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SEPSE AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - É uma síndrome clínica caracterizada por alterações biológicas, fisiológicas e bioquímicas no hospedeiro, culminando em disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas, secundária à resposta inflamatória desregulada. · Sepse = Infecção + Disfunção - Incidência/mortalidade (2017) · 48,9 milhões de casos no mundo · 11 milhões de mortes (19,7% do total vão a óbito) · 250 mil mortes por ano no Brasil (2006) · Mortalidade de 56% (dado antigo), 45% dos países em desenvolvimento e 30% em países desenvolvidos. · É uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia, superando IAM e câncer. - Patógenos – 1º bactérias (urinária e respiratória), e 2º vírus e fungos - Gravidade – cada vez mais grave com mais disfunções orgânicas - COSTS – Costs of Sepsis Treatment Study · Diferença da mortalidade entre público e privado - Fontes de infecção – foco pulmonar, abdominal, ITU · A causa mais comum de sepse é a pneumonia · 48% dos pacientes internados com diagnóstico de pneumonia evoluem com sepse. - SPREAD Study (na observational study) · A letalidade global foi de 55%. A mortalidade na região sudeste foi de 51,2% menor do que as demais regiões (Centro-oeste 70%, Nordeste 57,8% e Norte 57,4%) · A mortalidade dos hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde não foi diferente daqueles ligados à saúde suplementar · Fatores ligados ao aumento da mortalidade dos pacientes · Infecção adquirida quando já estavam internados na UTI (infecção hospitalar) · Inadequação do tratamento – principalmente o atraso para administração da primeira dose de antibióticos · Instituições com menor disponibilidade de recursos tiveram maior mortalidade - Fatores de risco · Internamento em ITU · Bacteremia · Idade>65 anos · Imunossupressão · Diabetes e obesidade · Câncer · PAC · Hospitalização prévia · Fatores genéticos · SARS-CoV-2 FISIOPATOLOGIA - A sepse ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios em resposta a uma infecção que excede os limites do ambiente local, levando a uma resposta generalizada. - Causa da generalização é provavelmente multifatorial: · Efeito direto dos microrganismos invasores ou de seus produtos tóxicos, como o componente da parede celular bacteriana (endotoxinas, peptidoglicano e ácido lipoteicoico), toxinas bacterianas (enterotoxina estafilocócica B, exotoxina A de Pseudomonas e proteína M de estreptococos hemolíticos do grupo A) · Mediadores pró-inflamatórios – TNF-alfa e IL-1 · Ativação do sistema complemento · Suscetibilidade genética individual ao desenvolvimento de sepse - Lesão celular na sepse · Isquemia tecidual – oxigênio insuficiente para suprir as demandas metabólicas de um tecido inflamado · Lesão citopática – lesão celular direta, principalmente secundária a disfunção mitocondrial (citocromo c) por mediadores pró-inflamatórios e aumento de indução de apoptose. - Desenvolvimento de Coagulação Intravascular Disseminada – microtromboses e hemorragias (complicadores do processo inflamatório). CONCEITOS Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) - A SIRS é definida pela presença de no mínimo dois dos sinais abaixo: · Temperatura central> 38,3ºC OU <36ºC; OU Temperatura axilar >37,5ºC ou <36ºC · Frequência cardíaca >90bpm; · FR >20irpm, OU PaCO2<32mmHg · Leucócitos totais >12.000/mm³; OU <4.000/mm³; OU presença de >10% de formas jovens (desvio à esquerda). - Em que situações podemos ter uma SIRS sem necessariamente ter uma infecção? · Doenças autoimunes; · Pancreatite; · CAD; - A SIRS está presente em várias condições clínicas como trauma, pós-operatório, IAM não sendo critério isolado para o diagnóstico de infecção/sepse - Atenção! Paciente idosos, imunodeprimidos, em uso de betabloqueadores, podem apresentar-se já com disfunção orgânica sem necessariamente ter sinais de SIRS. · Isso, pois podem não exigir taquicardia - A presença de SIRS pode ser utilizada com objetivo de triagem e identificação de pacientes com infecção e, potencialmente, sob risco de apresentar sepse ou choque séptico. Disfunções orgânicas - Critérios · Hipotensão (PAS<90mmHg ou PAM <65mmHg ou queda de PA >60mmHg); · Oligúrico (=<0,5ml/kg/h ou elevação de creatinina >=2mg/dl); · Relação PaO2/FiO2<300 ou necessidade de O2 para SpO2>90%; · Contagem de plaquetas <100.000/mm³ ou redução de 50% do número de plaquetas em relação ao maior valor registrado nos últimos 30 dias; · Acidose metabólica inexplicável: déficit de bases =< 5mEq/L e lactato acima do valor de referência; · Rebaixamento do nível de consciência, agitação e delirium; · Aumento significativo de bilirrubinas (>2x do valo de referência). SOFA - Vai avaliar o paciente do ponto de vista respiratório, hematológico (plaquetas), função hepática (bilirrubinas), cardiovascular (PAS e uso de drogas vasoativas), neurológico (Glasgow) e renal (creatinina e débito urinário) - Diagnóstico e prognóstico · Quanto maior o SOFA, maior a mortalidade · <10% - SOFA de 0-6 · 15-20% - SOFA de 7-9 · 40-50% - SOFA de 10-12 · 50-60% - SOFA de 13-14 · >80% - SOFA de 15 · >90% - SOFA de 15-24 - qSOFA – quick-SOFA, um método mais rápido que pode ser aplicado a beira leito · Como pontuar? · Taquipneia >22irpm · Hipotensão (PAS) - <100mmHg · Escala de coma de Glasgow - <15 · Resultado · 0 pontos – mortalidade <1% · 1 ponto – mortalidade 2-3% · >=2 pontos – mortalidade >=10% · O SIRS é mais rápido do que o qSOFA para a triagem, o problema do SIRS é sua sensibilidade elevada, o que pode fornecer muitos falsos positivos. - Até 2016 o diagnóstico de Sepse era SIRS + Infecção, hoje em dia usa-se o SOFA ou o qSOFA + Infecção para diagnóstico. Sendo assim, para ser uma sepse, é preciso ter uma disfunção orgânica associado à infecção. · Essa estratégia aumentou a especificidade do instrumento de triagem, porém perdeu-se sensibilidade. · Dessa forma, essa pontuação qSOFA-SOFA seleciona uma população mais gravemente doente, de certa forma não é um bom instrumento para triagem da sepse. Novos conceitos - Sepse (antigo) – Infecção sem disfunção (atual): infecção suspeita ou confirmada, sem disfunção orgânica, de forma independente da presença de sinais de SIRS - Sepse grave (antigo) – Sepse (atual): infecção suspeita ou confirmada associada a disfunção orgânica, de forma independente da presença de sinais de SIRS - Choque séptico (antigo) – Choque séptico (atual): sepse evolui com hipotensão não corrigida com reposição volêmica (PAM =<65 mmHg) de forma independente de alterações de lactato - Evolução · Infecção c/ ou s/ bacteremia -> Sepse -> Choque séptico -> Síndrome de disfunção-orgânica múltipla (MODS) -> Óbito · Sepse mortalidade de 10%, e choque séptico uma mortalidade de 40% A respeito do qSOFA – new guidelines about sepsis - 2. We recommend against using qSOFA compared to SIRS, NEWS, or MEWS as single screening tool for sepsis or septic shock (Strong recommendation, moderate-quality evidence) · O qSOFA tem papel preditor de mortalidade e de maior tempo de internação em UTI em pacientes com suspeita de sepse ou sepse confirmada. DIAGNÓSTICO DE SEPSE - Em pacientes com suspeita de infecção, ferramentas para triagem de pacientes com possível sepse: · SIRS >=2 pontos – alta sensibilidade, mas baixa especificidade para o diagnóstico de sepse · qSOFA >=2 pontos – baixa sensibilidade, mas alta especificidade para o diagnóstico de sepse. Pela baixa sensibilidade, não é recomendado · NEWS >=4 – melhor acurácia para sepse no departamento de emergência com sensibilidade comparável à do SIRS e especificidade comparável à do qSOFA - Tabela do Escore de NEWS – é de uso prático e reprodutivo por outros membros da equipe de saúde, pois não precisa de exames e pode ser feito a beira leito - NEWS Escore · Escore 0-4 – baixo risco – acompanha · Escore 5-6 – médio risco · Escore 7 ou mais – alto risco – chama equipe de urgência e emergência - SOFA pontua de 0 a 4 nos critérios ditos TRATAMENTO Manejo - Ressucitação inicial e imediata – Best practice · 30ml/kg de cristaloide para correr em 3 horas · A preferência é por cristaloide, pois o SF 0,9% aumenta o riscode acidose metabólica hiperclorêmica. · É uma medida relativa, paciente com IC ou nefropata é preciso repensar a forma de hidratação · Medidas dinâmicas de avaliação da hemodinâmica do paciente + Clearance de Lactato (ajuda a avaliar a se a expansão hemodinâmica está sendo realizada corretamente) (recomendação fraca) - PAM/UTI · PAM alvo = 65mmHg · Paciente me choque séptico, e que foi iniciado norepinefrina e não atingiu a PAM, considere adicionar vasopressina. · Hipertensos crônicos se beneficiam de uma PAM entre 80-85mmHg. · Admissão em UTI em 6 horas - Se o paciente não responde a ressuscitação inicial, pode-se recorrer a droga vasoativa - (Recomendação fraca) Paciente com choque séptico que já fez muito volume, pode ser empregado albumina como expansor. Estratégia de ressuscitação volêmica - Fase A (0-6 horas): ressuscitação volêmica agressiva inicial (por exemplo, 30mL/kg de cristaloide intravenoso) - Fase B (6-36 horas): desaceleração da ressuscitação com fluidos - Fase C (36-48 horas): fase de equilíbrio; a administração de fluidos é interrompida - Fase D (>48 horas): fase de mobilização ou fluxo; os fluidos são retidos para permitir a diurese espontânea ou pode ser induzida diurese farmacológica ou ultrafiltração para atingir a euvolemia - Risco de hidratar demais o paciente – edema cerebral, disfunção hepática e disfunção cardíaca - Cuidado com o soro – locais de edema: Uso de droga vasoativa - Noradrenalina – 1ª escolha · Diante do choque séptico, é permitido iniciar vasopressor em veia periférica, provisoriamente, enquanto se providencia acesso central - Vasopressina – considerar em associação a noradrenalina - Dobutamina – considerar quando evidência de baixo débito cardíaco Outras recomendações - Uso de corticoides · A utilização de corticoides é recomendada somente para pacientes com choque séptico refratário · A droga recomendada é a hidrocortisona na dose de 200 mg/dia (50mg 6/6h) · Nível de evidência fraca · Hidrocortisona x Placebo – não muda mortalidade em 90 dias Tempo de início de antibiótico - Coleta de lactato sérico para avaliação do estado perfusional - Coleta de hemocultura antes do início da terapia antimicrobiana - Início de antimicrobiano, de largo espectro, por via endovenosa, na primeira hora do tratamento · Iniciar o antibiótico o quanto antes, e o tipo do ATB depende muito do foco infeccioso · Paciente que faz diálise – manter dose sem ajuste para função renal por até 24 horas - Se o paciente está chocado – iniciar antibiótico imediatamente na primeira hora - Se o paciente não está chocado · Sepse definida ou provável – iniciar antibiótico imediatamente na primeira hora · Sepse possível – avaliação rápida das causas infecciosas e não infecciosas Causas de retardo do início do antibiótico · Apresentação atípica · Inicio da sepse quando o paciente já está internado · Atraso na liberação de exames laboratoriais · Estar em um hospital universitário (isso nos EUA) · Superlotação do serviço de emergência Outras recomendações - Ventilação mecânica · A intubação orotraqueal não deve ser postergada, em pacientes sépticos, com IRpA e evidências de hipoperfusão tecidual · Os pacientes que necessitarem de VM devem ser mantidos em estratégias de VM protetora, devido ao risco de desenvolvimento de síndrome do desconforto respiratória aguda (SDRA) · A estratégias protetora – baixo volumes correntes (6ml/kg de peso ideal) e a limitação da pressão de platô abaixo de 30 cmH2O - Transfusão de hemácias – pacientes com Hb menor ou igual a 7g/dL · Exceção – aqueles com choque hemorrágica concomitante ou isquemia miocárdica ativa. - Bicarbonato – se acidose metabólica severa =<7,2 com LRA AKIN 2 ou 3 (recomendação fraca) · pH=<7,2, PaCO2 =<45mmHg e concentração de bicarbonato de sódio =<20mmol/L – objetivo do pH>7,3 · Pacientes com LRA grave (definida como um aumento de 2-3x Cr ou oligúria), a terapia com bicarbonato reduzir a mortalidade em 28 dias (46%x63%) e a necessidade de diálise (51 x 73%) - Controle da glicose · Insulino-terapia se os níveis de glicose >=180mg/dL (10mmol/L) · Alvo da glicemia de 144-180mg/dL (8-10mmol/L) - Profilaxia de TEV – pacientes com mobilidade reduzida · Enoxaparina 40mg SC 1x/dia; OU · Heparina 5.000 U SC 3x/dia. · Recomendação forte. A menos que haja contraindicação. Terapia Renal Substitutiva - Não existe recomendação para o início precoce de terapia renal substitutiva devendo-se individualizar cada caso - Não existe recomendação para hemodiálise intermitente ou modalidades continuar devendo-se reservar estes métodos para pacientes com instabilidade hemodinâmica grave, nos locais este recurso é disponível Fluxograma de conduta Sepse SEGUIMENTO DO PACIENTE - Quem precisa de UTI? · Paciente com choque séptico ou insuficiência respiratória com necessidade de vasopressores ou de ventilação mecânica. - Quando eu posso transferir para um leito de internação? · Pacientes sem choque e que respondem rapidamente à ATB - O suporte psicológico precoce pode minimizar os riscos de desenvolvimento de estresse pós-traumático - A odontologia tem seu papel na identificação e controle do foco, como na prevenção de infecções respiratórias - O acompanhamento diário pela farmácia clínica possibilita a adequação da prescrição médica Prevenção de infecções relacionadas a assistência à saúde - Recomenda-se a utilização de dispositivos invasivos (cânula orotraqueal, cateter venoso central, pressão arterial invasiva e cateter vesical de demora) pelo menor tempo possível a fim de se evitar complicações mecânicas e infecciosas REABILITAÇÃO - Envolve família e uma equipe multidisciplinar, geralmente é um paciente com sequela que precisa de acompanhamento a nível ambulatorial
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