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1 Juliana Oliveira – Medicina UNIFTC Emergências clínicas 8º semestre 2023.1 TROMBOSE VENOSA PROFUNDA DEFINIÇÃO A trombose venosa profunda e o tromboembolismo pulmonar fazem parte do espectro da mesma doença, o tromboembolismo venoso. Em 1/3 dos pacientes a apresentação inicial é na forma de TEP e em 2/3 na forma de TVP. A TVP ocorre principalmente em membros inferiores e pode ser dividida em duas categorias: ➔ Classificação: o TVP distal: Acomete vasos distais as veias poplíteas. o TVP proximal: Acomete veias poplíteas, femoral ou ilíaca. A TVP proximal apresenta maior importância devido ao risco aumentado de TEP quando comparada à TVP distal. FATORES DE RISCO ➔ Idade > 75 anos: Sendo raro em pacientes jovens. ➔ Neoplasia maligna ➔ Internação hospitalar: Aumenta em 8x o risco de TVP. ➔ Procedimento cirúrgico: Episódios de TVP podem ocorrer em até 50% dos procedimentos cirúrgicos na ausência de profilaxia. ➔ Trauma ➔ Doença infecciosa aguda ➔ Episódio prévio de doença tromboembólica: Aumento de 6x no risco de recorrência do evento. ➔ Imobilização recente do membro inferior ➔ Confinamento no leito por mais de 3 dias ou grande cirurgia nas últimas 4 semanas ➔ Viagens prolongadas: >6h ➔ Uso de ACO ➔ Reposição hormonal ➔ Gestação e puerpério ➔ Presença de trombofilia ➔ Insuficiência cardíaca ou respiratória ➔ AVC CLASSIFICAÇÃO QUADRO CLÍNICO O diagnóstico deve ser suspeitado em qualquer paciente com dor ou edema em MMII, principalmente se unilateral e assimétrico. ➔ Dor em MMII ➔ Edema unilateral e assimétrico em MMII ➔ Dor à palpação da musculatura da panturrilha: não é patognomônico ➔ Eritema ➔ Calor local ➔ Sinal de Homans: Dor na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé. ➔ Sinal de Bancroft: Dor a palpação da panturrilha contra estrutura óssea. ➔ Sinal da bandeira: Menor mobilidade da panturrilha em comparação com outro membro, rigidez. ➔ Diferença de diâmetro entre as duas panturrilhas > 3cm: Possui valor preditivo de TVP. CRITÉRIOS DE WELLS COMPLICAÇÕES ➔ Flegmasia cerúlea dolens: É a principal complicação da TVP. Ocorre em tromboses ileofemorais extensas e apresenta grande morbimortalidade. Sinais e sintomas sugestivos de seu diagnóstico incluem dor intensa, edema significativo, cianose, gangrena venosa e pode evoluir com síndrome compartimental e comprometimento arterial. Possui alto risco para perda do membro e morte. ➔ Insuficiência venosa crônica ➔ Síndrome pós trombótica: Edema e/ou dor em MMII Mudança na pigmentação Ulcerações na pele ➔ Embolia pulmonar EXAMES COMPLEMENTARES 2 Juliana Oliveira – Medicina UNIFTC Emergências clínicas 8º semestre 2023.1 ➔ D-dímero: o São produzidos quando a enzima plasmina inicia o processo de degradação de um coágulo de fibrina. o Possui alta sensibilidade e baixa especificidade para o diagnóstico de TVP. o Valores D-dímero: - Negativo: <350 - Intermediário: 351 -500 - Positivo > 500 Atenção! Pcte > 50 anos: Idade em anos x 10 ug/mL Valores abaixo destes descartam TVP em pacientes com baixa probabilidade clínica. ➔ USG doppler: o Exame não invasivo de escolha para o diagnóstico de TVP. o Deve ser realizado em todos os pacientes com alta probabilidade clínica do diagnóstico e em pacientes com baixa ou moderada probabilidade associada ao D-dímero positivo. o Sensibilidade de 94% para TVP proximal, 63% para TVP distal e especificidade de 94%. o Principal critério para diagnóstico de TVP é o teste de compressão, ou seja, com o transdutor vascular localizam as veias femorais comum, superficial e poplítea e realiza-se leve compressão venosa. Se houver compressão completa do vaso se exclui TVP, caso não haja compressão o exame é considerado positivo para a presença de trombo. ➔ Angio-TAC: o Sensibilidade e especificidade similares à do doppler. o Sem recomendações como modalidade diagnóstica inicial. o Útil p/ suspeita de TVP para os quais o doppler não pode ser aplicado devido a limitações técnicas e suspeita de anomalia venosa. ➔ Venografia e flebografia. o Técnica invasiva e limitada a casos selecionados. o É considerada o exame padrão ouro para diagnóstico de TVP. o Não deve ser utilizado como exame inicial para o diagnóstico devido ao desconforto e dificuldade técnica. o Contra indicado em pacientes com IR devido ao uso de contraste. o Acurácia limitada nos quadros de TVP recorrente. ➔ RNM: o Quando o doppler oferece resultas inconclusivos. o Acurácia similar ao doppler no diagnóstico do segmento ilíaco-caval o RM com imagem direta do trombo o É o método de escolha para suspeita de recorrência aguda de TVP, distinguindo um evento novo de um antigo. Abordagem sugerida: TODOS os pacientes devem realizar uma estimativa de probabilidade, ou seja, escore de Wells de TVP na avaliação inicial. o Baixa ou moderada probabilidade: 1. Realizar D-dímero de alta sensibilidade. - Se negativo → encerra investigação - Se positivo → USG com doppler **em pacientes com condições prévias que elevam D- dímero deve-se proceder com a USG doppler sem dosá-lo. o Alta probabilidade: 1. Realizar USG com doppler. RASTREAMENTO DE TROMBOFILIAS ➔ TVP idiopática em pacientes com menos de 50 anos de idade. ➔ HF de TVP em parentes de primeiro grau ➔ Mulheres com HF de TVP nas seguintes situações: Gestantes ou que pretendem engravidar, antes do 3 Juliana Oliveira – Medicina UNIFTC Emergências clínicas 8º semestre 2023.1 início do uso de ACO ou antes do início da terapia de reposição hormonal ➔ TVP recorrente ➔ TVP em locais inusitados como veias portais, mesentéricas e hepáticas ➔ Complicações com varfarina, como necrose cutânea sugestiva de deficiência de proteína C ou de proteína S. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➔ Espasmo muscular após trauma local: o Dor associada à mobilização com história de trauma ➔ Tromboflebite superficial: o Cordão varicoso hipersensível e doloroso, às vezes com hiperemia. ➔ Paresia de membro com edema local: ➔ Linfedema: o Edema crônico ➔ Insuficiência venosa periférica: o Sec à hipertensão venosa periférica por obesidade ou refluxo. o US presença de dermatite ocre. ➔ Cisto de Baker: o Dor normalmente em região poplítea o US ➔ Celulite: o Eritema e calor local DIAGNÓSTICO ➔ Wells baixo: o Dosa d-dímero: Negativo → NÃO Positivo → Continua → Faz doppler → Se + trata. ➔ Wells moderado/alto: o Doppler: Positivo → Trata Negativo → Continua o Dosa d-dímero: Negativo → Não é Positivo → Repete doppler com 3-7 dias ou faz flebografia TRATAMENTO Os objetivos do tratamento são prevenir a extensão do trombo, prevenir a ocorrência de TEP e impedir a recorrência da TVP. ANTICOAGULAÇÃO: A maioria dos casos podem ser tratados em ambiente ambulatorial. o Paciente estável com sinais vitais normais o Ausência de alto risco de sangramento o Ausência de insuficiência renal grave o Capacidade de administrar a medicação. o Monitorização posterior. ➔ Heparina não fracionada venosa: o Dose de ataque: 80 UI/kg, EV, em bolus. o Dose de manutenção inicial: 18UI/kg/h o Ajuste pelo TTPA: 1,5-2,5 x o valor de referência 6/6h o Atenção p/ plaquetopenia (3º e 5º dia). ➔ Heparina não fracionada subcutânea: o Uso da ampola maior (1mL: 25.000 UI) o Dose inicial: 333UI/kg ou 5.000 UI, EV + 250 UI/kg SC o Manutenção: 250 UI/kg, 12/12ho NÃO precisa do controle do TTPA ➔ Heparina de baixo peso molecular subcutânea: Inibe fatores Xa e IIa o Enoxaparina 1mg/kg, 12/12h ou 1,5-2mg/kg 1x ao dia. o Dalteparina 200UI/kg, 1x ao dia. o Nadroparina 171 UI/kg, 1x ao dia. o Tinzaparina 175UI/kg, 1x ao dia. o Se DISFUNÇÃO RENAL: Heparina sérica ou monitorização da inibição do antifator-Xa. ➔ Fondaparinux (Arixtra): Inibe diretamente o fator Xa. o <50kg → 5mg, SC, 1x ao dia. o 50-100kg → 7,5mg, SC, 1x ao dia. o > 100kg → 10mg, SC, 1x ao dia. o Utilizado nos alérgicos à heparina ou PIH o Atenção no IRenal grave. ➔ Inibidores de trombina: o Lepirudina (Refludin); o Bivalirudina (angiox): 0,15mg/kg/h o TTPA entre 1,5 a 2,5 x VR ANTICOAGULANTE ORAL: ➔ Varfarina sódica: Antagonista da vitamina K (Marevan) o Inicial: 5mg, VO em jejum 1x ao dia. o RNI 2-3 o Suspende heparina quando RNI>2 por 2 dia ( ➔ Dabigatrana: Inibe diretamente a trombina (Pradaxa) o 150mg, VO, 12/12h o Não precisa do RNI o Suspende heparina após 7 dias o Paciente com injúria miocárdica o Antídoto: Idarucizumabe (Praxbind) 5g ➔ Rivaroxaban: Inibe fator Xa (Xarelto) o 15mg, VO, 12/12h por 3 semanas. 4 Juliana Oliveira – Medicina UNIFTC Emergências clínicas 8º semestre 2023.1 o 20mg, VO, 1x/dia após 3 semanas. o Iniciar após interromper heparina o Pacientes com câncer ➔ Apixabana: Inibe o fator Xa (Eliquis) o 10mg a cada 12h o 5mg a cada 12h o Pacientes nefropatas ➔ Edoxabana: o Heparina baixo peso molecular por 5 dias o Edoxabana 60mg/dia TEMPO DE TRATAMENTO ➔ 1º evento trombótico: o Fator identificável o 3 meses (Americano) o 4 a 6 semanas (Britânico) ➔ 1º evento idiopático: o 3 meses e reavaliar risco de recorrência (americano) o 3 meses (britânico) ➔ Segundo episódio ou fator de risco mantido (neoplasia): o > 6 meses MEDIDAS ADJUVANTES ➔ Meias elásticas: o Após 1 mês do evento ou precoce quando inicia deambulação o Mantêm por 6 meses o Redução da síndrome pós trombótica o Compressão graduada (30-40mmHg) o Ajustada ao tamanho do paciente ➔ Filtro de veia cava: o Recorrência de TVP apesar da anticoagulação adequada o TVP proximal nos quais é contraindicado o uso de anticoagulante o Adjuvante a anticoagulação em pctes com neoplasia maligna ➔ Deambulação ➔ Trombolíticos sistêmicos (não recomendados) ➔ Trombectomia cirúrgica: o Pouco usada e diversas técnicas QUANDO INTERNAR? ➔ A maioria dos pacientes com TVP pode ser tratada ambulatorialmente. ➔ Pacientes com condições graves, como flegmasia cerúlea dolens, isquemia significativa de membro e complicações como rabdomiólise têm indicação de UTI. ➔ Os pacientes com TVP necessitam de anticoagulação prolongada e necessariamente seguimento ambulatorial.
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