, com um aumento na ingestão de alimentos. Nessa fase, a criança começa a passar parte de seu tempo na escola. Sua vida social é mais intensa e a convivência com outras crianças e adultos que não fazem parte do círculo familiar começa a infl uenciar seus hábitos de vida. A criança tem agora maior prazer em se alimentar para aliviar a fome e obter satisfação social. Os conceitos sobre alimentação saudável devem ser trabalhados do nascimento até a fase escolar com maior ênfase, pois a criança assimila mais facilmente fi cando com uma boa base para enfrentar a adolescência e aceitar melhor a fase adulta. Os conceitos sobre nutrição são abstratos para as crianças da pré-escola e escolar, por isso devem ser fi xados através de experiências signifi cantes, para obter resultados positivos. Atividades que envolvam preparo de alimentos dão às crianças uma oportunidade de praticar e fortalecer seu conhecimento nutricional. Estudos apontam que o café da manhã infl uencia no raciocínio escolar, por isso os programas de merenda escolar devem incluir em seus estudos não só a quantidade e qualidade do alimento servido, mas também o horário no qual essa refeição é oferecida. 22 PREOCUPAÇÕES NUTRICIONAIS 22.1 Obesidade infantil Com aumento visível na população, não só infantil como adulta também, a obesidade não tem nível socioeconômico. Ela aparece em todas as camadas sociais e já é considerada o mal do século. Nutrição nos ciclos da vida 20 Juntamente com a obesidade se instalam outras doenças associadas, como diabetes, hipertensão e dislipidemias. Além dessas patologias, existem consequências psicossociais, como discriminação, baixa da autoestima, depressão e socialização diminuída. É difícil determinar se uma criança em crescimento está ou não obesa. A criança na pré-puberdadepode pesar mais devido às suas mudanças fi siológicas, por isso necessitará de uma reserva. Situar essa criança na curva do crescimento e acompanhá-la faz com que a obesidade ou o sobrepeso seja identifi cado, assim fi ca mais fácil determinar ações preventivas. Nessa faixa etária é mais prudente a correção de erros alimentares, como na retirada de alimentos muito energéticos (bolachas recheadas, sorvetes, salgadinhos, balas, doces, chocolates etc.), e o aumento da atividade física, com incentivo à prática esportiva. 22.2 Baixo peso e difi culdades no desenvolvimento A perda de peso, a ausência do ganho de peso ou difi culdades em se desenvolver podem ser indicadores de uma patologia aguda ou crônica. Crianças pré-adolescentes que se preocupam em demasia com o corpo podem apresentar baixo peso, baixa estatura e puberdade atrasada por ingerirem quantidades de alimentos menores do que as necessárias. A baixa ingestão de fi bras leva à constipação e o mau funcionamento intestinal faz com que a criança tenha menor apetite. Comendo menos, seu desenvolvimento fi ca comprometido. A baixa estatura deve ser investigada. Se não há fatores genéticos, poderá a criança estar com uma defi ciência de zinco, mineral importante e necessário para o crescimento. Entre os seus alimentos fonte, podemos citar os peixes e frutos do mar. Hortaliças e verduras também contém o nutriente, mas em quantidades menores. 22.3 Defi ciência de ferro A defi ciência de ferro em crianças escolares é maior em populações de baixa renda e nas quais o nível de escolaridade dos pais é baixo, o acesso médico é precário e a ingestão é a de alimentos de baixa e má qualidade. A defi ciência de ferro leva à anemia, que pode comprometer o aprendizado do escolar. Alimentos que contenham ferro devem fazer parte da alimentação do escolar, como carnes, peixes e aves. Para obter ferro de origem vegetal (espinafre, couve, brócolis etc.), devem ser ingeridos alimentos que contenham a vitamina C (laranja, acerola, goiaba), pois ela facilita a absorção do ferro dos vegetais. 23 ADOLESCÊNCIA Nesta fase a velocidade de crescimento é realmente aumentada. Em período curto de tempo, o adolescente ganha cerca de 20% de sua altura adulta e 50% de seu peso. Esse período também é chamado de estirão do crescimento, cuja ocorrência se dá em idades diferentes para cada indivíduo. Em geral, as meninas maturam mais cedo do que os meninos. Na fase pré-puberal (aquela em que acontece a maturação sexual), os meninos e as meninas tendem a ser iguais em gordura corporal (15-19%), enquanto na fase puberal (onde a capacidade de reprodução já foi atingida) e adulta há um ganho de tecido magro dos meninos duas vezes maior que o das meninas. Nutrição nos ciclos da vida 21 O adolescente passa por um desenvolvimento cognitivo e emocional que pode ser dividido em inicial, intermediário e fi nal. O aconselhamento nutricional deve ser diferenciado de acordo com a fase em que o adolescente está. Na fase inicial o adolescente apresenta as seguintes características: é preocupado com a sua imagem corporal, confi a e respeita os adultos e é ansioso quanto à sua relação com os colegas. São desejosos em fazer ou experimentar qualquer coisa que melhore sua imagem corporal de maneira rápida. O adolescente, na fase intermediária, é muito infl uenciado pelo grupo de colegas, desconfi a dos adultos, tem a independência como algo muito importante e experimenta um desenvolvimento cognitivo signifi cante. O impulso para a independência faz com que tenham repulsa pelos hábitos alimentares da família. A orientação alimentar deve ser focada para os cuidados que se deve ter ao alimentar-se fora de casa. A fase fi nal é aquela em que o adolescente já estabeleceu sua imagem corporal, pensa no futuro e faz planos, está mais independente e desenvolve intimidade e relações permanentes. Nessa fase, a imagem corporal é um amadurecimento intelectual e emocional mesclado por considerações nutricionais. O adolescente se sente incomodado com as alterações sofridas pelo corpo, em relação a estarem ou não atendendo padrões impostos pelo grupo em que convive. Nessa fase, a alimentação e o exercício físico do adolescente devem ser observados e orientados por profi ssionais que possam identifi car possíveis problemas de imagem corporal. Transtornos alimentares como bulimia, anorexia e alimentação compulsiva são distúrbios que envolvem a imagem corporal. Na adolescência, as necessidades de proteínas e energia se correlacionam mais com o padrão de crescimento do que com a idade cronológica. A ingestão insufi ciente de proteína na adolescência é rara, mas se por algum motivo a ingestão calórica estiver abaixo do recomendado, sua ingestão estará comprometida. A ingestão excessiva de proteínas pode interferir no metabolismo do cálcio e também aumentar a necessidade de líquidos. Em atletas adolescentes, deve-se dobrar a vigilância no que diz respeito à desidratação. A ingestão de cálcio tende a diminuir na adolescência devido ao alto consumo de refrigerantes. As meninas adolescentes possuem maior risco de ingestão inadequada de cálcio. O risco de desenvolverem osteoporose na fase adulta dependerá parcialmente da quantidade de depósito de cálcio ósseo se teve nessa fase. Uma necessidade de ferro maior é justifi cada pelo aumento da massa muscular, principalmente nos meninos, e o início da menstruação nas meninas. Sua defi ciência pode levar a uma anemia, prejudicar a resposta imunológica e afetar o aprendizado, pois causa problemas de memória a curto prazo. O zinco é essencial para o crescimento e maturação sexual. A retenção desse mineral no organismo aumenta signifi cativamente no estirão de crescimento físico. As vitaminas têm suas necessidades aumentadas, mas deve-se destacar o ácido fólico, que deve ser suplementado na fase em que as mulheres podem engravidar, ou através de alimentos fortifi cados e suplementos orais. A defi ciência, de outro modo, pode causar uma má formação no tubo neural do feto. Nutrição nos ciclos da vida 22 24 IDADE ADULTA Na fase adulta, a alimentação é voltada para uma nutrição defensiva, isto é, uma nutrição que enfatiza escolhas de alimentos saudáveis para promover o bem-estar e prover os sistemas orgânicos de maneira que tenham um funcionamento ótimo durante o envelhecimento. É uma nutrição baseada no consumo de frutas, hortaliças, grãos integrais, nozes, leguminosas, peixes, ovos e aves. O consumo de carne vermelha deve ser limitado. As gorduras saudáveis que devem ser ingeridas (ácido graxo ômega 3 e ômega 6) são encontradas nos óleos vegetais, de oliva e nos peixes de água fria. As gorduras não saudáveis, saturadas e trans, como as gorduras de origem animal (manteiga e carnes gordurosas) e as de origem vegetal que sofrem saturação (margarina e recheio de bolachas) devem ser evitadas. Uma dieta de base predominante vegetal, aliada a exercícios físicos bem dosados pode ter um impacto positivo sobre o envelhecimento, pela redução do risco de doenças cardiovasculares, obesidade, câncer e diabetes. É importante enfatizar as diferenças – principalmente as hormonais – entre homens e mulheres. 24.1 Homens As perdas hormonais não acometem o homem de maneira tão signifi cativa como no sexo feminino, mas os problemas cardiovasculares, o câncer de próstata e o câncer de pulmão têm preocupado a saúde pública. A alimentação saudável pode colaborar para que esse quadro seja revertido. O licopeno é uma substância encontrada no tomate e é mais bem absorvido se for consumido em forma de molho. O consumo habitual desse nutriente tem demonstrado uma diminuição nos índices de câncer de próstata e de doenças cardiovasculares. O aumento de ingestão de frutas e hortaliças, a diminuição da ingestão de álcool, a diminuição no consumo de carnes vermelhas e a prática diária de exercícios físicos são essenciais para a promoção da saúde. 24.2 Mulheres Na idade fértil, as mulheres podem ter mudanças de humor nos períodosmenstruais. A síndrome pré- menstrual (SPM) está presente na vida da mulher. Identifi car os seus sintomas pode facilitar os relacionamentos. Apesar de nenhum estudo ter demonstrado defi ciências de nutrientes no período pré-menstrual, teorias sugerem que as alterações hormonais ocorridas nesse período podem favorecer defi ciências de B6 e cálcio. A alimentação saudável, com frutas e hortaliças (principalmente de folhas escuras), grãos integrais, leguminosas, gorduras e proteínas de boa qualidade e a prática de exercícios físicos podem ajudar a diminuir os sintomas de SPM. No início do 50 anos, começa em geral a fase da menopausa, momento que sinaliza o fi nal do período reprodutivo. A produção do hormônio estrogênio fi ca diminuída e algumas mulheres apresentam sintomas indesejáveis, como calor e depressão. Nesse período podem surgir problemas de osteoporose, aumento de Nutrição nos ciclos da vida 23 peso corporal e dislipidemias. É aconselhável acrescentar soja na alimentação para diminuir os sintomas, pois esse vegetal possui o estrógeno natural que tende a diminuir esses sintomas, lembrando que alimentos de soja são bons substitutos proteicos e não fontes de cálcio como leite e derivados. 25 ENVELHECIMENTO A qualidade do envelhecimento é determinada pela vida pregressa do indivíduo. A necessidade nutricional, além de levar em conta o sexo e a idade, deve se ater na atividade física do idoso, de extrema importância nesse período. Algumas alterações no paladar, olfato e trato gastrintestinal devem ser consideradas, pois afetarão diretamente o hábito alimentar do idoso. 25.1 Energia As necessidades energéticas vão diminuindo com o passar dos anos. A massa muscular (consumidora de energia) diminui e a gordura corporal tende a aumentar, modifi cando assim a composição corporal do idoso. Limitações nos movimentos também ocorrem, já que a fl exibilidade diminui e o equilíbrio também fi ca comprometido. O peso corporal deve ser controlado, pois se sabe que tanto a obesidade como o baixo peso para idosos apresentam riscos iguais para o desenvolvimento de patologias. O quadro abaixo sugere o IMC (índice de massa corporal) por idade. Tabela 1 - Índice de massa corporal desejável por idade Idade IMC 19-24 19-24 20-34 20-25 35-44 21-26 45-54 22-27 55-65 23-38 > 65 24-29 A ingestão calórica é de 2000cal/dia para idosos e 1600cal/dia para idosas. Há uma sugestão de que ingestões menores que 1500cal/dia podem causar problemas de saúde. 25.2 Proteínas A ingestão de proteína torna-se mais importante no envelhecimento devido à perda de massa muscular. Hábitos como sedentarismo, baixo consumo alimentar e depressão podem levar o idoso a uma desnutrição e defi ciência de proteínas e micronutrientes. A defi ciência de proteínas faz com que o idoso não tenha como processar os aminoácidos essenciais que participam das reações metabólicas a nível celular. Essas reações têm um papel importante no bom funcionamento do organismo. Uma ingestão segura de proteínas fi ca em torno de 1-1,5g/kg de peso. Nutrição nos ciclos da vida 24 25.3 Carboidratos Cerca de 45-65% das calorias diárias devem vir dos carboidratos. Essa quantidade deve ser garantida para que não se utilize a proteína como fonte de energia. As fontes devem ser de carboidratos complexos como grãos integrais, leguminosas e hortaliças. As frutas têm um importante papel no fornecimento das fi bras. 25.4 Lipídios É recomendada a ingestão de lipídeos em torno de 25-35% das calorias diárias totais, enfatizando a redução no consumo de gorduras saturadas e a importância das monoinsaturadas e polinsaturadas. Dietas com porcentagens de gorduras menores que 20% podem afetar o paladar, a sociedade e a digestão. 25.5 Minerais O estado precário de minerais em pessoas idosas pode ser atribuído à ingestão inadequada de alimentos. A diminuição na secreção de lactase (enzima que degrada a lactose – açúcar do leite) pode levar o idoso a uma intolerância de leite. A falta de ingestão da principal fonte de cálcio, aliada a uma diminuição na capacidade de absorção do cálcio, pode levar esse idoso a uma osteoporose. O cálcio é um mineral de extrema importância na alimentação do idoso. Está presente em todas as contrações musculares e sua defi ciência. Juntamente à falta de vitamina D e de exposição ao sol por parte da população idosa, leva à osteoporose, por isso é recomendada a ingestão de 1200mg/dia para ambos os sexos. A defi ciência de zinco na população idosa pode ocorrer naqueles que não se alimentam de carnes e peixes, pois os vegetais não são fontes importantes desse mineral. Sua falta está associada à função prejudicada do sistema imunológico, anorexia (falta de apetite), perda da sensação de paladar e cicatrização demorada. A recomendação sugerida para ingestão é de 11mg/dia para idosos e 8mg/dia para idosas. O sódio deve ser ingerido de maneira controlada devido à hipertensão. É recomendada a ingestão de 2-4g/dia. A redução do sal de cozinha no preparo dos alimentos geralmente diminui essa ingestão. 25.6 Vitaminas Existe uma real necessidade desse nutriente na dieta do idoso. Processos oxidativos (aqueles que aceleram o envelhecimento) infl uenciam e muito na velocidade do envelhecimento e na qualidade de vida. Assim, as vitaminas com funções antioxidantes têm sido utilizadas para a melhoria da qualidade desse envelhecimento. São as vitaminas C, E e A (preferencialmente os carotenoides). A vitamina A está relacionada a uma adequada resposta imunológica, hortaliças verde-escuras, cenoura, pimentão, tomate, mamão e abóbora são alimentos com boas quantidades de carotenoides. Os carotenoides são pigmentos naturais dos alimentos que podem ser transformados em vitamina A pelo organismo. Sua vantagem é a de que o organismo só os utiliza se houver necessidade, e o excesso Nutrição nos ciclos da vida 25 fi ca depositado na derme. É recomendada a ingestão de vitamina A para idoso de 900mg e para idosas de 700mg. • Vitamina C: tem como recomendação diária 90mg para sexo masculino e 75mg para o sexo feminino. O aparecimento de catarata está relacionado aos níveis baixos de vitamina C. Os alimentos fonte laranja, goiaba, acerola e hortaliças folhosas verdes também apresentam grande quantidade desse nutriente. O estresse, o fumo e alguns medicamentos podem comprometer a absorção de vitamina C. • Vitamina E: é facilmente encontrada em óleos vegetais. Uma dieta equilibrada faz com que sua recomendação seja atendida. Na medida de 15mg/dia, seu efeito antioxidante pode auxiliar na redução de risco para doenças cardiovasculares. • Vitamina D: tem sua síntese diminuída em 60% nos idosos e é independente das quantidades ideais de cálcio e fósforo, além de necessitar da exposição do idoso ao sol. Idosos que não conseguem tomar sol e têm uma alimentação desequilibrada devem receber suplementação de cálcio e vitamina D. • Vitamina B12: a defi ciência afeta cerca de 10-15% dos idosos, o que ocorre devido a alterações metabólicas do trato gastrintestinal. A recomendação diária é de 2,4mg/dia, enquanto sua suplementação destina-se aos idosos em geral. Alimentos que contenham B12, como carnes, devem ser fornecidos. • A água é responsável por cerca de 50% do peso de um idoso. Diferentemente do adulto jovem, cuja porcentagem é de 60%, sua sede é diminuída, a quantidade hídrica é menor, há incontinência urinária e diminuição na função renal, fatores que aumentam o risco de desidratação. A desidratação é muito comum em idosos. Alguns sintomas como cefaleia, constipação, efeitos alterados de medicamentos, sede, perda de elasticidade da pele, perda de peso, perda de funções cognitivas, tontura, boca e mucosas do nariz secas, alterações na pressão arterial, olhos fundos, débito urinário e difi culdade na fala podem indicar desidratação. 26 AÇÕES CONJUNTAS VOLTADAS PARA A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, NA PROMOÇÃO DA SAÚDE Afi rma-se, hoje, que atividades educativas em nutrição podem e devemser utilizadas como um importante instrumento de apoio na promoção da saúde, especialmente no âmbito da escola, espaço privilegiado para o desenvolvimento dessas atividades (COSTA, RIBEIRO; RIBEIRO, 2001). A escola tem sido, desde as épocas mais remotas, um espaço propício e privilegiado para o desenvolvimento de programas de intervenção junto à população. Sua abrangência não se restringe ao ensino, mas inclui também, nas ações de promoção da saúde, as relações lar-escola-comunidade, a prestação de serviços, como o da alimentação escolar e a promoção do ambiente escolar saudável (físico e emocional). O ambiente de ensino, ao articular de forma dinâmica alunos, familiares, professores e funcionários, proporciona condições para desenvolver atividades que reforçam a capacidade da escola de se transformar em um local favorável à convivência saudável, ao desenvolvimento psicoafetivo, ao aprendizado e ao trabalho de todos os envolvidos nesse processo, podendo, como consequência, constituir-se em núcleo de promoção de saúde local. Nutrição nos ciclos da vida 26 A promoção da saúde no âmbito escolar parte de uma visão integral, multidisciplinar, do ser humano, que considera as pessoas em seu contexto familiar, comunitário e social. Procura desenvolver conhecimentos, habilidades e destrezas para o autocuidado da saúde e a prevenção das condutas de risco em todas as oportunidades educativas. Fomenta uma análise crítica e refl exiva sobre os valores, condutas, condições sociais e estilos de vida, buscando fortalecer tudo aquilo que contribui para a melhoria da saúde e do desenvolvimento humano. Facilita a participação de todos os integrantes da comunidade educativa na tomada de decisões. Colabora na promoção de relações socialmente igualitárias entre as pessoas, na construção da cidadania e democracia, e reforça a solidariedade, o espírito da comunidade e os direitos humanos. A educação nutricional, que tem o papel importante na promoção de hábitos alimentares saudáveis, desde a infância, é considerada uma medida de alcance coletivo com o fi m primordial de “[...] proporcionar os conhecimentos necessários e a motivação coletiva para formar atitudes e hábitos de uma alimentação sadia, completa, adequada e variada” (FREITAS, 1997). Mais do que transmitir normas alimentares, a educação nutricional deve “[...] ajudar os indivíduos e estabelecerem práticas e hábitos alimentares adequados às necessidades nutricionais do organismo e adaptados ao padrão cultural e aos recursos alimentares da área em que vivem” (BOOG, 1997). Nutrição nos ciclos da vida 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOOG, M. C. F. Educação nutricional: passado, presente, futuro. Revista de Nutrição, v. 10, n. 1, p. 5-19, jan./jun., 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Abrindo a porta para dona saúde entrar: uma estratégia para a reorganização do modelo assistencial. Brasil: Brasília, 2000. _______. 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