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CIRROSE E SUAS COMPLICAÇÕES: PBE E EH AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA - Constitui uma infecção bacteriana de líquido ascitico (LA) previamente estéril na ausência de foco intra-abdominal de infecção. · É definida como a presença de mais de 250 células polimorfonucleares/mm³ e ausência de fonte cirúrgica de infecção. - É uma das infecções mais comuns nos pacientes cirróticos com ascite, causando grande morbidade e mortalidade ao paciente. · A PBE só ocorre em pacientes cirróticos com ascite - Prevalente de 10-30% em pacientes cirróticos com ascite admitidos no hospital – cirrótico com ascite pensar em PBE - Mortalidade de 0-10% - mais de 60% em pacientes com IRA severa no diagnóstico - Dos casos internados nos hospitais, metade é oriunda da comunidade e o restante desenvolve PBE durante a internação. FISIOPATOLOGIA - Um dos primeiros eventos necessários para ocorrer a PBE é a alteração da flora intestinal, composição alterada do ácido biliar, que causam aumento relativo de bactérias potencialmente patogênicas e translocação. · Bactérias entram na corrente sanguínea e, devido aos shunts causados pela HP e à incapacidade funcional hepática, ocorrem bacteremias nesses pacientes. - Baixa concentração de proteínas no LA, correlação com a concentração de moléculas de opsoninas (baixa). - Uma baixa concentração de proteínas (especialmente abaixo de 1g/dL) aumenta o risco de PBE. · Alto risco aqueles com Gradiente proteína do líquido ascítico/plasmática (GASA) >1,1 g/dL o que define ascite por hipertensão portal. · Outro grupo de alto risco são aqueles com síndrome nefrótica, mesmo tendo um GASA <1,1. - Condições que diminuem as defesas do paciente e facilita o aparecimento da PBE: · Deficiência de complemento sérico, comum em cirróticos. · Deficiência de opsoninas. · Diminuição da função de macrófagos. · Baixa concentração proteica do líquido ascético. ETIOLOGIA - Gram-negativas (disparadas as mais comuns) – E. coli (metade ~45%) e K. pneumoniae (15-20%) - S. pneumoniae (7-8%) e Enterococo (8-10%) - Mais de 80% das bactérias causadoras de PBE podem ser identificáveis na cultura de LA. QUADRO CLÍNICO - Costuma ser frusto e inespecífico, cerca de 10 a 30% dos casos são assintomáticos. · Frequentemente a PBE se apresenta através de piora da função renal ou do início de encefalopatia hepática - Todo cirrótico que descompensa com ascite, nem sempre vem com dor abdominal – pensar em PBE · Paracentese diagnóstica é recomendada sempre que houver deterioração clínica de um cirrótico com ascite. · Quando pensar em PBE? · Todo paciente com complicações agudas de cirrose hepática, como encefalopatia, sangramento digestivo e insuficiência renal aguda. - Manifestações clínicas da PBE · Febre (69%), Dor abdominal (59%), Confusão mental (54%), Hipersensibilidade abdominal (49%), Diarreia (32%), Íleo paralítico (30%), Hipotensão (21-29%) e Hipotermia (17%) FATORES PREDISPONENTES - Pacientes com concentração de proteínas <1g/dL têm maior risco de PBE (correlação proteínas no líquido x opsoninas) - Cirróticos com hemorragia digestiva têm 20% de chance de apresentar PBE quando são admitidos no hospital e cerca de 30-40% podem desenvolvê-la durante a hospitalização - ITU e procedimento invasivos facilitam episódios de bacteremia e aumentam a chance de PBE - Taxa de recorrência 43% em 6 meses, 69% em um ano e 74% em dois anos. - Tabela de fatores predisponentes · Doença hepática avançada Child-Pugh C · Proteínas totais no líquido ascitico <1g/dL · Sangramento gastrintestinal agudo · Infecção urinária, principalmente, e de outros sítios. · Procedimentos invasivos (sondas urinárias ou cateter intravasculares) · Episódio prévio de PBE EXAMES COMPLEMENTARES - Paracentese para diagnóstico de PBE · No momento da admissão hospitalar · Quando houver deterioração clínica do paciente ou piora laboratorial evidente · Quando o paciente desenvolver complicações associadas, como Encefalopatia Hepática ou Sangramento gastrointestinal. - Quando fazer paracentese? · Cirróticos com ascite admitidos no hospital por qualquer razão; · Chegada ao PS com encefalopatia hepática ou piora da função renal; · Todos os pacientes com ascite que apresentem sangramento gastrointestinal, antes de se administrar antibióticos profiláticos; · Pacientes com ascite que desenvolvem durante a hospitalização um dos seguintes sintomas: · (1) “Sintomas e Sinais locais sugestivos de peritonite”; · (2) “Sepse”; e · (3) “Encefalopatia Hepática ou piora progressiva da função renal sem um fator predisponente claro”. - Locais de punção – é traçado uma linha imaginária entre as fossas ilíacas (direita ou esquerda) e linha mediana do hipogástrio (cicatriz umbilical), e com auxílio de uma anestesia local, se punciona tracionando a pele para baixo (2 cm) no terço médio dessa linha imaginária. · Complicações em menos de 1% · Orientações – pedir para o paciente urinar antes · Contraindicado – cicatriz cirúrgica, celulite, distúrbios da coagulação grave · Alteração do INR (comum nesses) não é contraindicação. · 10ml se estudo (depende do que se estuda) - Colher hemoculturas de sangue periférico - Hematológico – colher hemograma e exames de coagulação, e pode mostrar coagulopatia associada e leucocitose. Lembrar que INR alargado não é necessariamente contraindicação. - Bioquímica – é essencial, pois até 40% dos pacientes podem evoluir com LRA (síndrome hepatorrenal). Colher sódio, potássio, ureia e creatinina. - Suspeita clínica de condições associadas: guiar pela história e exame físico (urina tipo 1, RX de tórax, amilase, lipase, enzimas hepáticas e etc). - Imagem de abdome – na suspeita de PBS (USG, TC, laparoscopia e etc) - Análise do líquido ascitico e recomendações · PBE clínica – PMN> 250/mm³ e cultura do LA positivo para um único germe · Tratar com antibiótico e albumina · Atenção! Deve-se ter um predomínio neutrocítico, se o predomínio for linfocítico pensar em outras causas como neoplasias. · Ascite neutrocítica (cultura negativa) – PMN>250/mm³ e cultura negativa do LA · Tratar com antibiótico e albumina (diminui o risco de SHR) · Bacteremia não neutrocítica monobacteriana – PMN<250/mm³ e cultura do LA para um único gemer · Repetir a paracentese. Tratar com antibiótico se a nova contagem de PMN for >250/mm³ · Sugere peritonite bacteriana secundária – PMN>250/mm³ e cultura positiva do LA para vários germes ou anaeróbios · Tratar como peritonite secundária, investigar e tratar a causa básica (perfuração de vísceras e etc) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - O principal diagnóstico a ser feito é o de Peritonite Bacteriana Secundária · CEA no LA >5ng/mL · FA no LA >240 U/L - Diagnóstico diferencial entre PBE e PBS, deve-se levar em consideração a presença de cultura polimicrobiana (crescimento de 2 ou + microrganismos) e a presença de pelo menos dois dos seguintes critérios: · Glicose <50mg/dL · Na PBE a Glicose >50mg/dL · Proteínas totais >1g/dL · Na PBE a PTN total <1g/dL · LDH > limite superior da normalidade do sérico · Na PBE o LDH está igual ao sérico TRATAMENTO - Antibiótico iniciado imediatamente após o diagnóstico - Antibioticoterapia para PBE · Ceftriaxona EV por 7 dias · Dose única ao dia 2g OU 1g 12/12h · Ciprofloxacina EV com troca para VO em 1 ou 2 dias · Outras medicações VO · Ofloxacina 400 mg 2x/d por 7 a 8 dias. · Ciprofloxacina 500 mg 2x/d por 7 dias. · Amoxicilina/clavulonato 875 mg 2x/d por 7 dias. - Em que situações posso fazer VO? · Ausência de vômitos · Ausência de choque · Ausência de EH em grau igual ou maior a 2 · Creatinina em níveis menores que 3mg/dL (como pacientes com creatinina maior ou igual a 1mg/dL têm indicação de reposição de albumina, necessitam, portanto, de internação) - Paracentese de controle após 48 horas de tratamento com antibióticos · O sucesso do tratamento demonstra uma queda de 25-30% de polimorfonucleares · Não é uma conduta obrigatória, pois não altera desfechos. E de qualquer forma, você não vai cessar a medicação. - Se o paciente tiver uma peritonite associada? · A antibioticoterapia dependeda flora bacteriana do hospital. Em geral, se usa piperacilina-tazobactam 4,5g EV a cada 8 horas. - Reposição de albumina é indicada quando? · Cr menor que 1mg/dL e bilirrubina total menor que 4mg/dL na admissão hospitalar. · 1,5g/kg no 1º dia e 1g/kg no 3º dia – infusão - Se suspeita de PBS – ampliar cobertura antibiótica com metronidazol e solicitar parecer da cirurgia. - Empiema pleural bacteriano espontâneo – é uma infecção de um hidrotórax preexistente, com mortalidade de 38%. · Líquido pleural com cultura positiva e mais de 250 neutrófilos/mm³ ou uma cultura negativa e mais de 500 neutrófilos/mm³, na ausência de infecção pulmonar. PROFILAXIA - Indicações da profilaxia primária para PBE: · Sangramento agudo gastrointestinal (com ou sem ascite: se houver ascite tentar puncionar, pois 10-27% dos pacientes têm PBE quando admitidos no hospital); · Pacientes com cirrose e proteína total do líqudo ascítico <1,5g/dL que preencherem qualquer um dos critérios a seguir: · Child-Pugh >9 pontos e bilirrubina sérica> 3mg/dL; · Cr>1,2mg/dL; · BUN>20mg/dL; BUN = ureia x 2,14 · Na<130meq/L; - Indicações da profilaxia secundária para PBE · (Única indicação dada em aula) após episódio de PBE · Norfloxacino 400mg/dia via oral indefinidamente - Antibioticoterapia oral · Norfloxacino 400mg 1x/dia para pacientes com PBE prévia (uso até o transplante) · Ciprofloxacino 750mg 1x/dia por semana para pacientes com PBE prévio (uso até o transplante · Norfloxacino 400mg de 12/12horas durante 7 dias (episódio de hemorragia digestiva) - Antibioticoterapia venosa · Ciprofloxacino 200mg de 12/12h por 7 dias · Ceftriaxone 1-2g 1x/dia por 7 dias - Apenas para sangramento agudo gastrintestinal passar par a via oral assim que for possível - Profilaxia secundária – após um episódio de PBE, o paciente que vai de alta hospitalar (preferência pelo Norfloxacino) - Profilaxia primária (Preferência pelo venoso Ciprofloxacino) · Aquele que sangrou e internou (sangramento digestivo); OU · Aquele paciente com cirrose e proteína total do LA <1,5 que preencherem qualquer um dos critérios a seguir: · Um escore de Child-Pugh>9 pontos e bilirrubina sérica>3mg/dl; OU · Creatinina >1,2mg/dL; OU · BUN>20mg/dL; ou (BUN = Ureia*2,14) · Na <130mEq/L ENCEFALOPATIA HEPÁTICA - A encefalopatia hepática (EH) é uma complicação neuropsiquiátrica frequente nos hepatopatas com mortalidade de ~40% em um ano. - Natureza heterogênea que se caracteriza-se por distúrbios da atenção, alterações do sono e distúrbios motores que prodiguem desde simples letargia a estupor ou coma. - Ocorre em 30-40% dos pacientes com cirrose em algum momento da evolução clínica, e após o 1º evento, a recorrência aumenta. · Prevalência de EH no momento do diagnóstico 10-14% em geral, de 16-21% em cirrose descompensada e 10-50% com TIPS. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA - E um distúrbio metabólico, portanto potencialmente reversível - A amônia está relacionada à sua gênese, ao lado de várias neurotoxinas e fatores diversos, como edema cerebral, o tônus GABAérgico e elementos como zinco e manganês. · Deficiência de Mg nos gânglios da base – manifestações extrapiramidais da EH · Deficiência de Zn – aumento da amônia e falsos neurotransmissores · Disfunção dos astrócitos – ação do aumento da amônia e glutamato · Aumento da permeabilidade da BHE a produtos tóxicos · Edema cerebral - Amônia é um subproduto do metabolismo do nitrogênio, sua formação é dependente da enzima glutaminase (enterócitos) e da urease (bactérias produtoras no intestino). - Normalmente, a amônia é absorvida pela circulação porto-hepática onde vai ser metabolizada pelo ciclo da ureia · A amônia não utilizada por essa via é metabolizada dentro dos hepatócitos pela glutamina sintetase (GS) · GS catalisa a conversão de amônia e glutamato em glutamina - Se o paciente tem uma IH ou shunts portossistêmicos (PITS) o clearance de amônia pelo fígado reduz, o que eleva sua concentração sérica. - Outras formas de remover amônia pela circulação sistêmica é via muscular, por isso pacientes hepatopatas com alterações renais e perda muscular tendem a ter facilidade em ter EH. - Fatores precipitantes da EH · As infecções são o mais importante desses fatores, pois pacientes com PBE desenvolvem EH em até 50% dos casos. · Infecções > Sangramento gastrointestinal > Uso de diuréticos > DHE (Hipocalemia e Hiponatremia) > Constipação > Shunts portossistêmicos > Medicações > Alcalose metabólica > Hipóxia > Aumento da ingesta proteica > Carcinoma hepatocelular > Trombose de veia porta ou hepática. QUADRO CLÍNICO - Graduação clínica de West Haven · 0 – Ausência de alterações clínicas · 1 – Euforia, respostas exageradas, tremor leve e apraxia · 2 – Letargia, flapping irritabilidade e perda de inibições · 3 – Desorientação, Flapping sonolência e confusão mental · 4 – Coma ou estupor, Babinsky, não tem mais flapping - Sobreposição de manifestações - Diagnóstico diferencial – abstinência (aumento/exacerbação do tônus simpático) - O diagnóstico é clínico, não é preciso fazer EEG nem nada. · No diagnóstico exige a detecção de sinais sugestivos de EH em um paciente com IH grave e/ou shunts por HP, excluindo casas óbvias de disfunção cerebral. - Buscar a causa – Fatores precipitantes · Aumento da carga de nitrogênio · Hemorragia digestiva · Insuficiência renal · Aumento da ingestão proteica · Constipação · Alterações hidroeletrolíticas · Hiponatremia · Hipocalemia (furosemida) · Hipovolemia · Hipoxia · Alcalose metabólica · Desidratação · Medicações a drogas · Benzodiazepínicos – interferência no sistema gabaérgico · Excesso de diuréticos · Narcóticos · Etanol · Causas variadas · PBE · Outras infecções (ITU, pneumonia, sepse, etc) · Shunts portossistêmicos (TIPS) · Lesão hepática adicional (viral, isquêmica, medicamentos, tóxico) · Cirurgia · Evolução da doença · Trombose de veia porta e hepática EXAMES COMPLEMENTARES - Avaliação geral do paciente – excluir diagnósticos diferenciais · Hemograma, exames de coagulação (INR), função renal · Glicemia (capilar em todos os pacientes com alteração do nível de consciência) · Eletrólitos · Gasometria - Dosagem de amônia arterial é o marcador mais estudado da doença, elevação tem sensibilidade de 75%-85%. - Busca de fatores que precipitaram a encefalopatia · Paracentese diagnóstica – cultura e contagem de PMN · Enzimas hepáticas · Rx de tórax · ECG · Urina tipo 1 e urocultura · Hemocultura · EDA – sempre em paciente com história de sangramento, toque retal com sangue ou queda da Hb · TC ou RM – excluir diagnósticos diferenciais de lesões intracranianas (hemorragias, infarto cerebral, abscesso) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - USG ou TC de abdome – podem ser úteis em pacientes com dor abdominal, cuja paracentese não mostrou PBE ou cuja paracentese sugere peritonite secundária. · US-Doppler – Naqueles com suspeita de síndrome de Budd-Chiari (tromboses venosas hepáticas – HP) - TC de crânio ou RNM – úteis para diagnóstico diferencial de lesões intracranianas (hemorragias, infarto cerebral e abscesso) - Líquor – quadro clínico confuso - Eletroencefalograma – não é feito de rotina - Dosagem sérica de toxinas – não é feito de rotina - Dosagem de alfafetoproteína – descartar possibilidade de hepatocarcinoma - Causas · Encefalopatias metabólicas · Encefalopatias tóxicas - Síndrome de Wernicke-Korsakoff – paciente com deficiência de tiamina (vitamina B1) precipitada pela administração de glicose intravenosa. TRATAMENTO Suporte Clínico - Estabilizar clinicamente o paciente – proteger via aéreas, expandir a volemia, oxigênio (se houver hipoxemia), monitorar, obter acesso venoso calibroso e etc. - Deve-se suspender os diuréticos. Se presente hipocalemia, deve ser revertida, pois aumenta a produção de amônia. - Pacientes com EH podem estar agitados, nesse caso o uso de haloperidol é uma opção mais segura que benzodiazepínicos (piora o quadro). · Ainda assim, o haloperidol deve ser usado criteriosamente. Redução da produção e absorção de amônia - Lavagem nasogástrica – pode ser realizada em pacientes com sangramento digestivoalto - Limpeza de cólon – útil em pacientes com constipação · Enema com 20-30% de lactulose – 200-300 ml de lactulose em 700-800mL de solução para uso retal (soro, água, glicerina ou manitol) - Lactulose – 20-40ml de 8/8h a 4/4h, com aumento progressivo se necessário. O objetivo é promover 2-3 evacuações pastosas/dia. · Iniciada logo após o diagnóstico de EH · Converte a amônia (NH3) em amônio (NH4+) Antibióticos – diminuem a flora intestinal - Neomicina – 1-1,3g de 6/6h com benefício em 70-80% dos pacientes - Metronidazol – dose de 250-500mg de 8/8h é uma opção em pacientes com lesão renal de base · Como a neomicina é nefrotóxico, geralmente se usa o metronidazol como opção - Antibióticos + lactulose – apesar da escassez de estudos, pode ser indicado em pacientes que não melhoram com o tratamento inicial · Após 48 horas de tratamento com lactulose não apresentaram melhora clínica - Rifaximina – ATB oral, praticamente não absorvido · 550mg, VO 12/12h · No livro da USP fala que a Rifaximina é a medicação de escolha, mas indisponível em alguns serviços. Acredito que por isso, Orlando colocou a Neomicina como opção, embora seja nefrotóxica. Ingestão de proteínas - A limitação da ingestão oral de proteínas é discutível e não mostrou benefício em estudos randomizados. - A desnutrição piora o prognóstico dos pacientes cirróticos e pode agravar a EH - A atual recomendação é de dieta com conteúdo normal de proteínas, preferencialmente derivadas de vegetais. · Ingesta de energia diária deve ser de 35-40kcal/kg de peso corpóreo ideal · Ingestão diária de proteína deve ser de 1,2-1,5g/kg/dia Ainda sobre o tratamento - Pacientes sem melhora em 48h com o uso isolado de lactulose e correção de fatores precipitantes -> associar uma segunda medicação, que idealmente deve ser a rifaximina · Na ausência desta, a neomicina passa a ser a opção para associação. - Em pacientes com encefalopatia recorrente, sugere-se administração diária de lactulose ou lactitol - A rifaximina pode ser adicionada à lactulose ou lactitol, se necessário. - Asparto-ornitina (oral ou parenteral) ou LOLA que estimula o metabolismo da amônia, é uma alternativa para o tratamento da EH. · Benefício marginal – sem evidência - Os aminoácidos orais de cadeia ramificada também podem ser usados como agente alternativo ou adicional. - Flumazenil – antagonista benzodiazepínico, melhora o estado mental, mas não a recuperação ou sobrevida. - Laxativos e enemas – benefício em pacientes com constipação, fora disso é questionável. - Probióticos – não é recomendado de rotina, mas tem o potencial de diminuir episódios de EH - Erradicação do H. pylori – benefício apenas teórico, mas a erradicação pode ter benefício - Zinco – benefício apenas teórico, por diminuir a produção de amônia Abordagem da EH – algoritmo Outra sugestão de tratamento - Manter ingesta proteica (1,2g/kg/dia de proteínas) e 35-40kcal/kg/dia - Opção 1. Lactulose 20ml VO ou SNG de 6/6horas (ajustas para 2-3 evacuações pastosas/dia) tratamento inicial. Dissacarídeo não absorvível: efeito probiótico e laxativo - Opção 2. Enema de lactulose (lactulose 300ml mais 700ml de água destilada por via retal até 3x/dia) - Opção 3. Metronidazol 250mg VO de 12/12h CONCLUSÃO - A EH é uma complicação frequente em pacientes cirróticos graves, com mortalidade aproximada de 40% em um ano - O diagnóstico é clínico - Exames complementares visam avaliar o paciente de maneira global, procurar fatores precipitante e excluir outras causas de encefalopatia - É importante estabilizar o paciente e corrigir distúrbios respiratórios, hemodinâmicos e metabólicos, pois esses sinais podem levar o paciente a óbito - A base do tratamento é correção do fator precipitante associado à lactulose - Rifamixina deve ser adicionada à lactulose com o intuito de reduzir novos episódios de EH - A neomicina ou metronidazol devem ser adicionados se não houver boa resposta com a lactulose e rifamixina
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